A INICIAÇÃO
CONFERÊNCIA PROFERIDA POR
PAULO MACHADO JESUS NA
ACADEMIA DE LETRAS E ARTES em 20 de Outubro de 2015
A INICIAÇÃO Iniciação? Qual Inciação? O que entendemos por Inciação? Parafraseando o Vasco Santana apetece dizer: “Iniciações há muitas…” Como alguém me disse aqui nesta sala em que vos falo: “É um tema ambíguo”. Será!? Mas podemos tentar esclarecer um pouco o seu mistério. Bem! Já me descaí! Já introduzi aqui uma palavra mágica: “mistério”. Pois é: é impossível falar de Iniciação sem vir à baila a ideia de algo envolto em mistério. Na verdade têm sido por demais exploradas e romanceadas, sobretudo no século XX, as facetas misteriosas de certas ordens e cultos, construindo uma trama envolvente de segredo em torno de diversas instituições, algumas de índole religiosa, como certas ordens católicas, muçulmanas, tibetanas; outras não confessionais como as chamadas ordens iniciáticas. Mas a verdade é que o “mistério” tem a sua razão, e o “segredo” também, e vamos ver como estão interligados. A Iniciação pode ser, na generalidade, um “rito de passagem”, que marca o início de uma nova fase da vida ou de um novo estatuto no seio de um grupo ou sociedade. Esta expressão, “rito de passagem”, foi aplicada no início do século XX por Arnold van Gennep aos rituais com que tribos primitivas assinalavam, e ainda hoje o fazem, os momentos fulcrais da vida como o nascimento, a puberdade, o casamento e a morte. Na generalidade as cerimónias implicavam o afastamento temporário do indivíduo da tribo, período durante o qual se sucediam diversos ritos, e a iniciação pròpriamente dita, terminando com a sua reentrada na sociedade tribal, já com um novo estatuto. Ao longo de milénios estes rituais foram inspirados e conduzidos por sacerdotes, a que chamamos em geral de Xâmanes quando nos referimos aos cultos que sacralizavam as forças da Natureza e as suas diversas manifestações. Eram eles quem criavam os rituais e presidiam à sua celebração, em que se invocavam as divindades tribais e os espíritos dos antepassados para o favorecimento das colheitas, ou em que se celebravam os sucessos das mesmas colheitas. Eram eles também os juízes que faziam justiça nos diversos litígios, bem como decidiam o momento propício para a guerra, se fosse caso disso. Não havia, nem há nas sociedades desse tipo primitivo que subsistem, mais do que um Xâmane por tribo, sendo ele o detentor de todos os segredos e das fórmulas de invocação dos espíritos, segredos esses que eram passados, a seu tempo, para um jovem iniciante, escolhido pelas suas qualidades, julgadas necessárias para suceder ao velho mestre. São também reconhecidamente comuns a quase todas as culturas os ritos de purificação que envolvem actos como um banho ritual com água, óleos, vinho, leite, ou até urina e sangue. Ritos de passagem são também as iniciações levadas a cabo para a admissão de novos membros nos gangues de rua ou de bairro nas nossas cidades, nos gangues das prisões, nas máfias, italianas, japonesas, chinesas, mexicanas. Estas iniciações são normalmente caracterizadas pelo uso de violência. O mesmo se passa nos gangues de motards, como é o caso das iniciações dos Hell’s Angels,
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frequentemente com carácter escatológico, e onde o uso de violência também está presente, tema abordado por Ondina Pires na sua obra “Scorpio Rising”. Mas também são ritos de passagem as chamadas “praxes académicas”, tão mal afamadas pelos excessos muito pouco académicos, e que já causaram algumas vítimas. Ainda do tipo destas iniciações-praxes é a que mostramos no tema do quadro, cuja escolha agradeço ao nosso confrade João Aníbal Henriques, e que ilustra o convite para este nosso encontro: “A Iniciação de um Bentvueghel em Roma”, quadro do século XVII, de autor desconhecido, onde se mostra a apresentação de um novo elemento ao grupo, os Bentvueghel, que era constituído por artistas flamengos que tabalhavam em Roma no século XVII, e que tinham mais de amigos da pândega, boémios e bebedores do que de misteriosos iniciados. Eram uns verdadeiros “bons vivants”. Como vimos até aqui os ritos de passagem visam, em geral, a integração de um indivíduo num grupo através de um ritual ou conjunto de rituais que podemos chamar de iniciação. ------A Iniciação também é isso; mas é certamente muito mais. Há pouco falei de obras que romanceiam mistérios e cultos antigos, ou mais ou menos secretos. Donde vêm os rituais desses cultos e porquê secretos? Qual é afinal a essência do segredo? Porquê o fascínio pelos Mistérios? O nome “mistério” provém da palavra grega “mystós” que significa “o que sabe e cala”, isto é: o que foi iniciado em certos conhecimentos e rituais e jurou guardar segredo. O conjunto de arcanos ou princípios secretos, em que se fundavam esses cultos, os chamados “mistérios”, só eram revelados aos iniciantes, que assim se tornavam, iniciados praticantes do culto, podendo ascender a oficiantes e sacerdotes desses cultos mediante novas e progressivas iniciações. O juramento implicava tanto o segredo sobre os arcanos como sobre os rituais. Vem desse tempo a associação entre o mistério, o sagrado e o segredo. De notar que em português as palavras sagrado, segredo e secreto estão ligadas pela mesma origem etimológica. Mas também estão unidas pelo mistério. A procura do sagrado faz-se no segredo da mente e do coração. Percebido o sagrado o iniciado cala-se porque a sua experiência é de facto indizível, porque intraduzível de modo lógico. E o iniciado torna-se um Mystó, um guardião do Mistério Embora alguns Mistérios tivessem algumas manifestações públicas, nomeadamente a procissão nocturna dos mystós até ao respectivo santuário, o ritual pròpriamente dito era estritamente reservado aos iniciados e sacerdotes, porque só eles podiam entrar no templo.. À excepção do culto de Dyonisos-Baco, com origem na Grécia, os mistérios mais importantes tiveram origem no Egipto e no Oriente médio, como os de Cybéle na Frígia, os de Isis e Osiris no Egipto, de Adonis, na Fenícia, de Mitra, na Pérsia. -------
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Os cultos que tinham celebrações públicas foram mais frequentes entre os Egípcios, cuja civilização integrava em grande harmonia a religião com a sociedade civil e o poder político, consagrado no Faraó que era, além de sacerdote, saudado como personificação do Deus, Amon-Rá, como era evocado, por exemplo, na Era do Carneiro. No Egipto havia assim a par dos rituais secretos reservados para os sacerdotes no interior dos templos, rituais públicos, normalmente com a presença do próprio Faraó. Um dos fundamentos da grandeza da civilização egípcia foi o seu sentido do rigor e da harmonia, bem como um profundo conhecimento da matemática e da astronomia, conhecimenos estes que foram integrados no corpo dos arcanos secretos. Foi também do Egipto que recebemos na procura do conhecimento do Eu e dos seus segredos da mente, e na sua transmutação, tema frequente na simbologia alquímica, a ciência hermética por excelência. O ouro simboliza aqui outro ouro, o verdadeiro, o do conhecimento, que se alcança pela transmutação do Eu. Herança de Hermes, nome grego do deus Thoth do Egipto. Thoth era não só o deus do conhecimento, mas também da transmissão desse conhecimento, e a quem Platão atribuiu, inclusivamente, a criação da escrita hieroglífica. A herança de Hermes deixou vestígios na nossa linguagem quando dizemos de algo que “é hermético”, querendo significar com isso que é fechado, muito bem fechado, ou secreto. A importância dada à transfiguração iniciática do Eu foi também ritualizada e dramatizada através da passagem simbólica pela morte, em que o velho eu era abandonado para que o iniciado renascesse para um novo caminho, uma nova vida, por vezes adoptando, simbòlicamente, um novo nome. Mas também entre os egípcios a própria morte era objecto de um complexo ritual de passagem para a outra vida, a vida eterna, tema fundamental do Livro dos Mortos. ------Foi Pitágoras quem, iniciado no Egipto, fez a transição desses conhecimentos para a Grécia, onde foram integrados numa escola de mistérios que influenciou todas as escolas de matemática e de arquitectura desde a Grécia até aos dias de hoje. Sem o Egipto e sem Pitágoras não teríamos talvez visto surgir as sublimes sinfonias de pedra que são as catedrais góticas, na sua maioria dedicadas à Virgem, numa subtil evocação tanto do culto da Isis egípcia, como de Deméter, a Deusa Mãe, na Grécia. Nos seus cultos os gregos tinham, tanto quanto se sabe, uma grande preocupação pela estética, revelada tanto na construção dos templos como nos trajes, na música e no uso de coreografias rituais, que imaginamos de belo efeito dramático. Os culto mais influente na Grécia era o dos Mistérios de Elêusis, que se praticava pelo equinócio do Outono, em Elêusis, cidade situada a cerca de trinta quilómetros de Atenas. Os Mistérios de Elêusis eram ritos iniciáticos dedicados ao culto das deusas Deméter e de sua filha Perséfone, deusas protectoras da agricultura e da fecundidade.
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Para o povo reverenciava-se em Deméter a terra-mãe e a deusa da fecundidade, mas para os iniciados ela era a Luz, a inteligência divina, a guardiã do conhecimento e da transmutação mental, doutrina que os sacerdotes de Elêusis receberam do Egipto. O único texto sobre este culto de Elêusis é o Hino de Homero dedicado a Deméter. Inicialmente criado como um rito de carácter agrícola, tornou-se numa das principais escolas de mistérios em que o neófito, tal como o grão de trigo lançado à terra, renasce para a luz do dia como uma nova planta. O neófito, passando simbòlicamente pela morte e sepultura, transfigura-se, abrindo caminho por entre as trevas da ignorância, para renascer para a luz de uma nova consciência de si (ou do Em-Si, como diria Jung), para uma nova vida. O mito de Elêusis, pela riqueza e universalidade da sua simbologia, ainda está vivo inspirando simbòlicamente o pensamento de diversas escolas e ordens iniciáticas actuais. ------Os Mistérios de Elêusis, considerados os mais importantes na antiguidade, chegaram ao Império Romano e só acabaram (ou passaram à clandestinidade) com o aparecimento do Cristianismo e da Igreja Católica que, com a sua vocação universalista, proibiu todos os cultos pagãos, embora integrando no ano litúrgico muitas datas celebradas nos antigos mistérios, adaptando-as ao novo culto e atribuindo-lhes significado cristão. De certo modo pode dizer-se que também a própria Igreja de Roma é herdeira dos antigos mistérios, e que o seu ano litúrgico comporta um ciclo de ritos que se pode considerar, de certo modo, iniciático no seu conjunto, embora não secreto. Mas apesar da oposição da Igreja sobreviveram correntes iniciáticas importantes, nomeadamente as de tradição pitagórica entre os próprios construtores de templos e catedrais. Ainda em relação a uma iniciação em ambiente cristão podemos lembrar a que foi transmitida através da poesia trovadoresca, onde os símbolos arcanos da tradição foram traduzidos em linguagem poética, que só os iniciados poderiam interpretar no seu duplo sentido, o poético e o oculto. É o chamado “trubar clus”, referente ao espaço “clos”, fechado, que eram as “cortes de Amor” onde essa arte da poesia era praticada, mas também ao segredo que estava encerrado no texto trovadoresco. Frequentemente as mensagens iniciáticas eram “cantadas” por uma ave, numa referência à linguagem dos pássaros, tão cara também aos autores orientais como Farid Ud-Din Attar que nos deixou a sua famosa obra “The Conference of the Birds”, referência fundamental na literatura do sufismo, uma corrente iniciática e gnóstica islâmica. O canto das aves são um símbolo da inteligência alada que se eleva na alegria da contemplação das maravilhas da ordem divina. As aves estão sempre em movimento, e o movimento é vida. O voo, elevando a ave ao céu, simboliza ao mesmo tempo aquele que se liberta e, aproximando-se da fonte da luz, ganha uma nova vida. ------No Oriente sabe-se da existência de alguns cultos com rituais iniciáticos tanto na Índia como no Tibet, mas a mentalidade oriental, mais contemplativa, desenvolveu a mesma procura sobretudo sob a orientação de um mestre ou guru, ou ainda, como no caso do Buda Gautama, por um processo de auto-iniciação assente numa disciplina ascética, em exercícios espirituais, com orações, e na meditação. O tema
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da meditação é recorrente em todas as correntes religiosas e espirituais do Oriente, fundamentalmente as relacionadas com o Hinduísmo ou com o Budismo, embora nem todas concordem quanto aos métodos. Mais racionais os ocidentais, mais devocionais os orientais o objectivo é o mesmo: transcender o Ego e reconquistar assim o estado original da consciência, supra-material e supra-temporal, alcançando a libertação do destino, da fatalidade do mundo, como ensimou o Buda Gautama. Uma das consequências da Iniciação é o desenvolvimento de uma nova compreensão da vida que resulta de uma melhor capacidade de discernimento que, para mim, é a vocação superior da inteligência. Aprender a ver o mundo de outra forma e a ver outras formas onde estamos habituados a ver só uma. Para pensar como um construtor, por exemplo, não basta saber ler as linhas de uma planta, mas vê-la como um edifício, mentalmente, nos diversos ângulos e expressões geométricas do seu volume. ------O Iniciante, futuro Iniciado, está só. Se se preparou devidamente pode, num instante, compreender tudo, como se, atingido por um raio de luz, a sua consciência se transmutasse, e tudo de repente se tornasse evidente. Mas dizer evidente é dizer pouco porque a passagem é indescritível. Quando o silêncio da razão deixa espaço para o coração, este, sede da Coragem, abrir-se-á para a sublime compreensão em que o Iniciante se torna o Iniciado que passou a ser o Mestre que morre a morte iniciática para ressuscitar na Vida Nova, com que insufla novo fôlego no ciclo de vida que o rodeia e em que participa. E tornou-se finalmente livre Em cada um de nós existe, adormecida ou prisioneira, a centelha de luz que nos faz renascer. A palavra que descreve o brilho pessoal interior de cada um: “SCINTILLA”, palabra latina, a centelha pessoal, o brilho que nos ilumina e nos afasta da mediocridade de sentimentos. Também Jung se lhe referiu e escreveu sobre ela. Há um forte apelo à comunhão entre aqueles que têm uma consciência alargada. A Amizade entre os que estão sinceramente comprometidos com o desenvolvimento da consciência e, consequentemente, com o aperfeiçoamento das relações humanas, atinge níveis de profunda e sincera comunhão. A verdadeira liberdade, que é um dos suportes da nossa criatividade no relacionamento com o Outro e com o Mundo, faz-nos deixar de ver nesse Outro um limite ou desfio, mas um complemento, como um irmão que reconhecemos e a quem recebemos com alegria única, só possível entre aqueles que se reconhecem nesse voo livre da consciência iluminada. A elevação da consciência e a consequente libertação do Ego leva ao encontro entre iguais, que é como uma reunião de amigos que se encontram numa mesma fonte que é a raiz ou matriz de todos os egos. À morte da inveja, e outros sentimentos negativos, sucede a alegria sincera pelos sucessos do Outro, como se dos próprios sucessos pessoais se tratassem.
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A liberdade, com consciência, é um dos elementos fundamentais na pedagogia da Ética, e na aprendizagem do comportamento justo e do relacionamento consequente e construtivo numa sociedade de partilha. Que cada mulher e cada homem seja o mestre de si mesmo é o ideal ético que acreditamos possível, e realizável. Pode ser difícil. Vivemos e morreremos sem o vermos realizado; mas sabemos que os humanos do futuro vivem em nós, nos nossos genes e nas nossas mentes, em nós, que trazemos connosco na Memória indizível, os Mistérios de muitos milhares de anos de caminhadas, de sonhos, de procuras, de conhecimentos, de iluminações, de génio, de viagens. Cada um de nós tráz em si um Início. Cada época, cada instante é o início do futuro. E o futuro será Ético porque nós assim o sonhamos e, como o sonho que comanda a vida, o nosso sonho é forte. E é Belo. Bem vindos ao INÍCIO.
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A INICIAÇÃO - BIBLIOGRAFIA APULÉE (Apuleio); -- “Métamorphoses – livre IX” ATTAR, Farid ud-Din;-- “The Conference of the Birds”, translated by Afkham Darbandi and Dick Davis, Penguin Classics, 1984, BAAREN, Th. Van; -- “Les Réligions d’Asie”, Marabout, Belgique 1962 CRÉPON, Pierre; -- “Les Fleurs de Bouddha – Anthologie du Bouddhisme” (inclui o “DHAMMAPADA”), Spiritualités Vivantes, Albin Michel, Paris 1991 DANIELOU, S. J., Jean; -- “Mythes Païens, Mystère Chrétien”, Fayard, Paris1967 ECKARTSHAUSEN, Karl von; -- “La Nuée sur le Sanctuaire”, Bibliothèque des Amitiés Spirituelles, Paris 1979 ELIADE, Mircea; -- “Initiation, Rites, Sociétés Secrètes”, Gallimard , France 1959 ELIADE, Mircea; -- “O Sagrado e o Profano – A Essência das Religiões”, Livros do Brasil, Lisboa 1986 GUÉNON, René; -- “Os Símbolos da Ciência Sagrada”, Pensamento, São Paulo 1992 (por Gallimard, Paris 1962) HUTIN, Serge; -- “Les Gnostiques”, Que sai-je, PUF, Paris 1970 HUXLEY, Aldous; -- “La Philosophie Éternelle”, Librairie Plon, Paris 1977 JUNG, C. J.; --“Aion – Estudos sobre o Simbolismo do Si-mesmo”, Ed. Vozes, Petrópolis 1982 LE COUR, Paul; -- “Le Septième Sens – L’ Aisthésis”, Paris, Dervy 1952 LEISEGANG, H.; -- “La Gnose”, Payot, Paris 1971 PIRES, Ondina; -- “Scorpio Rising – Transgressão juvenil, Anjos do Inferno e Cinema de Vanguarda”, Edição Chili Com Carne e Thisco, Cascais 2009 REGARDIE, Israel; -- “The Philosopher’s Stone”, Rider & Co., Londres 1938 SAINTE-CROIX, Baron de; -- “Recherches historiques et critiques sur les mystères du paganisme”, Paris 1817 SCHWALLER DE LUBICZ, Isha; -- “L’Ouverture du Chemin”, La Table d’Émeraude, Paris 1985 (segundo as Éditions Aryana de 1980) SCHWALLER DE LUBICZ, R. A.; -- “Le Miracle Égyptien”, Flammarion, Paris 1963 SCHWALLER DE LUBICZ, R. A.; -- “Le Roi de la Théocratie Pharaonique”, Flammarion SCHWALLER DE LUBICZ, R. A.; -- “Le Temple de l´Homme, Apet du Sud à Louqsor, Flammarion, Paris 1958 SORVAL, Gérard de; -- “Initiation Chevaleresque et Initiation Royale dans la Spiritualité Chrétienne”, La Voie Héroïque, Dervy-Livres, Paris 1985 TRUNGPA, Chögyam; -- “Le Mythe de la Liberté et la Voie de la Méditation”, Éd. Du Seuil, Paris 1976
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