Mem贸rias e Hist贸rias: Mousinho 50 Anos Produzido por Mariza Norico K. de Carvalho Colabora莽茫o de: Iracema Aparecida Wada Papa
Mem贸rias e Hist贸rias: Mousinho 50 Anos
ARTESÃO DAS PALAVRAS "Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer." (Graciliano Ramos)
Colocar o aluno numa situação sociocomunicativa em que ele escreve com um destino social, não só para o professor em sala de aula, e incentivar nossos pequenos escritores foram nossos objetivos quando sugerimos aos professores a elaboração de livros nas escolas. O pensamento que norteia este trabalho pode ser comparado ao trabalho das lavadeiras de Alagoas. Nossos alunos foram envolvidos em um processo de escrita e reescrita de textos, em oficinas de produção de textos. Em 2011, alunos e professores elaboram um livro e editaram. O resultado foi apresentado na Feira do Livro em 2012. Neste ano (2012), o projeto foi a elaboração de um livro digital por escola, cujo resultado será visto em nossa exposição pedagógica. Felizes com as produções que muitas vezes mostram o resgate e a inclusão de alunos que apresentavam grandes dificuldades, temos consciência de que ainda há muito a fazer por nossos alunos. Convidamos você para ler estas linhas de nossos escritores principiantes, pois temos certeza de que essa leitura proporcionará momentos de alegria, prazer, emoções, como toda boa leitura. Parabéns alunos, professores e equipe gestora pelo belo trabalho realizado! Simone Abrahão Coordenadora da área de Língua Portuguesa
AGRADECIMENTOS A todos aqueles com quem convivemos, deixando marcas profundas em nossa memória, como exemplos de vida, incentivando-nos a prosseguir, mesmo nas horas em que nossos ideais pareciam distantes, o eterno agradecimento. À Secretaria Municipal da Educação, por investir na formação continuada de educadores, objetivando a melhoria da qualidade do ensino das escolas de nossa cidade. Aos gestores e à coordenação da Escola “D. Luís do Amaral Mousinho”, pela competência e dedicação e por apoiarem o nosso trabalho. À Profª Simone Abrahão, Coordenadora de Língua Portuguesa e à Professora Marcelle G. L. Jesus (Mstech), pelas importantes orientações. Aos nossos amigos do Mousinho, colaboradores e alunos, pela riqueza de nossa convivência A DEUS, por todas as bênçãos.
INTRODUÇÃO “O corpo é coisa encantada que precisa mais que comida e bebida para sobreviver. Ele precisa de palavras, porque é nelas que mora a esperança” (ALVES, Rubem) A proposta deste livro é registrar os textos produzidos por nossos alunos, envolvidos em projetos de leitura e produção textual, como “Memórias e histórias bem contadas”, “Histórias de hoje e de sempre”, “Brincando de ser poeta” e outros. Durante a realização desses projetos, alunos e professores fazem da sala de aula um espaço privilegiado de interação verbal, permitindo o diálogo constante entre as diversas pessoas que lá convivem e entre esses sujeitos e as diferentes vozes, que compõem a sociedade. Nesse sentido, lançamos mão dos textos atuais, que trazem as marcas de outros textos, as vozes de outros homens, de outras épocas, numa intensa polifonia. Assim, nessa concepção dialógica, relativiza-se a ideia de autoria individual, tendo em vista o caráter coletivo da produção dos textos, que foram redigidos a partir do estudo de obras de escritores e poetas renomados, lidos, comentados e reescritos, muitas vezes, coletivamente.
Conteúdo Das lembranças bem guardadas... ......................................... 12 Descobertas ............................................................................ 15 Haicais .................................................................................... 19 A árvore da Mamãe ................................................................ 24 Momentos marcantes ............................................................ 26 Dia-”bão” ................................................................................ 30 Pelo direito de sonhar ............................................................ 39 Azul como a vida..................................................................... 46 A cor da beleza ....................................................................... 47 O lugar onde eu vivo .............................................................. 48 FLORZINHA ............................................................................. 49 VIDA DE CRIANÇA ................................................................... 50 A TRISTE PARTIDA................................................................... 51 INFÂNCIA PERDIDA ................................................................. 52
Homenagem aos alunos, poetas de ontem e de sempre: Autopsicografia Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.
27/11/1930
Das lembranças bem guardadas... Diz um provérbio chinês que: “Para se sentir realizado, um homem precisa de três coisas: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho”. É claro que os chineses, principalmente, os sábios, não são simples. Árvore, filho e livro são metáforas e simbolizam a natureza, a espécie e a sabedoria. Cada pessoa, ao vir ao mundo, teria a missão de preservá-las. Não posso falar das três coisas, sem trazer à memória, as inesquecíveis lembranças de meus pais. Imigrantes japoneses, aqui vieram embalados pela esperança de uma vida mais tranquila e promissora, já que, no país de origem, reinavam a desesperança e o horror a uma guerra iminente. Desde pequena, ouvia atenta às histórias que eles, verdadeiros narradores “benjaminianos”, nos contavam, nos longos serões, à luz das lamparinas e ao som do violão, dedilhado por um dos empregados da fazenda. Mas, até hoje, quando algo me aflige, ouço o eco distante das palavras de minha mãe: “Filha, a sabedoria é a mãe das virtudes; todas as outras virão por acréscimo, mesmo que demorem... é preciso cultivar a paciência...” Apesar de terem se casado por “miai” (casamento arranjado pelos pais, por meio de conhecidos), como mandava a tradição, eles se amavam e souberam dar às filhas as mais preciosas lições de vida, pelos exemplos de honestidade, caráter, perseverança e, sobretudo, de amor.
Com eles, aprendi a valorizar o estudo e, desde cedo, os livros exerciam uma irresistível atração e, como não os podia comprar, vasculhava a biblioteca do colégio! Monteiro Lobato, Viriato Correia, José de Alencar, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e outros escritores traziam-me horas de encantamento... Sem contar, Jorge Amado e Aluísio de Azevedo – proibidos por minha irmã mais velha – que eram lidos aos sobressaltos, à luz de uma lanterna, escondida no enorme guarda-roupas de minha avó! Essas leituras me levavam a ficar extasiada, nas aulas de Português, pelo verdadeiro mestre, o Professor Ivo Vannucchi. Autodidata, ex-seminarista, o Professor Ivo era um mito: não adotava livros, dava aulas magistrais, declamando, desde os poemas líricos camonianos, até aqueles que escrevia em louvor à amada esposa, que conhecera em uma das folgas do seminário, “numa radiosa manhã de 19 de setembro”! [...]. Lembro-me a figura do pequeno grande mestre: baixinho, grisalho, sorriso perfeito, pronúncia impecável: “de acordo com Silveira Bueno....”, “mas não nos esqueçamos de que Rocha Lima...” e, assim, ia ensinando-nos a relacionar, comparar, analisar, habilidades e competências tão citadas hoje, mas já desenvolvidas, naquele tempo, por “aquele” professor, que me conduziu ao caminho do magistério. Ensinar é um exercício de imortalidade, pois, de alguma forma, permanecemos na lembrança daqueles que conseguimos cativar, com a magia de nossas palavras. Assim foram meus pais e o meu querido professor de Português e assim gostaria de ser para os meus filhos e para os meus alunos.
Os meus filhos são o que tenho de mais precioso: orgulhome deles, realizo-me neles e sei que estão construindo o presente e o futuro sobre as bases sólidas do amor e do respeito, transmitidas por meu marido e por mim. Quanto aos meus alunos, procurei despertar neles o desejo de aprender, o prazer de desvendar os segredos da “última flor do Lácio, inculta e bela”, além daqueles que só se revelam nos silêncios das palavras não ditas ou não escritas. Consegui? Não sei. Desejo imensamente que sim. Árvores? Plantei várias, no quintal de minha casa, na roça> mangueiras, jabuticabeiras, laranjeiras e até um pessegueiro, cujos frutos meu pai nos ensinava a encapar, para que crescessem sadios e amadurecessem sem a bicada de algum pássaro ou de algum bichinho guloso. Mas há três árvores novas, plantadas em minha calçada, há um ano, são três magnólias que espero ver com as copas frondosas, de folhas largas, flores de um branco leitoso, amarelado no centro, e sentir-lhes o perfume gostoso que exalam, principalmente, à noite. Chegarei a ver as três magnólias floridas? Também não sei. A única certeza é a de que tenho de terminar um livro, tarefa iniciada com muito prazer, mas que tem me levado à exaustão, privando-me até dos doces momentos de recordação das lembranças bem guardadas e nunca esquecidas... (Mariza Norico Kitazono de Carvalho, setembro de 2006.)
Descobertas
Kaori acabara de tomar o café da manhã e, em seu quarto, continuava a leitura de seu livro de histórias, quando os tremores começaram. A mãe entrou no quarto, para ver como a menininha estava e Kaori foi logo perguntando: __ Mãe, são os dinossauros de novo, brincando no fundo da terra, que fazem tudo tremer assim? A jovem senhora se pôs a explicar que os tremores eram causados por grandes pedras, bem no fundo da Terra, que se movimentavam, causando aqueles terremotos tão comuns no lugar em que moravam. Kaori voltou à leitura de suas histórias, mas estava intrigada com o que a mãe lhe dissera, pois jurava que eram os dinossauros, não as placas as causadoras dos constantes tremores... Custou a aceitar essa idéia, mas considerou que a mãe nunca mentiria e voltou a mergulhar nas fantasias da história que lia. Poucos instantes se passaram e os tremores, agora mais fortes, voltaram a acontecer... A garotinha se lembrou dos vulcões que cuspiam fogo e os associou aos dragões que
lá se escondiam e, de vez em quando saíam, espalhando a desordem, o medo e a destruição... Mas, a mãe, apavorada, pegou-a em seu colo e, correndo, foi para a rua, onde a multidão amedrontada e silenciosa, corria em direção ao abrigo mais próximo. A menininha olhava ao redor, sem acreditar, o caos ali se instalara: carros, casas, lojas, igrejas, tudo destruído. Até a escola, onde passava a maior parte de seus dias, não mais existia... Apenas escombros... Na cabecinha sonhadora da menina, não havia lugar para as preocupações dos adultos. Só os adultos sabiam de todo o sofrimento que viria junto com aquele desastre da natureza... Mas, um pensamento sobressaltou seu coraçãozinho: onde estaria o pai que saíra tão cedo para trabalhar e só voltaria à noite? Por que a mãe não conseguia telefonar para receber notícias dele? Assustada, olhou o rosto da mãe, sempre tão sereno e percebeu uma ruguinha em sua testa... Já, no abrigo, instalada num cantinho, no colo protetor da mãe, Kaori observava as pessoas à sua volta: todos tão silenciosos e tristes... A ruguinha na testa da mãe, no entanto se desfazia, à medida que falava com o marido que dizia estar
bem e que logo estaria com as duas. E o melhor de tudo, pensou a menina, trazia com ele mais um livro de contos que ela pedira. Kaori, alegre, dirige-se à mãe e rindo, diz: __ E eu que pensava que eram os dinossauros e os dragões os causadores de tudo isso! A mãe, calma, sorri para ela e diz: __ Filha, a dúvida nos faz aprender: a imaginação e a curiosidade abrem o caminho para conhecer coisas novas. Só quem gosta de ler, como você, é capaz de sonhar. Afinal, nos livros moram o sonho e a fantasia... Mãe e filha, abraçadas, sabem que “Nunca é tarde para resgatar os sonhos. Eles salvam a esperança”.
(Letícia Oswaldino – 1ª. série A – Ensino Médio – 2011.)
Haicais
Haicais
O chão de verde forrado O vento frio soprando As folhas. É outono!
Areia quente e água fresca Acariciam os corpos No verão.
Infinitas estrelas, Beijos ao luar, Começa a primavera.
Silmara A. Cominato – 6ª. B – EJA
Chega o inverno As aves se encolhem De frio. Outono! Folhas caindo, Vento frio, Uivos ao luar!
Flores se abrindo, Abelhas zumbindo. Chegou a primavera!
Vladimir A. de Oliveira – 6ª.B - EJA
A branca neve Iluminando a úmida Escuridão no inverno
Com a brisa e o vento Vem o som suave Do outono
Alegre, com um sorriso molhado Sorrateiro e folgado Chega o verão
Miriam Maria – 6ª.B - EJA
Cenas de filmes Beijos românticos ao luar É primavera! Calor, sol, alegria Chega o verão Com muita harmonia
No outono da vida, Os frutos são doces, Mas infindas as dores.
Maria Camila da Silva – 6ª.B - EJA
Mem贸rias
A árvore da Mamãe Casei-me na pequena cidade de Cardeal (SP), em 1952. Vim morar em Ribeirão Preto, onde estou até hoje, deixando para trás meus familiares.
Com muitas saudades, meu esposo e eu viajávamos com frequência para visitar nossos parentes e lá passávamos os fins de semana ou feriados. De volta para Ribeirão Preto, já programávamos nova viagem.
No caminho, víamos duas árvores lindas, bem verdes, altas, fortes e cheias de vida. Olhando-as, certo dia, meu marido me disse: “essas árvores somos nós, que, como elas, somos fortes, bonitos e cheios de vida”. Durante muitos anos, as duas árvores firmes, ele me olhava e dizia: “olhe como estão lindas!”.
Mas, um dia, passando sozinho pela estrada, ele viu que só restava uma, a outra havia tombado. Muito triste, ele me contou e um pensamento ruim me passou pela mente: e de nós dois, quem iria primeiro?
Pelo cruel destino, foi ele que se foi e me deixou no ano de 1982.E até hoje, viajando para Campinas, passando por Santa Rita, lá está a árvore, verde e firme, fico me perguntando: por quê?
Minhas filhas, no entanto, não se deixam abater e, vendo-a, dizem: “essa é a árvore da mamãe!”. E assim ficou batizada: “a árvore da mamãe”.
Benilde A. B. Batagin – 1º A – Ensino Médio – EJA – 15 de março de 2010.
Momentos marcantes Vivia com minha madrinha, desde os oito meses, em Salvador. Tive uma infância tranquila e, aos dezesseis anos, estudava na Escola Helena Matheus, onde tinha várias amigas.
Um dia, uma dessas amigas me convidou para assistir a um ensaio de um grupo de forró do qual fazia parte. Mal sabia ela que o meu sonho era ser dançarina. Por isso, não faltei a nenhum dos ensaios. Até que o coreógrafo, ao notar o jeito que eu acompanhava os passos, me convidou para fazer parte do grupo.
Radiante, passei a me dedicar de corpo e alma, até que o dia mais marcante de minha vida chegou: a primeira
apresentação – um verdadeiro show! Passei a viajar com o grupo que já fazia bastante sucesso.
Mas, minha madrinha, não aceitando as viagens, exigiu que eu saísse do grupo e eu, embalada pelo sonho de ser dançarina, saí de casa e fui morar com uma amiga.
No começo, tudo estava certo, depois as discordâncias começaram e as brigas se tornaram frequentes. Foi quando a minha mãe, sabendo de tudo o que havia acontecido, viajou para Salvador e forçou-me a abandonar o meu sonho.
Vim para Ribeirão Preto e, de tão contrariada e triste, entrei em depressão. Mas, graças a minha mãe e a Deus, consegui superar tudo e até encontrei a pessoa que me devolveu a felicidade: o meu marido.
Hoje, temos uma linda filhinha e, incentivada por meu esposo e com o apoio de minha mãe, voltei a estudar. Posso dizer que amo minha vida e a minha família.
Ana Paloma de A. Souza -1º A – EJA - 2010
Conto
Dia-”bão” Quarta-feira amanheceu, pensei que seria um dia como outro qualquer: eu levantaria, escovaria os dentes, tomaria café, talvez precisasse ir à padaria... Digo “talvez” porque o horário em que eu decidisse levantar determinaria isso. A sonolência me impedia de levantar... O telefone tocou, estiquei o braço devagar, imaginando “Quem será o filho de Deus que ligaria pra cá às nove horas da madrugada?!”
- Alô? Sim, sou eu a Mel – Era a secretária da minha dentista! – A dentista vai viajar? Posso remarcar, sim! Pra quando? Quando a senhora pode? Às dez horas de hoje?!
Ela disse que, se não fosse às 10:00 horas, só quinze dias depois, então concordei e bati o telefone. Pulei da cama, escovei os dentes só para sentir o gosto de creme dental, prendi o cabelo, coloquei um boné,
uma blusinha, a primeira calça que me veio às mãos, uma rasteirinha roxa que ganhei nem sei de quem...
Saí descendo as escadas de casa como se eu fosse uma centopéia, em segundos, estava na rua. Meu vizinho é um moto-táxi, mas não estava em casa. Fui pro ponto, veio um ônibus, dei o sinal, ele parou. Senti-me aliviada e quase me vi tão à vontade quanto na sala de casa. Ouvimos um barulho – ninguém merece! – o pneu furou. O cobrador disse:
- Ninguém sai do ônibus até o outro chegar!
Foi um caos total. Gente reclamando daqui, gente reclamando dali, de lá, acolá... Até uma senhora de idade, toda nervosa, foi até o cobrador e disse que se ele não lhe tirasse dali, ela lhe daria um safanão. Eu só sabia que precisava dar um jeito de sair do ônibus. Estava atrasada
“Aii! minha dentista!”. Cheguei até o cobrador, mas, astuto, nem abriu a porta, sequer olhou direito pra mim. Fiquei nervosa, pra ser mais franca, muito nervosa, “beem” nervosa.
“Plim!” de repente, veio a solução... Abri caminho em meio ao tumulto e comecei a subir nos bancos... um pé aqui e logo estava com metade do corpo pra fora do ônibus, continuei me empurrando, pulei e saí correndo. – Meu Deus! – O caminho era longo, o tempo curto.
Um quarteirão à frente, vi um táxi, chamei e entrei no carro. Esbaforida, tentei relaxar sentada no banco, mas logo chegamos à dentista.
- Obrigada, moço! Não sabe como quebrou meu galho!
- Que isso, obrigado, você! A corrida ficou só quinze reais.
Relembrando: Não trouxe o dinheiro! Abro minha carteira e só vejo a foto do meu namorado me dizendo acusadoramente: “Eu te digo pra se organizar! Não sabe onde põe as coisas, olha no que dá”
Tentei disfarçar, e disse pro moço esperar enquanto eu ia entrando no consultório. Fui recebida com uma simpática expressão carrancuda: “chegou um pouquinho atrasada, não acha querida? Ah, mas vamos lá...” Enquanto a minha querida dentista, com olhos de um facínora ia me conduzindo para a sala, enfiei a mão no bolso da calça e senti um volume estranho parecido com papel, para a minha salvação era dinheiro... Eu fiquei atônita “Como esse dinheiro veio parar no meu bolso?” Eu nem fazia idéia, mas...
A dentista fez uma obturação e saí falando fofo, com impressão de que ao invés de ela ter obturado um dente, tinha arrancado todos. Saindo, parece que São Pedro quis dar uma melhorada no meu dia, ao
sair dali, vi a chuva arrastando tudo pela rua, foi um Deus nos acuda. Ainda bem que o pobre taxista estava pacientemente me esperando.
Consegui voltar pra casa inteira. Sem pressa, subi as escadas... Abri a porta e comecei a preparar o almoço, pois tinha aula ainda. Peguei uma troca de roupa e fui pro banheiro, quando olhei no espelho, levei um susto. Meu cabelo estava tão rebelde, que o “frizz” tinha ganhado vida própria e parecia que ele ia me engolir; fui rapidinho pra debaixo do chuveiro e fiz minha sonata habitual.
Senti um cheiro meio estranho... – Caramba, como fui me esquecer disso?! – Fui direto pra cozinha, e tentando enxergar a panela, tirei-a do fogão e joguei na pia. “Aaaah, o que mais falta pra acontecer?” Puxei um pano de prato que estava em cima da pia para limpar a água que eu tinha derramado e a panela veio junto... bem em cima do meu pé! Aproveitei e de brinde tentei usar tudo o que eu tinha aprendido sobre
meditação. Depois dessa confusão toda, a cozinha já estava mais, digamos, arejada! Limpei tudo e acabei ficando sem almoço.
Mas não dava tempo pra mais nada. – Vou comer alguma coisa depois... – Pensei. – Só me faltava ter deixado alguma tarefa da escola sem fazer... “Aiii” o trabalho da professora Mariza! Como fui me esquecer?
Por que será nunca ouvimos o que os nossos pais dizem? – “Se você estiver fazendo algo, se dedique ao que está fazendo; não faça duas coisas ao mesmo tempo; aprenda isso!” – E ainda por cima, estou com uma tatuagem no pé, daquelas que doem, ardem e fazem bolhas.
A opção era terminar de me arrumar pra ir pra escola, e tentar não me atrasar novamente. (Tentativa não tão bem sucedida). Passei uma maquiagem leve, dei um jeitinho no cabelo, peguei minha camiseta
preferida, calça jeans, a única que estava à vista e que (Ufa!) não pegava no machucado: minha velha rasteirinha roxa... Coloquei minha mochila nas costas e fui...
Para incrementar meu dia, quando descia as escadas esbarrei na minha vizinha, que pisou meu pé (Siiim, bem lá, no meu machucado!). Ela pediu mil desculpas.
- Mel, me desculpa! Foi sem querer, ai meu Deus!
- Não, Amanda, está tudo bem... Já passou! – Sorri sinceramente pra ela. – Me ajuda a pegar os livros, fazendo favor?
- Ah, ajudo sim! Você queimou? Espera aí que eu vou ali em casa pegar uma pomada, é rápido!
- Tá bom, obrigada! Você me salvou hoje! – Ela foi correndo mesmo, e num instante estava de volta. Passei a pomada, ainda bem, aliviou! Despedi-me dela com um abraço, e ela me gritou:
- Boa sorte na aula! Nos vemos mais tarde!
Isso demorou um pouquinho e tive de ir novamente atrasada... só que desta vez com a companhia do meu dedão, sorrindo de alívio pela pomada.
Cheguei correndo, resfolegando. Quase na sala ouvi a professora fazendo chamada, entrei, como diz minha amiga Tamiris: “Abalando”
- Número 16! Presenteee! Aqui!
Todos os olhares se voltaram pra mim, mas não liguei. Fui para o meu lugar e sentei. Victor veio me dizer “Oi” e com seu ótimo humor, brincou:
- Viu, Mel, a professora hoje veio de “uvinha” – E sorriu, mostrando a professora. Ela, toda pomposa, colocou, as mãos na cintura e respondeu:
- É mesmo, estou de roxo hoje! Blusa, brinco, calça, pulseira... só faltou a rasteirinha! __ olhando para mim:
E eu, envergonhada, tentando esconder meus pés com a velha rasteirinha roxa, criei coragem e falei, quase sussurrando:
- Ah, FALA SÉRIO, PROFESSORA! NÃO ME DIGA QUE QUER EMPRESTADA MINHA POBRE RASTEIRINHA!...
(Mel Iza Costa Augusto– 2ª série B – Ensino Médio Regular – 2012)
Pelo direito de sonhar Um pouco cansada, com os processos espalhados sobre as mesas do escritório, Anne se sentou na poltrona de veludo. Recostou a cabeça no encosto da poltrona macia e sorriu satisfeita.
Àquela hora da noite era a mais gostosa: sozinha, na grande sala vazia, podia, secretamente, dedicar-se à tarefa de que mais gostava: escrever. Debruçava-se sobre a mesa, e, no teclado de seu notebook, ia esparramando as palavras que brotavam de sua cabeça... Àquela hora da noite, nada mais lhe importava: os processos em andamento, aquelas ações que nunca se desenrolavam, os problemas no escritório, a bem
sucedida carreira de advogada, imposta por seus pais, nada a demovia de seu antigo sonho... Todo o seu desejo artístico, escondido há tanto tempo, se tornava realidade no sentido de tornar a árdua jornada diária menos penosa... Àquela hora da noite, Anne se esquecia de tudo...
Às vezes, o espelho de sua memória refletia imagens do passado e, misturadas com as fantasias que criava nas histórias que escrevia, as lembranças intrusas teimavam em perturbar a doce realidade dos sonhos de Anne. Então, os pensamentos iam tomando conta de toda a sua mente. Lembrava-se, então, de que adorava os longos cabelos dourados e a cor esverdeada de seus
olhos, realçada pelo delineador preto. Gostava de seu talhe esbelto e de sua pele clara e suave... Continuava bonita, segundo lhe dizia o marido e confirmavam os olhares de admiração dos colegas do escritório. Mas logo voltava a se lembrar das brigas constantes com a mãe, com quem não tinha nenhum tipo de diálogo. Com o pai era diferente, um relacionamento feito de companheirismo, compreensão e carinho. O pai era o porto seguro onde podia ancorar seus sonhos e alimentar as esperanças.
No fundo, Anne compreendia por que o pai fizera aquilo: o casamento já estava falido há muito tempo,
bem antes de começarem as brigas e discussões que ela, tremendo, ouvia de seu quarto escuro.
Em um fim de semana, quando, normalmente, saíam juntos para almoçar, notou que o pai não estava em casa. Estranhou, e logo o mistério foi cedendo lugar à revolta e à tristeza: a mãe estava diferente: com uma estranha
calma,
foi
contando
que
o
pai
havia
abandonado a casa.
__ Seu pai nos deixou!
__ Como? Isso só pode ser mentira! Ele não seria capaz...
__ Leia a carta que lhe escreveu. Aí pode estar toda a explicação.
Com as lágrimas embaçando os olhos verdes, foi lendo as palavras firmemente escritas pelo pai: estava indo embora com uma moça companheira de escritório, muito diferente da mulher, que havia deixado de amar. Ia em busca de paz e de felicidade, mas jamais deixaria de amar a filha querida. Apenas ia dar um tempo, até ajeitar a vida em Nova York, para onde haviam sido transferidos,
logo
mandaria
mensagens
e
se
encontrariam quando viesse ao Brasil, o que seria frequente, por causa do trabalho.
Anne compreendeu, então, o comportamento da mãe: há quanto tempo sofria pelo distanciamento do marido? A partir daí, aproximaram-se mais e até aceitou a opinião da mãe de que ela deveria fazer Direito, pois ser escritora não lhe daria condições de se manter.
Mal sabia a mãe que, agora, nas horas vagas, Anne realizava o sonho: mergulhava na magia das palavras que a transportavam ao avesso da realidade. Anne podia sonhar... afinal, não é proibido sonhar...
Joice Bittar – 1º A – Ensino Médio Regular - 2011
Mais coisinhas à toa que deixam a gente feliz: Dialogando com Otávio Roth
Dançar até não poder mais, ver que o mundo está em paz e que a vida pouco a pouco se faz. Usar a imaginação, brincar de montão, rodar feito um pião. Fingir que é princesa, qualquer pessoa da nobreza, ver o mundo sem frieza. Brincar de boneca, jogar peteca, sujar-se toda de geleca. Enfim… V er o mundo mais feliz, olhar na ponta do n ariz, do jeito que sempre quis. Tainara Ramos Damasceno - 6º ano D
Poeminhas azuis
Azul como a vida A cor azul Bela como a vida, Cor do céu e do mar, Cor do jeans e do All Star. Lembra O céu de dias perfeitos, O bolo saindo do forno, Carinho tão morno, Quentinho, nada imperfeito. Lembra As ondas do mar, Onde estou entre amigos, A brincar, sonhar, amar, Sempre com um lindo sorriso. Sarah Abrahão – 6º C
A cor da beleza A cor azul Lembra o céu, A imensidão do mar. A leveza de um véu. A cor azul Lembra a serenidade, Que devagarinho, Traz a tranquilidade. A cor azul Lembra a beleza, De um dia qualquer, Em meio`a Natureza. Larielly Souza Fernandes – 6º C
O lugar onde eu vivo
O lugar onde eu vivo Se chama Ribeirão Tem beleza de montão, Mas que dó! É muita poluição! Tem lugares bonitos, Mas cadê a preservação? Pegou a maleta Foi embora, Fugindo de Ribeirão? Toda a população, Que tem bom coração, Precisa buscar a preservação, Trazendo de volta A alegria para Ribeirão! Milena Aparecida B. Costa – 6º C
FLORZINHA Quando estou sozinha Reflito meus sentimentos Penso que sou uma florzinha Desabrochando aos ventos Meus sentimentos são alegres e tristes Os alegres são do meu coração E os tristes tão infelizes São sobre a minha paixão A minha paixão Foi tão triste Que iludiu Meu coração O menino que eu gostava Não me amava Pois ele me deixava Muito magoada.
Ingrid M. V. 7ª série E Tarde
VIDA DE CRIANÇA
Como gosta de brincar o menino brincalhão brinca de bola, pipa, peteca e até de pião. Mesmo na flor da idade tem capacidade de aproveitar a infância com suas travessuras nos faz recordar quão bom é ser criança. Sempre a brincar alegre a sorrir quando vê o seu amor passar vai de paixão cair. Começa a anoitecer, suas pernas tendem a doer de tanto correr. Chega em casa exausto, come e vai para o quarto com os anjos vai dormir até o novo dia florir.
João Victor Martins Toledo Guidotti 7ª série F Tarde
A TRISTE PARTIDA
Meu amor foi embora, Deixando-me sozinha agora Não queria que tudo chegasse a esse ponto mas quando é para ser, o fim é sempre pronto. No começo tudo eram só rosas mas quando triste me olhavas eu perguntava: por que choras? Ele era lindo feito um índio com os olhos puxados mas com as mãos calejadas do machado. Nossa vida era feito um botão de rosas que floresce em meio às rosas e têm a sutileza de auroras. Agora estou magoada vejo você partir e não posso fazer nada isso é o ruim de ser uma menina tão apaixonada! Júlia Vitória Gonçalves 7ª série F Tarde
INFÂNCIA PERDIDA
Pés no chão, no barro, na areia. Corpo sujo, imundo, nem uma pequena ceia. Olhos lacrimejantes, pensamentos longe. Com um pingo de esperança que resta, não sei de onde! O tempo vacila. Parece não haver tempo. Cada gota molha um pouco de nós que resta. Triste momento. Vagueando vou, neste mundo que não vê, nem sabe quem eu sou, nem quer me conhecer. Há um vazio em cada parte do corpo, no estômago há fome. No coração não há fé. No rosto não há alegria. Se perguntarem quem sou, não sei, não diria.
Perco cada passo, no mundo que não me vê. Perco o chão que piso, acho que vou morrer. Mas enquanto a morte não vem perco um pouco de mim. Perco a infância. Sou uma criança, lembrem-se de mim! Rodrigo dos Santos 1º ano Ensino Médio EJA – Noturno.
PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO PREFEITA: DÁRCY VERA
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO MARIA DÉBORA VENDRAMINI DURLO Secretária da Educação
SIMONE ABRAHÃO Coordenadora da área de Língua Portuguesa
EMEF PROF. DOM LUÍS DO AMARAL MOUSINHO Maria Ângela Mattos De Carvalho Assistente de direção: Sandro Luiz Sartório Coordenadora: Suzana Moisés
Produzido por Mariza Norico K. de Carvalho Colaboração de: Iracema Aparecida Wada Papa