100 Anos do Café Conilon - 2012

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100 Anos de d esafios, Cres C imento e i novação Conilon Capixaba

100 Anos de d esafios, Cres C imento e i novação

1ª. Edição

Vitória - Espírito Santo Bumerangue Produção de Comunicação 2012

Conilon Capixaba

Patrícia Maria Silva Merlo

ISBN:

1. Conilon; 2. História; 3. Café; 4. Espírito Santo (Estado)

MERLO, Patrícia M. S. 100 Anos do Conilon Capixaba: Desafios, Crescimento e Inovação. Vitória: Bumerangue Produção de Comunicação, 2012, 100p. il. retr. color. ; 23 cm.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Elisa lucinda

Todo capixaba tem Um pouco de beija flor no bico Uma panela de barro no peito Uma orquídea no gesto Um cafezinho no jeito Um trocadilho na brincadeira Um congo no andar Um jogo de cintura Um chá de cidreira Uma moqueca perfeita E uma rede no olhar.

Cap. 1 Desafios

Grãos de história 00

Cap. 2 Crescimento: o grão que veio para ficar Os caminhos do desenvolvimento 00 O novo contexto do setor cafeeiro brasileiro 00

Cap. 3 Inovação: a expansão tecnológica Primeiras variedades clonais: o início da escalada tecnológica 00 Poda programada de ciclo do café conilon 00 Variedade clonal resistente à seca: Robustão Capixaba 00 Robusta Tropical: variedade clonal propagada por sementes 00 Variedade clonal Vitória: a Incaper 8142 00 Panorama atual 00 Conilon capixaba: metas mais ousadas 00 Conferência internacional de Coffea canephora: a importância do conilon para o mundo 00

Referências 00

Sumário

Mensagem do Governador 00

Prefácio 00

Por debaixo dos panos 00

Agronegócio do cAfé é uma das atividades mais importantes do Espírito Santo por seu grande peso social e econômico. Presente em todos os municípios capixabas, exceto Vitória, é a atividade com maior poder de geração de empregos. A cafeicultura é o sustentácu lo econômico de 80% dos nossos municípios e responde por 43% do PIB agrícola capixaba. A cadeia produtiva, em sua totalidade, gera aproximadamente 400 mil postos de trabalho ao ano e só no setor de produção envolve mais de 130 mil famílias, com tamanho médio das lavouras em torno de 8,3 hectares.

m en S agem do g overnador

O

FoTo

Governador Renato Casagrande

9 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

um duro golpe para a cafeicultura capixaba que resultou em 80% das lavouras erradicadas.

Nesse centenário do conilon é importante destacar o avanço tec nológico dessa espécie no Brasil, cujo predomínio produtivo loca liza-se no Espírito Santo, referência global da cultura. As varieda des clonais de conilon desenvolvidas pelo Incaper destacam-se no cenário mundial. Registre-se que muitos cafeicultores, que já reno varam suas lavouras utilizando novas bases tecnológicas, têm al cançado produtividades superiores a 100 sacas por hectare e cafés de qualidade superior.

Vale ressaltar que o Espírito Santo é o único estado brasileiro com produção significativa tanto de arábica quanto de conilon. As sim, em face da grande importância da cafeicultura na geração de emprego e renda, o governo do Estado vem ampliando sua agen da, tornando tema estratégico o agronegócio café. Buscando incen tivar a cadeia produtiva de café capixaba a adotar, cada dia mais, o compromisso de atuar no sentido de produzir, além de dividen dos econômicos, desenvolvimento humano, social e ambiental.

Nas últimas décadas os avanços obtidos na cultura do café conilon foram suficientes para que o Estado conse guisse inserir o produto no mercado internacional. A preo cupação agora é acelerar o processo de melhoria da quali dade para garantir os nichos já conquistados e ampliar o mercado. Nosso compromisso atual é ampliar as pesqui sas e os experimentos para a obtenção de mais qualida de a cada dia.

Sabemos que o sucesso de nossa cafeicultura não veio fácil. É resul tado de muita luta, determinação, superação, coragem e dedicação de nossa gente. O conilon em especial, marcou um novo capítulo de nossa história. Desde a chegada das pri meiras sementes ao território capi xaba em 1912, até os desafios para o início do cultivo comercial na déca da de 1970, após a decisão do gover no federal de erradicar os cafezais,

E

Pre F ácio

m 2012 comemorAmos 100 anos de cultivo de café conilon em solo capixaba. Nos últimos 40 anos a espécie que surgiu como alternativa agrícola para a região Norte do Espírito Santo, após a erradi cação dos cafezais de arábica, na década de 1960, ganhou espa ço e valor. Orgulha-nos muito fazer parte desse centenário que co meçou com alguns pés de conilon trazidos pelo Governador Jerô nimo Monteiro e cuja qualidade hoje deixou de ser um sonho para se tornar a nova realidade da cafeicultura capixaba.

FoTo

Ao longo das últimas décadas, merece destaque o papel fun damental do desenvolvimento de conhecimentos e da difusão e transferência de tecnologias como o pilar fundamental na cons trução da mais importante cadeia produtiva do setor rural capi xaba. Nesse contexto, merece registro as ações do Instituto Capi xaba de Pesquisa, Assistência Téc nica e Extensão Rural – INCAPER. O programa de pesquisa com café no Estado, que completa 27 anos em 2012, teve como primeiro pon to alto o ano de 1993, com o lança mento das três primeiras varieda des clonais de conilon, com matu rações diferenciadas. E foi a partir da implantação de lavouras clonais que se iniciou verdadeira revolução tecnológica na produção dessa es pécie de Desdecafé.então,

o Governo do Es tado por meio do INCAPER e seus

parceiros atuam fortemente na renovação de lavouras e na difusão das boas práticas agrícolas (variedades, aduba ção, irrigação, podas, plantio em linha, análise de solo e fo lha, campanha de qualidade), permitindo aos produtores a obtenção de produtividades superiores a 100 sacas/ha de um produto de qualidade superior. E são esses resulta dos que tornam o Espírito Santo referência internacional na produção de conilon.

Temos prazer em agradecer todos àqueles que fizeram parte da história do conilon que, de várias formas, se mis tura à história de vida de tantos capixabas. Que venham no vos desafios: mão-de-obra, qualidade, novos mercados. Es taremos prontos!

Enio Bergoli da Costa, Secretário de Estado da Agricultura

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Atualmente, o conilon responde por 75% da produção de café no Espírito Santo, ocupa mais de 220 mil pessoas, gera 1/3 da ren da rural e já está presente em 64, dos 78 municípios capixabas, en volvendo mais de 40 mil propriedades. O Governo do Estado em parceria com as Secretarias Municipais de Agricultura e cooperati vas como a COOABRIEL e a COOPEAVI vem ampliando sua atua ção, especialmente junto aos agricultores de base familiar, buscan do garantir a geração de renda.

Perspectiva da villa de victoria...” original de Joaquim Pantaleão Pereira da silva, do arquivo Histórico do exército, rio de Janeiro. 1805. Pág. 357.

1

Desafios

o café é originário da região de Kaffa, na etiópia, África. a espécie foi levada para a europa apenas no século Xvii e, depois de algum tempo, passou a ser largamente consumida por ingleses, holandeses, alemães e franceses. desde então, o café suplantou em preferência as bebidas alcoólicas por suas propriedades estimulantes, que predispunham tanto ao trabalho braçal, impulsionado pela revolução industrial, como às atividades intelectuais. atribuiu-se a introdução do Coffea arábica no Brasil ao

debret séc XiX 14 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

Fonte: motta soBrinHo, alves. A civilização do café (1820-1920). Prefácio de Caio Prado Júnior. 2. ed. são Paulo: Brasiliense, 1968. N

embora já fosse costume entre europeus e americanos. foram dos jardins da cidade do rio de Janeiro que saíram as primeiras mudas de café para as regiões vizinhas. o seu plantio, todavia, apenas se intensificou em presença da demanda do mercado externo, tornando o negócio rentável. dessa forma, o café, estranho aos hábitos alimentares do português, do negro ou do

o início do século XiX, chegaram ao Espírito Santo, oriundas do Rio de Janeiro, as primeiras sementes de café. Nos anos seguintes, apesar de o principal produto da economia local continuar sendo o açúcar, já começa a se esboçar uma tímida cultura cafeeira. Conta-nos Affonso de Taunay que, “em 1811, as lavouras do rio Doce já produziam para exportação. Aliás, o lote então vendido alcançou o preço de 3$000 [três mil réis] por arroba”. As vendas ao exterior, contudo, segun do o mesmo autor, seriam incipientes, “de alguns quilos e de longe em longe ain da.” 1 Somente mais tarde, por volta da metade do século, a rubiácea alcançaria o lugar preeminente que vem mantendo no conjunto dos produtos constituintes da riqueza capixaba. Ressalte-se que há exatos duzentos anos, ou seja, a partir de 1812, o governo do Espírito Santo deu início aos incentivos à cultura do café.

índio, foi pouco a pouco ingressando na vida brasileira. a cultura do café encontrou no Brasil condições favoráveis ao seu desenvolvimento: terra farta, mão-de-obra barata, clima adequado e solo fértil. a partir do século XiX, com o declínio das atividades econômicas tradicionais como a plantação de cana de açúcar e a extração de ouro, o café passou a reinar, consolidando-se como produto de alta rentabilidade nas bolsas de valores do mundo e conquistando a alcunha de “ouro verde”. Café, Gravura de

Da África ao Brasil

sargento-mor francisco de melo Palheta, em 1727. oriundas da Guiana francesa, as sementes foram plantadas no Pará. não se sabe ao certo como o arbusto chegou, por volta de 1776, ao rio de Janeiro, onde passou a ser cultivado apenas como planta ornamental, símbolo de sorte e de vida.Conta-se que o artista francês Jean-Baptiste debret, quando de sua estadia no rio de Janeiro, no começo do século XiX, espantou a todos pelo fato de tomar café depois das refeições. a bebida ainda não era hábito brasileiro,

Coube ao governador do Espírito Santo Francisco Alberto Rubim (18121819) a primazia de impulsionar o novo cultivo no Estado, inicialmente pela re comendação aos moradores de Vitória para substituírem as plantações de ma monas existentes em seus quintais por mudas de café. A aposta no novo pro duto deveu-se à alta do preço na praça mercantil do Rio de Janeiro. Como in forma Basílio Daemon2, entre 1812 e 1815, “foram remetidas a diversos lavrado res do norte da Capitania as primeiras sementes de cafeeiro, recomendando-se o seu plantio e cultura, mandando-se para tal fim instruções”.

As primeiras plantações em solo capixaba foram realizadas à sombra das árvores, especialmente as de copa ampla a fim de proteger o cafeeiro. O uso de tal técnica no litoral do Espírito Santo possibilitou o surgimento de um tipo es pecial de café, conhecido no mercado carioca como Capitania. A razão funda mental de se proteger o cafeeiro com árvores copadas não residia somente na capacidade de amenizar a ação direta do sol no verão ou nas estiagens prolon gadas, mas também visava impedir que os rijos ventos do nordeste açoitassem a planta, atrofiando o seu crescimento. Formaram-se, naturalmente, com esses

Entrada da Baia de Vitória, séc XiX

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16 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

cuidados e providências, os primeiros cafezais ao longo do litoral, cujos frutos eram negociados na praça do Rio de Janeiro.3

Cem anos após a chegada da cultura do café no Espírito Santo, uma nova espécie seria introduzida, o Conilon. Desta feita, por obra do então governador do Estado, Jerônimo Monteiro (1908-1912). Atualmente, ao longo das planí cies quentes do interior do Estado, o café conilon predomina, tomando con ta da paisagem com lavouras bem cuidadas, sugerindo ao visitante serem elas parte natural da paisagem. Nem sempre, porém, foi assim. A realidade é que o conilon ainda é jovem, embora já tenha muito a contar. A importância da nova espécie, no mais das vezes, não é percebida em sua totalidade, notadamente como grande vetor da economia rural capixaba contemporânea. Na verdade, o conilon integra uma cadeia econômica que vem conferindo dinamismo ao in terior do Estado, garantindo, ao longo do tempo, trabalho e geração de renda para os envolvidos direta ou indiretamente no negócio.

Pioneiro na introdução das primeiras mudas do conilon em terras capixabas

Fazenda Monte Líbano, Cachoeiro do itapemirim, onde tudo começou

Jerônimo Santo(1908-1912).GovernadorMonteiro,doEspírito

Começava assim a ascendência do café arábica, em suas variedades Typi ca e Bourbon, que se consolidaria nas décadas subsequentes. Daí em diante o açúcar perdeu paulatinamente expressão comercial no Espírito Santo. Iniciase verdadeiramente o Ciclo do Café no Estado, com o plantio em larga escala empreendido pelos colonos alemães e italianos. A monocultura do café, des sa forma, passou a monopolizar a economia capixaba nas décadas seguintes, com o seu percentual na arrecadação do Estado beirando os 90%. Este índice viria a regredir ao longo do século XX, particularmente em virtude das pragas, até o advento da política voltada a sua erradicação.

Ainda há pouco, quando estive no Rio de Janeiro, fiz aquisição de duas mil mudas e cincoenta litros de sementes de uma exce lente qualidade de café, o “Conillon”, estando todas elas já distri buídas (Governador Jerônimo Monteiro, 1913).

Hoje, da Fazenda Monte Líbano nada mais resta:

O fragmento reproduzido encontra-se no relatório final do governador Jerôni mo de Souza Monteiro, que administrou o Espírito Santo de 1908 a 1912. Em tom quase profético, o político, além de introduzir a espécie, anunciava a excelência do novo café, numa época em que as lavouras no Estado eram dominadas pelo arábica. Qual então o destino das mudas e sementes de conilon trazidos por Jerôni mo Monteiro? Segundo as fontes, boa parte do carregamento foi enviada a Fa zenda Monte Líbano, em Cachoeiro do Itapemirim. Fundada em 1855, a pro priedade, já nas décadas seguintes, havia se tornado um pequeno império:

Mas ficam a memória, o sabor e o cheiro; a luz da lua, das estrelas, mesmo do cometa Halley; os sons dos animais no meio da noite; o riso dos italianos em suas festas; as empregadas ao amanhecer, cantando simplesmente porque era dia e o cheiro de café percor ria todas as dependências. Estava-se vivo e era-se criança [...] A fazenda não mais existe, é só memória, fora do domínio senso rial e do alcance visual. Permanece, atemporal, na sensação que transmite um canivete, repetido em vários modelos que formam uma coleção. Mesmo porque “fazenda é isso”, diz Carlos Linden berg, “fica fazendo a vida inteira” 5

O fato de sua sede localizar-se no alto da encosta não significa va apenas uma defesa natural contra as enchentes, os répteis e as feras. Não deixava de ser uma ascensão geográfica: ela poderia ser vista a certa distância. Era uma casa construída em forma de U, em dois andares, com 58 janelas. Exatamente no interior des se U foram organizados os terreiros de “pedra grande para a se cagem do café”. O produto era despejado no primeiro terreiro, em seguida passado para o segundo e, finalmente, para o último. 4

Grão S d E hi S tória 17 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

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Nesse período, a maior parte da população ainda vivia no meio rural, sendo difícil e demorado o acesso a Vitória em virtude da falta de transporte regular e de estradas de rodagem razoáveis. Na verdade, a capital do Estado, se encon trava ainda muito distante da grande transformação urbana que experimenta ria num futuro. Começava a se consolidar o perfil de cidade portuária graças às exportações de café, madeira e minério de ferro. Mas o ritmo da vida teimava em passar sem pressa nesse “pacato burgo provinciano cuja população rodava pelos 50.000 habitantes”, segundo relatou José Teixeira de Oliveira. 7

Nas primeiras décadas do século XX, o Espírito Santo continuava basica mente agrícola, com a sua economia atrelada à monocultura do café. Em men sagem à Assembleia Legislativa, no ano de 1947, o então governador Carlos Lin denberg (1947-1951; 1959) já demonstrava preocupação com a exaustão cafeei ra, afirmando ser preciso livrar “o café do pesado ônus de ser quase exclusivo responsável pelo bem-estar de nossas populações e pela posição das finanças e dos orçamentos do Estado”. 6

Cenas urbanas de Vitória na primeira metade do Séc XIX

O café construiu as estradas, lançou as pontas, construiu os edifí cios públicos, gerou energia elétrica, fundou universidades, aterrou mangues, fez o porto de Vitória e amealhou recursos para que se for massem os cacauais e financiou a formação de rebanho. Urbanizou Vitória, Cachoeiro do Itapemirim, Colatina e todas as demais sedes de municípios, sem que o plantador tivesse merecido ao menos as sistência dos poderes públicos. Se o café, em alguns períodos críti cos, arruinou fortunas e embaraçou administrações, a causa residiu sempre e exclusivamente na incúria dos governos que, impreviden tes, não souberam implantar as bases de nova estrutura econômica. 8

O café, “os débeis galhos da rubiácea”, como afirmou certa vez o Governa dor Jones dos Santos Neves (1943-45; 1951-52), suportaram a carga dinâmi ca do progresso do Espírito Santo em todos os seus períodos de alta ou baixa do preço, de carga exuberante ou minguada. De acordo com Serafim Derenzi:

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Resistindo ao tempo: matrizes cinqüentenárias do conilon, são Gabriel da Palha

Como é possível perceber, nas suas primeiras décadas em terras capixa bas, o conilon ficou adormecido, praticamente como um clandestino... Até os anos de 1960, o café arábica foi senhor absoluto da economia estadual, ocu pando mais de 500 mil hectares. Em 1912, quando da introdução do conilon, a safra de café capixaba era de 568 mil sacas. Já em 1951 alcançava dois milhões de sacas. A seca, a broca e a ferrugem, porém, derrubaram as safras no período seguinte a menos de 75 mil sacas. Apesar disso, no início dos anos 1960, a pro dução industrial contribuía apenas com 10% da renda total do Estado. Nessas condições, alertava o governador Carlos Lindenberg à época:

Quando nas décadas de 1940 e 1950 inúmeras famílias do Sul do Estado mi graram para o Norte a procura de novas áreas para trabalhar, levavam consigo, além de mudas de café arábica, mudas do conilon originárias do lote trazido por Jerônimo Monteiro. Foi assim que as primeiras sementes da nova espécie, pro venientes de Cachoeiro de Itapemirim, chegaram nas décadas seguintes ao norte do Espírito Santo. Em São Gabriel vieram pelas mãos de Ernesto Caetano, sendo plantadas nos anos seguintes nas propriedades das famílias Colombi e Lorenzoni.

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Sobreveio então a crise. Devido ao excesso de produção, o Governo Fe deral ameaçava proibir a exportação de cafés inferiores ao tipo 5. Ocorre que o café capixaba era o de mais baixa cotação, tanto no mercado exter no como no interno. De 1,5 milhões de sacas classificadas pela Bolsa Ofi cial de Mercadorias, durante o ano de 1959, nada menos de 1.2 milhões cor respondiam a cafés de tipo 7 e inferiores, ou seja, 80% da produção local.

Tipo 2 3 4 5 6 7 8 defeitos 4 12 26 46 86 160 360

a classificação do café é uma estapa importante no processo de comercialização do produto. a determinação da qualidade do café compreende duas fases distintas: a classificação por tipos ou defeitos e a classificação pela bebida. além desses dois aspectos principais, o café pode também ser classificado por peneira, cor, torração e descrição.

Apesar disso, a crise se acentuou em 1966/67 pelo interior capixaba, re sultando num elevado êxodo rural. Restaram apenas algumas lavouras de café pertencentes a um reduzido número de produtores que ainda se man tinham esperançosos com a reação dos preços do produto. Em São Gabriel,

o tipo se refere aos defeitos existentes no café. são considerados como tal os grãos deteriorados, pretos, ardidos, verdes, quebrados, brocados, conchas, chocos, cocos, marinheiros, cascas, paus, torrões, pedras, etc. os tipos são de 2 a 8, correspondendo a um número maior ou menor de defeitos encontrados em uma amostra de 300g de café beneficiado e obedecem à tabela oficial de Classificação apresentada a seguir:

Fonte: LaZZarini, W. e moraes, f r P. Influência dos grãos deteriorados (“tipo”) sobre a qualidade da “bebida” de café. Campinas: Bragantia, 1958, n.7. obs.: o café tipo 8, o mais baixo exportável, tem cerca de 20% de seu peso em defeitos.

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Incumbe ao Governo adotar providências enérgicas no sen tido de criar condições mínimas capazes, não apenas de im pedir a evasão dos capitais do Estado, como também visan do a atrair, estimular e radicar novos investimentos, de tal forma que se faça registrar uma elevação no índice percen tual de sua contribuição para a formação da renda total do Estado. Já no que concerne à produção agrícola, o proble ma se nos apresenta bastante diverso, vez que a sua parti cipação na renda total excede a 50%. Entretanto, no cote jo das atividades que contribuem para a constituição desse percentual, se evidencia o predomínio do café, que consig na uma parcela de mais de 65%. Se esta primazia nos tem proporcionado alguma euforia econômico-financeira, por outro lado as crises periódicas por que passa a cafeicultura brasileira determinam, no Espírito Santo, reflexos mais in tensos que em outro qualquer Estado produtor da rubiácea. Essas oscilações do café são uma constante de apreensões e dívidas; só a diversificação das culturas nos conduzirá ao desenvolvimento agrícola, libertando-nos definitivamente das inconvenientes algemas da monocultura. 9

Foi nesse cenário desfavorável que o conilon, planta até então sem apro veitamento e até considerada venenosa, se tornaria em pouco tempo a al ternativa econômica ao colapso provocado pelo declínio das lavouras de arábica. 10 Graças à determinação de alguns produtores do norte capixaba, cientes das consequências nefastas que a erradicação havia provocado, se iniciou o plantio comercial do conilon e a sua divulgação.

Tipos de Café

Tabela oficial de Classificação do café

de gosto suave, aromático, redondo e achocolatado, o único que pode ser vendido puro, sem mistura (blend), e a Coffea canephora, variedade robusta, que produz o café conilon, mais resistente às pragas e às estáasamargo.adstringentepossuindointempéries,saboreadiferençaentreduasespéciesnonúmero

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a planta do café foi originalmente classificada como pertencente à família dos evônimos (do latim evonymos), arbusto com propriedades medicinais, também cultivado como ornamental. em seguida, mereceu a classificação de jasmim (do árabe yasmin), designação das várias espécies do gênero Jasminum arabicum laurifolia, da família das oleáceas. mas entrou definitivamente nos compêndios de botânica pelas

mãos do naturalista Carolus Linnaeus, no seu Systema Naturae, publicado em 1735. 12 o fruto origina-se de um arbusto da família das rubiaceae, que se desenvolve em regiões tropicais ou subtropicais, e está presente na natureza em mais de 100 espécies, tendo sido batizado com o nome genérico de Coffea pelo naturalista antoineLaurent Jussieu. Produz flores com aroma de jasmim e frutos conhecidos como

embora sobrevivessem algumas lavouras isoladas de plantio, a receita gerada não era suficiente para a arrecadação do município, o que favoreceu a expan são da pecuária, com pouco valor comercial à época. Com a persistência da cri se, a arrecadação do município caiu de maneira desastrosa. Nesse quadro pes simista, entretanto, destacaram-se personagens visionários como Dario Mar tinelli, Eduardo Glazar, Arcanjo Lorenzoni e Moisés Colombi, além dos técni cos da ACARES Ailton Vargas de Souza e Elias dos Anjos, entre outros. Sobre o período, registrou Glazar em suas memórias:

Coffea canephora - Sobre a espécie

existem pelo menos 25 espécies importantes, originárias da África e de algumas ilhas do oceano Índico. Para consumo comercial, há duas espécies importantes: a Coffea arabica, que fornece o café arábica,

cerejas. dentro de cada cereja, protegidos por dois invólucros – uma polpa e um pergaminho –, estão dois grãos de café. os pés de café atingem de 2 a 2,5 metros, podendo chegar a 10 metros de altura.

Iniciava-se então, em torno de 1971, os plantios comerciais de conilon que, em pouco tempo, apesar de toda resistência, até mesmo oficial ao seu cultivo, começaram a ocupar os espaços deixados pelo arábica, trazendo esperança a um interior desolado.

No decorrer de quatro anos vimos que o conilon levava grande van tagem sobre o arábica, pois iniciava a produção com idade menor, alcançava maior produção por pé e por área, chegando a 40%, além de ser resistente à ferrugem. Porém, em virtude de ser desconhecido, não encontrava mercado. Como nossa produção era muito pequena, misturávamos uma pequena proporção ao arábica, para vendê-lo. A política do Governo de substituição das lavouras de café por pas to e/ou mamona foi um grande desastre. Essa situação terrível tor nou quase impossível a sobrevivência da maioria dos agricultores. 11

designada por robusta. esta variedade consiste geralmente em pequenos órgãos (folhas, frutos, flores e cerejas), conhecidos por vezes como Conilon, Koulliou ou Quillou. nas regiões baixas tropicais da África, onde a espécie se originou, desenvolveu ao longo dos séculos resistência a muitas pragas e doenças. Como consequência, as árvores de robusta são mais resistentes, especialmente a ferrugem (Hemileia vastatrix).

Uma considerável indenização por cova erradicada viabilizou tal política que, se permitiu uma injeção de recursos na economia em aplicações mais di versificadas, gerou igualmente grave crise social, com redução da renda e do emprego, além do consequente êxodo para as cidades. A erradicação veio “li bertar ou desmobilizar os ativos representados pelos cafeeiros, que assumi ram forma líquida, mediante a indenização financeira do GERCA”. 14 Por isso, a adesão dos cafeicultores à erradicação não foi um processo difícil, porquan to a indenização concedida afigurava-se bem mais rentável do que o prosse guimento da lavoura. O que se verificou foi verdadeira corrida dos cafeiculto res para a erradicação, pois a receita daí advinda mostrava-se superior ao ren dimento da colheita por área erradicada.

A política agrícola que se iniciou na década de 1960 e teve como base o crédito rural, atingiu principalmente a cafeicultura. Com o desestimulo à pro dução de café considerado inferior 15, o valor da saca no Espírito Santo, entre

entre 23oC e 26oC. a espécie robusta, de características rústicas, conforme sugere o próprio nome, tem maior produtividade.o

No início da década de 1960 foi criado o Grupo Executivo de Recuperação Eco nômica da Cafeicultura – GERCA. Era tempo de se inovar o plantio, obedecen do a métodos racionais. O Plano diretor do GERCA, de 1962, tinha as seguintes diretrizes básicas: (i) a promoção da erradicação dos cafezais antieconômicos; (ii) a diversificação das áreas erradicadas com outras culturas e, (iii) a renova ção de parcela dos cafezais.

essa característica foi essencial para iniciar o seu plantio comercial no mundo no início do século passado.

Coffea canephora tem ampla distribuição geográfica e é encontrado na África meridional, em países como o Congo, sudão e Uganda, bem como na parte nordeste da tanzânia e angola. aproximadamente 38% do café comercializado vêm da espécie, normalmente

o café conilon é cultivado geralmente em altitudes inferiores a 500 metros acima do nível do mar, geralmente, seu teor de cafeína é maior do que 2%. investigações recentes demonstraram que a espécie robusta é uma das mais antigas, tendo origem estimada há mais de cinco milhões de anos. 13

Por d E baixo do S P ano S 23 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

de genes. a Coffea arabica é mais complexa, contém 44 cromossomos, dois a menos que a espécie humana. só pode fazer cruzamentos com ela mesma, o que evita casamentos negativos. necessita de grandes altitudes e exige clima ameno, com temperatura média entre 15oC e 22oC. a Coffea canephora (ou robusta), com 22 cromossomos, como as outras plantas, aceita temperaturas médias

24 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

1960 e 1961, caiu cerca de 50% em termos reais. O primeiro programa de er radicação esvaziou o esforço inicial que o Estado, com seus parcos recursos, direcionava para a renovação da cafeicultura. O segundo programa, com bo nificação bem mais atraente, erradicou 45% da área capixaba plantada, redu zindo 22% da safra e levando ao desemprego, ao subemprego ou à emigração

Em 1963, a Associação de Crédito e Assistência Rural do Espírito Santo – ACA RES – elaborou o primeiro Zoneamento Agrícola para o Estado do Espírito San to, com o objetivo de se definir o que era mais adequado produzir em cada região, além de mapear onde se encontravam os cultivos. A partir desse momento, o Cré dito Rural Orientado passou a ser aplicado unicamente em explorações que es tivessem de acordo com o Zoneamento Agrícola, ou seja, com altitudes superio res a 400m, considerada Zona de Café Fino. Por outro lado, deu-se início à mo dernização e racionalização da cafeicultura estadual com a introdução de novas variedades de café, técnicas de plantio correto, controle de erosão e adubação. 16 É bem verdade que as lideranças capixabas se empenharam em mobilizar recur sos para um programa compensatório de renovação da cafeicultura, por meio do Decreto-lei 880 que criou o Fundo de Recuperação Econômica do Espírito San to. Contudo, prestes a obter êxito, sobreveio à ferrugem nas lavouras e o Espíri to Santo acabou incluído dentro de um cordão de isolamento fitossanitário. 17

O ano de 1965 marca o início de nova tentativa de dinamizar a cafeicultura brasileira, com a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural – SNCR, cujo objetivo consistia em modernizar a agricultura por meio do acesso em larga escala de insumos agrícolas de ponta, tais como adubos, herbicidas, máqui nas e tratores. No início da década de 1970, com o Plano de Emergência e o Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais, a diretriz básica do plane jamento da cafeicultura brasileira passou a ser a expansão do plantio em áreas ecologicamente favoráveis, seguindo rigorosa orientação técnica que visava obter melhores níveis de produtividade. Essa diretriz, executada mediante o fornecimento de crédito com taxas de juros subsidiados e prazos dilatados de amortização, visava o plantio, a formação de mudas, a recepagem, a criação de infraestrutura, bem como a compra de fertilizantes, defensivos e equipa mentos agrícolas. Apesar disso, boa parte do território capixaba, em virtude das condições geográficas específicas, vivenciou processo inverso: milhares

Primeiro

Zoneamentoagrícoladoespíritosanto:1963 25 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

No norte capixaba, em meio a crise, o então prefeito de São Gabriel da Palha, Dario Martinelli, e os produtores locais decidiram enfrentar o precon ceito, apostando numa nova espécie de café, o conilon, mais resistente e in dicada para regiões baixas e quentes. As autoridades municipais resolveram se organizar para traçarem alternativas. As sim, foram analisados os solos e o clima da região, ficando constatado ser a cafeicul tura do conilon a mais favorável ao muni cípio. Havia ainda outra esperança, pois a nova variedade poderia ser absorvida pela nascente indústria de café solúvel implan tada no Estado.

de lavouras de café arábica foram extirpadas. Conforme assinalou um espe cialista: “por medidas unilaterais do governo federal, 53 % do parque cafeei ro do Estado foi erradicado”. 18

Revista Espírito Santo Agora –outubro/1972

26 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

A erradicação revelou-se período brutal para a economia agrícola ligada ao café. O objetivo principal da eliminação das lavouras consistia em evitar a superprodução, impossibilitando que o produto chegasse em grande quan tidade ao mercado e, por consequência, perdesse valor econômico. No caso capixaba, havia outro agravante: a má qualidade do café produzido. De fato, os solos com lavouras cafeeiras começavam a apresentar sinais de exaustão, agravados com o surgimento da ferrugem, doença até então inexistente em território brasileiro. Nesse contexto caótico, que se sobrepôs à erradicação das lavouras, os produtores capixabas ficaram sem alternativas: o êxodo ru ral tornou-se a única solução para milhares de famílias.

Pensamos em persuadir os produtores a experimentar o conilon, mas não era fácil convencê-los já que o governo mandou erradicar café e a gente sugeria plantar. A prefeitura montou na propriedade de Moisés Colombi o primeiro viveiro com 60 mil mudas e tínhamos que distribuir, mas quem aceitava?

comprou a ideia e foi o pedido do governo do estado do espírito santo ao governo militar que viabilizou o financiamento para o café que tanto precisávamos. a cafeicultura foi, até o final do governo Camata, o grande sustentáculo econômico capixaba, por isso foi essencial conseguir financiamento para o conilon.

27 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

Dario Martinelli

meu pai nasceu em santa teresa e sempre trabalhou com café. em 1951, ele veio com a família de são roque do Canaã para essa região, falava-se norte do espírito santo, não era nem são Gabriel ainda. Quando me formei em odontologia no final de 1955, meu pai exigiu que eu viesse ajudar na propriedade. aqui me casei, constituí minha família. vim para cá e não tenho nenhum arrependimento, porque acredito que nada acontece por acaso. em 1963 são Gabriel da Palha emancipou-se e já em 1966 eu ingressei na vida pública. foram anos difíceis para quem produzia café. imagine que eu fui eleito prefeito, em 1970, no auge da crise e assumi a prefeitura quase sem receita. Lembro que um dia eu e Batista Colombi, que era o vice-prefeito na época, saímos pela manhã andando, para conhecer de perto a realidade do município, pensar em alternativas e quando chegamos ao posto de gasolina encontramos 16 famílias indo embora para o Paraná porque lá ainda se cultivava café... era o que se sabia fazer... então resolvemos ver as lavouras de café do José Colombi que eram de conilon e elas não tinham perdido folha nenhuma, estavam bonitas... e as pessoas indo embora para plantar café em outro lugar... Pensamos em persuadir os produtores a experimentar o conilon, mas não era fácil convencê-los já que o governo mandou erradicar café e a gente sugeria plantar. foi quando saiu uma notinha no jornal dizendo que o grupo tristão ia implantar a realcafé solúvel. era nossa oportunidade. eu e eduardo Glazar fomos conversar com Jones tristão e ele disse que a partir de 1971 a fábrica iria começar a funcionar e se não tivesse café no espírito santo ele importaria da África. aí eu disse: não, nós vamos produzir! a prefeitura montou na propriedade de moisés Colombi o primeiro viveiro com 60 mil mudas e tínhamos que distribuir, mas quem aceitava? no município todo, somando são Gabriel, valério, Águia Branca e fartura, que eram os quatro distritos, nós conseguimos 22 produtores que aceitaram o desafio. no início, não tínhamos nenhum apoio da administração federal, mas o governador artur Gerhardt

dEP oi ME nto

Primeira lavoura técnica montada em 1971, em são Gabriel da Palha

28 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

Apesar do descaso do Governo Federal em relação ao conilon, a nova es pécie foi granjeando espaço e adeptos. Na verdade, a introdução comercial do café conilon, por assim dizer, veio por debaixo dos panos, pois não havia nenhum tipo de incentivo do Governo, nem qualquer interesse na varieda de, até então ridicularizada pelos tradicionais produtores de arábica. A sua expansão, no entanto, foi tão satisfatória entre os gabrielenses, que a varie dade aportou rapidamente nos municípios vizinhos, entre eles Pancas, Boa Esperança, Nova Venécia e Barra de São Francisco.

Curso de Cooperativismo realizado pelo bispado de são mateus, para os primeiros associados da Cooabriel, em 1966, quase três anos após a fundação da cooperativa

Dentre as inúmeras variedades do robusta, a ‘kouilou’ foi denominada no Brasil de conilon. A gestão de Martinelli se encarregou de ajudar difundir o conilon pelo Espírito Santo: despolpando e enviando quarenta quilos de se mentes para cada município do Estado fora das regiões montanhosas. 19 Nes sa época, foi montado o primeiro viveiro de mudas de café conilon em São Gabriel da Palha, sendo o primeiro do Brasil.

A partir daí as autoridades locais, em parceria com religiosos da região, como o Padre Simão Civalero e técnicos da ACARES, promoveram uma cam panha de conscientização entre os produtores, incentivando o plantio do co nilon. A Prefeitura chegou a doar mudas de café para aqueles que desejassem plantar em curvas de nível, sendo orientados pelos técnicos.

dEP oi ME nto José Colombi

29 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

...trabalhei como técnico da Acares na erradicação do arábica e na diversificação das lavouras. Vi e participei, tanto arrancando pés como medindo para outros arrancarem. Foi um período muito difícil para a agricultura. Então outros produtores aqui do norte começaram a utilizar suas terras arrasadas para experimentar plantar o conilon.

eu vivo com minha família na propriedade que herdei de meu pai e que ele havia herdado de meu avô. ela já está em nossa família há 92 anos, foi construída com café arábica. mas desde 1950, meu irmão, João, que conheceu o conilon na propriedade do ernesto Caetano, decidiu plantar metade conilon e metade Bourbon. foi assim que eu, ainda um menino, e meu irmão, moisés, seguimos pelo mesmo caminho, e começamos também a produzir café, metade arábica e metade conilon. Uma década depois veio a crise do café. eu tinha na época 21 anos e trabalhei como técnico da aCares na erradicação do arábica e na diversificação das lavouras. vi e participei, tanto arrancando pés como medindo para outros arrancarem. foi um período muito difícil para a agricultura. então outros produtores aqui do norte começaram a utilizar suas terras arrasadas para experimentar plantar o conilon. em 1969, eu plantei uma lavoura que existe até hoje, aqui perto da cidade, que deu origem às sementes que foram distribuídas pelo dr. dario martinelli. a prefeitura deu apoio, nos colocou no caminho, distribuiu mudas na época, incentivou... trabalhávamos juntos, produtor, representantes locais e comprador de café, que nessa época era o dr. eduardo Glazar, nosso grande comprador antes da CooaBrieL. e, nós fomos plantando... e descobrimos com o tempo que realmente foi uma boa coisa que nós fizemos. a minha vida foi pautada no café conilon, é nele que eu encontro respaldo para poder seguir. É um produto que dá condições para a gente trabalhar e viver, é um produto de fácil manejo e sabendo produzir, vivese bem. tudo o que consegui é baseado em café, minha família, minha casa, o estudo das minhas filhas, enfim, foi tudo construído a partir do café conilon.

O plantio do café arábica obedeceu ao programa de recuperação da nossa economia cafeeira, para suprir a crise deixada pela erradica ção indiscriminada. Começou em 1970/71, com o plantio de um mi lhão e trezentas mil novas mudas selecionadas. Já no ano seguinte, plantamos mais de oito milhões de mudas e, este ano, atingimos de zesseis milhões de mudas de café arábica e vinte milhões de mudas de café robusta. Com este programa, esperamos produzir em 1977 mais de dois milhões de sacas de café, produção que chegamos a atingir nos melhores tempos. Releva notar que iremos produzir o mesmo que produzíamos anteriormente, utilizando menos de um quarto da área plantada antes de 1950. Isto equivale a afirmar que estamos aumentando a produtividade média do café capixaba, por hectare/ano, de quatro para 16 sacas. Já podemos registrar produ ções em algumas regiões do Estado onde esta produtividade atin giu 20 a 30 sacas por hectare/ano, o que se pode considerar ver dadeira façanha. Isto tem sido possível porque o nosso agricultor se conscientizou da importância das técnicas e das instruções que lhes têm sido ministradas pelos técnicos do IBC (Instituto Brasilei ro do Café), da ACARES (Associação de Crédito e Assistência Ru ral do Espírito Santo) e do Governo do Estado [grifos nossos].20

30 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

Percebendo o crescente interesse pela nova cultura no Espírito Santo, o Go verno Federal instituiu técnicos do Instituto Brasileiro do Café (IBC) para pes quisarem o desenvolvimento dos plantios em São Gabriel da Palha. A proprie dade do entusiasta da nova espécie, Eduardo Glazar, na Cachoeira da Cobra, tornou-se lavoura experimental. Demonstrada a qualidade do conilon capixa ba, em 1976, abriam-se as primeiras linhas de financiamento para o seu plantio. Comentando sobre o período, o governador Arthur Gerhardt (1971-1975) afirma:

Revista Espírito Santo agora –abril/maio 1974

Aos poucos, o Espírito Santo ia superan do a crise, que resultou na erradicação de 220 milhões de pés de café no período entre 1966 e 1968, o que implicou no deslocamento de cerca de 30 mil famílias, ou seja, 180 mil pessoas que acabaram por emigrar para outros Estados ou se marginalizaram como subempregados no meio rural e nos centros urbanos. 21

Mas o passo definitivo para a consolidação das lavouras de conilon viria com a instalação de uma fábrica de café solúvel, a Realcafé, inau gurada em 1971 no município de Viana. A indústria estimulou a voca ção capixaba para o cultivo do conilon, matéria-prima essencial para a industrialização de café solúvel. Assegurando a compra da produção, a empresa contribuiu para desfazer a resistência dos produtores. De fato, essa iniciativa das Empresas Tristão movimentou a vida cafeeira capi xaba e foi um divisor de águas na recuperação da economia do Estado.

1970/71 19711964/651965 1972/73 19731963/641964 1971/72 19721965/661966 1973/74

1967/681968

1969/701970

revista espírito santo agora,

A cafeicultura –sustentáculo maior da riqueza do Estado – após tantos revezes decorrentes de fatores os mais diversos, vai encontrando o caminho certo do seu desenvolvimento na prática de técnicas modernas de plantio e cultura, destacandose, ultimamente, o interesse pela formação de cafezais da variedade conilon. É uma tentativa que o senso de adaptação do homem do campo ensaiou com sucesso e a que a Secretaria da Agricultura vem dando todo o amparo a seu alcance.

Sede da realcafé em viana, 1971

Artur Gerhardt, Governador do Estado, 1974.

1968/691969

1962/631963 1966/671967

1.269.2262.404.763sasasafraanoCasCasdeExportaçãodeProduçãocafécafé 1.576.5861.004.150 1.445.6391.671.902 873.2411.873.8781.938.6101.488.248544.9451.195.8011.038.728668.365929.749750.000800.000533.984591.3571.479.6001.245.0791.250.4081.698.165

Fonte: 1974, p.

31 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

O

Conilon capixaba ganha o mundo

Jônice Tristão

34 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

minha história com o conilon se inicia por volta de 1968, quando o GerCa lançou a ideia de expandir a indústria de solúvel no Brasil. naquela época, havia uma fábrica em são Paulo e uma em Petrópolis. Comecei a estudar a possibilidade de entrar na indústria do café solúvel, aceitar o desafio, então visitei a África e vi regiões mais áridas que o norte do espírito santo produzindo robusta. este era o produto que estávamos começando a cultivar aqui e foi ele que salvou o que a erradicação fez com o espírito santo. acreditando nisso, procurei arthur Gerhardt, que estava à frente do Bandes. nós éramos muito amigos e decidimos lutar juntos para conseguir, para o espirito santo, pelo menos uma indústria. e nessa luta, qual foi nossa grande arma? o espírito santo era o único estado do Brasil que produzia café conilon, que era comprovadamente a melhor matéria-prima para o café solúvel. tivemos na época um apoio muito grande do governador Christiano dias Lopes, que também apostou na ideia, até que em 1969 foi aprovada para o espírito santo uma indústria de solúvel. foi quando o martineli e o Glazar me procuraram, eu disse a eles: “vamos plantar conilon, vamos plantar conilon” porque ainda se produzia pouco e a nossa indústria foi projetada para 100 mil sacas. e eu dizia “quero produzir 200, 300 mil.” Hoje nossa produção é de 400 mil sacas. dário então perguntou: “se a gente plantar agora, vamos ter comprador para o café?” e eu respondi “Pode plantar que eu garanto, eu vou pagar o preço da bolsa de Londres e fique tranquilo que não vou explorar ninguém”. aliás, tenho que destacar o importante papel de martinelli e de Glazar para a produção de conilon. eles foram fundamentais, levantaram a bandeira e abriram o caminho. todos nós fomos desbravadores, numa época difícil. foi preciso um conjunto de ações, não foi uma pessoa sozinha, mas um grupo de pessoas que viram a oportunidade e aproveitaram. então, aos poucos, fomos convencendo o governo brasileiro que o conilon era a grande alternativa para o nosso espírito santo.

O Espírito Santo era o único Estado do Brasil que produzia café conilon, que era comprovadamente a melhor matéria-prima para o café solúvel. Todos nós fomos desbravadores, numa época difícil. Foi preciso um conjunto de ações, não foi uma pessoa sozinha, mas um grupo de pessoas que viram a oportunidade e aproveitaram.

dEP oi ME nto

35 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

Posteriormente, passou a prestar serviços de comercialização e beneficiamento.

a Cooperativa agrária de Cafeicultores de são Gabriel – CooaBrieL – é a maior Cooperativa de Café Conilon do mundo e tem quase meio século de atuação. a sua história começou graças à iniciativa do Padre simão Civalero, pároco local que, juntamente com a comunidade católica, ainda na década de 1950, procurou sensibilizar os agricultores, por meio de reuniões e cursos de cooperativismo, da necessidade de buscar alternativas às dificuldades, sobretudo dos cafeicultores, que na época já detinham um grande parque cafeeiro da variedade arábica na região. no dia 13 de setembro de 1963, quatro meses após a emancipação do município de são Gabriel da Palha, 38 cafeicultores fundaram a CooaBrieL, no antigo Cine estrela. Como mentor da cooperativa, o Padre simão Civalero foi eleito o primeiro presidente (1963-1965) da entidade. em sua ação inicial, a Cooperativa inaugurou um setor de consumo (mercearia/ supermercado) para acolher os seus associados em suas necessidades mais imediatas.

Com o passar do tempo, a cooperativa aparelhou-se para dar suporte à atividade cafeeira como um todo. além dos serviços de armazenagem e comercialização – os principais da atividade, agregou outros benefícios para atender aos cooperativados, que hoje passam de quatro mil. a estrutura atual da entidade permite acompanhar os sócios na escolha da área para implantação da lavoura, oferecendo laboratório próprio para análises de solo e plantas, produzindo e provendo mudas de alto padrão genético. além disso, contribui para o melhoramento da qualidade do café, fornecendo orientação de manejo, produção, secagem e colheita, bem como empréstimo de sacaria e frete da lavoura até a cooperativa. soma-se a isso a armazenagem padronizada por tempo indeterminado sem perda de peso, a comercialização de acordo com a necessidade do associado e, por fim, assistência jurídica. em conjunto, os serviços listados contribuem para maior produtividade e qualidade mais apurada do produto, o que agrega valor, reforçando a lucratividade das lavouras.

COOABRIEL

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Cooabriel no Tempo: o primeiro presidente, Pe.Simão Civaleiro; a primeira sede; carregamentode conilon pronto para ser comercializado.

dEP oi ME nto

...trabalhei como técnico da Acares na erradicação do arábica e na diversificação das lavouras. Vi e participei, tanto arrancando pés como medindo para outros arrancarem. Foi um período muito difícil para a agricultura. Então outros produtores aqui do norte começaram a utilizar suas terras arrasadas para experimentar plantar o conilon.

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ao longo desse meio século de vida, construímos com o incaper a melhor relação possível, nos tornamos a menina dos olhos do governo do estado enquanto cooperativa de café conilon.

Antônio Joaquimde Souza Neto

a cada dia cresce nosso compromisso com a qualidade dos grãos que são produzidos por nossos sócios, porque a cultura mudou e a própria indústria sabe disso, as pessoas querem cada vez mais tomar um café de qualidade superior.

O grão que veio para ficar

2

Crescimento

Nas décadas de 1980 e 1990, a cafeicultura do conilon viveu um período de glória, com excelentes preços e grande produção (1985/87), seguido, contu do, por uma fase de decadência quando da reversão dos preços para patama res muito baixos (1987/93). A fim de entender esse cenário, é importante lem brar que, entre 1970 e 1974, o IBC-GERCA concedia financiamento apenas para o plantio de café arábica, o tipo tradicionalmente cultivado no Brasil e no Espí

oS ca M inho S do d ESE nvolvi ME nto

A cafeicultura é hoje a principal atividade agrícola do Espírito Santo e o cul tivo de café conilon se constitui na mais importante atividade econômica e so cial do setor. Esta variedade se encontra em cerca de 40 mil propriedades agrí colas que, embora mais concentradas na região norte do Estado, distribuem-se até a divisa com o Rio de Janeiro. A lavoura cobre 64 dos 78 municípios capixa basnuma área de aproximadamente 305 mil hectares que, em sua quase tota lidade, é gerida em regime de economia familiar, envolvendo inclusive um sis tema de parceria com famílias de meeiros bastante peculiar ao Espírito Santo.23

O Espírito Santo se destaca como grande produtor brasileiro. A safra de café no Estado bateu recorde em 2011 e, para 2012, a colheita prevista será su perior em 14,1% a do ano anterior. Em se tratando do conilon, cultivado comer cialmente em terras capixabas a partir de 1972, o Espírito Santo se consolidou como maior produtor brasileiro. Nesse período, a sua produção passou de 400 mil sacas, naquele ano, para quase 10 milhões de sacas em 2012.

O40 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

mercAdo mundiAl de cAfé movimenta por ano cerca de 12 trilhões de dólares. O grão é commodity importante para diversos países da América, Áfri ca e Ásia, sendo o principal produto de exportação para muitos deles. O Brasil, maior produtor, responde por cerca de 37% do comércio internacional de café, resultando daí grande valor social, pois 20 milhões de pessoas estão envolvi das em sua cadeia produtiva no país, a qual cobre o cultivo, o processamento pós-colheita, o transporte e a comercialização. 22

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rito Santo. Mas, a partir de 1976, o instituto passou a financiar também o plan tio do café conilon (Robusta), tipo africano, cuja cultura se expandiu acelera damente, tendo assumido papel de destaque na cafeicultura capixaba duran te a década de 1980.24

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O crédito concedido pelo GERCA, aliado aos altos preços do café, possibili tou a expansão do plantio, uma vez que os cafeicultores passaram a experimen tar grande estímulo para esse empreendimento. Dessa forma, de 1975 a 1980, a capacidade produtiva da cafeicultura capixaba aumentou em 80%.

Jair Coser

O Espírito Santo depende muito do café, porque temos uma topografia muito diversa, não temos condições de agricultura mecanizada rentável como milho e a soja, por isso o café é a nossa salvação, nossa alegria.

agrícola que mais utiliza mão de obra no Brasil, cerca de oito milhões de pessoas vivem diretamente do trabalho com café, é o que mais fixa o homem ao campo e distribui renda. no espírito santo não é diferente, então, eu diria que o café para o espírito santo é a nossa grande felicidade, é o nosso futuro.

dEP oi ME nto

43 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

em Julho de 1975, a política cafeeira brasileira mudaria totalmente. o Brasil sofreu a pior geada do século, que ficou conhecida com geada negra. era 18 de julho, uma sexta-feira, e a cafeicultura que estava concentrada em são Paulo e Paraná foi devastada. então, o Brasil quase não teve produção de café para vender e como resposta, em 1976, veio o plano de recuperação da cafeicultura. agora, em vez de pagar para erradicar, se pagava para plantar. nessa época eu estava no iBC e o dario martinelli também. então começamos a planejar a recuperação da lavoura capixaba. nossa ideia era deslocar a produção brasileira de café para regiões mais ao norte, que não corressem riscos de geadas como são Paulo e Paraná. e mais, que as terras férteis do Paraná se dedicassem a produzir alimentos. o plano envolvia rio de Janeiro, Bahia e espírito santo. mas a política de financiamento ainda era só para o café arábica. sendo assim, nosso estado estava alijado. foi quando tivemos a feliz ideia de mostrar ao iBC que o espírito santo estava completamente fora daquele plano que era espetacular, mas que para nós era um desastre. e convidamos toda a diretoria do iBC para vir ao espírito santo. na ocasião, fizemos duas grandes concentrações, uma em Colatina e uma em afonso Cláudio. e nessa viagem para o interior o iBC viu a pobreza do nosso estado, não havia nada. e ficaram tão penalizados a ponto de aqui mesmo fazerem uma resolução liberando o financiamento de conilon apenas para o espírito santo, nas mesmas condições do arábica. isso foi muito importante, nossas terras são adequadas para o plantio do conilon, tanto que hoje somos o maior produtor do Brasil de café conilon.

Por isso, acredito que estamos no caminho certo, nosso estado só merece parabéns pela visão que teve ainda em 1970, em são Gabriel da Palha, e em 1976, quando o iBC nos ajudou com o financiamento. o espírito santo depende muito do café, porque temos uma topografia muito diversa, não temos condições de agricultura mecanizada rentável como milho e a soja, por isso o café é a nossa salvação, nossa alegria. o café é a atividade

Após o fim do IBC, em 1986, quem assume a pesquisa pública sobre a cul tura do café no Espírito Santo é a Empresa Capixaba de Pesquisa Agropecuária – EMCAPA, que passou a levar em consideração as especificidades locais para o desenvolvimento de novas tecnologias. Nascia assim um trabalho de articu lação de diversas instituições para o avanço da cafeicultura no Espírito Santo.

No decorrer da década de 1980, todavia, a expansão da cafeicultura não foi grande, acompanhando o nível de preços, que se manteve rebaixado. Ainda as sim, o número de cafeeiros aumentou em 50%. A expansão realizou-se tanto nas pequenas propriedades rurais, com trabalho familiar ou sistemas de parce ria, quanto nas empresas rurais capitalistas, com trabalho assalariado e produ ção em grande escala. Em ambos os casos, a “nova cafeicultura” passou a utili zar os mais modernos insumos e técnicas de produção no cultivo e beneficia mento do produto. Isso resultou em maiores produtividade e qualidade do café.

Nesse período, foram conduzidos os primeiros experimentos para a pro dução de mudas de café por meio de clonagem. O engenheiro agrônomo Wan derlino Bastos trouxe para o café a tecnologia usada na clonagem de mudas de eucalipto. A partir de 1985, os pesquisadores da EMCAPA deram continuida de aos experimentos e as pesquisas científicas registraram enorme salto com o desenvolvimento de variedades mais produtivas e resistentes.

44 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

Essas ações voltadas à cadeia produtiva do café ganhou força, qualifican do cada vez mais os cafeicultores e os agentes institucionais no apoio ao pro cesso de transferência de tecnologia, na organização de eventos ou na cons trução de um ambiente de cooperação entre instituições. Cada ente que com põe esse arranjo tem importância no desenvolvimento da cadeia produtiva do café e, por isso, tais parcerias precisam ser continuamente estimuladas, forta lecidas e permanentemente valorizadas.

45 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

O arranjo institucional voltado para o desenvolvimento da cafeicultura do conilon se ampliou e se diversificou. Formou-se uma rede institucional visan do o desenvolvimento de tecnologias e o seu acesso ao produtor. Essa base ins titucional permitiu a construção de um novo enfoque à política de desenvolvi mento da cafeicultura no Estado, estabelecendo novas relações entre o setor público e o privado e redirecionando o primeiro no sentido da geração de um ambiente propício ao desenvolvimento rural. Dentre os parceiros agregados ao processo destaca-se o Centro de Desenvolvimento Tecnológico do Café - CET CAF, entidade não governamental fundada em 1995, que procura atuar como elo entre diversos setores do agronegócio café, congregando esforços, inicia tivas e atividades dentro dessa nova dinâmica de solidariedade institucional.

Esse processo se intensifica a partir da década de 1990, quando do lança mento das primeiras variedades clonais. Foram instalados então jardins clo nais em parceria com as Prefeituras Municipais, viveiristas e cooperativas, o que acelerou o processo de transferência de tecnologias.

O maior pé de café conilon do Brasil produz 40 quilos do grão e possui 8 metros. e le fica no espírito s anto, no município de Laranja da terra, há 180 km de v itória. o café gigante foi plantado há 43 anos e é atração na propriedade do s r. n orberto Kepp.

O conilon foi um grande passo para o Espírito Santo, que começou com uma sementinha despretensiosa. A erradicação, que pareceu um desastre no início, acabou se revelando um salto para uma tecnologia fina, certa, que já dava os primeiros passos nesse período com os experimentos para a produção de mudas de café por meio de clonagem, uma tecnologia usada nas mudas de eucalipto.

dEP oi ME nto

Gerson Camata

fiquei quase todo o meu mandato lutando pelo café, especialmente o conilon, por preço, por financiamento, por melhores condições. o conilon foi um grande passo para o espírito santo, que começou com uma sementinha despretensiosa. na década de 1980, o estado tornou-se o maior produtor nacional de conilon. Buscamos então linhas de financiamento voltadas para a modernização da nossa cafeicultura, que precisou avançar muito para alcançar o alto padrão de qualidade que tem hoje. mas tínhamos a preocupação de fortalecer a produção e incentivar o mercado, tanto que, na década de 1980, realizamos o primeiro congresso mundial de café robusta, como é conhecido lá fora. trouxemos representantes da indonésia, de Gana, da Costa do marfim, de angola e moçambique, foi um passo inicial para divulgar nosso café no mercado internacional, somar forças. imagine o espírito santo hoje sem o conilon? Quem abriu o caminho para o crescimento econômico recente foi o conilon, ele salvou o norte capixaba. a erradicação, que pareceu um desastre no início, acabou se revelando um salto para uma tecnologia fina, certa, que já dava os primeiros passos nesse período com os experimentos para a produção de mudas de café por meio de clonagem, uma tecnologia usada nas mudas de eucalipto. o conilon mudou realmente a história do norte do espírito santo. outro dia eu estava comentando em marilândia que quando o café está bom até o Padre fica alegre. Por isso, é uma homenagem mais que justa falar dos 100 anos do conilon.

48 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

Pode-se, no conjunto dessas políticas, distinguir dois grandes períodos. Durante o primeiro, que se estende até 1990, o café se encontrava sob a tutela do Estado que, por intermédio de uma grande instituição, o IBC, controlava o conjunto da atividade, definindo a aprovação de créditos, a fixação de preços, a gestão de estoques, o apoio à pesquisa etc.

A política desenvolvida pelo Estado durante este período foi guiada por duas preocupações constantes:27

o novo cont E xto do SE tor caf EE iro bra S il E iro a intenção de obter o máximo de receitas de exportação, o que levava o governo a praticar uma política de preços elevados e a diminuir es trategicamente, quando necessário, a quantidade do produto ofertada ao mercado internacional, e o apoio constante dado aos produtores. Isto levou o IBC a comprar, por um preço mínimo, na maior parte do tempo superior ao praticado no mercado internacional, o total da produção dos cafeicultores, qualquer que fosse a qualidade. Tal sistema obrigou o IBC a enfrentar uma ges tão onerosa dos estoques.

49 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

As políticas públicas foram um dos fatores que tiveram papel mais importante no deslocamento das zonas cafeeiras no Espírito Santo. Nem sempre consis tentes, pois marcadas por mudanças importantes, evoluíram de acordo com a conjuntura internacional, segundo as pressões exercidas pelos diversos atores do setor, assim como em função de variados fatores conjunturais, como os re vezes climáticos e a incidência de pragas.

É importante lembrar que desde o início do século XX, devido a pressão dos cafeicultores paulistas, o governo aplicou uma política de intervenção cada vez mais efetiva. Como destacado por estudiosos da economia nacional, foi essa “fu são entre os fazendeiros e o Estado que pode explicar a competitividade do café brasileiro e sua capacidade para responder ao crescimento da demanda mun dial”.25 Depois da Segunda Grande Guerra, o reforço à política de defesa do mer cado privilegiou o rendimento a curto prazo, abrindo espaço para novas crises cafeeiras. O ex-ministro Antônio Delfim Netto já preconizava a implementação de um modelo de equilíbrio do mercado cafeeiro, no qual o Brasil, para consoli dar a sua posição de líder, “teria que melhorar a qualidade e a produtividade.” 26

A partir de 1990, contudo, os produtores enfrentaram preços baixos, reve ses climáticos e custos elevados da produção. Além disso, o Acordo do Institu to do Café, assinado em 1959, que regulava a oferta do produto, foi revertido em 1989, abrindo espaço para a livre concorrência. O impacto foi tamanho que, em 1992, ocorreu o menor preço histórico do café. De fato, com a extinção do IBC, começou o recuo da função reguladora do Estado e o período subsequente se caracterizou pela adoção de uma política de tipo não intervencionista. Inter nacionalmente, a conjuntura que acompanha estes acontecimentos é a da li beralização do mercado. O abandono da política de sustentação dos preços vi ria a reforçar o deslocamento das zonas de produção.30

50 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

O período da modernização da atividade, no contexto de consolidação do complexo agroindustrial brasileiro, foi, sobretudo marcado pela implementa ção de dois programas administrados pelo GERCA pertencente ao IBC. Com objetivos opostos, esses programas tiveram impacto espacial importante.28

Primeiramente, verificou-se a erradicação de dois bilhões de pés de café, realizado em duas fases, 1962-66 e 1967-1973, utilizando recursos federais e ten do por objetivo diminuir a produção de modo a permitir o aumento dos preços mediante a eliminação dos pés mais antigos e menos rentáveis. Esta etapa foi sucedida pelo Programa de Renovação e Revitalização dos Cafezais (o PRRC), lançado no ano agrícola de 1969-1970, buscando a implantação de novos pés de café após mudanças na conjuntura internacional (preços em alta, possibi lidades mais amplas de exportação) e nacional (geadas no Paraná entre 1962 e 1967, seca em São Paulo em 1969).

Na década de 1970, Minas Gerais passou a se destacar na produção de café, enquanto Paraná e São Paulo reduziram suas participações. Em contrapartida, o Espírito Santo, a Bahia e Rondônia apostaram na expansão do cultivo. O uso de tecnologia no plantio, na colheita e no beneficiamento, somado aos aprimo ramentos de caráter científico e tecnológico, permitiram, ao longo dos anos de 1980, o aumento da produtividade brasileira. Durante esse período, as receitas oriundas do café só ficaram aquém daquelas obtidas pelas exportações de pe tróleo. Por isso, a atividade constitui-se em grande negócio no mundo agríco la dos países em desenvolvimento. 29

3 Atecnológicaexpansão Inovação

Assim, a década de 1990 foi marcada pelo lançamento de variedades clo nais de café conilon, como também pelo início das exportações de mamão pa paia para o mercado norte-americano e pela intensificação das atividades não agrícolas no espaço rural, em especial o agroturismo e o artesanato.

A54 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

No que diz respeito ao café, os anos 1980 assistem a ações de ampliação da produção de grãos no país, inclusive em terras capixabas, com a cam panha “É hora de plantar”, por meio da qual a EMCAPA buscou estimular a adoção de tecnologias mais produtivas no Estado mediante o lançamento de uma série de variedades de milho e feijão, também resultado do trabalho de pesquisa. A segunda metade da década, contudo, foi marcada pela crise internacional que derrubou os preços do café, fato esse que serviu de estí mulo ao início das pesquisas visando à superação das dificuldades enfren tadas pela cafeicultura estadual.

De fato, por conta do modesto preço do café no mercado internacional, foi preciso buscar soluções para o enfrentamento das dificuldades dos pro dutores. Em meio a essa conjuntura, o Espírito Santo iniciou as pesquisas oficiais com o café.

frente do processo de inovAção tecnológic A que tornou o conilon capixaba referência internacional na atualidade encontra-se o Ins tituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCA PER) e seus parceiros. Trata-se de instituição de pesquisa que herdou toda a história, trajetória e experiência dos órgãos que a precederam desde a dé cada de 1950. O Instituto foi resultado da incorporação, ocorrida em 1999, da Empresa Capixaba de Pesquisa Agropecuária (EMCAPA) à Empresa de As sistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), gerando a Empresa de Pes quisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (EMCAPER) que, no ano 2000, se autarquizou, passando a se denominar Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER). É importante ressaltar que, à época, a EMATER já tinha incorporado, em 1996, parte da Empresa Espírito-santense de Pecuária (EMESPE), além de ser sucedânea da Asso ciação de Crédito e Assistência Rural do Espírito Santo (ACARES), funda da em novembro de 1956.

Romário Gava Ferrão

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dEP oi ME nto

até a década de 1980, não se conhecia muito sobre o café conilon. Com o impulso do seu cultivo e a extinção do iBC, o Governo do estado, por intermédio da seaG e do inCaPer, assumiu a responsabilidade de coordenar o desenvolvimento da cafeicultura do espírito santo. Para iniciar os trabalhos de pesquisa, começamos o intercâmbio de conhecimento com outras instituições que tinham melhor know-how com o café, como o instituto agronômico de Campinas, a Universidade federal de viçosa, a Universidade federal de Lavras, a empresa de Pesquisa de minas Gerais, o instituto de Pesquisa do Paraná e a embrapa. foi a partir dessas trocas e reforços de interações que começamos a criar a nossa equipe de trabalho, profissionalizar os nossos técnicos e ampliar os conhecimentos sobre o conilon. só em 1985 começamos a elaborar os nossos primeiros projetos de pesquisa nas áreas de melhoramento genético, conservação de solo, nutrição e adubação. Com o tempo, a pesquisa se expandiu, em função das demandas de técnicos e produtores, para as áreas de manejo (poda), bem como para o espaçamento e controle da broca, principal praga do cafeeiro. depois, vieram o manejo de doenças e de outras pragas, juntamente com a biotecnologia. na década de 1990, surgiram novas demandas, com destaque para o manejo da irrigação. as áreas do norte do estado, muito cultivadas com feijão e milho, passaram a ser utilizadas para o plantio de café e frutas com os sistemas de irrigações já existentes das culturas alimentares. então, começou a aparecer a cafeicultura de conilon irrigada, que foi um grande desafio, uma vez que as tecnologias até ali desenvolvidas pela pesquisa científica eram para o café sem irrigação. aí, focamos nossas pesquisas visando uma cafeicultura irrigada. e não parou neste ponto. Hoje, um dos maiores focos é trabalharmos a qualidade do café, no que precisamos ainda evoluir. Um problema importante no campo é a escassez da mão-de-obra que, há algumas décadas, era satisfatória. assim, esse se constitui um dos gargalos para a expansão da produção do conilon. Por isso, um grande esforço de

instituições do setor público e privado vem sendo realizado nas pesquisas científicas em busca de tecnologias para a colheita mecânica do conilon. atualmente, no conilon, estamos trabalhando com 30 projetos de pesquisa e 103 experimentos, nas diferentes áreas do conhecimento, em quatro macros ambientes capixabas nas fazendas experimentais do inCaPer localizadas em marilândia, sooretama, Cachoeiro de itapemirim e venda nova do imigrante. a maioria dos nossos pesquisadores são mestres ou doutores, têm mais de dez anos de experiências com café e trabalham em parcerias nos âmbitos nacionais e internacionais, de forma interinstitucional e interdisciplinar. É importante destacar que nesse tempo de trabalho foram desenvolvidos vários conhecimentos aplicados que têm sido amplamente utilizados pelos cafeicultores

Os produtores de café do Espírito Santo colhem hoje os resultados de mais de uma década de investimento em um amplo programa de pesquisa e desen volvimento. Com melhoramento genético associado a outras tecnologias e as sistência ao produtor, o Estado conseguiu alcançar significativo crescimento da produtividade, revolucionando a sua cafeicultura.

É importante destacar ainda que, juntamente com as tecnologias ligadas ao melhoramento genético, as tecnologias de processos relacionadas ao co nilon vêm contribuindo para o aumento de 150% da produtividade média na última década, colocado o Espírito Santo em posição de destaque nos âmbi tos nacional e internacional. Dentre as tecnologias disponíveis para o conilon destacam-se as variedades, o plantio em linha, o espaçamento e a poda com definição do número de hastes por hectare. Importantes também são as téc nicas de manejo e conservação de solo, a recomendação de calagem, a adu bação e as tecnologias de manejo da irrigação, bem como as associadas à me lhoria da qualidade final do produto (colheita, secagem, beneficiamento e ar mazenamento). Este conjunto procedimentos técnicos permite altas taxas de produtividade e qualidade da produção.

1992 1996 20001994 19981993 1997 20011995 1999 0,9802.4103.390 TCARÁBiCAonilonoTAl 3.720 3.608 2.350 4.970 3.427 5.070 4.486 6.251 7.890 2.825 2.035 1.503 3.283 2.435 3.002 2.694 4.036 5.930 1.573 1.687 2.068 2.215 0,895 0,847 0,992 1.792 1.960produção(sacasde60 kg) Safras de café capixaba (em milhões)

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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012* 9.880 7.260 7.620 8.070 9.009 9.583 10.230 10.114 10.147 11.573 12.502 7.250 5.820 5.500 6.014 6.881 7.567 7.363 7.572 7.355 8.494 9.713 2.630 2.120 2.016 2.792 1.440 2.056 2.867 3.079 2.128 2.542 2.789 Fonte: CetCaf/ConaB - *terceira estimativa ConaB, 2012.

Pri ME ira S vari E dad ES clonai S : o início da ES calada t E cnoló G ica

57 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

Na busca de aprimoramento do conilon, ainda na década de 1990 foi cria do o Programa de Orientação à Poda do Café, a partir de pesquisas realiza das pela EMCAPA. Essa tecnologia, por si só, foi capaz de promover aumen

Até a década de 1990, a baixa produtividade observada na época, em tor no de sete sacas beneficiadas por hectare, juntamente com a má qualidade do café conilon produzido no Espírito Santo, deviam-se principalmente as varia ções dessa espécie. As lavouras formadas a partir de mudas provenientes de se mentes apresentavam plantas muito distintas em relação à arquitetura, matu ração, produção e peneira média. Por outro lado, as mudas obtidas a partir de estacas – mudas clonais – proporcionam lavouras mais uniformes no que se refere às características citadas e, consequentemente, produto de melhor qua lidade. Pesquisas iniciadas em 1986 possibilitaram o lançamento das varieda des clonais EMCAPA 8111, EMCAPA 8121 e EMCAPA 8131, com elevada produ tividade e ciclos de maturação diferenciados.

Viveiro de mudas de café conilon 58 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

tos significativos na produtividade das lavouras, chegando a ganhos de até 53,3%. Uma grande campanha estadual e metodologias diversas permitiram que essa tecnologia alcançasse grande difusão. No mesmo período foi reali zado o 1° Simpósio Estadual do Café, com a finalidade de discutir, avaliar e disseminar os avanços tecnológicos do setor. Estabeleceu-se, pois, um marco oficial de discussão sobre a modernização da atividade, dando ênfase à bus ca de produtividade e qualidade.

Poda P ro G ra M ada d E ciclo do café conilon

A poda do café conilon é recomendada pelo INCAPER desde 1993, tendo sido adotada pela maioria dos produtores capixabas. Por conta da necessidade de pa dronização no trato das plantas, o Instituto aperfeiçoou a tecnologia de poda. Des de 2008 vem sendo recomendada a Poda Programada de Ciclo do Café Conilon, uma tecnologia que revigora a lavoura, aumenta a produção e melhora a qualidade final, além de tornar as plantas mais resistentes à seca e menos sujeitas às pragas.

Conilon capixaba evolução de produção e produtividade do Café robusta no es 2003 20032007 20072005 20052009 20092011 20112004 20042008 20082006 20062010 20102012 2012 pRodução (milhões de sacas) pRoduTividAdE (sacas/hectare) 4,2 14,0 4,5 15,0 6,0 20,1 6,9 24,1 7,5 26,67,4 25,0 7,6 25,87,4 26,3 8,5 30,3 9,7 34,7 Fonte: incaper

O cafeeiro Conilon é uma planta de crescimento contínuo, que possui has tes ou ramos verticais e horizontais que, após determinado número de colhei tas, ficam envelhecidos e pouco produtivos. Por isso a necessidade da poda, que deve ser realizada imediatamente após a colheita. A tecnologia consiste na eli minação das hastes verticais e dos ramos horizontais que vão se tornando im produtivos, promovendo a sua substituição por outros mais novos. Os ramos fracos, os quebrados, os mais velhos e sem vigor, os mal localizados, que difi cultam a entrada de luz no interior da copa das plantas, assim como o excesso de brotações, também devem ser eliminados.

Essa técnica de renovação da lavoura cafeeira aumenta a produtividade em, no mínimo, 20% e reduz pelo menos 32% da mão de obra utilizada no serviço, o que resulta em mais lucro para o cafeicultor.

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r obu S ta t ro P ical: vari E dad E clonal P ro P a G ada P or SEME nt ES

A variedade apresenta elevada produtividade, ampla base genética, rusti cidade e alto vigor vegetativo. Ademais, apresenta potencial de 113,2 sacas be neficiadas por hectare. Além disso, o cultivo do ‘Robusta Tropical’ proporcio na aos cafeicultores garantia de maior estabilidade na produção e proporcio na menor custo na implantação da lavoura devido ao menor preço das mudas (25% do valor da muda clonal) e à maior facilidade de pagamento. 32

Como resultado de 13 anos de pesquisas com café conilon, foi lançada em 1999 uma variedade clonal específica para as condições climáticas do Espírito Santo, a EMCAPA 8141, denominada Robustão Capixaba. Esta foi a primeira variedade clonal de café conilon tolerante à seca desenvolvida no Brasil. Constituída por 10 clones, foi desenvolvida para atender, prioritariamente, aos produtores estabele cidos em áreas com deficiência hídrica e que sem disponibilidade de irrigação. A variedade destaca-se com características agronômicas e fisiológicas superiores como: (i) arquitetura adequada para poda e adensamento; (ii) maturação unifor me dos frutos nos meses de maio e junho; (iii) produtividade média, em condi ções de estresse hídrico, de 54 sacas beneficiadas por hectare, podendo chegar até 112 sacas; (iv) alto vigor vegetativo; (v) baixo desfolhamento; (vi) tolerância às principais doenças, com destaque para a ferrugem, e (vii) tolerância à seca. 31

Priorizando as regiões com deficiências de oferta de mudas das variedades clonais recomendadas, bem como os pequenos e médios produtores que utili zam seus próprios materiais genéticos como matrizes, foi desenvolvida a pri meira variedade melhorada de Conilon por propagação por semente para o Es pírito Santo: a EMCAPER 8151, denominada Robusta Tropical (2000).

v ari E dad E clonal r ES i S t E nt E à SE ca: r obu S tão c a P ixaba

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O café conilon representou, nas últimas safras, cerca de 75% da produção es tadual de café. Constitui a mais importante atividade social e econômica do se tor agrícola do Estado, justificando, portanto, esforços continuados do INCAPER com vistas à evolução no cultivo do produto. Nesse sentido, o programa de me lhoramento genético conduzido pelo Instituto culminou com o lançamento, em 2004, do ‘Conilon Vitória’, variedade clonal formada pelo agrupamento de 13 clo nes superiores, selecionados entre os materiais considerados como “elite” do pro grama de melhoramento. Com relação à produtividade sem irrigação, o ‘Conilon Vitória’ alcançou uma média de 70,4 sacas beneficiadas por hectare, superando em 21% a média das demais variedades já recomendadas pelo próprio INCAPER.

Vale ressaltar que, de 1993 a 2012, aproximadamente 50% da área ocupada com café conilon no Estado, cerca de 150 mil hectares, foi renovada com a utili zação das variedades melhoradas. Nesse período, foi constatado um incremen to de 277% na produtividade média, que passou de 9,2 para 34,7 sacas benefi ciadas por hectare. O início da renovação das lavouras de café conilon, median te o uso da variedade ‘Vitória’, resultou de um conjunto de ações que visavam a renovação tecnológica e o consequente aumento da produtividade e da qua lidade da produção capixaba. Nesse contexto, a substituição das lavouras im produtivas pela nova variedade resultou em maior rentabilidade dos cafezais.

Na nova variedade clonal ‘Vitória’ - Incaper 8142 - foram reunidos 13 clones superiores que se destacam por uma série de atributos como produção, adap tação aos diferentes ambientes, estabilidade de produção ao longo dos anos, longevidade, resistência a pragas e doenças, uniformidade de maturação dos frutos, rendimento de beneficiamento, tamanho de grãos, índice de grãos do tipo “moca”, vigor vegetativo, entre outros. 33 Esse lançamento coroou o traba lho de melhoramento do INCAPER, fazendo do Instituto referência interna cional em conhecimento sobre essa cultura.

v ari E dad E clonal v itória: a i nca PE r 8142 Comparativo novasprodutividadedadasvariedades produtividade média saC/benef. ha Capixabaobustãor 50,3 ropicalobustart 54,0 itóriaConilonv 70,4 62 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

meus pais já trabalhavam com café, primeiro o arábica, depois o conilon, então eu sempre gostei de café e quando assumi a propriedade surgiu a ideia de montar um viveiro. Para isso, a gente foi procurar tecnologia, plantas com melhores características. isso aqui é um negócio familiar, aqui somos eu e meu filho. se não fosse o café, nem sei como seria... vila valério cresceu muito, hoje 90% da renda do município vem do conilon, são proprietários pequenos, em grande parte. nós já estamos a 13 anos dedicados às mudas de conilon. Hoje, produzimos cerca de dois milhões e meio por ano. vendemos bastante no espírito santo, uma parte de minas Gerais e sul da Bahia. nós sempre acreditamos muito no conilon, por isso sempre estamos correndo atrás da qualidade, tanto eu quanto meu filho Wagner sempre nos preocupamos em oferecer mudas de alta produtividade. o inCaPer tem incentivado muito a melhoria da qualidade e disponibilizado clones com alto padrão genético. nós também temos excelentes matrizes. Com o tempo aprendemos a fazer mudas e bons clones, por isso, os produtores confiam na gente e procuramos estar a altura dessa confiança. a verdade é que a gente gosta de café, tem tradição. estamos satisfeitos com o trabalho, fazemos o que gostamos, esse é o segredo.

Isso aqui é um negócio familiar, aqui somos eu e meu filho. Se não fosse o café, nem sei como seria... Nós sempre acreditamos muito no conilon, por isso sempre estamos correndo atrás da qualidade... O Incaper tem incentivado muito a melhoria da qualidade e disponibilizado clones com alto padrão genético.

dEP oi ME nto Atílio Penitente

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Curva Nível Café Conilon

Dentro da produção estadual de café, aproximadamente 75% é de conilon e 25% de arábica. O café conilon é plantado em 64 municípios, em regiões quen tes e com altitudes inferiores a 500 metros. No ranking nacional, o município de Jaguaré, na região Nordeste, é atualmente o maior produtor, com 39,9 mil tone ladas, seguido de Vila Valério, no Centro-Oeste, com 39,4 mil toneladas e Soore tama, na região do Rio Doce, com 32,6 mil toneladas. Ainda se destacam os mu nicípios de Nova Venécia, Linhares, Pinheiros e Rio Bananal como 5º, 7º, 8º e 10º colocados no cenário nacional, respectivamente, segundo dados do IBGE.

O Espírito Santo possui atualmente área aproximada de 500 mil hectares de lavoura de café, sendo o segundo maior produtor do Brasil, com 26,3% de parti cipação na produção nacional. Se considerado apenas o conilon, o Estado ocupa o primeiro lugar, com 77% da produção brasileira. O Estado, se fosse considerado um país, seria o segundo maior produtor mundial, perdendo apenas para o Vietnã.

Panora M a a tual

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Com o propósito de aprimorar a qualidade do conilon, o Espírito Santo pro move a campanha de Melhoria da Qualidade do Café. O INCAPER vem produzin do uma série de materiais informativos, como cartazes, banners, folders e carti lhas, que trazem as técnicas adequadas de cultivo, colheita, secagem, beneficia mento e armazenamento. Partindo dos chamados “10 mandamentos para pro duzir um café de qualidade”, os materiais promovem a conscientização dos cafei cultores capixabas a respeito do uso da melhor tecnologia disponível para a ati vidade, com garantia de melhora continuada.

O café está presente em todos os municípios capixabas, exceto Vitória, sen do o maior gerador de empregos no Estado. A cafeicultura é a principal atividade econômica em 80% dos municípios e representa sozinha, 43% do valor da pro dução agrícola do Espírito Santo. Toda a cadeia que envolve o café gera aproxi madamente 400 mil postos de trabalhos por ano e só o setor de produção reúne cerca de 130 mil famílias. A produção que gera esse grande negócio é obtida prio ritariamente por produtores de base familiar, com tamanho médio das lavouras em torno de 8,2 hectares.

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Extratos das áreas ocupadas com café Conilon no Espírito Santo

Evair Mello

o nosso grande diferencial é levar essas inovações ao produtor rural, provocando uma mudança de comportamento. Essa capacidade do produtor capixaba de mudar o processo, somada com a nossa competência de fazer produtos é a razão do nosso sucesso. O consumo mundial de café só aumentará e a base de sustentação para manter e seduzir novos consumidores é o café conilon, este é o produto do futuro.

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o grande desafio da cultura brasileira é inovar os processos. inovar em produto é fácil, o cientista vai para o laboratório e desenvolve um produto novo. a grande dificuldade é inovar no comportamento. este, talvez, seja o grande produto do inCaPer. É claro que o sucesso do conilon no espírito santo deveuse à pesquisa, às novas variedades, ao avanço tecnológico. mas o nosso grande diferencial é levar essas inovações ao produtor rural, provocando uma mudança de comportamento. essa capacidade do produtor capixaba de mudar o processo, somada com a nossa competência de fazer produtos, é a razão do nosso sucesso. aquilo que era um produto inovador, agora é um processo inovador. nas últimas décadas, o mercado consumidor de café mudou, principalmente, o mercado interno. Com mais informação, cresceu o nível de exigência por mais qualidade. Para responder a essa demanda, precisamos inovar. e isso muda tudo. desde a forma de o produtor plantar café, passando pela colheita, o transporte, a armazenagem, a maneira de secar e, principalmente, de comercializar café. Como é um produto novo, é um comprador novo, num mercado novo. Hoje, a lógica é outra. o café, enquanto fruta, precisa ser colhido na hora certa, madura no pé, do jeito certo, para que se possa comprometer o mínimo possível àquilo que a natureza já deu. e, assim, temos a semente perfeita. de posse dela, pode-se então extrair, por processo de torra, de moagem e de preparação, aquilo que é preciso no café: aroma e sabor. Café, enquanto alimento, além de manter os compostos iniciais, traz também o encantamento de uma bebida única. esse processo cuidadoso permite trazer a doçura, o aroma e os sabores para seduzir o paladar. em troca dessa bebida superior o consumidor está disposto a pagar um pouco mais, por isso o produtor ganhará um pouco mais. desse modo, temos distribuição de renda imediata

dEP oi ME nto

Com o objetivo de agregar ainda mais valor ao conilon capixaba, a Secreta ria de Agricultura do Espírito Santo – SEAG, pretende que, em seis anos, 30% da produção do grão seja de cereja descascado, sistema intermediário entre os ca fés naturais e lavados que proporciona maior qualidade aos grãos. Atualmente, somente percentual pequeno da safra é de cereja descascado – cerca de 15 mil sacas de 40 produtores, em um universo próximo de 40 mil propriedades rurais consagradas à cafeicultura no Estado.

O conilon cereja descascado, classificado como “especial”, obtém prêmios por ter qualidade superior. O café comum dessa espécie é comercializado hoje por cerca de R$ 270 a saca e o descascado alcança 40,7% a mais no preço final. Sem dúvida, o investimento com equipamentos é maior, mas com o tempo o custo apresenta tendência a diminuir. Na avaliação de Enio Bergoli, Secretário de Agri cultura do Estado, o investimento poderá ficar até menor que o do produto tra dicional. Os primeiros embarques de conilon cereja descascado ocorreram em maio de 2012, para a Rússia. onilon c a P ixaba – ME ta S M ai S ou S ada

É importante destacar que a produção capixaba de conilon deve bater novo recorde no ciclo 2012/13. O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) aponta para 9,4 milhões de sacas, ante 8,5 milhões da temporada passada. A SEAG, porém, acredita que a produção alcançará entre algo próximo a 9,8 milhões de sacas. Destaca-se ainda o crescimento do consu mo nacional, com taxas médias de 3,5% ao ano.

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S 69 CapixabaConilonInovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

com um grupo de produtores da região resolvemos investir na qualidade do conilon. Fomos procurar a nossa cooperativa, a Coopeavi, e juntos fomos até o Incaper falar da ideia de trilhar pelo caminho da qualidade no conilon. O diferencial do cereja descascado não é apenas o preço por si só, ele traz outras vantagens agregadas... o produto final é muito superior, ao descascar o café, secar no secador, ele fica absolutamente melhor.

dEP oi ME nto

Luis Carlos Gomes

70 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

minha família já tinha um histórico agrícola no norte do espírito santo e em minas Gerais. então essa paixão pela terra sempre existiu, minha história com café começou em 1999, quando adquiri uma propriedade em santa teresa, próxima a propriedade do meu sogro que também já produzia café. assim eu aproveitei a experiência do meu sogro e a minha vontade de ser produtor e aliei as duas coisas. o conilon veio mais recentemente, porque sempre me incomodou o fato do conilon ser o primo pobre do arábica. meu sogro já produzia conilon e não tinha aquela atenção que dedicava para o arábica... então eu resolvi, há cerca de quatro anos, começar a produzir um conilon de melhor qualidade. Coincidiu de o inCaPer ter lançando variedades de café mais produtivas e nós fomos selecionando as plantas, vendo o tamanho dos grãos. então, com um grupo de produtores da região resolvemos investir na qualidade do conilon. fomos procurar a nossa cooperativa, a CooPeavi, e juntos fomos até o inCaPer falar da ideia de trilhar pelo caminho da qualidade no conilon. fomos incentivados e, coincidentemente, naquele momento o mercado estava exigindo maior qualidade do conilon, acho que por esse motivo nós logramos êxito. o diferencial do cereja descascado não é apenas o preço por si só, ele traz outras vantagens agregadas. Por exemplo, se gasta menos lenha, menos tempo, afinal 60% do conilon é casca e não se vende a casca, se vende o café. Quando você diminui a quantidade de café a ser secado, você diminui a infraestrutura como o terreiro, diminui o tempo que esse café fica no terreiro e tudo isso tem valor. além disso, o produto final é muito superior, ao descascar o café, secar no secador, ele fica absolutamente melhor. tanto que o conilon do primeiro blend, feito com 70% de café arábica e 30% de café conilon especial, saiu daqui de santa teresa, o café Zimbro.

O compromisso do INCAPER com a qualidade do café robusta é verifi cado também na pesquisa. Nos próximos anos serão lançadas variedades clonais de conilon com características bioquímicas e sensoriais superiores.

É importante destacar que a demanda por café conilon vem aumentando nos últimos anos, sobretudo para a composição de blends do produto indus trializado. Cálculos assinalam que o conilon representa hoje 45% do consumo total de café no Brasil, um cenário bem diferente dos 20% registrados há duas décadas. A melhoria na qualidade do produto brasileiro também vem sendo re conhecida pelo mercado internacional, com a participação em rodadas de ne gócios e feiras do setor. Recentemente, durante uma sessão de degustadores de torrefadoras de cafés especiais na Coréia do Sul, todas as amostras brasileiras, entre as quais dez de quatro municípios capixabas, foram aprovadas, o que re sultará em negócios futuros, apesar de o volume produzido ser ainda pequeno. 34

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De fato, o reconhecimento da qualidade do produto deve animar os produ tores a investir em qualidade. Afinal, o maior gargalo no momento reside na criação de volume. Especialistas acreditam que a demanda pelo conilon cere ja descascado aumentará em países emergentes como Coréia do Sul, Índia e Rússia, sobretudo para a inclusão em blends de café expresso.

c onf E rência int E rnacional d E c off E a can EP hora: a i MP ortância do conilon P ara o M undo

No bojo das comemorações dos cem anos do conilon no Espírito Santo, os cinco maiores países produtores de café conilon, Brasil, Costa do Marfim, Indonésia, Uganda e Vietnã reuniram-se no primeiro painel de discussão da Conferência Internacional de Coffea canephora, ocorrida entre os dias 11 e 15 de junho de 2012. O evento foi realizado pelo Governo do Estado e INCAPER, com apoio do Consórcio Pesquisa Café.

A partir do balanço da situação do robusta nos principais países produto res, a Conferência buscou unir esforços, suscitando parcerias e troca de conhe

Outro ponto a ser destacado na atividade consiste na mudança da quali dade do conilon, não só como produto final, mas também na percepção do

No cenário atual, as perspectivas para a cultura são bastante positivas. Percebe-se crescimento da procura pelo conilon por diferentes países consu midores, com destaque para os ditos emergentes, além da ampliação no mer cado do café solúvel. Com isso, os países produtores necessitam se preparar para atender a uma demanda em expansão. Além da disponibilidade da tec nologia, um aspecto fundamental reside na sua transferência para quem efe tivamente cultiva o produto, aumentando a colheita e a remuneração do pro dutor, ponto crucial na conquista de novos mercados.

O mercado mundial é crescente em termos de consumo de cafés especiais e a valorização do conilon de qualidade é uma AquiculturaAbastecimento,Agricultura,deBergoli,capixabas.”dosampliarsignificativaoportunidadeparaarendacafeicultoresEnioSecretárioEstadodaePesca.

cimentos com o objetivo de viabilizar o desenvolvimento sustentável da pro dução mundial, com foco na qualidade do conilon.

Evair Vieira de doDiretor-PresidenteMelo,INCAPER.

Mais do que aroma, sabor e sensoriais,característicasoutraspor trás das xícaras de café tem gente. O café une as pessoas, gera trabalho e renda e esse café representa a mais completa obra da atividade econômica já produzida no Espírito Santo.”

10,819,7 Avanço contínuo CresCe a partiCipação do Café Conilon nos blends vendidos no país (milhões de saCas de 60kg) Consumo interno total do café volume de conilon nos blends 2000 2,913,2 2001 3,113,6 2003 3,413,7 2005 5,615,5 2007 7,217,1 2009 9,018,4 2011 fonte: Cecafé, com base em dados da abic e da oiC Robusta verde exportação (milhões de saCas) 20000,7 20024,3 20040,7 20061,4 20082,1 20101,2 20112,7 76 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

mercado, que passa cada vez mais a aceitar blends de café com porcentagens maiores de robusta. Segundo Norma Técnica da ABIC lançada em 2012, não há mais restrição de quantidade de robusta para o chamado café gourmet, ou seja, o que atesta a qualidade de um café. A partir de agora, o rótulo depende da capacidade do produto de alcançar a nota mínima na classificação, inde pendentemente da porcentagem de arábica ou de conilon no blend. 35

Sob a perspectiva da estrutura cafeeira nacional, os plantios de conilon ocu pam hoje em torno de 600 mil hectares, cerca de 30% da área total de café cul

A celebração dos cem anos do conilon em terras capixabas sugere uma re flexão sobre a sua contribuição para a cafeicultura nacional. Do ponto de vis ta mercadológico, é importante destacar que produzir café conilon permite ao Brasil participar de um mercado crescente nos últimos anos e que, atualmen te, significa algo em torno de 40% do consumo mundial, equivalente a 55 mi lhões de sacas. Com base nos preços atuais, este mercado representa um mon tante global de cerca de US$ 12 bilhões. Ou seja, para o Brasil, a riqueza gera da pelo conilon equivale a um terço deste valor.

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adicionar conservantes ou corantes. os grãos que garantem cor, sabor e aroma às bebidas são cultivados em são Gabriel da Palha. entre as inovações está também o café Zimbro, blend obtido a partir de 70% de café arábica e 30% de café conilon especial descascado, produzido nas montanhas de santa teresa. trata-se de café forte e robusto, pois o conilon especial traz corpo acentuado, mais vigoroso à composição, além de traduzir bem o conceito de sabor brasileiro.

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a Conferência internacional de Coffea canephora marcou o lançamento da Cerveja robusta, a primeira cerveja de conilon do mundo, do tipo Porter, típica do reino Unido e com agradável sabor amargo. trata-se, portanto, de uma cerveja gourmet. outra novidade foi a Cachaça robusta, produzida com grãos de conilon pouco torrados e uma calda especial que permite obter bebida mais intensa, garantindo o sabor suave e levemente adocicado, sem a necessidade de

Café Conilon – para além da xícara

Devem-se considerar ainda os efeitos do conilon sobre o crescimento do parque industrial de café solúvel e a sua contribuição na expansão do consu mo nacional. De fato, a indústria de solúvel surgiu na década de 1960, a par tir da existência de um enorme estoque de excedentes de produção de cafés da variedade arábica, que crescia ano a ano. Transformar parte desse estoque barato em solúvel significava reduzir as pressões internas e, ao mesmo tem po, abrir condições à indústria brasileira de disputar um novo e pujante mer cado, com grande poder de penetração nos hábitos de consumo do país e do exterior. Esse cenário se confirmou e o Brasil se consolidou como importan te polo produtor de café solúvel, manufaturando volumes cada vez maiores e que, em anos recentes, atingiram o equivalente a três milhões de sacas.

tivada no Brasil, possibilitando a incorporação de vastas áreas de baixa altitude à atividade e inadequadas para o café arábica. Com a agregação de valor e de in fraestrutura nessas regiões, o resultado foi a geração de riqueza e de prosperidade.

Finalmente, é interessante constatar o interesse que o plantio de café robusta vem despertando em tradicionais países produtores de café arábi ca. O México, na região dos Suaves Centrais, tem produção estimada de 86 mil sacas. A Guatemala, por sua vez, colhe em torno de 38 mil sacas e outros países como Nicarágua, Panamá e El Salvador já cogitam iniciar a produção da variedade.tivada no Brasil, possibilitando a incorporação de vastas áreas de

A partir de 1980, a inovação industrial levou a um crescente processo de utilização, como matéria-prima do produto solúvel, de cafés da variedade ro busta, tanto em razão do seu maior rendimento industrial frente aos cafés da variedade arábica, como por sua neutralidade qualitativa. Estima-se, atual mente, que o processamento do robusta pela indústria de solúvel mundial atinja 90% das necessidades e, no Brasil, algo próximo a 80%. Em resumo, a produção interna de conilon tornou possível o desenvolvimento e a consoli dação da indústria brasileira de café solúvel.

Devemos destacar que, além das contribuições mencionadas, a produção do café conilon também propiciou a expansão do consumo nacional. Segun do as estimativas, o consumo interno vem registrando taxas médias anuais de crescimento anuais da ordem de 3,5 %, o que significa cerca de 20 milhões de sacas em 2012. Entre os fatores que permitiram este notável crescimento, in clui-se, sem dúvida, a estabilidade dos preços do produto ofertado ao consu midor nos últimos anos. A crescente participação do café conilon no blend da indústria, que teria evoluído de 20%, em 2000 para 50%, em 2012, foi decisiva, na medida em que o seu valor é mais baixo, represando assim o custo médio de produção que permitiu a estabilidade dos preços ao consumidor.

80 CapixabaConilon InovaçãoeCrescimentoDesafios,deAnos100

ainda os efeitos do conilon sobre o crescimento do parque industrial de café solúvel e a sua contribuição na expansão do consu mo nacional. De fato, a indústria de solúvel surgiu na década de 1960, a par tir da existência de um enorme estoque de excedentes de produção de cafés da variedade arábica, que crescia ano a ano. Transformar parte desse estoque barato em solúvel significava reduzir as pressões internas e, ao mesmo tem po, abrir condições à indústria brasileira de disputar um novo e pujante mer cado, com grande poder de penetração nos hábitos de consumo do país e do exterior. Esse cenário se confirmou e o Brasil se consolidou como importan te polo produtor de café solúvel, manufaturando volumes cada vez maiores e que, em anos recentes, atingiram o equivalente a três milhões de sacas.

Finalmente, é interessante constatar o interesse que o plantio de café robusta vem despertando em tradicionais países produtores de café arábi ca. O México, na região dos Suaves Centrais, tem produção estimada de 86 mil sacas. A Guatemala, por sua vez, colhe em torno de 38 mil sacas e ou tros países como Nicarágua, Panamá e El Salvador já cogitam iniciar a pro dução da variedade.

baixa altitude à atividade e inadequadas para o café arábica. Com a agregação de valor e de infraestrutura nessas regiões, o resultado foi a geração de riqueza e deDevem-seprosperidade.considerar

Devemos destacar que, além das contribuições mencionadas, a produção do café conilon também propiciou a expansão do consumo nacional. Segun do as estimativas, o consumo interno vem registrando taxas médias anuais de crescimento anuais da ordem de 3,5 %, o que significa cerca de 20 milhões de sacas em 2012. Entre os fatores que permitiram este notável crescimento, in clui-se, sem dúvida, a estabilidade dos preços do produto ofertado ao consu midor nos últimos anos. A crescente participação do café conilon no blend da indústria, que teria evoluído de 20%, em 2000 para 50%, em 2012, foi decisiva, na medida em que o seu valor é mais baixo, represando assim o custo médio de produção que permitiu a estabilidade dos preços ao consumidor.

A partir de 1980, a inovação industrial levou a um crescente processo de utilização, como matéria-prima do produto solúvel, de cafés da variedade ro busta, tanto em razão do seu maior rendimento industrial frente aos cafés da variedade arábica, como por sua neutralidade qualitativa. Estima-se, atual mente, que o processamento do robusta pela indústria de solúvel mundial atinja 90% das necessidades e, no Brasil, algo próximo a 80%. Em resumo, a produção interna de conilon tornou possível o desenvolvimento e a consoli dação da indústria brasileira de café solúvel.

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8 DERENZI, 1990.

10 GLAZAR, 2005.

12 WRIGLEY, 1988.

9 ALMEIDA, 2010, p.404.

13 BARROS et al., 1995; MATIELLO et al.2002.

19 ZAMBOLIM, 2000.

14 ROCHA; MORANDI, 1991, p. 56.

11 GLAZAR, 2005, p.189.

2 DAEMON, 2010, p. 143.

20 GERHARDT, 1978.

Notas:

1 TAUNAY, 1941, p. 288.

7 OLIVEIRA, 2008.

6 ALMEIDA, 2010, p.336.

18 FERRÃO, 2007, p. 53.

17 RODRIGUES, 1990.

21 OLIVEIRA, 2008, p.480.

4 ALMEIDA, 2010, p. 79.

15 Instruído 205 da Superintendência da Moeda e do Crédito - SUMOC e Re soluções 188 e 189 do Instituto Brasileiro do Café – IBC.

3 BITTENCOURT, 1987.

5 ALMEIDA, 2010, p. 454.

16 TAQUES, R. C., DADALTO, 2007.

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22 MAESTRI et al., 2001. 23 FASSIO; SILVA, 2007. 24 ROCHA; MORANDI, 1991, p.97. 25 DAVIRON; LERIN, 1988, p. 134. 26 DELFIM NETTO, 1966, p. 157.

27 Cf. SILVA, S., 1982. 28 ANDRADE, 1995. 29 TOLEDO; GANCHO, 2003, p. 59. 30 HOMEM DE MELO, 1993.

34 FERREIRA, Valor Econômico. São Paulo, 16/8/2012.

32 FERRÃO, R.G.; FONSECA, A.M.A.; BRAGANÇA, S.M. Emcaper 8151 – Ro busta Tropical: Variedade Melhorada de Café Conilon de Propagação por Sementes para o Estadodo Espírito Santo. In: Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil. 2000.

31 FERRÃO, R.G.; SILVEIRA, J.S.M.; FONSECA, A.F.A.; BRAGANÇA, S.M. & FERRÃO, M.A.G. EMCAPA 8141- Robustão Capixaba: Variedade clonal de café conilon tolerante à seca. Vitória, ES: 10p. ISSN 0101-7683, Comunica do Técnico 98, abr. 1999.

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33 FOLDER Conilon Vitória. Disponível em: servicos/images/folderConilonVitoria.pdfhttp://www.incaper.es.gov.br/

35 Cf. ABIC, disponível em exe/sys/start.htm?sid=59&infoid=1792http://www.abic.com.br/publique/cgi/cgilua.

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