5 minute read
É Isso aí
SÓ QUERIA TE DIZER É Isso aí Félix Hilton
Eu era ainda muito jovem, sai de um primeiro casamento aos 26 anos, casei com uma amiga sem o saber, pois fiz seminário e pouco entendia de relacionamentos amorosos. Mas a vida é assim, não podemos parar de caminhar. Professor desde os dezenove anos, ainda amo a profissão apesar de todas as suas dificuldades em um país que pouco se preocupa com esta faceta da sociedade.
Advertisement
Fiz um concurso público e passei, seria agente de saúde, deixei um filho de três anos, mas sempre o via, até hoje somos grandes amigos, a minha ex é uma mulher formidável, nunca discutimos, nos separamos porque percebemos que éramos grandes amigos.
Para exercer a função de agente de saúde foi preciso fazer um curso de trinta dias na Fundação Santo André, e neste curso conheci muitas pessoas legais, uma delas a que é a merecedora da música escolhida cuja frase tomei para nossa vida de amor: “Não consigo parar de te olhar”. Na verdade, tive que conquistá-la durante toda a minha vida, lembrava então daquele filme em que uma loira muito bonita acordava todos os dias sem saber quem era, exceto os de relacionamento próximo, é assim que eu me sentia diante da minha amada, mas era muito bom conquista-la.
Nas reuniões do grupo, umas vinte pessoas eu ficava sempre na posição contrária ao dela a fim de olhá-la, não conseguia parar. Logicamente que ela percebeu. Certo dia um dos rapazes do grupo disse para mim que iria pedia a Marli em namoro, ela não sabe disso até hoje, aí tive que ter coragem de pedi-la antes, acho que até hoje ele ri deste feito.
Naquele mesmo dia eu a levei para lanchar, ela ama vinho. Estávamos em um balcão conversando. Eu a olhava insistentemente, amava cada traço de seu rosto.
De repente ela bateu a mão na taça de vinho, já vazia, neste momento eu a olhava e sem tirar os olhos de um sorriso tão lindo peguei a taça
no ar e a coloquei sobre o balcão. Ela estranhou o feito, como eu teria tamanho reflexo, foi o início de uma longa história de amor que precisará de inúmeras conquistas.
No dia seguinte recebi os direitos trabalhistas de uma empresa onde eu trabalhava, e por incrível que pareça eu não sabia ainda como eram as pernas da minha amada. A primeira coisa que fiz foi lhe comprar de presente uma linda saia, entreguei para ela com segundas intenções é claro, neste dia eu já sentava ao lado dela, todos sabiam que estávamos namorando. Eu sempre chegava mais cedo que ela, sentei-me no lugar de costume e a aguardei. Ela foi pontual. Entrou tão linda, vestida com a saia que eu dera que meus olhos deviam brilhar muito, aliás, um detalhe, quando ficou muito feliz a cor dos meus olhos clareiam, de esverdeado para a verde-claro, naquele dia na certa ficou o mais claro possível, tamanha a paixão.
Neste dia, os ônibus entraram em greve, e na hora de ir embora a opção era ir a pé, caronas não conseguimos entre os colegas, caminhos opostos. Mas, ao sair, um corpo de bombeiro ofereceu carona. Mas só cabia um de nós, certamente ela iria, mas soltou uma frase inesquecível: “Venha, eu sento no seu colo” Até hoje está frase faz parte dos meus pensamentos, apaixonado do jeito que eu estava, imagina.
Fomos até o centro de Santo André abraçados, este fato marcou muito nossas vidas.
Daquele dia até o final do curso namoramos, alguns fatos marcaram este período. Fui até a casa dela, havia marcado, é claro, mas chegando lá um rapaz sem camisa e calção me atendeu, perguntei por ela, mas fiquei preocupado com quem seria o rapaz, depois que entrei o conheci, era um de seus irmãos.
Neste dia conheci a Tia Deja e o Vardão, duas figuraças, infelizmente após vinte anos ela morreu em um acidente de automóvel e o Vardão ficou paraplégico.
O primeiro beijo foi na rua da casa dela, fiquei até tarde e no final da noite ela foi me levar até a esquina. Beijamo-nos por um longo tempo, foi outro dia inesquecível.
A primeira noite que passei com ela foi percebida pela irmã, mas fui bem acolhido em seguida. Neste dia, inesquecível conheci a minha amada, nunca mais deixaria de olhar para ela sem o carinho que sinto até hoje.
Marli é uma ótima dançarina, logo comprei roupas especiais para a
dança do ventre e ela amava estes momentos, eu mais ainda.
Ela era também uma ótima nadadora, demorou um pouco, mas compramos uma chácara com piscina em Guararema, amava olhar ela mergulhar, fazia-o para me provocar. Foram longos anos de alegria, festas, vendo os nossos filhos crescerem, o primeiro meu é do primeiro casamento, chama-se Leandro, e ela também tinha um do primeiro casamento chamado Gabriel, ambos com idades semelhantes, com o tempo nasceu Henrique, e por fim a Isabela. A chácara é testemunha de muita alegria, corriam o tempo todo, conviviam com animais regionais, tais como os esquilos, pássaros, borboletas, sapos, cobras, sim havia muitas cobras no local, mas nunca aconteceu nada de ruim, cuidávamos.
Professora e eu também professor, tínhamos uma vida tranquila.
Olhava-a caminhar, meu pique era menor que o dela, olhava-a dançar, também não aguentava o ritmo como a minha amada, aqui acrescento um parêntese, íamos a bailes e muitos queriam dançar com ela, e eu educadamente permitia só para vê-la dançar, ficava hipnotizado com seus passos, olhava-a estudar, fiz em madeira para ela um móvel de cama, onde ela se encaixava perfeitamente ficando numa posição confortável, banharse, e tantas outras cenas gravadas que jamais se apagarão, mesmo distante, é como se fosse naquele momento, deixei-a ir por amar demais, quero a felicidade dela, nem que seja longe deste coração que pulsa ao ritmo de cenas que jamais se apagarão.
Brincava de nunca conhecê-la totalmente, todo dia uma novidade, a cada momento um brilho no olhar, uma dança diferente, os cabelos ainda mais sedosos e negros, minha amada é índia, filha de índios que moravam em tribo, vieram para a cidade grande, não compreenderam o estilo de vida e entregaram-se à bebida, morreram jovens como tantos outros milhares devido ao choque cultural.
Olhava-a o tempo todo, e foi assim até o final desta história de amor que duraram dezenove anos, mas como eu disse no começo, um amor de reconquistas diárias, chega uma hora que a mulher quer mais que isso.