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Os impactos do isolamento social nos condomínios
Fim de semana ensolarado do início de maio. O céu azul convida crianças para brincar ao ar livre. Mas os gritos infantis vindos das áreas de lazer dos condomínios de Juiz de Fora já não são ouvidos, assim como a cordial conversa entre vizinhos. Tudo está fechado: piscina, quadra, playground, salão de jogos, salão de festas, churrasqueiras... Esse é um cenário comum em diferentes condomínios de Juiz de Fora em razão da pandemia causada pelo novo Coronavírus. No centro disso tudo, os síndicos. Apesar da quarentena, para eles o serviço ficou ainda maior, assim como a responsabilidade.
A velocidade da evolução da doença levou o Governo Federal a adotar uma série de medidas para combater tanto a Covid-19 como os danos causados, principalmente na economia. “Entre as medidas, estão a adoção de home office, férias individuais ou coletivas, bancos de horas, suspensão temporária de obrigações, por exemplo, do pagamento do FGTS referente aos meses de março, abril, maio e junho, que poderão ser parcelados a partir de julho de 2020 em seis parcelas sem multas e encargos, suspensão do trabalho de funcionários por até 60 dias, os quais serão pagos pelo governo com parcelas de seguro desemprego, além de outras medidas”, explica a sócia-administradora do Grupo Teccon em Juiz de Fora, Ângela Freitas.
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Em âmbito municipal, no dia 18 de março, o prefeito decretou situação de emergência em saúde pública. Houve, ainda, a orientação para a população seguir as recomendações de prevenção à Covid-19 determinadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Tendo como base as medidas do Governo Federal visando à manutenção dos empregos durante a pandemia, os sindicatos patronal e dos trabalhadores em condomínios, Sindicon e Sindedif, assinaram um termo aditivo à CCT 2020 para que condomínios se adéquem às regras da Medida Provisória 936. O documento apresenta as regras aplicáveis relacionadas a férias, redução de jornada de trabalho/salário e suspensão de contrato de trabalho, entre outras questões.
A quarentena nos condomínios
Síndicos relatam as dificuldades enfrentadas durante o isolamento social divul gação
Dificuldades iniciais
A funcionária administrativa da JA Castilho, Olívia Souza, conta que, no início, teve muita dificuldade para adquirir álcool gel em grande quantidade para os condomínios efetuarem higienização. Outra situação que mereceu atenção especial estava relacionada a um dos condomínios que a empresa administra. Três dos quatro porteiros estavam no grupo de risco para Covid-19. Inicialmente, optouse por mudar a escala para 12h/36h, o que possibilitou que eles ficassem mais tempo em casa. Percebendo que, mesmo assim, eles corriam risco, optou-se por dar férias para os três.
Com isso, o edifício, cujos moradores estavam acostumados com portaria 24 horas, passou a ter porteiro apenas das 10h às 20h. “A maioria dos moradores não tinha controle remoto do portão da garagem nem chave da portaria. Tivemos que providenciar tudo isso”, relembra. Ela explica que o edifício já contava com câmeras de segurança. Todavia, as imagens não eram disponibilizadas para os moradores. Diante disso, foram contratadas empresas para que as imagens pudessem ser compartilhadas e todos pudessem ajudar no monitoramento enquanto os porteiros estivessem de férias. “Deu trabalho, mas conseguimos transmitir as imagens pelos celulares de todos os moradores que desejassem”, afirma Olívia.
Provisória 936 Olívia precisou dar férias para os três porteiros de um condomínio
divul g a ç ão
Lívia Lopes é síndica profissional há sete anos e, atualmente, atua em oito condomínios, sendo que alguns deles têm áreas de lazer e outros não. Segundo ela, o maior impacto sentido foi em relação à limpeza. “Orientei todos os funcionários para redobrar os cuidados com elevador, corrimão e maçaneta”, relata. Neste período, ela notou que os condôminos estão mais irritados, seja por conta do isolamento ou por não saberem lidar com a situação vivida. “Por isso, tenho pedido a todos mais tolerância, mas, claro, nada que descumpra as normas, como silêncio depois das 22h. Por exemplo, com uma criança que está um pouco mais barulhenta. Se está di fícil para nós, para idosos e crianças está muito mais”, exemplifica Lívia.
A síndica conta que teve que interditar as áreas comuns, como salão de festas, churrasqueiras e quadra de esportes, e aguarda novas orientações por parte da Prefeitura para que possa “organizar um esquema de revezamento para que as famílias possam tomar sol, dar uma volta na quadra, espairecer um pouco.”
Flávia Brandi, síndica profissional há cinco anos e, atualmente, administrando 11 condomí nios, relata que a primeira preocupação foi com a saúde. “A adequação inicial foi feita com o pessoal que era do grupo de risco entre funcionários dos condomínios e de conservadoras. Inicialmente, todos foram colocados em férias. No caso de funcionários de conservadora, solicitamos a troca para preservar a saúde”.
Assim como Lívia, Flávia destaca aumento da preocupação com a limpeza. “Principalmente com a entrada no condomínio dos Equipamentos de Proteção Individual – EPIs, como luvas e máscaras, e álcool em gel. Nos condomínios com elevador, intensificamos a limpeza, principalmente da parte metálica e da botoeira dos andares”, explica, confirmando que também nos seus condomínios as áreas de lazer foram fechadas por medida de precaução. Para evitar reclamações por parte dos condôminos, ela procurou trabalhar a conscientização.
Orientei todos os funcionários para redobrar os cuidados com a limpeza do elevador, corrimão e maçaneta Lívia pede mais tolerância aos condôminos durante a pandemia
fotos divul g a ç ão
Flávia buscou conscientizar os moradores em relação aos riscos da Covid-19
A necessidade de mudança nos serviços levou a Provid, empresa que atua nas áreas de conservação e portaria, a registrar maior procura por informações sobre a portaria remota, de acordo com a gerente da empresa, Carla Campos. O serviço é feito por meio de videomonitoramento, porteiros controlam a entrada e saída de moradores, visitantes e prestadores de serviços do condomínio. Segundo ela, a procura ocorreu devido a dois motivos principais:
“Primeiro, pela redução de custos, e muitos dos que nos procuraram foram de condomínios que têm colaboradores contratados por eles mesmos, já que são pessoas mais idosas e precisaram ser afastadas do serviço. Inclusive, alguns condomínios até contrataram substitutos conosco. No caso da portaria remota, o único funcionário que tem é o da base, mas ele está isolado, não tem contato com ninguém. Logicamente, que não é um produto que se vende de uma hora para outra. O síndico tem que analisar com os moradores, mas realmente teve uma procura maior sim”, afirma Carla.
Dos síndicos com os quais conversamos para fazer essa reportagem, o único que adotou postura um pouco diferente em relação às áreas destinadas a lazer e atividades físicas foi Rony Casali Júnior, síndico há 25 anos. Atualmente, ele, que administra 21 condomínios, explica que áreas comuns como piscina, quadra, salão de festas e espaço gourmet foram fechados. Todavia, houve permissão para utilização da sala de ginástica. “Alguns condomínios têm sala de ginástica, academia mesmo. Nesses, a gente limitou a dois condôminos a cada hora, deixando uma lista na portaria para as pessoas agendarem para a semana”, relata.
Quanto à limpeza dos condomínios, revela que todos os tapetes foram retirados. Diariamente, os encarregados da limpeza passam pano de chão molhado com água sanitária. Cuidados especiais também com os idosos. “Em alguns condomínios, separamos elevador social só para eles”, afirma.
Mudanças e entregas
Ainda de acordo com Rony, nos condomínios que ele administra ocorreu mudança de morador dentro do período de isolamento social. “Mudança a gente não pode bloquear. Mas, como era andar mais baixo, pedi para usar a escada, deixando para usar o elevador nas peças finais, e depois esterilizar ele todinho”, afirma.
Quanto às entregas, Lívia adotou uma estratégia indicada por diversas entidades do setor condominial. “Solicitei, nos prédios que têm portaria, que seja dada preferência para o morador descer e pegar sua entrega para que o motoboy, o fornecedor, não tenha que subir. Mas é uma solicitação, não é um impedimento, pois tem gente que realmente está em isolamento total, até mesmo por suspeita de contaminação com o vírus ou por receio”, revela. Quanto aos reparos, somente os emergenciais são feitos, sempre adotando as medidas de higiene indicadas para o período.
Em relação às assembleias, Ângela explica que as que estavam marcadas para “o fim de março, abril, maio e junho foram suspensas, e fizemos a pror rogação do mandato dos síndicos e diretores por 90 dias para, posteriormente, normalizar esta situação, atendendo, assim, às orientações do Ministério da Saúde, governador e prefeito e evitando aglomeração de pessoas.”
Ângela explica que foi necessário prorrogar o mandato dos síndicos e diretores por 90 dias
Um dos pontos diretamente relacionados à questão das assembleias se refere à necessidade de fazer movimentações bancárias. Isso porque, em situações normais, síndicos com mandatos vencidos não conseguem movimentar os recursos do condomínio nas instituições financeiras enquanto não for entregue a nova ata de eleição ou reeleição do síndico. Todavia, o economista Gabriel Karpat, profissional com mais de 40 anos de atuação no setor condominial em São Paulo, explicou, durante a sua participação na live do Papo Condominial, que bancos, diante da pandemia, estão permitindo que síndicos com mandato vencido possam fazer movimentações por mais 90 dias. Foi justamente essa dificuldade enfrentada por Olívia. Enquanto os bancos não chegaram ao entendimento relatado por Karpat, ela precisou buscar alternativas para efetuar os pagamentos.
Outra orientação passada pelo economista durante a live está relacionada a qualquer tipo de decisão tomada pelo síndico neste período sem o aval da assembleia. “A dica é para que qualquer decisão que tomarmos neste momento que não puder ser discutida em assembleia, tentar conversar com os conselheiros e, na primeira oportunidade, convocar assembleia para ratificar todas as decisões”, explica Karpat.
Em relação à parte financeira, Rony argumenta que, por enquanto, não houve aumento significativo da inadimplência, principalmente nos condomínios residenciais. Ele acredita que a situação seja pior nos comerciais, nos quais as salas e consultórios estão fechados. Perguntada se houve alguma flexibilização em relação ao pagamento da taxa condominial, a síndica Lívia Lopes explica que isso não foi possível.
“Não houve flexibiliza ção, pois, na verdade, as taxas são para despesas. Só em um condomínio em que atuo foi suspensa a taxa extra de obra. Seria iniciada uma obra, e o conselho pediu para suspender durante o período da pandemia. Na verdade, as contas estão aumentando. Com as pessoas em casa o dia todo, a conta de água está mais alta. Por isso, não teve como reduzir a taxa.”
A fim de auxiliar os síndicos neste momen to conturbado, Ângela explica que a Teccon manteve uma equipe trabalhando de forma on-line para tirar dúvidas. “Avaliamos cada situação específica, procurando soluções e reestruturações dentro do perfil dos condomínios. Também foram analisadas as previsões orçamentárias mensais com o propósito de possível de redução da taxa condominial.
Orientamos os síndicos também com relação a multas e juros das taxas condominiais vencidas de março a maio de 2020 para recebê-las sem acréscimo, ajudando os condôminos em dificuldade financeira. Mas, logicamente, que esta deliberação é opcional.”
A fim de diminuir o impacto financeiro da pandemia para os condôminos, Flávia Bran di explica que foi preciso fazer renegociação contratual com algumas empresas, como conservadoras, principalmente nos condomínios comerciais. “Nos comerciais, renegociei com as empresas a limpeza, pois já não tinha necessidade de limpar o condomínio todo dia. Passamos para três vezes por semana. Por exemplo, piscinas fechadas em condomínio residencial, negociação do contrato de manutenção da piscina. Não se limpa duas vezes por semana. Limpase uma vez e aumenta-se a cloração da água”, explica Flávia.
Em relação às medidas adotadas pelo Governo Federal para preservar o emprego das pessoas, Flávia explica que tiveram utilidade para ela. “Toda essa possibilidade por parte do governo em relação às questões trabalhistas, inclusive de adiantar férias de quem ainda não tinha férias vencidas, foi acatada. Tive funcionários que enquadravam no plano de afastamento temporário do trabalho. Demos 30 dias de férias, posteriormente, eles voltaram, mas a pandemia continua. A essas pessoas, antes do retorno, foi dada a opção desse afastamento do trabalho”, relata a síndica.
Por fim, Flávia afirma que gosta “de falar sempre que esse é um momento novo, inclusive para os síndicos. Assembleias virtuais, intensificação de normatizações e coisas feitas por meio de WhatsApp. Isso tudo gerou uma mudança muito grande pra gente. Para o síndico, o trabalho aumentou demais. Brinco que a única pessoa que não está em quarentena é o síndico.” divul g a ç ão