Revista EJA - As Histórias de Cada Um

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AS HISTÓRIAS DE CADA UM A Escrita como Terapia FASE II - 2014

“Não me considero um escritor. Sou apenas uma pessoa que escreve. Que começou a fazê-lo para cuidar das necessidades da alma”. Carlos Drummond de Andrade


ÍNDICE DOS TEXTOS CARNAÚBA Aneli Alves de Macedo ............................................................................................... 4 FRENTES DE EMERGÊNCIA Carlos André Gomes .................................................................................................. 9 COLHEITA DE CAFÉ Edilene de Menezes Tavares ................................................................................... 14 CASA DE FARINHA Eracildes Alves dos Santos ...................................................................................... 19 VESTIDINHO BRANCO DE ALGODÃO Eunice Pereira de Oliveira ........................................................................................ 24 MEL E CERA Ivanilde Ferreira Celestino ........................................................................................ 29 BOIA FRIA NO CANAVIAL Ivanildo Sérgio da Silva ............................................................................................ 34 BICHEIRO Luiz Gomes Santos .................................................................................................. 39 A HISTÓRIA DA MINHA FAMÍLIA Normacy de Oliveira Silva ........................................................................................ 44 FAZENDO BALAIOS Raimunda Dias Rebouças ....................................................................................... 49

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GUARDIÃ DO PENSAMENTO Uma folha escrita é uma mensagem. Aprendemos com Leonardo da Vinci. As folhas que vocês vão ler guardam acontecimentos e partes da vida de cada um, valem o registro do passado que precisou ser repensado para ser escrito. O começo de tudo foi a descrição do aproveitamento da carnaúba feita por uma aluna da Fase II, a Aneli; em seguida, a ideia de propor o registro da sequência clara e explicada do processo de fazer vassoura com as folhas dessa planta. Uma coisa puxa a outra e então: por que não ampliar para todos? Com o assunto presente, o trabalho seria colocar no papel seguindo as exigências da escrita. Um por um, todos escolheram um período da vida em que trabalharam em algo diferente do que fazem hoje. Escrever exige muito empenho e dedicação, fazer e refazer, ouvir a leitura e as opiniões, buscar maior clareza e tornar um trecho mais bonito. O trabalho de todo dia, em cada aula, em cada momento da aprendizagem, é um passo para a frente. O resultado que estamos apresentando tem atrás de si muitos rascunhos e reescritas. Todo o mérito para estes escritores tão dedicados e meu orgulho de ter feito parte desta etapa na vida dos alunos da Fase II.

Regina Hara, professora de Português da Fase II

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UMA VIDA MELHOR Aneli Alves de Macedo

Comecei a trabalhar com sete anos idade na roça com meus pais. Sempre tive muita vontade de estudar, mas segundo meu pai estudo de pobre era na roça. Com dezessete anos saí de casa para trabalhar em casa de família. Assim que cheguei, comecei a estudar, porém não consegui aprender nada e por isso desisti. Um tempo depois vim para São Paulo, mas sempre com vontade de retornar à escola. Chegando aqui, para minha surpresa, a filha da minha patroa dava aula no EJA. Ela me levou, comecei a estudar novamente e hoje estou na segunda série. Às vezes penso em desistir, mas como quero uma vida melhor, sigo em frente.

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ANELI ALVES DE MACEDO NATURAL DE ALTO LONGÁ - PIAUÍ (PI)

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CARNAÚBA Aneli Alves de Macedo A carnaúba é um tipo de palmeira que tem fruto comestível, dela se pode extrair óleo e palmito. Ela chega a quinze metros de altura, nasce próximo a margens de rios e lagoas. Meu pai trabalhava na mata, ele saía cedo para derrubar palha de carnaúba, fazia um feixe, trazia para casa num jumento e colocava debaixo das árvores. A família ajudava a riscar para secar e tirar o pó. Riscar é pegar uma faca para cortar o talo de cada folha, que é cheio de espinho e fura muito, fazendo duas metades. Cada metade leva dois cortes na ponta e depois rasga até o talo. Então, põe no sol para secar. Depois de secas, meu pai pendurava em uma árvore e batia nas folhas com uma madeira para tirar o pó e recolhia. Colocava numa panela e no fogo a lenha para fazer cera. A cera era vendida para comerciantes. A palha virava vassouras que eram produzidas por meus irmãos e por mim e levadas a feira para vender. Para fazer a vassoura começa pegando a palha, corta a cabeça da folha, amarra e tece. Depois corta o rabo e faz o rolo, que era a parte mais difícil para mim porque tem que apertar muito. Pode também fazer chapéu, tapete, bolsa, leque e mala. Naquela época, tudo era muito difícil, meus irmãos e eu tínhamos que trabalhar para ajudar nossos pais. O trabalho era pesado, às vezes a gente não dava conta porque éramos muito crianças. Meu pai não sabia fazer, então eu e meu irmão tínhamos que aguentar porque só nós dois sabíamos fazer. Hoje meus irmãos e meus sobrinhos continuam fazendo vassouras e vendem o pó direto para quem vai produzir cera. Esse é um trabalho que não esqueço porque eu e meus irmãos perdemos nossa infância e juventude nesse trabalho.

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Homem derrubando a palha (folha)

Mulher fazendo vassoura de folha de carnaĂşba

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Carnaubal

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NÃO OLHE PARA TRÁS Carlos André Gomes Eu, Carlos André Gomes, sou do sítio Chapada Pereiro, Ceará, divisa do Rio Grande do Norte. Trabalhava na roça, aos nove anos tive que sair da casa dos meus pais por ser considerado o mais ruim de todos os outros irmãos. Eu me sentia muito mal. Mas apesar de tudo tinha um lado bom, não era preciso dar satisfação a ninguém, saía e chegava a hora que queria. Também tinha as minhas responsabilidades, trabalhava, cozinhava, lavava e passava roupa. Foi uma grande batalha a minha vida, consegui superar os obstáculos e ser uma pessoa de bem. Ganhei confiança da vizinhança, comecei a trabalhar fora, cobrava metade do valor da diária para ter mais chance de trabalho. Essa foi minha batalha, mesmo assim era feliz. Nos dias de hoje, com mais de trinta e quatro anos, graças a Deus tenho um emprego razoável e quase tudo do que preciso. Faço quase tudo que gosto e tenho uma linda família. Aos domingos de folga adoro jogar bilhar com amigos, gosto de visitar parentes e amigos mais distantes. Curto muito um churrasco em casa com a família. Eu me divirto com a minha filha, brincamos de esconde-esconde, de casinha e de fazer comida, passeamos pelo bairro. Eu, minha filha, meu cachorro e minha outra princesa que é a esposa, nós quatro temos um relacionamento muito bom. Eu me acho o homem mais feliz do mundo, sou sortudo principalmente quando a bebê me chama, dou dois passos, volto, ela olha para trás e quando não me vê, volta muito brava comigo; ela pega meu dedo e me puxa, eu firmo o corpo e ela me puxa mais forte, então sou obrigado a ceder para minha doce princesa. Atualmente a minha vida teve muitas mudanças, sempre para melhor e todos os dias agradeço a Deus por mais um dia, tanto com a família quanto no trabalho. 9


CARLOS ANDRÉ GOMES NATURAL DE PEREIRO - CEARÁ (CE)

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FRENTES DE EMERGÊNCIA Carlos André Gomes Época de muitas dificuldades principalmente quando era ano de poucos legumes, com pouca chuva. Então o Estado empregava uma pessoa por família que tivesse de duas a quatro pessoas e empregava duas se a família tivesse de cinco a oito pessoas. Uma dessas famílias era a minha, tinha dois empregados: meu pai e eu. Eu tinha nove anos e meio, sendo o mais velho, era preciso trabalhar na Emergência. A turma em que eu trabalhava fazia três municípios nas redondezas: Sítio Chapada, Canastra dos Brandão e Penedo. A do meu pai, em municípios mais longe, todos no Ceará. Cada turma com quinze a vinte pessoas tinha um feitor que controlava a produção. Ele era escolhido entre as pessoas dos três municípios e precisava saber ler, escrever e ter necessidade do emprego. Tinha semana que a turma trabalhava por tarefa, quando a semana era por dia, a turma não fazia nada, mais conversava do que trabalhava. O feitor deixava duas pessoas responsáveis para sinalizar ao ver o carro do fiscal que era um jeep: cada um deles, quando via o carro, levava três dedos à boca e dava um assovio tão alto que dava pra ouvir a um quilômetro de distância. O feitor ficava de orelha em pé, a partir do sinal, todos os funcionários pegavam suas ferramentas e começavam a trabalhar desesperados, parecendo um bando de loucos. Um deles era eu. Uma vez por semana o fiscal passava, não tinha dia certo. Em um desses dias o fiscal perguntou para o feitor porque as obras estavam atrasadas e ele respondeu: — Depende do atraso, se não for muito grande eu tenho uma proposta. O fiscal falou: — Segue. O feitor disse: — É só nós tarefar todos os serviços com a turma. — Boa. Vamos avaliar. Os trabalhos nas Frentes de Emergência eram calçar com pedras os locais em que os carros atolavam quando chovia; fazer valas de desvio de águas; limpeza de lama dos cacimbões (a água que mina deles é pura e usada para beber, diferente da água dos açudes que é muito suja e só serve para lavar roupa). Usávamos enxada, picareta e carrinho; o transporte de materiais como pedra e barro era todo manual, assim como a escavação e a compactação; para a compactação era usado um cepo de madeira. Os trabalhos eram manuais, um meio de todos terem no final da quinzena o dinheirinho das compras, se o governo colocasse máquina para trabalhar nas estradas, toda a população iria passar necessidade. Na temporada de trabalho, que durava de sete a nove meses, eram de seis a oito horas trabalhadas por dia, com uma hora de almoço.

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Tralha (equipamento) para limpeza do cacimb達o

Limpeza do cacimb達o

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Limpeza do cacimbĂŁo

Assentamento de paralelepĂ­pedos

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SOU FELIZ Edilene de Menezes Tavares Eu me chamo Edilene, nasci no estado de Sergipe, em Simão Dias. Fiquei lá até meus dezesseis anos e vim para São Paulo a trabalho. Hoje sou auxiliar de estética. No dia a dia sou uma pessoa alegre e um pouco tímida. Nos dias livres gosto de passear e me divertir. Tenho dois ótimos filhos que me ajudam. Sou muito feliz.

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EDILENE DE MENEZES TAVARES NATURAL DE SIMテグ DIAS - SERGIPE (SE)

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COLHEITA DE CAFÉ Edilene de Menezes Tavares Eu tinha doze anos quando comecei a trabalhar na lavoura de café em 1991, no sertão de Sergipe. Eu ia mais meu pai para o cafezal para colher café, tirava os frutos maduros, levava nas peneiras para o jirau onde iam secar. Meus pais e eu saíamos às quatro horas da manhã de casa, começávamos às cinco, ficávamos até o meio-dia porque o sol era muito quente. A colheita de café começa no fim de abril e termina no final de agosto. As fileiras de pés de café são bem compridas, uma ao lado da outra. Cada fileira tinha vinte pés de café, cada pessoa ficava com uma fileira. O colhedor forrava o chão com um pano e com auxílio de uma peneira grande abanava os grãos de café retirando folhas e pequenos galhos. Levava para secar e depois de seco, tirava a casca, levava para torrar, pisava no pilão. Depois de um dia de trabalho, entregávamos a colheita para o fiscal de turma que avaliava a limpeza do café e a qualidade dos grãos cereja. O pagamento era de acordo com a avaliação dele e feito ao meu pai, não sei quanto ele recebia. Cada família tinha o direito de levar um pouco de café para casa, então minha mãe lavava e torrava no fogão a lenha e pisava para virar pó de café.

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Apanhando café

Pilando café torrado

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Abanando os grãos de café

Grãos de café torrado

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A FALTA QUE ELA ME FAZ Eracildes Alves dos Santos Eu sou Eracildes Alves dos Santos, nasci na Bahia, em Belmonte. Vim para São Paulo trabalhar. Sinto muita falta da minha família e espero realizar meu sonho que é voltar para ela. Gosto de ir à igreja, ao parque e passear no shopping.

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ERACILDES ALVES DOS SANTOS NATURAL DE BELMONTE - BAHIA (BA)

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CASA DE FARINHA Eracildes Alves dos Santos Quando a minha mãe ia para a casa de farinha, eu pedia para ir com ela para ajudar a descascar a mandioca. Lembro que tinha que lavar, ralar na máquina, colocar na prensa para espremer. Do líquido que ficava no fundo do balde, fazia goma, beiju e tapioca. O beiju é feito como a tapioca, no forno a lenha. A massa ia para o forno de lenha para torrar a farinha, tinha que ficar mexendo com um rodo de madeira para não queimar. Quando a farinha ficava pronta, colocava em sacos para vender em Eunápolis.

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Torrando farinha

Cabana de fazer farinha

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Casa de farinha

Fazendo beiju

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ADORO MEUS NETOS Eunice Pereira de Oliveira Meu nome é Eunice. Eu nasci em Vitória da Conquista, Bahia, e vim morar em São Paulo para trabalhar. Até hoje estou aqui, aonde vou me aposentar. Agradeço muito por estar com saúde. Tenho uma família muito linda, um filho que é o André e meus netos. Gosto de passear na casa da minha amiga Tereza, ela mora no Jardim Ângela. Obrigada por tudo, professora Regina.

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EUNICE PEREIRA DE OLIVEIRA NATURAL DE VITÓRIA DA CONQUISTA - BAHIA (BA)

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VESTIDINHO BRANCO DE ALGODÃO Eunice Pereira de Oliveira Quando eu era criança, minha irmã fazia meu vestido para festa de São João, tinha muita quadrilha. Eu ficava muito alegre esperando para chegar o dia da festa para usar o meu vestido novo. Meu pai não tinha condições de comprar roupa para nós. Minha irmã comprava sacos de açúcar, lavava, clareava; ela costurava na mão e ficava muito bonito. Eu não queria esperar para o dia de São João. Até meus catorze anos, só eu que usava, era rodado, de golinha bordada e justo. Eu, Eunice, sou a dona.

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Vestidinho branco

Danรงando quadrilha na festa junina

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Festa Junina – Quadrilha na quadra

Apresentação de um conjunto de quadrilha

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EU ME APRESENTO Ivanilde Ferreira Celestino Estou me apresentando. Eu me chamo Ivanilde. Eu morava na Bahia e vim para São Paulo. Arrumei trabalho, consegui comprar a minha casa. Moro sozinha, mas sempre estou com a família. Sou uma pessoa que gosto muito de passear com a família, gosto de fazer amizade, conhecer pessoas diferentes.

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IVANILDE FERREIRA CELESTINO NATURAL DE CAMPO ALEGRE DE LOURDES - BAHIA (BA)

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MEL E CERA Ivanilde Ferreira Celestino Quando eu tinha dez anos, morava no sítio em Campo Alegre. Eu tirava mel da abelha que chama oropa e da que chama enxu. Eu ia com meu irmão para a mata procurando todo tipo de abelha com os ninhos pendurados nos galhos ou dentro de ocos dos paus. A gente pegava madeira para fazer fogo e fumaça para as abelhas saírem e nós tirarmos as capas e colocarmos o mel nos baldes para levar pra casa. Espremia as capas para tirar o mel e ficava a cera. Meu irmão ia vender o mel na cidade e também ficava parte dele em casa, pro gasto. Minha mãe pegava as sobras das capas e fazia vela para clarear a casa, porque não tinha luz. Derretia a cera, pegava um fio de algodão torcido, passava na cera e quando esfriava ele endurecia. Ela cortava, fazendo as velas que não são iguais as que a gente vê no supermercado. Foi o último jeito que a minha mãe deu para não ficarmos no escuro.

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Capas de mel

Colmeia

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Abelha Apis melifera que pode ser chamada de oropa de acordo com o dicionรกrio.

Detalhe da colmeia

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NUNCA MAIS VOLTEI LÁ Ivanildo Sérgio da Silva Eu, Ivanildo Sérgio da Silva, moro na Rua da Moenda, número 558, no Capão Redondo, São Paulo, CEP 05886-140. Nasci na Paraíba, na cidade Alagoinha. Lá a vida é muito difícil de se viver, saí com dezesseis anos e nunca mais voltei. Trabalho na Rua Cravinhos, no Jardim Paulista, na função de porteiro noturno. Meus amigos de trabalho são legais. Eu gosto de ir para a Academia caminhando, para a escola e para a natação. Gosto de jogar bola.

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IVANILDO SÉRGIO DA SILVA NATURAL DE ALAGOINHA - PARAÍBA (PB)

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BOIA FRIA NO CANAVIAL Ivanildo Sergio da Silva Eu, com dezesseis anos, trabalhava em um posto de gasolina na Paraíba e no mês de setembro cortava cana-de-açúcar com muita gente nos barracos. Cortavam cana homem, mulher e até criança. O canavial ficava em uma cidade chamada Alagoinha. O pagamento era semanal, trabalhávamos por dia de segunda a sexta e não tinha hora para sair, voltávamos para casa no sábado a noite. Eram longos dias de trabalho que se tornavam mais cansativos se no meio do trabalho começasse a chover. Recebíamos os almoços e as jantas frios e mal feitos. Muitos trabalhadores não aguentavam seus trabalhos e queriam ir embora, mas não podiam porque eles eram transportados pelos caminhões. Os caminhões eram sem higiene nenhuma. Era trabalho muito difícil de fazer. A gente dormia lá, só ia para casa no final de semana.

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Caminh達o de boias frias

A hora da boia fria

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Cortando cana

Cortando cana com fac達o

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QUEM SOU EU Luiz Gomes Santos Eu sou Luiz, vim de Feira de Santana para São Paulo com vinte anos. Conheci uma pessoa maravilhosa que perguntou se eu queria trabalhar para ela. Eu disse que sim e perguntei o que iria fazer. Ela disse: — Para começar, você vai ser caseiro no meu consultório. Eu lhe dou casa, alimento e um salário. Com o tempo você será motorista da minha família, vai para a escola e terá um salário maior. Topei na hora e estou trabalhando com essa família há dezesseis anos, agora sou motorista e minha tia, que me trouxe, trabalha com ela há vinte e cinco anos. Eu sou tratado como alguém da família deles.

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LUIZ GOMES SANTOS NATURAL DE FEIRA DE SANTANA - BAHIA (BA)

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BICHEIRO Luiz Gomes dos Santos Aos dezesseis anos eu morava no bairro do Tomba e comecei trabalhar de bicheiro com meu pai. Ele mandava eu recolher o jogo do bicho. Eu e Nilton trazíamos apostas de Conceição do Coité, Terra Nova, Bonfim de Feira e Cruz das Almas para Queimadinha, bairro de Feira de Santana. Eu, Luiz, recolhia em Feira de Santana e arrecadava nos bairros Tomba, Jomafa, Feira Sete, Feira Oito, Feira Seis, Feira Quatro. Dava dez horas, eu saía para colher o jogo do meio – dia e as "autoridades" ficavam esperando na porta para me acompanhar num carro neutro; o delegado dava permissão para escolta, ligava para me avisar quem estava indo e dizia: — Não dê dinheiro a ninguém. No jogo do bicho pode jogar na unidade, dezena, centena e milhar. Para jogar precisa escolher os números pra duque (são dois números), terno (três números), quadra (quatro números) e quina (cinco números); quando dá na cabeça são os quatro primeiros números de cima. Tem jogo ao meio dia e às quatro da tarde. Saindo o resultado das quatro horas, eu tinha que entregá-lo nas bancas de cada bairro e em cada uma os jogos eram conferidos e pagos a quem ganhou. Depois de tudo fechado nas bancas, o chefe liberava e acertava as contas.

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Tabuleiro do jogo

Fazendo o jogo

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Fazendo o sorteio

Comprovante do jogo

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PORTO SEGURO Normacy de Oliveira Silva Eu me chamo Normacy, nasci na Bahia e morei lá minha vida toda. Quando resolvi vir para São Paulo, eu estava com muito medo porque falavam que a cidade é muito perigosa e assustadora. As pessoas andavam correndo, mas não tive medo porque um ano depois fui buscar as minhas filhas para morar comigo. Logo a mais velha se casou, aos dezoito anos. Fiquei com medo de não dar certo, mas, graças a Deus, meu genro é maravilhoso e tenho netos maravilhosos.

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NORMACY DE OLIVEIRA SILVA MUNICÍPIO DE MUNDO NOVO - BAHIA (BA)

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A HISTÓRIA DA MINHA FAMÍLIA Normacy de Oliveira Silva Aos nove anos eu ia para o açude uma vez por semana lavar a roupa da família inteira. O açude ficava longe, uma hora de caminhada. Saía pela manhã, lavava toda roupa e só voltava quando ela estivesse seca. Botava uma bacia de roupa na cabeça e pegava a estrada. Saía cedo para pegar o melhor lugar para pôr a roupa secar na grama porque tinha muita gente. Tinha que encher os baldes de água para pôr na bacia e esfregar a roupa com sabão de pedra. Às vezes tinha que levar comida porque voltava só a noite com a roupa seca e dobrada. No dia seguinte levantava muito cedo para carregar água na cabeça que tirava do poço Nossa Senhora Santana, a uns dez minutos de casa. Vinte latas pela manhã e vinte a tarde, para encher o pote de barro. Era água para fazer comida, beber e tomar banho. Fazia isso para não deixar minha mãe fazer porque ela estava muito cansada de muito trabalho, eu não aguentava ver minha mãe sofrendo. Aos sábados tinha que ir para a mata cortar lenha para fazer a comida para toda a família. Ia com adultos que cortavam com machado e eu juntava a lenha para fazer um feixe que carregava na cabeça, era muito cansativo. Nos domingos tinha muita brincadeira e bola, andava a cavalo e ia para a praça, ficávamos sentados na calçada. Minha mãe era muito importante, quando perdi minha mãe perdi meu chão, ela era tudo para mim. Eu sou a filha mais velha. Ficava com meus irmãos para meus pais trabalharem na fazenda. Ela era muito distante da cidade onde tinha que ir aos domingos fazer compras para casa. Meu pai ia a cavalo para a cidade, mas ele bebia muito. Quando chegava bêbado, brigava com minha mãe e meus irmãos ficavam apavorados. Até que um dia vieram avisar que ele tinha caído do cavalo e estava no hospital; ele ficou em coma por três meses, minha mãe estava grávida. Foi sofrido porque ela tinha que ser a mãe e o pai, mas tinha ajuda da minha madrinha querida. Sinto muita falta delas até hoje por elas terem sido tudo na minha vida, eram meus amores, nunca, nunca esquecerei delas.

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Pegando รกgua na beira do aรงude

Levando รกgua na cabeรงa

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Carregando lenha na cabeรงa

Carregando roupa para lavar

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BATALHADORA Raimunda Dias Rebouças Eu nasci em 15 de maio de 1964. Morava com meus pais em uma fazenda, trabalhava com eles na roça cuidando da lavoura. Um dia, uma tia esteve em casa e pediu para os meus pais se deixavam eu vir morar com ela, para tomar conta de suas crianças. Passado um tempo, eu fui cuidar da minha vida. Quando tinha vinte anos, já trabalhava e comprei uma casa. Hoje eu sou feliz porque moro melhor, quando viajo para a cidade onde nasci, que é Ipirá, comento com minhas primas sobre onde moro, que é São Paulo.

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RAIMUNDA DIAS REBOUÇAS NATURAL DE IPIRÁ - BAHIA (BA)

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FAZENDO BALAIOS Raimunda Dias Rebouças Quando eu morava na fazenda, no município de Ipirá, Bahia, minha irmã de treze anos e eu com quinze fazíamos muitos balaios diferentes, redondos ou cestos, de cipó, taboa e jornal. Íamos para a mata tirar cipó e a taboa perto de lagoas. O cipó dá na mata, era em forma de rama. Eu tirava e punha no sol para secar. Depois de seco estava pronto para usar. O balaio feito com cipó descascado fica com cor bege e se estiver com a casca a cor é mais escura, marrom claro. Outro material é a taboa, uma planta com folhas em forma de fitas verdes. Eu apanhava, secava no sol e estava pronta para usar. O jornal, eu recolhia no jornaleiro, torcia em forma de corda e estava pronto. Vou explicar como faz um balaio. Pega o cipó, corta em doze pedaços iguais e monta como se fosse uma estrela e vai passando outro cipó entre uma perna e outra da estrela; quando chega no tamanho de um prato, vira as pernas para cima e continua até chegar ao tamanho desejado. Então, vira-se as pontas que sobraram para baixo, intercalando entre cada perna. Os balaios são usados para recolher frutas, legumes e outras coisas na roça e também para pôr roupa, fazer caminha de gato e cachorro.

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Taboa na beira da lagoa

Cesto feito de taboa

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Flor da taboa

Cesto feito de cip贸

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AGRADECIMENTOS Nosso reconhecimento ao trabalho da professora Célia Marina Pessoa, pela revisão dos textos e aos voluntários André Scerb e Guilherme Maluf, pelo apoio às pesquisas com as ilustrações e suporte em informática Alunos da Fase II

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O CURSO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA) ESCOLA LOURENÇO CASTANHO

Os cursos de Educação de Jovens e Adultos (antigo supletivo) existem para possibilitar que pessoas jovens e adultas possam voltar à escola e completar sua instrução. Queremos contribuir para a formação geral de nossos alunos, como cidadãos, oferecendo um ensino que acrescente algo ao que eles já sabem. Acreditamos que todos são capazes de aprender e têm condições de adquirir as habilidades necessárias para viver no mundo de hoje. Também estamos conscientes de que na escola se adquirem outros conhecimentos, além dos conteúdos das várias disciplinas. São conteúdos igualmente importantes do nosso curso a convivência com outras pessoas, o trabalho coletivo, bem como oferecer a oportunidade de conhecer pessoas interessantes, envolver-se com elas, dar espaço para os afetos, fazer amigos. Preocupados com a formação integral - desenvolvimento das habilidades e competências relacionadas ao cognitivo, cultural e social de nossos alunos - o EJA Lourenço Castanho proporciona uma série de atividades extracurriculares, planejadas e desenvolvidas pelos professores. Além dos projetos realizados em sala de aula, procuramos também desenvolver o conhecimento, respeito e preservação dos ambientes naturais (estudos do meio para o PETAR, e Ilha do Cardoso); dos patrimônios históricos (estudos do meio para Santos/São Vicente e cidades históricas de Minas Gerais); dos patrimônios culturais da humanidade (concertos de música na Sala São Paulo/Teatro Municipal) e das manifestações culturais brasileiras e de outros países (visita a exposições, peças de teatro, museus e sala de cinema).

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