Revista de História Oral - EJA 2015

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História Oral da Educação no Brasil



INTRODUÇÃO Durante o primeiro semestre de 2015, os alunos da fase 7 da EJA da Escola Lourenço Castanho estudaram nas aulas de História um tipo de metodologia de pesquisa histórica denominada História Oral. Segundo um dos implementadores da História Oral no Brasil, esta consiste num “recurso moderno usado para elaboração, arquivamento e estudos de documentos referentes à vida social de pessoas. É sempre uma história do tempo presente”(MEIHY, 1996). A História Oral é realizada através de entrevistas, mas não qualquer entrevista, pois é preciso seguir um caminho (um método) de trabalho, que pressupõe a delimitação de um tema, a pesquisa prévia acerca desse tema, a elaboração de um roteiro de perguntas, o registro da entrevista seguido da transcrição da mesma e análise e, por fim, a produção de uma reflexão a partir do material coletado. A classe escolheu o seguinte tema de trabalho: “A História da Educação no Brasil”. A primeira etapa consistiu na pesquisa e no estudo do assunto. A classe analisou algumas leis existentes no Brasil a respeito da educação, como por exemplo a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em vigor no Brasil desde 20 de dezembro de 1996. Também foi feita uma pesquisa sobre dados históricos, por exemplo, a informação de que em 1900 65% da população brasileira era analfabeta, e que a educação foi iniciada no Brasil pelos jesuítas na sua missão de catequizar os índios, entre outros. A segunda etapa consistiu na escolha de um entrevistado. A entrevistada foi a professora das fases 1 e 2 da EJA, Regina Hara, que têm uma vasta experiência na área de ensino, além de ter completado a sua

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formação escolar integralmente no ensino público. Muito gentilmente a professora Regina se dispôs a ser entrevistada pela classe. A terceira etapa consistiu na elaboração de um roteiro de perguntas. A classe foi dividida em pequenos grupos, e cada grupo elaborou dez perguntas. Depois essas perguntas foram socializadas e a classe escolheu as 10 melhores perguntas entre todas as apresentadas, e estas foram fixadas como o roteiro a ser utilizado na entrevista de história oral. A entrevista aconteceu, os alunos fizeram as perguntas e a professora da classe se responsabilizou pelo registro audiovisual da atividade. A conversa foi muito proveitosa e os alunos se interessaram pelos temas levantados pela professora Regina, assim como se entusiasmaram com as experiências relatadas por ela. Além disso, eles mostraram um bom domínio da técnica da entrevista, pois souberam combinar o roteiro com os novos temas que apareciam, entabulando uma conversa proveitosa A próxima etapa consistiu na análise do material, na transcrição de uma parte da entrevista pelos alunos, tarefa trabalhosa e minuciosa, que exigiu muita atenção e cuidado da parte dos que a executaram. Depois, individualmente, os alunos produziram um texto que consistiu em uma reflexão sobre um ou mais temas levantados pela entrevistada. A escolha dos temas foi livre, de modo que os alunos discorreram sobre o que foi mais significativo e tocante para cada um deles. O resultado desse trabalho está registrado nas páginas desse livrinho e nos vídeos que poderão ser assistidos durante a Mostra Cultural. Esperamos que os interessados aprendam um pouco mais sobre a História da Educação no Brasil e sobre a metodologia da História Oral, da mesma forma que nós – alunos e professora – aprendemos ao longo de todo esse processo.

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ROTEIRO DE PERGUNTAS: 1. Qual era o meio de transporte utilizado para chegar à escola? As escolas eram distantes? 2. Antigamente os alunos recebiam material de boa qualidade? 3. A escola era aberta a todas as classes sociais? 4. Como era a relação entre professor e aluno? 5. Havia aula de educação religiosa? 6. Meninos e meninas estudavam juntos? 7. Havia castigos físicos? 8. Os alunos antigamente valorizavam a oportunidade de estudar? 9. A profissão de professor era valorizada? O salário era bom? 10. Quantas horas se estudava por dia? 11. Como era o método de ensino? Havia um professor para cada matéria?

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TRANSCRIÇÃO DE UM TRECHO DA ENTREVISTA COM A PROFESSORA REGINA Ozenir (aluna): A gente gostaria de saber como era a relação entre professor e aluno? Regina (professora): Hum humm. Tinha um respeito muito grande, tinha uma crença na família que a gente só...só progredia na vida se estudasse, então a escola era um valor, era uma coisa super importante ... Então a gente ia para escola partindo do princípio que a gente ia aprender e então os professores da aquela época de um modo geral, eram pessoas que escolhiam ser professores não eram professores porque não tinham nada (pausa) não conseguia ser outra coisa na vida e foi ser professor, a pessoa queria ser professor e então a primeira coisa era uma relação de muito respeito, todo mundo respeitava e os professores os professores respeitavam os alunos. Marcos (aluno): Era tipo pai... Regina: Era, era, eram pessoas muito importantes e como era uma relação de pai eles sabiam se a família estava passando por problemas, sabia que família tinha livros em casa, que família a mãe acompanhava e que a mãe não acompanhava... então a escola era um lugar muito importante e a palavra do professor era respeitada eu não me lembro na minha... até já bastante avançado que a gente questionasse o professor, desrespeitasse o professor, era sempre uma coisa de muito respeito. Marcos: Quantas horas que os alunos estudavam?

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Regina: Meu primário era o primário da miséria, eram três turnos e então nós só estudávamos três horas por dia. Tinha uma coisa que virou folclórica, virou história era o horário das 11:00 as 14:00 bem na hora do almoço ou então você almoçava antes das duas ou almoçava depois porque eram três turnos tiravam [uma hora] então não tinha escolas para todo mundo era uma correria infernal pras escolas e pros estudantes era um inferno porque entrava uma turma e saía uma(...)

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REFLEXÕES SOBRE O TEMA PRODUZIDAS PELOS ALUNOS APÓS A REALIZAÇÃO DA ENTREVISTA: ADELINA A professora Giuliana preparou uma aula para entrevistarmos a professora Regina. Para isso, elaboramos treze perguntas sobre como era a educação no Brasil. Todas as perguntas foram muito importantes. No dia 15 de abril ela foi entrevistada e nos respondeu às perguntas escritas e mais algumas. Ela é uma pessoa que sempre soube valorizar a educação e se lembra de quando começou a estudar. Uma das perguntas foi essa: “Os alunos antigamente valorizavam a oportunidade de estudar? ”. Ela nos respondeu, com muita satisfação, dizendo que, como o estudo não era para todos, os que estudavam o faziam com prazer. A escola tinha boa estrutura, bons materiais e professores qualificados que raramente faltavam. Perguntamos para a professora Regina se ela teve algum caso especial em que o aluno não desenvolveu o seu aprendizado. Ela é uma professora que tem muita experiência em sala de aula, uma vez que sempre trabalhou em cursos de EJA, em algumas escolas particulares e que, portanto, tem muito o que falar. Apesar de estar aposentada, ainda tem disponibilidade para dar aulas no EJA do Lourenço Castanho. Ela respondeu que todos aprendem, porque querer é poder e com esta resposta eu me sinto motivada de continuar a estudar.

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ERINALDO Foi convidada uma professora – Sra. Regina, para uma entrevista para falar sobre os estudos no tempo que ela frequentava a escola. Com muita facilidade ela nos trouxe uma grande quantidade de informações importantes. A classe preparou uma lista de perguntas, que ela respondeu com muita sabedoria. Vários pontos da entrevista me marcaram por causa das informações que eu não sabia. Por exemplo: gostei quando ela contou a história do homem que morava numa comunidade indígena no estado do Pará, onde ela foi fazer um trabalho educativo, e esse homem não sabia de nada e tinha que aprender para ensinar a seu povo. Ele aprendeu a ler em trinta dias. Outro ponto importante foi quando ela respondeu que grau de escolaridade não significa sinal de educação e respeito para com os outros. Ela deu exemplos falando que conheceu pessoas com muito estudo e bem grosseiras. Eu também não sabia que as meninas estudavam separadas dos meninos. Foi muito gratificante o que aprendi com ela e com toda a classe. Essa experiência vou levar para sempre. Foi uma entrevista muito construtiva, com muitas palavras de incentivo, e alertando que, quando uma pessoa quer aprender ela aprende e não há nada que impeça. Parabenizo a professora Regina e todos meus colegas da sala de aula pelo trabalho produzido.

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INES Foi entrevistada a professora Regina de Alfabetização de Jovens e Adultos. Foram elaboradas algumas perguntas para ela responder como, por exemplo, “como era o meio de transporte até a escola?”; “como era a relação entre aluno e professor?“; “meninos e meninas estudavam juntos?”; “existiam castigos físicos? “quantas horas se estudava por dia? ”, entre outras. A professora Regina nos contou que, antigamente, quando ela começou a estudar, meninos e meninas não estudavam juntos, eles eram separados por horários, meninas de manhã e meninos a tarde. E que os meninos costumavam chegar mais cedo só para ver as meninas jogando futebol na aula de educação física. Ela nos contou que, diferente do que acontece hoje em dia, antigamente os alunos valorizavam os estudos e respeitavam os professores. Os alunos estudavam apenas três horas por dia porque tinham poucas escolas e, como a demanda de alunos era alta, era preciso condensar o tempo de permanência na escola. Mesmo com pouco tempo de aula, valia a pena ir às aulas, porque os professores eram muito bons, ensinavam com muito amor. Hoje em dia não se vê professores em salas de aulas com tanto entusiasmo como antigamente, porque são mal remunerados e são desrespeitados pelos alunos. Por isso seria bom que os alunos tivessem o mesmo amor, carinho e respeito como antigamente pelos professores e principalmente que seus pais ensinassem seus filhos a respeitar os professores. Também é importante lembrar que a educação começa em casa e não é só da escola a responsabilidade de educar as crianças.

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LUCIENE Entrevistamos a professora Regina para saber como era a Educação no Brasil, antigamente. Ela foi para nossa sala e respondeu um questionário que nós tínhamos elaborado. Ela falou muito bem da educação no Brasil. Quem tinha chance de estudar, com certeza conseguia uma profissão melhor. Hoje em dia, a educação já não é tão boa como antigamente e, por isso, não é garantia de conseguir uma profissão melhor. Hoje em dia as pessoas têm mais chance de estudar, mas não valorizam e isso me deixa indignada porque eu, por exemplo, queria tanto ter uma profissão melhor, mas não consigo porque não terminei os estudos. No meu tempo estudar era difícil porque a escola ficava muito longe, tinha que ir para a cidade fazer o ginásio (a quinta série) e meus pais não tinham condições de custear o transporte. Eu ficava chateada porque eu queria concluir meus estudos, mas não tive chance de estudar na época que eu queria. Depois de muito tempo sem frequentar a escola, resolvi voltar a estudar, mas não tenho a mesma vontade que eu tinha quando eu era criança, porque agora eu tenho que trabalhar e estudar e isso é muito cansativo. Mas, mesmo assim, eu vou continuar e, quem sabe um dia, eu consigo uma profissão melhor. E realizo os meus sonhos.

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MARCOS Tivemos uma entrevista com a professora Regina sobre a importância do estudo, antigamente. Antes da entrevista nós fizemos um roteiro de perguntas sobre como era a escola no passado. Ela nos contou como os estudos foram importantes na vida dela e também nos contou que antigamente era muito difícil frequentar as escolas. Segundo ela, as escolas eram boas e organizadas. Os alunos respeitavam os professores, não tinham brigas no pátio, todos eram tratados bem e eles valorizavam os materiais, que naquela época eram caros. Hoje eu percebo que os jovens não querem estudar, pois eles não dão valor aos estudos. Eles não querem ser alguém na vida, ter uma vida digna, orgulhar os pais, eles só pensam em baladas, bebidas, namorar, ou seja, só se divertir. Quando acordam para a vida percebem ter perdido as oportunidades que bateram várias vezes na porta das casas deles. Então é tarde demais para chorar sobre o leite derramado. Hoje em dia, muitos jovens não sabem ler e nem escrever. Quando vão fazer uma entrevista de emprego, não sabem o que fazer e também não conseguem preencher uma ficha. Isso mostra o quanto a educação do Brasil está decaindo. A educação há trinta anos era totalmente diferente da de hoje. A Regina nos contou que antes, tudo era mais organizado, todos respeitavam uns aos outros. No entanto, não tinha vagas para todos, porque tinham poucas escolas e era muito difícil para estudar nelas. Elas queriam alunos estudiosos e que tivessem tempo para se dedicar aos estudos.

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Quando começou a universalização do ensino na década de noventa, as escolas abriram muitas vagas para aqueles que antigamente não conseguiriam ter a oportunidade de ir para escola. Mas as novas escolas não são boas como as do passado, não tem boa qualidade, boas estruturas, os professores são mal remunerados, etc. O Brasil está e sempre vai estar mal governado. Para ter um país melhor, temos que procurar nossos direitos. Mas para isso acontecer temos que estudar muito e temos que participar mais da política. Os governantes deveriam criar mais escolas, investir mais nas escolas e melhorar as condições de trabalho dos professores.

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MARIA OZENIR No dia 15/04 entrevistamos a professora Regina Hara, formada em Biologia, mas que atualmente exerce sua profissão na escola Lourenço Castanho com alfabetização de jovens e adultos. A professora Regina aceitou nosso pedido de entrevista para nós desenvolvermos um trabalho de história oral. E foram feitas várias perguntas, porém teve uma que me deixou pensativa, que era sobre educação religiosa. Ela nos explicou que antigamente tinha sim aulas de religião na escola, mas nem todos participavam, pois não era obrigatório. Porém, aquele que se recusasse era logo apontado pela sociedade como alguém de pouca fé. A igreja tem uma grade influencia na história do Brasil. O clero caminhou lado a lado com a história e após o descobrimento foram os jesuítas que implantaram a alfabetização e a educação religiosa. No início da trajetória eles realizaram a primeira missa no território nacional, catequisaram os Índios e fizeram muitas obras beneficiando a população brasileira. Seus princípios e valores eram doutrinar as pessoas para viverem em harmonia com o seu próximo e com si mesmas. Hoje em dia vivemos no estado laico onde há diversidade de religião e, por isso, na maioria das escolas não há matéria de teologia. Devido a esses afastamentos dos princípios religiosos as crianças e os jovens estão muito sem limites, não obedecem aos pais e tão pouco às autoridades. Com isso a violência só tende a crescer. É importante que nós comecemos a rever os valores e costumes para construirmos, no futuro, uma sociedade melhor e mais solidária.

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RENI No dia 15 de abril, a turma da fase 7 fez um trabalho sobre a educação no Brasil. Tínhamos que entrevistar alguém e a escolhida foi a professora Regina. Fizemos um roteiro de perguntas que foram devidamente respondidas com clareza e entusiasmo. A educação antigamente era para poucos, entrar em uma universidade era muito difícil. Segundo a professora Regina, da sua turma ela foi a única a fazer faculdade, pois havia poucas vagas e estas eram muito concorridas. A entrevista com a professora Regina me fez lembrar de quando eu era criança e comecei a estudar, e de como o aprendizado era diferente. Na minha época de criança o ensino era bem melhor. O aluno só passava de ano se soubesse mesmo e os professores exigiam bastante do aluno que, por sua vez, queria aprender. A minha base foi ótima, a minha professora dos primeiros anos de escola era excelente e o que sei hoje agradeço a ela. A educação no Brasil precisa melhorar, o aluno tem que voltar a gostar de ir à escola. Para isso, o governo deve investir nos professores, dando melhores condições de trabalho, melhor remuneração e mais capacitação para que os mesmos possam exercer a sua profissão com maior preparo e mais amor ao que fazem. Para que isso aconteça a sociedade deve cobrar dos governantes mais investimentos, inclusive em segurança, nas escolas.

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