Menção Honrosa 26º Opera Prima - Luana Kerber

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uma intervenção em três escalas

P Paiçandu u

Maringá Sarandi an n

Paraná

MORFOGÊNESE CENTRAL

arquitetura do interstício

1|8

Obedecendo os traçados do projeto urbano de Jorge de Macedo Vieira, de 1947, a cidade de Maringá – assim como as demais fundadas na região pela Companhia Melhoramentos do Norte do Paraná (CMNP) – foi desenhada a partir da ferrovia. A despeito de ter sido o mote de sua fundação, quando analisada a morfogênese de sua área central, constata-se que a ferrovia se impôs como uma barreira urbana desde sua implantação. Somente na década de 1990, entretanto, iniciam-se as obras de rebaixamento da via férrea na cidade; o antigo pátio de manobras – uma grande gleba junto ao centro – surge, neste momento, como uma nova área passível de ocupação. Ainda que se tenha encomendado nos anos 1980 um projeto de Oscar Niemeyer para a reconversão deste pátio, nunca buscou-se implementá-lo: a área foi reparcelada e, atendendo estritamente aos interesses da especulação imobiliária, elaboram-se para esta novos parâmetros de uso e ocupação que multiplicaram exponencialmente as possibilidades de construção. Constituiu-se, assim, o chamado “Novo Centro”. As áreas de espaços livres públicos que conseguiram remanescer neste processo foram paulatinamente transformadas em grandes estacionamentos. Enquanto isso, o Eixo Central de Maringá – que correspondia a uma perspectiva monumental no projeto de Macedo Viera –, permaneceu como um hiato entre essa nova centralidade ao norte e um fenômeno de verticalização deslocado para sua porção sul. 1977 1989 2000 2010 1977 1989 2000 2010

NN BARREIRA BARREIRA (Ferrovia) (Ferrovia)

BARREIRATRANSPOSTA TRANSPOSTA BARREIRA ENCLAVE BARREIRATRANSPOSTA TRANSPOSTA BARREIRA ENCLAVE (FerroviaRebaixada) Rebaixada) AntigoPátio Pátiode deManobras Manobras (Ferrovia (Rodovia) Antigo (Rodovia)

LIMITES(Bosques) (Bosques) LIMITES

ADENSAMENTO ADENSAMENTO

VERTICALIZAÇÃO VERTICALIZAÇÃO

PÓLOSDE DE PÓLOS CRESCIMENTO CRESCIMENTO

CENTRALIDADES CENTRALIDADES

HIPÓTESE DA CIDADE

CENÁRIO ATUAL

À medida em que as áreas disponíveis no Novo Centro se escasseiam, a pressão dos agentes imobiliários pela viabilização de outras frentes de especulação revela desdobramentos devastadores no perímetro do centro antigo. Por um lado, é fomentado o processo de degradação e demolição de estruturas importantes no desenho original, para serem substituídas por novos empreendimentos – além da antiga ferroviária, demoliu-se também, em 2010, da antiga rodoviária, que demarcava a porta de entrada da cidade e emoldurava seu cartão postal, a Catedral. Por outro, promove-se o abandono por completo do papel representativo e simbólico que o Centro ainda hoje desempenha: propõe-se a construção de um questionável “Novo Centro Cívico” que não apenas retira da área central as instituições públicas, como também, cria de um novo polo de atração em área distante, viabilizando novas áreas de interesse imobiliário e maximizando o lucro na venda do solo urbano. Dentro desse contexto, verifica-se na escala do aglomerado Maringá-Sarandi-Paiçandu a coincidência temporal entre a tendência à dispersão urbana e o processo de degradação e abandono do tecido do centro de Maringá. Frente a essa conjuntura, a HIPÓTESE DA CIDADE propõe uma alternativa à lógica vigente de construção da cidade: (1) que desconsidera o existente, elimina a história e constrói o novo a partir do vazio; (2) que promove uma arquitetura de extrema verticalização – que visa apenas a maximização dos lucros do mercado imobiliário e produz apartamentos cada vez menos ventilados e iluminados –, na qual os espaços condominiais visam substituir, em um contexto controlado, os espaços de sociabilização da rua e da cidade; (3) que prioriza a destinação dos espaços livres públicos aos veículos automotivos individuais, ampliando continuamente a velocidade de fluxo e áreas de chão público ocupadas por estacionamentos, constrangendo o pedestre em seu cotidiano e inviabilizando a eficiência de sistemas de transporte coletivos. Postula-se, assim, uma sequência de pontuais intervenções urbanas articuladas em rede, inseridas nos INTERSTÍCIOS DOS QUARTEIRÕES do eixo central. Por meio da reinterpretação de vazios e a ressignificação de espaços subutilizados almejou-se, promover um sistema percolação constituído por espaços de convivência voltados ao pedestre, articulados a galerias abertas e às edificações existente e propostas. Visa-se, nesse sentido, reinserir na dinâmica urbana edificações obsoletas e abandonadas que foram apartadas do convívio citadino no centro antigo, bem como multiplicar as interfaces entre o público e o privado e as possibilidades de encontro e sociabilização. A intervenção é proposta em três escalas: na escala do PLANO, revisam-se os parâmetros de uso e ocupação para os quarteirões do eixo central de Maringá a fim de readequar a densidade urbana e melhorar a ventilação e iluminação natural; na escala de PROJETO URBANO, uma Operação Urbana Consorciada articula um Terminal Intermodal a rede de espaços coletivos urbano-arquitetônicos e às praças públicas existentes, bem como define parâmetros mais detalhados para a intervenção nos quarteirões; por fim, na escala do PROJETO ARQUITETÔNICO, detalha-se um quarteirão multifuncional, que demonstra o que poderia vir a se repetir nas demais quadras abertas propostas. Considerando que a dispersão urbana e de a degradação do tecido central constituem-se como extremos do mesmo fenômeno, ao priorizar o transporte coletivo e o domínio do pedestre no centro, esta intervenção visa, em última instância, promover um reforço à cidade compacta na escala do aglomerado.

atual movimento centrífugo

cidade dispersa

perspectiva inserção da proposta no território

promover movimento centrípeto

cidade compacta


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