Livro

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O Teatro e a

Rua LUCAS DUTRA


Revisรฃo Lucas Dutra Capa Lucas Dutra Projeto Grรกfico Lucas Dutra


07 Introdução 09 Teatro não Convencional 10 Comédia D’el Arte 12 Conceito da rua

16 Grupo Galpão 18 A sua formação 21 Os anos heróicos 22 O reconhecimento 26 A expansão 31 Um grupo múltiplo e heterogêneho 37 Trinta anos de sucesso

Sumário

42 Companhia Royal De Luxe 44 Desfile de gigantes

52 Coletivo Teatral Sala Preta 54 De Barra Mansa para o mundo 60 O Nasce nasceu 64 Tomada urbana


Viva Baco, Viva Dionísio, Viva o Teatro de Rua

O teatro de rua, como o conhecemos hoje, é marcado por uma intenção explícita de criar encenações para serem apresentadas no espaço público, proporcionando assim que qualquer pessoa que se interesse tenha acesso à magia do teatro. Neste livro iremos falar um pouco sobre a história, ideia e todo o conceito que o teatro de rua traz consigo, assim como contaremos a história dos mais relevantes e incríveis grupos de teatro de rua do Brasil e do mundo, ressaltando sua importância sociocultural. Nosso objetivo com este projeto é mergulhar o leitor nesse universo, divulgar essa arte que muitas das vezes é desvalorizada. Fazer com que ele, ao terminar o livro, sinta vontade de apreciar uma peça em plena praça pública, portanto atenção senhoras e senhores, pois o espetáculo já vai começar. Boa leitura.


Teatro não

Convencional

A

Rua é o palco onde as personagens ganham vida, envolvida por uma plateia, repleta de diversidade humana que não revela divisões sociais, raciais ou religiosas. A origem do teatro de rua confunde-se com a própria história do homem, tendo como fonte primitiva os rituais tribais, onde o homem procurava dramatizar as experiências cotidianas. Outras fontes do teatro de rua podem ser consideradas, os ditirambos gregos, o culto ao deus Dionísio e os espectáculos religiosos da idade média, na Europa. A partir desse momento e mais adiante, com a Comédia Dell’Arte, o teatro livre de rua, passaram a ocupar as praças e feiras das cidades e lugarejos, levando ao povo sua mais antiga forma de expressão.


Teatro não Convencional

Comédia

Dell’ Arte A Comédia Dell’ Arte, um dos grandes contribuidores do que se chama de “teatro moderno” desenvolveu-se na Itália na segunda metade do século XVI e nos séculos seguintes se difundiu pela Europa. Era um teatro baseado na improvisação e no uso de máscaras e personagens estereotipados que não se preocupava com o conteúdo do texto, mas com aspectos como personagens com a perspectiva simétrica das falas, ter comicidade e possibilidades de mudanças ao longo das apresentações e danças e músicas. A dramaturgia nascia da representação dos atores, os mesmos tinham

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uma intensa preparação vocal, corporal e musical para fazerem personagens fixos, os quais interpretariam pelo resto da vida, porém com as mudanças que o improviso em cima de um roteiro causa. É um gênero antinaturalista, já que a busca consistia justamente em uma linguagem puramente teatral. Em sua fase mais difundida, as peça da Comédia Dell’ Arte eram formadas de três atos que eram ligados entre si por danças e cantos. A partir da Comédia Dell’ Arte constata-se uma das origens do teatro em espaços chamados não convencionais.

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Teatro não Convencional

Conceito da

Rua

As motivações para se optar pelo teatro de rua são as mais variadas, desde uma tentativa de levar o teatro às pessoas que não tem acesso ao fazer teatral convencional, até uma forma de teatro político, Amir Haddad fala que: “ao fazer teatro na rua, descobri uma possibilidade nova de plateia que eu não conhecia: a plateia heterogênea”. As pessoas que veem as peças pela cidade são pessoas das mais diversas faixas etárias, classes sociais e mentalidade, este é um dos fatores interessantes do teatro de rua, ele tem de ser criado de forma que trabalhe com sua variedade de público.

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O teatro de rua ocupa as áreas abertas fazendo delas seu espaço cênico. No entanto, esses lugares são dotados de significados, inscrevem parte da história da cidade, portanto, devem ser pensados em toda a sua amplitude para que possam ser bem utilizados. Ele, não esqueçamos, é uma interferência no espaço e ao interferir, ele re-significa o espaço, tornando-o propício a fruição. Apesar de ser uma forma normalmente menosprezada de teatro, pois as pessoas, até aquelas que nunca foram ao teatro, têm em mente o palco italiano, ou até por ser pensado também como uma forma de agitação

Nos dias atuais existem vários festivais de teatro de rua, assim como mostras e discussões sobre os trabalhos em todo o território nacional e internacional, e através deles estão sendo discutidas e criadas cada vez mais bibliografias e discussões sobre processos criativos de teatro de rua, o que é muito importante para tornálo uma arte menos discriminada e mais entendida por todos.

social, o teatro de rua acaba não sendo visto de forma correta e que abranja toda sua grandeza. Quando falamos de teatro de rua, estamos falamos de uma forma de descentralizar o teatro, levá-lo às mais distintas pessoas e lugares, estamos falando em humanizá-lo, de botar o ator em contato direto com o público, de ligar ator e público podendo transformá-los em uma coisa só, fazendo com que o espetáculo receba interferência, mas também entre na vida das pessoas. E nesses tempos em que tudo parece mais veloz, a rua mais agressiva e pela qual devamos passar rapidamente, o teatro pode se colocar como um elemento interruptor dessa agonia moderna, levando o passante a sonhar e a refletir sobre sua condição de sujeito histórico dentro da cidade. O teatro de rua no Brasil surgiu primeiramente

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Teatro não Convencional

Muitos grupos hoje em dia, ajudam a comunidade e “adotam” os espaços em que normalmente se apresentam, reformando e cuidando delocais antes abandonados, como o grupo Satyros que se instalouna Praça Roosevelt em São Paulo levando segurança e melhoria para a praça e seus moradores.

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como uma forma de voz contra a ditadura nos anos 80 logo após o regime militar, foi muito comparado ao Agit-prop e era claramente um teatro voltado para movimentos políticos, nos dias atuais ele possui uma postura mais estética e movimentos mais sociais. Podemos dizer então que o teatro de rua é uma forma extremamente expressiva e pouco valorizada, no nosso país, de levar cultura a pessoas que nem sempre tem acesso à ela, e de expor opiniões, sejam elas políticas ou não, à sociedade.

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Grupo

Galpão

O

Galpão se constitui como um grupo de atores que realiza o teatro de pesquisa. Durante sua trajetória sempre convidou diferentes diretores para as montagens. A linguagem de trabalho da trupe é resultado de uma série de encontros com Fernando Linares, Paulinho Polika, Eid Ribeiro, Gabriel Villela, Cacá Carvalho, Paulo José, Ulisses Cruz, Paulo de Moraes, Yara de Novaes, Jurij Alschitz e tantos outros. Os encontros com grupos e movimentos teatrais espalhados pelos quatro cantos do país também foram fundamentais para a formação do jeito de ser do Galpão. Desde a sua formação, a companhia sempre buscou as raízes do teatro popular e de rua. Hoje é um dos grupos que mais circula pelo país conseguindo chegar a todas as regiões do Brasil, além de ter se apresentado em diversos países da Europa, EUA, Canadá e América Latina.


Grupo Galpão

A sua

Formação

Teuda Bara, Eduardo Moreira, Wanda Fernandes e Antonio Edson se encontraram nas oficinas de teatro dos alemães Kurt Bildstein e George Froscher, do Teatro Livre de Munique. Um dia antes de iniciarem a montagem de “E a noiva não quer casar”, Teuda, Eduardo, Wanda e Fernando Linares decidiram, numa mesa de bar, organizar-se jurídica e estruturalmente como um grupo, a fim de desenvolver um trabalho de longo prazo e manter-se econômica e profissionalmente.

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Grupo Galpão

Os anos

Heróicos Período de muito trabalho e pouco dinheiro, condição que ameaçava constantemente a estabilidade do grupo e a perseverança em manter-se fazendo teatro e vivendo exclusivamente dele. Com a criação de “Ó pro cê vê na ponta do pé” e “A comédia da esposa muda”, o grupo ganhava Minas Gerais e começava a excursionar pelo Brasil, participando de festivais e atravessando fronteiras. A partir daí, o contato com outras companhias (nacionais e internacionais) despertou o desejo de digerir a própria realidade e se tornar seu representante.

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Em 1987, estreou “Foi por Amor”, que inaugurava ‘a série brasileira’, fase em que o Galpão se dedicou a realizar workshops e a estudar textos acerca da realidade brasileira. Nesse mesmo ano, o grupo intensificou as aulas de iniciação musical, acrobacia, improvisações, corpo e teatralização de objetos e adquiriu a “Esmeralda”, a velha Veraneio, que se tornaria nacionalmente conhecida, cinco anos mais tarde, com a montagem “Romeu e Julieta”.

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Grupo Galpão

O Reconhecimento A história do Grupo Galpão, até aqui, como definiram os próprios atores, “foi um processo lento, fervido em banho-maria, e cujos frutos só puderam ser colhidos depois de um intenso trabalho de semeadura e irrigação”. Com “Álbum de Família”, texto de Nelson Rodrigues, a colheita estava apenas começando. A montagem ampliava a presença do grupo no cenário nacional e os prêmios e críticas se multiplicavam. Em 1991, o diretor Gabriel Villela propôs ao grupo um trabalho comum, que teria, entre outros, o objetivo de explorar a “Veraneio” como elemento

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cenográfico central. Era uma forma de conferir contemporaneamente às antigas carroças das trupes mambembes e levar o espetáculo a todos os cantos do país. Após dois anos de pesquisas e workshops, o texto clássico de Shakespeare se encontrava com o épico do sertão e a narrativa de Guimarães Rosa. “Romeu e Julieta” se tornaria não apenas o maior sucesso de público e crítica das montagens do grupo, mas talvez de todo o teatro de rua do país. Em um artigo, Bárbara Heliodora, crítica teatral e estudiosa de Shakespeare, resumiu a importância da peça: “O ‘Romeu e Julieta’ de Villela e do Galpão é uma montagem definitiva”.

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Grupo Galpão

Ao atualizar o sentido da maior história de amor da literatura universal, o responsável pela concepção e direção - Gabriel Villela – junto com o Galpão transpõem a tragédia de dois jovens apaixonados para o contexto da cultura popular brasileira.

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Obtido o reconhecimento do grupo junto ao público e ao meio teatral e, ainda sob o impacto da perda de sua fundadora, Wanda Fernandes, falecida em acidente automobilístico, o Galpão retomara a parceria com Gabriel Vilella em “A Rua da Amargura”. O nome do espetáculo não apenas refletia os passos amargos da paixão de Cristo, mas o próprio estado emocional vivido pelo grupo durante todo o processo. Junto aos sucessivos prêmios, as excursões se multiplicavam e o imenso cenário e os vários baús entravam e saiam de caminhões que corriam todos os cantos do país e do exterior.

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Grupo Galpão

A

Expansão

Depois de dois anos viajando pelo Brasil e por países da Europa e América Latina com “Romeu e Julieta” e “A Rua da Amargura”, o Galpão resovlveu montar um novo espetáculo mesclando teatro, circo e música. Decidiu-se pelo encontro com Molière, tanto pela identificação com o seu caráter popular quanto pela impiedosa crítica à hipocrisia da sociedade contemporânea. Nascia “Um Molière Imaginário”, versão de “O Doente Imaginário”, última peça escrita pelo dramaturgo francês, que estreou na abertura do Festival Nacional de Teatro de Curitiba.

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A montagem acabou por reunir os três objetivos que sempre nortearam o grupo: uma linguagem teatral ampla, o resgate da cultura popular e a conquista de um público muito mais amplo do que somente aquele acostumado a frequentar as restritas casas de espetáculos. Concluída essa montagem, o grupo comemorou os quinze anos de trajetória, ampliando o espaço físico para abrigar novas atividades. Alugou o prédio de um antigo cinema desativado, na mesma rua onde se localizava sua sede, e ali instalava o Galpão Cine Horto, um centro cultu-

Depois de realizar o Festival de Teatro Internacional (FESTIN), em 1990 e 1992, o Galpão comandou a primeira versão do Festival Internacional de Teatro de Palco e Rua de Belo Horizonte (FIT), em 1994. O projeto se tornou um grande sucesso, mantendo-se até hoje, com periodicidade bienal, da Fundação Municipal de Cultura.

ral de criação, formação, pesquisa e intercâmbio, aberto aos artistas e à comunidade. Além disso, lançou o livro “Grupo Galpão, 15 anos de Risco e Rito”. A publicação, escrita por Carlos Antônio Leite Brandão, sob a coordenação de Eduardo Moreira, além de um importante registro, representa até hoje, a celebração da história vivida pelo grupo. Com direção de Cacá Carvalho, o Galpão montou “Partido”, uma livre adaptação da obra “O Visconde Partido ao Meio”, de Ítalo Calvino. A peça explorava o universo do autor, testando os limites entre o bem e o mal, com um jogo cênico todo articulado em torno das contradições. Os atores eram “partidos” em dois personagens e o palco italiano tradicional se convertia em labirinto, revelando-se como páginas de um livro. A montagem marcou os 17 anos de história do Grupo Galpão e seu encontro com o ator e diretor paraense.

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Grupo Galpão

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Grupo Galpão

Um grupo múltiplo e

Heterogênio

Na virada do século, o Galpão começava o ano com um convite para se apresentar no “Shakespeare’s Globe Theatre”, em Londres. “Romeu e Julieta” seria o primeiro espetáculo brasileiro a subir nesse palco para duas semanas de temporada. Os ingleses, amantes inveterados do teatro e, especialmente, de Shakespeare, lotavam todas as apresentações e o que até então soava como infidelidade, ficaria consagrado como um resgate da mais genuína herança popular do teatro do dramaturgo inglês. Foi também durante essa temporada, que o diretor Robert

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Lepage assistiu ao Galpão, e quatro anos mais tarde, convidaria a atriz Teuda Bara para fazer parte do seu espetáculo “K.À”, junto ao Circo du Soleil. No final do ano 2000, o grupo estreava “Um Trem Chamado Desejo”, com direção de Chico Pelúcio, música de Tim Rescala e dramaturgia de Luís Alberto de Abreu. A montagem tornou-se um retrato vivo da própria história e vivência da companhia mineira, ganhando os principais prêmios em Minas Gerais e São Paulo.

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Grupo Galpão

Já em 2001, o Galpão iniciava sua parceria com o ator e diretor Paulo José com a adaptação, para a televisão, do espetáculo “A Rua da Amargura”, no especial “A Paixão Segundo Ouro Preto”. No ano seguinte, completando vinte anos de atividades, o grupo apresentou o repertório de seus últimos cinco espetáculos em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, além de fazer uma longa turnê pelas capitais nordestinas. Em 2003, o Galpão lançou os diários de montagem de quatro de seus espetáculos – “Romeu e Julieta”, ”A Rua da Amargura”, “Um Molière Imaginário” e “Partido” -, que se propunham a realizar um relato do dia a dia

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O espetáculo, fiel ao humor crítico de Molière e à irreverência característica do Grupo Galpão, é temperado com o lirismo presente nos entreatos. Para obter esse equilíbrio, foi decisiva a contribuição da trilha sonora, que, variando da ópera ao bolero, era executada ao vivo pelos próprios atores. Fernando Muzzi compôs as canções e temas dos entreatos e, Ernani Maletta, os trechos operísticos, interpretados pelo casal de amantes.

dos ensaios e do processo de criação do grupo. Inspetor Geral”, de Nicolai Gógol, dirigido por Paulo José, mestre da “dramaturgia da palavra na boca do ator”. O espetáculo que apresentava uma crítica feroz à corrupção e aos maus costumes dos governantes da Rússia Imperial cumpriu temporadas nas principais capitais do país. No ano de 2005, o Galpão empreendeu três grandes turnês para regiões distantes do país, com pouco ou nenhum acesso às atividades e equipamentos culturais. O grupo viajou pelo Vale do Jequitinhonha (MG), centro-oeste e nordeste do país, levando espetáculos tanto para salas de teatro quanto para as ruas.

Ainda nesse ano, estreava o segundo espetáculo, com direção de Paulo José: “Um Homem é um Homem”, de Bertold Brecht. Mantendo o espírito fabular da obra, o grupo fez algumas adaptações, a fim de criar conexões mais diretas com a atualidade, assim como já havia acontecido com “O Inspetor Geral”. O espetáculo fez uma temporada de três semanas num circo armado, na área externa da Casa do Conde, em Belo Horizonte.

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Grupo Galpão

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Grupo Galpão

Trinta anos de

Sucesso

Após a tentativa frustrada de montar a ópera “Il pagliacci”, de Rugero Leoncavallo, com direção do suíço, Daniele Finzi Pasca, o Galpão decidiu fazer seu próximo espetáculo com direção interna. Começava assim uma série de workshops, nos quais integrantes do grupo dirigiam os próprios colegas de elenco, em cenas baseadas nos textos escolhidos pelos atores. As cenas foram apresentadas em uma mostra no Galpão Cine Horto (BH) e, as mais votadas pelo público, seriam a base para o desenvolvimento do próximo espetáculo. Com a escolha de “Till, a saga de um herói torto”, decidiu-se que o mais

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jovem integrante do grupo, o ator Júlio Maciel, seria o diretor. Concebido para a rua, o espetáculo estreou na Praça do Papa (BH) reunindo, em apenas três dias de apresentações, 18 mil pessoas. Grande sucesso de público e crítica, a montagem recebeu os principais prêmios do teatro mineiro. Em 2010, a montagem ganhou as estradas do país e além de percorrer as grandes capitais brasileiras, chegou também ao interior. No ano seguinte, “Till, a saga de um herói torto” se apresentava em espanhol, no Chile.

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Grupo Galpão

Três anos após a experiência com “Moscou”, Tchékhov voltou à pauta. Pela primeira vez, o elenco do Galpão se dividiu para realizar duas montagens diferentes, ambas dedicadas à obra do dramaturgo russo. O projeto “Viagem a Tchékhov” teve como primeiro fruto o espetáculo “Tio Vânia (aos que vierem depois de nós), dirigido por Yara de Novaes. Montado para o palco, com uma interpretação mais realista, o espetáculo sensibilizou plateias de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, se apresentando também no Teatro de Vascello, em Roma (Itália). O segundo espetáculo dedicado à Tchékhov, “Eclipse”, teve direção do russo Jurij Alschitz, segundo estrangeiro a dirigir o Galpão. O primeiro foi o argentino Fernando Linares.

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A peça. “Till, a Saga de um herói torto”, conta a história de Till, um anti-herói que vem ao mundo por causa de uma aposta entre Deus e o Demônio, numa Alemanha medieval repleta de velhacos e aproveitadores. O texto de Luís Alberto de Abreu, oferece uma ótima plataforma para os atores brincarem com personagens grotescos e situações cômicas bem ao estilo da comédia popular, resultando em um espetáculo com grande poder de comunicação

Após a montagem de dois espetáculos com textos de Tchékhov e adaptações de contos do autor russo para o cinema, o grupo se propôs a uma nova ousadia: levar para a rua o verso erudito de Luigi Pirandello, “Os Gigantes da Montanha”. A 21º montagem da companhia, que estreou em maio de 2013, celebrava o retorno da parceria com Gabriel Villela, que dirigiu também espetáculos marcantes do grupo, como “Romeu e Julieta” (1992) e “A Rua da Amargura” (1994). O espetáculo “Os Gigantes da Montanha” recebeu em 2013 o Prêmio ‘Melhores do Ano’, pelo Guia Folha de São Paulo, na categoria Melhor Estreia, e o Prêmio Questão de Crítica, na categoria Melhor Direção Musical – Trilha Sonora Original. Em 2014, levou o Prêmio Copasa Sinparc de Artes Cênicas, na categoria Maior Público e Melhor Figurino.

A fábula “Os Gigantes da Montanha” narra a chegada de uma companhia teatraldecadente a uma vila mágica, povoada por fantasmas e governada pelo Mago Cotrone. Escrita por Luigi Pirandello, a peça é uma alegoria sobre o valor do teatro e, por extensão, da poesia e da arte e sua capacidade de comunicação com o mundo moderno, cada vez mais pragmático e empenhado nos afazeres materiais.

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Grupo Galpão

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Companhia

Royal De Luxe

U

ma companhia composta por inventores, dublês, poetas e sucateiros, liderados por Jean-Luc Courcoult, Royal de Luxe é atualmente considerada a mais icônica, e quase mítica, companhia de teatro de rua - igualada ao Theatre du Soleil para o teatro convencional.

Tudo começou em 1979, em Aix-en-Provence, onde Jean-Luc Courcoult, Véronique Loève e Didier Gallot-Lavallée dirigida, com a ajuda de colegas atores e músicos, sua primeira produção “Cabo Horn”. Convencido de que era mais fácil atingir um público, indo do lado de fora, em vez de arrastand-los para uma sala, o show foi jogado nas ruas e em espaços públicos abertos. O trio não parou por aí, mas aumentou o poder de suas performances com uma nova produção em 1980, “Os Mistérios do freezer” e tomou o nome de Royal de Luxe, uma referência ao modelo de fita multi-track que eles usaram para escrever seus shows.


Companhia Royal De Luxe

Desfile de

Gigantes Em 1981 a companhia se mudou e se estabeleceram em Saint-Jean-du-Gard nas montanhas de Cévennes, onde eles criaram os espetáculos infantis “La Mallette Infernale” e “Croquenitule e Crolenotte”. Nos anos seguintes criaram novos espetáculos “La Bendición del paseo Mirabeau por el Papa e “Terror en el ascensor” (1981-1982); “El aparcamiento de zapatos” “Publicidad Urbana”, “La semifinal del Waterclash” e “El bidé cardiaco”. Os títulos escolhidos refletem a importancia da cultura urbana, dos objetos da vida moderna, e da afeição pelo irracional.

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Companhia Royal De Luxe

A companhia também se apresentava em praças, o espetáculo “Parfum d’Amnesium” (1985), mais conhecido sob o título “Roman Photo”. A empresa recebeu o prêmio Rail d’or no concur “Le théâtre entre en gare”, organizado pela SNCF (empresa ferrovias nacionais francesa) e do Ministério da Cultura francês. Shows foram realizadas em estações de trem francesas até 1986. Em 1985, a companhia realiza dois desfiles seguidos de muitos outros “La barcaza en los boulevards de Toulouse” e “La jaula de Hamburgo”.

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Companhia Royal De Luxe

A companhia desenvolveu um programa que se estende ao longo de três dias: o objetivo era ser capaz de contar uma história para toda uma cidade, adaptando-o para a cidade em questão. O conceito levou a várias produções, incluindo "El lago de Bracciano" (1984, Toulouse) e "Los grandes mamíferos o La increíble historia de amor entre un caballo y una barcaza" (1985, Toulouse); "El regreso de Roland (de Roncevaux)" e "emington District Corporation" foram criados para a feira de Nimes.

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A Royal De Luxe também estava explorando outros conceitos, como o show sem aviso prévio, também chamado de “Teatro Acidente”, criando os espetáculos como “El autobús asado”. Em 1987, a empresa produz “Desgarones” (Valladolid e Amesterdão), um ritual de matança de carros. O ano de 1987 provou ser um ano “trampolim” para a Royal Deluxe. Foi neste momento que eles começaram a desenvolver uma segunda versão do “Roman Photo”, e começaram uma nova turnê. A produção, baseada no estilo de teatro de praça, trouxe-os de volta para o estilo burlesco que possuiam no passado. Graças ao seu humor devastador e relevância social, tiveram grande sucesso, tanto nacional quanto internacionalmente.

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Companhia Royal De Luxe

Em 1998, a Royal de Luxe está de volta em solo europeu com uma série de shows baseados na África, concebidos para serem apresentados em grandes cidades. Uma nova linha de história, seguindo o modelo de shows anteriores (uma chegada e uma partida com dois dias de diferença), é apresentado ao público em um show chamado “Return From Africa”. Em 1998, eles se apresentam em três cidades francesas (Le Havre, Calais e Nantes), bem como em Antuérpia, Bélgica. O desfile acontece ao ritmo de quatro caixas de som enormes trazidas à vida por cinquenta e cinco músicos de Burkina Faso. A música proporciona um ar ainda mais místico e empolgante ao desfile que conta com as tradicionais e impressionantes marionetes gigantes.

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Sala Preta

cidade de Barra Mansa é o lar do Sala Preta, coletivo teatral que movimenta a produção cultural do município do sul do estado do Rio de Janeiro, e também de toda a região. Formado em 2009 por artistas que já trabalhavam com o teatro, o Sala Preta é fruto de uma “energia cósmica agregadora”, nas palavras do ator Danilo Nardelli, um de seus integrantes. Após cinco anos de existência, o coletivo continua firme em sua missão de estudar novas práticas e métodos do fazer teatral.


Coletivo Teatral Sala Preta

De Barra Mansa para o O Coletivo Teatral Sala Preta foi fundado em 11 de janeiro de 2009, em Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. No primeiro ano de atuação realizou temporadas em Barra Mansa/RJ, Volta Redonda/ RJ, na FLIP em Paraty/RJ, e participou do Festival de Teatro de Resende, Festival de Teatro da Criança em Volta Redonda/RJ e esteve na programação da Red Ecuatoriana de Festivales, nas cidades de Quito, Manta e Guayaquil, no Equador. Em maio, em parceria com o ECFA – Espaço Cultural Francisco de Assis França, de Volta Redonda, montou “Cantos de Euclides”.

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Mundo O espetáculo com mais de 50 atores e músicos que percorreu as ruas de Paraty na FLIP, contando a história de Euclides da Cunha. Este trabalho também foi apresentado em Cantagalo/RJ, na capital Rio de Janeiro, em Volta Redonda/RJ e em Barra Mansa/RJ. A continuidade dos estudos de rua deu origem ao “Nordeste de Gonzagão” apresentado até hoje nas ruas das cidades fluminenses e do exterior. Realizou ainda a Tomada Urbana – ato I, uma mostra de teatro de rua em Barra Mansa, em 2009.

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Coletivo Teatral Sala Preta

Baseado na técnica das ações físicas propostas pelo diretor italiano Eugênio Barba, no workshop em caráter de imersão “A Arte Secreta do Ator”, realizado em Brasília, em 2009. Com o objetivo de compartilhar os conhecimentos adquiridos neste encontro, o Sala Preta entra em um processo de imersão focado na técnica do ator. O processo de investigação realizado para o espetáculo “Devir” iniciou em janeiro de 2010.

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Em 2011 o Sala Preta promoveu a segunda edição do Projeto Nasce Uma Cidade com maior participação de artistas e grupos da cidade. Além de ter realizado a Temporada de Teatro de Rua Sala Preta 2011, no primeiro semestre em Volta Redonda, e apresentações em Piraí e Vassouras. Participou do XI Festival de Teatro de Resende. Ainda em 2011 estreou o espetáculo DEVIR, no SESC em Barra Mansa. Pela primeira vez o Sala Preta ocupa uma galeria de arte e expõe sua história em fotos e instalações artísticas na Estação das Artes em Barra Mansa.

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Coletivo Teatral Sala Preta

Em 2014, o Sala Preta continua com circulação de seus espetáculos de repertório: Muito Além do Jardim, Conto dos Continentes, Caminhadeira e Douradinho. Convidado pelo GACEMSS Volta Redonda, participa da Mostra PapaGoiaba, realizando a curadoria do projeto. O espetáculo Efêmera abriu a programação anual do PapaGoiaba. No Festival II Paraíba Cena Sul, em Paraíba do Sul foram apresentados os espetáculos Muito Além do Jardim e os Contos dos Continentes. “O Cascudo Douradinho” circulou pelo estados GO, MT, MS e SP, pelo Programa Energia Social da Odebrecht. O Sala Preta, e seus integrantes, foram contemplados pelo edital do governo federal, no Programa Mais Cultura nas Escolas, com projetos de residencia artística e ensino de teatro em escolas municipais de Barra Mansa.

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Em 2009, o grupo adaptou o livro Amiga Lata, Amigo Rio para o teatro, com composições de músicas originais, manipulação de bonecos, técnicas circenses e música ao vivo. No mesmo ano o peixinho viajou numa longa aventura até o Equador, integrando a Red Ecuatoriana de Festivales, nas cidades de Quito, Guayaquil, Chone e Manta.

O Projeto Nasce uma Cidade foi patrocinado pelo SESI Cultural, e desenvolvido com oficinas gratuitas para montagem do desfile cênico. Foram duas apresentações no mês outubro. Durante todo ano, realizou o Curso Sala Preta em sua própria sede, com duas turmas culminando nas montagens “Cenas do Absurdo’, apresentada no Tulhas do Café e “TransReal” apresentada na Rodoviária de Barra Mansa. Realizou a Tomada Urbana Ato VI no bairro Bom Pastor com oficinas gratuitas para a comunidade e apresentações artísticas. Em 2014 o Sala Preta recebeu ainda a Medalha Qualidade de Ouro oferecida pela FEBACLA e o Prêmio de Cultura RJ do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

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Coletivo Teatral Sala Preta

O Nasce

Nasceu

A cultura de patrimônio vem de um princípio do direito romano que está próxima ao conceito paterno, como diz Dominique Poulot, deve ser transmitido continuamente, um bem de herança transmitido de pais para filhos, como o principal atributo a ser reivindicado. Desta forma quem se responsabiliza pela paternidade da nação, da cidadania é o Estado. O Estado que diz o que deve ser transmitido para gerações futuras.

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Como forma de começar a despertar para a percepção de um patrimônio sem dicotomias entre material e imaterial, tangível ou intangível, móvel ou imóvel, o Projeto Nasce Uma Cidade discute sobre um conjunto, um complexo, uma unidade diversa e múltipla feita por partes vivas e mortas, existentes e inexistentes, visíveis e invisíveis, mas que são permanentes, pois são constituintes do valor identitário do barramansense.

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Coletivo Teatral Sala Preta

A arte de rua como invasão da silhueta urbana é uma forma de aprender a história ao mesmo tempo em que é revivida no espaço. Hoje há um forte movimento de idéias em redes colaborativas entre grupos e produtores para a promoção de uma cultura plural no Brasil.

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Este é um trabalho lento que propõe diluir a “ignorância” da população sobre o assunto. Realizar esta ação continuamente está sendo profícua e aos poucos vai deixando um legado que é muito mais do que ocupar espaços físicos, mas sim criar espaços de distensão, de compreensão e elevação do ser humano em níveis mais amplos de existência. Onde se pode perceber valores inerentes aos meros valores de mercado, e sim aos valores simbólicos. O “Nasce uma Cidade” foi inspirado pelo poema homônimo da mineira Lacyr Schettino, e exalta as belezas de Barra Mansa sem perder o compromisso histórico, revelando documentos, ocupando monumentos e reconstruindo a memória cultural da cidade.

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Coletivo Teatral Sala Preta

Tomada

Urbana

A “Tomada Urbana” surgiu para ocupar com teatro as ruas e locais sem equipamentos de exibição artística. Era outubro de 2009 e os artistas da Sala Preta, decidiram apresentar todo seu repertório. A ideia era concentrar toda a programação em uma só semana. O Coletivo ainda não tinha completado um ano de formação, e já tinha três espetáculos no repertório: “O Cascudo Douradinho”, “A Noiva de Gonzagão” e “Cantos de Euclides”. Naquela época, o ator e bonequeiro colombiano Edwar Tápia, fazia um intercâmbio com os

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atores barramansenses e também se apresentou com o espetáculo “Cortina do Céu”. Ali então aconteceu a primeira mostra internacional de teatro de rua de Barra Mansa e Região do Médio Paraíba Fluminense. A realização contínua deste projeto permitiu compreender a importância da troca de saberes e experiências entre agrupações artísticas de diversas localidades para a construção e consolidação do processo cultural barramansense e também da região onde está inserido o Coletivo Teatral Sala Preta.

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Coletivo Teatral Sala Preta

O ato de “TOMAR” a cidade é um claro posicionamento ideológico que se funda como declaração de direitos do cidadão sobre as normas do espaço público e de historização desse espaço. Expandir essa idéia é possível quando ao se pensar que “TOMAR” a silhueta da cidade é, de fato, propor algo que extrapola o ato de “levar o teatro às ruas”, é TOMAR a rua como matéria do próprio espetáculo.

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A ideia de “tomada” como invasão, não significa, necessariamente, uma atitude anárquica de rebeldia, mas uma interferência na lógica da cidade, uma intromissão ao uso cotidiano do espaço. Toda forma teatral que se realiza num centro urbano propõe uma “desordem” que interfere nos fluxos centrais estabelecidos. Estes fluxos formais, que organizam os conceitos e sentidos culturais da cidade, são objeto da intervenção dos discursos teatrais propostos por esta “tomada”. Essas noções da cidade concebidas por arquitetos, urbanistas e pelos próprios cidadãos são explodidas, “desorganizadas”, ainda que de forma provisória e fragmentada. “Desorganizar” essas noções de fluxos formatados e codificados por meio da linguagem teatral, é buscar a construção de novos lugares.

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1º edição novembro e 2015 . projeto gráfico por Lucas Dutra tipografias Gill Sans Std - Elsie Swash Caps - Baskerville MT Std papel de miolo couché brilho 150g/m² . papel de capa couché fosco impressão Bureau Rio . editora Independente . Rio de Janeiro RJ


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