Alma Ópera Rock: do início ao fim

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LUCAS DE MELO BONEZ (org.)

ALMA ÓPERA ROCK: DO INÍCIO AO FIM


Produzido por Boaventura Editora Revisão, Capa e Diagramação por Lucas de Melo Bonez


SUMÁRIO Apresentação | Guadalupe Casal Uma ideia de projeto e de criação | Lucas de Melo Bonez Intensidade | Isadora Viegas Meus 6 anos de Alma | Henrique Garcia Relatos de uma cafetina | Natália Galvão dos Santos Uma história na Ópera Rock | Bruna Plentz A Sucessão das Máscaras | Vinícius Fratin Um encontro às escuras | Ana Luísa Neukirchen Mesquita Minha experiência teatral na Alma Ópera Rock | Débora Sant’Anna de Oliveira Um ponto de vista da plateia | Bruna Von Borowsky Mendonça Quando criador e criatura se encontram | Douglas Marques

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Apresentação | Guadalupe Casal A cidade de Porto Alegre é reconhecida em território nacional pelo teatro realizado por seus diversos e diferentes grupos. No que diz respeito ao teatro estudantil podemos afirmar que o grupo Alma Ópera Rock é um dos maiores, quiçá o maior coletivo que une o fazer teatral à linguagem musical do Heavy metal num casamento mais que harmonioso. Nesses 10 anos de trajetória, o trabalho do grupo liderado pelo professor Lucas de Melo Bonez se revelou como um potente instrumento no exercício artístico, mas não somente isso. A linguagem teatral aliada à ópera é também parte da formação de sujeitos sensíveis e autônomos, que por meio da prática artística coletiva dão vazão aos anseios das novas gerações. Com nove espetáculos encenados e tendo acolhido centenas de jovens no decorrer dessa década, a Alma


Ópera Rock se consolida como um marco no teatro estudantil gaúcho. Este livro retrata parte das experiências vividas através de relatos de pessoas que fizeram parte dessa história. Um emocionante registro que não deixa margem a dúvidas sobre a importância do fazer artístico na formação de jovens.




Uma ideia de projeto e de criação | Lucas de Melo Bonez Começar a Alma Ópera Rock não foi exatamente uma missão complexa. Em verdade, alguns anos antes a ideia do projeto já passeava pelos corredores do Instituto Santa Luzia, primeiro espaço e primeiro fomentador. Como professor de Língua Portuguesa e Literatura, tentei mediar um pouco do que o teatro foi para mim, a experiência que também tive em colégio, como forma de transpor arte e educação. No ano de 2009, uma enérgica, dócil e amorosa turma de Ensino Médio me provocou criações. Então na 2ª série, após um ano de adaptações ao novo nível de estudos e de vivências, solicitei a eles um trabalho novo, ainda não feito na minha carreira ainda incipiente: montar o que chamei de Túnel literário. A ideia era literalmente isso:


produzir um túnel em que as pessoas convidadas se sentissem dentro da história que os estudantes contariam. À época, baseamos a narrativa num livro lido em sala de aula, mesclando elementos de contos que todas as pessoas pudessem conhecer. Assim, mesclamos as partes “contáveis” de Canibais, de David Coimbra, com elementos de contos de fadas e infantis. Ao apresentar o teatro, que foi para as crianças do Ensino Fundamental I, a repercussão foi extremamente positiva: elogios das crianças, de professores, da coordenação, de pais que acompanharam o projeto, tanto dos participantes quanto dos espectadores. Isso permitiu com que a evolução seguisse, com novos trabalhos que fomentassem a interação com o público, que facilitassem o acesso a novos conhecimentos, tanto cognitivos quanto psicossociais. Após mais um ano de caminhada, muitas provocações e várias alegrias, a triste realidade: meus estudantes se formariam e


não teríamos mais aquele grupo para executar tais trabalhos. À época ainda não se pensava em evoluir tais atividades para outras turmas, pois o processo todo foi criado com o propósito de promover os conhecimentos daquela turma de formandos. No mesmo ano, já havia saído uma experiência com a turma vindoura, um novo Túnel literário, mas já adaptado para aquela realidade. De fato, o pessoal questionava em sala: “E agora? Vamos nos formar e não teremos mais como nos unir e montar essas apresentações.” Para alguns, claro, era um alívio. Por outro lado, muitos mantinham o desejo de estarem unidos, aproveitando mais tempo juntos. A escola era a referência física daquele sentimento. Os trabalhos realizados eram o caminho para se tratarem em conjunto e buscarem essa união. Então, num final de semana, após uma reflexão constante e muita conversa, unindo gostos pessoais ao que eles


propuseram, nasceu a ideia: “vamos fazer uma ópera rock”. Após este preâmbulo, justificou-se a existência de um projeto desses dentro de uma escola: era altamente pedagógico, devido ao trabalho de leitura, de escrita, de criação (personagens, espaço, figurino); era um facilitador para questões psicológicas, como relativas à aceitação por grupo, para evadir a timidez, pela sensação de pertencimento; era uma forma de expor todo o trabalho desenvolvido dentro de escola para um público externo, algo que as escolas, naquele momento, não evocavam com grande entusiasmo. O Santa Luzia comprou a ideia e pudemos organizar um trabalho inovador. Não repassarei ano a ano o que foi desenvolvido por nós. Apenas direi que o primeiro ano de trabalhos foi de intensa proximidade: estudantes de todas as séries do Ensino Médio e ex-alunos atuando juntos para montar uma peça musical nunca executada dentro da escola. Uma adaptação


de Moulin Rouge, com dois cantores e cerca de vinte estudantes no palco: quem poderia acreditar que daria certo? O sucesso daquela apresentação também se deu pela proposta do momento: pegar todas as falas do filme de Baz Luhrmann, reescrevê-las e adaptar ao contexto escolar. Com minha orientação e finalização, os estudantes que se comprometeram com esta parte do processo o executaram com maestria. Por mais que não fosse a tarefa de criação mais complexa que poderia existir, era a primeira que tínhamos em mãos. Assim, a conquista e a finalização desse momento renderam o trabalho de toda a peça. O resultado disso foi que, no ano posterior, aprofundamos estudos sobre a execução do projeto. Com auxílio da Teté Furtado, houve a criação de um nome para o grupo: dentre quase trinta alternativas, optou-se pela Alma Ópera Rock, pois a palavra alma remetia ao que colocávamos naquele projeto. Eram horas de criação, de


trabalho, de tempo, enfim. Ainda por cima com baixa ou nenhuma remuneração, montamos a estrutura necessária para a caminhada que iria dali até os últimos momentos do grupo: a união com profissionais que colaborassem ainda mais com os estudantes, a fim de aprofundar noções de canto, de dança e do próprio teatro para eles. Isso também trouxe uma mudança no modelo de criação: se inicialmente fizemos uma adaptação de um filme, trazendo à realidade escolar (de forma a rebaixar a classificação indicativa, digamos assim, para que toda criança e todo adolescente pudessem ver), depois fomos em busca da essência do nome, ópera rock, e buscamos álbuns que contassem histórias, para que pudéssemos reinterpretá-las. Então, no ano de 2012, montamos uma peça que se baseava em duas narrativas: o texto Reino das Névoas, da escritora paulista Camila Fernandes, e as músicas do álbum Imaginaerum, da banda


finlandesa Nightwish. Assim, aproveitamos diversos elementos presentes no conto para montagem do cenário, do figurino, das ações da nossa narrativa em si, usufruindo das músicas como propulsores das ideias de cada cena e de cada coreografia envolvida. Essa ideia deu tão certo que novamente a realizamos no ano posterior. Com A tempestade, texto original de William Shakespeare, unindo ao álbum Aqua, da banda brasileira Angra, adaptamos o texto para uma linguagem menos formal (mas não tanto), também usando as músicas para enfatizar cenas e coreografias presentes. Neste momento, Maíra Prates, que trabalharia os próximos cinco anos comigo, fez as coreografias ao lado de sua irmã, Mainô, que retornaria no ano posterior para elaborar as que compuseram As cores da escuridão, em substituição à Tatiana Mielczarski, que


necessitou sair de nosso grupo devido à sua gravidez1. De fato, trabalhar com a união entre textos já montados e álbuns musicais foi um caminho bem aceito para tal execução. No entanto, no decorrer dos anos o questionamento sempre foi por buscarmos a criação de peças próprias, principalmente incentivada pela Maíra, que já era minha diretora teatral. Com os resultados de 2012 e 2013, para o ano posterior buscaríamos, então, a forma de trabalho que nos acompanhou até 2017, sempre com resultados positivos para o grupo e para o público: a partir de uma temática selecionada pelo grupo e um álbum musical enviado por mim, faríamos a união das ideias e montaríamos a peça para o ano. De todas as peças montadas, creio que em As cores da escuridão conseguimos tornar Todas as coreógrafas do grupo realizaram textos para o livro Alma Ópera Rock: os primeiros cinco anos, lançado em 2016. Lá é possível encontrar mais informações sobre 1

todas.


esse ideal mais claro e objetivo. Tínhamos um grupo de trabalho para a montagem do roteiro, que se encontrava semanalmente e avaliava novas escritas. Eram seis pessoas que discutiam, traziam elementos de peças, filmes, vídeos, documentários sobre um tema específico (na época, a esquizofrenia, sugerido pela Natália Wingen, que fazia parte do elenco desde 2011) e partia para a ação. Na época, minha sugestão musical foi pelo álbum Colours in the dark, da cantora Tarja Turunen. Assim, analisamos as letras, vimos a possibilidade de falar de vozes distantes, questões nebulosas, ansiedades e dores. Sugeri que tivéssemos a análise de um personagem, alguém que sofreu uma perda, para buscar a relação com as letras. Então veio a ideia: que este personagem houvesse perdido a mulher numa guerra e que criar o filho sempre fosse uma tentativa frustrada de superar um trauma. Por outro lado, o foco da narrativa seria o filho, que sofreria de esquizofrenia, despertada pela ausência da


mãe e negligência do pai. A música Mystique Voyage contava com três línguas diferentes (inglês, espanhol e finlandês) e supomos que cada uma representaria as vozes que nosso protagonista, Hugo, ouviria para falar com desprezo de sua vida. Aos poucos, unimos as músicas com propostas para a narrativa (uma festa com drogas, o pai que não entende o filho, os momentos de solidão, um assassinato irresponsável, entre outros) e organizamos um texto que pudesse contá-la: Sérgio, o pai, frequentaria a contragosto uma clínica psiquiátrica e contaria seus últimos momentos ao lado do filho, a ponto de tentar entender não apenas a sua situação, mas a que o filho se encontrava antes do suicídio. A peça foi apresentada em festivais estudantis de teatro, inclusive sendo indicada para seis categorias, dentre as quais de melhor peça. Recebemos nossa primeira premiação, mas o fato de ter sido lembrada para praticamente todas as categorias em meio a apresentações qualificadas, mas que traziam o


que era mais comum a ser vislumbrado em concursos como esses, foi uma grande vitória. Não tínhamos a mesma linguagem de outros grupos, talvez como um outsider deste meio, representado até com ironia, como feito por uma companhia teatral de Viamão (RS). Havíamos rompido com o mainstream naquele momento. Da mesma forma, surgiram as demais peças: Sleepwalking ou a noite em que adormecemos juntos, relacionada ao álbum The mistery of time, do Avantasia; Noite neon, que foi uma experiência única de privilegiar uma artista e montar a peça à medida que cada cena fosse criada – um total projeto de experimentação, relacionando as músicas da artista Floor Jansen com a proposta de enredo; A fortaleza, que buscou relacionar elementos históricos, com suas devidas licenças poéticas, da Europa do século XI com o álbum King of kings, da banda Leave’s Eyes; Navegando em ondas negras, que trouxe um manifesto pela


dificuldade de fazer teatro unido a músicas da banda gaúcha Hangar; e, por fim, Sofia Lancaster e a incrível intolerância humana, cujo processo de construção foi muito parecido com As cores da escuridão, mas envolvendo todo o elenco na montagem do texto e da peça, relacionados com músicas da banda holandesa Delain. Em 2019, tentei resgatar o processo criativo de outros anos. A partir do álbum Temple of shadows, do Angra, a ideia foi remontar a história do Caçador das Sombras, mas sob a perspectiva do fã, do leitor do álbum, baseado em quem tentou interpretar as ideias da trupe do Rafael Bittencourt, somado às ideias perpetradas em cada música. O trabalho não chegou a ir ao palco, mas o texto ficou pronto e disponível como exemplo do processo criativo. Um trabalho que iniciou como uma perspectiva pedagógica e evoluiu para os palcos dos festivais. Um processo criativo que começou como um adaptador de histórias e se


tornou um criador de novas perspectivas. O legado que esse tipo de criação deixa, no entanto, talvez não seja revisitado tão cedo, mas é claro: sempre existe a possibilidade de evoluir um trabalho, caso as mentes pensantes sejam coletivas e colaborativas. A arte, em sua existência, vem para provocar as pessoas à reflexão sobre sua própria existência, o que a Alma Ópera Rock buscou desde seu princípio, fosse com seus integrantes, fosse com seu público. Criar um trabalho desses não foi apenas motivo de orgulho, mas também a oportunidade de mostrar que a vida está para além de nossos olhos e que podemos crescer e evoluir por meio de um trabalho sério e que realmente prime pela reflexão de cada um de nós.



Intensidade | Isadora Viegas2 Na oitava série, ouvi falar sobre um grupo de teatro da escola. Uma colega na época comentou sobre e fiquei bastante interessada. Apesar de não termos idade suficiente para participar, fomos à reunião inicial mesmo assim, conversamos com o Lucas sobre a possibilidade e acabamos por fazer parte da peça "A Tempestade", em 2013. Desde o primeiro encontro percebi que era um grupo muito unido, formado por pessoas muito diferentes, mas que tinham só um objetivo: fazer dar certo. Aquilo me encantou. Sempre gostei de coisas ligadas à arte e trazia comigo uma vontade enorme de expressar isso; no Alma encontrei uma oportunidade de fazê-lo. 2

Isadora Viegas é graduanda em Biomedicina. Fiz parte do grupo de 2013 a 2015, atuando em quatro peças: A Tempestade, As Cores da Escuridão, Sleepwalking: a noite em que adormecemos juntos e Noite Neon.


As aulas e os ensaios eram cansativos pra alguém que nunca tinha lidado com nada parecido, mas era um sentimento libertador. Era quando eu podia me sentir à vontade e, vendo todos se esforçando, quando eu ia deixando de lado a timidez. Participei de quatro peças e todas foram únicas, cada uma tinha suas particularidades e eram novos desafios pra mim. Acredito que eu não tenha uma favorita; por isso, independente do papel que eu assumia, todas tinham algo pra me ensinar. Os enredos e as músicas eram ótimos, coreografar ambos era sempre um sentimento bom, mas o que mais me encantava era a paixão de alguns colegas. O jeito de levar o Alma, mesmo sendo amador, a sério. Dedicar-se a algo que não nos rendia financeiramente, mas que nos fazia crescer como pessoas. Além disso, o que sempre me fazia continuar era a sensação de estar na coxia antes de a peça começar, tudo valia a pena pra sentir aquilo. A adrenalina, a ansiedade, o medo, mas a certeza de que ia ser


incrível. Saber que tinha o tempo cronometrado entre uma cena e outra, que precisávamos trocar o figurino, conferir o roteiro, ajudar os colegas, aquela correria era perfeita. Eu amava. Conforme os anos iam passando, eu sabia que as pessoas iam deixando o grupo porque iam tendo outras prioridades na vida, é normal. As pessoas que entravam nem sempre tinham essa mesma paixão, nem sempre encaravam com seriedade, e confesso que isso foi me desmotivando. Sempre fui muito perfeccionista e "chata" pra algumas coisas, procurava dar o meu melhor mesmo nos ensaios e me sentia mal quando não via isso nos outros. No final do segundo ano do Ensino Médio, acabei sentindo que deveria dedicar mais tempo a outras coisas, focar no ENEM e no vestibular. Somando isso, decidi deixar o grupo, porque não sentia a mesma afinidade como no início, porque essa paixão que eu enxergava nos outros ia se tornando mais escassa.


O Alma teve um papel muito importante pra mim, foi um grande auxílio pra perder a timidez, conseguir me comunicar e trabalhar minha criatividade. Vou levar pra sempre comigo os momentos bons que compartilhei com cada um e sou muito grata ao grupo pelos sentimentos que descobri enquanto fazia parte dele; vi aflorar em mim a vontade e a dedicação para com as coisas que eu admiro e isso eu não vou desaprender nunca. Obrigada.


Meus 6 anos de Alma | Henrique Garcia3 Em 2013, no Instituto Santa Luzia, escola onde eu estudava, fiquei sabendo em uma aula da existência de um grupo de teatro. No momento fiquei muito interessado, porém neste ano não teria condições de participar, mas fiquei com muita vontade. Eu era muito tímido, reservado, sempre preferi ficar no meu canto, fazendo as coisas que já conheço e tinha medo do que os outros poderiam pensar das minhas atitudes. Em 2014 decidi que iria sair da minha zona de conforto e me permitir viver novas experiências. Logo no primeiro dia tive que improvisar. Não lembro se foi uma boa improvisação, só sei que foi uma experiência muito legal e vi que realmente queria estar ali. Henrique Garcia é técnico em Informática. Esteve na Alma Ópera Rock de 2014 a 2019, permeando as diversas áreas de trabalho. Atuou em diversas peças, dentre as quais As cores da escuridão, Sleepwalking: a noite em que adormecemos juntos e Sofia Lancaster e a 3

incrível intolerância humana.


Era um tanto quanto assustador ver todas as atividades, mas ao mesmo tempo sempre foi incrível a forma como os professores conseguiam conduzir a atividade de maneira que sempre desse certo. “As cores da Escuridão”, a primeira peça que faço parte e logo de cara fui o protagonista. Logo eu, o garoto tímido que não conseguia falar muitas palavras na frente de algumas pessoas. Mas ali estava o meu desafio e sei que acreditaram em mim. Eles sabiam que eu poderia e conseguiria fazer o que fosse preciso. Foi então que conheci o Hugo, ou talvez deixei uma parte minha conhecer o personagem. Intensidade! Se eu precisasse descrever tudo o que vivi naquele ano, essa seria a palavra. Os exercícios, as convivências, as experiências, tudo foi muito intenso e me despertou uma paixão enorme pelo Teatro. Dentro daquela sala eu sabia que não me julgariam, que acreditariam em mim, que se eu fosse cair alguém estaria lá para me ajudar.


Um dos momentos muito marcantes foi um dos acantonamentos que fizemos. Todas aquelas pessoas reunidas, conversando, jogando, cantando, rindo, tudo isso fez com que eu me sentisse muito mais dentro do grupo. O tempo foi passando, a apresentação chegando, os ensaios aumentando e tudo seguia muito intenso. Daquele ano levei para a vida muita coisa boa: músicas da peça, conhecimento, pessoal que convivo até hoje. Criei um vínculo muito grande com a Maíra, a nossa professora. Eu a considerava como uma mãe, sempre sabia o que dizer, o que fazer e abraçava de verdade. A relação entre os integrantes sempre foi algo que me atraía e me motivava a continuar no projeto. Tudo isso somado, fez com que nas apresentações eu sentisse uma sensação muito boa. Aquele frio na barriga do nervosismo, que pouco tempo depois se transforma em um enorme calor, não só porque a luz é muito forte, mas também por toda a felicidade em terminar a


apresentação, ter aquele sentimento de dever cumprido, olhar no olho de cada uma das pessoas que foram nos prestigiar e ver que de alguma maneira tocamos a vida daquela pessoa, por menor que tenha sido. O ano de 2015 foi de muitos desafios. Começamos com “Sleepwalking: a noite em que adormecemos juntos”, uma peça que tratava de um tema pelo qual sou fascinado: a viagem no tempo. Neste ano vivi vários momentos marcantes e muita coisa mudou na minha vida. Dentro do Alma, um dos momentos marcantes também foi a audição. Lembro o quão fiquei feliz ao realizar a criação de uma cena juntamente à minha colega Isadora. Até aquele momento era apenas uma proposta, mas após terminarmos de apresentar para os professores, eles não tiveram o que comentar. Saímos da sala realizados e sabendo que conseguiríamos os papeis que queríamos, pois conseguimos fazer o que queríamos e da melhor maneira possível. Um dos objetivos do Alma era poder


proporcionar para os participantes a chance de participarem de grande parte dos processos de criação de uma peça. Ajudávamos na criação do roteiro, na construção de figurino, de cena até chegarmos a um final. Dentro desse processo, ainda íamos para festivais, o que sem dúvida me trouxe várias experiências boas. Pessoalmente estava passando por problemas e em alguns momentos pensando em desistir do projeto. Até que, certo dia, estava indo dormir, quando olhei meu celular e tinha recebido algumas mensagens. Era o sor Lucas me convidando para fazer parte da outra turma do Alma. Sim, nesse ano teve duas turmas e, faltando pouco mais de três meses para a apresentação, ingressei nesta para fazer uma participação, mas uma participação muito desafiadora que me fez viver um ritmo mais intenso. A “Noite Neon" me proporcionou viver uma construção cênica diferente, coreografias mais intensas, um tema mais pesado. Foi então que entendi


e decidi que eu queria continuar fazendo Teatro, eu queria ser ator. Fiz minha inscrição no vestibular da UFRGS para tal curso e o dia da prova específica seria no mesmo dia da estreia da “Noite Neon”, porém, não consegui fazer a prova e fiquei muito chateado. Saí do Departamento de Artes Dramáticas e fui para a Casa de Cultura Mario Quintana, onde os meus colegas já estavam se preparando para a apresentação. Não estava no clima, tinha perdido a vontade de fazer a peça e estava ali só por estar, até o momento que parei, olhei para cada um dos meus colegas e lembrei da primeira vez que eu me apresentei. Aquele dia seria a primeira vez deles, não seria justo da minha parte eu estar ali sem vontade, eu estaria sendo muito egoísta. Deixei de lado a frustração que senti e fiz de tudo para que aquele momento fosse bom para eles, para quem estava assistindo, então assim também seria bom para mim. Não tenho certeza se foi nessa apresentação que a Maíra nos disse, mas em algum dia ela falou algo assim: “Aqui


nessa plateia vai ter gente que está vindo pela primeira vez em um Teatro, assim como essa será a última vez que alguma dessas pessoas vai assistir uma peça. Nós temos a obrigação de fazer dessa peça a melhor peça que eles vão assistir." De um grupo de Teatro onde entrei com o objetivo de perder a timidez, descobri uma paixão. Segui no grupo em 2016, na peça “A Fortaleza"; em 2017 passamos por dificuldades, mas ainda sim continuamos. Fizemos a mostra de trabalho “Navegando em Ondas Negras" e a peça “Sofia Lancaster e a incrível intolerância humana". Infelizmente, em 2018 e 2019 não conseguimos manter os trabalhos de uma maneira que chegássemos no produto. Como a rotina estava corrida no ano de 2019 e eu também estava envolvido em outros projetos de Teatro, acabei saindo do Alma, pois senti que o processo não estava agradável e também não estava evoluindo. Por estar buscando algo mais profissional, não podia mais investir meu tempo em algo


que naquele momento só estava me desgastando. Sou muito grato por toda a vivência que o Alma me proporcionou. Até hoje convivo com pessoas que conheci em 2014, quando entrei no grupo. Até hoje lembro de momentos marcantes, lembro de como o grupo foi essencial no meu desenvolvimento pessoal. Olhando para os meus objetivos de quando entrei no projeto. Comparando com a maneira com que me encontro hoje, posso afirmar com certeza de que tudo que eu queria foi realizado. Mudei completamente durante cada dia que que passei no projeto e fico muito feliz por ter mudado para melhor. Sinto falta de vários momentos, porém sei que não tenho como revivê-los, mas lembrarei com muito carinho de tudo que passei ao longo desses quase seis anos. De vez em quando, vou assistir aos DVDs, ler os recadinhos que o sor Lucas escrevia e nos dava junto com uma das fotos do espetáculo. Provavelmente vão escorrer algumas lágrimas de saudade e


felicidade e vou lembrar de como fui feliz no projeto. Quem sabe não nos encontramos por aí, nas brechas do tempo. Enquanto meu tempo não vem, a vida passa lá fora, e talvez, quem sabe, você ache uma das 500 cartas que escrevi. Cartas que contavam muitas histórias, mundos mágicos com reis e castelos, ou aquela com muitas emoções em um bar. Se por um acaso, em meio a uma dessas cartas estejamos passando por momentos de dificuldade, não tem problema, somos fortes, navegaremos pelas ondas mais perigosas de todos os oceanos, enfrentaremos cada gota de preconceito. Afinal, somos o que somamos: SOMOS TODOS ALMA!



Relatos de uma cafetina | Natália Galvão dos Santos4 Sempre gostei de toda a forma de representação artística. Quando entrei para o Ensino Médio precisei optar, na escola em que estudava, entre as disciplinas de Educação Artística e Teatro. Optei por Artes. Fui feliz, mas sempre fiquei com aquele gostinho de "quero mais" e a dúvida se não deveria ter optado por teatro, vendo meus amigos aprendendo e se desenvolvendo tanto, mas hoje vejo que fiz a escolha correta. Destino ou coincidência (chame como quiser), ao finalizar este ciclo escolar, meu exprofessor de Literatura e Português, Lucas Bonez, que também considerava como bom amigo, comentou sua vontade de criar um grupo de ópera rock. E não seria a melhor escolha no melhor momento?! Topei na Natália Galvão dos Santos é arquiteta e esteve presente no trabalho fundador da Alma Ópera Rock, o projeto Moulin Rouge. 4


mesma hora. Como seria? Ninguém sabia ainda, mas só a ideia de praticar teatro já me deixava excitada e com um sentimento de completude, pois não teria perdido a oportunidade e sabia que, sozinha, não procuraria um grupo do gênero. 2011. Estava entrando na faculdade: ideias a mil, um ritmo que não conhecia ainda e um mundo de trabalhos aparentemente infinitos que tiravam meu sono e me mantinham várias noites em claro. Foi neste clima que ingressei nessa loucura. Lucas fez a propaganda e conseguiu diversos interessados. Entramos na questão do nome: votação. De três ou quatro alternativas, o nome Alma ganhou com poucos votos, mas, mesmo os que não votaram neste nome, concordaram com ele e, partindo disto, seguimos com uma programação ainda a ser montada e votada. Me dispus a fazer a identidade visual do grupo com as ferramentas gráficas que recém aprendera na faculdade. Cerca de cinco anos


depois, me comovi ao ver inesperadamente estampada a logo que criei com tanto carinho no step de uma camionete que passava por mim na rua. Nome pronto, logo pronta e o tema da primeira ópera já definido de antemão pelo nosso diretor – “Moulin Rouge”. Veio enfim a "audiência" para definir os papéis. Lembro de querer ser a Satine – a protagonista, mas precisaria cantar para entrar nesse papel, então nem me aventurei. Escolhi ser a cafetina Marie. Sem oposições, fui aprovada para o papel. A partir desse momento, começou uma experiência muito louca em que convivi com várias pessoas que só conhecia de vista (e outras que já tinham minha amizade). Juntos, criávamos enquanto aprendíamos. Foi tão intenso fazer parte do grupo, como se eu estivesse entrando em uma nova família e lá acolhendo e sendo acolhida. Ninguém tinha muita experiência (sendo sincera, beirávamos a nenhuma) no


que estava fazendo, mas cada um com seus conhecimentos únicos e próprios ajudava como podia e criava uma identidade única para nossa peça. Lembro de quando começamos a definir as coreografias e a Teté Furtado entrou no nosso grupo (uma querida!). Era pisa-pisa, cai mas não cai, falta de sincronia e um show de horrores que só a nossa vontade fazer acontecer permitia que seguisse em frente e fizesse a coisa tomar forma. Nossos encontros foram se tornando verdadeiramente frequentes e agora tínhamos uma sala para ensaiar fora do colégio – havíamos recebido uma solicitação de retirada das salas que usávamos para ensaiar. Acho que isso fez o grupo se unir mais. Eu ficava lendo em casa minhas falas, decorando, e sempre esquecia algo. A ansiedade da data da apresentação chegando me deixava mais nervosa ainda se conseguiria subir no palco sem fazer feio, mas estava confiante. Minha família ópera-rockiana me


deixava confiante. Era "um por todos e todos por um". Então chegou o grande dia, e eu atolada de trabalho com a avaliação dos painéis intermediários da faculdade, mas fui! Depois de se comprometer, não dá para cair fora. Chamamos amigos, parentes, conhecidos e todos os contatos do falecido Orkut e do Facebook, que hoje em dia está em coma. O Auditório do Instituto Santa Luzia estava ficando cheio e, no camarim, nós, como sempre, fazendo piadas e alegrando uns aos outros, enquanto não chegava o momento de entrar. Entramos. Palavras esquecidas foram relembradas ou ajustadas à cena. Pés antes pisoteados sincronizaram no ritmo da música. Tudo deu certo. A cada cena que passava o nervosismo ia diminuindo. Até que os aplausos nos atingiram. Não sabia o que esperar nesse momento, mas estava tão feliz que tudo havia dado certo, que meu rosto era


só sorriso! Aquele sorriso que dói o maxilar, mas não vacila um segundo. Como boa festeira que sou, não pude deixar de comemorar. Saí de lá e fui celebrar em uma festa. Deixei a cafetina que estava hospedada nos meus pensamentos no palco e voltei a ser a Nata, mas o espaço que ela abriu em minha cabeça não se fecha mais: foi o aprendizado de ser outro alguém por arte, por diversão, para entreter pessoas famintas por arte, que, em outras ocasiões, eu mesma estou neste papel. Ano seguinte, mais confiante, nosso diretor seguiu com a saga do grupo Alma e me convidou para participar novamente. Prometi pensar antes de responder – a faculdade já não seria a mesma depois do primeiro ano de caloura. Durante as férias de verão daquele mesmo ano, comecei a trabalhar no turno oposto dos meus estudos e não pude mais participar do projeto, que acompanhei como expectadora quando pude, mas sempre com


um arrepio nostálgico de ex-atriz. Algo mudou em mim para sempre.



Uma história na Ópera Rock | Bruna Plentz5 Conheci o Ópera Rock em 2012, durante uma aula do professor Lucas de Melo Bonez no Instituto Santa Luzia. Eu estava no 1° ano do Ensino Médio e era uma das primeiras aulas com ele. O Lucas fez uma breve explicação sobre o grupo e passou uma ficha para os futuros interessados. Adorei a ideia logo de cara, pois, apesar de nunca ter participado de um grupo deste segmento, sempre tive admiração por teatro e dança. Conversei com minhas melhores amigas, Ana Luísa e Débora, e elas também adoraram. Combinamos então de participar da primeira reunião do grupo, que só nos despertou mais interesse ainda. Preenchemos nossa ficha para a modalidade de dança e assim ingressamos no Ópera. Bruna Plentz é estudante de Arquitetura e Urbanismo. Frequentou a Alma Ópera Rock nos anos de 2012 e 2013, participando das peças Reino das Névoas e A tempestade. 5


Naquele ano a peça foi “Reino das Névoas”, inspirado no livro de Camila Fernandes, a qual tivemos o prazer de conhecer pessoalmente e de ouvir um pouco mais sobre seu livro. Nessa peça fiz alguns figurantes, mas meu papel principal foi na dança, pela qual me apaixonei totalmente. Tivemos o auxílio da coreógrafa Teté Furtado, que tinha um papel fundamental; suas coreografias tocavam as pessoas e transpassavam os sentimentos que o espetáculo queria transmitir. Além disso, a escolha das músicas feita pelo Lucas não foram nada convencionais, pois dançamos ao som de heavy metal. Foi uma experiência totalmente diferente pelo fato de que eu não costumava escutar esse gênero musical, mas muito interessante, pois acredito que essa escolha trouxe grande personalidade para o grupo. O final do ano chegou, fizemos diversas apresentações e eu só tinha mais certeza de como o grupo era importante para mim. Foi


muito mais do que um grupo de teatro/dança, foi um grupo de convivência, novas experiências, troca de ideias e uma maneira de me autoconhecer. Além, é claro, da minha admiração pelo Lucas só aumentar. Ele se tornou meu professor preferido justamente pelo empenho e dedicação em tudo que faz, tanto como professor em sala de aula quanto como diretor no Ópera Rock. E foi assim que eu decidi que queria permanecer no grupo. Em 2013, participei da peça “A Tempestade”, não somente como dançarina, mas dessa vez como atriz, o que foi um grande desafio para mim. Sempre gostei de teatro, mas nunca tinha pegado um papel notório, fazendo com que meu comprometimento com o grupo aumentasse ainda mais. Nesse espetáculo interpretei uma rainha, e em todas as apresentações, quando eu colocava meu vestido, passava a ser apenas aquela rainha que tinha medo de nunca mais ver o seu filho, não mais a Bruna. Foi uma experiência que só quem já atuou sabe explicar; aprendi a


decorar falas, a não ficar tão nervosa em palcos, a perder a timidez e a ter comprometimento e envolvimento com os outros participantes. Lembro-me de ficar horas ensaiando minhas falas no quarto com minha mãe com medo de esquecer, mas no final sempre dava certo, pois em cena um sempre era um pilar para o outro, sempre nos ajudávamos muito e nunca deixávamos alguém passar sufoco. A cada nova apresentação era uma mistura de sentimentos: ansiedade, felicidade, emoção... e, no final, a sensação de dever cumprido! Assim como em 2012, nesse ano o amor pelo grupo cresceu ainda mais em mim, pois ele me trazia momentos muito felizes. Em 2014 era o meu último ano do Ensino Médio e, com a preocupação do vestibular, resolvi deixar o Ópera para me dedicar aos estudos. Por esses dois anos terem sido tão marcantes na minha vida, sempre torci muito para o grupo seguir adiante e fazer muito sucesso. Hoje, ainda guardo


lembranças dessa época e me recordo de como era bom ter pessoas para compartilhar alegrias e ter esse tipo de experiência. Sinto saudade da convivência com os participantes (que acabaram virando amigos), dos palcos, das danças, das falas, das reuniões. Antes de escrever este texto, comecei a olhar vídeos e fotos que eu tenho das apresentações e me veio à mente um sentimento muito bom de que eu aproveitei ao máximo esses dois anos e de que não mudaria nada. Levo essas lembranças para sempre comigo e espero que mais pessoas possam ter essa mesma experiência, para que no futuro relembrem momentos felizes como os que eu tive. Nessa fase da vida procuramos nos identificar. No grupo Alma Ópera Rock pude me identificar com pessoas que tinham em comum o amor pela arte. Sou muito grata por ter participado e por ter conhecido pessoas tão incríveis. Por fim, agradeço imensamente por poder compartilhar um pouco da minha experiência neste livro.



A Sucessão das Máscaras | Vinícius Fratin6 Creio que a forma mais ilustrativa do leitor compreender a ideia que desejo expressar é através de uma breve divagação. Ao nascer, pode-se argumentar que uma pessoa se encontra no estado mais puro possível. Ainda não houve qualquer interação física ou social além das mais primitivas, como o calor do colo de alguém que a ama ou as palavras de boas-vindas que ainda não fazem sentido algum, mas que em algum dia farão. Ela nasce de face e de corpo nus, vulneráveis como uma pétala que se destaca de sua querida flor. Não há máscara alguma. Ao longo dos dias, dos meses e dos anos, ela cria e destrói laços, adquire suas próprias ideias e nota que o mundo é um lugar vasto e Vinícius Fratin é software developer. Atuou na Alma Ópera Rock nos anos de 2013 e 2014, nas peças A tempestade e As cores da escuridão. 6


complexo. Ela passa por diversos conflitos e experiências, além de sentimentos variados, tanto positivos, como negativos. E, assim, máscaras passam a surgir. A máscara da voz alta silenciada quando ainda não se sabe o porquê da inadequação de gritar. A máscara de um sorriso falso quando se faz crer que a felicidade é o oposto da tristeza, e não um complemento. A máscara de manter atitudes não porque estas são genuínas, mas porque são gratificadas por quem se convive. Máscaras são boas, ruins, ambas ou nenhuma das duas: são apenas uma parte inseparável do processo de existir. Essa discussão finaliza a divagação e nos leva ao ponto central: teatro, que em uma de suas diversas facetas envolve a arte de representar pessoas. Essas representações podem ocorrer em situações minuciosamente orquestradas para transportar os espectadores a uma outra realidade dentro da realidade em si.


Um personagem é uma alma viva, não no sentido material, mas sim como uma possibilidade. Um mundo onde ele exista é um mundo tão provável quanto aquele que experienciamos. Logo, ele também possui máscaras. Um dos grandes desafios começa aqui: as chances são tais que essas máscaras não são as mesmas que aquelas do ator. Começa, então, um processo extremamente importante: o ator deve despirse de suas máscaras e apropriar-se daquelas do personagem. Abdicar das máscaras, partes tão integrantes da alma, envolve uma jornada incessante de autoconhecimento que possivelmente continuará até o fim da vida. Evidentemente, o Teatro não é única maneira de desencadear esse processo. Porém, é uma ferramenta valiosa se utilizada em momentos estratégicos da nossa existência. Penso que uma das diversas contribuições do Teatro foi justamente o autoconhecimento e a consciência em relação


às máscaras que me integram. Novamente, não foi o único motivador para tal, mas certamente foi um fator fundamental. Das duas peças criadas com o Alma Ópera Rock, “A Tempestade” e “As Cores da Escuridão”, pude afirmar, com certeza, que a atuação e o convívio com diversas pessoas e ideias foi algo extremamente importante para entender e começar a transcender as máscaras que me compunham. Sobre essa transcendência: dói, emociona, desafia. Nosso Eu, puro e vulnerável, como éramos quando ainda não conhecíamos nada além do mais simples e primitivo, sempre vale a pena.


Um encontro às escuras | Ana Luísa Neukirchen Mesquita7 Entrei no Alma Ópera Rock no ano de 2012, pois estava procurando alguma atividade extraclasse em que pudesse me engajar e desenvolver habilidades diferentes. Sempre fui muito tímida e sabia que talvez aulas de teatro não me agradassem, mas como havia também aulas de dança e música fiquei mais entusiasmada pelas possibilidades de aprendizado. Lucas era meu professor de Língua Portuguesa e Literatura no Instituto Santa Luzia na época e eu já havia escutado na escola sobre o seu grupo de teatro. A princípio não tinha me interessado, nem entendido direito, mas depois que ele apresentou o projeto em sala de aula, achei bem interessante, pensei que valia a pena dar uma Ana Luísa Neurkichen Mesquita é administradora e secretária escolar. Esteve na Alma Ópera Rock nos anos de 2012 e 2013, atuando nas pelas Reino das Névoas e A tempestade. 7


chance à tentativa de imersão no projeto e, como estava com alguns dos meus colegas que também acharam a ideia interessante, tudo se tornaria mais divertido. Ao participar nas primeiras vezes das reuniões do grupo, percebi que a maioria dos integrantes eram mais velhos, estavam no final do Ensino Médio – e eu entrando no primeiro ano. Eu estava um pouco insegura no momento, mas isso não foi obstáculo para criarmos amizades. Desde o princípio achei o grupo bem unido, talvez por serem grande parte da mesma turma/série, mas eram simpáticos e com o passar do tempo já ríamos e conversávamos bastante juntos, fazíamos brincadeiras nos ensaios, dinâmicas em grupo e com essa aproximação a timidez ia aos poucos desaparecendo. Lembro-me que alguns exercícios das aulas de canto, dança e teatro pareciam um desafio para uma pessoa tímida como eu, mas com a evolução do sentimento de união do grupo eles foram ficando cada vez mais fáceis. Respeito e


comprometimento são palavras que podem ser usadas como adjetivos para esse grupo com toda a certeza. Fazíamos várias reuniões e o diálogo era fluido. Participei durante dois anos do Alma Ópera Rock. Em 2012, fiz parte do elenco do espetáculo “O Reino das Névoas”, em que atuei como uma plebeia e como uma bailarina. Em 2013, fiz parte de “A Tempestade” como contramestre da embarcação e como bailarina novamente. Sempre notei que os espetáculos do Alma Ópera Rock eram inspirados em obras fortes e com uma atmosfera “dark”, o que gosto muito. Com a trilha sonora de rock/heavy metal com certeza tudo ficava harmônico. Nunca gostei muito do estilo musical utilizado nas peças, mas com os ensaios fui pegando gosto, pois como eu ensaiava em casa fui obrigada a ouvir as músicas e com o tempo já tinha as minhas favoritas, como “I want my tears back” e “Storytime”, do Nightwish, que utilizamos no “O Reino das


Névoas”, além de “Arising Thunder”, da banda Angra, na peça “A Tempestade”. Ouvi repetidas vezes e até aprendi a letra. Como eram músicas marcantes e os ares do espetáculo eram sérios, gostava de fazer o “carão” quando entrava no palco. Sempre achei muito importante entender qual era meu papel quando estava atuando e quais os sentimentos que eu queria que transparecessem para o público. Cada música com sua particularidade me fazia mudar, como um artista, mesmo novato, deveria fazer. Acredito que consegui fazer isso! No grupo eu descobri o meu talento para a dança, que talvez nunca teria descoberto se não tivesse participado do Alma. No começo me senti desafiada pelas coreografias, pois nunca havia tido aulas de dança, mas com o tempo tudo foi se encaixando e fomos aprendendo passos que pareciam impossíveis para nós – ficávamos muito entusiasmados por causa disso, querendo aprender mais e mais.


Lembro que foi um desafio aprender os passos de “The Crow, the Owl and the Dove”. A professora Teté Furtado nos mostrou os passos do refrão e ficamos céticos de que iríamos aprender aquilo algum dia, pois erámos tão novatos – mas aprendemos! Nada melhor do que a recompensa de um trabalho desafiador! Depois dançávamos com a maior tranquilidade. Gosto muito de rever os vídeos da peça. Isso demonstra o quanto fico orgulhosa de já ter participado de tudo isso e o quanto sinto saudades de poder me expressar artisticamente, pois atualmente não faço nada ligado à arte. Tenho muita vontade de voltar a dançar e planejo futuramente. Eu acho que a sensação de estar no palco é, diferentemente do que uma pessoa que se julga tímida acharia, maravilhosa. Com o tempo fui mudando meu pensamento, pois sempre tive receio e vergonha, mas descobri que me expresso muito bem dançando e que me sinto bem fazendo isso.


Eram motivadores os aplausos do público no final da peça todas as vezes que nos apresentávamos. Era muito emocionante e fazia todo o trabalho ter valido a pena. Um momento que me marcou bastante foi quando fomos a Dom Pedrito para o festival de teatro estudantil. Quando Lucas anunciou o fato eu simplesmente achei incrível, mas também senti que nosso empenho deveria ser maior, pois o nome do grupo estava em jogo. Lembro-me da longa viagem de cinco horas, do local onde ficamos hospedados, das brincadeiras entre o grupo e da apresentação. Sinto que nessa viagem nosso compromisso como grupo foi o máximo e com certeza tudo valeu a pena. Semana passada eu e o pessoal do meu estágio estávamos conversando sobre peças de teatro e eu tive o orgulho de falar que eu já fiz teatro, já atuei e dancei em vários palcos de Porto Alegre, como o Teatro Renascença e o


Teatro Bruno Kiefer, além de outras cidades onde nos apresentamos em festivais. Eu nunca pensei em sair do grupo. Houve momentos em que me senti cansada ou até mesmo incapaz, mas nada a ponto de desistir por causa disso. Alguns dos meus colegas saíram após um ano de participação, passou levemente a ideia de que eu deveria sair também, mas isso foi mais influência do que vontade. Resolvi continuar por mais um ano e saí em 2014, pois estava fazendo aulas de dança também e, como meu amor pela dança é maior que pela atuação, resolvi continuar apenas com as aulas de Jazz. Ccomo estava no último ano de Ensino Médio, as coisas começaram a apertar com formatura e vestibulares a caminho. Falando de atuação, eu gostei muito de interpretar a plebeia de “O Reino das Névoas”, pois mesmo sendo um papel simples, me aventurei para pegá-lo – havia participantes que não atuavam, mas eu quis tentar. Falando apenas algumas frases, aquilo


ainda era um desafio para mim, mas que valeu muito a pena. Fez com que no segundo ano de Alma Ópera Rock eu continuasse querendo atuar, dessa vez como contramestre da embarcação de “A Tempestade”. Não muito relevantes os papéis, mas faziam parte da peça e eu sempre digo que já atuei também, não apenas dancei, como um artista versátil. Ter participado do Alma Ópera Rock mudou a minha visão sobre o que é arte e cultura, conceitos que cada vez me surpreendem e me cativam mais. Ter sentido na pele o que é atuar, dançar, cantar, estar na frente de um palco, me caracterizar, decorar falas, entre outras atividades, despertaram sensações que até então eu não conhecia. Sinto saudades das reuniões, dos ensaios, das apresentações e dos amigos que fiz no grupo. Com certeza tudo isso contribuiu para o meu crescimento como pessoa, pois aceitei desafios e derrotei a timidez e o medo. Vi que com dedicação eu poderia fazer o que quisesse.


Foram momentos dourados que estão guardados em fotos, vídeos, na minha memória e na de minha vó também, que sempre adorou que eu participasse do grupo e sempre estava no palco para assistir. Sou muito grata ao Alma Ópera Rock e a tudo que esse grupo me proporcionou.



Minha experiência teatral na Alma Ópera Rock | Débora Sant’Anna de Oliveira8 Durante a minha vida escolar, eu passei cinco anos, entre o Ensino Fundamental e início do Ensino Médio, no Instituto Santa Luzia em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Nessa trajetória eu tive várias amizades e grandes professores, tanto durante as aulas quanto na Alma Ópera Rock. Eu soube desse grupo de teatro por meio do meu irmão, Daniel Sant’Anna de Oliveira, que participou da peça “Reino das Névoas”, no ano de 2012. Eu lembro que ao assistir à apresentação dessa peça na Casa de Cultura Mário Quintana fiquei emocionada e impressionada com a capacidade e empenho da produção, dos professores e dos alunos. Em 2014, eu estava no primeiro ano do Ensino Médio e o Débora Sant’Anna de Oliveira é estudante de Medicina Veterinária. Esteve presente na Alma Ópera Rock em 2014, quando atuou em As cores da escuridão. 8


Lucas Bonez era o meu professor da disciplina de Literatura. Assim entrei em contato e ingressei nesse grupo teatral. Eu me recordo da primeira aula do grupo, entre várias faces novas e poucas pessoas conhecidas, a timidez era tanta que eu não conseguia improvisar uma cena qualquer no momento. De modo impressionante, na última apresentação da peça “As Cores da Escuridão”, no auditório do Instituto Santa Luzia, eu consegui improvisar uma cena juntamente com uma colega no calor da emoção. As minhas primeiras percepções sobre o grupo foram diversas qualidades presentes como empenho, determinação, foco, diversão, alegrias, risadas e afeto. Entre os ensaios nas tardes de sexta-feira e nos finais de semana, como também nos acantonamentos, uma grande amizade se formou e uma relação afetiva no grupo permaneceu. Eu participei de uma única peça na Alma Ópera Rock, no ano de 2014, em que meus


dois papeis foram uma psicóloga e uma menina usuária de drogas. A composição do enredo obscuro e reflexivo, associado ao estilo musical de metal sinfônico e a dança, foi muito bem elaborada para atingir uma combinação ideal. Através dos ensaios e da apresentação dessa peça, eu tive uma experiência incrível ao poder atuar, cantar, dançar e além de tudo desenvolver maior autoconfiança. Um momento marcante que vivenciei junto ao grupo foi anterior à apresentação da peça no Teatro Bruno Kiefer, na Casa de Cultura Mario Quintana, no dia 25 de novembro de 2014. Todos os participantes fizeram uma roda e uniram as mãos uns com os outros e, através de palavras fortes e motivacionais vindas dos professores, a emoção prevaleceu e tive que conter as minhas lágrimas para não estragar a maquiagem da personagem. Em seguida, nós realizamos uma apresentação emocionante e muito prazerosa para os nossos amigos,


familiares e público também desconhecido. Ao final tiramos uma fotografia de recordação desse evento especial. A desistência nunca esteve nos meus planos no teatro. Apesar de ter muitos ensaios e uma carga horária maior com a proximidade das datas das apresentações, eu pude aproveitar cada momento e vivenciar a arte do teatro. Na época, eu priorizei conciliar os compromissos escolares, familiares e teatrais para dar certo. A melhor sensação durante o tempo de apresentação é pensar que o show só depende de você para continuar. Realmente é emocionante poder participar de correria dentro da coxia, troca de roupas dos personagens, montar o cenário de acordo com a cena, relembrar e repetir cada passo de dança ensaiado no ritmo da música, revisar as falas decoradas e até mesmo improvisar no palco quando algo não está de acordo com o roteiro – para o público não perceber.


A minha experiência na Alma Ópera Rock me fez cogitar seguir a carreira teatral como estilo de vida. Após eu me mudar para Curitiba, tive vontade de continuar a atuar em peças, mas infelizmente não foi possível. Apesar de pensar em Teatro como curso de graduação por um momento, a Medicina Veterinária sempre foi o que me identifiquei e a carreira que quis seguir desde criança. Felizmente, atualmente estou na reta final da graduação e em breve serei médica veterinária. A participação nesse grupo de teatro tornou o meu ano de 2014 melhor e com boas lembranças das amizades que realizei nessa oportunidade. Com certeza eu obtive maior confiança e a perdi o medo de aparecer para o público – esses aspectos foram cruciais para poder crescer. Eu tive orgulho de participar de três apresentações da peça “As Cores da Escuridão”: no Festival Art in Vento, em Osório; no Teatro Bruno Kiefer, na Casa de


Cultura Mario Quintana, e no auditório do Instituto Santa Luzia. Há 6 anos, eu ingressava na área teatral no grupo Alma Ópera Rock com apenas 14 anos de idade. Atualmente, sinto saudade de cada momento que vivenciei ao redor de amigos e grata pela experiência única de atuar e me sentir livre no palco.


Um ponto de vista da plateia | Bruna Von Borowsky Mendonça9 Alma Ópera Rock. À primeira vista imaginamos ser mais um grupo de teatro de Porto Alegre, que baseia suas peças em um estilo musical peculiar. Assim como cada grupo constrói sua história com o Alma não seria diferente. Existem pessoas com experiência superior que poderiam relatar profundamente seu dia a dia, ensaios e esforços, mas aqui apresento uma visão distanciada com poucos detalhes, porém ainda assim não deixo de mostrar minha grande admiração por tal projeto. Após algumas experiências posso dizer que o Alma não é apenas mais um grupo. Ao presenciar o primeiro espetáculo, pude sentir através de cada ator a complexidade de estar no palco e como isso é Bruna Von Borowsky Mendonça é bióloga e foi parte fundamental de diversas operações da Alma Ópera Rock, além de uma fiel escudeira no público. 9


resultado de um somatório de pequenas conquistas. Eu mesma teria grandes dificuldades em executar as habilidades com o desempenho que a mim foram mostradas. Entre muitas aulas sobre canto, dança e atuação está a vida de adolescentes, que são base do local em que o Alma mais trabalhou, e provavelmente compondo a maior parte do elenco durante esses anos. Uma vida adolescente que, através de suas conturbações, cresce junto a um personagem, uma figura com suas próprias características podendo ser muitas vezes o oposto do ator. A trajetória para participar de uma peça, acredito que seja fundamental trabalhar a si próprio, entender as limitações, mas principalmente passar por superações. Entrar no personagem requer muito mais que talento para atuar: é preciso dedicação e comprometimento para realizar as cenas através da personalidade daquela figura. Ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, certamente não é um trabalho


simples. Tive a oportunidade de acompanhar ensaios, conhecer parte do elenco e vi como é trabalhoso montar uma peça, ensaiar e criar uma sincronização entre cenas e movimentos, para que ao final essa história seja apresentada ao público. Ao longo da trajetória do grupo, vi o acolhimento aos jovens que queriam quebrar suas barreiras vencer a timidez, conhecer o palco e pela primeira vez em suas vidas atuar. O Alma Ópera Rock proporcionou um ambiente de desafios e de superações, dando espaço para qualquer indivíduo que quisesse entrar nesse universo das artes e, a partir desse momento, conhecer como o teatro funciona. Lembro-me quando vi o fim de uma das peças e fiquei impressionada com o trabalho do grupo, fosse na escrita do enredo, na trilha sonora, no canto, na dança ou na interpretação de cada ator. Um trabalho excelente com uma direção competente e jovens que tornaram possível a execução


desse espetáculo. Ao meu lado, o público era composto por familiares, amigos, apreciadores de teatro, entre muitas outras pessoas que estavam ali para apreciar não somente uma noite relacionada à cultura, mas o resultado de meses de esforços daqueles jovens em conjunto com a direção. Cada detalhe pensado, cada movimento e música, tudo para proporcionar ao público a melhor imersão naquele momento. No palco eu vi personagens, colegas, jovens que superaram muitos obstáculos para o tão chegado momento de subir ao palco e provar a si próprios do que eram capazes. Nas faces podia ver a alegria que aquela noite representava, o orgulho após meses de ensaios. Desde aquele momento eu percebi que o Alma Ópera Rock tinha grande potencial para ser o berço de esplêndidos atores.


Quando criador e criatura se encontram | Douglas Marques10 Em uma tarde de domingo, recebi uma mensagem do meu antigo professor de canto que me perguntava se eu tinha interesse em participar de um musical em homenagem ao Angra. O personagem seria uma espécie de Jesus Cristo e que eu era a primeira pessoa em que ele teria pensado pro papel, que seria dele, mas teve que desistir por conta de outros projetos. Fiquei interessado, porém receoso já que nunca havia atuado na vida. Depois de pensar um pouco entrei em contato com o Lucas, que era o diretor da peça. Ele me pediu pra enviar um áudio cantando alguma música do Angra. Enviei e a resposta foi: “Muito bom! O personagem é teu, será o protagonista!” Douglas Marques é arquiteto por formação, além de guitarrista e cantor da banda Lamarquez. Esteve na Alma Ópera Rock em 2019 para participar da peça Templo das sombras. 10


Como assim vou ser o protagonista? Nunca fiz teatro na vida! Esses caras são loucos! Fiquei apavorado, mas decidi encarar esse desafio. Os primeiros ensaios foram muito ruins, me sentia muito desconfortável, aquilo não era pra mim. Porém, depois de conversar com uma colega que eu dividia o Uber pra voltar pra casa, ela me disse a seguinte frase: “Fazer teatro é ser ridículo. Todo mundo é ridículo só que a gente tenta disfarçar”. Depois desse dia, eu decidi me dedicar à peça de verdade e aprender a atuar. Ainda assim não tinha segurança para encarnar um personagem. Não era ator, nunca havia pisado em um palco como ator, apenas como cantor. Mas segui nos ensaios, toda a semana eu estava lá, participando das aulas e me esforçando pra não ser um “Cigano Igor”: decorando texto, tentando melhorar a expressão corporal e fazendo a única coisa que eu tinha total segurança, que era cantar. No final acho que evoluí bastante, as pessoas começaram a me elogiar e pararam com um


olhar de esse “cara não tem jeito”. Não sei se isso realmente existia, mas era o que eu sentia. O teatro também me trouxe um conforto, porque nesse período estava passando por uma fase muito difícil na minha vida particular. A peça me ajudou muito a manter minha mente em ordem. O enredo contava uma história baseada no disco “Temple of shadows” e, por coincidência ou por alguma razão espiritual, o ex-vocalista do Angra, Edu Falaschi, estava em turnê com um show em comemoração pelos 15 anos desse mesmo disco. Para cada cidade onde o show aconteceria, foi realizado um concurso para uma participação de algum cantor na música “Winds of destination”. Como eu já estava na peça, pensei, “por que não?” E fui o escolhido pelo Edu para participar do show! Foi uma das coisas mais espetaculares que aconteceram na minha vida: cantar com alguns caras que foram meus ídolos quando eu era mais novo. Foi surreal.


Foi a minha estreia no palco do Bar Opinião. Nunca havia tocado lá e sabia que a primeira vez seria inesquecível, mas não esperava tanto. Talvez eu não participasse do concurso se não estivesse no grupo de teatro. O Alma Ópera Rock me proporcionou uma das noites mais loucas que eu vivi. Depois dessa noite, algumas portas se abriram pra mim musicalmente – até recebi um convite para participar da gravadora do Edu, mas que no final acabamos não fechando um acordo. Infelizmente o musical não saiu, mas sou muito grato a todos. Deixei muitos amigos e foi uma experiência incrível. Depois de tudo, aprendi a atuar, descobri um talento que nem eu sabia que tinha. Talvez, se um dia o projeto reviver, posso pensar em dar vida novamente ao Joshua, um cavaleiro templário em dúvida sobre a sua fé. Quem sabe?




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