Sonetinhos galantes e outras aberrações sonoras

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Sobre o livro Sempre fui de escrever. Desde a época de escola escrevia textos, tanto para jornal do Colégio Sévigné quanto para manter guardado. Sempre gostei disso. Textos escritos aos vinte-e-poucos, aos quase trinta. Tudo compõe este mel que lerás em breve. Neste último ano, minha vertente poética resolveu dar o ar da graça. Sonetos, que antes buscavam regularidade, agora se fazem tematicamente - o que consigo estruturalmente não é pensado. Nesta obra, coletam-se textos de assuntos amorosos. "Amo que é uma dor" e derivados são foco presente, que faz com que muitas identificações sejam possíveis por parte dos leitores. Que tua leitura seja agradável! Um abraço, Lucas

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Copyright Author Lucas de Melo Bonez Editor Editora Independente Copyright Š 2013 Lucas de Melo Bonez

First Published using Papyrus,2013 ISBN : [Enter ISBN here]

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Lírios O que tu vês por meio da rede? O que enxergas em tanta disparidade? Não me digas que é a falsa idade Que atrela a loucura à falsidade...

Que me dizes quando não atestas No meu amor a tua formalidade? Que gentil decência sem maldade É essa que te unes e te contestas?

Não, meu bem, não me digas nada: A doçura de teus olhos me abranda, Mas não me faz esquecer a alçada:

Trouxe-te os lírios um dia sonhados, Com o vigor de quem sempre os manda, Mesmo com meus olhos marejados.

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Peixe Como diria aquela música passada, "Quisera ser um peixe, para em teu Límpido aquário mergulha" - apogeu do brega, mas que ilustra tua caçada.

És um monte de total perigo, forma gentil De um belo tesouro cristalino, que não Busca apenas o amor doce menos vil, Mas todo um sonho de ser sem senão.

Este aquário que te espera dia após dia Está sempre numa onda constante, Pois só de tempestade se repudia:

Necessita o balançar do peixe contente, Que em inúmeras nadadas faz o que quis, Apenas para mais um dia ver-me feliz.

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Preso Grilhões aferroados mantém-me aqui. Suspenso em meio ao vácuo, primo Pela boa liderança feita no teu limo, Para poder usufruir as passagens daqui.

Observo por minha janela a dor feita Por milhares de gritos ensurdecedores. Não é mais minha mão que me alimenta, Mas todos os sons vindos dos corredores.

Que mal há em sentir prazer na dor? Que sentido há em viver apenas feliz? Quisera que o ma também fizesse triz:

Na minha esperança vigiada em torpor, As grades desta prisão fazem-me sentir Que minha ingratidão é eterno porvir.

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Pobre alma Resquícios de quimeras passadas, Meu espírito vaga em claustro. De que servem as almas fechadas? Não haverá vida para algo destro.

Polímeros de constituição vaga, Cimentos de apagar corações, O que faz a vida concreta e paga Também gera possíveis ilusões?

Trauma, pobre alma, de ficares vaga. Teu tempo existirá, sempre a chaga Partindo, evitando tua humilde dor:

Não queirais que se vão, gentil senhor, As almas perdidas ao fechamento, Pois devem ser soltas ao firmamento.

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Amanhecida Primeiro ar no respirar da manhã, Meu aconchego em meio às preces É um berço generoso de espécies Que brota de minha alma singular afã.

Premedito tuas loucas palavras sãs. Em meio às curiosas vestes, cresce Com o respaldo do coachar das rãs, Uma vida chorosa, mas que enriquece.

- Até que brilha a estrela da manhã, No auge de seu coração, que enobrece Cada viga de tua natureza sempre louçã:

Acorda para o mundo em forma de esse, Desviando de chagas e dores constantes Para não seres alguém cambaleante.

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Soneto da Tempestade Meu caro Shakespeare, trouxeste-me Meu desejo: representar-te à altura Com minha companha de mor cultura A ponto de chover em pingo uniforme.

De teus sons, Angra, surgiram a trilha Que formarão a base desta sagaz ilha De nossos temores - universo de Ariel Contado por Próspero, humano fiel.

Meu querido e finado autor, encenada Verás uma vez mais tua última peça. Empunharemos teu cajado e não meça:

Um musical que total entoa esmerada, Não as naus envoltas em mediocridade, Mas todo o torpor de tua Tempestade!

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Soneto do tempo Ressoa no meu canto a certeza De que a nossa esperança brilha A possibilidade, não de lerdeza, Que um tempo nos seguirá filha.

Não adianta querermos mais agora: Somos espécie maior que o tempo, - Que a morte, que a vida de outrora Somos a espera em passatempo.

Quiséramos esperar o tempo passar, Mas fomos dotados de sentido par Que não mais nos fez esperar aqui.

Nosso amor brotou de feliz passagem Todo o tempo que ainda vira aí, Sem sequer esperar cair a folhagem.

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Nova era É hora de acordar, meu benzinho. É tempo de crescer novo, ao céu. Agora é a hora de deixar o mel Que ascende teu viver baixinho.

Passou o tempo da brincadeira, Bem como o tempo da ironia: A hora é de calma e mamadeira, Mas num mundo de dessincronia.

Era momento de parar o riso? Ou era hora do simples crescer? Importa agora o que vem conciso:

O tempo de hoje é um nascer Para as crises do tempo, amor, Que se devem vencer com ardor.

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Desejo A caminho da tranquilidade serena, Reforço meu espaço pertante o teu: Desejo mais que uma ilha morena, Mas um caminho pelo corpo ateu.

Judias de minha felicidade, roubada Por ferozes dedos, atroz e vil destino! Não meças esforços para o desatino, Pois terás tudo perdido - recuperada!

Oculta aos corvos a carne que esperas, Pois as vestes trágicas destas quimeras Hão de confrontar um dia tua insônia:

Colabora, então, para meu belo lugar, Que se faz fanático ao meu globo ocular, E que não se revela intento de parcimônia.

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Trevas Sei que caminho em meio às trevas. Não sou pomba celeste ou arcanjo, Mas sombras do passado que levas - O mesmo que absténs teu desarranjo...

Não me busque precipitadamente ou Não me alegues como conforto próprio: Sou um ritmo dissoluto que o tempo levou E, além, carrego o som do crematório.

Um anjo de asas negras como a noite Que pende e badala sinos de agonia longa, Libertarei as garras do sonho, pernilonga:

Viajam as palavras que pedem pernoite, Mas que nunca seguem um rumo secular - São meus sons que escutas há horas viajar.

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Soneto das falhas Tenho em mim todos os sentimentos, Tudo aquilo quanto mais sagrado é. Revejo meus laços para gerir elementos Que se fazem graciosos como a pé.

Pensar ou repensar a vida é bom: Une-se o útil da reflexão pura e alegre Ao esforço de encontrar num som A paz que há no Porto sempre Alegre.

Anjo meu, não te culpes pelas falhas: Aprendes pelo caminho que retocas. Tudo há solução, que não são palhas...

Resguarda teu coração contra facas - Teu mero sentido pode retorcer-se mal Sem perceberes que estás triste, afinal.

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Dúvidas Peguei-me pensando se tu me sentes. Analiso o dia, horas subsequentes De um tempo amoroso e claro tal Que me perco nas andanças ao sol.

Pedias-me que eu fosse um ser maior, Dotado de qualidades de mil Guerreiros que lutam pela dor mor De sacrificar a vida gentil.

Que andanças pelo mundo fazes já? Que peito ainda arde de paixão lá? Não sei se quero ser esta redoma:

Sacrifico-me dias ao teu lado Na espera de um amor terno alado, Mas pareço estar nu total em coma.

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Despedida Valha-me o ar pensar na despedida! Imundo percalço das rotinas felizes... Quisera a um tempo abraçar-te na ida Bem como negar o adeus que me dizes.

Viaja agora, minha querida, para teu rumo: Um lugar, um estado, uma nação reencontrada. Enquanto teu avião parte para nova andada, Deixas aqui teu caminho, agora um sumo.

Não deixes que a memória parta ao longe Para que não sofras como os pares deixados Que vibram pela bela presença acalorados:

Construa teu caminho em como um monge E busca um dia encontrar teu eu em torno, Já que aqui aguardam teu eterno retorno.

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Paixão Queima na alvorada ardente paixão Que sempre ostenta no futuro clarão Um espaço de singeleza a plena flor, Que se faz um espaço de pouca dor.

Nosso canto é alegre - tal qual bem-te-vi. Não digas, não negues - me queres aqui. Espero que te orgulhes de minha vida, Pois dou-te meu máximo - não duvida!

Escuto ressonâncias providas de ti, amor, E quero que teu canto se esbanje de clamor: Espaço íntimo para nossos calmos anseios:

Que sempre haja colo em teus seios, Para que me obrigues a buscar o melhor - O que me cativa para ser sempre maior.

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Enigma Enigma que me prende ao teu mundo, Dá teu sinal de resposta para mero mortal! Espero sempre pelas tuas respostas e tal, Mas não vejo o percurso dele tão fundo!

Não espero que me tenhas total cuidado, Pois te referes à sombra, à chuva e ao sol. Não quero apenas ser obviamente traçado, Para ficar eternamente preso ao teu anzol.

Perguntas-me se devo consentir com o erro Ou se devo apoiar tua doce loucura eterna. És um punhal de flores serenas em enterro:

Não quero que me tentes a entrar na taverna E beber de teu vinho acre e de ponto desumano - O incrível erro de quem deseja só o profano.

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Beijo que acalma Dormita em seio quente o meu sonho... Pare! Não quer mais ver a luz do dia! Aqui, em meio ao que me faz risonho, Não desiste de aparecer a bela via.

Em encantos presentes faço-me rei, Na altura do teu sorriso, é toda rainha. Ser feliz, como diz Chico, era minha lei, Enquanto sois espaço sem mais ladainha.

Não me acorde de meu sonho elitista, De um sonho belo, sem crueldade ou afim, Pois quero ser teu rei, simples assim:

Não basta imperar leis como benfiquista, Se eu não tiver ao meu lado teu conforto Que se faz presente num beijo de porto.

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Verdade De tempos em tempos, terras avistam mares. Para onde quer que corra, ao céu ou ao sul, Não encontrarás calmaria que te encares Simplesmente por não teres caminho azul.

És de um tempo - e de outro também, querida. Avanças em caminhos ociosos ao bem infinito - Não respondes ainda com quem é que compito Para chegar às tuas palavras, bela margarida.

Se caminhas para o céu, onde pensas parar? Se vais ao fundo, para onde queres te levar? Aqui, fico eu a me perguntar em meio ao mundo:

Que não se repita em ignorâncias vindas do fundo Nem se repila cada palavra como simples adorno, Afinal, tens o mundo e nele deve ter teu contorno.

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O beijo Ah, meu amor, o doce beijo do descanso! Quisera que outros tempos fossem brandos Para aliviar-me em teus braços e manso Pensar que este tempo passou aos mandos.

Foi-se o tempo do medo? O da retaliação? Não - Eu sei que não. Ainda assim a ação De encontrar o nosso refúgio é tal e tanta Que não importa a condição para quem canta.

Ouvi meus versos! Eles querem te dizer algo! Querem que saibas que não importa nada: Apenas que teu amor cultive sempre sonhada:

A perfeição do rei, da rainha e do fidalgo, No nosso espaço de amor, cambaleante e belo, É sempre um total amanhecer em nosso castelo.

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Tua voz novamente Expuseram-se os panos na longínqua noite... De onde menos se esperava, o calor se fez! Abriram-se alegrias em sorrisos de sensatez, Bem como outros movimentos eram açoite!

Ah, gentil amada! Que lindo escutar tua voz! Mal sabes o tempo que me debati em versos Para tanto saber o que há de reais regressos No cântico sereno de uma fala ágil e feroz!

Exalaste candura, depois das duras lágrimas - Rios de lágrimas presentes em teu repertório. Agora, meu amor, não precisas mais de lástimas:

Anjos despiram asas flamejantes no oratório, Ganharam forma humana e por aqui pousaram: Fiquei e chegaste - na forma que sempre amaram.

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Tempestuosos Somos uma costa de mar tempestuoso. Enquanto formos um amor, anjo meu, Não saberemos o que será apenas teu Já que ainda seremos algo tortuoso.

De que importa a dúvida nesta relação? De que servem os medos além de "não"? Ainda há muito tempo correndo lá fora. Não assassine o amor que te ameno roga!

Isolar-se e refletir-se talvez seja mal maior: Tempo já passara e ainda não decidiste. O que há de lembrar amor com tanto suor?

Não permite, anjinho, que te mal disseste: Sois esperança sempre em terra de luar, És mais forte que o vento e qualquer atuar.

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Porto Seguro Ah, porto seguro, dos meus amores, quem diria? Tu, um mero e destemido livro, cuja capa soletra Apenas o desejo fiel de quem apenas o faria Sentir-se mil vezes a flor mais bela em uma letra.

Espaços ganhas em viagens frutíferas pela mente, O que não te impede nunca de teres frequente Aquela tal dúvida que esmoece toda vez que falo Que te amo abissalmente como voa o tal cavalo.

Tu, livro de todo presente, faz-se em páginas belas O que ela mais tem de amor presente, sim, singelas Maneiras de duvidar de algo que é o seu presente:

Que meu canto seja ouvido além-mar, eloquente, Pois teu porto seguro é balsa que vive a balançar, Contudo sempre firme, como meu desejo de amar.

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Hora de criar Esferas em desenlace no horizonte. Cânticos serenos de calmaria constante. Espaço aberto para inúmeras realizações. - Onde há caminho para vários corações.

Veja que não se interrompe o momento: Há luz ao final de cada palavra dita ao fundo, Pois de certezas incertas vive nosso mundo, Acabando por ilustrar o que é dito pelo vento.

Acalmemos o coração, pois: é hora de criar. Criar laços mais fortes, desejos mais contantes, - É hora de sabermos o que há de transformar.

Não importa o quanto existe de implantes. - Importa, sim, que toda e qualquer modificação Esteja consoante com aquilo que diz o coração.

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Interna chuva Enquanto a chuva desce lá fora, Aqui dentro meu coração insistente, De tanto brigar com o que há agora, Palpita humilde em seu querer latente.

Lágrimas do céu abençoam a terra, Fertilizam o chão pueril do quente verão. Ainda assim, brotam-lhe lágrimas, coração, Que se desfazem como quem erra.

Feliz a planta que recebe a chuva dócil; Feliz o pranto que desce a orvalhar. Fica em transe meu coração a olhar:

Com tanta água no céu em cinzas no cio, Não se espere que em todo dia se faria Um feixe maior no coração que a agonia.

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Soneto do discurso doído Como quisera ao menos uma vez, Vi que te sentias presa, fechada e só. Notei que, de dentro de si, de todo pó, Surgia tua melancolia, com maior altivez.

Sangras palavras em discursos doídos - Me dói mais não poder te falar aos ouvidos Que todo aprendizado provém do fazer E que, para isso, deve-se sempre querer.

Vejo teus braços ruflarem para alçar voo - E nao vejo só: todos a tua volta veem Que estás a ponto de criar além do "sou":

Eu, vento que bato insone em tua redoma, Relembro-te que falta pouco para o que sol Derreta teu castelo, este que ainda te doma.

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Sorriso nos olhos Amor, meu grande amor, como diria Frejat, Estás sempre na hora marcada comigo. Talvez dentre de sua emoções longas já Careçam maior carinho que o próprio umbigo.

Olha para nós e acredita: somos um só. Não adianta querermos riscos de puro pó, Se não soubermos a troco de que paramos De analisar todos os dias os doces amos.

Observo-te em prantos, ao longe, distante... Quero te abraçar agora! Quero te envolver Um pouquinho mais em meu braço um instante...

Mira, meu amor, mira nos meus olhos a ver: Há aqui onda maior em bravo mar hostil Que quer fazer renascer o teu sorriso primaveril.

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Rumo Enriquecido pelas sombras do amanhã, Minha alma caminha, rumo ao vento. "Nenhum de nós sabe como é um afã", "Somos apenas um mastro sem intento".

Eu não concordaria, meu grande amor - não. Estamos pendendo para reflexo da realidade, Já que somos tão espessos em conformidade Somos muito mais, além de qualquer clarão.

Reduzir forças não é nosso objetivo agora. Aumentar territórios talvez seja necessidade. E é a isso que se refere um coração pra fora:

Ruma, carinho meu, pelo vento da idade, Pois não importa o tempo antigo que se fora, Haverá sempre caminho além da tempestade.

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Soneto do reduto Venha! Venha comigo uma vez mais, Desfruta do teu paraíso dentro de apenas Uma casa de ovo - figura atroz demais Para quem só pensou em águas amenas.

Estamos fechados e não há mais espaço. Pega apenas o que tens de mais leve, Pois não precisamos de nada que não serve Como o que nos prenderá - apenas um laço!

Sinto-te rebuliçando-se na cadeira, lendo Gentil desejo de um coração amargo? Ou quem sabe vontade desenfreada tendo?

Não espero mais que um espaço largo: Neste ovo, és minha fiel escudeira e brilha Mais intensamente que qualquer espaço na trilha.

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Sonho Depois de tanto tempo, vejo-te novamente. Não era o mesmo sorriso, mas eras sincera. Havia ternura no olhar, maior que a esfera, E em tua voz o carinho que se faz exigente.

Sonhei contigo - república de meus pensares, Espaço em que apareces linda, em seus pares De comoção e dúvida, amor e retaliação Ainda assim reflexo de como é teu coração.

Juraste-me as dúvidas resolver - impossível, Pois sabemos que mal temos tempo a perder, Ainda sabendo que a dúvida nunca irá ceder.

Resta-me, então, esperar a realidade crível. Só assim terei tua voz rindo no meu ouvido, Só assim encontrarei lindo teu coração vivido.

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Serve? Simples retoque de cores no céu azulado: És, meu amor, pedaço e mau espaço Que insiste em não caber como um aço Num coração tão simples de ser amado.

Vítima de circunstâncias casuais - tão doces, Meu coração se esforça em entender o ventre De onde brota tão gentil sentimento, que entre Lugares mil, escuta tua voz, irriquieta - um lance.

De que me serve, terno sentimento único? Para que lado te curvas, em primazia desventurada? Só me resta saber que a ti sirvo, tresloucada:

Quisera-me silencioso, responsos de tal anestésico, Para que me guardasses em vão num mar de desejos E fosse descoberto por outro coração em gentis lampejos.

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Soneto da tua escolha Sabe aquela estrela que brilha, Irradia luz, provida do céu estrelado? Não sei mais de quem está ao lado Não sei mais se não devo ser uma ilha.

Leio tuas palavras e me torturo assim, Vendo que pendes para dois lados, Quando outrora não havia mais outro afim, Ou ainda restavam apenas esforços - sim.

Aterra-me tal conteúdo e me faz pensar Que desistir e ser único talvez te faça feliz, Para assim, seguires sem motivo para duvidar.

Queira, amor meu, que de longe, num triz, Sobre algum carinho de tua escolha, tempestade Maledicente de caminhos que trazem facilidade.

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Caixa de desejos Se tu vieres me abrir uma caixa de desejos, Encontrarás um âmago dos mais puro querer: Nem de perto viverás em ramos de poder, Mas viverás tudo em inúmeros doces lampejos.

Queria maior emoção para tua vida? Toma: Possua em seu circuito relações douradas. Afinal, de que vale uma série de touradas Se não me há maior segredo num sintoma?

É, meu amor, o tempo passa - o deleite também. Fica, porém a pura magia de qualquer relação, Quando há amor unidos - num só coração:

Dê graças por haver sentido na tua vida - amém! Há tanto lá fora que não conhecer nosso calor, Pois há muita gente querendo viver de torpor.

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Si Então tu acordas de um sonho fatal, Nem longo, nem breve - descomunal, Movimento ilícito de um velho agouro, Mártir de provas de todo um tesouro.

Abre teus olhos! Observa o que te vê: Líros, rosas, violetas - todas próximas De um rosto que chamega cataclismas, De um corpo volúvel que antevê:

Brilha em tuas mãos o corpus do mundo! Está aí! Veja em si! Apenas entenda Que todo mundo vê, sente - aprenda:

Perdida no sono, intenso submundo, Ficarás em prova de um lisonjeiro sentido Que em vida se retoca o retorno mentido.

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Linda estrela "You're the sun of the night You're the spark thats sets on fire You're the shield of my life You're my shining star" (Primitive Chaos, do Almah)

Como o sol de todas as minhas noites, Irradias a energia que a madrugada retira. No auge de meus sonhos, muitos enfeites Criados pelas mãos de quem me tira.

A faísca que incendeia meu coração Fora acesa há muito, apenas por ti. Caso não houvesse tanto dito "não", O braseiro iria além, muito longe daqui.

E assim nosso amor se constituiu, meu anjo, E um escudo ao infinito horizonte surgiu, Como se não pudesse distanciar o que nos uniu:

Eram as estrelas, que brilhavam lá em arranjo. Elas, que no pior momento, estiveram com o calor Que tornaram-te, linda estrela, meu maior amor.

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Sete dias "Faça-se a luz", disse Ele, no primeiro dia. Para que se arrastasse até a folga, o sétimo Muito trabalho foi feito, quase aturdia, Tal eram ordens em momento séquito.

Sete dias. Dias de ternura e tempestade, Dias de profundo torpor e velocidade, Para que atinjas tua plenitude, mortal bela, E o sentimento que te acompanha e cela.

Os pensamentos vagam em missas alongadas, Conjunturas de córregos firmes de claras E benditas águas - nossas fianças amadas:

Que seja triunfante teu ao arco-íris retorno, Pois de nada vale a alguém sem alvíssaras Transpor o horizonte com algo morno.

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No teu caminho Cartas que me fizeram sorrir, sonhar E que hoje são resquícios fatigados. Cada palavra que falei, sem duplicar Nada do que eram meus sentidos dados.

Trouxeste-me a inconfidência do bem, Tal como a sereia que me canta longe. Não podes, porém, tirar-me lisonge Do caminho que encontrei hoje e além.

Estás feliz? Encontraste o que queria? Não percebo maré alta com calmaria Como em sonhos um dia quiseste.

Minha noite foi terror, como uma peste. Meus olhos gritam por um socorro a fim De acabar com o mal que resulta assim.

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Pela tranquilidade O relógio baterá cinco horas em poucos minutos, Mas meu canto não se desfaz pelo tempo perdido. Há muito minha voz se declara aos prantos A um amor que por muito se parece iludido.

Escrevo-te uma vez mais, para que saibas, amor, Que em cada carinho escrito houve um sentido, Pois em cada letra residiu inquieto o maior torpor Que te buscou sempre em cada canto repelido.

Posso não ter todos os gestos do muito, amada, Mas em cada um deles faço-te mais acalorada Por apenas explicar cada sentimento nascido:

Não és apenas espaço do destino - mero exequido Que vem a cada instante vibrar todo meu carinho. Quero nosso repouso tranquilo como um ninho.

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Perdido Deitado inutilmente nesta câmara fria Em que meus desejos inutilmente rasgam E acabados em raivas se desmontam, Um anjo desce e me vê: "Refria!"

"Tuas dores acabarão em pouco tempo", Ele me diz, traduzindo sonoridades fonêmicas Que, em princípio, não me passam endêmicas, Por mais descontínuo que seja o contratempo.

Viro-me para o lado e não encontro meu sonho. Afasto-me da parede do pensamento - nada. Até quando ficarei nutrido pela tal amada?

"Que na tua esperança se faça teu ganho", Diz-me o gentil anjo, asas a ruflar ao céu, Enquanto me banho num mundo ao léu.

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Soneto da lembrança Palavras de angústia fazem-me declinar, Ó, lua ardente! Iluminas minha noite, Mas minha vida perde espaço pelo açoite Pelas mais duras forças que hão de me atacar.

Tão belas eram as palavras, lua incandescente, Quando no porvir venturoso o amor se fazia! Que estúpidas sensações de dores se aplicaria Ao que de tão puro e novato se fazia mais decente?

Não pude esperar em te dizer, minha triste lua, Que não mais espero um sinal de agrura sua: Deito em meu leito e espero o desfecho lento...

Que não seja dolorido ou francamente isento, Pois em todas as passagens de afago no arrebol Sempre esteve meu carinho, iluminado pelo sol.

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Pela calma Desejo a ti, meu inconfundível carinho, o melhor: Não quero que as desavenças infames, Que quaisquer faltas de amor como enxames, Seja capaz de que nutramos mais que penhor.

Alguma vez nos dissemos que maior algo - Maior que o sol, que as intempéries, que o mal Está por vir, que irá além de qualquer astral: "Sois meu mundo, meu ano, meu dalgo."

Neste último dia do ano, quero-te feliz sempre. Nas últimas voltas do ponteiro, penso em ti - Como nunca deixou de sê-lo, dias aqui:

Não há nada como um amor que não se compre, Que anseia teu toque num beijo amoroso enorme, Para que o fim do ano seja como de quem dorme.

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Voz da dor Quando cantas ao meu ouvido teu segredo, Estou em cada momento apto a te entender. Quando suspiro algum descontentamento cedo, O que faço para que não queiras me ler?

Faço-me distante num momento, erro comum, - Absurdo incalculável para não ter tuas palavras? Penso que não estou sendo suficiente, nenhum - Talvez resida o medo de ir sem olhar para trás?

Falei-te que só estaria para bons momentos E uma lacuna de silêncio para afirmação se fez: O que queres dizer, com ausência de tua tez?

Calo-me em meu canto, gentil silêncio de intentos: Sou águia que voa em busca de te proteger, Mas és um rouxinol que não me quer eleger?

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Pedido Vês, amor meu, que em sábias palavras Cristalizam-se os mais belos sentidos: "Guarda cada uma delas, torne-as escravas, Mas não permita aos desejos mal contidos."

Digo-te, como sempre, que não me venço Por qualquer medo ou imperiosa vontade: "Sois minha guia em tudo, neste lenço, Naquilo que me vens com toda piedade".

Aos te distanciares, lembro-me de cada passo: "Não as leia antes da hora certa, tá bem?" "Bem me conheces para saber como faço:

Sigo meu coração em busca de me harém, Nada mais que uma série de palavras belas Que correspondem ao meu amor sem velas."

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As cartas Encontrei uma carta - debaixo de outras doze... Nela, falavas de um amor maravilhoso, coberto Pelas mais belas palavras - charada de ouro e bronze Que terei de resguardar no meu pensar esperto.

Caso eu não haja com sapiência, passos dados Podem ser esperanças fugidias de jardins suspensos - Ainda que flutuante, nas asas dos esperançados Momentos em que dormiremos solenes, incensos.

Nunca recebera tal presente - com prazer enorme Doze cartas que num ano atravessarão o mundo Para dizer-me sobre o teu amor, algo mais forte:

Que sejamos felizes eternamente neste ano próximo, Que a paz fecunde alegrias intensas ao fundo De nossos corações que anseiam um futuro pródigo!

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Voo Sabe aquela hora em que tu alças um voo maior? Tens noção daquele momento, clímax profundo, De um pensamento como não-estar-no-mundo, Só para lembrar que não temos uma vida menor?

Assim lembro de ti: não és meu objetivo alcançado, Nem meu segredo de amores mais abastado És tão real quanto meu sonho mais brando, Que naturalmente tomou forma de corpos queimando.

Ah, gentil mulher, que te venho acalmando o olhar, Busco apenas encontrar o que o amor quer ditar: Inclui-me em tuas formas delicadas e amorosas!

Só assim teremos o espaço aberto entre rosas, Para quem sabe encontrarmos nosso Olimpo, Depois de um voo tão alto quanto limpo.

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Ilhas Caminhando num tempo imanente e confuso, Recebi teu gesto de carinho com doces relentos. Agora, caminho longo, sequência de alentos, Repassa em meu coração um universo difuso.

Sinto que te aproximas com carinho maior, Com um imenso desenho de vicissitudes claras. Penso, porém, que, para que saibamos de cor, "Apenas a repetição o faria" - declaras.

Sabemos que, apesar de todos os pecados, Nosso amor avança de modo venturoso, Mas que não se perca os motivos delicados:

Somos fruto de espaço e tempo luminoso, Em que vence o amor, partido em maravilhas, E que não nos permite virarmos ilhas.

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Soneto do caminho Perdida numa trilha sem rumo, Vi teu coração deslizando na areia. Não me bastassem teus olhos de sereia, Senti ainda que me falta algum aprumo.

Constelações de terra em meio ao mar, Indulgências pagas sem ao menos resfriar, Vejo meu corpo incandescer levemente, Sinto minha alma navegar em mente...

Com o sentimento em riste, fito-te: De minhas mãos, a esperança doída De te tocar mansinho, conto-te:

Em minha alvorada, delicada saída, Brilhas costumaz, auge da beleza, Muda meu coração - tal singeleza.

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Em ti Ah, vida! Ultrajante de destinos impiedosos, Miras o futuro com o mais cego dos desejos: Encontrarás em quantidades, em marejosos Olhos um desterro para humildes lampejos.

Que a cúpula de teus deuses sobreponham-se À humilde batalha de um pobre coração - Dolorido, mas com desejos alinhando-se Ao destemido futuro que reserva o clarão.

Se pisas no tempo como um resto de areia, Talvez não haja motivo para que este fim Tão feito possível recentemente em mim:

Observe que a realidade dita quantidades, Mas que as melhores qualidades existem em ti, Bem como todos os amores que reservei aqui.

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Distante Quando o tempo passa o amor escassa, Meu amor, sois meu espaço de delicadeza. "Mas não seria melhor a distância, Espaço temporal de melhor noção e clareza?"

Digo-te, pois, que longe do mundo e do olhar, Meu recanto se esvai em busca de um alguém inquieto. Meu sentimento é claro, conciso, verdadeiro e longo, Como cada dia que passei em teus braços, irriquieto.

Se tu pensas que te deixo por ficares distante, Se pensas que deixo de te querer por palavras errantes, Para, pensa no que teu coração irado diz:

Não há pena e desleixo no que somos ou fazemos, Não há dor ou amargura nos braços em que nos acolhemos. Só há ventura e felicidade - nosso mundo eterno aprendiz.

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Castelo de areia E aqui eu fico, em meio ao chão arenoso que me sustenta. É possível sair vivo daqui? É real querer com gosto a salvação? De certo, a única possibilidade de um sim vem de antemão A um desejo inóspito e inglório de que ela me tenta.

Se me respeitas, por que tanta fuga por um carinho alheio? Se me amas, por que nunca privilegiar uma palavra de anseio? A morte aproxima-se, negra e d oidivana, arrastando do seio O genuíno desejo de uma vida feliz e sem espaço para "releio".

Deste solo pueril e triste, encaminho meu desenganado castelo: Aumento de par em par os blocos de tortura para seu sustento - Encaminho ao seu as minhas últimas palavras de alento:

Aqui eu fico, corroendo dores em sentidos desordenados e refeitos Mas que doce alma quererá um dono imponente, gloriosos intentos, Se minha base, em risco de desabar, não passa de pouco elo?

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Incansável Então, após todo o universo desalinhado, Um pingo fecunda uma terra infértil, ilustre desacreditada. Os ventos abandonam as tormentas, redesenha alado Todas as paisagens de uma terra outrora inanimada.

Num toque de amor e carinho, os dedos pendidos Mostram muito mais do que um retorno dourado, celestial: É um sorriso que ilumina o caminho de quem vê, abissal Distância entre os temores que antes n os faziam perdidos.

Cuida, querida moça, dos bens que te guardo com louvor: Toda uma gama de sentimentos bons, felizes por te ter. Cuida, apenas, de um que insiste em morar num canto do ser:

É aquele que grita quando se vê agredido, mas que cura; Aquele que se alegra ao escutar qualquer "bom dia", sem usura; Aquele que se faz puro, um puro, digno e incansável amor.

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Uma carta Recebi uma carta tua lá em março, Em que dizia que me amavas de verdade; Falavas das horas em que pensavas em mim, Num minuto de transcrição da realidade.

Reminiscentes lembranças frequentes pela caneta Dum mundo doido e decorrido a passos lentos, Aproveitado na essência de um firmamento vil e sereno, Descanso de um pôr-do-sol alegre e sem ventos.

Que terá acontecido com o amor, gentil lembrança? Que terá ocorrido com a palavra, pura beleza? Por qual dos caminhos se aventura o coração, esta ventura?

Não há mais espaço para ilusão sem caminho, longa solidão. Assuma teu amor perante o mundo e perante as pessoas, Para então descobrir na tua essência a nossa redenção.

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As palavras As palavras ditas não são apenas palavras. Tornaram-se forma, organismo, essência. Um conceito não é mera ideia quando formado: Agregou-se ao mundo, ganhando movimento e dor.

Se tuas palavras, tão ácidas e tripudiantes, Podem valer-se de sentimentos para serem expostas, Por que as minhas, que buscaram calmaria e amor, Não teriam o direito de também ser fera?

Não acho que sumas, o que negues o que sentes - Extremo pavor, corrosão de sentidos Mas acho que nisso mora perigo ainda maior:

Que tua sede de amor não morra, não suma, não ceda Ao pavor da mente, que deveras te encolhe, mas que No fim de tudo sempre encontra um porto seguro.

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Sobre o autor Lucas de Melo Bonez é professor de Língua Portuguesa e Literatura de escolas de Porto Alegre. É diretor da Alma - Ópera Rock, o maior grupo escolar de teatro musical com temática heavy metal do Brasil. Amante dos livros, cria contos e poemas. Dentre seus principais blogs, estão Inverno Púrpuro e Silêncio em Poema.

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