Novas edições: reais modificações textuais?

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LUCAS DE MELO BONEZ

REAIS MODIFICAÇÕES TEXTUAIS?

Nova Leitura

Editora



Lucas de Melo Bonez

REAIS MODIFICAÇÕES TEXTUAIS?

Nova Leitura

Editora


Capa: Edvaldo Maquiavel Editoração eletrônica: Rubião Machado Revisão: Diadorim Silveira Supervisão Editorial: Argemiro Souza Editor: Carlos André Nascimento Ferreira Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Bonez, Lucas de Melo, 1983 – Novas edições: reais modificações textuais? / Lucas de Melo Bonez. – Porto Alegre: Nova Leitura, 2010. 1. Editoração 2. Crítica Textual 3. Livro

ISBN 83-443-0908-9 Todos os direitos reservados a Editora Nova Leitura Ltda. Rua Machado de Assis, 1408 Fone: (51) 3898-0615 CEP: 95575-000 – Porto Alegre – RS HTTP://www.novaleituraeditora.com contato@novaleituraeditora.com


Sumário

Pensando as edições Descrição das edições observadas Pensando a análise das edições Após a leitura do texto

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PENSANDO AS EDIÇÕES Muitos livros ganham inúmeras edições e reimpressões ao longo de sua existência. Tal atividade implica na ocorrência de certas variantes dentro de uma mesma obra, dado o número de cópias, graças a seus grandes valores de obras-primas literárias. Sendo assim, este estudo propõe um trabalho de crítica textual a poemas de um grande autor brasileiro: Olavo Bilac. Na tentativa de retomar o original, busca-se chegar a um texto mais preciso. Os textos utilizados para a realização deste são A alvorada do amor e In extremis. Sendo o autor muito conhecido, houve extrema dificuldade em construir a tábua de edições da obra, pois são muitas. Por outro lado, encontrou-se grande número de pesquisas sobre o poeta, o que facilitou para a preparação de sua biografia e outras necessidades que exigissem a consulta de uma fortuna crítica. As edições utilizadas para a realização do trabalho, tendo em vista que não havia na biblioteca da universidade e em outras pesquisadas obras que não fossem antologias do autor – detentoras dos poemas selecionados –, além de terem inúmeras edições, são as da editora Livraria Francisco Alves, 23ª edição, de 1949, e a 1ª edição da editora L&PM, de 2002. A pesquisa na Internet também fora feita com a intenção de encontrar outras edições, mas a dificuldade se manteve. Assim, o corpus informado foi retirado da biblioteca central da PUCRS, o que prova que, devido a inúmeras novas edições e reimpressões, por diversas editoras, de qualidade ou não, fazem

com

que

as

raras de se encontrar.

edições

mais

antigas

sejam

cada

vez

mais

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DESCRIÇÃO DAS EDIÇÕES OBSERVADAS 8

Poesias, de Olavo Bilac (OB1) Edição da Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1949, 23ª edição. O corpo do livro, de formato 18x13,5cm, contém 392 páginas, numeradas a partir da sexta. Foi composto e impresso pela Livraria Francisco Alves, no Rio de Janeiro, em 1949. O livro é uma brochura formada por uma capa de cartolina dura e encorpada – de reencadernação – de cor predominante verde com riscos prestos, sem qualquer escrito ou desenho e com a lombada em tecido azul. O miolo da obra é constituído por papel comum, amarelado e corroído pelo tempo, com algumas páginas soltas. A parte pré-textual apresenta a capa encadernada por um tecido azul com rabiscos em preto; a lombada marrom, sem qualquer escrita. Há folha de guarda. A falsa folha de rosto traz os dizeres POESIAS, sendo o primeiro em negrito, ao centro da página. No verso da folha, há uma lista com as obras do mesmo autor e as que colaborou. Na folha de rosto, no terço superior, há escrito em negrito OLAVO BILAC; abaixo, separado por um traço, em fonte maior, o título da obra: POESIAS. Após, no meio da página, há a referência à edição: 23ª EDIÇÃO, em negrito. Logo abaixo, há um quadro que indica as obras que compõem esta antologia do autor: Panoplias, Via Láctea, Sarças de fogo, Alma inquieta, As viagens, O caçador de esmeraldas e Tarde. No terço inferior, há o nome da livraria, em caixa alta: LIVRARIA FRANCISCO ALVES. Abaixo, também em caixa alta, mas em fonte menor, EDITORA PAULO DE AZEVEDO LTDA. Segue na linha abaixo os endereços da editora no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Belo Horizonte. Abaixo, o ano da publicação: 1949. Há no terço


inferior e superior referências à biblioteca de onde o livro fora extraído: dois carimbos com identificação da universidade, além de três etiquetas com o número do exemplar e seu código de barras. Antes de iniciar o texto do autor, há, no verso da folha de rosto, o número 3728, além de outros dois carimbos referentes à biblioteca. N página posterior, inicia-se o texto do autor. Este se estende até a página 383. A partir 9

da página 385 – antes há uma em branco –, há o índice, que se estende até a página 391. Antologia poética, de Olavo Bilac Edição da L&PM Editores S/A, Porto Alegre, 2002, 1ª edição.

O corpo do texto, de formato 17x10cm, contém 92 páginas, que são numeradas a partir da terceira. Foi composto e impresso pela L&PM Editora, em Porto Alegre, no ano de 2002. O livro é brochura, de capa de cartolina. No canto superior esquerdo, a tipologia da obra, Poesia, escrito na horizontal, com fundo vermelho e letras brancas. Ao meio, no topo da capa, com fundo preto e escritos em branco, o nome do autor: Olavo Bilac. Abaixo, com fundo branco e escritos em preto, o


título da obra: Antologia poética. Abaixo, uma imagem de pintura, reprodução de Anêmonas e tulipas, de Raoul Dufy. No terço inferior, com fundo preto e escritos em branco, a coleção a qual o livro pertence, L&PM POCKET. A folha de rosto contém, no terço superior, o nome do autor, todo em maiúsculas, OLAVO BILAC. No meio da página, o título da obra em negrito, ANTOLOGIA / POÉTICA. Abaixo, quem fez a seleção e as notas da obra: SELEÇÃO E NOTAS / DE / PAULO HECKER FILHO. No terço inferior, há o sítio virtual da editora e abaixo seu nome: www.lpm.com.br / L&PM POCKET (este com fundo preto e escrito em branco). No verso, há diversas informações referenciais da obra. No terço superior, o título da coleção e o volume: Coleção L&PM Pocket, vol.38. Abaixo, informações da capa, revisão e produção do livro: “capa: Ivan G. Pinheiro Machado sobre reprodução da obra / Anêmonas e tulipas, de Raoul Dufy / revisão: Paulo Hecker Filho e Cíntia Moscovich / produção: Jô Saldanha e Lúcia Bohrer”. Mais abaixo, o número de identificação ISBN. No terço central, há a referência bibliográfica do livro, separado por dois traços. Após o segundo traço, revela-se a catalogadora responsável. No terço inferior, há o endereço comercial e eletrônico da editora. Na página posterior, que começa a numeração, há o texto Justiça a Bilac, de Paulo Hecker Filho. Após, uma página em branco e, na posterior, dados sobre o autor, até a página 6. A seguir, o índice de poemas do livro, até a página 8. O texto em s começa na página 9 e se estende até a 85. Após, uma página em branco e, na posterior, há a relação de obras da coleção L&PM Pocket publicados pela editora, até a página final.

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PENSANDO A ANÁLISE DAS EDIÇÕES 12

É necessário saber que, segundo Houaiss, há sempre um acúmulo de erros tipográficos, que tendem a aumentar com o número de reedições, sendo tanto maior ou menor que na primeira edição, pois não há livro sem erro tipográfico, por mais perfeito que seja. Há duas principais características de erros: os erros óbvios e os latentes. O erro óbvio é uma forma como preguntar, por exemplo, livvro, reduçãos etc., independente do autor e sua época, é algo que nunca houve um uso. Porém, é necessário que o trabalho lingüístico do autor seja avaliado, caso ele realmente tivera a intenção de escrever daquela forma, como o preguntar, não há como corrigir. Os erros latentes, porém, são mais difíceis de serem identificados, pois apresentam graduações: a)

Podem ocorrer em forma e esquema corretos em sim, como

eles digladiavam-se, quando, na verdade, o autor desejava eles se digladiavam. b)

Quando a forma está “errada” perante a um certo cânon

(regra), mas o autor desejou fazer assim, como, por exemplo, se a amada pedir-te uns versos tristes. O autor pode estar indo contra essa regra para melhor expressar sua idéia, o ritmo de seu poema, a métrica etc. c)

Pode a forma parecer correta, mas estar fora do contexto,

quando, por exemplo, a frase diz ele se parece comigo, enquanto o autor pretendia ele não se parece comigo. Os erros tipográficos de um livro já impresso, mas não finalizado, localizados em tempo pelo autor ou pela revisão, são objetos de uma errata, ou o erro passará para uma segunda edição, acumulando erros nas edições seguintes e, caso haja a tentativa de corrigir tais erros sem uma verificação à


primeira edição, ou, talvez, ao original, o erro pode ser ainda maior. Com isso, desencadeia-se o que Houaiss considera bom ou mau texto. O bom seria o mais fidedigno ao original ou à primeira edição. Obviamente que essa primeira edição tenha passado pelos cuidados citados acima. O autor também chama atenção para a possível confusão que pode haver entre erro e variante. A diversidade de variantes permite que essas 13

variantes sejam desde os erros óbvios (autor, tempo, obra e língua), até as provavelmente erradas ou provavelmente certas. De qualquer forma, o critério de valor em relação às variantes não é um critério normativo. Acontece é que dentre as variantes, uma ou algumas são, seguramente, erradas. Essa certeza de erros é que leva o critério de eleger variantes admissíveis ou não. Erro é um montante de perda de precisão numa quantidade; a diferença entre uma quantidade exata e sua aproximação calculada. Os erros ocorrem em métodos numéricos. Os apógrafos (reprodução de um escrito original) apresentam erros porque os copistas cometem enganos, que passam a ser dificuldades na compreensão dos textos, e assim também fazem os tipógrafos. Dentro dos erros cometidos por copistas e tipógrafos, os principais são: a) Deformação verbal e frásica, como aparecimento de formas ou frases aparentemente inexistentes, até o momento histórico que se localiza o autor, ou a obra etc. Esses aspectos são, geralmente, revelados pela tensão estilística do texto ou pelo contexto. b) Vícios de sentido ou sintaxe, como a troca de facundo por fecundo (as parônimas). c) Vícios de estilo, como disparate, assimetrias sintáticas etc. d) Vícios métricos, rítmicos, prosódicos, etc. e) Disposição, ordem e seqüências insólitas, o que ocorre, muitas vezes, devido à não compreensão do copista de alguma forma, por uma tentativa de correção. Enfim, o indício do erro surge com a dificuldade de compreensão e a existência de variantes. Na obra Introdução à textologia, de Roger Laufer, é possível encontrar outras classificações de erro (ou variações na nomenclatura). O autor inicia


afirmando que erro é uma variante desprovida de autoridade, pois o autor não assina cada palavra que escreve. O editor crítico, segundo Laufer, não tem a obrigação, nem deve, reunir páginas de variantes, já que muitas dessas variantes não deixam de desmentir o texto que acompanham. Para Laufer, os tipos de erros são: a) Erros literais (leitura e escrita): O copista pode, muitas vezes, escrever uma letra no lugar de outra, o que, geralmente, ocorre devido ao contexto, pois o copista é levado pela expectativa de encontrar uma palavra ou letra quando lê, não lendo a correta. Ex.: Cabeças pensantes / Cabeças pesadas. b) Volta ao original (erro de localização visual): ocorre quando o copista, ao trabalhar, tira e torna os olhos ao original. Intuitivamente, sua visão busca a última palavra que leu e escreveu, ou apenas o final dela, caindo, por descuido, em outra semelhante, causando, assim, a omissão de partes do texto ou a repetição de alguma parte. c) Memorização (erros psicolingüísticos): constituem-se de novas formulações − conscientes (conjunturais) ou inconscientes (automatismos verbais). Pode haver omissão, como, por exemplo: como eu entrasse ali, chegou ali um homem para Como eu entrasse ali, chegou um homem. Ou pode haver acréscimo, como: Encontrei um homem para Eu encontrei um homem. São erros invisíveis, mas podem tornar um autor, talvez, redundante, inferiorizando seu trabalho. Não confundir com caso de omissão, onde o sentido da frase se perde. Aqui é uma memorização: o acopista compreendeu o que está sendo dito, mas, ao copiar, mudou algo, não interferindo nesse sentido. d) Erros gramaticais: são erros claros de problemas com a norma da língua, como, por exemplo, dois carro etc.

Erros de significado (sinônimas e antônimas): também ocorrem quando o copista já espera uma palavra e, ao ler o texto, passa sobre ela, substituindoa por um sinônimo, que pode não ser tão preocupante numa narrativa (porém, na poesia pode causar vários problemas – ritmo, métrica...) ou substituindo-a por um antônimo, comprometendo de forte maneira, o significado do texto. Sendo assim, tem-se o cuidado, a partir de agora, no decorrer da colação, em tratar-se separadamente das variantes que não implicam em uma atualização da gramática da língua portuguesa, destacando as variações gramaticais de forma diferente das outras variantes mais significativas, como pontuação e palavras trocadas.

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APÓS A LEITURA DOS TEXTOS Pode-se verificar algumas variantes significativas. As mais relevantes se apresentam na ortografia de palavras, como, por exemplo, Peccado por Pecado, sem alteração morfológica ou sintática, e algumas de alteração morfológica, como no caso de silencio por silêncio. Tais problemas fazem com que creiamos que a obra da Livraria Francisco Alves se aproxime mais da obra de Olavo Bilac. As variantes que surgem ligadas às mudanças nas regras gramaticais da língua portuguesa não servem como parâmetro para tal decisão, ficando somente lembradas para, no final, serem atualizadas normalmente. O que se pode observar é que uma edição deriva da outra, já que se põe em fidelidade por quase toda a obra, havendo diferença em poucas partes e mudanças gramaticais. A primeira edição da obra Poesias, de Olavo Bilac, fora publicada em 1888, pela Livraria Teixeira e Irmãos. Como não houve a possibilidade de obter essa edição, partimos da idéia de que a obra mais antiga que se conseguisse aproximar-se-ia mais da original. O livro, porém, era um lançamento de textos do autor. Na edição de 1949, o título Poesias já não refere à primeira edição de Bilac, mas a uma coletânea de poemas do autor. Com o que observamos, as edições têm valores bons, pois uma decorre da outra e, ao que parece, são originárias da primeira edição. Há, apenas, algumas variantes ortográficas que distanciam as edições, mas isso é devido às reformas havidas no Brasil no decorrer dos anos.

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Este livro foi impresso em papel p贸len soft 80g, em junho de 2010, pela gr谩fica Esmeraldino e Freitas Ltda.



Este livro é essencial para os amantes da feitura de uma obra. Acompanhar o processo de realização de um livro é conhecer os passos para que tudo que nos chega como conhecimento se expanda e assimilemos que o texto nunca é o mesmo no decorrer dos anos. Arnaldo Campos O livro... Este sim é a alma da literatura. Quisera ser uma página para carregar todo o peso que há em seu desnudo corpo. Cobrir-me de palavras para levar às mentes o valor de uma edição. Lucas de Melo Bonez o faz com perspicácia, a ponto de nos convencer que devemos ter sempre uma referência para nossas leituras. Ruth Rocha


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