Matéria Sepultura pg. 1 - O Tempo

Page 1

6M

Capa |

O TEMPO Belo Horizonte DOMINGO, 28 DE JUNHO DE 2015

Comemoração

Shows,novosingle edocumentário marcamaniversário ¬ Sobre o gás do Sepultura

no palco, o baixista da banda, Paulo Xisto Júnior, expõe uma conta assustadora: “Até hoje, já passamos por 486 cidades e 73 países”. Masnão é apenas emquantidade que a banda surpreende, ainda mais nos tempos atuais.“Eu assistiaoSepultura no Rock in Rio, em Las Vegas, e fiquei impressionado. A banda é uma máquina, em termos de palco eles estão melhores que nunca. É um show matador. E esse moleque, o Eloy, é um monstro. Provavelmente um dos melhores bateristas brasileiros da atualidade”, conta André Márcio,baterista do Eminence e amigo do Sepultura. Nada mais justo, portanto, que celebrar no palco as três décadas de carreira. “Fizemos dois shows, um no Rio e outro São Paulo, que foi captado para o documentário que está sendo feito sobre a banda. Nesses shows, a gente tocou um repertório bem abrangente, que foi des-

de o primeiro até o último disco”, conta Paulo Xisto. “Também estamos estudando tocar na Virada Cultural de BH. Naverdade, depende mais deles do que da gente. Provavelmente vai rolar, e vamos apresentar esse show de comemoração dos 30 anos”, revela. Além das apresentações, foi lançado, neste mês, o single “Sepultura Under My Skin”, que saiu junto a um vídeo homenageando os fãs com tatuagens da banda. Mas a grande expectativa fica mesmo por conta do documentário que está sendo rodado pelo diretor Otavio Juliano, da Interface Filmes. “Ele vem acompanhando a banda há cinco anos. Quer mostrar como é o Sepultura fora do palco, focando mais nesse momento atual. Mas o filme não énosso, édele. Demos livre arbítrio para que contasse do seu jeito a história, que engloba esses 30 anos de trajetória”, conclui Xisto sobre o filme, ainda sem previsão de lançamento. (LB) ALEX SOLCA/DIVULGAÇÃO

Nova formação conta com o prodígio baterista Eloy Casagrande

Sepultura 30 anos

GruposaiudagaragemdosirmãosCavaleraetornou-sereferênciadamúsicapes

De Santa Tereza pa ¬ LUCAS BUZATTI ¬ “Cara, o Sepultura ainda vai fazer

muito sucesso. Escreve isso”. Proferida por Max Cavalera em 1984, a premonição ficou marcada para sempre nas lembranças de André Márcio, que à época seguia os amigos da ainda incipiente banda de metal. “Meu irmão mais velho era do Multilator, outra banda da cena, e às vezes o pessoal do Sepultura ensaiava lá em casa. Numa das idas entre minha casa e a do Max, estávamos à pé, quando ele parou perto de uma cruz e disse isso. O cara tinha só 15 anos, e uma ambição assustadora”, recorda Márcio. “Eles sempre foram muito focados e correram atrás do sonho. Esse era o principal diferencial do Sepultura com relação às outras bandas da época”, sublinha André Márcio, que foi baterista do Overdose, outro importante expoente do metal mineiro, entre 1987 e 1997. “O Overdose era outra banda que tinha muito potencial. Chegamos a fazer mais de 200 shows no exterior, mas não decolamos. O Overdose eram os ‘shampoo’, e o Sepultura, os ‘favelados’”, lembra, às risadas. “Era tudo muito novo. A galera brigava no tapa para ter fitas K7 e LPs. Tinha a coisa do cabelo grande, das correntes. Corremos muito da polícia, ainda era ditadura. Era cabeludo e usava blusa preta, tomava dura. Sem contar a história do satanismo, de cruz ao contrário, de caveira. Nossos pais nos obrigavam a ir na igreja, e a gente contestava através do metal”, sublinha. A rebeldia juvenil e o gosto pela música pesada levaram os irmãos Max e Iggor Cavalera a montar o Sepultura – que completou 30 anos de banda no fim do ano passado. “Na verdade, instituímos uma data para celebrar, porque ninguém sabe ao certo quando a banda começou”, explica o baixista do grupo, Paulo Xisto Jr. A data escolhida foi 4 de dezembro de 1984, quando a banda fez seu primeiro show, na extinta casa de shows Barroliche, no Barroca. “Eu já estava com passagem comprada para passar as férias com a famí-

Formação clássica. Da esquerda para a direita, os jovens Andreas Kisser, Iggor e Max Cavalera, e Pau

lia em Montes Claros e não pude tocar. Na época, meus pais mandavam e eu obedecia”, brinca Paulo. Amigo e “faz-tudo” da banda, Silvio Gomes, o Bibika, se lembra bem da ocasião. “Não tinha baixo, o Max pegou a guitarra emprestada, o Iggor tocou numa bateria que era um lixo. E no vocal estava o Wagner (Lamounier, que deixou a banda no mesmo ano para montar o Sarcófago). Foi uma ‘tosqueira’, mas a gente achou o máximo”, lembra Gomes, que trabalhou com a banda desde os primórdios até 2006. Bibika era vizinho dos Cavalera em Santa Tereza, onde toda a história começou. “Santa Tereza era o foco. Foi onde eu conheci o Max e o Iggor, no dia de uma seresta. Tudo nasceu ali”, lembra Paulo Xisto. “A gente começou a tocar na garagem

deles (dos Cavalera) e, depois, os ensaios foram na minha casa, na rua Pouso Alegre. Passávamos os fins de semana tocando, que era o tempo que tínhamos, por causa da escola. Até que a demanda ficou maior e começamos a ensaiar todos os dias. Largamos a escola em comum acordo, em 1986, pouco antes de nos mudarmos para São Paulo”, conta Xisto. O ano de 1986, inclusive, foi emblemático para o Sepultura. Além de lançar o segundo disco, “Morbid Visions” – sucessor do debut “Bestial Devastation”, lançado pela Cogumelo em split LP junto com “Século XX”, do Overdose –, pela primeira vez a banda abriu para um grupo estrangeiro, o Venom, no Mineirinho. “Como a cena de Minas estava muito forte, o público queria, na verdade, era assistir ao Sepultura”, lem-

bra André Má veio “Schizoph entrada do gu ser no lugar de também foi o ú ro responsáve Sepultura na i “Não fosse a Co não tinha che Nós proporcio cial que a band nível de qualid de parceria”, a de Faria, propr A mudança vancou a carre çou “Beneath 1989, pela ho Records, quand primeira turnê que saímos do th’, vimos que

LINHA DO TEMPO SEPULTURA 1984 Acontece o primeiro show da banda, na antiga casa de shows Barroliche, no Barroca. Wagner Lamounier, que depois montaria o Sarcófago, ainda estava nos vocais. Max e Iggor tinham, respectivamente, 14 e 15 anos.

1985 Assinam com a Cogumelo e lançam o split LP com “Bestial Devastation” de um lado e “Século XX”, do Overdose, de outro. Max Cavalera já assumia guitarra e vocais.

1986 Abrem o show dos ingleses do Venom no Mineirinho e lançam o disco “Morbid Visions”. Ainda no mesmo ano, o guitarrista Jairo Guedz sai da banda e é substituído por Andreas Kisser.

1987 Lançam o disco “Schizophrenia”, o último a sair pela Cogumelo, que vende dez mil cópias nas primeiras semanas.

ACERVO SÍLVIO GOMES

1989 Assinam com a gravadora holandesa Roadrunner e lançam “Beneath The Remains”, produzido pelo norte-americano Scott Burns. Fazem a primeira turnê internacional com o Sodom na Áustria, EUA e México.

ACERVO SÍLVIO GOMES REPRODUÇÃO YOUTUBE

1991 Tocam no Rock in Rio II e lançam “Arise”, que contou com longa turnê em países como Grécia, Japão e Indonésia. Ao fim da excursão, o álbum já tinha vendido mais de um milhão de cópias. ACERVO SÍLVIO GOMES

1993 Lançam “Chaos A.D.”, disco carregado de letras de protesto que solidifica a banda no cenário mundial da música pesada. A essa altura, já tinham tocado com nomes como Black Sabbath, Motörhead, Metallica e Ministry.

1996 Lançam o esperado “Roots”, que mistura influências tribais e percussivas ao metal. O disco teve participação de índios xavante em “Jasco” e “Itsári”, e de Carlinhos Brown em “Ratamahatta”. Em dezembro, para surpresa dos fãs, a banda anuncia a saída de Max Cavalera. O músico não concorda com a decisão dos demais integrantes em demitir sua esposa, Gloria, então empresária da banda, e decide sair.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.