DMB - Edição #11

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Carta do diretor Lucas Fernandes Os designers comemoram. O Projeto de Lei da Câmara (PLC) 24/2013, do ex-deputado Penna (PV-SP), foi aprovado no dia 30 de setembro pelo nosso Senado. Isso significa que agora a única coisa restante é a sansão presidencial. Um dos principais pontos desse projeto de lei é o fato de que apenas aqueles formados em graduações reconhecidas pelo MEC ou com um mínimo de 3 anos de experiência profissionais comprovadas (até a data de publicação da lei) poderão exercer a atividade legalmente. A luta por essa aprovação tem sido longa, mas estamos mais perto do que nunca antes. Vamos torcer para que tudo dê certo. Além disso, nessa semana (05 a 09 de outubro) ocorreu o Confred, o Congresso Online para Freelancers e Estudantes de Design, e eu tive o imenso prazer de ser um dos palestrantes. O tema da minha palestra foi “Autopromoção com projetos pessoais”. Nela eu comentei sobre algumas coisas que podem ser feitas para conseguir destaque no mercado de trabalho. Se por qualquer motivo você tiver perdido ou queira assistir novamente, sugiro que adquira o passe VIP, que dá acesso à todas as palestras quando e quantas vezes você quiser, além de diversos bônus imperdíveis. Que época boa para ser designer. 2 • Edição 11

Formado em design gráfico e atuando no mercado desde 2010. Atualmente focado em direção de projetos. Dentre eles a revista digital Design Magazine Brasil e o “coletivo criativo” Grupo I3C3.



Sumário

Identidade São Paulo

Casa Cor Rio de Janeiro 2015 Pág. 08

Los Makers

Pág. 18

Entrevista com Ligia Fascioni Pág. 26

História da arte criativa

Resenha: Sistemas de grelhas Pág. 44

4 • Edição 11

Pág. 36

Pág. 54


Design Magazine Brasil

Outubro 2015 • 5


Créditos

Edição #11 Outubro/2015

Diretor Lucas Fernandes

Redatores Arthur Dias Eliezer Santos Éllida Assis Lucas Fernandes Mayara Wal Silvia Grilli

Idealizadores Diego Gomes Douglas Silva Gilberto Ferreira Leandro Siqueira Lucas Fernandes Projeto gráfico Douglas Silva Hebert Tomazine Leandro Siqueira Lucas Fernandes Thiago Seixas Vitor Cardoso

Diagramação Douglas Silva Leandro Siqueira Lucas Fernandes

Fotografias André Reis Ilustrações Douglas Silva Wendel Fragoso Revisão Juliana Teixera Lourrane Alves Capa Júlio Carvalho

Logotipo Elementos À Solta

Site designmagazine.com.br Redes Sociais facebook.com/revistadesignmagazine.br twitter.com/DMBr_Oficial Email lucas@designmagazinebrasil.com.br A Design Magazine Brasil é uma projeto de LucasFAdS e Grupo I3C3. O conteúdo textual e imagético da revista pertence aos seus respectívos autores e não pode ser reproduzido sem autorização prévia. 6 • Edição 11


Design Magazine Brasil

Outubro 2015 • 7


Identidade São Paulo Imagens: Cortesia Identidade São Paulo.

Eliezer Santos

Atua como freelancer desde 2012 com criação de logotipos, peças publicitárias, etc. Atualmente tem se dedicado a edição de vídeo e motion design.

“Pensamos que a simbologia permite que cada região seja diferenciada, promovendo seus atrativos, o que gera turismo e consequentemente a procura por investimentos.”

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Design Magazine Brasil Uma boa ideia dá trabalho, não dá? O que dizer então de uma ideia genial? O que dizer então de uma ideia genial, a ser aplicada em cada um dos mais de 450 bairros da capital paulista? Loucura? Alguns poderiam até considerar, mas não o casal Pedro Campos e Stella Curzio, idealizadores do IDENTIDADE SÃO PAULO, um grande projeto que pretende criar uma identidade visual própria e um logotipo para cada bairro da capital paulista. Quem teve a ideia inicial foi Pedro, Designer a mais de 15 anos, que entre um trabalho e outro para terceiros, sentia a necessidade de começar um projeto próprio, não só que engrandeceria seu trabalho, mas que contribuísse de alguma forma para sua cidade: “-Uma palavra que estava acostumado

a ouvir a vida inteira tornou-se, por alguns instantes, completamente estranha e engraçada. Foi o caso do Butantã. Dizia: ‘Butantã, Bu-tan-tã’; e me perguntava que nome é esse?” Afirmou. Foi então que ele achou que seria legal criar logotipos que representassem os bairros.

Outubro 2015 • 9


Identidade São Paulo

A ideia surgiu em 2009, mas só em 2013 ela

mento devido ao Identidade SP, pois nem no rotei-

começou a ganhar forma: “- Em uma das arruma-

ro oficial de turismo da cidade ele é mencionado. O

ções corriqueiras, resgatei um caderninho antigo de

local além de ser obra do sobrinho do Santos Du-

anotações em que estavam os rabiscos do projeto.

mont, permite uma visão fantástica da cidade. Atu-

Mostrei para a Stella e expliquei a ideia”. Sua mu-

almente o patrimônio histórico está praticamente

lher, segundo ele, achou o projeto fantástico e en-

abandonado e imagino no que poderia ser daquela

trou de cabeça na empreitada. Se iniciava ali então

região com um monumento daqueles em termos

um longo caminho de esforço, tempo e pesquisa

de desenvolvimento. Por isso fizemos questão de

nos bairros para descobrir qual a “cara” de cada um.

representá-lo no logotipo do bairro. Pensamos que

Mas talvez alguém possa pensar em qual a fi-

a simbologia permite que cada região seja diferen-

nalidade de se ter um logotipo representando seu

ciada, promovendo seus atrativos, o que gera turis-

bairro, uma vez que logotipos são ferramentas cos-

mo e consequentemente a procura por investimen-

tumeiramente usadas para representar empresas, e

tos. Para os bairros novos ou pouco conhecidos, e

não lugares. Quando muito, representam as admi-

até mesmo aqueles que não possuem patrimônios

nistrações regionais, como os logotipos de prefei-

históricos ou alguma característica aparente, incen-

turas e etc. É nesse ponto que entra a genialidade

tiva e promove a importância do desenvolvimento

do projeto. “-Vemos muito potencial desperdiçado

local por meio do design. A marca, para estes casos,

em São Paulo.” Conta ele. “- Um exemplo disso é

pode servir também como umbrella (ou seja, vários

o Mirante do Jaguaré. Eu, mesmo morando anos

produtos e serviços que podem surgir a partir do

próximo a região, só soube da existência do monu-

conceito da marca Identidade SP)”. Conclui.

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Design Magazine Brasil

O logo da Next tinha tambĂŠm versĂľes bicolores, usando a paleta da identidade.

Outubro 2015 • 11


Identidade São Paulo Este conceito não é novo. Chama-se Place Branding e é utilizado em alguns lugares do mundo, mas a ideia de se utilizar dessa forma, visando uma identificação com o bairro, é totalmente nova. As possibilidades de utilização são infinitas, bem como os benefícios que o projeto traria para a população. Stella, que é Jornalista, nos conta uma situação que ilustra bem quais tipos de benefícios que uma identidade do bairro poderia trazer: “-Muitos paulistanos (e eu me incluo nesse

nicho), não sabem em qual bairro estão ao trafegarem pela cidade, imagine os turistas e estrangeiros?” Diz ela. “-A ideia para a criação da nossa web série surgiu após eu ter passado por isso recentemente. Voltando de uma reunião, eu e o Pedro estávamos sem o auxílio do GPS e acabamos errando o caminho de volta. Após dirigirmos por um tempo significativo sem saber onde estávamos, paramos em um farol (semáforo) e, ao olhar para a minha direita, vi uma parede imensa de tijolos com telhadinhos, como se fossem várias casinhas germinadas e após um déjà vu, lembrei que já havia visto aquela construção e imediatamente puxei na memória a Estação Ciência, representada em nosso logotipo da Lapa. O farol abriu e logo mais a frente, o bairro se

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confirmou como sendo a Lapa: ficamos frente a frente com o Mercado Municipal da Lapa, também representado no logotipo do bairro”. Perguntei se o projeto já havia sido apresentado ao poder público de São Paulo, e segundo Stella, até houve um interesse e uma proposta de parceria por parte do governo, mas nada concreto, e nada principalmente na área de investimento financeiro. Não há sequer apoio cultural, já que Stella se dedica a pesquisas bairro a bairro, para desvendar um pouco da história e características de cada lugar, pois a ideia é ter uma logo que represente fielmente cada bairro:

“- Em alguns casos, quando precisamos de maiores informações a respeito dos bairros, buscamos ajuda e orientação das associações dos moradores que, apesar de terem sido muito solícitos até o momento, também carecem de informações, já que muitas delas são de responsabilidade de pessoas específicas que dificilmente conseguimos contato direto”. O projeto não se limitará apenas a capital paulista. Assim que concluírem o Identidade SP, o casal pretende desembarcar na cidade maravilhosa, e dar início ao Identidade RJ, e assim por diante, levando o projeto a todas as capitais do País. Perguntei se havia algum projeto para incluir as cidades interioranas também, e Pedro me disse não descartar nenhuma cidade, mas sem investimentos, parcerias e gente Outubro 2015 • 13


Identidade São Paulo comprometida com o projeto, ficaria humanamente impossível para apenas eles dois estenderem a ideia não só às capitais, mas a todas as cidades. Outro valioso benefício que o projeto poderia trazer para a população seria dar uma grande contribuição na difusão do Design em nossa cultura, já que, como todos sabem, a grande maioria da população brasileira não sabe o que é Design, e por isso, não dá a real importância que o Design tem na sociedade: “-A experiência visual é o que há de

mais importante para o ser humano na tomada de decisões de consumo”. Diz Pedro, e Stella conclui: “-Segundo pesquisas, para algumas pessoas, a positividade e intensidade emocional com determinadas marcas ou produtos possuem similaridades se comparadas ao sentimento desperto por aquelas pessoas não tão próximas, mas que provocam alguma empatia e, esta relação é o que buscamos com o

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Design Magazine Brasil

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Identidade São Paulo

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Design Magazine Brasil

Identidade São Paulo. Queremos criar ou fortalecer o elo entre as pessoas e seus bairros, despertando o sentimento de cuidado e zelo, contribuindo para a divulgação da história, preservação de patrimônios e das tradições dos bairros paulistanos”. Quem sabe num futuro próximo, as Prefeituras comprem a ideia, e além de ter uma importante ferramenta de localização e identificação, os moradores de cada bairro possam ter souvenires colecionáveis com a marca que representa o seu bairro, além de adquirirem uma noção mais ampla de cidadania e Design?

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Casa Cor Rio de Janeiro 2015 Fotos: André Reis.

Éllida Assis

Estudante de Arquitetura e Urbanismo. Curte andar de long board e ler livros de arquitetura, ir a museus e tudo ligado a arte, além do contato com a natureza.

“Construídas entre os anos de 1908 e 1916, as casas formam um conjunto arquitetônico em estilo eclético.”

18 • Edição 11


Design Magazine Brasil

A Casa Cor Rio 2015 completa sua 25º edição

casas formam um conjunto arquitetônico em estilo

no Rio em uma centenária vila composta pelo pré-

eclético. Cada uma recebeu nomes indígenas, pois

dio do antigo Hotel Turístico, o Edifício Baronesa e

os primeiros a ocuparem a região do morro da Gló-

as 09 casas geminadas, tombadas pelo município

ria foram os índios tupinambás.

e incluída na Área de Proteção do Ambiente Cultu-

Antes da Villa Aymoré ser construída, morou

ral da Glória e do Catete desde 2005. Localizada na

ali a Baronesa de Sorocaba, irmã da Marquesa de

Glória, Zona Sul do Rio de Janeiro, a Villa Aymoré foi

Santos, ambas amantes de D. Pedro I.

o local escolhido para a maior e melhor mostra de

Em 2000 a Villa foi adquirida pela Land-

arquitetura, decoração e paisagismo das Américas,

markProperties, o primeiro e único fundo de in-

localizada no pé do morro da Glória.

vestimento do país a apostar na revitalização do

Construídas entre os anos de 1908 e 1916, as

patrimônio histórico, aplicando 50 milhões de Outubro 2015 • 19


Casa Cor Rio de Janeiro 2015 reais. Restaurada pela RAF Arquitetura e execu-

nesa como o lugar de encontro furtivos entre ela

tada pela Lafem Engenharia, tudo supervisiona-

e Dom Pedro I.

do e acompanhado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. O evento contou com 63 renomados Arquite-

Os home offices também apareceram em alguns espaços, interligando a vida pessoal com a profissional.

tos, Designer de Interior e Paisagistas do país que

Jairo Sender deu o nome de seu ambiente

em cerca de 5 mil metros quadrados, divididos em

de Sala Multiuso, tendo como inspiração um jo-

42 ambientes, buscaram demonstrar o jeito cario-

vem executivo bem sucedido, que realiza seus ne-

ca de morar em home offices, espaços de criação,

gócios de uma forma mais descontraída, em um

estúdios e lofts, ao criarem ambientes que unem

espaço onde possa jogar com seus clientes, tomar

trabalho e descontração, antigo e moderno. Sem-

um drink, vir direto de um clube ou aeroporto, to-

pre interligando a vida pessoal com a profissional,

mar seu banho e trabalhar. Para essa rotina, o es-

explorando a natureza dos materiais, tanto na es-

critório foi pensado com uma sala de banho, clo-

trutura aparente quanto na decoração, trazendo

set e espaço gourmet.

contemporaneidade ao ambiente. Partido Conceitual O romance de D. Pedro 1º com a Baronesa foi inspiração de muitos arquitetos na criação de seus ambientes. O livro La Garçonnede Victor Margueritte foi inspiração para André Piva e Vanessa Borges dar o nome de seu ambiente de Garçonnière. Utilizada para receber amores avulsos, o ambiente projetado

“A Sala de Morar das arquitetas Bitty Talbot e Cecília Teixeira foi inspirada em uma carioca solteira”

é uma espécie de refúgio, sendo um local para encontros com a literatura, a arte, a música e os amo-

A Sala de Morar das arquitetas Bitty Talbot e

res avulsos, através de uma iluminação intimista

Cecília Teixeira foi inspirada em uma carioca soltei-

que combinada aos quadros e livros, traz sensuali-

ra, designer de estampas. Criaram um espaço onde

dade ao ambiente.

a designer possa trabalhar, descansar e fazer suas

Adriana Ferraz e Cristiana Galvão propuseram uma releitura do quarto da Baronesa de

refeições, tudo no mesmo espaço, por isso o nome. Onde o espaço exerce várias funções.

Sorocaba, dando o nome de Quarto da Amante.

O Jeito Carioca de morar está demonstrado

Em versão moderna e utilizando peças de anti-

em muitos ambientes da Casa Cor Rio 2015, alegre,

quário, o quarto recebeu também um papel de

colorido, casual e chique.

parede em 3D que simula uma renda sobreposta

Um deles é o Estúdio dos Colecionadores, es-

a um espelho. A proposta do projeto é trazer a

paço de Maurício Nóbrega, que se inspirou em um

atmosfera do século 21 para o quarto da baro-

casal carioca, colecionador de artes contemporâ-

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Casa Cor Rio de Janeiro 2015 neas. Utilizou o corrimão da escada como estante

dades que expressa uma cidade com ar jovial

para expor algumas coleções. Além disso o espaço

cercada de memórias.

foi criado para receber e expor as coleções de seus amigos que também são colecionadores.

A paulista Marina Linhares criou um loft versão estúdio com a cara do Rio, um espa-

O Living da Praia de Paola Ribeiro foi

ço despojado que valoriza a arte, dando o

inspirado no modo de viver dos cariocas, um

nome de seu ambiente de Casa dos Cocares.

ambiente de praia sem perder o estilo urba-

Com quarto, sala integrada com a cozinha,

no. Na parede atrás da escada, Paola optou

home office, banheiro e closet, seu projeto

por um papel de parede que imita venezia-

foi inspirado no lado afável dos cariocas, ao

nas, numa referência às janelas existentes.

propor um amplo espaço onde acontece to-

Percebe-se no espaço uma rica e harmoniosa

das as atividades integradas, ao tempo que

mistura de peças contemporâneas e antigui-

acolhe a todos.

22 • Edição 11


Design Magazine Brasil

A Sala de Estar Bela Arte projetada por Ricardo Melo e Rodrigo Passos foi inspirada nos anos 70 e 80, idealizada para um casal carioca de estilo bucólico, amantes de artes em geral. O ambiente contou com um espelho em sépia, com as cores mais utilizadas da época como o verde, o laranja e o vermelho, com uma estante de madeira nobre feita sem parafusos, que combinados, resgata a nostalgia da época que os inspirou.

“O espaço de Emmilia Cardoso foi pensado para uma jovem carioca da Zona Sul, que gosta de fotografar e apreciar o pôr do sol.” O espaço de Emmilia Cardoso foi pensado para uma jovem carioca da Zona Sul, que gosta de fotografar e apreciar o pôr do sol. Dando o nome do ambiente de Quarto Solar, as cores utilizadas em seu projeto remetem a ideia do pôr do sol. A mistura de objetos modernos e contemporâneos encheu o quarto de personalidade. Jantar à Carioca foi a criação de Mariana A. Dornelles e Stefano Barino. O espaço de 30m² contém uma cozinha, sala de jantar e um bar suspenso. O destaque do ambiente está na elegância da mesa de vidro, onde sobre esta se encontra um bar suspenso por cabos de aço. O mobiliário traz essa mistura de contemporâneo e clássico, o papel de pareOutubro 2015 • 23


Casa Cor Rio de Janeiro 2015 de em tom coral da Orlean junto com os quadros,

LAB LZ by GT de Gisele Taranto propôs

deixa o clima mais tropical. A sala ainda conta com

um laboratório de ideias, dando destaque

uma parede de cobogó com fundos espelhados

para os tubos de ensaios que adornam o am-

dando amplitude ao espaço, que foi criado para re-

biente em cima da mesa. Espaço pensado

ceber amigos e ali permanecerem por toda a noite.

para profissionais se reunirem e discutirem

Sobrado Studio Ro+Ca de Carlos Carvalho

questões que influenciam a forma de habitar.

e Rodrigo Beze foi inspirado em um empresário

Propôs um chão em mosaico de espelhos,

que possui apartamentos pelo mundo inteiro.

com o intuito de tirar as pessoas de suas zo-

Com uma pegada mais industrial e seguindo uma

nas de conforto, criando impacto e buscando

tendência das metrópoles mundiais, onde áreas

dessas um momento de reflexão. Com a pro-

e construções abandonadas dão lugares a lofts.

posta de sustentabilidade, resgatou espelhos

Esse novo jeito de morar carioca, que se origina

em vidraçarias para criarum chão que remete

da revitalização da zona portuária, dá visibilida-

a ideia de camadas de pensamentos. Da mes-

de ao ambiente, não sendo mais predominante

ma forma, tudo no ambiente foi pensado em

o estilo praiano. O estúdio guarda as caracterís-

camadas, das cortinas ao cimento aparente

ticas industriais como a estrutura, as tubulações

mostrando a estrutura. O espaço traz obras

e os acabamentos originais aparentes, tanto na

de Vik Muniz, Tal Danino, Angelo Venosa, Ro-

sala quanto no quarto.

drigo Calixto, Walmor Corrêa.

24 • Edição 11


Design Magazine Brasil Paula Bergamin se inspirou no jardim da

taurado que resgata a nossa memória, é mui-

casa de Frida, uma pintora mexicana que man-

to bacana! Assim como outros lugares estão

tinha seu ateliê de frente para um jardim, dan-

ressurgindo, tal como a Praça Mauá. A Villa é

do o nome de seu espaço de Jardim da Frida

composta por nove casas geminadas, um hotel

Kahlo. Devido a sustentabilidade, optou por um

turístico, todos tombados e ainda um prédio

pergolado de madeira de eucalipto com um teto

contemporâneo nos fundos. Quando viemos

verde, com uma refrescância de menos 3ºC à

visitar tivemos certeza que a Villa Aymoré seria

baixo dele. Além disso, utilizou plantas que não

o local ideal para essa edição de 25 anos. Está

necessitem de muita água para sobreviver, como

sendo um sucesso, as pessoas estão encanta-

azaleias, cactos, bougainville, fazendo um jardim

das. Com isso nós podemos ver como a história

mais sustentável. O ambiente traz o colorido me-

carioca está sendo revivida.”

xicano para o Rio, podendo ser um local de relaxamento, de leitura, recepção de amigos e até mesmo de trabalho. Esses foram alguns de muitos ambientes que estão na Casa Cor Rio 2015. Em uma conversa com Patricia Mayer, organizadora da Casa Cor Rio, junto com Patricia Quentel, ambas disseram que estavam procurando um espaço que fosse um local marcante no Rio de janeiro, já que já fizeram a Casa Cor Rio em muitos outros lugares, como em hotéis, condomínios, outros bairros, clubes, diversas outras casas, no Casa Shopping na Barra, entre outros, mas esse ano tinha que ser em um lugar que remetesse à história do Rio de Janeiro, já que o Rio está comemorando seus 450 anos. “Então quando apareceu a Villa Aymoré que foi construída no início do séc. XX, uma Villa que ficou abandonada por muitos anos e que estava em péssimo estado de conservação, nós achamos que esse seria o lugar ideal, pois ela tinha passado por um processo de restauro há 4 anos atrás”. “A ideia de fazer a edição de 2015 da Casa Cor Rio em um lugar que tem a ver com a história da cidade, um pedaço do Rio resOutubro 2015 • 25


Los Makers Imagens: Silvia Grilli.

Silvia Grilli

Sócia-diretora do portal TrendMóvel. Formada em Desenho Industrial, especializada em design de interiores. Consultora no setor de móveis/decoração e de projetos para organizações públicas e privadas.

“O evento idealizado pelo designer colombiano Jorge Montana, com o objetivo de promover o design produzido por meios digitais”

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Design Magazine Brasil

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Los Makers A mostra Los Makers Edição Brasil foi realiza-

A produção ubíqua é o fenômeno mais ra-

da durante a DW! Design Weekend, em São Paulo,

dical e disruptivo desde a Revolução Industrial:

de 12 a 16 de agosto. O evento idealizado pelo de-

máquinas conectadas a um computador ofere-

signer colombiano Jorge Montana, com o objetivo

cem a possibilidade de realizar processos de cor-

de promover o design produzido por meios digitais,

te, fresagem e prototipagem, antes muito com-

realizou sua primeira edição no Brasil exibindo o

plexos, a partir de arquivos digitais desenhados

trabalho de designers convidados numa iniciativa

em qualquer lugar do mundo. Aproveitando esses

do portal TrendMóvel em parceria com o Instituto

recursos, novos empreendedores criam e compar-

Europeu de Design – IED São Paulo.

tilham arquivos que podem ser replicados, favore-

28 • Edição 11


Design Magazine Brasil cendo a produção local. Diferentes designers e artistas vislumbram, através dessas tecnologias, um novo meio de expressão para criação e produção de objetos com alto valor estético e funcional e a baixo custo. Enfim, a produção ubíqua une as duas pontas do design - criador e fabricante - independentemente de sua localização geográfica.

“Os trabalhos expostos na mostra Los Makers foram organizados em 2 categorias” Os trabalhos expostos na mostra Los Makers foram organizados em 2 categorias: DESIGN DE PRODUTOS | design digital enviado para moldagem, corte e usinagens sobre madeira e derivados, plásticos ou confeccionados através de impressoras 3D. DESIGN DE SUPERFÍCIES | design digital aplicado em produtos têxteis, estampas e desenhos aplicados sobre vidros, padrões recortados sobre couro, plásticos e outros materiais. A designer e curadora da mostra Silvia Grilli revela que procurou mesclar o trabalho de ‘makers’ jovens e experientes com a intenção de desmistificar a ideia de que os processos digitais são utilizados apenas por profissionais recém-formados. A criação e produção por meios digitais está presente há pelo menos 15 anos em fábricas de todos os portes. Além dos softwares de projeto como Solid Works e AutoCAD estão ali presentes as chamadas máquinas CNC (de comando numérico) como CenOutubro 2015 • 29


30 • Edição 11


Design Magazine Brasil tro de Usinagem, Torno Copiador, Router e etc. O

baixados gratuitamente para produção local atra-

que mudou foram os sistemas de comunicação, que

vés dos arquivos digitais. Entre os produtos dis-

agilizam a transferência de arquivos entre criador e

poníveis estão bancos, cadeiras e mesas para uso

produtor, facilitando a prototipagem e acelerando

social ou escolar.

o processo de desenvolvimento. Desta forma o de-

As veteranas Renata Rubim e Ligia de Medei-

signer pode acompanhar a evolução do seu projeto

ros apresentaram seus trabalhos bidimensionais,

mesmo estando longe do fabricante.

realizados por meio digital: Renata enviou os painéis

E por falar em compartilhamento, um dos

desenhados para Oca Brasil Revestimentos e Ligia

participantes de Los Makers Brasil foi o CR.U.SH.

mandou seus painéis em lona, tecidos e almofadas.

, um coletivo que desenvolve projetos baseado na

Moricy Lui Chaim, outra designer experiente à frente

filosofia Open Desk. O designer Mateus Machado

da Móve Móvel, mostrou ao público como surgem os

explica que todos os projetos CR.U.SH. podem ser

móveis totalmente fabricados a partir das CNC.

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Los Makers

32 • Edição 11


Design Magazine Brasil O mancebo Spok foi um dos destaques da mostra. Com design e produção de Roni Sebben o mancebo com luz Led nasceu no computador do designer e foi direto para o centro de usinagem. O desenvolvimento de padrões usinados em 3D é uma das especialidades de Roni. As belíssimas estampas de Alex Bigeli chamaram a atenção dos visitantes de Los Makers Brasil. Bigeli é um criador experiente, com trabalhos realizados para grifes internacionais como Carolina Her-

“As belíssimas estampas de Alex Bigeli chamaram a atenção dos visitantes de Los Makers Brasil. ” rera, PRADA, Comme des Garçons e agora assina os tecidos da própria marca, TEZ Living Style. A qualidade da impressão digital presente nos tecidos TEZ é surpreendente, com um nível de precisão e profundidade comparável aos melhores processos. A impressão 3D também esteve presente em Los Makers Brasil, e o público pôde observar o funcionamento da Cube 3, terceira geração da impressora 3D mais popular do mundo. De acordo com o diretor geral da 3D Systems Latin America, Luiz Fernando Dompieri, “a impressão tridimensional é certamente um dos maiores exemplos da produção ubíqua e do avanço da tecnologia. Por isso apresentamos a Cube 3, que oferece 20 cores de suprimentos e permite a produção com duas cores e em dois materiais (plásticos ABS e PLA) na mesma peça, tudo de forma simultânea”. Outubro 2015 • 33


Los Makers

34 • Edição 11


Design Magazine Brasil As impressoras 3D são o desejo de consumo

deriam presenciar a impressão das peças em 3D

de todos os estúdios de design de produto, como

e contribuir com a instalação. O resultado final foi

o Studio[b] que propôs para Los Makers Brasil um

super bacana!”.

painel decorativo/interativo. O designer Guilher-

A próxima edição de Los Makers já está pro-

me Miranda conta: “Não sabíamos muito bem

gramada, com chamada para submissão de traba-

como era a impressão 3D na questão do acaba-

lhos, a partir de março 2016.

mento, estrutura das peças, tempo de impressão, cores etc. Eu e o Du Bortolai fizemos muitas pesquisas para entender melhor esse processo a fim de criar algo que mostrasse a capacidade da impressora e também gerasse uma interação com o público. Daí surgiu a ideia de montar uma cortina de galhos e flores. Os visitantes da exposição po-

Outubro 2015 • 35


Entrevista com Ligia Fascioni Arte da vitrine: Wendel Fragoso. Fotos: Cortesia Ligia Fascioni.

Mayara Wal

Designer de produto de formação e metida a doceira nas horas vagas. Formada desde 2011, buscando sempre estar antenada e se atualizar na área, atualmente estuda Design de Serviços e Interação.

“Foi numa aula de percepção visual que ouvi pela primeira vez numa sala de aula a palavra mágica, ‘design’.”

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Design Magazine Brasil Engenheira eletricista, que ao entrar em contato com a area de marketing, conheceu o Design, e, como ela mesma escreveu, “foi amor à primeira vista”. Ligia mora e é apaixonada por Berlim, é sócia de uma start up com seu marido, trabalha como consultora em Gestão do design, já publicou alguns livros, dá cursos e palestras que atravessam o oceano, tem dois sites e colabora com diversos sites como colunista. No meio dessa inspiradora multidisciplinaridade, ela conta um pouco pra gente sobre a vida profissional e compartilha esse mundo que tanto a fascina, o Design.

Outubro 2015 • 37


Entrevista com Ligia Fascioni Da engenharia para o design, como foi esse caminho? Muita gente não entende o meu trabalho, acha que sou uma engenheira metida à designer. Obviamente, a culpa não é dessas pessoas, é que o negócio é confuso mesmo, como tudo o que é relativamente novo. Fiz uma mudança na minha carreira profissional bem ao estilo século XXI, onde impera a multidisciplinaridade e a oferta de serviços que antes não existiam, com nomes, às vezes, bem estranhos. Então penso ser importante falar um pouco a respeito para que o pessoal entenda porque, mesmo não sendo designer, insisto em dar meus pitacos em todos os assuntos relacionados. Vamos lá. Sou engenheira eletricista e trabalhei com robótica por 12 anos, feliz da vida, até o dia em que resolvi fazer uma pós-graduação em marketing e me apaixonei pelo assunto. Comecei a fazer cursos na área e acabei me matriculando em uma outra pós, dessa vez em comunicação e propaganda. Foi numa aula de percepção visual que ouvi pela primeira vez numa sala de aula a palavra mágica, “design”. Foi amor à primeira vista e, depois desse primeiro contato resolvi que teria como missão compartilhar tudo o que eu aprendesse com meus colegas engenheiros para que eles pudessem ter a real dimensão do poder dessa ferramenta. Depois de virar freguesa de carteirinha de livrarias reais e virtuais (incluindo a minha amada Amazon) e estudar até me tornar “a chata do design” entre os meus amigos, fui aceita no programa de doutorado em Gestão do Design na UFSC (eu já tinha mestrado em Automação e Controle Industrial). Ao me aprofundar no tema, descobri a importância da gestão da identidade corporativa 38 • Edição 11


Design Magazine Brasil e desenvolvi um método que já foi aplicado em 23

a importância do trabalho dos designers em todos os

empresas de todos os portes (espero que nesse ano

meios de comunicação que tenho acesso (mantenho

o número ainda cresça bastante).

um site, um blog, faço palestras, dou cursos, escrevo

Assim, além de dar aulas em cursos de gradu-

artigos para revistas de negócios, e já publiquei 2 livros

ação e pós-graduação em design, sou palestrante e

sobre o assunto – o terceiro está no forno); finalmente

consultora de empresas. Meu trabalho é basicamen-

porque posso trazer para os designers a visão do outro

te convencer os empresários a dar mais importância

lado do balcão.

aos designers, já que o método recomenda a contra-

Por isso, falo e repito: não sou designer, não faço

tação de profissionais especializados em algumas

projetos, marcas, produtos ou o que seja. Isso acontece

etapas. Para mim é mais fácil falar com esse povo da

não só porque não tenho formação para isso (quem dá

tecnologia do que para os designers, uma vez que

o título de designer é o curso de graduação; eu sou en-

falo a língua dos engenheiros e empresários – eu en-

genheira eletricista), mas também porque está fora do

tendo como pensam pessoas extremamente racio-

meu foco, que é a gestão do design.

nais e cartesianas que não fazem idéia do que seja

Tenho me debatido muito sobre a formação

design (não faz muito tempo eu também era assim).

dos profissionais, porque vez ou outra me encontro

Penso que tenho alguma coisa a contribuir com

na situação de não ter ninguém para recomendar

essa área do conhecimento, primeiro porque tenho es-

aos meus clientes (sou exigente e sei que eles tam-

tudado muito e com bastante profundidade os temas

bém são, não posso queimar meu filme indicando

relacionados; segundo porque tenho tentado divulgar

um profissional medíocre). Sei o quanto o portu-

Outubro 2015 • 39


guês bem falado e escrito, a boa fundamentação

literatura, novas tecnologias e o que mais aparecer.

teórica, a segurança na apresentação do trabalho,

Já nasci multidisciplinar e fico muito feliz em

o talento, a postura, a ética e muito conhecimento

viver numa época que começa a resgatar os valores

são fundamentais para que o cliente confie no pro-

do renascimento, onde é preciso aprender muito de

fissional que está contratando. Por isso é que impli-

cada coisa para fazer um trabalho realmente espe-

co tanto com algumas lacunas que vejo na forma-

cial. Sempre fico pensando em como seria infeliz se

ção dos designers. Sei que as escolas (pelo menos

tivesse que escolher um nome só para descrever o

em Santa Catarina) ainda são novas e eu vim de

trabalho que faço com tanta empolgação. O preço,

uma das melhores escolas de engenharia do país.

porém, é esse mesmo. As pessoas não conseguem

Sei o quanto uma boa formação pesa na hora de

me descrever e nem ao meu trabalho, além de estar

apresentar e realizar um trabalho bem feito. Que-

sempre correndo o risco de ser mal-entendida.

ro ter orgulho de apresentar bons profissionais de

No final das contas, o que posso dizer é uma

design, e não vergonha das apresentações deles,

coisa só: Estou, como se diz, como “um pinto do lixo”,

como às vezes acontece.

fazendo a festa com a minha biblioteca. Está valendo

Para fazer bem o trabalho que escolhi, preciso

muito a pena e faria tudo de novo, principalmente,

estudar design o tempo todo, mas também tenho

como podem duvidar alguns, a parte da engenharia.

que estar a par dos assuntos mais diversos: estra-

Qual o papel da internet na sua vida pesso-

tégia, arquitetura, comunicação, planejamento,

al e profissional?

moda, gestão, relações humanas, jornalismo, eco-

A internet é minha conexão com o Brasil e

nomia, artes plásticas, psicologia, publicidade, polí-

com o mundo; por meio dessa poderosíssima ferra-

tica, ilustração, web, interação, marketing, redação,

menta consigo contatos para trabalhos, consigo de-

40 • Edição 11


Design Magazine Brasil bater e disseminar ideias e, principalmente, consigo ler outras opiniões e aprender. Por que a Alemanha para viver e trabalhar? Meu marido veio a convite de uma empresa alemã em 2011. Ele é um engenheiro extremamente qualificado e já havia morado aqui antes por seis anos antes de fazer o mestrado na Inglaterra (o doutorado foi no Brasil, depois que ele voltou). Sempre quis morar em outro país porque penso que a vida é muito curta para a gente economizar experiências, então foi uma decisão fácil de tomar. Nos apaixonamos perdidamente por Berlim e, no final do segundo ano, vendemos nosso apartamento no Brasil e montamos uma start-up aqui, que tem um ambiente muito mais favorável ao empreendedorismo do que a gente tinha experimentado no nosso país. Eu trabalho na empresa, mas também vou algumas vezes por ano ao Brasil para ministrar cursos e palestras. Adoro essa flexibilidade e é também uma maneira de rever pessoas queridas e comer a melhor comida do mundo. Além de escritora, colunista e atuante na área de design Thinking você dá palestras e workshops. Como tudo isso surgiu e o que você escolheria como algo que mais gosta? São áreas complementares, então não há como escolher uma delas. Descobri que o que mais amo fazer na vida é aprender e compartilhar o que aprendi. Há várias maneiras de fazer isso; escrevendo, falando, conversando, viajando, enfim. Todas essas coisas se completam na missão. Também vou começar a investir na carreira de ilustradora (pretendo fazer alguns cursos aqui) para ter mais uma ferramenta à mão que não seja tão dependente da língua (alemão é bem mais difícil do que parece à primeira vista). Outubro 2015 • 41


Entrevista com Ligia Fascioni Conselhos e dicas para profissionais que estão entrando agora no mercado de Design Thinking e empresas que estão aplicando a metodologia. “Design thinking não é uma cura milagrosa: ele não vai salvar você”, Helen Valters. A primeira coisa que Helen deixa claro (que parece ainda estar bastante confuso na cabeça de alguns profissionais), é que design thinking não é design. O design thinking não substitui o trabalho que os designers normalmente fazem. É preciso continuar projetando embalagens, marcas, produtos, sites, peças gráficas e por aí vai, da mesma maneira como os designers sempre fizeram. O design thinking é uma ferramenta de inovação; é uma abordagem predominantemente de gestão, que se vale de técnicas que os designers usam para resolver problemas. A confusão é tão grande, mesmo lá na terra do Tim Brown, que Don Norman já chegou a dizer que design thinking era um termo que deveria morrer para não causar mais estragos. Por outro lado, o design thinking, seja lá com o nome que tiver, embute um potencial excepcional para ajudar organizações, desde que elas não pensem que isso é algum tipo de mágica. O design thinking é um processo como qualquer outro. Precisa ser compatível com a cultura da empresa e necessita trabalho árduo para florescer e fazer parte do conjunto de ferramentas usadas na rotina de resolução de problemas do dia-a-dia dos profissionais. Minha opinião é que o design thinking é uma das ferramentas para se fazer a gestão do design na empresa. Mas não é a única e nem resolve automaticamente todos os problemas. Dito isso, há que se considerar que o design thinking é ótimo para fertilizar e nutrir ideias, basta 42 • Edição 11


Design Magazine Brasil lembrar que elas não nascem dentro de uma caixa preta. É útil, principalmente, quando a empresa não tem designers entre seus líderes e não está mergulhada numa cultura de design consolidada. Um bom exemplo é a Apple, que não usa formalmente o design thinking, mas respira design por todos os poros; e olha que ela é a empresa mais orientada ao design que se tem notícia. Sim, design thinking é realmente um instrumento poderoso, que pode ajudar de verdade sua empresa a inovar. Mas ainda assim é apenas uma ferramenta, incluindo todos os poderes e limitações que qualquer ferramenta tem. Então, pessoas, é isso. Design thinking não é super-herói, não é investimento com retorno garantido, não é santo milagreiro, não é artista da moda, não é Viagra, não é design de produto e também não é o santo padroeiro dos empresários desesperados. Mesmo assim, se eu fosse você, apostaria.

Acredito que não falo apenas por mim quando digo que é super bacana ter um ponto de vista de um profissional de uma área distinta, com tanto conhecimento e categoria a respeito do design. É sempre inspirador e bom poder entender “o outro lado do balcão” a respeito do serviço que está prestando. Muito obrigada Ligia, por essa entrevista. Adoramos poder aprender um pouco contigo hoje. Acompanhem o trabalho da Ligia Fascioni em www.ligiafascioni.com

Outubro 2015 • 43


História da arte criativa Ilustração de título por: Douglas Silva.

Arthur Dias

Designer desde 2012, nerd desde 1994. Apaixonado por design UX e interfaces. Atualmente atua como web designer na Inforce Internet Solutions. Gosta de sorvete de flocos.

“Ilustração é uma imagem utilizada para acompanhar, explicar, interpretar, acrescentar informação, sintetizar ou até simplesmente decorar um texto. ”

44 • Edição 11


Design Magazine Brasil “Designer não precisa saber desenhar. Preci-

Esta primeira imagem é de uma galinha com seus

sa saber ilustrar”. Ouvi essa frase há 2 anos, em um

pintinhos. Um desenho sem falhas aparentes. Na

Nerdcast que falava sobre a profissão Designer Grá-

segunda pintura, Picasso desenhou um frango, mas

fico. Em uma rápida pesquisa no Google descobri

não se ateve aos aspectos físicos da ave. Neste de-

que o significado da palavra “ilustração” é: “Ilustra-

senho, o artista espanhol ilustrou a agressividade,

ção é uma imagem utilizada para acompanhar, ex-

estupidez e insolência do animal. Ideias que dificil-

plicar, interpretar, acrescentar informação, sinteti-

mente seriam passadas através de um desenho fiel.

zar ou até simplesmente decorar um texto. Embora

Pablo recorreu a uma caricatura para ilustrar tais

o termo seja usado frequentemente para se referir

sentimentos, o que funcionou perfeitamente.

a desenhos, pinturas ou colagens, uma fotografia também é uma ilustração.”.

Outro exemplo bastante conhecido é o do movimento dos cavalos. Todos já viram cavalos ga-

Quando comecei a conhecer o mundo do Design, na minha visão de adolescente micreiro que fazia flyers pra igreja da minha mãe, desenhar era algo fundamental para um designer. Para falar a verdade, muitas pessoas haviam falado pra mim “Você quer ser designer? Sabe que tem que desenhar pra caramba, né!?”, e isso começou a me preocupar, já que basta eu pegar um lápis para desenhar algo, que minha mão é substituída por um gancho. Entrei na faculdade e comecei a estudar Design de verdade. Lá eu percebi que eu não precisava mesmo saber desenhar, pois os professores estavam me ensinando a ilustrar. Apesar de invejar MUITO quem sabe (sério, muito mesmo), entendo que preciso entender como ilustrar para realizar projetos. Depois de bastante estudo e experiência cheguei à conclusão de que “Designer não precisa saber desenhar. Precisa saber ilustrar (mas saber desenhar ajuda muito!)”. Contei essa história porque boa parte da história da arte é constituída por ilustrações, que os artistas utilizaram de técnicas para realizá-las. Um bom exemplo disso são duas ilustrações do famoso pioneiro do movimento moderno, Pablo Picasso.

“Galinha com pintos” - Picasso, 1941

A primeira ilustração é do livro de História Natural. Outubro 2015 • 45


História da arte criativa

“Frango” - Picasso, 1938

46 • Edição 11


Design Magazine Brasil lopando, através de corridas e caças. Diversas pin-

câmeras fotográficas aprimoradas, a ponto de foto-

turas foram feitas retratando esse movimento, entre

grafar precisamente o movimento desses animais,

elas está a Corrida de Cavalos de Epson (1981) de

percebemos que estávamos errados. Cavalos não

Théodore Géricault. Esta pintura mostra os cavalos

galopam dessa forma, assim que uma pata sai do

de pernas estendidas cortando o ar. Com um pouco

chão a outra se posiciona para o próximo impulso,

de imaginação pode-se dizer que os cavalos estão

como mostra a figura abaixo. [Eadweard Muybridge

voando como o Super-Cavalo, o cavalo da Super-

- Movimento de Cavalo a Galope, 1872]

girl, mesmo assim a pintura ilustra muito bem o

A história da Arte está repleta de conhecimen-

movimento de corrida, pois é uma forma que nos

tos que são úteis e podem ser aplicados em nossos

parece “natural”. Cinquenta anos mais tarde, com

trabalhos nos dias de hoje. Nesse artigo mostra-

Le Derby d’Epsom - Théodore Géricault , 1821

Outubro 2015 • 47


História da arte criativa

“Movimento de um cavalo a galope” - Eadweard Muybridge, 1872

rei alguns exemplos, de forma bem simplificada e

Mateus calvo, de pés descalços e sujos, desajeita-

superficial (não quero que ninguém durma lendo

do, agarrado à um livro. Ao seu lado está um anjo

isso).

que guia sua mão no papel, como um professor faz A Bíblia é uma das mais comuns (talvez a

com uma criança. [primeira pintura de São Mateus]

mais comum) fonte de inspiração na história da

Quando Caravaggio entregou a pintura à igreja o

arte, e apesar de em momento algum as escrituras

público ficou escandalizado e recusou, ou seja, o

descreverem a aparência de Jesus, os artistas de

cliente não gostou e mandou alterar. Caravaggio se

outrora criaram as imagens que nós estamos acos-

propôs a refazer a obra utilizando a forma comum

tumados. Por conta desse costume, sempre que

de ilustrar passagens bíblicas. [segunda pintura de

um artista ilustra uma passagem bíblica de forma

São Mateus]

diferente causa um choque na sociedade. Um caso

Às vezes a criatividade e inovação, principal-

que exemplifica bem isso é o do artista Caravaggio,

mente a inovação, tem que ser posta um pouco de

que se pôs a ilustrar São Mateus, um pobre traba-

lado em um projeto. Muitos clientes preferem utili-

lhador que possui a tarefa de escrever um livro. Na

zar a forma mais comum, pois ela é, de certa forma,

figura abaixo, está a primeira versão da pintura. São

“garantida”.

48 • Edição 11


Design Magazine Brasil

SĂŁo Mateus e o Anjo - Caravaggio, 1602

Outubro 2015 • 49


História da arte criativa Agora voltando um pouco, os índios da tribo

desse mau habito, e envergonhado, saiu de casa de-

Haida, do noroeste da América do Norte desenvol-

cidido a matar o monstro que vivia num lago e que

veram uma solução muito criativa pala ilustrar uma

se alimentava de seres humanos e baleias.

história. A figura a seguir mostra uma maquete da

Com a ajuda de um pássaro encantado, pre-

casa de um chefe dessa tribo, com três mastros to-

parou a armadilha com o tronco de uma árvore, no

têmicos nela. A princípio não parece ser nada além

qual pendurou duas crianças como iscas.

de mascaras feias e esquisitas, mas aos olhos de um

O monstro foi apanhado, o jovem vestiu-se

nativo é a representação de uma de suas lendas. O

com sua pele e pôs-se a pescar, indo regularmente

trecho a seguir fala sobre a lenda: (trecho retirado

depositar à porta de sua sogra os peixes que captu-

do livro “A História da Arte, de E. H. Gombrich)”.

rava.

“Era uma vez um jovem da aldeia Gwais Kun

Ela ficou tão lisonjeada com aquelas inespe-

que costumava passar o dia todo preguiçosamente

radas oferendas que começou a julgar-se uma feiti-

na cama.

ceira poderosa.

Um dia, foi repreendido pela sogra em virtude

Quando o jovem finalmente a esclareceu sobre os presentes, ela ficou tão envergonhada que morreu.” O artista representou todos os personagens da história no mastro central. Na parte de baixo está uma das baleias, que o monstro come, acima está o monstro, e acima deste, a sogra desafortunada. Logo depois está representado o pássaro que ajuda o herói, e acima, o herói vestido da pele do monstro, com os peixes que pescou. No topo estão as crianças, que foram usadas como iscas. Sem uma explicação seria quase impossível para nós, entendermos o significado dessa escultura. Esse é um exemplo de uma solução criativa fantástica, feita por um povo que soube como ilustrar uma história de forma que ela pudesse ser contada sem a necessidade de palavras. Para terminar quero falar sobre regras. E também sobre quebrar regras. Se existiu um povo que sabia como representar histórias de forma criativa, de forma extremamente eficiente e seguindo um

“Maquete de casa de um chefe haida” - século XIX

50 • Edição 11

conjunto pré-determinado de regras, a ponto de que não importasse qual artista fizesse a obra pois


Design Magazine Brasil era sempre mantido o mesmo estilo, esse povo é o egípcio.

Ou então ilustraríamos por um ângulo em que tudo é visto de cima, visualizando, assim, o

Os antigos egípcios constituíram um conjunto

espelho d’água, mas dessa forma as árvores se-

de regras para ilustrar figuras humanas. Ocasiões,

riam mal representadas. A solução aplicada, para

hierarquias e divindades que são referências criati-

que todos os elementos fossem representados é

vas até hoje. Observe a figura abaixo.

simples e fantástica. Consiste em representar cada

Esta imagem se chama Jardim de Nebanum.

elemento pelo ângulo que é facilmente identificá-

Esta pintura apresenta um simples jardim com es-

vel. Sendo assim, o ângulo é o de cima, para que a

pelho d’água. O que impressiona nela é a forma que

água seja visível, mas as árvores representadas de

os elementos foram representados. Qualquer um

lado, da mesma forma que os peixes e as aves den-

de nós começaria esta pintura escolhendo o enqua-

tro da água. Esta pintura está bem longe de ser uma

dramento, de forma que as árvores seriam vistas de

representação literal, mas ilustra muito bem o jar-

lado, todavia o espelho d’água não seria visto.

dim. Essa é uma das técnicas utilizadas pelos anti-

Jardim de Nebamun - 1400 a.C.

Outubro 2015 • 51


História da arte criativa gos egípcios: representar os elementos pelo ângulo

obras egípcias, formando uniformidade, isso por-

mais fácil de ser identificado.

que os artistas seguiam as regras determinadas.

A cabeça da pessoa está representada de per-

Esse conjunto de regras era seguido à risca

fil, mas um olho está aparente, como se estivesse

por todos os artistas egípcios, mantendo uniformi-

de frente. O tronco está de frente, exibindo as juntas

dade nas obras, mas isso mudou quando os gregos

dos braços e o umbigo. Já as pernas estão de lado,

entraram em contato com essas técnicas.

exibindo as dobras dos joelhos e os pés, como se fossem dois pés esquerdos. Esta figura, obviamente não é literal, mas ilus-

A arte grega bebeu muito da arte egípcia. Tanto que muitas das técnicas podem ser notadas em diversas pinturas e esculturas.

tra de uma forma excelente a figura humana, dei-

As técnicas dessas duas obras são muito simi-

xando os principais pontos facilmente perceptíveis.

lares às técnicas egípcias. Na primeira figura vemos

Essas técnicas podem ser observadas em diversas

os heróis Aquiles e Ajax jogando Damas em sua ten-

“Retrato de Hesire de portal em madeira em seu tumulo” - 2778-2723 a.C.

52 • Edição 11


Design Magazine Brasil da. Ambos, representados de perfil, com um olho de frente, juntas aparentes e “dois pés esquerdos”. Da mesma forma, a segunda figura mostra as mesmas técnicas, todavia num cenário bem mais elaborado. Os pontos principais representados pelo ângulo mais simples de se identificar, mas aos poucos eles foram mostrando traços de criatividade e originalidade. Veja a figura a seguir. Nesta obra, onde um jovem herói está se preparando para a batalha, com seus pais o vestindo, temos as mesmas técnicas representadas, mas pode-se observar que um dos pés é ilustrado de lado, e o outro em perspectiva. As mãos dele, com os dedos retraídos, representados por traços arredondados, também fazem parte desta quebra de regras. Todo esse esforço criativo, em mudar algo que funciona e é “seguro”, demonstra criatividade

“Nesta obra, onde um jovem herói está se preparando para a batalha, com seus pais o vestindo, temos as mesmas técnicas representadas, mas pode-se observar que um dos pés é ilustrado de lado, e o outro em perspectiva. ”

e originalidade. Em muitos projetos, principalmente os que têm que ser desenvolvidos rapidamente, seguir as regras é a forma mais eficiente de concluí-lo com o máximo de aproveitamento, mas às vezes quebrar as regras e acrescentar algo original é uma excelente forma de fugir do padrão e do monótono. Há muitas outras soluções criativas que a História da Arte pode nos ensinar. Dificilmente conseguiria descrever todas aqui (mesmo se eu as conhecesse), então digo que é sempre válido pesquisar sobre essas técnicas e soluções em livros e na Internet. Isso é capaz de agregar valor positivo a qualquer projeto.

“Despedida do Herois” - 510-500 a.c.

Outubro 2015 • 53


Resenha: Sistemas de grelhas Imagens: Cortesia GG Brasil.

Lucas Fernandes

Formado em design gráfico e atuando no mercado desde 2010. Atualmente focado em direção de projetos. Dentre eles a revista digital Design Magazine Brasil e o “coletivo criativo” Grupo I3C3.

“Se você é estudante, vai ser um ótimo complemento para sua graduação e te ajudará nos trabalhos acadêmicos.”

54 • Edição 11


Design Magazine Brasil A forma mais simples de descrever esse livro é de que ele é como uma bíblia do design editorial. “Sistemas de grelhas” é um manual completo, detalhando e esmiuçando tudo que um designer gráfico precisa saber para executar seus projetos editoriais, embora também possa servir de referência para outros tipos de projetos. É bom observar que esse livro foi traduzido e editado em duas línguas simultaneamente, português e espanhol (“Sistemas de retículas”), da mesma forma que o original, em inglês (“Grid systems”) e alemão (“Rastersysteme”). Josef Müller-Brockmann foi um designer e ilustrador suíço, que dedicou boa parte de sua vida ao estudo e aprimoramento do Design Gráfico. É considerado um dos principais divulgadores da chamada “escola suíça” do Design Gráfico, tendo também sido professor. Embora tenha sido publicado originalmente em 1981, todo o seu conteúdo ainda se aplica de forma atemporal ao Design atual. As tecnologias

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Meu, Identidade São Paulo é da hora!

56 • Edição 11


Design Magazine Brasil

podem até evoluir, mas os princípios teóricos se mantêm os mesmos.

Se você é estudante, vai ser um ótimo complemento para sua graduação e te ajudará nos

O que Josef fez foi reunir em um só lugar pra-

trabalhos acadêmicos. Se é recém formado ou já

ticamente todo o conteúdo teórico necessário para

experiente no mercado, servirá para melhorar os ní-

projetos gráficos, sejam eles 2D ou 3D. Formatos e

veis dos trabalhos para seus clientes. De qualquer

tamanhos de papel, tipografia, colunagem, entreli-

modo, esse é, sem dúvidas, um livro que se deve ter

nhas, tracking, kerning, etc, são alguns dos temas

por perto. Destacando que ele é bastante técnico e

abordados, todos com muitos detalhes, exemplos

teórico.É bom sempre usá-lo para consultas duran-

e até um pouco de história. E todo esse conteúdo,

te seus projetos editoriais.

embora focado para aplicação em projetos de livros e revistas, também pode ser aproveitado para ou-

Dados Técnicos

tras coisas como cartões de visitas, embalagens e

Sistemas de Grelhas

até mesmo marcas/identidades visuais.

Josef Müller-Brockmann

Mais completo, impossível.

21 x 29,7 cm 184 páginas ISBN: 9788425225147 Capa dura 2013

Outubro 2015 • 57


58 • Edição 11


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