Eduardo Jundiaí | São Paulo Quando eu falo água, qual é a palavra que vem na tua cabeça? Nossa, agora que tu falou assim eu pensei em garoa, porque eu estou na “terra da garoa”. Essa palavra é positiva ou negativa? Aaa, nem positiva nem negativa. É só uma característica da cidade que eu moro. Então tu associa a cidade? A tua vivência regional. Sim. E onde tu enxergas a água no teu cotidiano? Mais fortemente na higiene pessoal. E quando eu falo no ciclo do tratamento da água, o que tu entendes com isso? Eu entendo o ciclo que aprendi no colégio e vejo também nos noticiários. Poderia me explicar o que comporta nesse ciclo? Sim, sim. Ah, daí, tem de diversas formas né, mas o mais que eu, simples que eu posso falar é: aan, começando das nuvens né. As nuvens, é o vapor da água né, ele se condensa e cai na terra como chuva, daí ele se deposita, cai na terra né. Daí ele permeia o solo, enfim, os lugares onde ele cai até os lençóis freáticos ou aos rios, ou aos lagos, etc. Todos eles desembocam no mar ou não, enfim ou fica contido numa lagoa, enfim. E daí eles recebem os raios solares, o calor do sol, evapora e volta ao ciclo da nuvem ai pra retomar o ciclo né, que é o ponto de partida que eu usei. Mas e quando eu falo em esgoto, qual é a primeira palavra que vem na tua cabeça? Saneamento. Essa palavra é positiva ou negativa? Positiva. Positiva, por quê? Porque ela se traduz em saúde para população e pra natureza. E onde tu enxergas o esgoto no teu cotidiano?
Aan, eu enxergo na higiene pessoal. (Risada) Mais fortemente. E quando eu falo em saneamento básico, qual é a primeira palavra que vem na tua cabeça? Aa, até pensei em poluição agora, de imediato. Essa palavra é positiva ou negativa? Essa é negativa. O que tu achas sobre o valor que tu pagas atualmente pelo serviço de água e esgoto? Ba em, questões de custo eu não vou saber dizer, porque todo orçamento está sendo feito pela minha esposa. Daí eu não tenho noção do custo e do gasto que a gente tem com isso. Mas, podendo complementar a resposta, ééé ela, a gente, eu sei que a cidade de São Paulo, em virtude de uma crise energética que vivemos, devido à baixa dos reservatórios de água, das nossas, dos nossos fornecedores de energias, das hidroelétricas né. Ééé, isso acarretou uma política de custo diferenciada depois que o consumo de energia atingisse um determinado limite. Então tem faixas de verde, amarelo, vermelho, enfim, pra que conscientize o consumidor nos seus custos energéticos. E tu achas que isso é um movimento individual? Ou o consumo de água e esgoto é pensado coletivamente? u acho a cultura brasileira extremamente individualista. Então as iniciativas E aqui, elas normalmente tem que pesar no indivíduo para que haja alguma ação. Por isso que a conta de luz é um mecanismo que os governos usam pra que isso aconteça. Mas são medidas que afetam o indivíduo para um bem coletivo. Supondo que estejas com sede, então vais até a pia da cozinha e enches um copo de água. Tu sabes me descrever como que a água chegou até a tua torneira? Nunca pensei sobre isso. Quando preciso de água não penso nisso não, mas eu uso o filtro que eu tenho em casa. Então. E tu tens ideia desse fluxo de água? Tenho. Digamos que tu desististe de tomar água e resolves despejar o copo na pia do banheiro. Tu consegues me descrever o que acontece com essa água? Consigo. E isso é mais claro pra ti? O despejar ou o pegar a água?
Pra mim é mais claro o despejar. Porque eu sou, assim. Daí vem da minha personalidade tá? Eu evito ao máximo o desperdício. Então, isso me dói mais do que pegar um copo d’água porque quando eu pego, eu pego aquilo que eu quero e necessito. Daí por isso só me dói quando eu jogo fora. Fazendo um outro exercício, digamos que tu recebas R$ 1.000,00 de salário por mês, o quanto desse valor tu destinarias para pagar a tarifa de água em tua cidade? Puts! Não tenho a mínima ideia. Não sei te dizer. Pensando na importância da água na tua vida. Se ela fosse um taxa não pelo uso da água e sim como se fosse um percentual da minha renda? Isso. Se tu recebesse R$ 1000,00 quanto desses R$ 1000,00 acharias justo pagar? Tá, entendi. Aa é difícil dizer isso, porque na verdade vai depender das outras tarifas né. A gente tem que entender todos os custos envolvidos no município, não apensa isoladamente da água, e atribuir um grau de importância pra cada um desses quesitos e fazer uma distribuição justa. Se tu tivesses clareza desses custos, para ti seria mais “tranquilo” pagar um valor um pouco mais, sendo que tu percebes a distribuição desse orçamento com uma clareza maior? É difícil dizer sobre esse tema, porque assim, desculpa por não ter uma resposta objetiva. Não tem resposta certa nem errada. É qualitativo, um bate papo. Nem te preocupa. Entendi. É que assim, tem que tomar um cuidado com políticas de custo. Por quê? Assim, a no momento em que a gente vai decidir, por exemplo, vou taxar uma quantidade “x” percentual de uma renda. Daí as pessoas, tu tem dois possíveis efeitos, o primeiro efeito possível é: se é uma cultura coletivista, que entende a importância dos recursos naturais e, enfim, de tudo que for necessário pro desenvolvimento da sociedade, isso faz sentido e as pessoas usarão o recurso com parcimônia, com justiça. Agora, no momento, o segundo efeito que pode acontecer, pra simplificar, poderia ter mais efeito, mas assim, o que eu penso são os dois extremos. Dái o segundo efeito então é, numa cultura individualista, em que tu chega e diz o seguinte: amigão, você vai pagar 10% da tua renda, por exemplo, um número hipotético, não to dizendo que esse seja o justo. Daí 10% da tua renda para você poder usar a água. O cara vai se senti no direito de desperdiçar à vontade porque tá pagando por isso. E daí no momento em que tu tira o peso do individualismo, numa sociedade “egoísta” cada um vai acabar desperdiçando mais do que poderia usar. Entendeu?
Entendi. Agora fazendo essa mesma associação, falamos sobre a água. E o saneamento? O esgoto? Tu achas que isso tem diferença? Pagaria mais ou menos? Não, não. É, não sei dizer. O pessoal, não sei dizer. Tu não vê diferença entre água e saneamento? Não, eu, assim ó, as palavras água e saneamento para a população sim, fazem diferença. Tu falar em um momento assim, a você vai pagar pela água. É uma coisa que a pessoa dê valor, daí tu vai falar, a você vai pagar pelo saneamento, ela vai dizer: puts, mas vou ter que pagar por isso. Porque tu achas que tem essa percepção diferente? Eu acho que a conotação que as pessoas fazem dos, porque como eu faço saneamento, como tu falou ali as questões das palavras positivas e negativas né. O saneamento remete a situações negativas na percepção humana, como dejetos, resíduos, etc. E a água tem uma conotação positiva. É o conceito de limpeza, pureza, hidratação, etc. Bem estar. Então coisas que traduzem bem estar as pessoas deem valor e estão dispostas a pagar por isso. Pessoas, coisas que remetem as coisas negativas, remetem a um estado de, sei lá, de, de rejeição e as pessoas não se sentem confortáveis em pagar por isso. pensando no preço coletivo, tu achas que todos os consumidores E devem ser cobrados igualmente sobre o consumo da água e de todo o seu ciclo? Eu acredito que cada um deva pagar por aquilo que usa, tem que ser proporcional. Não é uma classe, nem estratificação social. Nem econômica nem nada. É o indivíduo, se ele usa pouco ele tem que pagar pouco. Se ele usa muito ele tem que pagar muito. E em termos de perfil, tu achas que a área comercial, uma empresa por exemplo, tem que pagar o mesmo que uma pessoa física? Não, não. Eu acho que é proporcional ao uso. Independente da finalidade. Se o cara quer usar mangueira pra lavar a calçada ele que pague por isso. Hipoteticamente, se durante as férias tu vais ficar fora um mês, achas que deveria se manter a cobrança de tarifa, mesmo que não vás usar o serviço? Eu só não sei como isso funcionaria na prática. Mas tu achas que a cobrança deve ser diferente? Menos? Mais? Igual? Não, não. No momento que tu viaja, né, por exemplo, vou pra uma outra cidade. Vou alugar um apartamento. Em tese, o custo deste apartamento, o que vou pagar no aluguel do apartamento, ele vai acabar incluindo os custos de uso de água e saneamento que o proprietário tiver. Ai vai estar embutido nos custos que eu terei na minha viagem, de uma certa forma. Então, eu não sei como a gente faria uma tarifa diferenciada pelo uso de uma pessoa. Sei lá,
se eu for no banheiro eu vou ter que colocar uma moedinha na porta do banheiro pra usar, eu não sei. É difícil viabilizar uma coisa dessas. A minha pergunta é: Se tivesses que separa a tarifa de água (associada ao consumo) x a tarifa de saneamento (contínua). Tua achas justo cobrar proporcionalmente o teu consumo de água e continuamente o custo de saneamento? É que assim, como eu não sei o custo do saneamento que eu uso, eu não sei te dizer. Mas eu ainda sou do princípio do uso e sem tarifa. Sempre associado o teu consumo ao teu uso? Exato. Não importa se é água ou saneamento. Não importa. Quanto mais eu uso mais eu tenho que pagar. Digamos que, hipoteticamente, hoje tu pagas R$ 10,00 por dez litro de água utilizado. O que tu acharias se recebeste uma notificação informando que passarias a pagar R$ 11,00 por esse serviço a partir de agora? (aumento de 10%) Lógico que eu receberia negativamente qualquer aumento de custo. A minha hipótese passa de R$ 11,00 para R$ 12,00 e depois para R$ 13,00. A Tua percepção seria tão ruim em qualquer uma destas situações? Pra mim, sim. Claro que ela aumenta gradativamente, porque o percentual aumenta né. Aumenta de 10%, 20% e 30%. Claro que fica cada vez pior a minha sensação. Mas sempre negativa? Não é justa? Mas sempre negativa. É, se vai aumentar por aumentar assim, a mês que vem vai aumentar. Tá, ok né? Fazer o quê? Sim, sou obrigado a pagar, é a mesma tarifa. Deveria ter uma justificativa, ok agora vai ser tanto. Mas porque que vai ser tanto? Se tivesse razão, uma coisa que justifique, não sei. Como consumidor, tu aceitarias uma justificativa em que âmbito? O exemplo de São Paulo é bem positivo nesse sentido: ó pessoal a tarifa vai aumentar porque o reservatório tá se esgotando. É uma situação de crise. Então temos que conscientizar a população, portanto a tarifa vai aumentar pra incentivar a redução do consumo. Isso eu pago, dói, mas eu entendo. Tu achas correto ser cobrado uma taxa mínima para a utilização do serviço de água e esgoto? Sim, porque tu tem que ter uma taxa mínima. Porque a infraestrutura necessária, para que eu tenha a oportunidade de usar o serviço, ela custa. Então sim, o mínimo é aceitável. Mas ele tem que ser mínimo né.
E tu já tomou alguma medida para economizar o consumo de água? Pra evitar o consumo de água? É. Pra economizar, reduzir. É que eu sou tão econômico que não tenho reduções significativas assim. Eu já uso isso no meu dia a dia. E como tu usas? Pode me descrever alguns exemplos? Sim, escovar os dentes, eu não deixo a torneira ligada. Eu poderia reduzir um pouco mais? Poderia, usando um copo, por exemplo. Que é o que gente faz com a minha filha, a gente usa um copo. Lavar a louça, eu poderia melhorar também. Sou extremamente rápido e objetivo, não tem nenhum desperdício ali. Banho, meu banho é rápido também. Eu não fico enrolando no banho. Não é banheira é chuveiro, então não precisa encher uma banheira inteira pra tomar banho. Enfim, todo copo de água que eu me sirvo é pra eu beber, eu não jogo fora. Até os meus dejetos assim, copo plástico né, que quer queira, quer não vai pra uma reciclagem, pode ter incursos de água. Eles usam um copo o dia inteiro, se eu tiver que usar um copo plástico em algum lugar. Então assim né, eu já faço bastante coisa de forma reduzida. Tem coisa pra melhorar, tem. Mas não é uma necessidade, um esforço enorme. Como tu vês a oferta de água e de saneamento na tua região? A minha oferta, aqui na minha região é excelente. Como tu classificarias a SABESP? Puts, não tenho como avaliar. Nenhuma ideia. Mas quando eu falo em SABESP, o que te remete? A me remete a saneamento da cidade de São Paulo, daqui da região de São Paulo. É uma marca positiva? Negativa? Indiferente? Olha, pra mim é de indiferente pra positiva, porque como a minha região é bem abastecida e eu não tenho reclamação. E se tu pensar na SABESP como uma pessoa, quem ela seria? Nossa, ela seria um anjo! Um anjo? Por quê? Porque ela cuida dos nossos dejetos e transforma em coisa boa. Se pudesse dar um recado para a Sabesp, qual seria? Obrigado por cuidar de mim.
E por fim, em uma ou duas palavras, como você percebe o futuro da água? Nefasto. E qual é o teu papel nesse futuro? Prolongar a vida útil desse futuro. Com ou sem ajuda da SABESP? Obviamente com ajuda. Muito obrigada, tu podes encerrar agora falando o teu nome completo, idade, profissão e cidade onde moras? Eduardo AvancinI Alves, tenho 35 anos. Sou formado em engenharia e moro em São Paulo, capital.