Jornalismo de Música Pop Internacional em Tempos de Internet: Veículos Tradicionais e Blogs

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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO JORNALISMO

LUCAS RODRIGUES

JORNALISMO DE MÚSICA POP INTERNACIONAL EM TEMPOS DE INTERNET: VEÍCULOS TRADICIONAIS E BLOGS

Santos / SP Novembro / 2016


UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO

LUCAS RODRIGUES

JORNALISMO DE MÚSICA POP INTERNACIONAL EM TEMPOS DE INTERNET: VEÍCULOS TRADICIONAIS E BLOGS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo à Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade Santa Cecília, sob orientação do professor Marcus Vinicius Batista.

Santos / SP Novembro / 2016


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LUCAS RODRIGUES

JORNALISMO DE MÚSICA POP INTERNACIONAL EM TEMPOS DE INTERNET: VEÍCULOS TRADICIONAIS E BLOGS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo à Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade Santa Cecília.

Data da aprovação: ___/____/____

Nota: _________________

Banca Examinadora

_________________________________________________________ Prof.Marcus Vinicius Batista Orientador

_________________________________________________________ Prof.(a) Ms./Dr.(a)

_________________________________________________________ Prof.(a) Ms./Dr.(a)


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DEDICATÓRIA

Aos fãs de música de modo geral.


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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à minha família, pais e irmãs, por todo amor e carinho incondicional. Aos amigos de faculdade Irineu Paixão, Juliana S. Braz, Andressa S. Laranjeira, Graziela Simões e Ana Cláudia A. Soares por compartilharem comigo bons momentos durante curso. Aos amigos de trabalho Eduardo Caetano, Patrícia Araújo e Karina Praça, pelo incentivo e confiança, no dia a dia de estágio, para ir sempre além da pauta. Ao meu orientador, professor Marcus Vinícius Batista por acreditar na importância deste trabalho e auxílio sempre que possível. Agradeço também a todas as fontes que colaboraram, editores-chefes de sites e blogs, jornalistas e profissionais da música, pelo tempo, paciência e troca de informações a fim da realização desta pesquisa. Ela certamente não seria a mesma sem a contribuição de vocês. Ao ensinamento proporcionado por todos os mestres do curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade Santa Cecília. Agradeço imensamente aos professores Fernando de Maria, Raquel Alves e Nara Azevedo pelo apoio recebido. Por fim, agradeço a todos aqueles que contribuíram direta e indiretamente no desenvolvimento da monografia.


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A cultura da música popular não é consequência da indústria da música popular. E mais, a indústria da música é só um aspecto da cultura da música popular. (Will Straw, Cultural Studies, 1991)


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RESUMO

Com a democratização da internet, bem como os novos modelos de negócio da indústria musical voltados para a web, as pessoas e o jornalismo precisaram adotar novas práticas de comportamento na rede, quando o assunto é música internacional. Este trabalho tem como objetivo estudar as possibilidades e limites do profissional jornalista por meio de uma análise monográfica de veículos tradicionais online e a criação de conteúdo editorial por parte de blogs que conduzem extensas discussões na web. Ao longo da pesquisa, entrevistas com editores-chefes de veículos online e blogs musicais, jornalistas especializados em música e profissionais da área musical contribuem para melhor compreensão do caso, sob a perspectiva de três pontos de discussão que se desdobraram em seus respectivos impasses e soluções. Visando a melhora da atividade e o fornecimento de boa informação ao leitor, o trabalho estendeu-se no processo de elaboração de pauta, desvalorização do trabalho blogueiro, assessorias de imprensa, redes sociais e música nacional. Palavras-chaves: Jornalismo Musical; Jornalismo Digital; Música; Internet; Blogs;


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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... 9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 10 1

A INDÚSTRIA MUSICAL E O “POP” ....................................................................... 13

1.1

INTRODUÇÃO AO MERCADO ................................................................................ 13

1.1.1 Entre o fonógrafo e o streaming ................................................................................ 13 1.2

O QUE É POP E POPULAR? ...................................................................................... 25

1.2.1 Sobre cenas musicais: circuitos culturais e cadeia produtiva ................................. 27 1.2.2 Mainstream, underground,nicho e a relação com a internet .................................. 30 2

O TRADICIONAL E O BLOG .................................................................................... 33

2.1

A MÍDIA SOBRE MÚSICA NA INTERNET ............................................................. 33

2.1.1 Transformações nos sites e veículos tradicionais ..................................................... 34 2.1.2 O blog e a mídia amadora .......................................................................................... 37 3

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS OBJETOS DE ESTUDO ............................... 41

3.1

TODOS NO MESMO BARCO .................................................................................... 41

3.1.1 Billboard Brasil ........................................................................................................... 42 3.1.2 Nação da Música ......................................................................................................... 44 3.1.3 Tenho Mais Discos Que Amigos! ............................................................................... 46 3.1.4 Qual a Grande Ideia? ................................................................................................. 48 3.1

A VISÃO DE QUEM ESTÁ ATUANDO ................................................................... 49


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4

CONSULTA E ANÁLISE DE JORNALISTAS MUSICAIS ...................................... 59

4.1

UMA BOLHA CHAMADA JORNALISMO MUSICAL ........................................... 59

4.2

IMPRESSÕES .............................................................................................................. 61

5

ANÁLISE DE ENTREVISTAS COM MÚSICOS E EMPRESÁRIOS ...................... 78

5.1

INTRODUZINDO A MÚSICA ................................................................................... 78

5.2

EXPONDO IDEIAS ..................................................................................................... 79

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 86 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 90 ANEXO 1

ENTREVISTAS NA ÍNTEGRA ........................................................................ 93

ANEXO 2

RELAÇÃO DE FONTES CONVIDADAS PARA O TRABALHO ............... 123

ANEXO 3

PROPOSTA EMPREENDEDORA ................................................................. 126


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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Editores-chefes de sites e blogs nacionais para o capítulo 3............................123 TABELA 2– Jornalistas musicais consultados para o capítulo 4...........................................123 TABELA 3 – Profissionais da música consultados para o capítulo 5....................................124


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INTRODUÇÃO

Na madrugada de 13 de dezembro de 2013, a indústria musical se revestiu em um alvoroço de uma hora para outra. Isso porque o autointitulado álbum da americana Beyoncé (Columbia Records) foi disponibilizado em plataformas de venda e audição digital pago sem aviso prévio. O álbum trouxe recordes de vendas, audição em serviços de streaming1, público em shows, prêmios Grammy e a dúvida quanto os limites do atual jornalismo de música pop internacional. De abril do mesmo ano até o lançamento do álbum, a mídia profissional e amadora acompanhou a artista em uma turnê pelo globo sem trabalho inédito, e concluía que o então quinto álbum “devia” ser lançado “em breve”, pois havia fotos da cantora em estúdio. Por mais que o projeto tenha, enfim, alcançado as plataformas de venda mais tarde, tudo dito pela imprensa durante o ano todo não passava de especulação da internet. A história da música tem diversos ápices, porém, só no século XXI, coube ao jornalismo acompanhar dois grandes momentos da indústria atrelados à internet: lançamento do iTunes em 2003, da influente Apple, que deu fôlego para as vendas de álbuns e singles digitais; e a ascensão dos serviços de streaming pagos, em 2015, que liderado pelo Spotify, tomou o lugar da plataforma que segurou a indústria por quase 15 anos. Tudo se tornou mais simples, incluindo “informar”. Ficou ao cargo de sites, blogs, revistas e até mesmo jornalistas em redes sociais acompanhar estas transições, bem como os bastidores do universo musical. Com isso, um reflexo que temos dessa mediação no Brasil é a permissão que o público passou a ter em razão de pagar para consumir música – algo que no país nunca foi cultural. Porém, há falhas óbvias neste processo. A prática é atrelada ao Jornalismo Cultural, uma segmentação da área que tende atrair jovens por conta da tamanha versatilidade de trabalhar assuntos como cinema, teatro, dança, HQ's, etc. Mesmo oferecendo um leque de pautas para os grandes veículos, ela ainda é deixada de lado. Agora, se o jornalismo cultural é tratado desta forma, é de se pensar que o jornalismo musical praticamente não existe. E se existe, ele está propício de ser pautado pelas instantâneas informações que aparecem no feed de notícias. E isso claramente não é jornalismo.

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Serviço de audição e visualização de mídia on-demand, ou “por demanda” mediante assinatura. Spotify e Nexflix são exemplos desta plataforma.


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Tem muito release, linguagem segmentada e muito mais. De antemão, falta trabalho de apuração, comprometimento com a notícia e público, entrevista e por aí vai. A proposta deste trabalho é discutir a realidade da atividade jornalística sobre música pop internacional para internet, pegando como gancho o impacto que existe entre as coberturas de veículos tradicionais online e blogs. Justificativa Hoje, ouvir música envolve muito mais procedimentos do que há algumas décadas. Pensar em música atualmente – além de produção, composição, etc– consiste em pensar também nos processos comunicacionais que a música permite ao ouvinte, independentemente do meio escolhido pelo indivíduo para ouvir a faixa. É pensar nas ações de marketing, redes sociais, releases, apresentações ao vivo e mais. Inclusive, é válido considerar que o jornalismo profissional e amador de sites, blogs, revistas, entre outros, seja fundamental para que a pessoa dê o play na música preferida. Ainda assim, refletir a realidade do jornalismo da música como uma indústria – e que por isso mesmo consiste em uma hierarquização de ações a serem realizadas até chegar às plataformas de venda ou streaming–, é pensar também que a atividade do jornalista musical é responsável por fazer algumas modificações em cenários econômicos de forma terceirizada. É interessante constatar que, quando atrelado à internet, este papel exercido pelo profissional se torna ainda maior. O que está em falta, no caso, é um meio de se discutir a influência que ele, do segmento música pop, é capaz de proporcionar. Além disso, qual é a sua realidade. Já sabemos que a música importa, e ratificamos isso nas conversas entre amigos, lugares e até mesmo na internet. A partir disso, é preciso solidificar a mediação praticada pelos

tantos

jornalistas

de

música

pop

internacional

para

internet

na

relação

artista/gravadora/veículo, além de discutir a influência deste profissional não só no dia a dia do público que assiste, mas também nas reuniões de pauta das redações profissionais e amadoras. Objetivo Em um primeiro momento, a pesquisa tem como foco buscar o dia a dia do jornalismo de música pop internacional na internet. Por isso, no decorrer da monografia encontramos entrevistas com quatro editores de dois sites e dois blogs nacionais voltados para música. Assim, é possível analisar a realidade desta segmentação buscando o impacto da mídia digital


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nos preceitos do jornalismo. Refletir se jornalismo musical se torna mais vulnerável à velocidade das informações encontradas na internet, sem precisão, trabalho de pesquisa e apuração, são pontos explorados neste trabalho. Outro fator importante é a figura do jornalista como colaborador e/ou participante da movimentação e desenvolvimento do atual cenário musical, sob a perspectiva de três grupos: "indústria musical", "público" e a própria "mídia especializada". Por fim, a pesquisa traz alguns casos interessantes sobre a cobertura de música internacional na internet. Ao longo do trabalho é feita uma análise entre veículos tradicionais e blogs (feitos por jornalistas ou não). É importante conhecer exemplos dessa realidade e mostrar o impacto que ela causa no público, na mídia e no cenário musical.


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A INDÚSTRIA MUSICAL E O “POP”

1.1

INTRODUÇÃO AO MERCADO A música sempre ocupou um importante posto no desenvolvimento da nossa

civilização, pois ela de alguma forma sempre conversou com a cultura de determinado indivíduo, seja diretamente para artistas regionais, ou indiretamente para casos em que a própria música diminui a distância entre artista e ouvinte. Ela cumpre um papel de mediador, e isso claramente teve influência das constantes modificações nos cenários da indústria musical, que hoje vive seu ápice na era digital: a internet. Até meados dos anos 1980, a música vendida em formato de álbum físico ainda era o principal meio de captação de lucro por grande parte dos artistas nacionais e internacionais considerados mainstream2, pop ou até mesmo de nicho, mesmo com o surgimento da internet e do início das grandes turnês mundiais. Em pouco menos de 20 anos, essa realidade sofreu alterações dos mais variados índices – positivos ou negativos. Só para ter uma ideia da importância deste momento para a indústria musical, segundo o relatório da Federação Internacional da Indústria Fonográfica–IFPI3, divulgado em abril deste ano, as receitas do mercado global de música gravada tiveram, em2015 crescimentos de 3,2% em relação ao ano anterior, atingindo US$15 bilhões. No que diz respeito às receitas da área digital, esta vertente cresceu 10,2% e já representa mais da metade do faturamento com música gravada em 19 países, incluindo o Brasil. Percebe-se que em um curto período de tempo, a vilã de uma das indústrias mais consagradas do mundo se tornou uma grande aliada. Agora, quando falamos de música é importante ter em mente que a internet veio pra ficar.

1.1.1 Entre o fonógrafo e o streaming Para compreender os feitos da indústria musical atual, é preciso conhecer pontos importantes da trajetória que a trouxe para a situação que está: a de consolidação na internet.

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O que é comum às massas.

3

International Federation of the Phonographic Industry; http://www.ifpi.org/


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Para Oliveira4 (2006), a história da música no sentido de captação, produção e consumo pode ser dividida em quatro fases: a mecânica, a elétrica, a eletrônica e digital. Respectivamente, a primeira fase, classificada como “mecânica”, começou em 1877, com a invenção do fonógrafo, por Thomas Edison, que permitiu o registro de gravações sonoras. Mais tarde, essas gravações foram atreladas às transmissões radiofônicas, que se tornaram grandes difusoras de conteúdo auditivo gravado. Foi o início da industrialização da música, permitindo que este bem cultural fosse considerado um objeto de troca, por meio de um produto comum com possibilidade de ser comercializado. Daí foi tirada a ideia do formato álbum, um compilado de canções gravadas incorporadas a uma plataforma física – inicialmente em um Disco de 78 Rotações, ou 78 RPM como também foi chamado, a partir de 1895, com capacidade para até 4 minutos de gravação. A partir daí, a indústria passou pela criação do LP, dos instrumentos elétricos, o aparecimento das gravadoras (das majors5 às independentes), a criação da fita magnética, do CD, até o crescimento das turnês mundiais. Um fato interessante sobre a transição da fase elétrica para a eletrônica é o surgimento das produções independentes, que não se prendem a uma grande gravadora. Esta produção independente, até os dias atuais, sustenta-se e justifica-se muito em uma série de críticas aos meios de divulgação – principalmente à dificuldade em fazer suas produções tocar nas rádios. Existe um relacionamento muitas vezes tenso entre artistas, gravadoras e meios de comunicação. E, no meio disso tudo, está à polêmica do jabá, ou jabaculê. De acordo com um estudo de Rafael Schoenherr6 (2005), o assunto gerou repercussão inicialmente nos Estados Unidos, nos anos de 1950 e 1960, quando DJs foram investigados com o intuito de descobrir se havia pagamento para as rádios americanas a fim de que determinadas músicas fossem tocadas nas emissoras. Um dos primeiros DJs da história, Alan Freed, por exemplo, chegou ser condenado.

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Mestre em Ciências da Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). 5

Termo usado para designar grandes gravadoras.

6

Jornalista e professor do curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa.


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Para Janotti7 (2003), após os escândalos envolvendo a polêmica do jabá nas rádios americanas, surgiu um formato de promoção de faixas mais impessoal em que os locutores passaram a seguir a listagem dos programadores.

“O que não impediu, na verdade, facilitou a prática extraoficial. Com a redução dos investimentos publicitários no rádio (muito em função do aparecimento da TV), as emissoras passam a vender espaços para empresas fonográficas – daí a proliferação do jabá e constante queixa dos artistas (que ficam excluídos, claro). Nos anos de 1970, o rádio deixa de ser produtor e difusor de mercadorias culturais específicas para se tornar somente difusor [...]” (Janotti, 2003, p. 32).

Ainda assim, a música, e consequentemente a indústria fonográfica, viveu grandes momentos durante as três primeiras fases, sempre como objeto de interesse público e de retorno efetivo no que diz respeito ao capital social, cultural e comercial. Porém, foi no início da década de 1980, já na fase digital, que a indústria passou pelas principais reconfigurações, iniciada anteriormente com a invenção da internet. A tecnologia abriu espaços para uma nova forma de comunicação, interatividade e até organização social, em que cada vez mais ficou fácil a troca de informações e arquivos, incluindo a música. Este foi o grande marco da fase da digitalização. No entanto, o compartilhamento de música não era tão fácil no início da internet, pois os arquivos de áudio eram grandes demais para serem disponibilizados na rede em pouco tempo. Foi aí que nasceu o MPEGLayer3, popularmente conhecido como mp3. Lançado em 1995, o mp3 permitiu uma compactação extrema do tamanho do arquivo de áudio gravado. Se antes uma música tinha um tamanho mínimo de cerca de 40MB8, com o novo formato digital as gravações passaram a ter em média 4MB. Foi uma grande invenção, levando em conta que o formato proporcionou uma redução no tamanho em bytes dos arquivos de áudio digital sem comprometer a qualidade da produção. Segundo Oliveira, a perda de qualidade era mínima, imperceptível ao ouvido humano. A extensão agilizou ainda mais o processo de digitalização da indústria, facilitando o envio de música na rede. A partir de 1997, nasceram os primeiros serviços de

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Pesquisador, Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Professor do Curso de Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Alagoas. “MB” é uma sigla usada para a classificação de tamanho de arquivo digital “mega bytes”, equivalente a 1 mil bytes.

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compartilhamento de áudio em formato mp3 por meio de redes peer-2-peer9, que, por sua vez, tornaram-se o problema da quarta fase da indústria fonográfica: a pirataria. Serviços como Winamp10 e Napster11 chamaram atenção por disponibilizar um vasto conteúdo musical de graça na rede, e isso desvalorizou o formato álbum, que por anos levou a indústria musical e, na época, não conseguia superar os downloads ilegais. Inicia-se aqui a maior briga da indústria, que por sinal sobrevive até os dias atuais. Com a virada do século, a briga por direitos autorais das músicas em formato mp3 disponibilizadas na internet tomou proporções imensuráveis. O formato álbum, que antes tinha valor de troca comercial, perdeu público, uma vez que a maioria das pessoas que faziam uso de serviços de download por meio de redes peer-2-peer optavam por baixar músicas separadamente, segundo Oliveira. As pessoas não sentiam mais necessidade em comprar um álbum físico para ouvir a única faixa que gostavam de Michael Jackson, por exemplo. De acordo com Lima12 (2011), para converter a popularização do mp3, somado o surgimento da internet banda larga e os constantes acessos de serviços de download ilegal, as grandes gravadoras adotaram como reação a perseguição judicial aos sites provedores dos downloads não remunerados. Um dos primeiros a serem processados foi o Napster, alvo de ataques judiciais de gravadoras, editoras, produtores e até artistas, como a banda Metallica. Entretanto, o processo perdido pelo serviço, no entanto, não cessou a prática do download gratuito. A plataforma foi sucedida pelo KaZaA, E-mule, Shareaza, Audiogalaxy, Morpheus e o iMesh. A constante procura pelo download de música não remunerado no início do século foi o motivo sinalizador para o fato de que as gravadoras até então foram incapazes de criar um modelo de negócios que permita incorporar estes downloads como fontes de remuneração. O Napster perdeu a ação judicial movida pela banda Metallica, e aceitou a proposta de não permitir mais o download ilegal das músicas da banda, banindo mais de 300 mil usuários. Mais tarde, em junho de 2000, a Associação das Indústrias de Gravação Americana - RIAA13, Ao pé da letra, “par a par”, ou de “ponta a ponta”. São redes em que as pontas funcionam tanto como clientes, quanto como servidores, facilitando a troca de arquivos digitais. 9

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Lançado em 1997, inicialmente uma plataforma de download ilegal de músicas em formato mp3. Hoje é apenas um reprodutor de áudio. http://www.winamp.com/ 11

Lançado em 1999 e desativado por conta de uma ação judicial em 2001. Assim como o Winamp, sofreu alterações e hoje está disponível como uma plataforma de streaming por assinatura. http://br.napster.com/ 12

Jornalista, professora da Faculdade Social da Bahia mestre e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporânea – Facom/UFBA. 13

Em inglês, Recording Industry Association of America, principal órgão representante das gravadoras musicais nos Estados Unidos.


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moveu a segunda ação contra o Napster. Depois de perder uma exigência de US$ 100 mil por música com copyright baixada no serviço online, o órgão entrou na justiça mais uma vez, exigindo o bloqueio de todo conteúdo de gravadoras. Neste caso, a RIAA venceu. A cantora Madonna foi outra artista que entrou na justiça contra o Napster, por promover o download das canções presentes no álbum Music (Warner, 2000), um mês antes do lançamento do projeto. Em novembro de 2002, o serviço é comprado pela Roxio por US$ 5,2 milhões e, no fim de 2003, começa a vender música em formato digital. Hoje o Napster também é um serviço de streaming por assinatura. O Winamp, por sua vez, é apenas um aplicativo para reprodução de música, sem promover o download ilegal. De acordo com Schoenherr, no Brasil mais de 22 mil páginas de download ilegal de música foram retirados do ar entre 2000 e 2002 pela Associação de Proteção dos Direitos Intelectuais Fonográficos – APDIF14. Muito provavelmente esse número foi maior em escala global. A indústria entrou em crise, e aceitara qualquer solução para virar o jogo contra o download de música não remunerado. A partir de 2003, as cinco maiores gravadoras do mundo, na época, (Warner, Universal, EMI15, Sony e BMG16) toparam participar de projetos ambiciosos para conseguir retorno comercial efetivo por meio da música na internet. Muito em razão pela queda constante das vendas. O primeiro, e talvez o principal grande investimento digital, foi o iTunes, da consolidada Apple, lançado no mesmo ano. A plataforma de venda de música online surgiu para o público americano em 28 de abril de 2003, com um ano e meio do lançamento do iPod. Os CDs representavam 98,4% das vendas da indústria fonográfica dos EUA. A loja da Apple oferecia 200 mil músicas à venda das cinco principais gravadoras da época. “Era uma indústria em queda, que só topou a aventura proposta pelo fundador da Apple, Steve Jobs, porque estava desesperada”, garante Pedro Doria17, em sua coluna “A Reinvenção da Internet” (2013). De uma hora para a outra, se tornou fácil e barato comprar música: US$ 0,99 por faixa, sem a necessidade se comprar um álbum inteiro. 14

Associação fechada em 2015.

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Electricand Musical Industry, fundada em 1931 e encerrada em 2012, se tornando subsidiária da Universal Music.

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Em 2004, a Sony Musice a BMGse uniram em uma joint venture e criaram o selo global Sony BMG Music Entertainment. Em 2008, a Sony comprou parte da alemã Bertelsmann, responsável pela BMG, com isso a empresa mudou seu nome para Sony Music Entertainment. Apesar de únicas, as duas ainda são consideradas gravadoras a parte. Fato que no Japão as duas são gravadoras diferentes e mantém seus nomes de origem. No Brasil, o nome da gravadora ainda é Sony BMG. 17

Colunista “Globo”.


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Aos poucos, a loja digital começou a prestar outros serviços, como a venda de livros, aplicativos, videoclipes, download gratuito de podcasts e outras mídias por meio de promoções, etc. Não só isso, o iTunes se expandiu e atualmente está disponível em 119 países. O Brasil recebeu a plataforma em 13 de dezembro de 2011. Além disso, se adaptou à toda linha de produtos da Apple, sendo compatível com os iPods, iPads, iPhones, AppleTV, etc. Foi uma proposta arriscada, mas que a princípio deu certo e, com isso, garantiu fôlego para a indústria fonográfica, que de lá pra cá se sustentou basicamente com a venda de singles18. De acordo com Doria, a Apple fez bem mais do que reinventar [ou até mesmo inventar] um modelo de negócio na internet, “mostrou que existe um caminho para a venda de conteúdo digital”. E ele tem razão, não é a toa que, por conta dela, diversas empresas surgiram seguindo os paços da pioneira. A exemplo de catálogos como o da Amazon Digital Music19 e Google Play Music20, que inicialmente vendiam singles e álbuns em formato digital e permitiam uma adaptação a diversos aparelhos de marcas diferentes. Neste caso, o serviço da Google se assemelha muito com o da Apple, pois ele já vem adequado principalmente a todos os aparelhos com sistema operacional Android, de autoria do buscador online. O problema é que o iTunes, modelo de negócio que salvou a indústria em 2003, se tornou fraco e incapaz de seguir adiante como líder absoluto na venda de singles e álbuns digitais. A plataforma criada para acabar – ou reduzir – com o download ilegal de música, valorizando os direitos autorais de artistas e gravadoras, se viu enfraquecida pela primeira vez, dez anos depois do seu lançamento, enquanto aquilo que ela mais buscava aniquilar crescia novamente. No entanto, foi nessa mesma época de baixo rendimento do download digital pago que a internet voltou a ser a solução. Em uma entrevista para o Jornal Valor Econômico (2013), o presidente da Universal Music no Brasil, José Antônio Éboli, contou que “a maioria das pessoas não quer mais deter a faixa”. Isso explica duas coisas. A primeira é o motivo pelo qual a música digital perdeu receita. Mesmo sendo barata, ocupa espaço. Um grande volume de faixas e álbuns pode comprometer o espaço no disco de um computador, celular, pen drive,

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Música de trabalho, ou música de promoção de trabalho por parte do artista. São faixas mais comerciais, escolhidas pelas gravadoras para serem enviadas às rádios. Criada em 2007, e anteriormente conhecida como “Amazon MP3”. https://www.amazon.com/MP3-MusicDownload/b?ie=UTF8&node=163856011. 19

20

Criadoem 2011. https://play.google.com/store/music?feature=music_general


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etc. A segunda explicação é para a ascensão das redes sociais para música, ringtones, e serviços de rádio online e streaming. A começar pelas redes sociais. A primeira delas foi o MySpace21, criado em 2003, que possibilita a publicação de áudios gravados com copyright em uma comunidade virtual, que assim como outros serviços, permite a criação de um circulo de amigos, como no Facebook e Google+. O serviço se encontra disponível até os dias de hoje, e é uma alternativa muito usada para a promoção de projetos de artistas independentes, sem vínculo com gravadoras. O SoundCloud22, criado em 2007, é outra opção. Apesar de não estar ligado diretamente à internet, os serviços de telefonia móvel como os ringtones23 também auxiliaram na contrapartida da indústria fonográfica para lucrar novamente. O modelo se consolidou no Brasil e atraiu as grandes operadoras. Na TIM, por exemplo, houve uma promoção em que o usuário pagava R$ 0,50 por dia para ter acesso a quantas canções quiser. De acordo com a reportagem de Valor Econômico, só no primeiro semestre de 2013, foram feitos 13 milhões de downloads de ringtones na TIM. No Brasil existem casos interessantes para comprovar o poder da internet e da própria telefonia móvel em virar o jogo no que diz respeito ao lucro com direitos autorais. A cantora Mallu Magalhães é um exemplo disso. De acordo com Lima (2011), no início da carreira solo, a cantora disponibilizou quatro canções em sua conta no MySpace. Segundo dados de 2007, a página da artista teve 1,9 milhão de visitas. Foi a partir da divulgação virtual que a cantora e compositora ganhou destaque na mídia nacional. Devido ao sucesso, Mallu foi procurada pela Warner, Sony BMG, Universal e Deckdisc24 para lançar um álbum, porém ela recusou todas as propostas por considerar os acordos mais vantajosos para as empresas do que para ela própria. Solução: ela chegou a produzir um álbum, mas de forma independente, e mais tarde recuperou os investimentos em gravação com o lucro que obteve pelo contrato com a companhia de telefonia Vivo. A empresa negociou com Mallu o uso de suas músicas em propagandas e o direito de disponibilizar as canções para os usuários de seu sistema de telefonia móvel. Só depois a

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https://myspace.com/.

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https://soundcloud.com/stream.

Criado em 1960, mas comercializado apenas a partir de 1999, o “Tom de chamada”, em português, é a música que o usuário ouve no aparelho enquanto espera para ser atendido. 23

24

Gravadora brasileira, responsável por lançamentos de Pitty, Ivo Mozart, etc. http://deckdisc.com.br/


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cantora lançou CD e DVD em suporte físico para comercialização, mas, ainda assim, pelo selo independente Agência de Música25. As rádios online, assim como as redes sociais para música e os ringtones, não são novidade. Nem mesmo quando atingiram seu ápice de público, em 2010. A primeira empresa, e talvez e a mais famosa, é Last.Fm26, criada em 2002. Esse tipo de serviço mescla a ideia de rádio com rede social. No endereço em questão, os usuários podem fazer contas e ouvir rádios personalizadas pelos próprios usuários; automáticas mediante o tema de outras rádios escutadas e a nota dada para cada música no site. Há também rádios pré-estabelecidas pelo próprio sistema. Esse tipo de serviço, que muito se assemelha com o streaming, fez sucesso pela facilidade com que os usuários conhecessem outros artistas. O fato de uma pessoa dar nota para uma música “x” de um artista “y” fazia com que outro usuário dentro do círculo de amizade da pessoa em questão ouvisse uma banda pelo sistema de recomendação. As rádios online ainda estão presentes na rede, mas não são as principais fonte de renda, visto que nem todos os serviços são pagos, como o próprio Last.Fm. Houve também o Rdio, lançado em 2010, que aqui no Brasil ganhou força pela parceria com a rede de telefonia móvel Oi. No entanto, o serviço declarou falência no final de 2015 e, por isso, foi vendido para a Pandora27, disponível apenas nos Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia. Atualmente, os serviços de streaming são alternativas muito procuradas por quem quer ouvir música, porque funciona com o sistema de serviço on-demand. Em tese, esse tipo de serviço disponibiliza todo catálogo de música possível mediante uma assinatura, que na maioria dos casos é mensal. Em troca, você é permitido ouvir música quando quiser, onde quiser, etc. Enfim, basta ter internet para o usuário passar a ter escolha, e não se prender mais a compra de um CD físico, ou ao download da música digital.

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Também brasileira, responsável por lançamentos de Marcello Camelo, Banda do Mar, etc. http://agenciademusica.com.br/

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http://www.last.fm/

27

http://www.pandora.com/


21

Hoje existe uma série de serviços de streaming disponíveis para diversos conteúdos digitais. Para música, os mais conhecidos são Spotify28, Deezer29, Google Play Music AllAccess30, Groove Music31, TITAL32 e AppleMusic33. A prova dessa inversão de papéis no que diz respeito à fonte principal de lucro da indústria fonográfica é a receita global do segmento em 2012, apresentada na reportagem do Valor Econômico (2013). Os US$ 16,5 bilhões arrecadados representou uma alta de apenas 0,3% em relação a 2011, porém esse foi o primeiro avanço desde 1998. Outra forma de gerar renda online foi a aliança das gravadoras com o site Vevo34, que é uma joint venture entre a Sony Music Entertainment, Universal Music Group e a Abu Dhabi Media35, em parceria com o YouTube. O acordo é de que as indústrias ficam com toda a verba de publicidade gerada pelos vídeos, e em troca o site da Google pode oferecer videoclipes e conteúdo com copyright destas empresas. A ideia veio após a – mais uma vez – insatisfação das gravadoras com a pirataria. O YouTube é um endereço de streaming que não requer assinatura, ou qualquer pagamento para acessar a plataforma. De acordo com uma pesquisa da Nielsen Media Reserch nos Estados Unidos em 2012, 64% dos jovens que escutam música pela internet escolhem o YouTube, deixando outras plataformas pagas para trás. Outra pesquisa do Tubular Lab, em dezembro de 2013, constatou que 38,4% de todas as visualizações em vídeos do site são de música. Isso preocupa as gravadoras, pois o site da Google é inteiramente gratuito para assistir e publicar vídeos de qualquer espécie, inclusive os de conteúdo musical com copyright. Basta procurar uma música de uma artista como Beyoncé que uma série de vídeos com apenas áudio ou não aparecerão disponíveis para acesso. A diferença é que nem todos serão da Vevo ou qualquer outra opção das gravadoras para lucrar com os direitos autorais. Ainda sobre o YouTube, o relatório da IFPI de 2015 apresenta como atual desafio as plataformas de streaming de áudio e vídeo com conteúdo gerado por terceiros – chamados de 28

Lançado em 2006. https://www.spotify.com/

29

Lançado em 2007. http://www.deezer.com/

30

Extensão da loja digital Google Play Musicfocada no streaming.

31

Lançado em 2012 pela Microsoft. Antigo “Xbox Live Music” e “Zune”. https://music.microsoft.com/

32

Lançado em 2014, também conhecido como “TIDALHiFi”, do rapper e empresário americano JAY Z. http://tidal.com/

33

Lançado em 2015. http://apple.com/music

34

Lançado em 2009. http://www.vevo.com/

35

Fundada em 2007. http://www.admedia.ae/


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user generated content. De acordo com a Federação, sites como o YouTube remuneram artistas e gravadoras exclusivamente com base em receitas de publicidades. A principal exigência para o serviço é uma remuneração mais adequada e justa para criadores e produtores musicais. Antes, a indústria fonográfica reclamava que o YouTube não pagava pela reprodução das músicas na plataforma. Agora a reclamação é pelo pagamento insuficiente. Em entrevista para o site Recode36, em abril deste ano, o CEO da RIAA, Cary Sherman, explicou que o motivo para o Google não remunerar de forma correta os profissionais da indústria fonográfica é o código dos direitos autorais em plataformas digitais de 1998 – popularmente chamado de DMCA37 – que protege estas plataformas, e só deverá ser equacionado com mudanças legislativas, já em discussão nos territórios que se faz presente. Sherman garante, “a internet de 1998 não é a mesma de 2016”. Em 2014, o vice-presidente do YouTube, Tom Picket, rebateu as críticas e disse que “a plataforma pagou mais de US$ 1 bilhão para a indústria fonográfica”, sem especificar o tempo usado como base de argumento. O YouTube não é o único alvo deste problema. O Spotify também é. Nos últimos anos, o serviço líder de streaming musical no Brasil sofreu diversas críticas por disponibilizar para seus usuários a possibilidade de escutar música de forma gratuita, sem necessidade da assinatura, monetizando a audição de propagandas entre a reprodução de uma música para outra. Isso levou artistas consagrados como Taylor Swift a retirar todo seu catálogo de músicas da plataforma em 2014, o que gerou certa polêmica tendo em vista que ela lançava simultaneamente seu álbum de maior sucesso, o 1989 (Universal Music Group). No decorrer disso tudo, surgiram novos serviços de streaming, como o TIDAL e o AppleMusic, que prometeram uma recompensa maior para proprietários de direitos autorais, e um plano único e pago que corresponde a aproximadamente R$ 15. Ainda assim, o Spotify anunciou neste ano a marca de 30 milhões de usuários assinantes, enquanto os usuários do modo gratuito são 70 milhões. Se compararmos esses números com os divulgados em 2015, percebemos que o número de usuários assinantes cresceu cinco milhões. No mesmo relatório da IFPI, foi constado que, em 2015, o mercado global arrecadou US$ 15 bilhões, e o streaming já representa 19% do mercado. Além disso, a porcentagem de 36

http://www.recode.net/

37

Digital Millenium Copyright Act 1998 – Presente nos Estados Unidos e Europa.


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assinantes do serviço cresceu 65,8%, impulsionando 68 milhões de usuários para o modo premium38 no mundo todo. Pedro Dória (2013), em sua coluna, disse que “as pessoas não são contra pagar, se valorizam o que compram [música]; conforme o digital faz cada vez mais parte de nossos cotidianos, [nós] gastamos com ele”, e ele tem razão. A partir do momento que a compra e venda de arquivos digitais se torna uma realidade, nós nos adaptamos a esse tipo de troca. Se trata de uma reeducação que por anos tem sido discutida e aperfeiçoada. Por sorte, muito já foi feito. Porém ainda existem obstáculos que a indústria fonográfica continua a se desdobrar para encontrar soluções. O mercado de downloads continua sendo o maior segmento digital, representando 20% do total das receitas fonográficas. Entretanto, a previsão é que os usuários de streaming em 2016 ultrapassem aqueles que preferem comprar suas músicas no iTunes etc. Outro ponto interessante é sobre o faturamento com música gravada na América Latina, que desta vez representa o maior crescimento dentre as quatro regiões consultadas. Em 2015, esse número foi de 11,8% a mais em relação ao ano anterior. América do Norte, Europa e Ásia tiveram entre 1 e 6% de crescimento, respectivamente. No Brasil, o mercado fonográfico no geral teve um aumento em suas receitas de 10,6% em 2015. Assim como nos principais mercados do mundo, o segmento digital também cresceu no País, somando 45,1% em relação a 2014, segundo dados da PRÓ-MÚSICA BRASIL – Produtores Fonográficos Associados39. O órgão acrescenta que a receita derivada de conteúdo digital já é uma “realidade irreversível”, tanto em escalas globais, quanto nacionais, tendo em vista a queda consecutiva de vendas físicas – 19,3% a menos que no ano anterior. O mercado digital – isso inclui download e streaming – tem hoje no Brasil 60,96% de faturamento, enquanto o mercado físico termina a pesquisa com 39,04%. Em reais, a indústria fonográfica fechou 2015 com R$ 316,5 milhões, contra R$ 218,1 de 2014. O streaming foi o que mais cresceu e arrecadou, tanto em assinaturas, quanto em publicidade. Foram R$ 112,3 milhões e R$ 95,4 milhões em 2015, contra R$ 38,4 milhões e R$ 73 milhões, respectivamente. É interessante observar que a receita do streaming por assinatura superou a de publicidade. O faturamento cresceu 192,4%, enquanto o lucro gerado por meio de publicidade elevou 30,7%. As duas modalidades de audição no serviço representam respectivamente 38

Usuário assinante.

39

Antiga Associação Brasileira dos Produtores de Discos - ABPD http://www.abpd.org.br/


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35,5% e 30,1% do total do faturamento com música digital no Brasil em 2015. Segundo o presidente da PRÓ-MÚSICA, Paulo Rosa, o relatório da IFPI e do próprio órgão nacional demonstram um “amadurecimento do mercado de distribuição de música em meios digitais”, que, por sinal, já era esperado pela indústria fonográfica há alguns anos. É possível perceber que, desde o momento em que a música se tornou uma commoditie, ela passou por inúmeras transformações em seus modelos de negócios. Entrou no momento certo da digitalização, mas não soube como se adequar à internet quando outras indústrias já estudavam fazer isso. O que podemos observar é que a indústria musical, quando entrou no jogo arrumou brigas e mais brigou com os meios adotados para continuar se mantendo. Ao longo das duas últimas décadas, gravadoras, produtores, artistas e empresários seguraram suas receitas escolhendo um formato padrão de negócio por um tempo, e deixandoo mais tarde devido à suposta insatisfação gerada em seguida. Houve o tempo da venda física de discos, dos singles – que ainda são bem representativos –, dos ringtones, até chegar aos streamings pagos e remunerados por visualização e audição de publicidade. De acordo com Nadja Vladi40 (2011), algo que auxiliou e ainda auxilia no desenvolvimento da indústria, paralelamente à produção de música, são as turnês mundiais. Artistas – especialmente do mainstream– passaram a ganhar o sustento com o crescimento das apresentações ao vivo. Em 2008, o mercado ao vivo teve um crescimento de 10%, movimentando cerca de US$ 25 bilhões, entre venda de ingressos, publicidade e direitos de imagem no mundo todo. Além disso, Nadja conta que anteriormente os músicos conseguiam dois terços de sua receita através da venda de música – o terço restante era obtido através de shows e publicidade–, porém atualmente essa proporção se inverteu. Hoje as gravadoras buscam fazer parte deste mercado, adotando como medida compensatória às suas perdas a participação nas bilheterias. Isso diferencia os artistas. Os grandes, em escalas globais, como Taylor Swift possuem alternativas para gerar receitas. Enquanto para os independentes, ditos undergrounds41, a

40

Doutoranda no programa de Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA e faz parte do grupo de pesquisa Mídia & Música Popular Massiva. 41

Expressão para designar o que não é comum às massas.


25

monetização de publicidade em seu álbum no YouTube é uma possibilidade interessante de ingressar na indústria musical. Apesar das mudanças nos meios de produção e suportes de consumo, a música nunca deixou de ser um importante elemento na vida cultural e social dos indivíduos.

1.2

O QUE É POP E POPULAR?

Ao longo da história da música, a definição do que é o pop foi abordada de diferentes e controversas formas. Basta uma busca nem tão apurada na internet que os principais resultados dizem respeito a forma usada para designar aquela música que é popular, para caracterizar o estilo de música mais voltado para a dança, a performance em si etc. No entanto, numa interpretação do senso comum sobre este gênero, existem diversas formas de explicar o que de fato é a música pop. Há duas formas clássicas para diferenciar as explicações a respeito do tema. O primeiro termo bastante usado para denominar é exatamente “música pop”, que é muito eclética. Neste primeiro termo, caracteriza-se o gênero que incorpora diversos elementos de outros estilos, como o urban, dance, rock etc, e ainda assim valoriza o fator radiofônico: aquela música com duração entre curta e média, e é estruturada com poucos versos e refrãos. Estes últimos costumam ser repetidos para gerar uma memorização mais fácil da música no ouvinte. Outro termo bastante usado para denominar o estilo é a “música popular”, que não precisa ser um compilado de gêneros diversos como a explicação anterior. Entende-se então que música popular é um som ligado diretamente a um gênero específico, como samba, mas que atinge proporções maiores de público do que outras canções do mesmo gênero. Em outra interpretação do gênero, Hatch42 e Millward43 entendem a música pop com uma única explicação. Em 1987, em seu livro “Do blues ao Rock: uma análise da história da música pop44” os autores definem o gênero como "um conjunto musical que é distinguível da

42

Ex-diretor e produtor da BBC Radio.

43

Sem informações sobre o autor.

44

Manchester, Manchester University Press, 1987.


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música popular". Embora esta afirmação tenha quase 30 anos, ela ainda é atual, pois faz uma ligação da música com as tabelas de sucesso, conhecidas no mundo todo como charts. Assim, a música pop pode ser usada para descrever um gênero específico, focado no público jovem, e que tem como suas características um constante desenvolvimento, monitoramento e investimento por parte da indústria fonográfica. Há quem diga também que este tipo de música é uma versão mais leve do rock. De acordo com uma pesquisa de Alexandre Cavalcanti45 e Keila Mosca46, a música Pop é aquela principalmente direcionada aos jovens, que consegue atingir um grande público devido à forma, independentemente do gênero. Pode vir do rock, do axé, do eletrônico, do reggae, do samba etc. A música pop basicamente é aquele tipo de faixa que “ultrapassa fronteiras e possui um alcance maior de público”. Isso reforça o fato de que os principais consumidores dessa vertente musical são, em sua maioria, jovens e adolescentes, maioria absoluta de usuários da Internet. Os primeiros registros do termo “música pop” surgiram em 1926, no sentido de uma obra musical com “apelo popular”. Porém foi em 1950, no Reino Unido, que o termo foi atrelado a um gênero musical específico, visto que a música produzida por bandas como Beatles, Rolling Stones e ABBA fazia oposição à música clássica ou erudita. A partir de 1967, nos Estados Unidos, o gênero se tornou oposição ao rock. Os dois estilos de música ganharam classificações para melhor serem diferenciados. De acordo com Gloag47 (2003), “o pop é comercial, efêmero e acessível”. No livro Jornalismo Cultural (2003), Daniel Piza48 explica que o pop, em diversas instâncias, incluindo música, é um gênero em que a definição “precisa ser ao mesmo tempo ampla e precisa, sem premissas de superioridade ou inferioridade”. Aqui, ele faz referência a duas coisas. A primeira de que o pop é um gênero artístico que dispensa características exatas, e que por isso é considerado comercial. A segunda é a respeito do fato de que ser comercial não significa não ser arte. Ainda assim, por ser arte como tantas outras, não é superior ou inferior a outros gêneros musicais, devido à receita e parcela de contribuição para a indústria fonográfica, por exemplo.

45 46 47 48

Bacharelando em Ciência e Tecnologia pela Universidade Federal do ABC (UFABC). Antropóloga e doutora em Psicologia; docente da Universidade Federal do ABC (UFABC). Compositor britânico, autor de livros como Pós-modernismo na Música.

Foi um jornalista, escritor e artista plástico brasileiro. Formado em Direito pela Universidade de São Paulo. Colunista do Estado de S. Paulo.


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Janotti, no artigo científico, “Música Popular Massiva e Comunicação: um universo particular”, diz que se deve evitar o rótulo arte versus produtos de entretenimento. “A música popular massiva [pop] envolve complexas relações, e uma autonomia simbólica relativa, entre processos comerciais e criativos. Assim, mesmo reconhecendo a importância dos estudos que partem do campo econômico para tratar da música, não se deve reduzir as faixas gravadas a meros produtos econômicos”. Portanto, entende-se que pop e popular são duas coisas que caminham paralelamente. A primeira fala sobre o que é concreto, moldado por diferentes gêneros e subgêneros, feito pela indústria fonográfica para vender. A outra é algo específico que esporadicamente atinge proporções de públicos fora do comum. Falam sobre cultura de massa, mas de formas diferentes. E dentro dessas definições, existem dois temas que devem ser explorados: as cenas musicais e as noções sobre mainstream, underground e música de nicho. 1.2.1 Sobre cenas musicais: circuitos culturais e cadeia produtiva Criada na década de 1940 por jornalistas norte-americanos para caracterizar o meio cultural do jazz, a ideia de cena tenta dar conta de uma série de envolvimentos que a música gera onde se faz presente. Bandas, público, locais de shows, produtores culturais, críticos, gravadoras, entre outros atores sociais, todos estão inclusos no universo denominado cena musical. De acordo com Janotti (2011), as cenas musicais envolvem também processos de criação, distribuição e circulação, além das relações sociais, afetivas e econômicas decorrentes do fazer musical. O termo só se tornou popular cerca de 50 anos depois, com a era da digitalização se consolidando ainda mais na indústria fonográfica. Basicamente, “cena” é um termo usado para denominar a prática musical ocupando o espaço urbano, sendo foco dos processos sociais dos atores envolvidos na produção, consumo e circulação da música nas cidades, regiões, etc. Exemplos clássicos de cenas musicais podem ser tanto o samba para o Rio de Janeiro quanto o jazz para Nova Iorque. Ou seja, manifestações musicais localizadas que se impõem para firmar-se diante de culturas globais. Segundo Janotti (2011), a formação desse tipo de relação se concretiza devido ao desenvolvimento social e econômico do espaço urbano, através da identificação de um grupo de atores sociais com um gênero musical, sendo assim atuante na disseminação da informação


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e conhecimento do objeto. O samba, por exemplo, tem ligação com a comunidade negra no início do século XX no Rio de Janeiro, enquanto a bossa nova está ligada à inserção do samba na zona sul carioca, comunidade elitista da cidade, quase 50 anos depois. O primeiro pesquisador a respeito do termo foi Will Straw49 (1991), que abriu ainda mais a discussão sobre cenas musicais. Em sua publicação sobre o tema, o autor repensa as limitações das cenas locais. Ele acredita que, com a evolução da indústria fonográfica em suportes físicos – tal como a criação do vinil, K7, CD, etc –, incluindo o crescimento das turnês nacionais e internacionais, as cenas deixaram de ser únicas. Usando o samba como exemplo mais uma vez, mesmo que o Rio de Janeiro seja “casa” do estilo musical, isso não impede a criação de outras cenas dentro e fora do seu local de origem. O gênero se tornou mundialmente conhecido, e possui apreciadores em todos os cantos do planeta. Com a virada do século, bem como a reconfiguração da indústria fonográfica e comunicação em virtude da internet, a noção sobre cenas musicais antes estudada por Straw, foi repensada mais uma vez. Agora Andy Bennett50 e Richard Peterson51, no livro “Cenas Musicais: local, translocal e virtual”(2004), propuseram uma classificação para as cenas, levando em consideração as modificações nas tecnologias de comunicação. De acordo com eles, existem três tipos de cenas que, aliás, dão título para o livro. A primeira diz respeito às práticas musicais restritas a determinados locais, muito atreladas a tradições culturais dos espaços que se faz presente. É o caso do axé para Salvador. As translocais, para os autores, são “gradações das cenas locais”, pois qualquer relação social, econômica e cultural deste tipo se torna mais complexa devido às diferentes localidades de cada cena. Entende-se como os fãs da Sepultura que, no auge da carreira da banda, se espalharam por Minas Gerais e demais estados do Brasil. “[...] são cenas que focam em um gênero musical particular e estão em contato regular com outras cenas locais similares em lugares distantes. Elas interagem entre si trocando gravações, bandas, fanzines etc”. As duas primeiras, de certa forma, sempre existiram no que se entende como cenas musicais. Já a terceira surgiu com o avanço das tecnologias digitais de comunicação, mais precisamente, com a internet. A proliferação de fã-clubes na rede, por exemplo, com usuários

49

Professor do Departamento de História da Arte e Estudos da Comunicação da Universidade de McGill, em Montreal, Canadá. https://willstraw.com/ 50 51

Professor de sociologia da Universidade de Surrey, na Inglaterra. Professor de sociologia da Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos.


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de diferentes lugares – como os das cenas translocais – criam uma comunicação única. O fato de existirem diversos grupos de fãs de um gênero, ou artista/banda em lugares diferentes, porém conectados a rede mundial de computadores, torna esse conjunto uma única cena exclusivamente online. Talvez essa seja a nossa realidade, principalmente no que diz respeito à música pop ou popular. São diversos sites de fãs, fóruns online que trocam informações o tempo todo, nas redes sociais, e até mesmo existindo contato dos fãs via rede com artistas do gênero/cena. No entanto, é importante destacar que, assim como “a internet de 1998 não é a mesma de 2016”, segundo o CEO da RIAA, Cary Sherman, a existência da suposta cena virtual teorizada por Bennett e Peterson em 2004 não pode ser tratada como uma verdade absoluta nos últimos anos – assim como a preferência de cada indivíduo. Afinal, a cena pop americana de São Paulo é composta pela mesma cena pop de Los Angeles, que é a mesma em Paris, etc, mas não necessariamente serão iguais. Seja ela online ou não. A partir disso, o professor Micael Herschmann52 explica que as cenas musicais se dividem em dois grupos: circuito cultural e cadeia produtiva. De acordo com seu estudo de 2007 para a presença da música no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, essa divisão tem papel mediador nas relações entre indivíduo e cena. A primeira é uma definição para os lugares que podem ser usados para explorar a experiência do consumo musical nos espaços urbanos, sejam eles fixos (casas de shows, teatros, lojas de música, etc) e dinâmicos (festivais e/ou eventos de música itinerantes). Já a cadeia produtiva é uma série de etapas consecutivas que são levadas em consideração na produção da música até o destino final. São incluídos aqui todos os atores sociais envolvidos em produção, distribuição e consumo do objeto. Entender como se constituem as cenas e de que modo elas podem ser separadas ou divididas – no caso dos circuitos culturais e cadeias produtivas –, é entender como a indústria fonográfica mantém relação com nosso cotidiano, e de que forma isso compromete seus níveis de venda e público. Herschmann afirma que “as relações espaciais fazem referência ao modo como as expressões musicais são consumidas nos territórios urbanos e como negociam com os mapas musicais locais, daí a ideia de que as cenas são, hoje, uma importante forma de materialização das sonoridades que circulam no mundo digital”. 52

Professor do programa de pós-graduação em Comunicação (ECO-PÓS) da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.


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1.2.2 Mainstream, underground,nicho e a relação com a internet

Dentro do que se refere à música pop, ou popular, muito se fala do mainstream, underground e “nicho”. Basicamente, são classificações usadas para definir qual canção/artista/banda faz mais sucesso que tal canção/artista/banda. Ou até mesmo para padronizar os efeitos gerados no público por estas canções/artistas/bandas. As duas primeiras classificações são as mais populares. Ainda assim, de acordo com uma pesquisa de Tatiana Lima (2015) sobre o tema, cada um dos itens pode apresentar mais de um significado, ou interpretação. Sendo estes possivelmente opostos. São etapas que os artistas costumam passar até chegar ao ápice de público. A pesquisadora explica em “Os Hits do Bit: a dança nas fronteiras do underground, música de nicho e mainstream” que a palavra mainstream, por exemplo, pode muito bem ser retratada como positiva e não elitista, bem como “cultura para todos”. Assim como também pode soar negativa, sendo “cultura de mercado, comercial ou de cultura formatada e uniformizada”. Frédéric Martel53 (2012) conta em sua obra a respeito do tema, que muitas vezes o mainstream é atrelado ao “inverso da arte”. Enquanto para Jean Burgess54 e Joshua Green55 (2009), o termo diz respeito ao que é “comum, familiar ou está disponível para as massas”. Ao longo da história da música, o mainstream sempre esteve ligado às grandes gravadoras e, consequentemente, aos grandes lançamentos das majors, que entre o fim da era eletrônica e início da era digital, começaram a enviar suas músicas com maior apelo comercial para tocar nas rádios de maior audiência – algo que acontece até os dias de hoje, em praticamente todos os países. O underground cumpre um papel oposto ao termo anterior. De acordo com Janotti (2006), a música deste tipo costuma ter circulação e produção particular. Ele continua, e afirma que este tipo de produto quase sempre é definido como uma obra autêntica, não

53

Jornalista e pesquisador francês, autor de “Mainstream: a guerra global das mídias e culturas” (2012).

54

Professora da Faculdade de Indústrias Criativas e diretora do Centro de Pesquisas de Mídias Digitais da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália. 55

Pesquisador australiano de televisão e mídia participativa.


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comercial, que pode até soar positivo. Porém, se analisarmos seu lado negativo, costuma também soar estranha. “A maioria das músicas do grupo underground está associada a pequenos fanzines, divulgação alternativa, gravadoras independentes etc”. Até 1980, as faixas undergrounds não costumavam ser trabalhadas pelas grandes gravadoras, por não representar retorno comercial efetivo. Após a data, com a era digital e o barateamento da produção, as majors começaram a investir mais no segmento. Mesmo que o termo seja uma oposição ao mainstream, isso não significa que faixas do grupo não possuam parcela de representatividade dos lucros da indústria fonográfica, muito menos que essas não fazem sucesso. Vamos supor que a música elogiada de uma novata no mercado americano provavelmente se difere à estrutura do mais recente single da veterana do mesmo mercado. As duas faixas podem muito bem ter repercussão parecidas, porém o fato da primeira ser do underground e a outra do mainstream coloca a novata num patamar de qualidade acima de qualquer grande estrela. Outro exemplo para o underground é a ascensão do hit Royals, da cantora neozelandesa Lorde. Em 12 de outubro de 201356, ela assumiu a liderança da Hot 100 da Billboard americana. Por quase 20 semanas depois, integraram o top 10 da lista artistas como Katy Perry, Miley Cyrus, Drake, Avicii, JAY Z, Justin Timberlake, Robin Thicke, T.I., Pharrell Williams, Lady Gaga, entre outros. Com exceção de Lorde, todos são considerados veteranos do mainstream. Período mais movimentado da música dos últimos anos. Apenas a novata venceu prêmios Grammy. Outros revezaram o topo da lista anteriormente e posteriormente também. Meses depois, a cantora se tornou um dos principais nomes da nova geração da música pop (mainstream). Já a música de nicho é a classificação para a canção que intercala os demais termos, uma espécie de gradação, que soma o fator de ser centralizado em locais específicos. Em uma interpretação do artigo científico de Lima (2015), este termo é underground por não se aplicar às massas, mas também é mainstream por possuir certo prestígio em excesso concentrado em uma região, cidade, grupo, etc. Sem necessariamente estar na internet. No entanto, quando atrelamos essas classificações para o nosso tempo, principalmente no que diz respeito à rede mundial de computadores de hoje, percebemos que a ideia dos três

56

Disponível em: <http://goo.gl/KqJnGe>Acesso em: 08 de jun. 2016.


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segmentos pode estar com os dias contados. Hoje existe também a música de nicho que não está mais vinculada a uma questão geográfica como exemplificado anteriormente, e simplesmente por razões de identificação dos usuários da tecnologia com o produto. Segundo o jornalista Daniel Pedrada, em seu estudo científico de 2013, “Música e Internet: Tensões no Campo da Crítica Musical”, a adaptação da indústria fonográfica para a internet acarretou em consequências como a busca pelo inédito. Entre um artista já conhecido e um que eu ainda posso conhecer, é cada vez mais comum que eu usufrua da era digital para “expandir horizontes”. Já no artigo “Música Popular Massiva e Comunicação: um universo particular”, Janotti explica que os nichos costumam ser mais estáveis [e até mais rentáveis, a longo prazo] para o artista do que o mainstream, que é marcado por ondas de popularidade temporárias. No livro “A Calda Longa: do mercado de massa para o mercado de nicho” (2006), de Chris Anderson57, ele explica que essa nova forma de encontrar música desconstrói a ideia do hit, criando assim muito mais nichos. “[...] essa massa de nichos sempre existiu, mas, com a queda do custo de acessá-la [...], ela, de repente, se transformou em força cultural e econômica a ser considerada. O novo mercado de nichos não está substituindo o tradicional mercado de hits, apenas; pela primeira vez, os dois estão dividindo o palco”. A música popular massiva – e isso inclui todos os segmentos até então citados, bem como de gêneros diversos também – é produzida para ser consumida pelo maior número de pessoas e, dentro desta lógica, conforme as modificações nos meios de produção, circulação e consumo de música, a indústria fonográfica precisa de novidades constantes para seguir lucrando.

57

Editor-chefe da revista Wired.


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2

O TRADICIONAL E O BLOG

2.1

A MÍDIA SOBRE MÚSICA NA INTERNET

Diante da evolução da indústria fonográfica, tal como a inserção na era digital por meio da internet, o jornalismo musical não ficou para trás neste sentido. Os primeiros indícios da digitalização da mídia foram as transições de grandes jornais nacionais e internacionais. Inicialmente, os veículos transcreviam as matérias para suas plataformas online sem se preocupar em “produzir” conteúdo para a internet. Apenas anos depois essa característica mudou, diferenciando os conteúdos online e físicos dos mesmos veículos, tal como a criação de modelos de negócios específicos para ambos os suportes. Com a música, essa realidade ganhou novos rumos, de um lado revistas digitais e portais se consolidaram na rede trazendo informação no formato tradicional “do fazer jornalístico”, respeitando preceitos éticos e práticos da profissão. Do outro, a cada dia, as pessoas ganharam mais o poder de produzir paralelamente à mídia tradicional. Enquanto a edição online e brasileira da revista Rolling Stone produz uma reportagem sobre a influência de David Bowie na cultura britânica, e até mesmo para o rock em escala global, uma pessoa qualquer provida de um bom vocabulário, análise crítica, internet e um computador (ou smartphone, tablet, etc), disponibiliza uma resenha sobre o último álbum do artista, mais um player para streaming do objeto em questão em seu blog pessoal. Isso é um exemplo aleatório, mas fiel à variedade de opções que hoje nós temos na internet para se inteirar do que acontece no universo musical. Engana-se quem imagina que esta situação é exclusivamente da mídia musical. Na internet existem milhões de alternativas para informação – tradicionais ou não – para qualquer formato de produto cultural. Daniel Piza (2003) aponta três males que constituem o jornalismo cultural feito hoje: o atrelamento com a agenda; o tamanho e a qualidade dos textos; e a marginalização da crítica. Os dois primeiros pontos podem até ser males atuais da profissão, isso porque ocorrem rotineiramente, porém o último fala muito mais de uma atividade que estava nascendo em 2003, do que uma verdade absoluta 13 anos depois.


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O primeiro diz respeito ao vínculo criado entre o veículo e os “eventos” que estão para acontecer por meio das pautas. Isso reflete na falta de reportagem, que dá lugar para um grande número de publicações sobre o show que vai acontecer, o single que sairá dentro de uma semana, etc. Em seguida, Piza fala sobre o encurtamento dos textos, que podem ser encontrados com facilidade por meio de uma busca nem tão apurada. Por último, o autor se refere ao livre acesso e consequentemente ao vasto número de críticas sendo feitas por jornalistas e não jornalistas. No entanto, Piza trata esta vertente do jornalismo cultural como algo banalizado, o que não condiz com nosso tempo atual. É possível encontrar ótimas críticas feitas por pessoas comuns, em endereços pessoais. Assim como é possível acontecer o contrário com veículos consolidados, e sucessivamente. E isso não significa que devemos impor limites para ambos a fim de definir o que é da mídia tradicional e o que não é. O que se pretende discutir neste trabalho, especificamente neste capítulo, é justamente esta diferença entre os veículos de caráter mais tradicionais e os blogs no âmbito da música mainstream, no tempo em que as informações surgem a todo o momento por meio de diversas plataformas que criam uma cadeia de relações virtuais entre pessoas, gêneros musicais, etc.

2.1.1 Transformações nos sites e veículos tradicionais

Como citado anteriormente, o jornalismo musical se modificou junto com as alterações nos cenários tanto da internet, quanto da música. No entanto, ainda coube ao jornalista selecionar aquilo que reportar, editar, hierarquizar, comentar e analisar determinado produto musical, segundo Daniel Piza. Com essa afirmação, o autor dá a entender que tais características garantem um peso maior para a atividade do profissional por estar atrelada ao papel social que este empenha: o de informar – diferente do que induz o cidadão comum a escrever em um blog. Porém é compreensível que estas modificações trouxeram semelhanças entre o conteúdo tradicional e não tradicional. Em uma interpretação mais recente, a jornalista Manuelly Meira de Almeida (2013) explica em seu artigo científico que novas ferramentas provenientes da era digital, como as redes sociais, impulsionaram o jornalismo para o que ela chama de “interativismo”. O leitor da web sente necessidade de maior concentração de informações nas redes sociais, que na maioria dos casos é onde ele “encontra” algo


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interessante para acessar. Isso sem comprometer o dever que o profissional tem com o cidadão. Almeida completa que o crescimento no número de redes sociais existentes na web, junto de suas especificidades, fizeram os jornais se integrarem nesses meios a fim de atrair o público participante para suas plataformas digitais. Com isso, agregou-se ao jornalismo da internet, conhecido como “webjornalismo”, hipertextualidade, personalização, interatividade e até instantaneidade, tudo isso devido à gama de pessoas que compartilham seus interesses em comunidades virtuais específicas, os nichos. Não seria diferente com a música. Mudou-se a forma como o jornalista de música (ou crítico) atua neste cenário, visto que em décadas passadas ele ouvia primeiro as músicas lançadas e funcionava como filtro na decisão de compra, por parte do público. Na era digital, isso se altera principalmente pelo fato de que qualquer tipo de conteúdo musical está acessível em diversas formas na rede, e não é algo restrito a uma plataforma física como antigamente. Além disso, a exclusividade em primeira mão também não é mais uma característica que a atividade se dá ao luxo com tanta frequência. Como conta Fardin Pedrada (2013), as músicas saíram de uma “esfera particularmente exclusiva para outra praticamente pública, alterando as dinâmicas de produção e pautas dos críticos”. Assim, o jornalista musical precisou se adaptar ao que o público usuário da internet, em sua maioria jovem, passou a exigir: interação com as redes e principalmente com as plataformas de audição online de música. No que diz respeito a uma notícia de última hora, é mais prático e vantajoso reduzir o texto que noticia um determinado lançamento e acoplar o áudio em questão para o leitor, independentemente de onde este áudio está disponível (seja no YouTube, Spotify, AppleMusic, etc). É também comum as publicações serem atualizadas conforme novas informações vão surgindo. Neste caso, as redes sociais são grandes colaboradoras da atualização das publicações feitas nos sites, pois esta interação entre veículo e usuário da rede expandiu os limites até mesmo para a apuração de informações. O público busca aproveitar essas ferramentas para desenvolver pensamentos próprios. Isso, sem dúvida, é um grande avanço das comunicações na era digital, pois este fato abriu as discussões para a contribuição do público com a notícia, a chamada “web 2.0”, quando o cidadão comum também produz.


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“A crítica, claro, continua sendo a espinha dorsal do jornalismo cultural”. Apesar das mudanças sofridas pela atividade, as palavras de Daniel Piza em seu livro Jornalismo Cultural continuam atuais – porém com alguns pontos a acrescentar. Ao mesmo tempo em que o leitor de internet procura por notícias rápidas na linha do tempo do Facebook, por exemplo, ele busca também resenhas que o motivem “consumir” música de alguma forma. No entanto, é importante destacar que a influência do jornalista ou crítico neste consumo por parte do público é relativa devido aos mesmos serviços de audição de música presentes na rede. Cada um possui seu sistema de recomendação automático mediante a popularidade de uma faixa no Spotify, quantidade de curtidas em um vídeo no YouTube, a posição que a música se encontra no chart do iTunes, etc. Porém, é preciso levar em consideração o fato de que estes sistemas não contextualizam, só recomendam. De acordo Fardin, “a crítica musical surge quando o público não dá conta de entender o artista por si só, havendo uma falha e assim fazendo-se necessária a mediação do crítico”. As músicas, e consequentemente os artistas, passaram a fazer sucesso, mas de outra forma. Não coube mais o jornalista descobrir um artista e noticiar o que provavelmente faria sucesso. Ficou ao cargo do profissional se atentar aos grupos online e redes, os nichos, a fim de descobrir o que já está fazendo sucesso. Essa nova lógica de ação e reação trouxe a “legitimação” da mídia mais uma vez, só que em uma versão alternativa. Hoje, um artista não faz de sua música um hit porque estampou a capa da Rolling Stone na internet; simplesmente o contrário. O fato de existirem diversos hits pela rede faz estes artistas aparecerem na capa do site em seguida, por exemplo. Essas discussões relacionadas ao atual papel do jornalismo na internet, bem como a colaboração de pessoas não jornalistas, nos levam a uma compreensão dos rumos que a profissão já está tomando para não generalizar o conteúdo amador como um “mal do século”. O que propõe é um melhor entendimento do papel de cada uma das partes, tendo em vista que a internet é a grande responsável pela ressignificação dos modelos de negócios de diversos segmentos, incluindo o da mídia musical. Janotti Junior conta no artigo científico “Dez Anos a Mil: Mídia e Música Popular Massiva em Tempos de Internet” (2011) que a ideia de uma “esfera pública midiática”, a “web 2.0”, é um fator de provocação para pensar o exercício do jornalismo. Ele explica que o conteúdo produzido por quem antes exercia um papel de passivo no que diz respeito à


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comunicação entre notícia e público pode dar maior vazão para as discussões quanto à necessidade do diploma por parte do profissional jornalista. De fato, uma coisa leva outra, porém é pelo simples fato das ferramentas de publicação ganharem mais espaço que os meios tradicionais de comunicação assumem uma postura mais rigorosa e transparente no dia a dia da profissão, e até mesmo buscam melhor a qualidade de suas produções. Ainda sobre a “web 2.0”, especificamente sobre os blogs, o jornalista espanhol Juan Varela conta no livro “Blogs: Revolucionando os meios de comunicação” (2007) que estas plataformas, ainda que muitas sejam conduzidas por jornalistas, não substituirão o jornalismo tradicional. É “tradicional” por conta dos valores e o jornalismo que pratica, independentemente do meio em que é difundido. Seja no rádio, na televisão, impresso ou até mesmo na internet. Ele conclui que os blogs apenas serão considerados jornalismo “a partir do momento em que criarem empresas e seus autores se dedicarem profissionalmente a informar”. Apesar das controvérsias sobre isso ser a definição de jornalismo ou não, os blogs de 2007 não são os mesmos de 2016, algo que também é discutido neste trabalho, tal como a sua influência.

2.1.2

O blog e a mídia amadora

Pensar no blog é ter em mente que ele é muito mais do que um endereço feito por fãs – no sentido pejorativo. Diante da gama de possibilidades de se criar um endereço eletrônico e publicar livremente em nosso tempo, o blog se tornou uma plataforma potente para a disseminação de conteúdo para comunicação digital – por parte de um profissional jornalista ou não. Ele faz parte da segunda geração da internet, a “web 2.0”, e caracteriza-se pela interatividade entre os usuários. São espécies de diários virtuais, gratuitos ou não, que contém textos, fotos, vídeos, espaço para comentários entre outras “ferramentas” que permitem amplas coberturas. Uma vantagem do blog é não requerer conhecimento técnico especializado, o que chama a atenção de usuários da rede a ponto de construírem grupos, nichos, de assuntos específicos, que abrangem uma conversação entre emissor e receptor. Isso faz com que as publicações se centralizem no que é muito mais relevante para certo público.


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Enquanto na mídia especializada e grandes grupos de comunicação encontram-se os jornalistas, nem sempre haverá um profissional do tipo à frente de um blog. No livro “Blogs: Revolucionando os meios de comunicação” (2007), o professor espanhol Luis Orihuela58 explica que a maioria dos blogueiros são pessoas que escrevem sobre o que sabem, o que gostam, o que leem ou o que acontece na mídia que, por ser pública e potencialmente de massa, funciona sem editores. Esta afirmação dá de certa forma uma autonomia às pessoas que escrevem na plataforma, porém isso não os faz formadores de opinião natos como os jornalistas, pois os blogs, mesmo que produzindo conteúdo, são fontes complementares e alternativas à mídia tradicional. Na rede, há um espaço infinito de possibilidades no que diz respeito aos blogs, e isso é uma das características que difere esta plataforma do modelo tradicional da mídia jornalística, que segue modelos éticos e técnicos – além de limitados, no caso da mídia impressa –, por questões de mercado e de tempo de produção textual. Fardin (2013) explica que esta diferença deixa estes veículos tradicionais em “estado de alerta” devido ao crescimento dos blogs, juntamente o surgimento dos críticos amadores nesse espaço. A liberdade em publicar por parte do cidadão comum usuário da internet proporcionada pelos blogs trouxe à tona a discussão quanto às diferenças entre os veículos tradicionais e as próprias plataformas. No entanto, como afirma Varella (2007), “publicar não é o mesmo que informar”. Apesar de muitos blogs serem difundido por jornalistas e por isso praticarem a atividade, a maioria dos blogs apenas discute o que já está em pauta por parte da mídia tradicional. Orihuela explica que a importância dos blogs para a mídia na internet tem menos a ver com números de visitas e quantidade de comentários por publicação, e muito mais com a média de links de entrada – muitas vezes as redes sociais – e de saída – no caso, as fontes oficiais da publicação –, visto que o trânsito de acessos é o que confere alta visibilidade para estes nos buscadores como o Google. Além disso, é este mesmo fator que transforma os blogs em atrações paralelas à mídia tradicional, simplesmente porque eles criam, animam e conduzem as conversações na internet. 58

Doutor em Ciências da Informação e professor da faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra, Espanha.


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Isso fez os blogs se transformarem em um fenômeno dentro da internet e no mundo da comunicação em geral. Eles fazem da informação uma grande conversação entre o autor e os leitores devido às especificidades que cada um adota em seu endereço eletrônico. Os usuários que acessam os blogs, por sua vez, colaboram com seus comentários. Esta plataforma é o primeiro meio nascido na e a partir da internet e, por isso, a interatividade e a intertextualidade estão mais presentes do que em outros estilos e formatos utilizados na rede. Percebe-se que os blogs, de caráter mais jornalístico ou não, ainda têm uma vida longa na rede, principalmente porque eles conseguiram destaque nas redes sociais e tendem a crescer com a ajuda de sites como Facebook e Twitter, que só contribuem para que seu conteúdo chegue a um número de acessos cada vez mais expressivo. No entanto, uma dúvida que surge quando falamos da ascensão do blog junto ao suposto “amadorismo” por parte do cidadão comum é para o mesmo “escrever de graça”. Quando falamos de música, a resposta mais cabível para o questionamento é o gosto que o escritor/autor tem pela música, sendo que isso confere credibilidade para ele dentro do grupo ou nicho que compartilha suas ideias, opiniões, publicações etc. Assim como a mídia, ele agrega credibilidade, porém de forma mais centrada que veículos tradicionais – ainda que a segmentação seja até mais vantajosa para os veículos. De acordo com Fardin (2013), a credibilidade que o blogueiro ganha é outro ponto que ajuda a entender o motivo para o mesmo “escrever de graça” – mesmo que muitos blogs, atualmente, monetizem retorno aos seus endereços por meio de cliques em propagandas. Dependendo do alcance que uma publicação toma na internet, principalmente nas redes sociais, os acessos e discussões são convertidos em “capital social” para o autor. Não é a toa que muitos blogs já usufruem do ineditismo e furo jornalístico – com ou sem embasamento profissional – para o grupo com quem dialoga com mais eficácia. Como citado anteriormente, os blogs são fontes complementares à informação e servem de extensão da notícia, atingindo públicos que o veículo tradicional muitas vezes não conversa. Por isso, o blog é muito mais do que um trabalho feito por fãs. É um trabalho com uma estrutura bem pensada, para atingir públicos específicos por meio de conteúdos específicos – profissionais ou não. O suposto amadorismo do blog de hoje é um sistema muito mais formatado do que a ideia de experimentação iniciada no início dos anos 2000. Esta realidade


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fez com que o jornalista tivesse um trabalho de apuração muito mais eficaz, atÊ mesmo por fazer parte da curadoria feita pelos blogs.


41

3

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS OBJETOS DE ESTUDO

3.1

TODOS NO MESMO BARCO

Não restam dúvidas quanto às dificuldades enfrentadas por jornalistas de internet e blogueiros em nosso tempo. Paralelamente, a crítica e a indústria musical seguem rumos semelhantes que, por sua vez, não sabemos até que ponto vão se sustentar no “modo operante” atual. Faz parte do objetivo desta pesquisa mostrar, em formato comparativo, o que pensam os responsáveis pelos endereços online consultados. Ao todo, foram contatados quatro sites para o grupo dos sites jornalísticos. O critério básico para a escolha deste grupo foi a produção de conteúdo informativo no estilo hard news por parte destes sites. Billboard Brasil59, Nação da Música60, Rolling Stone Brasil61 e Papel Pop62 foram os endereços apontados para esta parte da análise. No entanto, devido compromissos na agenda por parte dos editores-chefes destes veículos, apenas os dois primeiros aceitaram e puderam contribuir. Foi levado em consideração também o fator credibilidade de cada um dos endereços citados, tal como a cobertura em grandes shows e até festivais. No que diz respeito aos blogs, a lista de possíveis endereços a ser analisados foi maior. Tenho Mais Discos Que Amigos! – TMDQA!63, Qual a Grande Ideia?! – QAGI?!64, Portal It Pop!65, PickUp The Headphones – PUTH66 e MonkeyBuzz67, porém apenas os também dois primeiros puderam participar da pesquisa. O principal fator que definiu a escolha destes sites foi o poder de movimentar discussões nas redes sociais em seus devidos grupos. Críticas e

59

http://billboard.com.br/

60

http://br.nacaodamusica.com/

61

http://rollingstone.uol.com.br/

62

http://www.papelpop.com/

63

http://tenhomaisdiscosqueamigos.com

64

http://www.qualagrandeideia.com/

65

http://www.portalitpop.com/

66

http://www.puth.tv/

67

http://monkeybuzz.com.br/


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outros fatores atribuídos ao jornalismo tradicional, como entrevistas, também foram levadas em consideração, porém não foram totalmente determinantes para a escolha dos endereços. Os entrevistados foram o jornalista Marcos Lauro antigo colaborador de revistas como Rolling Stone e VIP, e atual editor-chefe do site Billboard Brasil; a estudante de jornalismo Andressa Silva de Oliveira, uma das editoras do site Nação da Música, de responsabilidade do publicitário Rafael Strabelli; o criador do Tenho Mais Discos Que Amigos!,Antônio Emilio WaszczukAiex, ou Tony Aiex, também colaborador da revista digital NOIZE; e o criador do blog Qual a Grande Ideia?, Roberto Marcionilio da Silva Júnior. As entrevistas foram realizadas por meio de email entre os meses de junho e julho de 2016.

3.1.1 Billboard Brasil

A Billboard Brasil é uma vertente da primeira e maior publicação sobre música do mundo, a Billboard, criada como artigo publicitário no ano de 1894, em Ohio, nos Estados Unidos. A partir de 1900, tornou-se uma revista semanal e focou-se em notícias como festivais e apresentações circenses. Foi quando ganhou o título de “bíblia da música”; montou redações em Nova Iorque, Chicago, São Francisco, Londres e Paris. Entre as décadas de 20 e 30 focou-se na indústria musical também, com reportagens desde o lançamento do fonógrafo até a música afro-americana e os preconceitos vividos pelos artistas do gênero. Em 1940, criou o Chart Line – que hoje é chamado de Hot 100 (ou Top 100) –, um ranking com a arrecadação de artistas em razão da venda de singles em determinados mercados. Os rankings ganharam mais notoriedade após a Segunda Guerra Mundial, com o surgimento de mais gêneros musicais no globo. Até 1980, a revista tinha 14 charts. Já em 1994, tinha 27. Em 1995 lançou o endereço eletrônico com os charts68 disponíveis para consulta. No Brasil, a empresa já “nasceu” impressa, e o site foi criado como alternativa para o conteúdo disponibilizado mensalmente na revista. Surgiu em 2009, e foi a terceira extensão da marca lançada impressa pelo mundo, depois de Rússia e Turquia. Atualmente, a empresa é apenas online e não possui mais a edição impressa. 68

Disponível em: <http://goo.gl/222ZHE>Acesso em: 23 de jul. 2016.


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O site da revista no Brasil tem cerca de 1,3 milhão de acessos por mês (dados do editor-chefe do site, Marcos Lauro), sendo que mais de 50% vêm do Facebook, outros 30% vem do portal que hospedou o endereço até junho, o Terra. O restante se divide entre Twitter e buscas no Google. A página do Faceboook do site possui 570.619 mil curtidas, e é ativa com praticamente 15.190 mil pessoas, o que garante uma ampla conversação entre os usuários na internet. No Twitter, a página possui 124 mil seguidores. No Instagram, possui 69,4 mil seguidores, enquanto no YouTube tem 2.941 mil inscritos com 613.170 visualizações no total (dados das respectivas redes sociais). No mês de julho, o site firmou a aliança com o Portal IG para a veiculação das publicações do endereço. Questionado via email, Marcos Lauro explicou que o público visitante da Billboard Brasil é em sua maioria jovem, com idade de 18 a 24 anos, entre homens e mulheres. Há também uma grande parcela de visitas de pessoas com idade entre 13 e 17 anos. O site possui peculiaridades muito diferentes das demais versões da empresa mundo a fora. No menu da Billboard Brasil, encontramos links para as páginas: 

Shows: Agendas de apresentações diversas, incluindo festivais no país;

Top 100: Única parada da versão brasileira do veículo – a americana possui 117 – semanal de singles nacionais e internacionais hierarquizados e monitorados por meio de Airplay, que são as execuções em 265 estações de rádio por todo o País. O sistema é fruto do relatório fornecido pela CBAB – Crowley Broadcast Analysis69;

Fotos: Diversas publicações no estilo foto-legenda alusivas aos rankings do site ou com outras notícias repercutidas no tempo da publicação;

Vídeos: A página traz os últimos videoclipes lançados no YouTube ou em outras plataformas como a Vevo.

Especiais: Esta página veio com a recente atualização de portal hospedeiro do site, o IG, juntamente de um novo projeto gráfico. Há também espaço para resenhas de discos, shows e outros trabalhos ligados à música,

como documentários – é o caso da resenha para o longa Cássia Eller70, assinada por Lucas 69

http://www.crowley.com.br/

70

Disponível em: <http://goo.gl/DA2muP>Acesso em: 22 de maio. 2016.


44

Borges Teixeira. Porém esse tipo de publicação não tem um espaço explícito que leve o leitor para outras matérias opinativas. Para achar uma resenha, é necessário buscá-la entre todas as matérias. Ainda assim, as últimas publicações desse tipo foram disponibilizadas em 2015. Além disso, o site ainda conta com uma seção de notícias atualizada todos os dias – com uma média de dez publicações, fora o compartilhamento em redes sociais –, páginas recomendadas pelo editor do site, e outros links que tratam diretamente da assinatura da versão digital da revista Billboard. As notícias seguem estilo hard news, assinadas pela redação e de foco distribuído igualmente entre conteúdo nacional e internacional; é comum, por exemplo, ver chamadas do novo álbum de Bob Dylan ao lado do novo clipe de Maria Rita. Há também as chamadas “Entrevistão”, com personagens ligados à música, que são assinadas pelo editor do site. Em matérias especiais, como críticas, o site dá um tratamento linguístico mais sofisticado para os textos, porém isso não acontece com tanta frequência em comparação com as notícias.

3.1.2

Nação da Música

O Nação da Música é um site inteiramente brasileiro que iniciou seus trabalhos em 2006 por iniciativa do hoje publicitário, Rafael Strabelli. A história do site possui momentos um tanto conturbados. No início, o site funcionava como um blog com serviço de rádio gratuita, o que trouxe muita visibilidade para o endereço. No entanto, devido ao desconhecimento do próprio responsável, que tinha 13 anos na época, o Nação da Música foi alertado pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição – ECAD71 de Direitos Autorais para Música para não seguir adiante com o serviço. Assim, Strabelli optou por profissionalizar o endereço. De acordo com uma das editoras responsáveis, a estudante de jornalismo Andressa Silva de Oliveira, o site se consolidou dentro de seu nicho – a música rock e pop, nacional e internacional – e firmou a parceria com o Portal Vírgula, do UOL, em 2011. Em seguida, o

71

http://www.ecad.org.br/pt/o-ecad/quem-somos/Paginas/default.aspx


45

site passou para o Terra, onde ficou dois anos hospedado, porém a parceria foi fechada e, desde então, o endereço se firmou como um veículo online independente. Atualmente, a equipe do site tem pouco mais de 25 pessoas, entre jornalistas e publicitários, formados ou ainda estudando. Quando questionada a respeito da média total de acessos no site, Andressa explica que este dado não é acessível, porém destaca o levantamento de acessos do último mês contatado (de 13 de junho de 2016 até 13 de julho). Neste período, o Nação da Música contabiliza 210 mil visualizações de página e 149 mil usuários únicos no site. O trânsito de visitas no endereço vem principalmente dos mecanismos de buscas, contas em redes sociais do site e dos compartilhamentos de links por parte do público visitante. O público do site tem idade entre 18 e 25 anos, de acordo com a descrição da página do site no Facebook, que possui 49.131 mil curtidas, com uma conversação de até 461 usuários. No Twitter, tem 12,4 mil seguidores, assim como no Google+ tem 87.207 mil seguidores. No Instagram, a página do site tem 541 seguidores, com uma média de 100 curtidas por publicação (375 no total). O canal no YouTube possui 301 inscritos, com 131.788 mil visualizações em todo conteúdo, que varia entre entrevistas, coberturas em shows e reportagens especiais (dados de julho das respectivas redes sociais). Hoje, o Nação da Música é o site embaixador do festival Lollapalooza Brasil, posto ocupado desde a terceira edição, em 2014 – mesmo que tenha participado ativamente desde a primeira edição, em 2012. Além disso, o site já foi embaixador do antigo festival Planeta Terra, o qual foi convidado para cobrir. O endereço também faz coberturas de outros shows nacionais e internacionais no Brasil com a equipe que vive no País, e no exterior com colaboradores que moram em outros pontos do globo. O conteúdo do site é minuciosamente organizado, dividido em quatro seções principais, fora a “home” e a página para contato: 

Shows: Esta página concentra as notícias sobre todo e qualquer show dentro do País, seja ele nacional ou internacional. Não leva consigo resenhas de shows, nem mesmo coberturas;

Vídeos: Lançamentos de videoclipes de artistas nacionais e internacionais. Não compõe os vídeos publicados pelo canal do site no YouTube;

Entrevistas: Todas entrevistas pelo site;


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Leia mais: Esta página é a que concentra grande parte do conteúdo disponibilizado no site, pois é a partir dela que encontramos matérias a respeito de “Trilhas Sonoras”; “Resenhas de Álbuns”; apresentação de “Novas Bandas” nacionais e internacionais; elaboração de “Playlists” no YouTube; “MixTapes”, que são playlists elaboradas no Spotify; resenhas de shows, bem como festivais também; listas de motivos para acompanhar eventos e lançamentos foco da matéria, chamada de “X Motivos”; reportagens especiais para álbuns a serem lançados, nomeadas de “O que esperar”; e por último a cobertura das temporadas do reality americano The Voice USA.

3.1.3 Tenho Mais Discos Que Amigos!

O TMDQA!é um blog de música que, em alguns casos, trata de cobrir outros assuntos como seriados e filmes. Não há uma segmentação concreta a respeito do gênero musical que o blog é pautado. No entanto, quando o gênero rock não é predominante entre as últimas publicações, o conteúdo do endereço passa a ser bastante diversificado entre gêneros e até artistas mainstream e underground. O blog, que foi criado em 2009, é hospedado pelo portal R7, que provavelmente possui parcela de contribuição nas visitas do endereço, porém, em entrevista com o editor responsável, Antônio Emilio WaszczukAiex, conhecido como Tony Aiex, esta hipótese não foi confirmada. O endereço possui 500 mil acessos nas matérias e mais de 1 milhão de visualizações de página, a “home”, por mês. De acordo com Tony, o trânsito de acessos vem principalmente dos buscadores e das redes sociais como Facebook e Twitter. No primeiro, possui 172.738 mil curtidas na página, além de manter uma conversação de 42.276 mil usuários da rede – mais até que a Billboard Brasil e o Nação da Música. No Twitter, têm 52 mil seguidores; Instagram, 13,8 mil, com 1.523 publicações, com uma média de curtidas variante entre 150 e 200. No Google+ os seguidores são 544.188 mil. O blog também tem um canal no YouTube, mas que não recebe atualizações desde outubro de 2014. Ainda assim, o canal possui 4.062 mil inscritos e 334.704 mil visualizações. O


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conteúdo deste canal varia entre cobertura de shows e até mini shows exclusivos para o blog (dados de julho das respectivas redes sociais). Atualizado todos os dias, o site se mantém ativo com as constantes notas publicadas pela equipe de nove colaboradores, sem segregação, incluindo o responsável, Aiex. Suas seções são divididas em: 

Notícias: Todas as publicações de cunho informativo para assuntos como música, TV e cinema;

Blogs: Apesar de soar controverso, o blog Tenho Mais Discos Que Amigos!tem mais três mini blogs acoplados a sua plataforma, que mais funcionam como colunas assinadas por pessoas ou grupos específicos. O “Faixa Título”, assinado por Guilherme Guedes, traz análises de artistas e cenários musicais diversos. O “Diário de Palco”, por Gustavo Pelogia, fala a respeito de bandas de rock. Já o “FastFoward”, criado no mês de julho, traz reportagens sobre a indústria musical, além de dicas para novos artistas que querem entrar no ramo. Este último é fruto de uma parceria com a agência de marketing para música, Milk72

TV e Cinema: trata-se de uma segregação das notícias em apenas um link. Nesta página, encontramos todas as matérias de cunho informativo sobre séries e filmes. Atualizada poucas vezes, isso reforça o fato de que o objetivo do blog é falar sobre música;

Editorial: Esta página traz de forma organizada todas as matérias “frias”, ou melhor, reportagens mais aprofundadas, assim como críticas não exatamente sobre artistas e seus projetos, mas sobre cenários e fatos;

Listas: Há também a seção de listagens. São as “5 bandas brasileiras”, “5 bandas internacionais” – atualizadas mensalmente –, “10 discos que mudaram vidas”, feita em colaboração com jornalistas e artistas, como é o caso do cantor pop Jaloo73, e “uma música de cada disco”, que destaca uma faixa de cada projeto lançado pelo determinado artista escolhido para a matéria;

Pop: Assim como a página “TV e Cinema”, o link “Pop” é uma segregação de todas as notícias e reportagens do gênero agrupadas em uma única página;

Resenhas:O TMDQA! tem uma seção específica para as críticas elaboradas para diversos formatos, principalmente álbuns e shows nacionais e internacionais;

72

http://www.agenciamilk.com/

73

Disponível em: <http://goo.gl/bIu9Dc>Acesso em: 22 de maio. 2016.


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Entrevistas: O último item presente no menu do blog é a seção própria para as entrevistas realizadas com artistas, independente da nacionalidade dele. Dentre as últimas realizadas, estão Clarice Falcão74 e a banda The 197575. Recentemente, o TMDQA! firmou uma parceria com o canal no YouTube do site

Topsify76 na produção de um vlog com Aiex, mesmo que o canal do blog não seja atualizado. O endereço também está presente na Network para blogs da assessoria de imprensa e comunicação Midiorama, chamada “Zoom”77. Portanto, o Tenho Mais Discos Que Amigos! é um blog com bastante conteúdo, variando entre noticia e opinião, e mesmo que seguindo os passos de grandes portais tradicionais, o endereço não se enquadra nesse grupo por ser composto de muito material editorial, o que o aproxima do leitor.

3.1.4 Qual a Grande Ideia?

O QAGI?é um blog criado em 2009 pelo estudante de publicidade Roberto Marcionilio da Silva Junior. Inicialmente, se chamava “Mercúrio” e era colaborativo com outras pessoas, porém no mesmo ano a parceria foi finalizada e desde então é um dos blogs mais conhecidos no cenário pop mainstream, por sua abordagem e layout diferenciado. Composto por seis pessoas – nenhum jornalista ou estudante da área –, o editor do QAGI? explica em entrevista que atualmente o blog está hospedado no portal da MTV Brasil, e que tem 300 mil acessos mensais. A página dedicada a possíveis anunciantes no blog consta dados sobre acessos até mais completos, como as visitas diárias – média de 11,5 mil – e a média de visitas únicas por mês – 250.200 mil –, além do histórico de acessos desde a sua criação, que beira os 4,2 milhões (números de fevereiro deste ano). Roberto Junior destaca também que o trânsito de acessos é variado entre o que é compartilhado pelo portal da MTV Brasil, o resultados em buscadores e redes sociais, porém 74

Disponível em: <http://goo.gl/uXP2K3>Acesso em: 24 de maio. 2016.

75

Disponível em: <http://goo.gl/aB96OZ> Acesso em: 24 de maio. 2016.

76

http://topsify.com.br/

77

Disponível em: <http://goo.gl/QaXNBc> Acesso em: 04 de jun. 2016.


49

não entra em detalhes sobre os dados. No Facebook, sua página possui 22.080 mil curtidas, além de uma conversação de até 288 usuários. No Twitter, são 2.171 mil seguidores, enquanto no Instagram são 751 seguidores (dados de julho das respectivas redes sociais). O formato do endereço é mais tradicional, em comparação com outros endereços de blogs, como o próprio Tenho Mais Discos Que Amigos!. O menu do QAGI? não apresenta nenhuma página para algum assunto específico, fora as páginas para “home”, descrição do endereço, página para anunciantes e contato. No entanto, possui algumas categorias que diferenciam os conteúdos, como tecnologia, filmes, séries e até moda. Ainda assim, o conteúdo do site é muito mais voltado para música.

3.1

A VISÃO DE QUEM ESTÁ ATUANDO

No que diz respeito à busca por pautas, checagem e apuração dos fatos relacionados à música internacional no Brasil, Marcos Lauro explica que na Billboard Brasil esse trabalho é construído principalmente por meio de uma curadoria nas demais versões da revista online pelo mundo, principalmente a americana, o que garante para si certo conforto na hora de noticiar. No entanto, ele explica que nem sempre essa atividade é fácil, visto que devido às diferentes linguagens que a notícia pode ser encontrada, é necessária a tradução do material e logo a pesquisa em outras fontes para confirmar a veracidade do assunto.

No caso da Billboard Brasil, a gente usa como fonte principal a Billboard norte-americana – já aconteceu de usarmos outras também, como a Billboard Argentina, mas é raro. Mas claro que, citando as devidas fontes, podemos repercutir notícias publicadas em outros sites, sem problemas. Nesses casos, de tradução/adaptação, a apuração fica limitada a ler fontes diferentes e confiáveis sobre a mesma pauta. Fugimos de tabloides, por exemplo.

A “receita” do editor-chefe da Billboard Brasil não é exclusiva. Todos os sites e blogs consultados afirmaram buscar suas pautas em outros veículos, principalmente internacionais, para noticiar aquilo que é relevante para o respectivo público. Ainda assim, cada um dos quatro endereços explicou como funciona essa curadoria feita em diversos outros sites.


50

No caso do Nação da Música, Andressa acrescenta que as páginas dos artistas nas redes sociais, como Facebook e Twitter também funcionam, em um primeiro momento, como fontes oficiais para a criação de pautas, e até mesmo checagem da informação.

[...] Todos os dias, fazemos algumas pesquisas nesses sites para ver o que foi divulgado de relevante, que se encaixe ao público-alvo do site e então passamos adiante. Ao passar a pauta para os redatores, eles têm a função de pesquisar em outros sites, para checar o que já foi visto no primeiro momento. Às vezes, apesar de um tweet, não é possível elaborar uma matéria por falta de informação.

Quando a editora do Nação da Música fala sobre as redes sociais, fica mais evidente o problema em produzir conteúdo editorial sobre o universo da música internacional: a falta de contato com quem participa deste universo. Nós, jornalistas, aprendemos a noticiar com base em informações vindas direto da fonte principal da notícia, reportagem, etc. Só depois buscamos outras informações complementares ou até comparativas. No entanto, quando falamos na música “de fora”, esse trabalho fica um tanto comprometido. Não é impossível entrevistar a cantora Madonna, porém esse também não é um fato que todo jornalista possa se gabar. E este também é um problema compartilhado com os blogs, mesmo com um crescente trabalho editorial e profissional de sua parte. Tony Aiex explica que, quando não é possível fazer uma pesquisa forte a ponto de sustentar a pauta, é necessário buscar informações em releases também.

Você tem que aprender a lidar com fontes que têm credibilidade e também confiar muito no seu feeling, porque elas podem errar também. As pautas surgem de várias formas, tanto a partir delas [fontes confiáveis] quanto a partir de releases oficiais, que também recebemos. O único ponto "comprometido" é que é praticamente impossível checar com equipes internacionais sobre a veracidade de fatos, já que isso impossibilitaria dar a notícia na velocidade da internet.

O jornalismo sempre correu contra o tempo, e não seria diferente com a internet. Aiex cita que o problema em confirmar informações diretamente com fontes internacionais é o tempo que seria necessário para essa checagem. A curadoria em sites confiáveis para o jornalista e/ou veículo é uma alternativa mais recomendável e cabível no que diz respeito ao


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minucioso e competitivo tempo que possui o exercício da profissão na internet. Logo surge outro problema, que é a dependência dessa checagem em outros sites, criando, assim, um círculo vicioso – e muito rápido – que nem sempre informa, como explica Roberto Marcionilio a seguir.

Atualmente, com muitos blogs aparecendo a toda hora, e com a facilidade de se criar e personalizar (além de integrá-lo em redes sociais, como Facebook e Twitter), muitos veículos apenas repassam (copiam/adaptam) notícias de sites maiores ou estrangeiros. É uma cascata. [...] basicamente, tirando posts especiais, criados pelos próprios autores [do QAGI?], as outras pautas são adaptadas ou criadas a partir das informações vindas de outros sites.

Em cima desse consentimento por parte dos entrevistados de que o jornalista e/ou blogueiro (profissional ou não) utiliza as informações vindas de outros sites para informar o leitor, podemos imaginar que a credibilidade do autor, característica preciosa atrelada ao trabalho dos bons jornalistas, pode estar um tanto afetada. Afinal, como o próprio Tony Aiex afirmou, estes sites que muitas vezes servem de fontes para a criação de pautas também estão propícios a “errar”. Se seguirmos um pensamento mais generalizado, podemos perceber que é comum encontrar uma gama de notícias semelhantes, porém em endereços diferentes, e que são fruto da mesma fonte. A velocidade com que as publicações vêm a tona e a competitividade entre endereços na internet são fatores contribuintes para que a curadoria em outros sites como fontes primárias de informação se torne cada vez mais comum. Em razão disso, perguntei para os quatro entrevistados como eles observam a responsabilidade do profissional jornalista – ou não, que é o caso de alguns blogueiros – dentro do universo musical, além de como acontece a mediação dele entre música, público, gravadoras e a própria mídia. O editor-chefe da Billboard Brasil explica que hoje a sua responsabilidade não é a mesma de antes. Para ele, hoje esta responsabilidade é a de, como citado no capítulo anterior, funcionar como um filtro do que é lançado. Marcos Lauro diz que a segmentação do conteúdo produzido também é caminho para um melhor aproveitamento do exercício da profissão, e ele tem razão. O fato de o jornalista selecionar o que já está disponível na internet e segmentá-lo de acordo com o grupo com quem ele conversa melhora o vínculo criado entre escritor jornalista e leitor, seja em um veículo tradicional ou não.


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“Já teve responsabilidade, hoje não. As redes sociais tomaram o lugar do “crítico musical”, aquele ser “sisudo” que ficava dizendo o que era bom ou ruim. Hoje, a crítica musical funciona mais como um filtro: é muito conteúdo sendo lançado todos os dias e a crítica, quando aborda um ou outro artista, está mandando um sinal para o leitor de que é interessante ouvi-lo. O caminho da crítica é a segmentação: quem fala sobre muitos gêneros e artistas diferentes fica sem foco, quem fala sobre gêneros específicos vira referência naquele terreno.”

Lauro atribui às redes sociais o fato de que elas têm papel importante na escolha da mídia tradicional ou não por parte do leitor para se informar. Essa é uma hipótese interessante, uma vez que grande parte dos leitores da web está nas redes sociais, além de que é mais cômodo se informar pela plataforma do que abrir uma nova página para a mesma finalidade. Ainda no grupo dos veículos tradicionais, Andressa de Oliveira se mostra mais otimista a respeito do papel do jornalista em nosso tempo. Ela destaca que o profissional ainda tem o poder da notícia, e o público, por sua vez, espera a sua manifestação a respeito do que está acontecendo em determinados cenários. A editora do Nação da Música conta também que a figura do jornalista é importante para a crítica musical, visto que ele garante visibilidade para o artista e/ou música e álbum. Isso não é uma mentira, porém é preciso constatar que este poder de influência já não é exclusivo do jornalista quando falamos da crítica. Nem todo mundo sabe informar e, graças ao jornalismo, esta função é uma peculiaridade de parte dos comunicadores que continuará intacta por provavelmente muito tempo. No entanto, a livre expressão do cidadão comum na internet já é uma realidade que todos devem saber lidar, inclusive na forma de crítica de álbum, single, clipe, show, etc.

“Sim, [o jornalista tem responsabilidade no desenvolvimento da música, pois]é uma forma de espalhar as informações e fazer com que o público saiba tudo o que está acontecendo com o músico em seu âmbito profissional. Você consegue manter o músico ou banda em destaque, para que ele seja visto e consequentemente o público que gosta daquele tipo de som, consuma mais suas músicas em serviços de streaming, indo em shows e tudo mais. Além disso, o público espera uma opinião mais contextualizada de jornalistas sobre os lançamentos de CD's e isso também influencia diretamente nas vendas dos discos [...].”


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Já no grupo dos blogs, o fundador do Tenho Mais Discos Que Amigos!, Tony Aiex, não se posiciona a respeito da responsabilidade do profissional jornalista no desenvolvimento da música:

“[Ele] Tem parcela, mas eu não sei dizer o tamanho dela. O jornalismo musical é fundamental para que o conteúdo de bandas e gravadoras de todos os portes seja levado ao público, mas nos tempos em que vivemos, é difícil precisar a porcentagem desse público que acaba consumindo efetivamente. No digital é mais provável, e isso tem afetado o crescimento econômico de gravadoras principalmente. Já no físico é mais difícil saber.”

Percebe-se que mesmo não manifestando ser a favor de um ou outro, Aiex não descarta a possibilidade de o profissional jornalista ainda ter uma função e responsabilidade no desenvolvimento da indústria musical. Quando ele cita que, ainda assim, é difícil saber precisamente o valor deste profissional na perspectiva de quem acessa seu conteúdo, o blogueiro dá a entender que a indústria – tanto musical, quanto editorial – ainda está em processo de modificações; por isso, uma nova discussão pode ser aberta a partir disso. Com a seguinte resposta do também blogueiro Roberto Marcionilio, entende-se que esta responsabilidade ainda é relativa e que, com os desdobramentos da atividade jornalística e blogueira, mesmo a primeira mantendo um protagonismo histórico, cada um assumirá seu respectivo papel.

“Temos blogs gigantescos que realmente influenciam a cabeça de uma galera. Vivemos recebendo email de produtoras indicando, pedindo post... Blogs menores muitas vezes especializados em música alternativa estão sempre impulsionando tendências. A indústria precisa do profissional jornalista.”

A partir disso, os entrevistados são questionados sobre como eles observam o público que acessa seu conteúdo de música pop e/ou mainstream. Perguntei para todos quais as características que eles podem atribuir a esses leitores, bem como uma opinião a respeito da mídia sobre esse gênero musical. No grupo dos veículos tradicionais, apenas o editor da Billboard Brasil respondeu, e apontou como fator tanto positivo, quanto negativo a adequação da produção desses sites para o público: diminuição dos textos e mais recursos multimídia.


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“O pop/mainstream é, como sempre, muito jovem, e a mídia acaba acompanhando esse tipo de público: ele lê pouco, não se prende a uma página por muito tempo e é muito visual. Então são matérias curtas e, de preferência, com conteúdo multimídia. Essa adequação é o ponto positivo, mas pode ser o ponto negativo se a análise for mais “romântica” em relação ao jornalismo – uma nota de dois parágrafos curtos já é considerada conteúdo relevante.”

O criador do Qual a Grande Ideia? compartilha de certa forma do mesmo pensamento que Marcos Lauro. No entanto, Marcionílio tem um posicionamento mais crítico sobre o cenário editorial para música pop/mainstream. Ele comenta que o leitor está “saturado” da variedade – imensa – de blogs sobre o universo do gênero, e acrescenta a falta de novidade trazida por esses endereços online como um problema para até mesmo o desenvolvimento e discussão desses blogs. É verdade que muitos blogs se tornam sucesso por causa da cobertura diferenciada e fiel ao que o respectivo público espera. Mas é verdade também que muitos desses blogs – e veículos – limitam sua capacidade de produção informativa em uma série de textos pequenos e parecidos para gerar movimentação em suas páginas.

“O público está saturado da "blogosfera" [comunidade de blogs] [...]. Muito blogs, muitas notícias repetidas. Ninguém quer mais o básico, se não coisas novas. O público anseia por opinião, por notícias destrinchadas e que tragam mais em informação que um player com música. O público está sempre esperando que o jornalismo musical vá além, diga/mostre o que a maioria não tá escrevendo.”

Dos três editores que responderam à pergunta, Tony Aiex se mostrou mais tranquilo em relação aos caminhos trilhados tanto pelo jornalismo tradicional, quanto pelos blogs, não atribuindo pontos negativos e/ou positivos para nenhuma das atividades comparadas. Ele afirmou não observar qualidades e defeitos, mas sim uma adequação de ambos para o que o leitor está esperando, e cita como exemplo o início da cobertura sobre música pop/mainstream no Tenho Mais Discos Que Amigos!.

“Nós no TMDQA! começamos a falar de pop há pouco tempo, mas optamos por uma abordagem jornalística e mais musical, falando sobre lançamentos de discos, clipes, novidades, etc. Boa parte dos outros veículos tem uma abordagem muito mais popular mesmo, mais adequada ao seu público. Não


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vejo como pontos negativos e positivos, mas sim como ligações com seus públicos.”

Dá-se então para tirar três afirmações dessa discussão: a primeira é que o jornalismo pode estar pecando no quesito produção de conteúdo sobre a música pop/mainstream; a segunda é que os blogs só estão fazendo seu trabalho, cumprindo sua função de disseminador, e, por isso, acaba sendo mais atraente para quem acessa as redes sociais, já que eles mantém uma conversação maior com o público do que os veículos tradicionais; logo, a terceira e última afirmação (por enquanto) é a de que o jornalismo tradicional está seguindo os passos dos blogs a ponto de manter um nivelamento de relevância e credibilidade. Há blogs que cumprem bem algumas funções do jornalismo, assim como há veículos que não exercem com muito êxito a atividade. Em razão disso, perguntei para todos se existe conflito entre a cobertura jornalística e blogueira.

“Hoje o que está em voga é o poder de influenciar. O conteúdo jornalístico, como conhecemos mais tradicionalmente (com apuração, responsabilidade, etc) não é levado tão em conta pelo leitor. Então, o veículo sério tem mais trabalho na hora de espalhar o seu conteúdo: ele precisa continuar “tradicional” em relação ao conteúdo, mas chamar a atenção de quem já lê muita coisa em timelines. Já o amador publica qualquer coisa, sem muita responsabilidade, e joga para a audiência decidir se aquilo é bom ou não. Sempre existiu jornalismo ruim (vide o termo “jornalismo marrom”), mas hoje ele é mais visível. [...]Hoje, há blogs tão ou mais conceituados do que muita marca grande do jornalismo. Fica para o público decidir se aquele blog ou site é bom ruim, se dá muita barrigada, muita informação sem fonte confiável etc.”

Marcos Lauro aposta na hipótese de que o jornalismo está se adequando ao que o leitor de blog já está acostumado: encontrar algo interessante no Facebook, Twitter, etc. Essa “nova” função não substitui os demais objetivos do jornalismo tradicional, que é a informação apurada, contextualizada e muito mais. O blog não foi feito para tirar o lugar do jornalismo, e mesmo que exercido por um profissional da área, com anos de experiência e qualidade no conteúdo oferecido para o seu leitor, continuará sendo uma extensão da notícia ofertada pelo jornalismo – e isso não é um demérito. Roberto Marcionílio, por exemplo, divide a mesma opinião com o editor-chefe da Billboard Brasil.


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“Sim. O profissional [jornalista] vai atrás da informação, estuda a mesma, duvida dela, busca mais fontes, checa, corrige, acrescenta. Muitos blogs, de muito sucesso, diga-se de passagem, não se dão a esse trabalho: ou copiam, ou resumem. Não sou jornalista, mas com oito anos nesse meio dá pra sentir essa diferença. Em parte, é muito fácil republicar uma noticia já esmiuçada e crescer em cima do trabalho dos outros. Na mídia amadora e profissional, todo mundo vê esse "copicola". E, meio que em resumo, anda todo muito preguiçoso em criar seu próprio conteúdo, se limitam a partir de informações que não podem faltar como nomes de álbuns, data de lançamento, citações etc.”

Já os demais entrevistados se opuseram às afirmações de Marcos Lauro e Roberto Marcionílio. Andressa, do Nação da Música, acredita que esse conflito entre as duas coberturas não existe porque tanto os veículos quanto os blogs se pautam em cima de seus respectivos erros e acertos, principalmente. No entanto, a competitividade evidente na rede não faz desta afirmação uma “verdade absoluta”:

“Acredito que não exista nenhum conflito entre esse conteúdo, não no meio musical. Cada portal, site, jornalista, gera suas matérias, informações, sem se preocupar muito com quem tá do lado. A Nação da Música, por exemplo, é muito especifica. Trabalhamos em cima dos nossos erros, tentamos dar nosso melhor constantemente, e ir melhorando. Olhamos para dentro para ver o que estamos errando e ir corrigindo, fazendo o site andar. Cada um faz o seu trabalho, de acordo com suas editorias e o público sabe distinguir bem o que é um veículo tradicional do amador. Apesar de achar que não existam amadores nesse meio, apenas alguns veículos que seguem uma linha não tão tradicional e que dessa forma conseguem abranger outros assuntos nos seus sites.”

Tony Aiex completa, e diz que a mídia amadora não tem a mesma repercussão, se comparada ao jornalismo. Isso é uma verdade que pode ser analisada com o motivo que leva blogueiros criar endereços na internet: gerar conversações sem, nem sempre, tomar o protagonismo da notícia.

“Não existe conflito porque na maioria dos casos o conteúdo amador não tem tanta repercussão assim e/ou logo de cara percebe-se que trata-se de algo em que não se pode confiar. Ao mesmo tempo, há muita gente "amadora" escrevendo muito bem, e são ótimos locais para que textos sejam publicados, trabalhos mostrados e essas pessoas eventualmente escrevam em veículos maiores. Acho que veículo tradicional é uma coisa, mídia amadora é outra coisa e blog é outra coisa ainda. Não dá pra chamar todos os blogs de mídia amadora, já que muitos são mais profissionais que muitos veículos já


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estabelecidos. Acho que não há comprometimento, mas sim uma adequação a novas realidades.”

Para finalizar, perguntei para os quatro entrevistados qual o papel de serviços de audição online (legais ou não) de música no desenvolvimento do jornalismo online e do blog também, como Spotify, AppleMusic etc. Aproveitei e questionei se a Lasf.Fm também teria parcela responsabilidade neste mesmo processo, ainda que não seja paga ou que seu ápice de público tenha sido há mais de cinco anos. Assim como a “receita” para a busca de pautas, a resposta de todos os sites e blogs consultados foi praticamente a mesma: estas plataformas, legais ou não, têm responsabilidade no desenvolvimento das duas atividades editoriais na internet, mas isso faz parte de uma mudança que daqui alguns anos pode ser renovada mais uma vez. Marcos Lauro, da Billboard Brasil destacou a facilidade que é noticiar e logo “mostrar” para o público aquilo que ele está falando sobre. Ele compara esta etapa da era digital com o fim da era eletrônica, atribuindo ao nosso tempo um valor até maior do que a época em que discos eram vendidos com frequência e muitos artistas viviam apenas disso. No entanto, ele completa que esta é uma fase que o próprio jornalismo está aprendendo a lidar, e devido à velocidade com que as mudanças chegam à tona, principalmente na internet, uma nova fase começará e o jornalismo vai ter que correr atrás disso mais uma vez.

“Essa é a revolução que vivemos, muito maior do que a revolução do CD e até do download (legal ou não). Hoje as pessoas não precisam nem baixar música mais para ouvir, é só clicar em play. Isso, claro, ajuda o jornalismo online: consigo dar uma nota sobre um artista, incorporar o disco dele na nota, dar a música mais recente assim que ela sai, fazer embed78 do clipe no YouTube assim que ele é publicado etc. A Last.Fm foi importante porque nos ensinou a descobrir novos sons apenas navegando, sem precisar buscar... um artista leva a outro, que leva a um gênero, que leva a um país e com poucos cliques você estava ouvindo um artista, sei lá, da Tanzânia. O mercado editorial online apanha um pouco nesse processo, mas é um problema do jornalismo em si. O jornalismo ainda está aprendendo a acompanhar tudo isso e, com erros e acertos, vai conseguindo. O problema é que quando o jornalismo aprender vem mais uma revolução e muda tudo. Pode ser desesperador ou divertido, depende do ponto de vista.”

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Ferramenta de incorporação de mídia à uma publicação. Muito usada para vídeos.


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Andressa Silva de Oliveira, do Nação da Música, também reforçou a importância do modelo de negócio para ouvir música presente na internet como colaborador da notícia, destacando o fato de que os próprios usuários da rede querem mais comodidade. Tony Aiex, do Tenho Mais Discos Que Amigos,!também destacou esse fato. Inclusive, é interessante pensar que essa “comodidade” não é um defeito, muito menos uma qualidade. É uma característica comum da nossa era digital. Desde a sua criação, o jornalismo tem se adaptado a todas as tendências em comunicação que surgiram, inclusive à internet e suas ferramentas, como o processo de “ouvir música” online.

“Sim, uma vez que se consome a música no computador, é possível procurar mais informações sobre o artista ou banda nos sites especializados e acabar se inteirando ainda mais sobre todo o processo que envolveu o disco que ele ouviu, ou o propósito que uma música foi lançada. Uma coisa acaba ajudando a outra. As pessoas buscam sempre por facilidades, e por já estarem ouvindo seja pelo computador, tablet, smartphone etc... elas acabam procurando nas respectivas plataformas saber mais sobre aquilo (Andressa S. de Oliveira, editora do site Nação da Música).” “A Internet está crescendo em tudo, não só na música, então escrever na Internet e buscar linhas editoriais dentro dela é fundamental e tem sido um trabalho que só cresce para quem faz o processo direito. Várias plataformas têm responsabilidade no processo, desde o Wordpress (para edição de blogs) até o Spotify (para ouvir música) e o Snapchat. A Internet cresceu; tudo nela cresceu, e com a música não poderia ser diferente. (Antônio Emílio W. Aiex, blogueiro responsável pelo Tenho Mais Discos Que Amigos!).”

Já o blogueiro Roberto Marcionílio, do Qual a Grande Ideia?!,expressou maior satisfação com os serviços de audição de música em razão da maioria deles ser contra a política de direitos autorais na internet.

“[...] serviços de streaming tornaram a vida dos blogueiros muito menos "perigosa", uma vez que quase sempre o conteúdo é disponibilizado pelos artistas neles ou demora pouco para ser. Antes tudo era pirata, em players duvidosos e com produtoras batendo na sua porta pedindo pra que esse ou aquele post fossem apagados. Hoje, com tudo mais "oficial" se faz na verdade é questão da incorporação das músicas nos veículos em vez de players alternativos.”


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4

CONSULTA E ANÁLISE DE JORNALISTAS MUSICAIS

4.1

UMA BOLHA CHAMADA JORNALISMO MUSICAL Já sabemos que não basta apenas consultar e escrever nem mesmo compartilhar. É

visível que o jornalismo musical, incluindo a internet, vai muito além de uma nota sobre lançamentos. Sabemos também que não basta ter como fontes apenas os profissionais à frente dos quatro endereços consultados no capítulo anterior. É preciso não só identificar o problema e entendê-lo, como observar seu entorno e buscar propostas de solução. A era da digitalização não é nova, mas o entendimento e prática por parte da segmentação estudada neste trabalho sim. O jornalismo musical se tornou rápido e multimídia, porém sem contextualização da música, concentrado em nichos online e com textos que parecem informar cada vez menos. A internet mudou o papel do crítico, forçou uma reconfiguração na indústria musical, e ainda trouxe de brinde a livre e democrática expressão de pensamentos na rede por parte do cidadão comum. Onde fica o jornalista neste cenário? Onde ele esteve? Para onde ele vai? Como o objetivo da pesquisa é analisar o jornalismo musical da internet por meio da análise de sites e blogs brasileiros, é necessário buscar fontes paralelas que possam auxiliar no entendimento dos processos que passam as notícias produzidas por esses sites e blogs. Neste caso, jornalistas musicais consolidados tanto no impresso, quanto no digital são as fontes que vivem dentro da bolha que se tornou a atividade, mas também em volta dos veículos e blogs consultados. Para este capítulo de entrevistas, foi usado como critério básico a atividade do jornalista voltado para música, e que, de alguma forma, tenha envolvimento com a internet. Ao todo, foram consultados seis jornalistas. De todos, apenas cinco entraram para a monografia. Isso aconteceu em razão de uma seleção feita das fontes mais interessantes para o autor do trabalho, bem como a representatividade dos entrevistados para algum ponto específico do jornalismo musical. Duas das seis entrevistas aconteceram presencialmente, e isso só foi possível por causa da proximidade das fontes com o autor do trabalho. As demais entrevistas aconteceram por email (respostas na íntegra, no “Anexo 1”).


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O primeiro entrevistado é o jornalista Rodrigo Ortega, de São Paulo. Ele já atuou na Billboard Brasil como editor assistente, na época em que foi impressa, teve textos publicados na Superinteressante, Rolling Stone Brasil, Mundo Estranho e Folhateen também. Hoje ele é repórter da editoria “Pop & Arte”79, do G1 São Paulo. Outra fonte do trabalho é Marcelo Santiago, de Belo Horizonte, pós-graduado em Produção em Mídias Digitais e Gestão e Desenvolvimento Cultural. Atuou no Ministério da Cultura, em assessoria de imprensa e comunicação tanto pública, quanto privada, e atualmente escreve para o Meio Desligado80, um blog de sua autoria que trata de bandas nacionais independentes. A terceira fonte se chama José Norberto Flesch, também de São Paulo, jornalista e responsável pela editoria de “Diversão e Arte” do Jornal Destak SP81 tanto no formato impresso, quando no online. Além disso, o jornalista ficou conhecido nas redes sociais por divulgar datas de shows nacionais e internacionais no Brasil antes dos anúncios oficiais, por meio do Twitter82. Seu perfil na rede social tem mais de 110 mil seguidores, onde ele é carinhosamente conhecido como “Mãe Diná do pop”. A quarta fonte é o jornalista Lucas Krempel do Jornal impresso A Tribuna, de Santos. Ele começou sua atividade nas editorias de “Economia” e “Porto e Mar”, porém o jornal lhe deu espaço para que ele escrevesse também sobre música. Ele se tornou o mais conhecido jornalista musical do veículo, e atualmente é responsável também pelo Blog „N Roll83, hospedado no site do jornal. A última entrevistada do grupo é a jornalista Isadora Âncora, do Rio de Janeiro, assessora de imprensa da Midiorama, uma agência de comunicação voltada para música, nacional e internacional. Dentre os trabalhos da jornalista por meio da agência, destaca-se as três últimas edições do festival musical Rock In Rio no Brasil, além de outros shows internacionais como Katy Perry e Kiss.

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g1.globo.com/pop-arte/

80

www.meiodesligado.com

81

www.destakjornal.com.br/noticias/diversao-arte/

82

twitter.com/jnflesch

83

www.atribuna.com.br/blognroll/


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4.2

IMPRESSÕES

É importante ter em mente que este é o espaço para que outras pessoas, fora o autor do trabalho, comentem como elas observam o jornalismo musical, principalmente de produtos internacionais, redigido para internet. É um espaço mais democrático que busca não avaliar as fontes, mas encontrar nos argumentos obtidos fundamento para a análise proposta. Se antes foram consultados endereços que serviram de exemplo para a pesquisa em questão, agora jornalistas (com especificidades estrategicamente escolhidas) ficam lado a lado para falar da atividade jornalística em si, desprendidos de redações e grupos editoriais. Em primeiro momento, questionei os entrevistados sobre quais as impressões que eles têm do jornalismo de música internacional praticado no Brasil por meio da rede. As opiniões foram as mais diversas possíveis, com um segmento mais evidente que o outro, que muito pode ser relacionado com a área de atuação e especialização de cada uma das fontes. Rodrigo Ortega, do G1, por exemplo, destaca o fator hard news do fazer jornalístico e a dificuldade que os profissionais sofrem em noticiar a música que é feita fora do País, algo que parte das fontes anteriores já haviam se queixado. Basicamente se trata de uma carência de fontes oficiais que são imprescindíveis para reportar o fato (desde um lançamento, até o anúncio de show), o que reforça a necessidade dos sites e blogs consultados em fazer uma curadoria em outros sites e releases para publicar. Ortega apresenta como alternativa a contextualização do cenário musical internacional aqui no Brasil, bem como as coberturas que esses veículos e blogs podem fazer em casos de festivais que por vezes acontecem no País.

“De modo geral, considero que a mídia brasileira não tem mesmo como fazer uma cobertura jornalística de impacto muito grande sobre a música internacional, visto que os veículos dos EUA e da Europa vão ter, naturalmente, mais acesso e possibilidade de fazer as grandes matérias e coberturas sobre o que é produzido lá. Mas os que os veículos nacionais podem fazer são análises sobre o nosso ponto de vista e coberturas de eventos com músicos internacionais aqui [...].Uma coisa da qual eu não gosto, neste sentido, é ler críticas traduzidas de jornalistas americanos na Rolling Stone brasileira[...].”


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O jornalista José Norberto Flesch, por sua vez, tem uma postura um pouco mais firme, porém nada distante do que encontramos nas publicações. Quando se trata de jornalismo musical para o impresso (ao meu ver, independente se vem do jornal ou revista), encontramos reportagens mais elaboradas, uma porção de entrevistas, grandes coberturas e até mesmo resenhas (mais encorpadas, em muitos casos). Quando a plataforma não é mais a impressa e sim a digital, a atividade sofre com a falta de opinião, comodismo excessivo e até mesmo com a citada falta de fontes oficiais. Por outro lado, o jornalista apresenta o papel das assessorias de comunicação nesta discussão, que deveria ser o mediador direto entre a música e imprensa, mas acaba sendo mais um seletor de plataformas e veículos, dificultando o desenvolvimento e aperfeiçoamento do jornalismo musical na internet, independentemente se é de um site tradicional ou blog. Flesch também levanta outro ponto, o de que blogs praticam o “jornalismo de fã”. De fato, muitos o fazem, seja no início, pois são motivados por interesses e gostos relacionados ao tema do blog em questão; ou com anos de experiência, porque mantém os mesmos vícios. No entanto, é perceptível um trabalho e organização por parte de muitos blogs para que esse “jornalismo marrom” não seja aplicado.

“Eu acho que a internet já superou o impresso há tempos no noticiário musical. A diferença é que um certo tradicionalismo que ainda impera no setor torna a cobertura da internet um pouco mais fria do que no impresso. Assessorias e gravadoras, por exemplo, ainda se mostram resistentes a dar preferência a sites e blogs na hora de conseguir entrevistas com artistas. Mas vale dizer que muitos sites e blogs colaboram para não mudar isso ao fazer um "jornalismo de fã", não um jornalismo imparcial. Espero que isso mude.”

Existe uma diferença clara entre o jornalismo opinativo e o “de fã”. Obviamente, o segundo mantém uma aprovação evidente para certo artista e/ou banda em consideração aos gostos do autor do texto ou blog. O jornalismo opinativo de verdade, que analisa a obra, de fato está em falta. Lucas Krempel, do jornal A Tribuna e do Blog „N Roll, comenta que esse é, para ele, a característica que se faz menos presente no jornalismo musical praticado na internet atualmente. Se atrelarmos essa característica, não apenas aos veículos mais tradicionais, mas também à atividade blogueira, bem como seu histórico na web, a impressão que fica é que as


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pessoas começaram a escrever sobre música na internet há pouco tempo. É visível que tanto o jornalismo quanto o “amadorismo” (entende-se aqui, como uma atividade não classificada como profissão) estão em constantes processos de modificações, e que estas modificações se desdobram em tantas outras possibilidades dentro universo online. O conteúdo editorial sobre música não existe há pouco tempo na rede, independentemente se é de um grande veículo, ou de um blog recém-criado. No entanto, a atividade ainda mantém vícios claros. A tradução dos conteúdos internacionais e o “copicola” sem contextualização são outros pontos destacados pelo jornalista.

“Infelizmente eu vejo como uma coisa muito fraca, porque se você entrar em alguns sites (e não cabe citar nomes) você percebe que é muito ctrl + c, ctrl + v, tradução, dificilmente tem opinião, e este é um erro que eu mesmo acabo cometendo por falta de tempo[...]. Eu acredito que isso é o que mais falta para o jornalismo neste segmento[...]. Explicar como é a música, contextualizar o leitor de como foi a produção da música, videoclipe, quem fez e como esse cara costuma fazer, essas coisas... Por outro lado, em shows, por exemplo, existem assessorias de imprensa que preferem credenciar o fotógrafo, mas não o repórter, para garantir pelo menos o registro fotográfico do evento. E quando você vê as resenhas desse show em questão, o resultado é um trabalho “chapa branca”. Às vezes, eu tenho a impressão que o jornalismo musical é uma coisa que começou ontem, que alguém acessa um conteúdo e pensa: que legal, as pessoas falam sobre música na internet. E nós sabemos que não é assim.”

A assessora de imprensa Isadora Âncora complementa as respostas anteriores, mas, de certa forma, com um viés e experiência diferentes. Apesar de ter a mesma formação que as fontes anteriores, nessa pesquisa Isadora tem muito mais uma função de mediadora – ou facilitadora – na relação entre cliente (música) e imprensa, do que uma disseminadora de conteúdo para os usuários da rede. Ela confirma o comodismo praticado pelos sites e blogs, mas também entende que uma entrevista com um artista internacional, por exemplo, demanda muito mais trabalho do que com artista nacional. Para ela, as páginas nas redes sociais e sites de notícias internacionais são os meios usados para que sites e blogs se pautem no dia a dia da atividade – exceto quando o tal artista e/ou banda estão no País, mas isso é um assunto aprofundado por ela mais a frente.


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“Com raras exceções, o que acontece nesse âmbito de notícias é mais uma replicação do que jornalismo em si como ele era antigamente. Claro que, quando um artista vem para o Brasil, existem entrevistas, resenhas e etc. Mas fora essas situações, o que acontece no dia a dia é um acompanhamento das redes sociais dos artistas internacionais para saber o que há de novo - porque lá eles publicam os lançamentos nas plataformas de streaming, o início das vendas de um novo álbum ou até um novo show confirmado – ou ficar de olho nos sites internacionais também, que recebem as informações dos artistas internacionais antes de nós. Ou seja: o jornalismo produzido na internet hoje, com relação a conteúdo internacional, é mais replicar um conteúdo que já existe, traduzindo e colocando com suas próprias palavras. O jornalismo mesmo, da busca, ouvir a fonte e etc., fica um pouco de lado e dá espaço para um novo tipo, especificamente nesse caso.”

Já o produtor cultural e também jornalista, Marcelo Santiago, reforça a ideia de que a atenção dada para a música internacional é muito grande, quando, na verdade, nós temos uma gama de artistas nacionais para colocar em prática as atividades meramente jornalísticas. Sua posição pode parecer um pouco contraditória à proposta do trabalho, porém ela é muito mais uma possível solução do que um problema adicional. Jornalistas e blogueiros brasileiros não possuem o mesmo privilégio de fazer uma grande reportagem – e isso inclui entrevista – com um artista internacional, diferente dos endereços estrangeiros. No entanto, este é um exercício que tanto os profissionais, quanto os amadores, devem praticar: o feeling para o que está em volta e mais próximo. Não é necessário abolir o noticiário de música internacional, entretanto, devido às condições, uma entrevista com um artista nacional pode melhorar o conteúdo do endereço, aumentar sua credibilidade e visibilidade para tantos artistas que precisam de uma “luz”.

“Temos sites e blogs legais aqui, só acho uma pena que se dediquem tanto aos artistas internacionais e sobre pouco espaço para o que acontece na cena musical daqui. Não acompanho muitos veículos gringos, mas os que leio escrevem justamente sobre a música de seus respectivos países. É uma porta de entrada pra conhecer bandas que não aparecem em outras publicações.”

Sendo assim, perguntei para as fontes se o jornalismo musical como um todo estaria limitado aos sites internacionais, principalmente. Com exceção de Marcelo Santiago, todos os entrevistados afirmaram que essa é uma característica de certa forma negativa tanto para o profissional, quanto para o blogueiro amador. Cada um atribuiu um motivo especial para isso, e Santiago, por exemplo, defendeu o papel do blog neste quesito, dizendo que a plataforma


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possui maior liberdade editorial, o que acarreta na não necessidade do autor em se pautar em outros veículos para escrever. Esta afirmação é um tanto curiosa. O blog possui um desprendimento editorial maior que um site ou veículo de caráter profissional, porém é exatamente essa característica do veículo que faz o blog, num contexto geral, ser muito mais dependente de uma curadoria do que os veículos mais tradicionais. Lucas Krempel comenta que isso se dá por conta de uma desvalorização desses blogueiros, que escrevem porque gostam do assunto e muitas vezes arrumam colaborações em troca de divulgação dos conteúdos, não por remuneração. Logo, essa desvalorização financeira para os blogueiros, que em muitos casos sobrevivem de anúncios tanto automáticos quanto próprios, pode levar estes escritores a um comodismo mais evidente. Ele está livre para produzir um material tão bom e apurado quanto o de um site, porém essa não é uma verdade absoluta. Existem casos e casos.

“[...] Muitos jornalistas principalmente de blogs, não estão recebendo para exercer tal atividade. Muitas vezes o responsável recebe uma verba de anunciante que serve para ele tocar o site na medida do possível. Dificilmente você tem recursos para pagar todos os colaboradores, logo a saída é fazer parcerias em troca da divulgação do conteúdo assinado. Há também endereços que não [possuem]o espaço da redação, ou nem mesmo pessoas para subir o conteúdo, até porque o colaborador provavelmente tem outro trabalho – que por sinal ele recebe por isso. [...] Então, existe comodismo sim. A curadoria é normal em qualquer área do jornalismo, mas eu entendo que neste cenário[...] não há muito o que fazer devido a uma suposta desvalorização da área. Existem blogs que possuem sistemas para gerar anúncios ou conseguir anunciantes próprios, e isso é ótimo. Se esse site ou blog está se mantendo por meio de anuncio é ainda melhor, pois ele serve de exemplo nesta porta que está se abrindo, que no caso é para quem quer começar a escrever sobre música na internet. [...] infelizmente a realidade é essa: as pessoas gostam do que estão falando, escrevem bem e sobem textos em troca de participar de um site que eles consideram um bom lugar para mostrar seus trabalhos. A partir do momento em que o pessoal valorizar este segmento[...], pode ser que as coisas mudem e fiquem melhores também. [Por exemplo]Essa limitação em fontes estrangeiras principalmente possa ficar um pouco mais de lado, mas isso porque será possível investir em mais entrevistas, reportagens, opinião e por aí vai.”

Os conteúdos rápidos produzidos por blogueiros, e sites nacionais também, sobre o que acontece no mercado musical de outros países formam um círculo vicioso que só pode ser


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remediado com a expansão dos trabalhos desse site ou blog para o que acontece com mais proximidade. Isadora destaca outro fato: a contribuição das assessorias de imprensa. Na falta de conteúdo estrangeiro recebido pelas agências, o escritor precisa buscar informações direto com quem já recebeu o conteúdo. Como a própria jornalista afirma, o profissional não tem “opção”.

“Sim, o jornalismo acaba se limitando a essas fontes, mas acredito que por falta de opção. Muitos sites nacionais não recebem releases ou informações oficiais de artistas internacionais. É diferente do conteúdo nacional, em que diariamente são enviados inúmeros releases das assessorias sobre eventos e artistas. Essa distância faz com que seja preciso identificar quem recebe essa notícia e reproduzir esse conteúdo. Esse é o principal motivo: estar distante da fonte [primária] da informação te faz usar quem a recebe como fonte.”

Por outro lado, esse tipo de atitude – mais semelhante a uma válvula de escape – como afirma José Norberto Flesch, “tira qualquer credibilidade” do escritor (formado em jornalismo ou não). Apesar das poucas palavras, Flesch é certeiro quando atribui o “copicola” à vitimização de uma característica imprescindível na carreira do comunicador. Rodrigo Ortega completa, e diz que mesmo existindo a curadoria, essa “não deve ser a única fonte”, abrindo-se, assim, espaço para matérias mais elaboradas, com artistas nacionais e com “sacadas próprias”.

"Muitas vezes, sim, os blogs e os veículos brasileiros apenas reproduzem as pautas de grandes veículos internacionais. Mas esta não deve ser a única fonte deles. Considero importante estar atento aos principais temas do momento no mercado musical do mundo. Mas a partir disso, as melhores pautas são as que buscam sacadas próprias sobre o que está acontecendo ao redor, com uma abordagem que seja única do seu veículo. [...] é possível se diferenciar com resenhas e análises bem redigidas, e principalmente com conteúdo jornalístico sobre os artistas locais e o que acontece no mercado da música no Brasil."

Cria-se então um dilema, pois a fala do repórter do G1 – que não relaciona as opções exclusivamente para blogs ou sites – casa com o comentário do produtor Marcelo Santiago. Fica claro, então, que ao mesmo tempo em que os veículos, de caráter profissional, sofrem com a adaptação do que já está publicado nos noticiários online mundo a fora, também


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possuem total capacidade para produzir grandes materiais com centenas de personagens musicais que vivem em volta deles. E o blog, se não incorporado a uma postura, de fato, mais “liberal”, entra no mesmo esquema de “Ctrl + C/ Ctrl + V”. A grande diferença é que o jornalismo tem sua função social, de direito do cidadão. O blog, por ser “livre”, não necessariamente. Por mais semelhantes que sejam, somam-se mais situações embaraçosas. Enquanto os endereços replicam o que já está publicado na web, blogs, muitas vezes hospedados em plataformas gratuitas, crescem cada vez mais. A produção se torna maciça, o que, de certa forma, contribui para uma suposta competição com os veículos de cunho mais tradicional. Paralelamente, redes sociais começam a se destacar também neste cenário. Tendo em vista a situação, é de se questionar se o jornalista e crítico aos poucos perde a relevância no segmento. Rodrigo Ortega acredita os dois públicos apontados na questão – crítico e jornalista – perdem um pouco da sua voz de autoridade, mas não da mesma forma, nem na mesma intensidade. Para ele, o primeiro é o que perde relevância com mais facilidade, mas isso devido às evoluções tecnológicas e comunicativas atuais. E isso é evidente. Existe na rede – legalmente ou não – uma série de materiais musicais disponíveis para o cidadão, e se compararmos a antiga responsabilidade do crítico musical com a sua nova atribuição, ele é só mais um a ouvir um álbum disponível para streaming e compartilhar suas impressões em alguma plataforma. Como Ortega explica, atualmente, o crítico é uma espécie de curador em meio a tantas músicas e álbuns na web. Já sobre o profissional jornalista, o repórter do G1 diz que ele também perde certa relevância, porém essa pode ser convertida em benefício para ele. Quando Ortega afirma que “a internet é o ponto de partida para grandes reportagens”, ele está expandindo as possibilidades de produção e contextualização do profissional em prol dele mesmo. Flesch é mais amplo e acredita que tanto o jornalista quanto o crítico “podem criar sua relevância em qualquer plataforma”. No entanto, enquanto o crítico fica à mercê de selecionar o que ele acha interessante para o leitor, o jornalista tem maior viabilidade de conduzir novas discussões sobre determinado tema, em formatos diferentes, que consigam captar o leitor para qualquer plataforma, sem necessariamente expor sua opinião.


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"Com relação ao crítico, as redes sociais mudaram bastante o seu papel, e, de certa forma, tiraram sua relevância. Quando o acesso aos lançamentos era mais restrito, especialmente no Brasil, o crítico tinha o poder de orientar o que o público iria ouvir ou não. Se você podia comprar um disco por semana, era mais seguro ir no que os críticos indicavam. Isso nunca mais vai acontecer. Todos podem ouvir tudo e, além disso, dar opiniões com o mesmo potencial de serem ouvidas do que as de um crítico. Hoje, ele pode ser visto como um curador, que dá sugestões de audição em meio a tanto material novo disponível toda semana, mas perdeu sua voz de autoridade. Com relação ao jornalista, mais no sentido do repórter, também acontece esta perda da voz de autoridade, mas ao mesmo tempo abre-se o caminho para apurar e produzir pautas de maneira muito mais fácil, direta e rica. A internet pode ser o ponto de partida para grandes reportagens, que saiam de análises de dados e observação de fenômenos na web para a produção de conteúdo na rua, ao lado dos artistas e dos fãs. Por um lado, o fato de o artista falar diretamente com o seu público via redes sociais tira um pouco deste papel de mediação do jornalista. Mas esta mediação de comunicados dos artistas, que seria quase uma reprodução de press releases se não houvesse a internet, não é a parte mais rica do trabalho do jornalista de música. Hoje, ele fica mais livre para fazer reportagens diferentes, caso o veículo tenha estrutura para bancar estas reportagens – o que é outro problema, ainda maior."

Sobre as redes sociais, Ortega diz que elas roubam o papel de mediador do jornalista, porém explica também que, mesmo os artistas mantendo presença efetiva nas redes, garantindo uma conversa direta com os fãs, as publicações não passam de uma “reprodução dos press releases”. Está aí mais um fato que o profissional jornalista pode se dar ao luxo: conversar, de verdade, com as pessoas. Marcelo Santiago vai um pouco além, mas sem atribuir a prática de publicação nas redes como algo negativo. Para ele, as redes sociais são sim superficiais, mas complementam o trabalho do jornalista. E ele tem razão. As pessoas estão nas redes sociais. É difícil um cidadão visitar com frequência um único site ou blog porque se identifica com ele. Este usuário da rede pode até se identificar com o endereço, porém só descobre o conteúdo deste site ou blog enquanto navega pelo feed do Facebook ou Twitter. Fica ao cargo das redes sociais, então, disseminar, imediatamente, o conteúdo arquivado nos endereços. A pessoa pode escrever uma excelente crítica no Facebook, porém ela se perde em meio a tanto material publicado pela mesma pessoa posteriormente. Diferente dos sites e blogs.


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"Vejo como complementos. As redes sociais têm a característica de serem mais superficiais, leituras mais breves. E tem também uma questão de arquivamento de informação: é muito difícil encontrar publicações antigas no Facebook e no Twitter, por exemplo. O conteúdo antigo, de certa forma, some nessas redes. Ao contrário dos sites e blogs, onde existem sistemas de arquivamento e tags que ajudam a encontrar conteúdos publicados anteriormente."

Isadora Âncora, devido a sua experiência em promoção de artistas para a imprensa, abrange um pouco mais a discussão, dividindo as funções de blogs e sites tradicionais entre artistas já consagrados e iniciantes. Para ela, a figura do jornalista musical de veículos mais tradicionais é importante, porém para o artista veterano ele tem atenção dividida com tantos outros veículos e blogs. Soma-se neste caso o papel das redes sociais também, pois o artista consagrado poderá manter contato efetivo com uma série de pessoas que já o conhecem, tornando o profissional de comunicação menos necessário na hora de divulgar um material, diferente de alguns anos atrás. Mas só acontece porque o artista já é o centro de uma grande cena musical virtual. Faz-se mais necessária a mediação do jornalista, então, para artistas pouco conhecidos ou iniciantes. Os veículos mais tradicionais conseguem atingir um número alto de pessoas – independentemente se é impresso ou digital, com imagem ou apenas áudio – o que possibilita uma exposição maior, porém polarizada. O blog, por sua vez, que após a curadoria feita principalmente nos veículos tradicionais, se concentra em um assunto e público específico, garantindo ainda mais visibilidade. Por isso, a queixa dos jornalistas entrevistados para a falta de cobertura “além do óbvio”. Um exemplo básico pode ser as notas de lançamentos publicadas na web com frequência. O jornalista conta para tudo e todos sobre o novo álbum da Madonna, porém serão os blogueiros os responsáveis por conversar no mesmo nível que os fãs da cantora. A artista, por sua vez, cumprirá as mesmas funções em suas redes sociais, mas de forma engessada. Isadora afirma que é por esse motivo que a relação “veículos tradicionais, blogs e redes sociais opostos uns aos outros” é perigosa, pois a função de um complementa a atividade do outro.


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"Acho que ainda são coisas complementares. O jornalista ainda tem sua importância, mas deixou de ser indispensável para um artista já consagrado. Porém, para os novos artistas, o espaço em jornais, revistas e na TV ainda é muito importante[...]. Por mais que as redes sociais possam atrair muito público e o artista possa conquistar fãs sem os veículos de imprensa, ainda vai ser uma coisa limitada, ainda não é todo mundo que busca essas pessoas novas na internet. Ainda tem um público que só vai saber quem é um artista depois que ele aparecer dando uma entrevista em um programa de televisão ou estiver em uma revista ou jornal importante. Ninguém é conhecido no mundo todo se não estiver na televisão, nos jornais e nas revistas... a internet te limita ao seu público. Ninguém vira a Ivete Sangalo se não aparecer na Globo. Acho que colocar blog e jornalista como coisas opostas é perigoso, pois muitas vezes o blogueiro é um excelente jornalista, seja por formação ou pela prática. E ainda acho que a internet e os blogs trazem a oportunidade de surgirem novos críticos musicais. Não vejo como coisas opostas, tudo se completa."

A assessora de imprensa diz que existem blogueiros que escrevem muito bem. Lucas Krempel compartilha da mesma ideia que Isadora, e faz uma relação com a sua última declaração, sobre a desvalorização destes escritores.

"[...] existem pessoas que não são jornalistas e escrevem muito bem. O principal fator que diferencia imediatamente, e cabe a nós jornalistas, é a ortografia. Se uma série de pessoas quiser escrever também, montar algo bacana, mesmo que elas não sejam jornalistas, eu estarei super de apoio. A nossa profissão mesmo dispensa a necessidade de diploma. Se vier para acrescentar e reforçar a procura de mais pessoas pelo jornalismo musical online, não importa se é concorrência, eu estarei de apoio. Até para profissionalizar o negócio, pois muitos blogs começam só opinando porque estão falando do que gostam. Vai sobreviver quem leva isso a sério e faz direito, independente se é jornalista ou não."

Visto as afirmações, questionei os entrevistados se a segmentação de conteúdo já é uma realidade e/ou uma alternativa para melhores coberturas. Todos concordaram, porém cada um com algum ponto a acrescentar. Com exceção de José Norberto Flesch – que afirmou que isso já acontece há tempos, inclusive no jornalismo musical impresso – os demais jornalistas se mostraram mais cautelosos quanto à segmentação de conteúdo (só música pop, só música rock, etc). O repórter do G1 Rodrigo Ortega destaca que o grande fator contribuinte para a cautela na hora de segmentar o conteúdo é a, como o próprio diz, “bolha” que cada leitor costuma integrar. Ortega se refere, principalmente, às redes sociais, que são moldadas de acordo com os gostos e preferências do usuário. É neste momento, para ele, que o jornalista


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entra, pois este profissional tem como diretriz conversar com as pessoas e mostrar o que é novo, intrigante, importante, etc. Essa característica do jornalista, por exemplo, mesmo que em falta em alguns cenários, pode trazer uma mudança na atividade em geral, não apenas para o jornalismo musical.

"A segmentação é uma realidade, mas não a única. Não conheço profundamente estes blogs mais segmentados, mas sei que muitos deles conseguem relevância, retorno financeiro, público fiel, etc. Mas não acho que o único caminho é segmentar. Digo isso, pois trabalho em um veículo não especializado, para o público geral, e considero que fazemos um trabalho interessante em apresentar grandes fenômenos de cultura pop ao público geral, sem querer falar apenas para um nicho. Em um mundo em que as pessoas vivem cada vez mais dentro de bolhas, ouvindo apenas pessoas que concordam com elas, é interessante também furar estas bolhas, mostrar que o cenário cultural é muito mais vasto do que um determinado estilo. Esta vocação do jornalismo de "apresentar o mundo lá fora" para o leitor pode ser útil em tempos de tribos e polarização."

O produtor Marcelo Santiago destaca que, mesmo sendo um possível caminho para o jornalismo musical, não existem muitos sites e blogs segmentados no Brasil, o que, para ele, traz certa incerteza na hora de apostar na prática. Já Lucas Krempel, do Blog „N Roll, completa, acrescentando que quanto mais segmentado for o site ou blogs, com menos pessoas o endereço vai conversar e que, mesmo assim, as semelhanças de gêneros e gostos muitas vezes levam fãs de um tipo de produto para outro respectivamente. No entanto, para a sobrevivência, uma iniciativa que o dono do site ou blog precisa é adotar uma identidade, e é nessa que ele vai se pautar sempre que produzir algum tipo de conteúdo.

"Acredito que sim, mas isso deve ser feito com cautela. Quando eu comecei com o blog optei por falar sobre rock, porém muitas pessoas me questionavam de qual rock eu falava: se era metal, ou não, por exemplo. Eu cheguei à conclusão que não devia segregar mais o conteúdo, pois quando eu falo só de rock eu já sou minúsculo se comparado à variedade de gêneros musicais que existem hoje. No entanto, é natural que um gênero tenha ligação com outro: é super comum, por exemplo, fãs de rock se interessarem por rap e hip hop. Falo pelo Blog N‟ Roll: quando se trata de um gênero que não é a minha “praia”, eu não costumo dar tanto espaço, por não ser habituado com o gênero, mas dependendo do conteúdo dá para ser mais diversificado. O problema, e é aí que entra o trabalho de editor, é que não se pode deixar muito diverso, pois o blog ou site pode perder a linha editorial. Por exemplo, nunca escrevi sobre samba, pagode, sertanejo no blog, não


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porque não gosto, mas sim porque se eu subir algo do tipo, a identidade do blog se torna questionável."

Por último, a assessora de imprensa Isadora Âncora explica que esta segmentação está em fase de crescimento, mas não tão evidente. Ela compara os sites e blogs com as redes sociais neste quesito, que no caso é o impulso de publicação, o qual você escolhe quais perfis com determinados interesses terão acesso àquela publicação, mas reforça que esta ferramenta também pode ser aliada na disseminação do conteúdo, já que você pode atrelar essas configurações de impulso com os perfis que costumam acessar com mais frequência o seu site ou blog. É, mais uma vez, uma prova de que uma ferramenta depende de certa forma, da outra. A segmentação de conteúdo por parte do blog ou site pode ser a produção de textos sobre um único tema, apenas, porém isso faz com que estes blogs ou sites percam os acessos dos demais usuários com gostos paralelos.

"Acredito que a segmentação de conteúdo ainda seja uma coisa em expansão. As redes sociais já proporcionam isso, até quando você vai impulsionar uma publicação. Mas em sites mesmo, ainda é raro. Você adapta seu conteúdo para o público que é maioria no seu site, mas ter uma navegação personalizada para cada usuário ainda não é uma realidade. Isso ainda se restringe a cadastros de e-mail com interesses de leitores, e não uma navegação personalizada, de fato."

Em seguida, questionei os entrevistados se eles concordam com a afirmação dos blogueiros consultados de que, estima-se, a maioria dos leitores de blog musicais (entre 18 e 25 anos) são desprendidos de acessar um site de caráter mais tradicional por considerar a plataforma mais influente. O jornalista José Norberto Flesch concordou e caracterizou o blog como principal fonte de notícia, por parte do leitor, por ser mais sensível ao que o usuário da rede quer ler.

"Por vários motivos. Em primeiro lugar, o blog/site pode ter mais sensibilidade do que os tradicionais para perceber o que o leitor quer. Depois, nós sabemos que Rolling Stone e Billboard, principalmente no Brasil, não têm mais aquele cuidado do passado para continuarem sendo


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referência. Às vezes, a impressão que tenho é que apenas tentam sobreviver."

Já Lucas Krempel se contrapõe à fonte anterior, fazendo alusão ao que ele mesmo já havia comentado nas respostas anteriores. No momento em que o jornalista nega a afirmação por considerar a qualidade e dedicação com o texto como principais fatores contribuintes para a credibilidade do blog, Krempel ratifica que o trabalho editorial e cuidado com a ortografia vão fazer a diferença no trabalho final. Próximo disso está o produtor Santiago. Ele acredita que os blogs não são tão relevantes quanto anos atrás, mas atrela a hipótese às redes sociais, por considerar que as pessoas passam mais tempo nelas do que acessando o blog diretamente. É uma cascata e, com certeza, o excesso de visualizações de um vai gerar a falta em outro. Porém, Marcelo acrescenta que a relevância do veículo deve ser levada em consideração na repercussão do conteúdo, o que abre novos caminhos para a discussão. Ao mesmo tempo em que a chamada e link da matéria do blog está no Facebook e o leitor (assíduo ou não) encontrou esta publicação, mas não acessou o conteúdo, a repercussão que a publicação pode gerar em uma cena musical virtual é o fator que pode também impulsionar o endereço na produção de mais conteúdos – que podem ser ainda maiores, se somado a qualidade dos textos.

"Acho que a influência dos blogs já caiu muito, não os considero tão relevantes quanto anteriormente. Porque com o crescimento do Facebook sinto que o tempo despendido por parte dos leitores de blog migrou para a rede social, o que diminuiu o número de acesso nestes endereços e, consequentemente, a repercussão deles também. No entanto, acredito que a relevância de um veículo deve ser medida pelo seu conteúdo e sua repercussão, tanto faz se trata de uma publicação online ou impressa."

Rodrigo Ortega acredita que blogs não podem ser fontes mais relevantes que grandes veículos de imprensa. No entanto, considera características determinantes na escolha, por parte do leitor, entre um site ou blog. Além disso, ele destaca que os blogs, junto de tantos perfis em redes sociais como Facebook, Snapchat, Twitter, etc, compõem uma grande cadeia impessoal e mais próxima do leitor. Não necessariamente mais relevantes que veículos como


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Billboard ou Rolling Stone. Isso reforça a ideia de que ambas as plataformas – profissional ou amadora – estão lado a lado na busca por seus leitores. "Acho que o que os blogs têm como arma contra os grandes veículos é o seu poder de serem mais pessoais, informais, falarem mais a língua do leitor de uma cidade, de um determinado perfil, fã de um determinado artista. Acho difícil dizer se os blogs podem ter mais influência que a Billboard ou a Rolling Stone. Não conheço nenhum blog que, sozinho, tenha mais relevância que estas publicações. Mas, juntos, talvez, cria-se esta teia de blogs, youtubers, perfis no Instagram, Snapchat, Vine, etc, que sejam mais atraentes para determinados leitores do que uma revista mais sisuda como estas duas citadas, por exemplo."

Já Isadora Âncora finaliza a questão, completando o que já havia comentado, anteriormente, sobre redes sociais. Além do bom trabalho jornalístico (de formação ou prática), ela atribui a facilidade com que o site ou blog proporciona a informação para o leitor como característica contribuinte na escolha do usuário pela fonte em que ele vai se informar. Sendo assim, ratifica-se a hipótese de que o leitor vai escolher o que for mais cômodo para ele. Se ele está nas redes sociais, vai encontrar com muito mais facilidade o que for entregue na plataforma. Cabe ao site ou blog ter matérias bem feitas e interessantes para que esse leitor se interesse pela publicação, bem como o próprio leitor decidir se vai ler o conteúdo. É um jogo de interesses em que a comodidade e a ambição (por acessos e informação) vão se alinhar em busca do melhor para ambas as partes.

"Depende. O blog pode influenciar tanto quanto uma Billboard ou Rolling Stone. Se faz um bom trabalho, com informações confiáveis, não vejo motivo para não ser assim. O que faz o leitor procurar este blog e não a grande mídia, no caso dos impressos, é a facilidade no acesso à informação. No caso dos sites destes veículos já consagrados, acredito que o tipo de conteúdo seja diferente. A Billboard, por exemplo, mesmo no online mantém matérias mais sérias simplesmente informativas, enquanto outros sites opinam, usam adjetivos e outros artifícios que o aproximam mais do leitor, principalmente do público jovem. As redes sociais são como um filtro do site. Não são todas as matérias que entram nas redes sociais, então você precisa descobrir o que seu público mais procura e compartilhar essa matéria nas redes. Os leitores querem ir cada vez menos atrás da informação. Querem que a informação chegue a eles de maneira prática. Exemplo: Quantas pessoas você conhece que entram direto no site do Hugo Gloss, e quantas você conhece que seguem o Hugo Gloss no Facebook? É como se as redes sociais fossem o garçom que te serve as bebidas, sem que você precise ir no bar pegar."


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Em função das mudanças na indústria musical, perguntei também se as plataformas legais de compra e audição de música na internet tem alguma participação na mediação entre jornalismo e música, e como isso acontece hoje. O produtor Marcelo Santiago foi o único dos jornalistas que afirmou não ver nenhuma relação, enquanto os demais entrevistados apresentaram visões diferentes de como plataformas de streaming como Spotify auxiliam (se auxiliam) no trabalho do jornalista profissional ou amador. Flesch afirma que essas plataformas funcionam, hoje, como uma espécie de fonte para blogs, por exemplo, sendo o meio usado pelos escritores dessas plataformas para se inteirar de lançamentos específicos ou não. Lucas Krempel, do jornal A Tribuna, é um pouco mais objetivo, e acrescenta a facilidade de incorporar essas plataformas ao fator multimídia do jornalismo de internet. "Ajudam e muito. Os tempos são outros também. Hoje eu escrevo sobre um lançamento e coloco o player de um álbum que já está disponível para streaming no YouTube, por exemplo. Pode ser Spotify, Deezer, tanto faz, soma até demais". Isadora Âncora tem uma linha de pensamento próxima de Krempel nesse quesito, pois para ela tais plataformas legais de música digital colocam o veículo tradicional e o blog em igualdade. E ela tem razão. O Spotify, por exemplo, mesmo possuindo uma opção de incorporação do seu player em qualquer espaço de HTML – independentemente se é um site ou blog – apenas coloca a música à disposição. Mesmo que pareça ser um trabalho simples, isso já é um feito enorme. Em tempos atrás, quando a pirataria de música digital era mais intensa, sites e blogs ficavam a mercê de divulgar um conteúdo que podia ser ou não autorizado.

"Talvez antes a mídia tradicional tivesse certa vantagem nesse quesito, porque apenas a mídia tradicional recebia os lançamentos (ou a mídia amadora comprava ou ficava sem, o que dificultava um pouco o trabalho) e agora todo mundo tem acesso. Acho que as plataformas de streaming estabelecem certa igualdade, facilitando a mídia amadora."

Por último, Rodrigo Ortega afirma que as novas tecnologias de compra e audição de música digital auxiliam no desenvolvimento da indústria musical e do próprio jornalismo, pois o artista, gravadora e gerenciadores de carreira agora podem definir a melhor forma, para eles, de distribuir o conteúdo. E quando o repórter do G1 fala em distribuição de conteúdo por parte da música, ele se refere a entrevistas, prévias, lançamentos exclusivos e até mesmo, em


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casos específicos, gravações exclusivas (como os shows acústicos para o canal do Nação da Música no YouTube, por exemplo). Neste aspecto, sairão beneficiados tanto os sites de caráter mais tradicional, quanto os blogs, porém apenas os mais “bem posicionados” na mídia, afirma.

"Acho que as plataformas de audição e compra legal voltam a dar um pouco mais de poder tanto à indústria musical, quanto à mídia mais "profissional", pois tornam o mercado um pouco menos caótico do que na era com o Napster, YouTube e Piratebay. Houve uma época de revolução total, há mais ou menos dez anos, em que as gravadoras perderam o controle do que acontecia. Isso ajudou a tirar a relevância dos veículos tradicionais, que sempre trabalharam junto com essas gravadoras, e dar relevância aos blogs e veículos amadores. Exemplo: um blogueiro que ficasse a madrugada acordado esperando vazar o novo disco do Eminem poderia furar o repórter da [Folha] Ilustrada, que em tempos atrás recebia esse disco antes de todo mundo. Agora, com o Spotify e similares indicando um futuro mais promissor para a música legal, as gravadoras, agregadoras, assessorias de imprensa e o próprio artista podem planejar um pouco melhor a distribuição do seu trabalho e, com isso, voltar a ter uma parceria mais proveitosa com a mídia. Acho que isso vai beneficiar tanto blogs quanto veículos tradicionais que estiverem bem posicionados na internet e nas redes sociais. Pois o artista vai querer dar prévias, entrevistas exclusivas e outros materiais para quem for mais relevante - nisso, os ditos "amadores" ou piratas perdem espaço. O leitor também vai querer acompanhar um veículo que tenha o que dizer, que tenha bons jornalistas e repórteres, mais do que o cara que vai achar o Torrent de tal disco antes do outro."

Fechando a entrevista, perguntei para os cinco jornalistas o que eles consideram ser o próximo desafio do jornalismo musical e o que eles acreditam que o jornalista pode fazer para encarar esse desafio. As opiniões, como em grande parte das perguntas, foram respondidas com foco mais específico que o outro. O jornalista da A Tribuna reforçou a sua vontade em ver os blogs como algo mais valorizado financeiramente, e destacou que essas plataformas precisam ser tratadas com seriedade, e não como uma novidade. Flesch completa a fala de Krempel, e aponta que falta posicionamento, identidade, e se usa como exemplo ao afirmar que é necessário experimentar os novos modelos do fazer jornalístico, sem deixar os métodos tradicionais da profissão. "O maior desafio atual do jornalismo musical é se posicionar dentro do cenário. O modelo tradicional costuma se preocupar mais com o concorrente tradicional do que com o novo modelo. Acho que isso ainda vai durar algum tempo, mas considero preocupante. Eu, por exemplo, procuro transitar nos dois modelos."


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Marcelo Santiago diz que a internet abre possibilidades no âmbito editorial, e que fica a cargo do jornalista saber explorar o meio. Rodrigo Ortega compartilha da mesma ideia, porém se aprofunda um pouco mais. Ele acredita que o profissional jornalista deve aprender que ele não é mais a única voz de autoridade da rede (e olhe lá) no que diz respeito à crítica, mas também reforça que o profissional deve se preocupar em produzir boas reportagens, com personagens interessantes, aproveitar o feeling nato da profissão. O jornalista sinaliza também o fato do profissional saber separar “gosto pessoal com relevância cultural”.

"O próximo desafio do jornalismo musical é como se manter relevante nesta era do streaming, que parece que será a principal forma de as pessoas ouvirem música por um tempo. O jornalista deve se contentar em não ser mais a única voz de autoridade, mas sim em ser um bom repórter, contar boas histórias, aproveitar o potencial da internet para levantar dados e encontrar narrativas. Conhecer o passado, saber a linha do tempo do que faz sucesso agora através de playlists, identificar um novo fenômeno subindo nas paradas antes que todo mundo o veja no primeiro lugar, ir para as ruas e presenciar os fenômenos mais importantes quando for preciso, saber separar seu gosto pessoal de relevância cultural, entre outras habilidades."

Isadora Âncora destaca que, mesmo os blogs e sites exercendo jornalismo (seja por formação ou prática), os veículos costumam ser naturalmente beneficiados. É normal, então, que os blogs fiquem de fora de uma possível coletiva de imprensa anunciada por um artista internacional – isso sem atrelar a qualidade do blog. A assessora de imprensa finaliza que se trata de uma oportunidade que os próprios veículos precisam saber aproveitar.

"Em primeiro lugar, acho que não existe [muita] diferença entre jornalismo musical e meio de produção de conteúdo editorial livre na internet, porque ser a segunda opção não te exclui de ser a primeira também. [...] acredito que o grande diferencial ainda seja o acesso ao artista. [Digamos que] Você tem um blog incrível de música, se a Demi Lovato vem ao Brasil e dá três entrevistas, você não vai estar nessa lista, mas a Folha[de S. Paulo] vai estar. Cabe a Folha[de S. Paulo] saber aproveitar essa oportunidade para ter um diferencial. Isso é um exemplo, né? Ainda tem o credenciamento de repórter e fotógrafo em show, que é limitado, então os blogs acabam ficando de fora, tem a verba para se deslocar para um show incrível que não seja na cidade do veículo... Os veículos maiores ainda têm vantagens, só precisam saber aproveitar."


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ANÁLISE DE ENTREVISTAS COM MÚSICOS E EMPRESÁRIOS

5.1

INTRODUZINDO A MÚSICA

Ao longo do trabalho entendemos como veículos e blogs se pautam e qual a realidade da mídia musical no Brasil por meio dos respectivos editores-chefes dos endereços consultados, bem como se comportam e como funcionam as dinâmicas de produção. Ouvimos também jornalistas musicais do impresso, digital, das redes sociais, envolvidos com produção e até mesmo promoção de artistas, comentarem suas impressões do jornalismo musical praticado no país após o surgimento da internet. Falta a música. Esta parte da discussão tem a mesma proposta que o capítulo anterior, mas com um público específico. Conforme dito anteriormente, não dá para ouvir um tipo de fonte e tratar a fala como verdade universal. Além dos blogs e sites, é preciso entender o que dizem os jornalistas musicais e os próprios artistas, sabendo, claro, que todos fazem parte de um único cenário. No entanto, este trabalho não foi tão simples. Ao todo, 22 fontes ligadas à música foram contatadas entre os meses de agosto e outubro. Ao longo dos três meses de pesquisa de fontes, foram contatados cantores, bandas, músicos, produtores, empresários, agências de gerenciamento de carreiras, gravadoras, selos fonográficos e estúdios de gravação. Os métodos usados para entrar em contato foram email, Facebook e telefone. Das 22 fontes, quatro responderam aos questionamentos, sendo três os únicos que entraram de fato para o trabalho. Os demais: ou aceitaram, mas não puderam contribuir a tempo; ou se recusaram a participar; ou sequer responderam se aceitavam ou não participar (veja mais em “Anexo 2”). Em função da dificuldade em manter contato com as tantas fontes convidadas, o trabalho de seleção para o melhor resultado da monografia ficou comprometido. Muitas das fontes consultadas e que eram de grande interesse por parte do autor do trabalho não responderam ou se recusaram participar, o que fez com que seu espaço sempre ficasse aberto para um “plano „B‟”, “C”, “D”, respectivamente. A recomendação de fechar o capítulo com


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apenas três entrevistados foi do orientador do trabalho, devido ao número de convites e tempo gasto para seleção de fontes. O primeiro entrevistado foi o DJ e produtor musical Luiz Dias Lufer, do coletivo artístico Futuráfrica, de Santos. Os demais entrevistados são os empresários Antônio Augusto, do selo fonográfico HeartsBleed Blue, de Belo Horizonte, e Rafael Siqueira, responsável do também selo fonográfico Assustado Discos, de São Paulo. As entrevistas foram feitas por meio de email.

5.2

EXPONDO IDEIAS

Considerando os pontos citados nas entrevistas anteriores, questionei as três seguintes fontes sobre como cada uma observa o jornalismo musical praticado no Brasil, sob a perspectiva de quem atua no mercado musical. Lufer diz que é inevitável não haver extremos entre produções jornalísticas para internet, e que a “chave” para a melhor leitura é a busca do próprio leitor, porém não se aprofunda muito no assunto. Em seguida, Antônio Augusto já é um pouco mais objetivo, e acrescenta que o jornalismo musical praticado hoje não gera tanto conteúdo relevante como antes, e que geralmente as abordagens são limitadas.

"A produção de conteúdo é algo desafiador, independente do meio. Hoje, vejo poucos veículos gerando conteúdo relevante de uma forma com que possa ser debatido e questionado. As abordagens, raramente diferentes umas das outras, não fogem das informações básicas fornecidas pelas bandas/artistas."

Já Rafael Siqueira tem uma postura mais firme, e diz considerar o “jornalismo mais completo” que existe na rede atualmente. Porém, a fala dele não é uma crítica, e sim uma avaliação relativa dos pontos positivos e negativos da cobertura musical. Quando ele afirma que a internet oferece todo tipo de leitura, ele complementa a afirmação de um dos entrevistados do capítulo anterior, Rodrigo Ortega, que considera a rede um “ponto de partida”.


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Ao mesmo tempo em que vão existir grandes reportagens, com abordagens únicas, vão existir também notas mais “preguiçosas”, e que este comportamento terá reflexo em acessos, visualizações em páginas, curtidas, compartilhamentos, comentários, etc.

"Acredito que seja o jornalismo musical mais completo que temos hoje. A internet oferece todo tipo de leitura (ou visualização), umas mais superficiais, apenas com caráter informativo, e outras mais aprofundadas que incluem críticas interessantes sobre discos, artistas e mercado. Destaco o Scream&Yell, blog do jornalista Marcelo Costa, que trata dos assuntos de forma muito aprofundada e crítica, como acredito que deva ser um jornalismo musical de qualidade.Vale ressaltar que a liberdade da internet também traz problemas quanto à legitimidade das informações; portanto, vale fazer uma boa pesquisa e identificar os veículos de confiança e conteúdo responsável."

Em seguida, os entrevistados foram questionados sobre o papel do jornalista musical em tempos em que a variedade de plataformas e meios de se descobrir música se faz mais presente. De modo geral, as três fontes concordaram com o fato de que o jornalista não é mais a única voz de autoridade quando o assunto é música, porém cada um fez uma ressalva sobre o porquê desse cenário ser real, e o que o jornalista representa para a música no momento. Lufer, por exemplo, acredita que o jornalista não é mais um formador de opinião único, porém destaca que a leitura feita pela maioria das pessoas é muito limitada a preferências, então muita coisa acaba não sendo disseminada até mesmo por quem já está escrevendo na rede. Ele cita também as redes sociais, que basicamente, por causa das ferramentas de busca e filtro de gostos pessoais, acabam comprimindo ainda mais esta realidade.

"Concordo até certo ponto, mas ainda acho importante o papel que certos jornalistas, blogueiros ou simplesmente um amante da musica realiza em escrever, ou simplesmente disponibilizar um material que ele julgue interessante. O fato de haver essa variedade de plataformas, blogs especializados, Facebook, aplicativos, etc, para mim não significa que as pessoas irão ter acesso ao novo. Existe uma certa bolha no universo da rede mundial que mapeia, “scaneia” o que as pessoas curtem em suas redes sociais, as pessoas acabam ficando presas ali, pode parecer antagônico, mas apesar do livre acesso que temos, não creio que novos discos de novos artistas cheguem as pessoas. E sobre a relação da musica com a mídia? Depende do que o artista produz, e claro depende do que mais se vende hoje. Como vivemos tempos em que o sertanejo é a musica que "mais vende”, com certeza uma dupla do centro oeste do Brasil vai ter mais espaço e


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alcance do que uma banda indie, ou um rapper de outra parte do país, mesmo que seja de uma grande capital como São Paulo, por exemplo."

O empresário Antônio Augusto complementa a resposta de Lufer, e destaca o papel da indústria musical na nesta relação da mídia com a música. Para ele, o fato de nem todos os jornalistas serem tão “fortes” ou “claros” faz com que a indústria, por meio das plataformas digitais, como Spotify, começarem a ser uma “voz de autoridade” também. Usando a empresa de streamings como exemplo mais uma vez, cada música disponível na plataforma possui um medidor que mostra a popularidade da faixa, bem como as tantas playlists assinadas pela empresa são muito ouvidas e possuem uma exposição maior que a de diversos artistas. É como se fosse um nova forma de “jabá”. A fala de Augusto pode ser comparada também com a do jornalista Lucas Krempel, que criticou o fato de jornalistas não possuírem habilidade para empreender, e que os que possuem aprendem com o tempo, por vontade própria ou por pressão do mercado.

"A forma como as pessoas consomem as informações musicais mudou e isso se deve às grandes plataformas digitais, sem dúvida. Mesmo assim, ainda utiliza-se muito a ideia de um formador de opinião não só para tomada de decisão de compra de um produto, mas também para a sua aceitação no mercado.Talvez, com o fato do jornalista de forma geral não desempenhar esse papel de formador de opinião de uma forma tão forte ou clara, as empresas digitais viram essa como uma oportunidade para, além de se divulgarem, conquistarem mercado."

Já Rafael Siqueira não entrou muito na questão do jornalismo, porém se mostrou mais seguro quanto às mudanças na indústria musical. Após isso, perguntei para os entrevistados se é possível dizer que hoje o leitor se desprende de acessar conteúdos feitos por veículos de caráter mais tradicional por conteúdos feitos por blogs. O produtor Lufer ratificou o fato de que o leitor vai buscar aquilo que já faz parte do seu interesse em pesquisa e acompanhamento nas redes, e que somente a curiosidade pessoal, o anseio pelo novo e o seu circulo social podem resultar em uma leitura alternativa. Não necessariamente, segundo o mesmo, é uma escolha do leitor ler ou não um veículo tradicional.


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Antônio Augusto é mais firme e diz que para melhor entender se o leitor busca o conteúdo de um blog ou de um veículo de caráter mais tradicional, é necessário analisar o conteúdo fornecido por esses meios de informação, pois isso é o que está em voga. Ele também compartilha da mesma ideia que o produtor Luiz Dias Lufer, de que o leitor vai atrás de quem oferece melhor o que ele gosta, e ponto. Destaca também o papel das redes sociais neste contexto, que mais deveria ser de mediador, mas acaba sendo, muitas vezes, a palavra final da informação.

"O leitor vai ler a informação sobre seu artista/banda independente do veículo onde ela seja publicada, desde que contenha relevância, que traga algo novo e inédito para o público. Antes de questionar grandes portais ou blogs, temos que refletir no conteúdo que está publicado nos mesmos. Isso sim é o que faz a maior diferença para atrair leitores, no dia de hoje. Isso mostra o porque das redes sociais estarem tão em alta. Em pouco espaço de tempo você consegue se alimentar de diversas fontes e sobre diversos temas e selecionar o que realmente é de seu interesse para leitura e futuras pesquisas."

O empreendedor Rafael Siqueira já se mostra mais contra esta ideia, e diz que os veículos tradicionais, incluindo os da internet, vão proporcionar maior exposição de artistas que os endereços menores. Isto é fato, porém, como foi dito na entrevista com a jornalista e assessora de imprensa, Isadora Âncora, nem todos os artistas chegam a esses veículos maiores, e a exposição em muitos veículos / blogs menores, até mesmo segmentados, podem garantir uma presença na mídia maior que uma única apresentação na Rede Globo de Televisão, por exemplo. Simplesmente porque o artista que se fizer presente em muitos endereços estará no centro de uma discussão virtual, que somada às redes pode ganhar proporções ainda maiores.

"A música de massa há muito tempo corre em um caminho paralelo a esse conteúdo presente na internet, o qual estamos destacando. Ela continua atuando nos veículos tradicionais, que ainda tem o poder de potencializar em grande escala esses segmentos. Aparecer na TV Globo, na revista Veja ou em outros veículos conservadores, ainda garantem popularidade aos músicos brasileiros. E normalmente esses veículos expõem uma música mais simples, nem sempre com conteúdo educativo/cultural, o que nivela por baixo nossa produção contemporânea."


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Tendo em vista o posicionamento dos três entrevistados sobre a questão anterior, perguntei em seguida se, para eles, existe uma diferenciação entre os blogs e veículos de caráter tradicional, e como que cada um se porta em relação às duas plataformas de informação. Das três fontes, Luiz Dias Lufer é o único que acredita nesta diferença, e atrela ao gosto pessoal do blogueiro como fator contribuinte no momento em que ele se pauta. No entanto, ele também destaca que os blogs são hoje os “jornalistas” que mais se envolvem com o universo musical, e que - por isso - critica os veículos tradicionais por fazer mais resenhas do que reportagens.

"Existe sim uma grande diferença dos veículos online tradicionais para aos blogs, principalmente se esse blog pertence a um pesquisador, que muitas vezes pode ser um DJ. Muitos tem o compromisso com seu gosto, e não com seu bolso, seu texto será pautado pela sua visão musical, mesmo que seja uma tradução de algum site estrangeiro como acontece muito, ele terá um universo musical inesgotável para abordar. Os veículos tradicionais em sua maioria se resumem a fazer uma critica, e colocar suas estrelinhas. Eu sempre opto por blogs especializados em um ritmo, como também os que pautam pela diversidade."

Os demais entrevistados foram mais contra esta diferença, porém destacaram o crescimento do blog como uma plataforma capaz de ser tão influente quanto um veículo tradicional. Antônio Augusto, por exemplo, diz que vai depender somente do blog, e consequentemente, da relevância do conteúdo chegar a este posto. Nós, jornalistas, temos a credibilidade atrelada ao nosso trabalho, e que o jornalista precisará oferecer conteúdo relevante para o público, bem apurado e interessante para ele. Porém, um veículo tradicional já nasce com um reflexo positivo para si mesmo, de profissional, enquanto o blog tem que se impor para deixar a imagem de amador. Rafael Siqueira, por sua vez, complementa a resposta de Augusto,

"Não vejo diferença ou a necessidade em ter que classificar um blog ou site, acho que hoje, com a alta velocidade de transformação, um blog pode rapidamente se transformar num portal de notícias. Vai depender somente dele e da relevância do seu conteúdo. [Augusto, Antônio, dono do selo fonográfico HeartsBleed Blue]" "Acredito que não, justamente pela diferença de conteúdo, de investigação e de profundidade nos temas tratados. As pessoas por trás dos principais blogs


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de música no país, atualmente, são pessoas inteiramente envolvidas com o mercado, pessoas que conhecem do que estão falando e se relacionam com os agentes da cadeia produtiva.[Siqueira, Rafael, dono do selo fonográfico Assustado Discos]"

Outro ponto citado foi a suposta “crise” na indústria musical presente hoje. No geral, as três fontes disseram que esta crise existe e que ela é fruto da má adaptação da indústria para os novos modelos de produção e venda que são continuamente modificados ao longo do tempo. No entanto, apenas um dos três entrevistados entrou na questão da mídia, e foi o empresário Rafael Siqueira. Para ele, a alternativa para uma cobertura da mídia é a consulta em veículos menores, como os blogs.

"Acredito que existam ciclos e que o mercado precisa sempre se adequar aos tempos modernos. O streaming é uma realidade, a queda dos números da indústria fonográfica é outra, mas existem hoje oportunidades reais para empreender em diversas escalas, na área música. Falando por mim, tenho um pequeno selo, que hoje é autossustentável, e minha única atividade profissional. Nunca serei financeiramente rico através do Assustado Discos, mas empreender e viver o que acredito me possibilita ter uma qualidade de vida rara nos dias de hoje. A grande mídia sempre manipulou a informação, e hoje não é diferente. Ela atua de acordo com seus interesses, pode ser perigosa, mas com as redes alternativas cada vez mais presentes e profissionais nos ajudam a desmascará-la."

Perguntei às três fontes quais os próximos desafios da indústria musical e como o jornalismo pode ser um aliado e ferramenta de modificação e melhora de um cenário. Desta vez, os três não descartaram a responsabilidade que o jornalismo possui neste aspecto. O empresário Antônio Augusto afirmou que sempre haverá espaço para bons jornalistas e bons veículos, independentemente de pontos de vistas. Lufer destaca um reforço aos lançamentos físicos juntamente da ascensão dos digitais, bem como um esforço maior por parte do jornalismo de observar o entorno musical. Ir à rua, entrevistar artistas e identificar possíveis novos “sucessos”.


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"Manter os streamings, e ao mesmo tempo fomentar de forma sustentável as mídias físicas, apostar na diversidade, dar oportunidades a todos os ritmos musicais seria uma saída. E quanto aos jornalistas, esses precisam estar nos eventos, observar o movimento local de sua cidade, seu bairro, buscar novas pautas no mundo real, às vezes existe um puta banda que pode não ter um alcance na redes sociais. Imagine se esse jornalista descobre um novo Chico Science em sua rua?"

O empresário Rafael Siqueira contou que acredita nos “pequenos empreendedores”, e depois disse que o bom planejamento por parte de um veículo – ou até blogs – pode resultar no êxito de um trabalho musical. Neste momento, Siqueira deixa claro que, à parte o fator profissional do endereço, o que está em voga hoje é a qualidade do trabalho, e não o nome.

"Eu realmente acredito nos pequenos empreendedores, acredito no trabalho com verdade e conteúdo. Acredito na Casa do Mancha, no Laboratório Fantasma, no selo Heart Bleed Blue, no Festival No Ar Coquetel Molotov e no Trabalho Sujo, para citar alguns. A boa comunicação e a boa divulgação têm papeis fundamentais no desenvolvimento de um projeto, acredito que com um bom planejamento nessas áreas o trabalho ganhe um alcance muito maior."


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No dia 23 de abril de 2016, a indústria musical se revestiu em um alvoroço de uma hora para outra mais uma vez. Isso porque o sexto álbum da cantora norte-americana Beyoncé, “Lemonade” (Columbia Records), foi disponibilizado em plataformas de venda e audição digital pago sem aviso prévio. Assim como o projeto de 2013, o novo trabalho trouxe recordes de vendas, audição em serviços de streaming, públicos em shows e a dúvida quanto os limites do jornalismo musical. Com apenas uma semana de pesquisa no Google (de 23 a 30 de abril de 2016), de aproximadamente 712 mil links84 reconhecidos no mundo todo, os resultados variam entre vídeos, resenhas para o álbum, matérias sobre o lançamento e até algumas curiosidades sobre o projeto. Nos veículos internacionais, até houve entrevistas com o pai, a irmã, a amiga da cantora e alguns produtores envolvidos. Nos brasileiros, matérias feitas com o que já estava na internet, inclusive nas redes sociais. Pensar que o jornalismo musical ainda está em modificação pode soar redundante, repetitivo, subjetivo e até insano para quem discorda que a internet mexeu com o modo operante de grandes redações até o teclado – físico ou virtual – do cidadão comum. Mas isso só acontece porque a cobertura jornalística feita para a internet hoje é engessada para as possibilidades que o profissional tem em mãos nesta plataforma. Apesar de ter uma pequena contribuição, a cantora Beyoncé, que foi retratada em dois momentos desta pesquisa, está longe de ser um problema; ela é só mais um exemplo de que a inércia do digital afeta a prática do jornalismo musical. Ao longo do trabalho, 36 fontes – entre jornalistas, blogueiros, redações, cantores, produtores, bandas, empresários e agências de gerenciamento de carreira – auxiliaram, respondendo ou não, na formulação de três pontos de discussão, bem como os problemas e possíveis soluções: se existe jornalismo musical de música internacional no Brasil, qual o papel do blog e se ambos possuem responsabilidades no desenvolvimento da indústria musical.

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Disponível em: <https://goo.gl/gmtmIW>Acesso em: 17 de out. 2016.


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É possível fazer jornalismo musical para a internet, inclusive sobre música internacional. A música internacional é muito difundida no Brasil e tem público; logo, precisa de uma fonte de informação que converse com ele. Nota-se, entretanto, que este jornalismo é vago, pois precisa de fontes primárias de informação que estão em outros países, e não vão conceder uma entrevista ou nota à imprensa nacional com tanta facilidade quanto para os veículos americanos, britânicos e australianos (os três maiores mercados musicais). Como estratégia para esta realidade, veículos brasileiros, por exemplo, usufruem do conteúdo produzido fora do país para publicar em seus respectivos endereços, o que acaba resultando em um material redundante e pouco aprofundado. É uma cascata. Infelizmente, quando falamos de um suposto lançamento internacional, não há o que fazer além do óbvio: notas, resenhas, matérias com curiosidades, etc. Porém é neste momento que o “feeling” jornalístico para o que acontece em volta e com mais proximidade deve se fazer presente, mesmo que com alguns empecilhos. Boa reportagem traz resultados e não é de hoje, mas o jornalista, de um grande veículo ou não, precisa de investimento para realizar esta reportagem. Requer tempo, planejamento e outros recursos por parte do veículo. Nem todos podem se dar ao luxo, por isso a cobertura de um lançamento internacional, que é maioria na mídia brasileira, é limitada ao que já está nas redes, só que em outra língua. Por outro lado, abre-se espaço para uma cobertura jornalística nacional paralela à música feita fora do país, que também possui seus desafios. Falo por experiência própria, das 21 fontes ligadas à música consultadas via email, Facebook e telefone para o trabalho, apenas três entraram para a monografia. Alguns aceitaram participar, porém não responderam os questionamentos, outros simplesmente recusaram, e teve também os que nem aceitaram, nem recusaram – estes são a maioria. De acordo com as entrevistas com jornalistas musicais, foi possível absorver que eles mesmos sentem falta de uma cobertura de música nacional no lugar de uma internacional que não exige muito do profissional além da curadoria feita das redes. Porém fica difícil realizar este trabalho, e sendo assim dar mais vazão à música nacional, quando os artistas que estão mais próximos se recusam a dar uma entrevista para um simples trabalho acadêmico que levou meses de elaboração. Uma das primeiras fontes consultadas – e não cabe expor nomes – aceitou participar do trabalho por meio da assessoria de imprensa. A conversa com a assessoria do artista solo


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levou cerca de um mês via email, para sete perguntas que podiam ser respondidas num prazo de duas semanas no máximo. Aos “45 do segundo tempo”, a assessoria voltou atrás e recusou o convite porque estava “com muitos trabalhos para realizar” no curto período que sobrava. Oras, em um mês daria para responder as sete perguntas no prazo estipulado duas vezes via email. Outro caso intrigante envolvendo o grupo das 21 fontes aconteceu com uma banda. Após uma semana de contato via email e Facebook, resolvi reenviar o convite para os mesmos endereços, pois não tive o retorno esperado. Em resposta, um dos integrantes pediu desculpas, recomendou que eu enviasse o convite pela terceira vez e completou que agora a banda possui uma assessoria de imprensa que “está gerenciando as entrevistas que o grupo concede”. Não se trata de uma abolição às assessorias de imprensa, pois elas são importantes para o assessorado e muitas vezes auxiliam o trabalho do jornalista, mas o fato do artista e assessoria julgar onde ele deve “aparecer” cria uma falha na comunicação com a imprensa, que consequentemente causa uma perda para o público, que fica sem muitas entrevistas, reportagens, etc. Conclui-se, então, que, para o jornalista, é necessário que ele explore o entorno e valorize mais a música nacional no lugar da falta de conteúdo jornalístico sobre música internacional. E, para a música, que explorem mais as possibilidades de exposição positiva na mídia, permitam mais entrevistas tanto para grandes veículos, quanto para pequenos blogs. O volume de exposição pode chamar a atenção de um para o outro, porém faz diferença a longo prazo. Sobre os blogs, fica mais que claro que a ideia do senso comum sobre os blogs não é a mesma que há mais de dez anos atrás. Mesmo os que não são escritos por jornalistas, os blogs possuem uma força de influência exorbitante, tão grande quanto a de veículos consagrados nacionalmente. O Tenho Mais Discos Que Amigos!é um exemplo: criado por um profissional não jornalista, que escreve muito bem, tem influência no meio e possui uma interatividade com fãs, principalmente, do gênero rock tão forte quanto de grandes redações. Como disse a jornalista e assessora de imprensa Isadora Âncora nesta pesquisa, colocar blogs e veículos tradicionais uns contra os outros é perigoso, pois um complementa a função do outro. O problema fica para a profissionalização do blog, que muitas vezes é


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iniciado porque o criador gosta de escrever sobre tal assunto. Junto dele, estão as redes sociais também, que cumprem o papel de levar o conteúdo de sites e blogs para os usuários que passam grande parte do tempo navegando na internet por meio de Facebook, Twitter, etc. No entanto, estas redes são superficiais, e exigem conteúdo mais aprofundado nas páginas de sites e blogs para que a locomoção virtual do usuário da rede não seja desperdiçada. É como se uma boa reportagem fosse a isca de um anzol, um veículo consagrado ou um grande blog. Mas para isso é preciso tempo, dedicação, feeling jornalístico e trabalho conjunto com a indústria musical. É um ciclo que pressionou o repeat e que deve continuar incansavelmente, até a próxima reinvenção da internet e seus modelos de produção de conteúdo jornalísticos.


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REFERÊNCIAS

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ANEXO 1

1

SITES E BLOGS

1.1

BILLBOARD BRASIL

ENTREVISTAS NA ÍNTEGRA

Rodrigues – Como é a prática do jornalismo musical sobre conteúdo internacional na internet? De onde surgem as pautas, como é o trabalho de apuração e checagem de informação? Há impedimentos nesse processo, a ponto de comprometer o trabalho da reportagem? Lauro – No caso da Billboard Brasil, a gente usa como fonte principal a Billboard norte-americana – já aconteceu de usarmos outras também, como a Billboard Argentina, mas é raro. Mas claro que, citando as devidas fontes, podemos repercutir notícias publicadas em outros sites, sem problemas. Nesses casos, de tradução/adaptação, a apuração fica limitada a ler fontes diferentes e confiáveis sobre a mesma pauta. Fugimos de tabloides, por exemplo. O jornalista musical tem parcela de responsabilidade no desenvolvimento econômico da indústria musical? Como isso acontece? Qual o papel deste profissional na mediação entre a música, o público e a própria mídia? Já teve responsabilidade, hoje não. As redes sociais tomaram o lugar do “crítico musical”, aquele ser sisudo que ficava dizendo o que era bom ou ruim (aliás, tem um texto muito bom sobre isso: https://t.co/Ziukdksoaf). Hoje a crítica musical funciona mais como um filtro: é muito conteúdo sendo lançado todos os dias e a crítica, quando aborda um ou outro artista, está mandando um sinal para o leitor de que é interessante ouvi-lo. O caminho da crítica é a segmentação: quem fala sobre muitos gêneros e artistas diferentes fica sem foco, quem fala sobre gêneros específicos vira referência naquele terreno. É possível traçar um panorama atual da mídia on-line sobre música internacional, principalmente do gênero “pop”? Quais os pontos positivos e negativos que você enxerga? O pop/mainstream é, como sempre, jovem, muito jovem, e a mídia acaba acompanhando esse tipo de público: ele lê pouco, não se prende a uma página por muito tempo e é muito visual. Então são matérias curtas e, de preferência, com conteúdo multimídia. Essa adequação é o ponto positivo, mas pode ser o ponto negativo se a análise for mais


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“romântica” em relação ao jornalismo – uma nota de dois parágrafos curtos já é considerada conteúdo relevante. Existe conflito entre o conteúdo “jornalístico” on-line profissional e amador? De onde surge esse impasse? Hoje o que está em voga é o poder de influenciar. O conteúdo jornalístico, como conhecemos mais tradicionalmente (com apuração, responsabilidade etc) não é levado tão em conta pelo leitor. Então, o veículo sério tem mais trabalho na hora de espalhar o seu conteúdo: ele precisa continuar “tradicional” em relação ao conteúdo, mas chamar a atenção de quem já lê muita coisa em timelines. Já o amador publica qualquer coisa, sem muita responsabilidade, e joga para a audiência decidir se aquilo é bom ou não. Obs.: sempre existiu jornalismo ruim (vide o termo “jornalismo marrom” criado nos EUA nos anos 1920, se não me engano), mas hoje ele é mais visível. O número de blogs cresce constantemente, e aconteceu naturalmente junto com a demanda crescente de veículos tradicionais migrando para a internet, porém não existe um “código” que diferencie os conteúdos de um e outro, apenas teorias de alguns jornalistas, etc. Prova que é comum haver confusão entre o que é veículo tradicional e mídia amadora devido tão encorpados os dois meios são. Para você, isso compromete a atuação dos dois? Acho que bate um pouco na resposta anterior. Hoje, há blogs tão ou mais conceituados do que muita marca grande do jornalismo – o PapelPop é um exemplo: muito bem feito, com entrevistas bacanas, relevância etc. Fica para o público decidir se aquele blog ou site é bom ruim, se dá muita barrigada, muita informação sem fonte confiável etc. O fato dos principais meios de compra e audição de música serem on-line (iTunes, Spotify, etc) facilita o crescimento do mercado editorial para música na internet? Plataformas como Last.Fm tem parcela de responsabilidade nesse processo? Essa é a revolução que vivemos, muito maior do que a revolução do CD e até do download (legal ou não). Hoje as pessoas não precisam nem baixar música mais para ouvir, é só clicar em play. Isso, claro, ajuda o jornalismo online: consigo dar uma nota sobre um artista, incorporar o disco dele na nota, dar a música mais recente assim que ela sai, fazer embed do clipe no YouTube assim que ele é publicado etc. A Last.Fm foi importante porque nos ensinou a descobrir novos sons apenas navegando, sem precisar buscar... um artista leva a outro, que leva a um gênero, que leva a um país e com poucos cliques você estava ouvindo um artista, sei lá, da Tanzânia. O mercado editorial online apanha um pouco nesse processo, mas é um problema do jornalismo em si (independente se é online ou tradicional). O jornalismo ainda


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está aprendendo a acompanhar tudo isso e, com erros e acertos, vai conseguindo. O problema é que quando o jornalismo aprender, vem mais uma revolução e muda tudo. Pode ser desesperador ou divertido, depende do ponto de vista. Pode falar um pouco sobre a história da Billboard Brasil? Como começou, destacando pontos fortes, grandes coberturas etc. Bom, eu estou na Billboard Brasil há pouco mais de um ano e cinco meses. Então, antes disso, o que eu sei da revista é como leitor e pessoas que acompanha o mercado editorial... não tenho informações mais aprofundadas sobre o período anterior ao que eu estou lá. Mas a marca está no Brasil há cerca de 6, 7 anos e já “nasceu” aqui como revista impressa, com o site apenas com complemento da versão de papel. Hoje o jogo virou e a marca é 100% online – a revista impressão não existe há cerca de 2 anos. No período em que estou lá, já cobrimos dois Lollapaloozas, um João Rock e diversos shows internacionais – incluindo os quatro dos Rolling Stones no Brasil: RJ, dois em SP e RS. Conte um pouco sobre o sistema de monitoramento “Top 100”. Qual a importância que ele tem em cima do público, da indústria musical nacional e internacional e da própria mídia? Aí temos duas respostas, sobre dois “produtos” diferentes. “Hot 100”: ranking da Billboard norte-americana, que apenas reproduzimos aqui, semanalmente. Ele é feito pela Nielsen Media Research, uma empresa gigante do ramo de pesquisas. Ele soma vendas físicas de singles, downloads (legais, claro), audições em streamings e execuções em rádio e forma uma lista das 100 mais daquela semana. É considerado, hoje, o ranking oficial dos EUA – há muitos anos havia outro, o Cash Box, que rivalizava. É o ranking que diz, oficialmente, o que faz sucesso no pop norte-americano e, por consequência, mundial. Existe também o Brasil Hot 100. Toda semana, a Crowley, empresa que monitora rádios em todo o Brasil, nos fornece as 100 músicas mais tocadas e o nosso ranking é formado apenas por essa informação. A Billboard Brasil carrega grande nome dentro da história tanto econômica, quanto social, da indústria musical devido a própria versão americana. Visto este “legado”, qual a realidade atual da empresa e como ela se diferencia das coberturas de outros sites de caráter profissional? O nosso diferencial é a cobertura do que é chamado mainstream com o cuidado de peneirar o que de fato é relevante ou não. Dificilmente nós damos notícias sobre vida pessoal de artistas, mesmo sabendo que é o que dá mais audiência. Nosso assunto é música e procuramos focar nisso. Claro que quando é um acontecimento


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extraordinário, como um casamento entre pessoas da música ou algo do tipo, acabamos abordando de alguma forma. Qual a média e histórico total de acessos? E sobre o trânsito online? De onde vêm os acesso etc. Nossa média de acessos por mês é de 1,3 milhão. Mais de 50% vem do Facebook, cerca de 30% vem do Terra (que é nosso parceiro, mas vamos mudar em breve) e o restante se divide entre Twitter e buscas no Google.

1.2

NAÇÃO DA MÚSICA Rodrigues – Como é a prática do jornalismo musical sobre conteúdo

internacional na internet? De onde surgem as pautas, como é o trabalho de apuração e checagem de informação? Há impedimentos nesse processo, a ponto de comprometer o trabalho da reportagem? Andressa Oliveira – Em um primeiro momento, os editores do site fazem uma espécie de banco de dados com vários portais de notícia internacionais, que podem servir de fonte para as notícias. Além disso, buscamos olhar as redes sociais das bandas - Facebook, Twitter, Instagram – para ver se encontramos possíveis pautas. Todos os dias, fazemos algumas pesquisas nesses sites para ver o que foi divulgado de relevante, que se encaixe ao público alvo do site e então passamos adiante. Ao passar a pauta para os redatores, eles têm a função de pesquisar em outros sites, para checar o que já foi visto no primeiro momento. Às vezes, apesar de um tweet, não é possível elaborar uma matéria por falta de informação. O jornalista musical tem parcela de responsabilidade no desenvolvimento econômico da indústria musical hoje? Como isso acontece? Qual o papel deste profissional na mediação entre a música, o público e a própria mídia? Sim, é uma forma de espalhar as informações e fazer com que o público saiba tudo o que está acontecendo com o músico em seu âmbito profissional. Você consegue manter o músico ou banda em destaque, para que ele seja visto e consequentemente o público que gosta daquele tipo de som, consuma mais suas músicas em serviços de streaming, indo em shows e tudo mais. Além disso, o público espera uma opinião mais contextualizada de jornalistas dos veículos sobre os lançamentos de CD's e isso também influencia diretamente nas vendas dos discos. Um grande exemplo é o Pierce The Veil, que anda cada vez mais conquistando o público por conta da boa


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crítica que recebeu em seu último disco, lá nos Estados Unidos. Eles conseguiram uma visibilidade e estão crescendo com isso. É possível traçar um panorama atual da mídia online sobre música internacional, principalmente do gênero “pop” ou, numa visão mais ampla, mainstream? Quais os pontos positivos e negativos que você enxerga? Não sei responder. Existe conflito entre o conteúdo “jornalístico” online profissional e amador? De onde surge esse impasse? Acredito que não exista nenhum conflito entre esse conteúdo, não no meio musical. Cada portal, site, jornalista, gera suas matérias informações, sem se preocupar muito com quem tá do lado. A Nação da Música, por exemplo, é muito especifica. Trabalhamos em cima dos nossos erros, tentamos dar nosso melhor constantemente, e ir melhorando. Olhamos para dentro para ver o que estamos errando e ir corrigindo, fazendo o site andar. O número de blogs cresce constantemente, e aconteceu naturalmente junto com a demanda crescente de veículos tradicionais migrando para a internet, porém não existe um “código” que diferencie os conteúdos de um e outro, apenas teorias de alguns jornalistas, etc. Prova que é comum haver confusão entre o que é veículo tradicional e mídia amadora devido tão encorpados os dois meios são. Para você, isso compromete a atuação dos dois? Novamente, não acredito que exista uma confusão entre os dois meios. Cada um faz o seu trabalho, de acordo com suas editorias e o público sabe distinguir bem o que é um veículo tradicional do amador. Apesar de achar que não existam amadores nesse meio, apenas alguns veículos que seguem uma linha não tão tradicional e que dessa forma conseguem abranger outros assuntos nos seus sites. O fato dos principais meios de compra e audição de música serem on-line (iTunes, Spotify, etc) facilita o crescimento do mercado editorial para música na internet? Plataformas como Last.Fm tem parcela de responsabilidade nesse processo? Sim, uma vez que se consome a música no computador, é possível procurar mais informações sobre o artista ou banda nos sites especializados e acabar se inteirando ainda mais sobre todo o processo que envolveu o disco que ele ouviu, ou o propósito que uma música foi lançada. Uma coisa acaba ajudando a outra. As pessoas buscam sempre por facilidades, e por já estarem ouvindo seja pelo computador, tablet, smartphone etc... elas acabam procurando nas respectivas plataformas saber mais sobre aquilo.


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Qual a média e histórico total de acessos? E o trânsito? De onde vem estas visitas? O histórico total nós não temos, mas do dia 13 de junho de 2016 até o dia 13 de julho de 2016 foram 210 mil visualizações de página e 149 mil usuários únicos no site. As visitas vêm dos mecanismos de buscas, das redes sociais do site e dos compartilhamentos dos nossos links por parte do nosso público. Você pode falar também sobre a história do Nação da Música. Como começou, destacando pontos fortes na sua opinião, coberturas, etc. A Nação da Música começou em 2006, quando o Rafael Strabelli tinha apenas 13 anos. Por conta disso o site não era uma coisa tão levada a sério por ele, até que aos 18 anos, firmou o nosso primeiro contrato, que aconteceu com Vírgula / UOL e a partir desse momento o trabalho começou a ficar sério. Logo em seguida fomos para o Terra, onde nós ficamos por dois anos e desde a saída do portal, nós nos mantemos independentes. A Nação da Música no começo era um blog com webrádio, que foi crescendo bastante, ganhando público na época, porém como o Rafael desconhecida de direitos autorais, foi alertado pelo ECAD na época e isso tudo fez optar por dois caminhos: ou parar com a 'diversão' ou continuar como um site de música mais no sentido jornalistico, que foi o caminho escolhido. O Rafael então passou um tempo estudando jornalismo, conhecendo técnicas e aprimorando a escrita, e logo em seguida pintou a parceria com o Vírgula / UOL. Além disso também desenvolvemos um conteúdo próprio no nosso site, com colunas, resenhas de discos, coberturas de shows, listas, playlists e muito mais. Ao todo atualmente nossa equipe tem pouco mais de 25 pessoas colaborando com o site ativamente. Também somos embaixadores do Lollapalooza Brasil desde a terceira edição - mesmo participando ativamente desde a primeira edição, não havia ainda a parte de embaixadores -, também fomos convidados para ser embaixadores do antigo festival Planeta Terra e fazemos coberturas de shows não só aqui no Brasil, mas no exterior com alguns colaboradores do site que vivem fora do país.

1.3

TENHO MAIS DISCOS QUE AMIGOS! Rodrigues – Como é a prática do jornalismo musical sobre conteúdo

internacional na internet? De onde surgem as pautas, como é o trabalho de apuração e checagem de informação? Há impedimentos nesse processo, a ponto de comprometer o trabalho da reportagem?


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Aiex – Você tem que aprender a lidar com fontes que têm credibilidade e também confiar muito no seu feeling, porque elas podem errar também. As pautas surgem de várias formas, tanto a partir delas quanto a partir de releases oficiais, que também recebemos. O único ponto "comprometido" é que é praticamente impossível checar com equipes internacionais sobre a veracidade de fatos já que isso impossibilitaria dar a notícia na velocidade da Internet. O jornalista musical tem parcela de responsabilidade no desenvolvimento econômico da indústria musical? Como isso acontece? Qual o papel deste profissional na mediação entre a música, o público e a própria mídia? Tem parcela, mas eu não sei dizer o tamanho dela. O jornalismo musical é fundamental para que o conteúdo de bandas e gravadoras de todos os portes seja levado ao público, mas nos tempos em que vivemos, é difícil precisar a porcentagem desse público que acaba consumindo efetivamente. No digital é mais provável, e isso tem afetado o crescimento econômico de gravadoras principalmente. Já no físico é mais difícil saber. É possível traçar um panorama atual da mídia on-line sobre música internacional, principalmente do gênero “pop”? Quais os pontos positivos e negativos que você enxerga? Nós no TMDQA!começamos a falar de pop há pouco tempo, mas optamos por dar uma abordagem jornalística e mais musical, falando sobre lançamentos de discos, clipes, novidades, etc. Boa parte dos outros veículos tem uma abordagem muito mais popular mesmo, mais adequada ao seu público. Não vejo como pontos negativos e positivos, mas sim como ligações com seus públicos. Existe conflito entre o conteúdo “jornalístico” on-line profissional e amador? De onde surge esse impasse? Não existe conflito porque na maioria dos casos o conteúdo amador não tem tanta repercussão assim e/ou logo de cara percebe-se que trata-se de algo em que não se pode confiar. Ao mesmo tempo, há muita gente "amadora" escrevendo muito bem, e são ótimos locais para que textos sejam publicados, trabalhos mostrados e essas pessoas eventualmente escrevam em veículos maiores. O número de blogs cresce constantemente, e aconteceu naturalmente junto com a demanda crescente de veículos tradicionais migrando para a internet, porém não existe um “código” que diferencie os conteúdos de um e outro, apenas teorias de alguns jornalistas, etc. Prova que é comum haver confusão entre o que é veículo tradicional e mídia amadora devido tão encorpados os dois meios são. Para você, isso compromete a


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atuação dos dois? Acho que veículo tradicional é uma coisa, mídia amadora é outra coisa e blog é outra coisa ainda. Não dá pra chamar todos os blogs de mídia amadora, já que muitos são mais profissionais que muitos veículos já estabelecidos. Acho que não há comprometimento, mas sim uma adequação a novas realidades. O fato dos principais meios de compra e audição de música serem on-line (iTunes, Spotify, etc) facilita o crescimento do mercado editorial para música na internet? Plataformas como Last.Fm tem parcela de responsabilidade nesse processo? A Internet está crescendo em tudo, não só na música, então escrever na Internet e buscar linhas editoriais dentro dela é fundamental e tem sido um trabalho que só cresce para quem faz o processo direito. Várias plataformas têm responsabilidade no processo, desde o Wordpress (para edição de blogs) até o Spotify (para ouvir música) e o Snapchat. A Internet cresceu, tudo nela cresceu, e com a música não poderia ser diferente. Qual a média e histórico total de acessos? E o trânsito? De onde vem visitas no TMDQA? Hoje em dia o TMDQA!conta com 500 mil acessos e 1 milhão de visualizações por mês. As visitas vêm de forma orgânica, busca e redes sociais, Facebook e Twitter principalmente. Você pode falar também sobre a história do endereço. Como começou, destacando pontos fortes na sua opinião, grandes coberturas, etc.Não respondeu. Você deixa claro em uma das respostas que existe diferença entre mídia amadora, tradicional e blog, e completa que [suponho] esses três meios se adequam a "novas realidades". Visto esta sua resposta, qual a realidade do "Tenho Mais Discos Que Amigos!"? A realidade do TMDQA!hoje em dia é a de um portal de música com notícias diárias, entrevistas, editoriais e blogs como o “Faixa Título” dentro do nosso site. Além disso temos vários projetos e produtos ligados ao endereço como o programa em vídeo no Topsify Brasil, uma linha de camisetas com a Chico Rei e mais. Trabalhamos o conteúdo diariamente e eu dedico 24 horas por dia para o site, vivendo disso. E por último, seu nome completo e formação? Antonio Emilio WaszczukAiex. Formando em Tecnologia em Informática.


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1.4

QUAL A GRANDE IDEIA? Rodrigues – Na sua opinião, como é a prática do jornalismo musical sobre

conteúdo internacional na internet? De onde surgem as pautas, como é o trabalho de apuração e checagem de informação? Há impedimentos nesse processo, a ponto de comprometer o trabalho da reportagem? Junior – Atualmente, com muitos blogs aparecendo a toda hora, e com a facilidade de se criar e personalizar (além de integra-lo em redes sociais, como Facebook e Twitter), muitos veículos apenas repassam (copiam/adaptam) notícias de sites maiores ou estrangeiros. É uma cascata. No QAGI?,eu junto todos os sites nacionais e estrangeiros (em várias línguas) no Feedly, que é um serviço que organiza e lista noticias dos sites que você salvou previamente. Uma ou três vezes por dia posto num grupo de autores do site as que eu achei mais relevantes ou interessantes para o público do nosso site e assim escolhemos o que publicar – não significa que as publicações se limitam as minhas indicações. Então, basicamente, tirando posts especiais, criados pelos próprios autores, as outras pautas são adaptadas ou criadas a parte de informações de outro sites. O jornalista musical tem parcela de responsabilidade no desenvolvimento econômico da indústria musical hoje? Como isso acontece? Qual o papel deste profissional na mediação entre a música, o público e a própria mídia? TOTAL. Temos blogs gigantescos que realmente influenciam a cabeça de uma galera. Vivemos recebendo email de produtoras indicando, pedindo post... Blogs menores muitas vezes especializados em música alternativa estão sempre impulsionando tendências. A indústria PRECISA do profissional jornalista. Sempre sinto que estou ajudando um pouquinho quando indico ou introduzo um novo artista no site. É possível traçar um panorama atual da mídia online sobre música internacional, principalmente do gênero “pop” ou, numa visão mais ampla, mainstream? Quais os pontos positivos e negativos que você enxerga? O público está saturado da "blogosfera", jornalismo para música pop. Muito blogs, muitas notícias repetidas. Ninguém quer mais o básico. Se não coisas novas, o público anseia por opinião, por notícias destrinchadas e que tragam mais em informação que um player com música. O público está sempre esperando que o jornalismo musical vá além, diga/mostre, o que a maioria não tá escrevendo. Existe conflito entre o conteúdo “jornalístico” online profissional e amador? De onde surge esse impasse? Sim. O profissional vai atrás da informação, estuda a mesma,


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duvida dela, busca mais fontes, chega, corrige, acrescenta. Muitos blogs, de muito sucesso, diga-se de passagem, não se dão a esse trabalho, ou copiam, ou resumem. Não sou jornalista, mas com oito anos nesse meio dá pra sentir essa diferença. O número de blogs cresce constantemente, e aconteceu naturalmente junto com a demanda crescente de veículos tradicionais migrando para a internet, porém não existe um “código” que diferencie os conteúdos de um e outro, apenas teorias de alguns jornalistas, etc. Prova que é comum haver confusão entre o que é veículo tradicional e mídia amadora devido tão encorpados os dois meios são. Para você, isso compromete a atuação dos dois? Em parte, é muito fácil republicar uma noticia já esmiuçada e crescer em cima do trabalho dos outros. Na mídia amadora e profissional todo mundo vê esse "copicola". E, meio que em resumo, anda todo muito preguiçoso em criar seu próprio conteúdo, se limitam a partir de informações que não podem faltar como nomes de álbuns, data de lançamento, citações etc. O fato dos principais meios de compra e audição de música serem online (iTunes, Spotify, etc) facilita o crescimento do mercado editorial para música na internet? Plataformas como Last.Fm tem parcela de responsabilidade nesse processo? Creio que o Last.Fm tem perdido sua força e é atualmente só um serviço de interesse individual, que vem se sustentando aos trancos e barrancos com a ajuda dos scrobbles em serviços de streaming, cada vez mais adversos ao aplicativo. Já esses serviços de streaming tornaram a vida dos blogueiros muito menos "perigosa", uma vez que quase sempre o conteúdo é disponibilizado pelos artistas neles ou demora pouco para ser. Antes tudo era pirata, em players duvidosos e com produtoras batendo na sua porta pedindo pra que esse ou aquele post fossem apagados. Hoje, com tudo mais "oficial" se faz na verdade é questão da incorporação das músicas nos veículos em vez de players alternativos. Qual o trânsito dos acessos que o QAGI recebe? 300 mil/mês. O trânsito é de grande parte dos links escolhidos e publicados pela MTV e dos compartilhamentos no Facebook e Twitter. Você pode falar também sobre a história do seu endereço? Como começou, destacando pontos fortes na sua opinião, coberturas, etc. Sobre o blog, ele nasceu em 2009 quando saí de um outro projeto chamado Mercúrio, que era meu e de um amigo. Daí vi que devia ter algo só meu e o nome acabou ficando "Qual a Grande Ideia?" por que na hora que eu tava decidindo começou a tocar "Lollipop", do cantor Mika, aonde se ouve "What‟s The Big


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Idea" em um dos trechos. O blog é considerado um dos mais altenticos e singulares pelo que já ouvi e bastante conhecido pelos layouts extravagantes, exagerados, muito coloridos. A entrada no time de blogs da MTV é com certeza um dos momentos mais marcantes e relevantes da página.

2

JORNALISTAS MUSICAIS

2.1

MARCELO SANTIAGO Rodrigues - Primeiramente, como você observa o jornalismo musical do brasil

para conteúdo internacional produzido na internet atualmente? Santiago - Temos sites e blogs legais aqui, só acho uma pena que se dediquem tanto aos artistas internacionais e sobre pouco espaço para o que acontece na cena musical daqui. Não acompanho muitos veículos gringos, mas os que leio escrevem justamente sobre a música de seus respectivos países. É uma porta de entrada pra conhecer bandas que não aparecem em outras publicações. É uma característica do blog reportar o que já está em pauta em grandes sites, porém fica claro que os próprios endereços de caráter mais tradicional também busquem pautas em outros veículos – principalmente internacionais. Com isso, pode-se dizer que o jornalismo musical está limitado a essas fontes? De forma alguma. Acho que o que diferencia os blogs é justamente uma maior liberdade editorial que permite que eles não tenham necessariamente que se pautar pelos grandes veículos. Plataformas abertas para a produção de conteúdo editorial na internet como blogs e até mesmo redes sociais tiraram a relevância do jornalista / crítico musical ou elas competem paralelamente? Por quê? Vejo como complementos. As redes sociais têm a característica de serem mais superficiais, leituras mais breves. E tem também uma questão de arquivamento de informação: é muito difícil encontrar publicações antigas no Facebook e no Twitter, por exemplo. O conteúdo antigo, de certa forma, some nessas redes. Ao contrário dos sites e blogs, onde existem sistemas de arquivamento e tags que ajudam a encontrar conteúdos publicados anteriormente.


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A segmentação de conteúdo, independente se vem de um veículo tradicional ou não, já é uma realidade até mesmo no jornalismo musical, que recebe uma variedade de músicas disponíveis legalmente na web em diversas plataformas? Ainda há muito espaço para segmentação, é um caminho interessante. A chamada "cauda longa" ainda não se aplica muito no jornalismo musical brasileiro, não existem muitos veículos de nichos musicais específicos com publicações constantes. A maioria dos leitores da mídia musical online é jovem (entre 18-25 anos), e para os sites e blogs consultados, o que está em voga é o poder de influência que estes endereços possuem em cima deste público. No entanto, acredita-se que o poder de influência de um blog é, muitas vezes, maior que veículos como Rolling Stone ou Billboard. Você concorda com isso? Por quê? Caso concorde, por que este leitor se desprende de uma fonte com maior relevância para consultar um blog, que em sua maioria, se pauta na grande mídia? Acho que a influência dos blogs já caiu muito, não os considero tão relevantes quanto anteriormente. Porque com o crescimento do Facebook sinto que o tempo despendido por parte dos leitores de blog migrou para o Facebook, o que diminuiu o número de acesso dos blogs e, consequentemente, a repercussão dos mesmos. Mas a relevância de um veículo deve ser medida pelo seu conteúdo e sua repercussão, tanto faz se trata-se de uma publicação online ou impressa. Em contrapartida, as plataformas de compra e audição legais de música na rede tem alguma responsabilidade nessa relação “mídia amadora-mídia tradicional”? Não vejo uma relação nisso. Você possui um blog, o “Meio Desligado”, que cobre artistas e bandas independentes, e um dos fatores que fortalecem os blogs nesta relação com a mídia tradicional, segundo estudiosos do tema e até outros blogueiros de renome, estas plataformas acabam sendo as responsáveis por apresentar bandas independes – a maioria alternativas – não a mídia de caráter mais tradicional. Você concorda com isso? Sim, tem a ver com o que respondi anteriormente: os blogs geralmente têm mais liberdade por serem produzidos, muitas vezes, sem fins comerciais ou ao menos sem vínculos com grandes veículos de comunicação. Dessa forma, podem abordar bandas desconhecidas sem ter que se preocupar tanto com os números de audiência. Em sua opinião, quais os próximos desafios do jornalismo musical e como ele pode ficar nesta relação com os meios de produção de conteúdo editorial livre na


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internet?O desafio é sempre produzir conteúdo interessante e que seja relevante ao leitor, seja na internet ou em outro meio. O ambiente online abre mais possibilidades, há muito espaço para o jornalismo musical explorar.

2.2

RODRIGO ORTEGA Rodrigues – Primeiramente, como você observa o jornalismo musical para

conteúdo internacional produzido na internet atualmente? Ortega – De modo geral, considero que a mídia brasileira não tem mesmo como fazer uma cobertura jornalística de impacto muito grande sobre a música internacional, visto que os veículos dos EUA e da Europa vão ter, naturalmente, mais acesso e possibilidade de fazer as grandes matérias e coberturas sobre o que é produzido lá. Mas os que os veículos nacionais podem fazer são análises sobre o nosso ponto de vista e coberturas de eventos com músicos internacionais aqui. Nosso Com relação aos críticos locais, eu gosto de vários, como de cadernos de cultura da Folha[de S. Paulo] e do Globo, de portais como o UOL e de algumas revistas. Uma coisa da qual eu não gosto, neste sentido, é ler críticas traduzidas de jornalistas americanos na Rolling Stone brasileira. De blogs independentes brasileiros, sinceramente, não há críticos ou analistas que eu leia atualmente, pelo menos que me lembre agora. É uma característica do blog reportar o que já está em pauta em grandes sites, porém fica claro que os próprios endereços de caráter mais tradicional também busquem pautas em outros veículos – principalmente internacionais. Com isso, pode-se dizer que o jornalismo musical está limitado a essas fontes?Muitas vezes, sim, os blogs e os veículos brasileiros apenas reproduzem as pautas de grandes veículos internacionais. Mas esta não deve ser a única fonte deles. Considero importante estar atento aos principais temas do momento no mercado musical do mundo. Mas a partir disso, as melhores pautas são as que buscam sacadas próprias sobre o que está acontecendo ao redor, com uma abordagem que seja única do seu veículo. Claro que é difícil fazer uma reportagem exclusiva sobre um artista internacional, já que os blogs e sites brasileiros raramente vão ter acesso às fontes primárias. Mas é possível se diferenciar com resenhas e análises bem redigidas, e principalmente com conteúdo jornalístico sobre os artistas locais e o que acontece no mercado da música no Brasil.


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Plataformas abertas para a produção de conteúdo editorial na internet como blogs e até mesmo redes sociais tiraram a relevância do jornalista / crítico musical ou elas competem paralelamente? Por quê? Com relação ao crítico, as redes sociais mudaram bastante o seu papel, e, de certa forma, tiraram sua relevância. Quando o acesso aos lançamentos era mais restrito, especialmente no Brasil, o crítico tinha o poder de orientar o que o público iria ouvir ou não. Se você podia comprar um disco por semana, era mais seguro ir no que que os críticos indicavam. Isso nunca mais vai acontecer. Todos podem ouvir tudo e, além disso, dar opiniões com o mesmo potencial de serem ouvidas do que as de um crítico. Hoje ele pode ser visto como um curador, que dá sugestões de audição em meio a tanto material novo disponível toda semana, mas perdeu sua voz de autoridade. Com relação ao jornalista, mais no sentido do repórter, também acontece esta perda da voz de autoridade, mas ao mesmo tempo abre-se o caminho para apurar e produzir pautas de maneira muito mais fácil, direta e rica. A internet pode ser o ponto de partida para grandes reportagens, que saiam de análises de dados e observação de fenômenos na web para a produção de conteúdo na rua, ao lado dos artistas e dos fãs. Por um lado, o fato de o artista falar diretamente com o seu público via redes sociais tira um pouco deste papel de mediação do jornalista. Mas esta mediação de comunicados dos artistas, que seria quase uma reprodução de press releases se não houvesse a internet, não é a parte mais rica do trabalho do jornalista de música. Hoje, ele fica mais livre para fazer reportagens diferentes, caso o veículo tenha estrutura para bancar estas reportagens - o que é um outro problema, ainda maior... A segmentação de conteúdo, independente se vem de um veículo tradicional ou não, já é uma realidade até mesmo no jornalismo musical, que recebe uma variedade de músicas disponíveis legalmente na web em diversas plataformas?A segmentação é uma realidade, mas não a única. Não conheço profundamente estes blogs mais segmentados, mas sei que muitos deles conseguem relevância, retorno financeiro, público fiel, etc. Mas não acho que o único caminho é segmentar. Digo isso pois trabalho em um veículo não especializado, para o público geral, e considero que fazemos um trabalho interessante em apresentar grandes fenômenos de cultura pop ao público geral, sem querer falar apenas para um nicho. Em um mundo em que as pessoas vivem cada vez mais dentro de bolhas, ouvindo apenas pessoas que concordam com elas, é interessante também furar estas bolhas, mostrar que o cenário cultural é muito mais vasto do que um determinado estilo. Esta vocação do jornalismo de "apresentar o mundo lá fora" para o leitor pode ser útil em tempos de tribos e polarização.


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A maioria dos leitores da mídia musical online é jovem (entre 18-25 anos), e para os sites e blogs consultados, o que está em voga é o poder de influência que estes endereços possuem em cima deste público. No entanto, acredita-se que o poder de influência de um blog é, muitas vezes, maior que veículos como Rolling Stone ou Billboard. Você concorda com isso? Por quê? Caso concorde, por que este leitor se desprende de uma fonte com maior relevância para consultar um blog, que em sua maioria, se pauta na grande mídia? Acho que o que os blogs têm como arma contra os grandes veículos é o seu poder de serem mais pessoais, informais, falarem mais a língua do leitor de uma cidade, de um determinado perfil, fã de um determinado artista. Acho difícil dizer se os blogs podem ter mais influência que a Billboard ou a RS. Não conheço nenhum blog que, sozinho, tenha mais relevância que estas publicações. Mas, juntos, talvez, cria-se esta teia de blogs, youtubers, perfis no Instagram, Snapchat, Vine, etc, que sejam mais atraentes para determinados leitores do que uma revista mais sisuda como estas duas citadas. Em contrapartida, as plataformas de compra e audição legais de música na rede tem alguma responsabilidade nessa relação “mídia amadora-mídia tradicional”?Acho que as plataformas de audição e compra legais voltam a dar um pouco mais de poder à indústria musical, à mídia mais "profissional", pois tornam o mercado um pouco menos caótico do que na era do Napster, YouTube e Piratebay. Houve uma época de revolução total, há mais ou menos dez anos, em que as gravadoras perderam o controle do que acontecia, e isso ajudou a tirar a relevância dos veículos tradicionais, que sempre trabalharam junto com essas gravadoras, e dar relevância aos blogs e veículos amadores. Exemplo: um blogueiro que ficasse a madrugada acordado esperando vazar o novo disco do Eminem poderia furar o repórter da [Folha] Ilustrada que antes recebia esse disco antes de todo mundo, de mão beijada. Agora, com o Spotify e similares indicando um futuro mais promissor para a música legal, as gravadoras, agregadoras, assessorias de imprensa e o próprio artista pode planejar um pouco melhor a distribuição do seu trabalho e, com isso, voltar a ter uma parceria mais proveitosa com a mídia. Acho que isso vai beneficiar tanto blogs quanto veículos tradicionais que estiverem bem posicionados na internet e nas redes sociais. Pois o artista vai querer dar prévias, entrevistas exclusivas e outros materiais para quem for mais relevante - nisso, os ditos "amadores" ou piratas perdem espaço. O leitor também vai querer acompanhar um veículo que tenha o que dizer, que tenha bons jornalistas e repórteres, mais do que o cara que vai achar o Torrent de tal disco antes do outro.


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Em sua opinião, quais os próximos desafios do jornalismo musical e como ele pode ficar nesta relação com os meios de produção de conteúdo editorial livre na internet?O próximo desafio do jornalismo musical é como se manter relevante nesta era do streaming, que parece que será a principal forma de as pessoas ouvirem música por um tempo. O jornalista deve se contentar em não ter mais uma voz única de autoridade, mas sim em ser um bom repórter, contar boas histórias, aproveitar o potencial da internet para levantar dados e encontrar narrativas. Conhecer o passado, saber a linha do tempo do que faz sucesso agora através de playlists, identificar um novo fenômeno subindo nas paradas antes que todo mundo o veja no primeiro lugar, ir para as ruas e presenciar os fenômenos mais importantes quando for preciso, saber separar seu gosto pessoal de relevância cultural, entre outras habilidades.

2.3

JOSÉ NORBERTO FLESCH Rodrigues – Primeiramente, como você observa o jornalismo musical para

conteúdo internacional produzido na internet atualmente? Flesch – Eu acho que a internet já superou o impresso há tempos no noticiário musical. A diferença é que um certo tradicionalismo que ainda impera no setor torna a cobertura da internet um pouco mais fria do que no impresso. Assessorias e gravadoras, por exemplo, ainda se mostram resistentes a dar preferência a sites e blogs na hora de conseguir entrevistas com artistas. Mas vale dizer que muitos sites e blogs colaboram para não mudar isso ao fazer um "jornalismo de fã", não um jornalismo imparcial. Espero que isso mude. É uma característica do blog reportar o que já está em pauta em grandes sites, porém fica claro que os próprios endereços de caráter mais tradicional também busquem pautas em outros veículos – principalmente internacionais. Com isso, pode-se dizer que o jornalismo musical está limitado a essas fontes?Quem tem a informação segura mais para o impresso. Mas há uma certa preguiça de blogs e sites também. Parte usa o ctrl C + ctrl V, o que tira qualquer credibilidade. Plataformas abertas para a produção de conteúdo editorial na internet como blogs e até mesmo redes sociais tiraram a relevância do jornalista / crítico musical ou elas competem paralelamente? Por quê?Eu acho que o jornalista/ critico musical tem que se adequar. Ele pode criar sua relevância, em qualquer que seja a plataforma. Simples assim.


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A segmentação de conteúdo, independente se vem de um veículo tradicional ou não, já é uma realidade até mesmo no jornalismo musical, que recebe uma variedade de músicas disponíveis legalmente na web em diversas plataformas?Sim. Isso já vem acontecendo há tempos, mesmo no jornalismo musical impresso, e está cada vez mais nítido. A maioria dos leitores da mídia musical online é jovem (entre 18-25 anos), e para os sites e blogs consultados, o que está em voga é o poder de influência que estes endereços possuem em cima deste público. No entanto, acredita-se que o poder de influência de um blog é, muitas vezes, maior que veículos como Rolling Stone ou Billboard. Você concorda com isso? Por quê? Caso concorde, por que este leitor se desprende de uma fonte com maior relevância para consultar um blog, que em sua maioria, se pauta na grande mídia?Por vários motivos. Em primeiro lugar, o blog/site pode ter mais sensibilidade do que os tradicionais para perceber o que o leitor quer. Depois, nós sabemos que Rolling Stone e Billboard, principalmente no Brasil, não têm mais aquele cuidado do passado para continuarem sendo referência. Às vezes, a impressão que tenho é que apenas tentam sobreviver. Em contrapartida, as plataformas de compra e audição legais de música na rede tem alguma responsabilidade nessa relação “mídia amadora-mídia tradicional”?Essas plataformas funcionam também como "fontes". Então depende do caso. Um blog específico de um artista ou gênero vai ficar muito mais ligado nessas plataformas, já esperando um certo lançamento, do que a mídia tradicional diversificada. Em sua opinião, quais os próximos desafios do jornalismo musical e como ele pode ficar nesta relação com os meios de produção de conteúdo editorial livre na internet?O maior desafio atual do jornalismo musical é se posicionar dentro do cenário. O modelo tradicional costuma se preocupar mais com o concorrente tradicional do que com o novo modelo. Acho que isso ainda vai durar algum tempo, mas considero preocupante. Eu, por exemplo, procuro transitar nos dois modelos. A maioria sites consultados afirmaram que não é possível publicar em seus respectivos endereços informações vindas de um tweet, por exemplo. No entanto, algo que pode ser encontrado em diversos endereços, sem uma busca muito apurada, é a produção de matérias em cima de uma simples publicação no Twitter. Por experiência própria, já acessei sites que criam "teorias" malucas sobre um possível show no Brasil devido uma publicação sua que, acredito, as vezes não podem vir a tona devido questões de contrato


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com patrocinadores, etc. Qual o seu posicionamento sobre isso? Sei que sou uma fonte confiável, e também vejo como sites e blogs às vezes deturpam as informações, ou criam teorias em cima delas. Acho que não é nem questão de contrato. Eu, às vezes, dou o toque que os caras estão errados, mas também dá para deixar o público perceber sozinho (será que consegue?) que aquilo não merece crédito.

2.4

LUCAS KREMPEL Rodrigues – Primeiramente, como você observa o jornalismo musical para

conteúdo internacional produzido na internet atualmente? Krempel –Infelizmente eu vejo como uma coisa muito fraca, porque se você entrar em alguns sites (e não cabe citar nomes) você percebe que é muito ctrl + c, ctrl + v, tradução, dificilmente tem opinião, e este é um erro que eu mesmo acabo cometendo por falta de tempo. Por isso, agora, eu coloquei oito novos colunistas no blog, sendo um por dia (quinta-feira, exclusivamente, tem dois), porque assim eu consigo colocar muito mais opinião no blog. Eu acredito que isso é o que mais falta para o jornalismo neste segmento. É muito comum a pessoa escrever “Red Hot Chili Peppers vai lançar um disco”, daí ele procura na mídia “gringa”, nas próprias páginas oficiais da banda, às vezes, traduz, e oferece apenas as informações primárias que são datas de lançamento do projeto, clipe, single, nome dele, etc. Mas falta opinião. É o que eu mais sinto falta. Explicar como é a música, contextualizar o leitor de como foi a produção da música, videoclipe, quem fez e como esse cara costuma fazer, essas coisas... Por outro lado, em shows, por exemplo, existem assessorias de imprensa que preferem credenciar o fotógrafo, mas não o repórter, para garantir pelo menos o registro fotográfico do evento. E quando você vê as resenhas desse show em questão, o resultado é um trabalho “chapa branca”. Às vezes eu tenho a impressão que o jornalismo musical é uma coisa que começou ontem, que alguém acessa um conteúdo e pensam: que legal, as pessoas falam sobre música na internet. E nós sabemos que não é bem assim. É uma característica do blog reportar o que já está em pauta em grandes sites, porém fica claro que os próprios endereços de caráter mais tradicional também busquem pautas em outros veículos – principalmente internacionais. Com isso, pode-se dizer que o jornalismo musical está limitado a essas fontes?É um comodismo sim, mas eu acredito que exista seus motivos.Muitos jornalistas de sites famosos, e principalmente blogs, não estão recebendo para exercer tal atividade. Muitas vezes o responsável recebe uma verba


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de anunciante que serve para ele tocar o site na medida do possível. Dificilmente você tem recursos para pagar todos os colaboradores, logo a saída é fazer parcerias em troca da divulgação do conteúdo assinado. Há também endereços que não têm redação, ou se não tiver um espaço para isso, não possuem pessoas para subir o conteúdo, até porque o colunista que é colaborador provavelmente tem outro trabalho, que por sinal ele recebe por isso. Eu, por exemplo, chamei pessoas para colaborar no Blog N‟ Roll diariamente. Ficou para eu fazer as funções do editor, e quando eu tenho mais tempo eu coloco opinião, pois é isso que eu sinto que faz falta no jornalismo musical como um todo. Então, tem comodismo sim. A curadoria é normal em qualquer área do jornalismo, mas eu entendo que neste cenário, de sites e blogs que fazem sua curadoria e possuem parcerias, não há muito o que fazer devido uma suposta desvalorização da área. Existem blogs que possuem sistemas para gerar anúncios ou conseguir anunciantes próprios, e isso é ótimo. Se esse site ou blog está se mantendo por meio de anuncio é ainda melhor, pois ele serve de exemplo nesta porta que está se abrindo, que no caso é para quem quer começar a escrever sobre música na internet. Eu mesmo adoraria pagar todos que escrevem no Blog N‟ Roll, mas infelizmente a realidade é essa: as pessoas gostam do que estão falando, escrevem bem e sobem textos em troca de participar de um site que eles consideram um bom lugar para mostrar seus trabalhos. A partir do momento em que o pessoal valorizar este segmento, jornalismo musical na internet, pode ser que as coisas mudem e fiquem melhores também. Essa limitação em fontes estrangeiras principalmente possa ficar um pouco mais de lado, mas isso porque será possível investir em mais entrevistas, reportagens, opinião e por aí vai. Plataformas abertas para a produção de conteúdo editorial na internet como blogs e até mesmo redes sociais tiraram a relevância do jornalista / crítico musical ou elas competem paralelamente? Por quê?Creio que não, pois existem pessoas que não são jornalistas e escrevem muito bem. O principal fator que diferencia imediatamente, e cabe a nós jornalistas, é a ortografia. Se uma série de pessoas quiser escrever também, montar algo bacana, mesmo que elas não sejam jornalistas, eu estarei super de apoio. A nossa profissão mesmo dispensa a necessidade de diploma (não vou entrar na questão se isso é certo ou não). Se vier para acrescentar e reforçar a procura de mais pessoas pelo jornalismo musical online, não importa se é concorrência, eu estarei de apoio. Até para profissionalizar o negócio, pois muitos blogs começam só opinando porque estão falando do que gostam. Vai sobreviver quem leva isso a sério e faz direito, independente se é jornalista ou não.


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A segmentação de conteúdo, independente se vem de um veículo tradicional ou não, já é uma realidade? Explique. Acredito que sim, mas isso deve ser feito com cautela.Quando eu comecei com o blog optei por falar sobre rock, porém muitas pessoas me questionavam de qual rock eu falava: se era metal, ou não, por exemplo. Eu cheguei aconclusão que não devia segregar mais o conteúdo, pois quando eu falo só de rock eu já sou minúsculo se comparado a variedade de gêneros musicais que existem hoje. No entanto, é natural que um gênero tenha ligação com outro: é super comum, por exemplo, fãs de rock se interessarem por rap e hip hop. Falo pelo Blog N‟ Roll: quando se trata de um gênero que não é a minha “praia”, eu não costumo dar tanto espaço, por não ser habituado com o gênero, mas dependendo do conteúdo dá para ser mais diversificado. O problema, e é aí que entra o trabalho de editor, é que não se pode deixar muito diverso, pois o blog ou site pode perder a linha editorial. Nunca escrevi sobre samba, pagode, sertanejo no blog, não porque não gosto, mas sim porque se eu subir algo do tipo, a identidade do blog se torna questionável. A maioria dos leitores da mídia musical online é jovem (entre 18-25 anos), e para os sites e blogs consultados, o que está em voga é o poder de influência que estes endereços possuem em cima deste público. No entanto, acredita-se que o poder de influência de um blog é, muitas vezes, maior que veículos como Rolling Stone ou Billboard. Você concorda com isso? Por quê? Caso concorde, por que este leitor se desprende de uma fonte com maior relevância para consultar um blog, que em sua maioria, se pauta na grande mídia?Não. Acho que a influência não é o principal, e sim a qualidade e a dedicação. Cansei de ver sites e blogs com erros graves de português, que comprometem a sua credibilidade. Em contrapartida, as plataformas de compra e audição legais de música na rede tem alguma responsabilidade nessa relação “mídia amadora-mídia tradicional”?Ajudam e muito. Os tempos são outros também. Hoje eu escrevo sobre o uma e coloco o player do álbum deles, que já está disponível para streaming no YouTube, por exemplo. Pode ser Spotify, Deezer, tanto faz,soma até demais. Por um lado, nós como jornalistas precisamos mostrar para o leitor o trabalho do artista quando escrevemos sobre eles. Por outro, existem players de empresas de streaming, gratuitos ou não, que disponibilizam a música legalmente. Em sua opinião, quais os próximos desafios do jornalismo musical e como ele pode ficar nesta relação com os meios de produção de conteúdo editorial livre na


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internet?O próximo passo é profissionalizar e tratar como uma coisa ainda mais séria, e não como uma novidade.

2.5

ISADORA ÂNCORA Rodrigues - Primeiramente, como você observa o jornalismo musical para

conteúdo internacional produzido na internet atualmente? Isadora - Com raras exceções, o que acontece nesse âmbito de notícias é mais uma replicação do que jornalismo em si como ele era antigamente. Claro que, quando um artista vem para o Brasil, existem entrevistas, resenhas e etc. Mas fora essas situações, o que acontece no dia a dia é um acompanhamento das redes sociais dos artistas internacionais para saber o que há de novo - porque lá eles publicam os lançamentos nas plataformas de streaming, o início das vendas de um novo álbum ou até um novo show confirmado – ou ficar de olho nos sites internacionais também, que recebem as informações dos artistas internacionais antes de nós. Ou seja: o jornalismo produzido na internet hoje, com relação a conteúdo internacional, é mais replicar um conteúdo que já existe, traduzindo e colocando com suas próprias palavras. O jornalismo mesmo, da busca, ouvir a fonte e etc., fica um pouco de lado e dá espaço para um novo tipo, especificamente nesse caso. É uma característica do blog reportar o que já está em pauta em grandes sites, porém fica claro que os próprios endereços de caráter mais tradicional também busquem pautas em outros veículos – principalmente internacionais. Com isso, pode-se dizer que o jornalismo musical está limitado a essas fontes?Porquê?Bom, acho que acabei respondendo isso na pergunta acima, sem querer! Sim, o jornalismo acaba se limitando a essas fontes, mas acredito que por falta de opção. Muitos sites nacionais não recebem releases ou informações oficiais de artistas internacionais. É diferente do conteúdo nacional, em que diariamente se recebem inúmeros releases das assessorias dos eventos e artistas. Essa distância faz com que seja preciso identificar quem recebe essa notícia e reproduzir esse conteúdo. Esse é o principal motivo: você estar distante da fonte da informação te faz precisar usar quem recebe a informação como fonte. Plataformas abertas para a produção de conteúdo editorial na internet como blogs e até mesmo redes sociais tiraram a relevância do jornalista / crítico musical ou


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elas competem paralelamente? Por quê?Acho que ainda são coisas complementares. O jornalista ainda tem sua importância, mas deixou de ser indispensável para um artista já consagrado. Porém, para os novos artistas, o espaço em jornais, revistas e na TV ainda é muito importante para começar a ter reconhecimento. Por mais que as redes sociais possam atrair muito público e o artista possa conquistar fãs sem os veículos de imprensa, ainda vai ser uma coisa limitada, ainda não é todo mundo que busca essas pessoas novas na internet. Ainda tem um público que só vai saber quem é um artista depois que ele aparecer dando uma entrevista em um programa de televisão ou estiver em uma revista ou jornal importante. Ninguém é conhecido no mundo todo se não estiver na televisão, nos jornais e nas revistas... a internet te limita ao seu público. Ninguém vira a Ivete Sangalo se não aparecer na Globo. Acho que colocar blog e jornalista como coisas opostas é perigoso, pois muitas vezes o blogueiro é um excelente jornalista, seja por formação ou pela prática. E ainda acho que a internet e os blogs trazem a oportunidade de surgirem novos críticos musicais. Não vejo como coisas opostas, tudo se completa. A segmentação de conteúdo, independente se vem de um veículo tradicional ou não, já é uma realidade? Explique. Acredito que a segmentação de conteúdo ainda seja uma coisa em expansão. As redes sociais já proporcionam isso, até quando você vai impulsionar uma publicação. Mas em sites mesmo, ainda é raro. Você adapta seu conteúdo para o público que é maioria no seu site, mas ter uma navegação personalizada para cada usuário ainda não é uma realidade. Isso ainda se restringe a cadastros de e-mail com interesses de leitores, e não uma navegação personalizada, de fato. A maioria dos leitores da mídia musical online é jovem (entre 18-25 anos), e para os sites e blogs consultados, o que está em voga é o poder de influência que estes endereços possuem em cima deste público. No entanto, acredita-se que o poder de influência de um blog é, muitas vezes, maior que veículos como Rolling Stone ou Billboard. Você concorda com isso? Por quê? Caso concorde, por que este leitor se desprende de uma fonte com maior relevância para consultar um blog, que em sua maioria, se pauta na grande mídia? Acho que dependendo do blog influencia tanto quanto uma Billboard ou Rolling Stone, sim. Se faz um bom trabalho, com informações confiáveis, não vejo motivo para não ser assim. O que faz o leitor procurar este blog e não a grande mídia, no caso dos impressos, é a facilidade no acesso à informação. No caso dos sites destes veículos já consagrados, acredito que o tipo de conteúdo seja diferente. A Billboard, por exemplo, mesmo no online mantém uma matéria mais séria simplesmente informativa,


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enquanto outros sites opinam, usam adjetivos e outros artifícios que o aproximam mais do leitor, principalmente do público jovem. As redes sociais são como um filtro do site. Não são todas as matérias publicadas no site que entram nas redes sociais, então você precisa descobrir o que seu público mais acessa pelas redes sociais e compartilhar essa matéria nas redes. Os leitores cada vez querem menos ir atrás da informação e querem mais que a informação chegue a eles de maneira prática. Quantas pessoas você conhece que entram direto no site do Hugo Gloss? E quantas você conhece que seguem o Hugo Gloss no Facebook? É como se as redes sociais fossem o garçom que te serve as bebidas, sem que você precise ir no bar pegar. Em contrapartida, as plataformas de compra e audição legais de música na rede tem alguma responsabilidade nessa relação “mídia amadora-mídia tradicional”?Talvez antes a mídia tradicional tivesse certa vantagem nesse quesito, porque apenas a mídia tradicional recebia os lançamentos (ou a mídia amadora comprava ou ficava sem, o que dificultava um pouco o trabalho) e agora todo mundo tem acesso. Acho que as plataformas de streaming estabelecem certa igualdade, facilitando a mídia amadora. Em sua opinião, quais os próximos desafios do jornalismo musical e como ele pode ficar nesta relação com os meios de produção de conteúdo editorial livre na internet?Em primeiro lugar, acho que não existe essa diferenciação de jornalismo musical e meios de produção de conteúdo editorial livre na internet, porque acho que o fato de ser a segunda opção não te exclui de ser também a primeira. Mas entendendo como veículos oficiais, jornais, revistas e etc., ou uma produção mais independente, acredito que o grande diferencial ainda seja o acesso ao artista. Você pode ter um blog incrível de música, se a Demi Lovato vem ao Brasil e dá três entrevistas, você não vai estar nessa lista, mas a Folha[de S. Paulo] vai estar. Cabe a Folha [de S. Paulo] saber aproveitar essa oportunidade para ter um diferencial. Isso é um exemplo, né? Ainda tem o credenciamento de repórter e fotógrafo em show, que é limitado, então os blogs acabam ficando de fora, tem a verba para se deslocar para um show incrível que não seja na cidade do veículo... Os veículos maiores ainda têm vantagens, só precisam saber aproveitar. Muito se discute o papel do jornalista como formador de opinião nato no que diz respeito a música. Antes uma pessoa comprava um CD depois de ler a matéria sobre o produto no jornal impresso, por exemplo. Atualmente estudiosos apontam que esse panorama é o contrário devido a variedade de plataformas musicais disponíveis, gratuitas ou não, na rede. Você concorda? Por quê? E qual a relação da música com a


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mídia neste aspecto, independente se o veículo tem características mais tradicionais (notícias relevantes para um público e acima de tudo rápidas) ou não? Acho que não houve uma inversão total no processo, mas foi acrescentada mais uma parte. Acho que os jornais impressos realmente dão mais importância, hoje, ao que já faz sucesso com o público através das vendas em plataformas de streaming e etc. Mas também acho que ainda existe um público que é alheio a essas plataformas, por questões diferentes (idade, renda e etc), que ainda tem os veículos mais tradicionais como fonte de informação. Então, de certa forma, os veículos já levam a esse público o que é sucesso entre os outros públicos.

3

PROFISSIONAIS DA MÚSICA

3.1

LUIZ DIAS LUFER Rodrigues - Primeiramente, na visão de quem trabalha com música e deixando de

lado os sites de “fofoca”, como você observa o jornalismo musical do Brasil produzido para a internet atualmente? Lufer - Primeiramente FORA TEMER… "Segundamente", assim como em varias áreas profissionais, sempre vão existir bons e maus jornalistas ou blogueiros. E a liberdade de escolha em qual site e blog você quer ler é a chave para ter acesso a varias opiniões. Prefiro sempre os independentes, os que realmente estão envolvidos com a musica. Muito se discute o papel do jornalista como formador de opinião nato no que diz respeito a música. Antes uma pessoa comprava um CD depois de ler a matéria sobre o produto no jornal impresso, por exemplo. Atualmente estudiosos apontam que esse panorama é o contrário devido a variedade de plataformas musicais disponíveis, gratuitas ou não, na rede. Você concorda? Por quê? E qual a relação da música com a mídia neste aspecto, independente se o veículo tem características mais tradicionais (notícias relevantes para um público e acima de tudo rápidas) ou não?Concordo sim até certo ponto, mas ainda acho importante o papel que certos jornalistas, blogueiros ou simplesmente um amante da musica realiza em escrever, ou simplesmente disponibilizar um material que ele julgue interessante. O fato de haver essa variedade de plataformas, blogs especializados, Facebook, aplicativos etc., para mim não significa que as pessoas irão ter acesso ao novo. Existe uma certa bolha no universo da rede mundial que mapeia, “scaneia” o


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que as pessoas curtem em suas redes sociais, as pessoas acabam ficando presas ali, pode parecer antagônico, mas apesar do livre acesso que temos, não creio que novos discos de novos artistas cheguem as pessoas. E sobre a relação da musica com a mídia? Depende do que o artista produz, e claro depende do que mais se vende hoje, como vivemos tempos em que o sertanejo é a musica que "mais vende",(com todo respeito ao publico que gosta desse tipo de musica), com certeza uma dupla do centro oeste do Brasil vai ter mais espaço e alcance do que uma banda indie, ou um rapper de outra parte do país, mesmo que seja de uma grande capital como São Paulo por exemplo. É possível dizer que o leitor se desprende da necessidade de se informar quanto música em sites jornalísticos por blogs? Estes, que são muitos, e que se pautam através de uma curadoria feita na grande mídia? Por quê? E qual o papel das redes sociais nesse contexto, visto que

esses leitores

têm gastado

cada vez

mais

tempo em

"timelines"? Conforme falei sobre a bolha que existe na internet, eu resumo a resposta para essa pergunta de forma categórica, a maioria das pessoas alcança aquilo que elas jogam para rede, dai a curiosidade pessoal, o anseio pelo novo e o seu circulo social serem fundamentais para furar essa bolha. Em casos dos públicos serem muito semelhantes, e as abordagens também, é possível tratar blogs de música com caráter mais informativo da mesma forma que os veículos online tradicionais? Por quê? Como você atua nessa relação sites - blogs? Existe sim uma grande diferença dos veículos online tradicionais para aos blogs, principalmente se esse blog pertence a um pesquisador, que muitas vezes pode ser um DJ. Muitos tem o compromisso com seu gosto e não com seu bolso, seu texto será pautado pela sua visão musical, mesmo que seja uma tradução de algum site estrangeiro como acontece muito, ele terá um universo musical inesgotável para abordar. Os veículos tradicionais em sua grande maioria se resumem a fazer uma critica, e colocar suas estrelinhas. Eu sempre opto por blogs especializados em um ritmo, como também os que pautam pela diversidade. Quando a grande mídia fala sobre música, é visível a sua abordagem sobre uma "crise" na indústria musical, independente se é dentro ou fora do País. Fato que a música já passou por diversas fases, e a atual, a dos stramings, que parece mais sólida, ainda dá o que falar, gerando questionamentos e opiniões contra e a favor o modo operante dessas plataformas. Para vocês essa "crise" existe mesmo? É um problema exclusivo da música, ou a mídia contribui? Para mim a musica nunca teve crise, a indústria


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que ganha dinheiro, e que explora artistas sim. Antes faturavam pelas vendas dos discos físicos, apostaram no CD, e com a chegada da internet e do livre acesso, as vendas caíram vertiginosamente, dai passaram a faturar com os shows. Ou seja, atiraram em seu próprio pé, ao abandonarem as mídias tradicionais, fechando as fabricas de vinil e cassete, mas a musica nunca esteve em crise e nunca estará, a musica para mim é um alimento, não tem como ficar sem. Para finalizar, quais os próximos desafios da indústria musical, e como o jornalismo pode se tornar aliado e ferramenta de modificação para a melhora de um cenário? Manter os streamings, e ao mesmo tempo fomentar de forma sustentável as mídias físicas, apostar na diversidade, dar oportunidades a todos os ritmos musicais seria uma saída. E quanto aos jornalistas, esses precisam estar nos eventos, observar o movimento local de sua cidade, seu bairro, buscar novas pautas no mundo real, as vezes existe um puta banda que pode não ter um alcance na redes sociais. Imagine se esse jornalista descobre um novo Chico Science em sua rua?

3.2

ANTÔNIO AUGUSTO Rodrigues - Primeiramente, na visão de quem trabalha com música e deixando de

lado os sites de “fofoca”, como você observa o jornalismo musical do brasil produzido para a internet atualmente? Augusto - A produção de conteúdo é algo desafiador, independente do meio. Hoje, vejo poucos veículos gerando conteúdo relevante de uma forma com que possa ser debatido e questionado. As abordagens, raramente diferentes umas das outras, não fogem das informações básicas fornecidas pelas bandas/artistas. Muito se discute o papel do jornalista como formador de opinião nato no que diz respeito a música. Antes uma pessoa comprava um CD depois de ler a matéria sobre o produto no jornal impresso, por exemplo. Atualmente estudiosos apontam que esse panorama é o contrário devido a variedade de plataformas musicais disponíveis, gratuitas ou não, na rede. Você concorda? Por quê? E qual a relação da música com a mídia neste aspecto, independente se o veículo tem características mais tradicionais (notícias relevantes para um público e acima de tudo rápidas) ou não? A forma como as pessoas consomem as informações musicais mudou e isso se deve as grandes plataformas


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digitais, sem dúvida. Mesmo assim, ainda utiliza-se muito a ideia de um formador de opinião não só para tomada de decisão de compra de um produto mas também para a sua aceitação no mercado. Talvez, com o fato do jornalista de forma geral não desempenhar esse papel de formador de opinião de uma forma tão forte ou clara, as empresas digitais viram essa como uma oportunidade para, além de se divulgarem, conquistarem mercado. É possível dizer que o leitor se desprende da necessidade de se informar quanto música em sites jornalísticos por blogs? Estes, que são muitos, e que se pautam através de uma curadoria feita na grande mídia? Por quê? E qual o papel das redes sociais nesse contexto, visto que esses leitores têm gastado cada vez mais tempo em "timelines"? O leitor vai ler a informação sobre seu artista/banda independente do veículo onde ela seja publicada, desde que contenha relevância, que traga algo novo e inédito para o público. Antes de questionar grandes portais ou blogs, temos que refletir no conteúdo que está publicado nos mesmos. Isso sim é o que faz a maior diferença para atrair leitores, no dia de hoje. Isso mostra o porque das redes sociais estarem tão em alta. Em pouco espaço de tempo você consegue se alimentar de diversas fontes e sobre diversos temas e selecionar o que realmente é de seu interesse para leitura e futuras pesquisas. Em casos dos públicos serem muito semelhantes, e as abordagens também, é possível tratar blogs de música com caráter mais informativo da mesma forma que os veículos online tradicionais? Por quê? Não vejo diferença ou a necessidade em ter que classificar um blog ou site, acho que hoje, com a alta velocidade de transformação, um blog pode rapidamente se transformar num portal de notícias. Vai depender somente dele e da relevância do seu conteúdo. Quando a grande mídia fala sobre música, é visível a sua abordagem sobre uma "crise" na indústria musical, independente se é dentro ou fora do País. Fato que a música já passou por diversas fases, e a atual, a dos stramings, que parece mais sólida, ainda dá o que falar, gerando questionamentos e opiniões contra e a favor do seu modo operante. Para você essa "crise" existe mesmo? É um problema exclusivo da música, ou a mídia tem seu papel colaborador? Explique. Existe uma crise econômica que afeta o país como um todo e que, diretamente, afeta o mercado da música, já que não lidamos com um item de consumo básico ou prioritário. O próprio mercado da música também passa por uma crise interna, que vai desde se adaptar as constantes mudanças que o mercado digital traz até a repensar novas formas e formatos de distribuição e divulgação.


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Para finalizar, quais os próximos desafios da indústria musical, e como o jornalismo pode se tornar aliado e ferramenta de modificação para a melhora de um cenário? São vários os desafios que o mercado da música enfrenta para se manter sustentável. Um deles, e indispensável, é o jornalismo musical. Informação boa é sempre bem vinda, sempre haverá espaço para bons jornalistas e bons veículos, independente dos seus pontos de vista.

3.3

RAFAEL SIQUEIRA Rodrigues - Primeiramente, na visão de quem trabalha com música e deixando de

lado os sites de “fofoca”, como você observa o jornalismo musical do brasil produzido para a internet atualmente? Rafael - Acredito que seja o jornalismo musical mais completo que temos hoje. A internet oferece todo tipo de leitura (ou visualização), umas mais superficiais, apenas com carater informativo, e outras mais aprofundadas que incluem críticas interessantes sobre discos, artistas e mercado. Destaco o Scream&Yell, blog do jornalista Marcelo Costa, que trata dos assuntos de forma muito aprofundada e crítica, como acredito que deva ser um jornalismo musical de qualidade. Vale ressaltar que a liberdade da internet também traz problemas quanto a legitimidade das informações, portanto, vale fazer uma boa pesquisa e identificar os veículos de confiança e conteúdo responsável. Muito se discute o papel do jornalista como formador de opinião nato no que diz respeito a música. Antes uma pessoa comprava um CD depois de ler a matéria sobre o produto no jornal impresso, por exemplo. Atualmente estudiosos apontam que esse panorama é o contrário devido a variedade de plataformas musicais disponíveis, gratuitas ou não, na rede. Você concorda? Por quê? E qual a relação da música com a mídia neste aspecto, independente se o veículo tem características mais tradicionais (notícias relevantes para um público e acima de tudo rápidas) ou não?Hoje existem formas rápidas, práticas e baratas de se consumir música, nem a memória do computador fica mais sobrecarregada, o streaming veio como uma alternativa bastante sedutora. É claro que sempre irão existir aqueles que preferem os suportes físicos, como eu, mas de décadas pra cá, esse número reduziu tornando a audição de vinis, CDs e etc, cada vez menos utilizadas. Por outro lado, o mercado vem buscando alternativas para atrair este público de volta, caprichando em edições especiais (deluxe), boxes e etc. Apesar de o Assustado Discos, meu


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selo, trabalhar exclusivamente com o lançamento no formato vinil, acredito que o mais importante é que as pessoas consumam música, independente da forma. A escala das minhas vendas não serão “astronômicas”, pois o mercado fonográfico não tem mais essa dimensão. O importante é que o selo já tem seu público sua rede de distribuição e hoje é um negócio autossustentável. É possível dizer que o leitor se desprende da necessidade de se informar quanto música em sites jornalísticos por blogs? Estes, que são muitos, e que se pautam através de uma curadoria feita na grande mídia? Por quê? E qual o papel das redes sociais nesse contexto, visto que esses leitores têm gastado cada vez mais tempo em "timelines"? A música de massa, há muito tempo, corre em um caminho paralelo a esse conteúdo presente na internet, o qual estamos destacando. Ela continua atuando nos veículos tradicionais, que ainda tem o poder de potencializar em grande escala esses segmentos. Aparecer na TV Globo, na revista Veja ou em outros veículos conservadores, ainda garantem popularidade aos músicos brasileiros. E normalmente esses veículos expõe uma música mais simples, nem sempre com conteúdo educativo/cultural, o que nivela por baixo nossa produção contemporânea. Em casos dos públicos serem muito semelhantes, e as abordagens também, é possível tratar blogs de música com caráter mais informativo da mesma forma que os veículos online tradicionais? Por quê? Acredito que não, justamente pela diferença de conteúdo, de investigação e de profundidade nos temas tratados. As pessoas por trás dos principais blogs de música no país, atualmente, são pessoas inteiramente envolvidas com o mercado, pessoas que conhecem do que estão falando e se relacionam com os agentes da cadeia produtiva. Quando a grande mídia fala sobre música, é visível a sua abordagem sobre uma "crise" na indústria musical, independente se é dentro ou fora do País. Fato que a música já passou por diversas fases, e a atual, a dos streamings, que parece mais sólida, ainda dá o que falar, gerando questionamentos e opiniões contra e a favor do seu modo operante. Para você essa "crise" existe mesmo? É um problema exclusivo da música, ou a mídia tem seu papel colaborador? Explique. Acredito que existam ciclos e que o mercado precisa sempre se adequar aos tempos modernos. O streaming é uma realidade, a queda dos números da indústria fonográfica é outra, mas existem hoje oportunidades reais para empreender em diversas escalas, na área música. Falando por mim, tenho um pequeno selo, que hoje é autossustentável, e minha única atividade professional. Nunca serei


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financeiramente rico através do Assustado Discos, mas empreender e viver o que acredito me possibilita ter uma qualidade de vida rara nos dias de hoje. A grande mídia sempre manipulou a informação, hoje não é diferente, ela atua de acordo com seus interesses e conchavos, pode ser perigosa, mas as redes alternativas cada vez mais presentes e profissionais nos ajudam a desmascará-la. Quais os próximos desafios da indústria musical, e como o jornalismo pode se tornar aliado e ferramenta de modificação para a melhora de um cenário?Eu realmente acredito nos pequenos empreendedores, acredito no trabalho com verdade e conteúdo. Acredito na Casa do Mancha, no Laboratório Fantasma, no selo Heart Bleed Blue, no Festival No Ar Coquetel Molotov e no Trabalho Sujo, para citar alguns.A boa comunicação e a boa divulgação tem papeis fundamentais no desenvolvimento de um projeto, acredito que com um bom planejamento nessas áreas o trabalho ganhe um alcance muito maior.


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ANEXO 2

RELAÇÃO DE FONTES CONVIDADAS PARA O TRABALHO

TABELA 1 – Editores-chefes de sites e blogs nacionais consultados para o capítulo 3.

Nome

Localização

Data (período)

Método

Situação

Guilherme Tindel – Portal It Pop

São Paulo, SP

20/05/2016 à 02/06/2016

Email

Aceitou participar, porém não respondeu dentro do prazo

Marcos Lauro – Billboard Brasil

São Paulo, SP

20/05/2016 à 06/06/2016

Email

Respondeu dentro do prazo

Phelipe Cruz – Papel Pop

São Paulo, SP

20/05/2016 à 06/07/2016

Email e Facebook

Aceitou participar, porém não respondeu dentro do prazo

Tony Aiex – Tenho Mais Discos Que Amigos!

Cascavel, PR

20/05/2016 à 31/07/2016

Email e Facebook

Respondeu fora do prazo

Revista Rolling Stone Brasil

São Paulo, SP 04/07/2016

Email

Não respondeu

Andressa Oliveira – Nação da Música

Campo Grande, MS

Email

Respondeu dentro do prazo

PickUp The Headphones

Desconhecido 07/07/2016

Email

Não respondeu

MonkeyBuzz

Desconhecido 11/07/2016

Email

Não respondeu

Roberto Júnior – Qual a Grande Ideia?

Fortaleza, CE

Email e Facebook

Respondeu dentro do prazo

04/07/2016 à 14/07/2016

12/07/2016 à 25/07/2016

TABELA 2 – Jornalistas musicais consultados para o capítulo 4.

Nome

Localização

Data (período)

Método

Situação

Rodrigo Ortega

São Paulo, SP

14/07/2016 à 31/07/2016

Email

Respondeu dentro do prazo

José Norberto Flesch

São Paulo, SP

14/07/2016 à 10/08/2016

Email e Facebook

Respondeu dentro do prazo


124

Marcelo Santiago

Belo Horizonte, MG

27/07/2016 à 09/08/2016

Facebook

Respondeu dentro do prazo

Eduardo Rubi Cavalcanti

Santos, SP

10/08/2016 à 17/08/2016

Email e presencialmente

Ficou de fora do trabalho por escolha do autor

Lucas Krempel

Santos, SP

29/08/2016 à 31/08/2016

Facebook e presencialmente

Respondeu dentro do prazo

Isadora Âncora

Rio de Janeiro, RJ

13/09/2016 à 29/09/2016

Email

Respondeu dentro do prazo

TABELA 3 – Profissionais da música consultados para o capítulo 5.

Nome

Ivete Sangalo

Localização

Salvador, BA

Data (período) 28/08/2016 à 27/09/2016

Método

Situação

Email e telefone

Aceitou participar, porém não respondeu dentro do prazo

Cid Marcos Lima

Santos, SP

29/08/2016

Facebook

Ficou de fora do trabalho por escolha do autor

Play REC Estúdios

Santos, SP

31/08/2016 à 16/09/2016

Facebook e telefone

Não respondeu

Lenine

Desconhecido 09/09/2016

Email

Não respondeu

Banda Supercombo

Desconhecido 09/09/2016

Email

Não respondeu

Banda Zimbra

Santos, SP

13/09/2016 à 17/09/2016

Email e Facebook

Não respondeu

Luiz Dias Luffer

Santos, SP

13/09/2016 à 26/09/2016

Email e Facebook

Respondeu dentro do prazo

Banda Braza

Rio de Janeiro, RJ

19/09/2016

Email

Não respondeu

Ricardo Rodrigues

São Carlos, SP

19/09/2016

Email

Não respondeu

Antônio Augusto

São Paulo, SP

19/09/2016 à 21/09/2016

Email

Respondeu dentro do prazo


125

Lucas Real Fernandes

Rodrigo de Andrade

Guarujá, SP

Passo Fundo, RS

19/09/2016 à 29/09/2016

19/09/2016 à 03/10/2016

Email e Facebook

Ficou de fora do trabalho por escolha do autor

Email

Aceitou participar, porém não respondeu dentro do prazo

Banda Aliados

Santos, SP

20/09/2016 à 03/10/2016

Email

Aceitou participar, porém não respondeu dentro do prazo

Radamés Venancio

Desconhecido

21/09/2016 à 29/09/2016

Email e Facebook

Não respondeu

Rafael Cortes

São Paulo, SP

19/09/2016 à 30/09/2016

Email e Facebook

Respondeu dentro do prazo

Oswaldo Malagutti

São Paulo, SP 01/10/2016

Email e telefone

Recusou

Vinicius Rosa

Rio de Janeiro, RJ

Facebook

Não respondeu

Dani Black

São Paulo, SP 03/10/2016

Email

Não respondeu

Midas Studios

São Paulo, SP 03/10/2016

Email

Não respondeu

Vagner Sued

São Paulo, SP 03/10/2016

Email e telefone

Recusou

Rick Bonadio

São Paulo, SP 03/10/2016

Email e Facebook

Não respondeu

01/10/2016


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ANEXO 3

PROPOSTA EMPREENDEDORA

Visto a possibilidade de expandir a discussão deste trabalho para outros pontos não abordados aqui, a proposta monográfica tem como objetivo mostrar o empenho do autor para a continuidade da pesquisa fora da faculdade. Antes de qualquer coisa, é de interesse do autor ingressar em uma pós-graduação de Jornalismo Cultural, o que abrirá mais o leque de opções de continuidade deste trabalho monográfico. A proposta incluída neste anexo é proveniente do próprio autor, com a colaboração do orientador Marcus Vinicius Batista. Tendo em vista a dificuldade em se montar um negócio a partir de um trabalho monográfico, foi elaborada uma proposta única com processos diferentes que conversam uns com os outros. O primeiro é a criação de um livro a partir desta pesquisa. Este seria o produto a ser vendido, que funcionaria como uma espécie de base para os dois processos seguintes. A sugestão é que, para se tornar um livro, a pesquisa seja ampliada com novas fontes, novos estudos de casos e consequentemente discussões. A plataforma de venda inicial escolhida é o sistema de crowdfunding, por ser uma alternativa cabível para novos escritores. O segundo passo seria a realização de três workshops sobre jornalismo de música internacional para três públicos diferentes. Cada “encontro” é pautado levando em conta a perspectiva de cada público para a discussão: o primeiro, para profissionais e estudantes de jornalismo, explora a posição do jornalista no cenário musical nacional como ação compensatória para a pouca presença do mesmo no cenário internacional; o segundo workshop é voltado para profissionais da música, e busca entender melhor o papel de artistas, gravadoras e produtoras como aliadas à mídia para a melhora da indústria musical; e por fim, o terceiro encontro, para o público em geral, trata das responsabilidades e desafios enfrentados pelo cidadão comum ao criar um blog ou incentivar a discussão do cenário musical internacional em redes sociais, bem como entender o papel de grandes veículos e da indústria musical neste processo. A realização dos workshops também seria um momento para a venda de exemplares do livro. O terceiro e último passo desta proposta empreendedora é a criação de um blog opinativo sobre música. Esta etapa é, talvez, a mais interessante devido à possibilidade do autor já começar a colocá-la em prática, sem a necessidade do livro lançado e dos workshops em curso.


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