um
quintal para o centro
estudo sobre o repertório vegetal em hortas urbanas e quintais na capital e no interior paulista
faculdade de arquitetura, artes e comunicação da universidade estadual paulista “Júlio de Mesquita Filho” trabalho final de graduação orientadora. profa. dra. Marta Enokibara
Lucas Tioda Antonini
11. 2019.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gratidão pelas memórias de infância em meio ao quintal e a terra que produziu tanta experiência a mim, inspirando e me alimentando. Em segundo lugar a todas as pessoas que cultivam a terra e lutam para que ela continue a alimentar. Em especial a meus avós que sempre me mostraram esse caminho. Aos amigos que me acompanharam nas descobertas e aprendizados. Aos quintais, hortas e feiras que me acolheram nesse estudo, mantendo suas culturas vivas. À minha orientadora, professora Marta, que despertou em mim a paixão por descobrir e experienciar repertórios vegetais. Repertórios presentes em cada cantinho verde que trilhei nessa busca.
RESUMO
Pensar na alimentação e sua produção nos levam a diversas reflexões acerca dos processos que envolvem desde a semeadura até o alimento chegar a nosso prato. Ter o conhecimento do que comemos envolve também entender como a agricultura impacta no ambiente e como pode ser repensada para produzir, em menor escala, dentro do espaço urbano, tendo como locus os limites de um jardim. Repensar a relação íntima entre o jardim e a agricultura, retornando ao sentido primordial de suas origens, trazendo o cultivo dos alimentos para esses espaços, é uma possibilidade, nos dias atuais, de novamente aproximar a produção de seu consumidor em seu próprio quintal. Se nesse espaço forem inclusas Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), procurando respeitar e reativar as plantas nativas ou características de uma cultura regional onde se insere o quintal, esse adquire um valor ainda mais amplo. Nesse contexto, a presente Palavras chave: Hortas Urbanas, Quintais, Plantas Alimentícias Não Convencionais.
pesquisa tem como objetivo levantar o repertório vegetal que vem sendo utilizado em
hortas urbanas, quintais e feiras
livres da capital e do interior paulista com experiências ligadas ao tema, com o objetivo específico de comparar e analisar esse repertório para assim constituir um elenco de possibilidades que possam ser incorporadas em projetos. Para atingir tais objetivos será feito, primeiramente, um levantamento de campo em projetos em andamento com experiências ligadas ao tema na capital paulista, para averiguar as plantas utilizadas em hortas urbanas, a fim de coletar a variedade de repertório, região/ país de origem das espécies, forma de plantio e condições de adaptabilidade ao local. Em um segundo momento, a pesquisa se volta para as espécies adaptadas à região de Bauru, verificando quais vêm sendo usadas nos quintais urbanos e periurbanos, bem como nas feiras da cidade. Diante desse repertório vegetal e a infinidade de possibilidades de utilização é que o projeto irá retomar e ocupar um espaço degradado da cidade, ressignificando-o para inseri-lo novamente na dinâmica urbana contemporânea.
.1 1.1.
SUMÁRIO Introdução
10
Objetivos
12
Material e métodos
12
revisão bibliográfica
Alimentação e agricultura
17
1.2. Agricultura urbana
25
Os orgânicos 1.2.1.
27
Os agroecológicos 1.2.2.
28
1.3. Agricultura no jardim, uma retomada
30
1.4. O espaço do quintal
34
1.5. Diversificar com PANCs
36
.2 2.1.
estudos de caso
São Paulo
41
Horta do CCSP 2.1.1.
42
Horta das Corujas 2.1.2.
50
Viveiro Sabor de Fazenda 2.1.3.
58
Análise do Repertório Vegetal 2.1.4.
62
2.2.
Bauru
70
Quintais de Bauru 2.2.1.
70
Feiras de Bauru 2.2.2.
79
Análise do Repertório Vegetal 2.2.3.
83
2.3.
2.4. 2.5.
Comparação e análise do repertório vegetal das hortas urbanas na capital e no 84 interior paulista Outras PANCs encontradas em Bauru
86
Algumas PANCs asiáticas dos quintais e feiras de Bauru
87
.3
o projeto
3.1. O centro da cidade
91
O local escolhido 3.1.1.
91
Habitar o centro 3.1.2.
93
Ressignificar os vazios 3.1.3.
96
Ocupar com o verde | Alimentar o centro 3.1.4.
98
3.2. A intervenção
103
Um pouco de “caos” 3.2.1.
103
O projeto 3.2.2.
105
Considerações finais
136
Referências bibliográficas
137
INTRODUÇÃO
O intento pela temática da presente pesquisa se deu pelos questionamentos acerca dos processos de produção de alimentos, sobretudo, àqueles que se realizam dentro do espaço urbano. A intenção é repensar a produção convencional, aproximando o campo das cidades e principalmente reconectando as pessoas com a terra e o que ela pode gerar.
8
Essa tomada de consciência pública, segundo Hough (1995) aumentou nos anos 90, com a verificação de que “cidades diversificadas e produtivas são uma base fundamental para um futuro sustentável. A conservação do solo, a adaptação da agricultura tradicional a pequena escala, os problemas inerentes da produção química de alimentos e a busca de um maior controle sobre os destinos pessoais e da comunidade, são as bases de ação de um grande número de organizações que buscam uma relação mais humana e integrada com os processos naturais que sustentam a vida” (HOUGH, 1995 apud BATLLE, 2011, p. 58, tradução nossa).¹
A alimentação é o início de tudo. Pensar a relação com nossa existência nos remete àquilo que comemos, a alimentação é responsável pela base das atividades humanas, é o sustento da vida. Ter essa importância em mente e pensar que “somos aquilo que comemos” nos faz refletir se o que nos alimentamos é realmente saudável ou não, visto que a informação da origem dos produtos é dificilmente informada pelos mercados convencionais, além da nossa dependência dos alimentos industrializados ou ultra processados. Pensar em alimentação nos faz refletir também nos aspectos que envolvem a sua produção no campo. Quem produziu e em que terra foi produzido, são alguns dos muitos questionamentos que podem ser trazidos à discussão. Os métodos agrícolas convencionais são extremamente exploratórios, promovem grandiosas desigualdades sociais, impactos ao solo, à vida animal e vegetal, fatos que na maioria das vezes são irreversíveis. Aproximar a agricultura das pessoas e da cidade é um dos
1. “En la década de 1990 ha aumentado la conciencia pública de que las ciudades diversificadas y productivas son una base fundamental para un futuro sostenible. La conservación del suelo, la adaptación de la agricultura tradicional a pequeña escala, los problemas de salud inherentes a la producción química de alimentos y la búsqueda de un mayor control sobre los destinos personales y de la comunidad, son la base de acción de un gran número de organizaciones que buscan una relación más humana e integrada con los procesos naturales que sostienen la vida” (BATLLE, 2011, p. 58).
2. Segundo Claudia Visoni, esse foi o ano no qual se iniciaram as discussões sobre a ocupação dos espaços vazios para o desenvolvimento de hortas pelo grupo de Hortelões urbanos.
meios de nos aproximarmos de nossas origens, valorarmos os processos e entendermos a importância da alimentação consciente e diversificada, produzida de forma “boa, justa e limpa” (PETRINI, 2009). Houve no Brasil, a partir de 2010², uma busca por resolver essa proximidade através das hortas surgidas após intensas discussões dentro do espaço urbano, entretanto, tal relação ainda mostra-se tímida e necessitando de maior engajamento e participação para que existam. Funcionam ainda como uma provocação no meio urbano, uma busca por um espaço produtivo alternativo e de luta, mas que ainda necessita de tempo para inserir-se na consciência da população. Nesse contexto, analisar a viabilidade das hortas no urbano, aproximando-as do contato com as pessoas, traz a possibilidade de repensar o espaço do quintal como locus produtivo, rico em significados e memórias. O quintal já foi um ambiente indispensável para a casa, funcionando como uma extensão das atividades realizadas no interior da habitação para o espaço externo, principalmente na relação de proximidade com a cozinha. Dos diversos papeis
desenvolvidos, ele possuía desde o período colonial uma importante função de ser um local de experimentação de diversas espécies que hoje são comuns nas cidades, algumas nos remetendo às memórias da infância nos quintais de nossos avós com bananeiras, jabuticabeiras, goiabeiras, entre outras diversas plantas presentes nesses espaços. Dessas plantas adaptadas por séculos aos quintais que nasceram diversos pratos carregados de cultura regional, representando patrimônios importantes para que se mantenham vivas essas tradições. A diversidade de plantas encontradas nos quintais pode abranger as convencionais, habituais do uso cotidiano, mas também existem muitas consideradas não convencionais, as chamadas “Plantas Alimentícias Não Convencionais”, mais conhecidas pela sigla PANCs. Esse é o universo da pesquisa que foi escolhido como objeto de estudo para desenvolvimento do Trabalho Final de Graduação.
9
OBJETIVOS
A presente pesquisa possui o
O objetivo específico é comparar
objetivo de levantar o repertório
e analisar o repertório vegetal
vegetal que vem sendo utilizado
que vem sendo utilizado e
e comercializado em hortas
assim constituir um elenco de
urbanas, quintais e feiras livres
possibilidades que possam ser
da capital e do interior paulista
incorporadas em um projeto de
com experiências ligadas à
espaço público produtivo inserido
inclusão de Plantas Alimentícias
no contexto urbano.
Não Convencionais (PANCs).
MATERIAL E MÉTODOS 10
A pesquisa foi dividida em 3 etapas de trabalho: Primeiramente foi feita a revisão da bibliografia pertinente ao tema, discutindo de maneira
MENESES (2015); MOUGEOT (2000); NAGIB (2016); PANZINI (2013); PETRINI (2009);
geral a alimentação, seus
TOURINHO, SILVA (2016).
processos de obtenção por meio
Num segundo momento foram
da agricultura; a produção da
realizadas pesquisas de campo
agricultura no espaço urbano,
tanto na cidade de São Paulo,
tanto nas hortas urbanas como
como no interior – Bauru.
nos quintais. Para esta revisão a
Na capital, foram levantados
pesquisa se apoiou em trabalhos
dois espaços onde ocorre o
de autores como BATTLE
desenvolvimento de hortas
(2011); BRASIL (2014), (2015);
urbanas – a Horta das Corujas
DOURADO (2004); HAEG
e a Horta do Centro Cultural
(2013); LAHM, NÓR (2016);
São Paulo (CCSP); e um viveiro
3. In: <https:// hortadascorujas. wordpress.com/> Acesso em 6 de maio de 2019. 4. In: <http:// centrocultural. sp.gov.br/ site/eventos/ evento/hortacomunitaria-noccsp/> Acesso em 6 de maio de 2019. 5. In: <http:// www. sabordefazenda. com.br/htm/ produtos/ervas/ index.php> Acesso em 6 de maio de 2019.
que produz, de forma orgânica,
comparação desse repertório
grande variedade de espécies – o
com o encontrado nos estudos
Viveiro Sabor de Fazenda – com
de caso feitos em Bauru. Desses
similaridades ao repertório
cruzamentos foi possível uma
vegetal utilizado nessas hortas.
série de comparações, trazendo
A Horta das Corujas foi objeto
como produto final uma
da dissertação de NAGIB
sistematização dos dados da
(2016) e também encontram-
relação de espécies do repertório
se informações em sua página
encontrado ao longo da pesquisa.
online.³ O CCSP possui um site
O objetivo é constituir um
que apresenta a proposta da
elenco de espécies, com registros
horta.⁴ E o “Viveiro Sabor de
tanto visuais, quanto de usos,
Fazenda” possui um site onde
possibilidades de utilização,
é disponibilizada a relação de
época de floração e colheita,
espécies comercializadas.⁵
etc. Além dessa relação foram
Em Bauru foram visitados alguns
organizadas fichas de algumas
quintais e três feiras livres: a que ocorre na praça Nabih Gebara (localizada no Jardim Estoril) realizada às quintas-feiras, com produtos orgânicos; a da rua Virgilio Malta (localizada
PANCs asiáticas significativas que foram encontradas no repertório dos quintais e feiras de Bauru, retomando dessa forma um pouco da memória das receitas, histórias e significados
nos Altos da Cidade) realizada
dessas plantas para os quintais.
às sextas-feiras, com produtos
Como resultado final, pode-se
convencionais; e a da rua Gustavo
obter um elenco de espécies
Maciel (localizada na área
para serem utilizadas no
central da cidade) realizada aos
projeto, inserindo-as em um
domingos, sendo esta a maior e
vazio urbano, com o intuito
mais tradicional da cidade, com
de ressignificar o espaço
diversidade de produtos, inclusive
como um grande quintal para
de PANCs.
a região central da cidade,
Na terceira etapa foram
unindo a produção de alimento,
comparados e analisados os repertórios vegetais dos diferentes estudos de caso da capital, encontrando suas similaridades. Após foi feita a
a diversificação vegetal, a conscientização e o reativamento da memória desse espaço.
11
Partes utilizadas: Folhas, flores e frutos (cálice floral), crus ou cozidos. Ciclo de vida: Anual ou Bianual Época de plantio: Período chuvoso (evitar épocas mais frias) Características: O Hanaumê, como é conhecido pela cultura nipobrasileira, planta arbustiva anual, ereta, ramificada, de cerca de 2 m, cultivada em sol pleno a partir de sementes semeadas em outubro, floração branca/creme nos meses de março e abril, com colheita das sépalas e brácteas no final de abril e início de maio, antes do frio. Nativa da Ásia e África, mas facilmente cultivada em climas quentes como do Brasil. Pode ser comestível como também ornamental. Consumo: O nome deriva das palavras “hana” – flor, e “umê” – ameixa, mas na realidade a parte que se come não é nem flor nem ameixa, sendo uma criação dos imigrantes japoneses no Brasil. A adaptação foi feita para tentar relembrar os sabores da terra natal com ingredientes encontrados aqui, como wé o caso da conserva de Hanaume de cor intensa e sabor ácido, segundo a chefe e embaixadora da Boa Vontade para Difusão da Culinária Japonesa, Telma Shiraishi, do restaurante Aizomê. São várias suas formas de uso, no Maranhão, as folhas picadas fazem parte da receita de arroz de cuxá. As brácteas e sépalas (estruturas das flores) possuem um sabor ácido e uma coloração vermelha intensa e são usadas para a confecção de geleias, sucos e chás. Na medicina caseira o chá é usado para baixar febre, melhorar problemas digestivos e diuréticos. A bebida feita de suas flores é conhecida como água de Jamaica ou água de flor da Jamaica. No quintal: Em Bauru existem em diversos quintais como é o caso da família Hirota. As sementes foram recebidas há vários anos e são plantadas para que se relembre da família e as tradições que envolvem o campo e a cozinha. “Minha mãe plantou a primeira muda e continuo plantando para me recordar dela”, segundo Maria, filha de imigrantes.
Maria e Noboru em meio a plantação do quintal
Vinagreira
Hibiscus sabdariffa
Conserva de hanaumê Ingredientes: . 100 g de cálices de hibiscos frescos . 8 a 12 g de sal . 2 a 4 g de açúcar . 10 g de Shissô fresco ou 2 a 4 g dele desidratado Preparo: 1. Corte a base das sépalas e tire as sementes 2. Lave bem com água filtrada e deixe escorrer para tirar o excesso de água 3. Coloque em um recipiente, polvilhe o sal sobre as sépalas e adicione o açúcar e o Shissô. Deixe descansando por dois ou três dias até que comece a desidratar. O volume do hanaumê irá diminuir e se formará uma espécie de vinagre rosado. 4. Distribua a conserva em potes esterilizados e guarde-a na geladeira.
Vinagreira com quase 2,5 m de altura em período de colheita
.1
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
ALIMENTAÇÃO 1.1.
E AGRICULTURA A alimentação acompanha a história da humanidade, evoluindo conjuntamente desde os primórdios de ocupação da terra para a produção do sustento do homem. O ato de ocupar a terra e iniciar os processos de domesticação da natureza é o que dá o surgimento da agricultura. A partir desse momento, homem e natureza possuem uma íntima relação de troca – cuidar da terra para que ela possa fornecer o alimento. Há diferentes teorias de como o cultivo de alimentos tenha surgido, mas há um consenso geral de que os chamados “caçadores-coletores” tiveram um papel fundamental, iniciando os primeiros aglomerados humanos
Figura 1: Desenho rupestre mostrando a atividade dos “caçadorescoletores”
há mais de 10.000 anos. A vida em sociedade foi, portanto, possibilitada nesse momento, uma vez que podiam fixar-se em um território específico por mais tempo, havendo mantimentos disponíveis a fim de se protegerem de animais, mudanças climáticas ou mesmo de outros “caçadores-coletores” (PENA, 2017) (Figura 1). Nesse momento ocorre o início do processo civilizatório no mundo. Com o fim do nomadismo para a obtenção de alimento, a agricultura passa a fazer o papel fundamental de fornecer a sobrevivência, dando condições necessárias para que a humanidade pudesse evoluir, encontrando no solo o seu
15
sustento e suas raízes, dando origem às ocupações e a formação de comunidades pertencentes a um espaço.
16
No caso do Brasil, entender como a agricultura se desenvolveu nos primeiros tempos, implica em refletir a forma de distribuição da terra, iniciando através da divisão feita pelos portugueses e a exploração das terras indígenas, suprimindo seus domínios e sua cultura. Houve a imposição de um modelo cultural externo na forma de produção, restando pouco das culturas ancestrais de nosso país. Pode-se entender esse método de cultivo pela forma de distribuição de terras, beneficiando uma pequena parcela da população, tendo uma origem segregacionista, que valoriza o domínio de latifúndios e exploradora da mão-de-obra escrava de povos dominados, sobretudo de indígenas e negros. Trata-se de um território formado desde o princípio por uma “sociedade historicamente patriarcal, latifundiária, com ranços coloniais e, ainda, pautada na desigualdade” (LEONEL JÚNIOR, 2016, p. 11 apud SILVA, 2017). Dessa forma, a produção na agricultura convencional se mantém por séculos arraigada nas questões desiguais de
seu histórico, fomentando desenvolvimentos que não atingem a todos, passando por revoluções tecnológicas pensadas apenas para alimentar um sistema que beneficia a poucos. Durante a década de 1960 houve uma mudança drástica no funcionamento das estruturas agrícolas no país, quando disseminou-se um grande aumento na produtividade, promovendo um crescimento econômico, alavancado pelas intensas exportações que fizeram crescer o mercado exterior brasileiro. O movimento responsável por essa ideia de transformação ficou conhecido como a “Revolução Verde”.⁶ A proposta consiste na utilização intensiva de uma tecnologia para trazer um acréscimo na produção, criando sementes híbridas resistentes; insumos industriais na lavoura; mecanização do trabalho; fertilizantes químicos; defensivos agrícolas; inseticidas (Figuras 2 e 3). Tal diretriz deu início a uma série de impactos ambientais com consequências presentes até os dias atuais. Pensava-se inicialmente na erradicação da fome no mundo com esse movimento, entretanto os intentos foram controversos resultando em um processo devastador e incoerente.
6. Expressão criada em 1966 por William Gown, em uma conferência realizada em Washington. Gown idealizava o desenvolvimento dos países com déficit de alimentos, dizendo que seria “a Revolução Verde, feita à base de tecnologia, e não do sofrimento do povo”, responsável por erradicar a fome. Entretanto, o movimento teve vertentes capitalistas que impediram de realizar tal feito, aumentando a produção, mas destinando-a a países ricos industrializados, como Estados Unidos, Japão e União Europeia, deixando de lado os que realmente necessitam. In: <https:// mundoeducacao. bol.uol.com.br/ geografia/arevolucao-verde. htm> Acesso em 29 de abril de 2019.
17
Figura 2: Homem pulverizando produtos químicos em plantação na Índia Figura 3: Agricultor indiano no campo
Nesse contexto, o “Guia alimentar para a população brasileira” de 2014, produzido pelo Ministério da Saúde, traz informações de conscientização acerca da alimentação e dos processos envolvidos, levando em consideração o impacto das formas de produção, sua distribuição pensando nos aspectos sociais e na integridade do meio ambiente (BRASIL, 2014).
“[...] o sistema de produção e distribuição dos alimentos pode promover justiça social e proteger o ambiente; ou, ao contrário, gerar desigualdades sociais e ameaças aos recursos naturais e à biodiversidade. Aspectos que definem o impacto social do sistema alimentar incluem: tamanho e uso das propriedades rurais que produzem os alimentos; autonomia dos agricultores na escolha de sementes, de fertilizantes e de formas
de controle de pragas e doenças; condições de trabalho e exposição a riscos ocupacionais; papel e número de intermediários entre agricultores e consumidores; capilaridade do sistema de comercialização; geração de oportunidades de trabalho e renda ao longo da cadeia alimentar; e partilha do lucro gerado pelo sistema entre capital e trabalho” (BRASIL, 2014, p. 18).
18
Pelos métodos convencionais de produção do sistema agrícola ocorrem, além da distribuição desigual da terra e seus problemas sociais, diversos impactos ao meio ambiente, pois dependem de “[...] grandes extensões de terra, do uso intenso de mecanização, do alto consumo de água e de combustíveis, do emprego de fertilizantes químicos, sementes transgênicas, agrotóxicos e antibióticos e, ainda, do transporte por longas distâncias. Completam esses sistemas alimentares grandes redes de distribuição com forte poder de negociação de preços em relação a fornecedores e a consumidores finais” (BRASIL, 2014, p. 19-20).
Segundo o Centro Regional de Assessoria e Capacitação (CERAC), desde 1985 diversos
venenos como o “DDT, ELDRIN, ALDRIN, DIELDRIN, CLORDANE E LINDANE, HEPTACLORO, GRAMA BHC, PARATHION AZODRIN, NUVACRON, ALDICARB (TEMIK), GELECRON FUNDAL, 02-4-3T (Agente Laranja), EDB, DBCP, PARAQUAT FUNGICIDAS a base de Mercúrio” (CERAC, 2009), são considerados altamente tóxicos e proibidos em vários países, com exceção ao Brasil que continua sendo usado por famílias de agricultores que não possuem instrução sobre a toxicidade do produto utilizado nos campos (CERAC, 2009). Além desses exemplos, uma lista de novos agrotóxicos foi inserida para comercialização, autorizados por medidas governamentais que não se preocupam com os riscos ambientais e de saúde da população. Foram aprovados em 2018, 450 registros de defensivos, o maior número em 13 anos. Em apenas dois meses desde o início do ano de 2019 foram aprovados 74 registros, dos quais 58 foram oficializados para comercialização. Desses, “21 são considerados extremamente tóxicos; 11, altamente; 19, medianamente; e 7, pouco tóxicos” (FOLHA DE SÃO PAULO, 2019).⁷ Mesmo que já existam diversas recomendações da Organização das Nações
7. Publicação no portal da Folha de São Paulo. “Registro de agrotóxicos cresce e atinge maior marca em 2018” In: <https://www1. folha.uol.com.br/ mercado/2019/03/ registro-deagrotoxicos-nobrasil-cresce-eatinge-maiormarca-em-2018. shtml> Acesso em 23 de abril de 2019.
8. Movimento gastronômico nascido na Itália, em 1986, que pensava as alterações sofridas pelos alimentos no processo de industrialização, preocupando-se não apenas com a qualidade do produto final, mas desde a terra onde é cultivado, quem o cultiva e por fim o consumidor. Não há a eliminação do processo industrial, mas que possa ser reconduzido à sustentabilidade e a valorização do processo ancestral, inserindo no produto os custos ambientais e sociais ao custo real, mas sem deixar de ser acessível a todos. In: <https://www. slowfood.com/ptpt/quem-somos/anossa-historia/> Acesso em 23 de abril de 2019.
Figura 4: Logo do movimento “Slow Food”
Unidas (ONU) para a retirada de agrotóxicos altamente perigosos, o Brasil ainda aprova e amplia o uso desses componentes. O uso de diferentes tipos de fertilizantes e agrotóxicos para atingir a máxima produtividade do campo foi uma das consequências da Revolução Verde, gerando oposições como o movimento Slow Food⁸ (Figura 4), durante a década de 1980. Esse movimento contrário à Revolução e ao Fast Food disseminado nas grandes redes de alimento, em especial, o McDonald’s, buscou opor-se à momentaneidade que a produção de alimentos atingia, defendendo não apenas o prazer envolvido ao alimento em torno da refeição, mas defender a importância da diversidade de sabores e aos processos artesanais de cada alimento, associados ao respeito com os ciclos naturais. É levado em consideração não apenas o sabor ou o produto final, mas olhar de uma forma ampla as questões que envolvem todo o processo de produção, pensando desde o produtor, o meio ambiente, terminando no prato e na maneira de como se come. São propostos três parâmetros indissociáveis que dizem respeito ao “alimento bom, justo e limpo”. “Bom”, pelo aspecto belo, de sabor e de qualidade nutricional;
“limpo”, pois se preocupa com as questões de impacto mínimo ao meio ambiente; e “justo”, pois torna-se acessível, possuindo preços justos que beneficiem o produtor e o consumidor em toda a cadeia produtiva (PETRINI, 2009). Portanto, não se pode pensar apenas no prato sem pensar no que está ao redor. Carlo Petrini, um dos fundadores do movimento, se questiona em “como desindustrializar a agricultura?” (PETRINI, 2009). Por ser uma questão ideológica e difícil para se colocar contra o modelo de consumo que move a economia, ele responde à pergunta afirmando que tudo está no poder de escolha do consumidor, que necessita repensar e questionar o sistema, recusando o que não é natural, de produção intensiva e em monoculturas. Recusar um sistema que visa apenas o lucro e a produção desmedida, que não se preocupa com os custos ambientais, sociais e culturais intrínsecos a cada alimento. O consumidor, com essa consciência, passa a ter o poder de escolha de evitar que a comida se torne um mero produto de consumo que não considera essas questões. Há a defesa e a valorização do agricultor, realizando uma reconexão do homem com
19
o campo para promover um novo tipo de agricultura, não significando retornar ao passado, mas repensar os erros cometidos para que haja mudanças. Petrini (2009) afirma também que para isso deve haver um equilíbrio entre o tradicional e o moderno, possibilitando um diálogo entre a indústria e a cozinha popular; o desenvolvimento de pesquisas que não atuem apenas pela produtividade, mas também em benefício das comunidades produtoras e da agricultura em pequena escala.
20
Pensa-se em produzir cada vez mais, mas não há a produção de alimento para que a população coma bem. Como exemplo, grande parte das terras são ocupadas por monoculturas de soja e milho - todos modificados geneticamente - para tornaremse ração e alimentos ultraprocessados. Esta questão afeta diariamente nossa mesa, pois se mantermos nossos hábitos alimentares, o mundo não conseguirá suprir a demanda. Especificamente, no caso do consumo de carnes, atualmente a maior parte da terra serve para produzir comida para os animais que comemos. Dessa forma, a terra perde a função de produzir alimentos para as pessoas que necessitam dela para seu sustento, beneficiando apenas
uma pequena parcela que visa o mercado. Isso mostra que “[...] a prioridade para a produção não é ditada por elementos sociais, mesmo sendo utilizada dissimuladamente para garantir os privilégios econômicos dos setores ruralistas, a despeito da destruição da natureza. Tanto é que [...] os produtos mais plantados pelo setor agrícola nacional estão longe de ser o arroz e o feijão, que são responsáveis pela alimentação básica do/a trabalhador/a brasileiro/a. O preponderante é o plantio de cana, do eucalipto, da soja e a criação de gado pelos grandes proprietários de terra” (LEONEL JÚNIOR, 2016, p. 33-34 apud SILVA, 2017).
Não há países onde o agronegócio consiga produzir a maior parte dos alimentos consumidos por sua população local, sendo que grande parte de todo o alimento produzido não chega a ser consumido pelo homem, grande parte é exportada e a outra parcela é desperdiçada. Há então diversos fatos que causam inúmeros questionamentos. Pelos hábitos em excesso, a produção de alimento gera comida para 12 bilhões de pessoas, mas somos apenas 7 bilhões e 300 milhões, o restante é desperdiçado. Segundo a
9. In: <http:// midianinja.org/ news/carlopetrini-por-queestao-destruindoa-agriculturafamiliar-nobrasil/> Acesso em 23 de abril de 2019. 10. In: <https:// nacoesunidas. org/mais-deum-bilhao-detoneladas-dealimentos-saodesperdicadaspor-ano-alertafao/> Acesso em 23 de abril de 2019. 11. FAO – Food and Agriculture Organization. 12. In: <https:// nacoesunidas. org/mais-deum-bilhao-detoneladas-dealimentos-saodesperdicadaspor-ano-alertafao/> Acesso em 23 de abril de 2019. 13. In: <http:// midianinja.org/ news/carlopetrini-por-queestao-destruindoa-agriculturafamiliar-nobrasil/> Acesso em 23 de abril de 2019.
Figura 5: O desperdício de alimentos no CEAGESP de São Paulo
ONU, em 2050 estima-se que a população atingirá 9 bilhões de pessoas.⁹ Se a produção atual supera esse valor, seria uma loucura pensar em produzir mais. Entretanto a distribuição equivocada dessa produção e o desperdício impedem que o mundo seja alimentado de maneira justa. O desperdício atinge aproximadamente 1,3 bilhões de toneladas todos os anos, sendo que cerca de 1/3 da produção anual vai para o lixo¹⁰ (Figura 5). Esse estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)¹¹ revela que “o desperdício é maior nos países ricos, enquanto a perda de alimentos durante a produção é mais frequente em países pobres, devido à precariedade da tecnologia e da infraestrutura”,¹² motivo agravado pela falta de
conscientização sobre o assunto. Não há educação alimentar na escola e se torna muito frequente e naturalizado a manutenção dos hábitos de desperdício. Além disso, Petrini (2018) aponta que um dos grandes problemas dessa ausência de educação alimentar é a perda de conhecimentos passados dos pequenos produtores para a população. Não se sabe mais de onde vem nosso alimento. “Em um momento como esse, por que estão destruindo a agricultura familiar no Brasil? eu não me encanto em ver que o agronegócio vai bem, no Brasil a fome está voltando, e você vem me fala da exportação? Antes da exportação, necessitamos que o brasileiro coma bem!” (PETRINI, 2018, em entrevista ao portal Mídia NINJA).¹³
21
Fortalecer a relação entre produtor e consumidor é um passo fundamental, pois a partir disso se dá valor àquilo que se come, alimentando-se com produtos locais produzidos por agricultura familiar. Ser local é importante, pois não depende de cadeias de transportes, o que gera menos impactos – “o alimento a 0 km” –, além de representar um produto mais fresco. “Eu prefiro um produto local a um que precisou atravessar continentes. Essa é uma coisa incrível, comer e ajudar a economia local” (PETRINI, 2018). “A segurança afetiva é muito importante se você quer
22
realizar um desafio por outras pessoas. Tem que ser afetivamente entregue. Isso é comunidade. O futuro é construir comunidades em que um desafio forte é a seguridade afetiva. Isso é uma força enorme, que na política não existe mais, pois muitas vezes nos mesmos
manutenção de uma comunidade consolidada, representa também a salvaguarda de hábitos alimentares ancestrais muito vulneráveis ao desaparecimento. Protege-se a floresta e também a “cultura do respeito” por aquilo que se come e principalmente a terra que o produz. A comida materializa um patrimônio cultural regional, um símbolo de identidade de um povo. Pollan (2004, apud BRASIL, 2015) afirma que existe um perigo dessa identidade regional perder-se pela iminente dissipação do patrimônio alimentar, causada por mudanças tecnológicas, referências externas e o mercado. Essas culturas regionais, mesmo que vulneráveis, ainda podem sobreviver, pois a cozinha e os costumes são espaços sociais de resistência, como visto pela história da alimentação ao longo de séculos (BRASIL, 2015).
partidos só há contraposição,
“De maneira geral, o
não há construção.
indivíduo necessita de
A melhor escola para isso são os indígenas, porque eles são uma comunidade. Os indígenas têm uma realidade com uma visão muito próxima da natureza, e precisamos escutar suas vozes” (PETRINI, 2018).
Esse cuidado que os indígenas têm com a floresta e a
símbolos para entender sua realidade social, sua comida, seu sustento material, sentirse num mundo comum e se reconhecer como sujeito de sua realidade. A comida o identifica enquanto personagem de seu território, um ethos textualizado, uma cultura, um valor, um pertencimento. Nesse
sentido, tem-se o exemplo dos emigrantes europeus do final do século XIX (alemães, italianos etc.), que foram para o Sul e Sudeste com sua cozinha étnica, misturando seus hábitos com os produtos da terra (basicamente, de raízes e farinhas) e as culturas tupi e guarani. No Centro-Oeste, a capacidade de conservar valores locais dos povos indígenas produz permanentemente hábitos característicos, como temperos, bebidas e tubérculos. Uma manifestação intertextual sinaliza em qualquer dessas populações o modo de comer, a concepção
Assim, compreender essa relação do alimento com a cultura local não significa apenas uma questão de identidade, mas um envolvimento com todos os elementos que constituem o meio, o que está à volta, os recursos naturais, as relações que se tem com o mercado num contexto capitalista. Nesse sentido, resistir por uma soberania alimentar é manter viva a cultura desses povos, respeitando a diversidade da produção da agricultura familiar e sua relação direta com a terra e o alimento que geram esses significados.
do indivíduo ou grupo social sobre sua comida e revela a história, a identidade social,
23
o acesso e escolhas de seus alimentos” (WOORTMAN, 1978, apud BRASIL, 2015).
1.2.
AGRICULTURA URBANA Segundo Lahm e Nór (2016), os pequenos fragmentos de espaços verdes que ainda restam nas cidades estão sendo absorvidos pelo mercado imobiliário, transformando essas áreas em uma mercadoria, deixando de exercer sua função social como espaço público para perder-se como uma “terra de ninguém”.
Nesse contexto, a produção dentro do espaço urbano converge numa junção de diversos fatores complexos que envolvem principalmente o desenvolvimento, buscando uma forma de ajudar a resolver ou a enfrentar essas questões, agravadas pela “insegurança alimentar e a pobreza urbana”
(MOUGEOT, 2000). Como resposta a esses conflitos, reduzir as distâncias, os impactos da cadeia produtiva, as escalas e o desperdício são motivações fundamentais para que se possa inserir a agricultura no meio urbano, fomentando os movimentos das “hortas urbanas”. Esses espaços além de produzirem alimento, integram a comunidade, incentivam a ocupação da cidade, promovem principalmente a consciência de que a terra e os alimentos são bens comuns aos quais todos têm direito (LAHM; NÓR, 2016).
24
O artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 contempla a alimentação como um direito. Discutida em 2010 no Brasil, por amplo processo de mobilização social e aprovada como Emenda Constitucional de nº 64, inclui no artigo 6º da Constituição Federal, o Direito à Alimentação como um direito fundamental.
Além desse direito primordial, existe ainda o direito à alimentação adequada, presentes na Lei nº 11.346 de 2006, que é definido pelo “acesso físico e econômico de todas as pessoas aos alimentos e aos recursos, como emprego ou terra, para garantir esse acesso de modo contínuo” (CONTI, 2014).¹⁴ “A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população” (BRASIL, 2006, art. 2º).
“A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade
“São direitos sociais a
suficiente, sem comprometer
educação, a saúde, a
o acesso a outras
alimentação, o trabalho,
necessidades essenciais,
a moradia, o lazer, a
tendo como base práticas
segurança, a previdência
alimentares promotoras
social, a proteção à
de saúde que respeitam a
maternidade e à infância,
diversidade cultural e que
a assistência aos
sejam ambiental, cultural,
desamparados, na forma
econômica e socialmente
desta Constituição” (BRASIL,
sustentáveis” (BRASIL, 2006,
2010, art. 6º da C. F.).
art. 3º).
14. In: <http:// www4.planalto. gov.br/consea/ comunicacao/ artigos/2014/ direito-humanoa-alimentacaoadequada-esoberaniaalimentar/ #acontent> Acesso em 30 de abril de 2019.
As hortas urbanas, por terem em sua ideologia esse acesso do direito à alimentação adequada e igualitária, são um instrumento que propicia o cultivo e a
1.2.1. 15. In: <https:// www.oeco.org. br/dicionarioambiental/28593o-que-saoalimentosorganicos/> Acesso em 1 de maio de 2019.
distribuição de alimentos orgânicos e agroecológicos, cujas definições são expostas na sequência.
OS ORGÂNICOS Os denominados “alimentos orgânicos” são aqueles isentos de todo tipo de contaminante que possa causar danos à saúde ambiental ou humana, seja dos produtores ou consumidores. Dado o fato de não receber procedimentos químicos ou industriais, podem ser considerados mais saudáveis. Sua produção se dá por meios naturais de controle de pragas, diversificação das culturas, maximização dos benefícios sociais, minimização da dependência de fontes energéticas não renováveis para oferecer produtos sadios (Portal ((o))eco, 2014).¹⁵ É um ideal de produto produzido por “[...] um sistema sustentável que tome a natureza como modelo, que dispense o uso de substâncias químicas sintéticas como também qualquer tipo de insumos adquiridos, e que devolva ao solo tanto quanto extraia dele” (POLLAN, 2007, p. 176, apud NAGIB, 2016, p.
83). Trata-se de um ideal árduo de materializar-se, mas que contém muito envolvimento e significados para quem produz. “Hoje, de uma maneira geral, há um movimento de alguns setores da sociedade (não dá para falar que é generalizado) em direção a uma alimentação mais saudável. E o orgânico está dentro disso. (...) Obrigatoriamente precisa haver uma conversão para o orgânico, não ter agrotóxico ali é fundamental para a preservação. (...) Cada vez mais a noção de sustentabilidade, pelo menos na Europa, coloca a questão da proximidade entre o local de produção de alimentos e a cidade. Para evitar que o alimento tenha que percorrer enormes, às vezes até atravessando continentes, para chegar no mercado consumidor” (BONDUKI, 2014, Apud NAGIB, 2016, p. 79).
25
Mesmo com as dificuldades e entraves econômicos, há diversos incentivos por meio de legislações como a que normatiza e certifica a produção e comercialização de orgânicos (Lei Federal nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003),
1.2.2.
26
regulamentada pelo Decreto nº 6.323, de 27 de dezembro de 2007 (Brasil, 2007). Tal iniciativa promoveu um impulso para a atividade orgânica que vem crescendo ano a ano (VILELA et al, 2019).
OS AGROECOLÓGICOS
Os denominados produtos “agroecológicos” representam a junção daquilo que é defendido pelo movimento orgânico, conjuntamente com outro modelo de agricultura que tenha função social e ambientalmente mais equilibrada, buscando vencer os paradigmas comuns à produção convencional. “Resiliência”, “sustentabilidade” e “horizontalidade” são palavras relacionadas aos intentos do movimento (NAGIB, 2016). Dessa forma, segundo Altieri (2012), para a agroecologia há 4 pontos que confirmam e justificam tais características: “Seu papel enquanto mobilizadora social, ao requerer a participação dos agricultores; Sua abordagem acessível, já que está baseada em sabores tradicionais e dialoga com a ciência moderna; Sua capacidade de promover
técnicas economicamente viáveis, já que evita a dependência de recursos externos; É ecológica, já que promove a diversidade e otimiza o desempenho do sistema produtivo” (ALTIERI, 2012, Apud NAGIB 2016, p. 92-93).
Neste contexto, segundo Nagib (2016), a agricultura urbana pelos preceitos agroecológicos representa uma alternativa de grande viabilidade por diversos fatores, como: . Menor dependência de insumos externos, o que facilita o manejo cotidiano dos hortelões; . Auxilia no processo de ampliação do mercado de produtos orgânicos, beneficiando os pequenos produtores de agricultura familiar, conscientizando da prática para promover melhor qualidade
dos alimentos e conservação ambiental;
além da redução dos custos com a alimentação familiar.
. Funciona como uma ferramenta para o desenvolvimento de políticas ou programas públicos de educação socioambiental;
Para a implantação e manutenção, os custos também são pequenos, pois há o reaproveitamento de muitos materiais encontrados, apresentando inúmeras possibilidades, podendo ocupar o quintal de casa ou qualquer solo disponível. O mais importante é a mobilização popular.
. É uma forma de resgatar e preservar espécies cultivares adaptadas às condições locais, o que respeita os ciclos de plantio e colheita de cada uma; . É um meio de controle alternativo e não poluente de pragas, promovendo a adaptação da produção agrícola ao meio urbano; . É um mecanismo de reaproveitamento dos resíduos orgânicos da cidade, já que pode produzir seu próprio adubo por meio de processos de compostagem desse material. O manejo desse adubo deve ser orientado para que possa produzir os nutrientes necessários ao solo. Tal prática representa uma grande redução dos resíduos, principalmente da população que vive próxima às hortas. Dessa forma, além dos fatos anteriormente citados, a produção dentro do espaço urbano pode representar um auxílio para a renda de muitas famílias caso a produção seja voltada para a comercialização,
No contexto brasileiro atual, esses espaços verdes podem sofrer pela pouca ou inexistente regulamentação, funcionando como uma alternativa de ocupação dos vazios urbanos. Tal ato representa uma forma de resistência, devendo ser feita com cautela já que esses mesmos espaços podem acabar pela falta de planejamento ou má gestão do próprio movimento. Por não fazerem parte ainda de nossa cultura, comumente podese haver uma grande mobilização inicial, reduzindo a participação ao longo do processo por necessitar de tempo e dedicação das pessoas envolvidas. Mesmo com a atividade constante de mutirões, há sempre a necessidade de alguns hortelões ativos, principalmente aqueles que habitam próximos a esses espaços para que haja a manutenção diária. Esse é um
27
exemplo de atividades que serão abordadas na Parte 2 do presente trabalho. Mesmo com esses impasses e dificuldades de se manterem, a horta e o “ativismo verde”,
1.3.
28
representam nesse contexto uma forma de ir contra a dominante produção convencional, retomando a produção diversificada e voltada para o benefício das pessoas do próprio local.
AGRICULTURA NO JARDIM, UMA RETOMADA
O autor Enric Batlle (2011) traz reflexões do jardim inserido na metrópole e sua relação íntima com a agricultura. Segundo Batlle, “se a agricultura é uma das origens do jardim, é lógico que, depois de um longo período de máxima artificialidade e perda das origens, pensa-se que o jardim pode voltar para a agricultura, pode ser agricultura” (BATLLE, 2011, p. 25).¹⁶ Assim como a agricultura nasce da necessidade do homem em domesticar e dominar os métodos de cultivo das plantas, o jardim possui como significado a materialização desse domínio da natureza, aproximando do homem essa relação, dessa forma atribuindo ao jardim o testemunho vivo do momento cultural, de riquezas, do valor simbólico e religioso dos povos.
Ao longo da história, segundo Batlle (2011) a prática do desenho dos jardins deriva-se da agricultura, de forma direta, transferindo as imagens agrárias para o jardim, ou indiretamente, utilizando-se das técnicas obtidas com a agricultura para a construção deles. Dessa forma, tanto as imagens como as técnicas facilitaram suas utilizações na configuração da paisagem e do significado de jardim para a metrópole. O mesmo autor elucida como seria um “jardim de agriculturas” inserido na metrópole, representando resposta à ocupação dos vazios urbanos, “áreas sobrantes”, com imenso potencial de uso por meio da agricultura, resolvendo a formalização, o uso e a manutenção desses vazios, sem
16. “Si la agricultura es uno de los orígenes del jardín, es lógico que, después de un largo período de máxima artificialidad y pérdida de los orígenes, se piense que el jardín puede regresar hacia la agricultura, puede ser agricultura” (BATLLE, 2011, p. 25).
17. “El jardín de agriculturas es una estrategia que trata de estabelecer una nueva relación entre estos espacios y la metrópoli en los que se encuentram. Una estrategia que requerirá nuevas consideraciones, nuevos límmites entre la agricultura y la metrópoli - unos nuevos límites claros, estables, definidos - que permitam evitar la especulación habitual sobre estos espacios - considerados normalmente como páramos en proceso de possible ocupación -, que ya no serán vacíos, sino llenos, que ya no serán lugares que hay que proyectar, sino lugares con los que establecer nuevos vínculos” (BATLLE, 2011, p. 59-60).
haver a necessidade de esperar por operações que visem ocupar esses espaços. A agricultura pode-se encarregar disso. Ela pode reabilitar essas áreas, promovendo novas relações com a cidade.
como um palco verde ornamental para as terras dos grandes proprietários ingleses do século XVIII. O verde simbolizava a saúde e o poder para essa classe. “Já que a terra fértil em frente da propriedade se transformou
“O jardim de agriculturas
em monocultura estéril, onde
é uma estratégia que tenta
é que o cultivo de alimentos
estabelecer uma nova relação
acontece? Fora da vista, é
entre esses espaços e a
claro, escondido numa área
metrópole em que se encontra.
remota da propriedade, onde
Uma estratégia que exigirá
os visitantes e o dono da terra
novas considerações, novos
nunca o verão. É provável
limites entre a agricultura e
que venha daí a noção de
a metrópole - novos limites
que plantas que produzem
claros, estáveis e definidos
alimentos são feias e não
- que permitem evitar a
devem ser vistas. Hoje essa
especulação habitual sobre
ideia já se sustenta sozinha
esses espaços - normalmente
numa escala industrial
considerados como parados
global, com os produtos que
no processo de ocupação
consumimos sendo cultivados
possível -, que não serão
do outro lado do planeta. A
mais vazios, mas cheios, que
única paisagem digna dos
não serão mais lugares para
olhos do público é aquela
projetar, mas lugares para
constituída de ornamentos
estabelecer novos vínculos”
aparados a 2 centímetros
(BATLLE, 2011, p. 59-60,
de vida, que, inóspitos para
tradução nossa).¹⁷
outras criaturas, nunca mudam com as estações e, por
Uma forma de entender a perda da função produtora, segundo Haeg (2013), está na representação do jardim em estilo inglês, empregado por muitos anos, que ainda se mantém como herança formal nos extensos gramados projetados. Esteticamente não era mais interessante haver uma lavoura na frente da casa, fazendo com que o gramado funcionasse
isso, são sempre os mesmos” (HAEG, 2013).
Durante o período de guerras mundiais, houve práticas de incentivo que tentaram retomar a produção dentro do ambiente doméstico, nos chamados “Jardins de Guerra”, e mais tarde, os “Jardins da Vitória” (HAEG, 2013). Os campos estavam devastados, fazendo com que o plantio em menores
29
escalas fosse uma alternativa viável para conseguir alimentar a população nesse período. Nos Estados Unidos, ao final da segunda grande guerra, segundo Haeg (2013), cerca de 80% das donas de casa estavam cultivando alguns dos seus alimentos, fato que foi diminuindo rapidamente no pós guerra, fazendo com que tanto os jardins como o conhecimento popular de cultivo fossem perdidos.
30
Um dos testemunhos que ainda sobrevivem como modelo são os Schrebengärten alemães iniciados na Berlim do século XIX. Esta foi uma alternativa desenvolvida por programas sociais para criar cinturões verdes nas periferias, havendo jardins comunitários que produziam desde flores a alimentos, o que representava uma forma de descanso para a conturbada vida urbana. Hoje, alguns desses jardins sobrevivem por toda a Alemanha, simbolizando tanto uma memória de um passado agrário quanto uma busca por um futuro utópico (HAEG, 2013). Representam uma consciência criada do jardim como responsável por uma função social. Pensando o jardim além de suas significações na história, filosoficamente e conceitualmente, ele é capaz de
ser um sistema praticamente independente, constantemente em processo de transformação, um “jardim em movimento” (CLÉMENT, 2014)¹⁸ (Figura 6). Ele resiste às mudanças de alguma forma, e mesmo que possa sobreviver, ele necessita ainda da mão do homem que busque manter a dinâmica do jardim em concordância com a natureza e não contra ela. Segundo Clemént (2014)¹⁹, “os jardineiros sabem há séculos que dominar a natureza é uma ilusão. A natureza transforma e inventa constantemente”. Observar a transformação do jardim é um processo fundamental para o entendimento dos processos naturais conforme afirma Clément, “o jardim não é ensinado, ele é o professor” (CLÉMENT, 2016).²⁰ É o mesmo autor, ainda, que trás uma grande reflexão sobre o papel do jardineiro no jardim, afirmando que, “Até o início do século XXI o jardineiro era o arquiteto do jardim, o provedor de flores, de frutos, de legumes, aquele que cortava a grama, irrigava e adubava, subitamente o vemos aparecer como responsável pelo que é vivo, protetor de uma diversidade da qual a humanidade depende. Ninguém está preparado para
18. In: <http:// leblogdeviviane. free.fr/index. php/2014/10/19/ le-jardin-enmouvement-degilles-clement/> Acesso em 13 de maio de 2019. 19. Tradução livre de “Les jardiniers savent depuis des siècles que la maîtrise de la nature est une illusion. La nature transforme et invente sans arrêt” (CLÉMENT, 2014). Para Clément, seu jardim é o resultado do comportamento entre as espécies e os elementos que compõem seus ciclos. Ele busca enfatizar os processos naturais sem perdê-los por uma forma pré-estabelecida em projeto. Portanto, quer que a natureza possa participar ativamente em sua intervenção. A ação do paisagista em sua concepção, é de potencializar os processos. O jardim trabalha uma relação de limite entre arte e a natureza predominante. In: <https:// reporterre.net/ Gilles-ClementJardiner-c-estresister> Acesso em 13 de maio de 2019.
20. Tradução livre de “Le jardin ne s’enseigne pas, il est l’enseignant” (CLÉMENT, 2016). In: < https://www. franceculture. fr/emissions/ college-defrance-40-leconsinaugurales/ gilles-clementjardins-paysageet-genie-naturel> Acesso em 19 de maio de 2019.
esse papel, adverte. Porém, o jardim de hoje e o de amanhã devem integrar essa prática exploradora - da proteção da vida - sem a qual se coloca em risco inclusive o jardineiro. Assim, concordando ou não com as mudanças anunciadas pela ecologia, os passageiros da terra, deveriam optar por tornarem-se jardineiros em vez de ficar ocupando o território a partir de suas simples obliteração do espaço ou da sua brutal exploração”
Como forma de reconexão ao cultivo e a redução máxima de escalas se chega ao espaço do quintal, ou uma retomada de seu significado inicial como representante do imaginário de um “jardim de agriculturas”. O espaço de múltiplos significados do cotidiano, o ambiente que outrora era responsável por formar os espaços verdes e produzir alimentos (DOURADO, 2004).
(CLÉMENT, 2013. Apud OLIVEIRA, 2015, p. 69).
“Le jardin ne s’enseigne pas, il est l’enseignant” Figura 6: O jardim em movimento – Jardins du TiersPaysage, SaintNazaire, França
31
1.4.
32
O ESPAÇO DO QUINTAL
O quintal é indissociável dos significados e da composição tradicional de uma casa. Durante o período colonial, ele nasce conjuntamente com a casa brasileira, tornando-se parte inseparável dela, sendo o coração da vida doméstica (DOURADO, 2004). Ele representa uma relação entre passado e presente no espaço urbano, deixando de ser um local meramente funcional para ser um espaço ligado à memória. Para muitos, o ambiente do quintal é uma recordação de um espaço que está se perdendo nas cidades.
Durante os séculos XVIII e XIX, os viajantes naturalistas como o botânico francês Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire, mais conhecido como Auguste de Saint-Hilaire, ficaram impressionados com a diversidade de plantas cultivadas nos quintais mineiros, sendo vistas muitas das plantas que fazem parte da memória coletiva e dos costumes do povo mineiro, como o caso das bananeiras encontradas em grande parte dos quintais (MENESES, 2015). “Nota-se que todas as vezes que descrevo vilas e aldeias
Esse espaço no passado tinha a importante função de prover parte dos alimentos para as casas, tendo uma íntima relação
das regiões auríferas, refiro-
com a cozinha e funcionando como a extensão do ambiente doméstico, significando quase um complemento a essa parte da residência (MENESES, 2015). Como produtor de alimento, ele foi também palco de experimentação e disseminação de diversas espécies que hoje fazem parte do nosso cotidiano, tanto de hortaliças, temperos, ervas medicinais e árvores frutíferas.
grande recurso para os
me ao plantio das bananeiras junto de cada casa. Os frutos dessas imensas ervas, muito sadios e nutritivos, são um pobres, que os comem com farinha e milho” (SAINTHILAIRE, 1974. apud MENESES, 2015 p. 83).
Nos quintais, a cultura produzida e a memória são geralmente relacionadas com alguma planta existente nesses espaços. Além da bananeira, podem ser citadas jabuticabeiras, marmeleiros, mamoeiros (SAINT-HILAIRE, 1974. apud MENESES,
2015), laranjeiras, cidreiras, limoeiros, limeiras, jaqueiras, maracujazeiros, goiabeiras, abacaxis, cajuzeiros (DOURADO, 2004), entre outras frutíferas características. Dessa forma, a cultura mineira, muito relacionada aos hábitos alimentares, provavelmente tiveram suas origens nos quintais, segundo Meneses (2015), aproveitando de tudo que era produzido para criar os pratos tão estimados que caracterizam a gastronomia mineira, tida como um dos principais valores para a sua cultura. São pratos carregados de história que vivem no cotidiano dos lares populares. Os quintais podem ser espaços onde ocorre a manutenção de uma diversidade vegetal, do conhecimento e preservação de plantas quase em desuso. Sendo patrimônios suscetíveis ao desaparecimento, pois cada vez mais os hábitos alimentares modificam essas tradições, fazendo com que a transmissão desses conhecimentos seja interrompida, além da descontinuidade do cultivo, de forma que identificar e utilizar tais plantas na alimentação seja algo raro. Pensando como ocorreu a transformação dessa imagem pretérita para o modelo contemporâneo de quintal, cada
vez mais reduzido, retomamos as influências da urbanização moderna, o crescimento populacional e das cidades. Nesse contexto, a mudança sofrida é decorrente principalmente do processo de desenvolvimento industrial, a mecanização do campo e a consequente alteração dos hábitos de consumo da população. Esses fatos fizeram com que o capital e a pressão do mercado imobiliário suprimissem esse espaço da concepção arquitetônica das novas moradias, sobretudo as verticalizadas surgidas após 1930 (TOURINHO; SILVA, 2016). Aos poucos a realidade do quintal nos espaços urbanizados das grandes cidades foi sendo reduzida ou simplesmente suprimida. “À medida que as cidades cresciam, se intensificou o uso e a ocupação do solo urbano, por meio da construção de empreendimentos imobiliários verticalizados. Neste contexto, os quintais se tornam mercadoria valiosa, incorporando crescente valorização imobiliária. Os agentes imobiliários avançam em direção aos espaços privados naturais tradicionais das antigas residências urbanas com amplos quintais” (TOURINHO; SILVA, 2016, p. 647).
O resgate do imaginário dos quintais como elementos
33
significativos para a concepção da casa, funcionando como um espaço verde capaz de simbolizar pelas suas plantas uma cultura viva, representando um contato com espaços, lugares e paisagens que não são necessariamente urbanos ou rurais, mas capazes de materializar uma confluência de “territórios”. Nesse espaço múltiplo são revelados sentidos, memórias, experiências que podem estar presentes ou
1.5. 34
simplesmente esquecidas pela vida urbana. Para que não se perca, seria preciso retomar essas vivências não apenas nos sentidos e significados, mas também o caráter de alimentar, de ser experimental, de abraçar um amplo repertório vegetal capaz de preservar culturas. Dessa forma, trazer de volta o contato com um ambiente vivo, diverso e espontâneo.
DIVERSIFICAR COM PANCs
O cultivo massivo de plantas convencionais para a alimentação faz com que apenas uma pequena quantidade de espécies sejam conhecidas e consumidas pela população, limitando o repertório, muitas vezes apenas com plantas exóticas. O Brasil possui uma média de 3000 espécies de plantas com potencial alimentício, mas apenas cerca de 100 espécies são consumidas no dia a dia, produzidas com os meios convencionais (ANDRADE et al, 2015). Andrade et al (2015), afirma também que “A globalização alimentar, que padroniza nossa mesa, pode ser vista por todo o país. Uma colonização da alimentação”. Para Rigo (2018),
“O conhecimento e o nível de empoderamento por meio da comida vão ainda mais além da cozinha. Estar ciente da diversidade alimentar que o Brasil é capaz de fornecer, amplia a nossa gama de opções em prol da saúde como um todo, de forma simples e democrática” (RIGO, 2018).
Segundo Andrade et al. (2015), grande parte das culturas cultivadas em nossas terras são de plantas vindas de outros países e que monopolizam as culturas alimentícias, fazendo com que deixemos de conhecer outras plantas, muitas nativas, que podem substituir essas culturas e que muitas vezes são vistas como “daninhas”,
21. Valdely Ferreira Kinupp, conforme consta no Currículo Lattes do autor, é “professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, Campus ManausZona Leste (IFAM-CMZL) e Fundador-Curador do Herbário EAFM deste instituto. Docente e orientador credenciado no Programa de Pós-Graduação em Botânica do INPA. Atua na pesquisa e divulgação das PANC - Plantas Alimentícias Não Convencionais. Tem experiência na área de Botânica, com ênfase em Botânica Econômica, Taxonomia de Fanerógamas, Etnobotânica, Herbário e Biodiversidade, atuando principalmente nos seguintes temas: alimentos vegetais não convencionais, recursos genéticos vegetais, segurança alimentar, florística, olericultura (hortaliças não convencionais) e agroecologia. Doutor em FitotecniaHorticultura (2007) pelo PPG Fitotecnia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. Mestre em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA (2002. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina - UEL (2000). Autor do livro Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil em coautoria do Harri Lorenzi (Editora Plantarum, 2014). In: <http:// buscatextual.cnpq. br/buscatextual/ Acesso em 21 de março de 2019. 22. In: <https:// www.hypeness. com.br/2018/10/ vizinhos-se-unempara-cultivarpanc-na-hortaurbana-city-lapaem-sao-paulo/> Acesso em 6 de maio de 2019.
nascendo espontaneamente e não sendo exploradas para o fim de alimentação. Por serem consideradas dessa forma, entram na definição de plantas alimentícias e, por não serem comuns ou do diaa-dia da população, foram chamadas por Kinupp²¹ de “Não Convencionais”, gerando o termo das PANC - Plantas Alimentícias Não Convencionais. Dessas plantas podem ser aproveitadas “uma ou mais partes (ou derivados dessas partes) que podem ser utilizados diretamente na alimentação humana, tais como: raízes tuberosas, tubérculos, bulbos, rizomas, colmos, talos, folhas, brotos, flores, frutos e sementes” (KINUPP; LORENZI, 2014, p. 13). Atualmente há uma cultura de destaque em relação às PANCs, muitas vezes de moda, que torna algo tão acessível em um conhecimento restrito. Segundo Rigo (2018),
“é uma opção alimentar de baixo custo. Existe uma deturpação de que o acesso às PANC é elitizado. Há uma elite engajada e que busca utilizálas em restaurantes, divulgar… e isso é super positivo. Mas de forma alguma isso é elitista. Boa parte delas cresce de forma espontânea, na sua rua ou quintal. Então olha só que coisa boa, você está comendo uma coisa da moda e orgânica!” (RIGO, 2018, em entrevista ao portal Hypeness).²²
Como proposta de vegetação, pensando em diversificação e adaptação para esse jardim proposto, há a intenção de inserir as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), aumentando o repertório vegetal para os projetos dos jardins, também conscientizando sobre suas propriedades e usos na alimentação diária. O contato próximo com as plantas pode oferecer um aprendizado dos ciclos de vida, permitindo observar as mudanças e respeitar o tempo de cada exemplar.
35
Partes utilizadas: Folhas e flores, crus ou cozidos. Ciclo de vida: Anual
Características: O Shissô é uma herbácea anual, ereta, com forte aroma característico, de coloração verde ou púpura-escuro, com altura de 35 a 50 cm, nativa do Himalaia e China. Possui inflorescências compridas, com flores róseas nas pontas, assemelhando-se ao manjericão. O meio mais simples de propagação é por sementes, podendo-se colher após seis meses da semeadura. A colheita deve ser feita pelo destacamento das folhas uma a uma para evitar que a planta não sofra e no período da manhã. Aprecia sol pleno, necessitando de dias mais curtos para que possa florir. Consumo: Mesmo sendo de origem chinesa, foram os imigrantes japoneses que a trouxeram para o Brasil, sendo muito utilizada na gastronomia em diversos pratos, também na forma de chá e suco. Nos pratos aparece crua, seca em flocos para temperar o arroz e sopas, em conserva e também como um corante natural arroxeado. Podem ser aproveitadas as folhas, as inflorescências jovens (hojiso) e as sementes, sendo muito aromáticas. No quintal: Por ser uma planta anual, foi encontrada já colhida pela senhora Komori que a retirou de seu quintal antes que perdesse suas folhas com o frio. Ela utiliza as folhas e flores para o preparo de Tempurá ou na forma de chá, que se assemelha a uma mistura de hortelã e erva-doce.
Senhora Komori em seu quintal
S hissô
Perilla frutescens
Tempurá de Shissô Ingredientes: . folhas e flores de Shissô frescas . 100 g de farinha de tempurá . 160 ml de água gelada . 100 g de farinha de trigo . uma pitada de sal . óleo para fritar Preparo: 1. Esquente o óleo em uma panela funda, e mantenha em fogo médio 2. Misture a farinha de tempurá com água fria. Passe as folhas e flores sobre a farinha de trigo em ambos os lados e retire o excesso. 3. Mergulhe-as, uma a uma, na mistura de tempurá preparada anteriormente. Frite-as de ambos os lados. 4. Quando estiverem crocantes, retire do óleo. Escorra bem e está pronto.
Mudas de Shissô, com cerca de 30 cm
.2
ESTUDOS DE CASO
2.1.
SÃO PAULO
23. In: <http:// muda.org.br/> Acesso em 6 de maio de 2019.
Segundo a página da organização MUDA Sp. (Movimento Urbano de Agroecologia de São Paulo)²³, em um mapa colaborativo (Figura 7), foram registradas 95 hortas
urbanas e 66 pontos de vendas de orgânicos espalhadas pela cidade. Dentre essas foram selecionados alguns exemplos para análise.
39
Figura 7: Mapa das hortas e feiras orgânicas de São Paulo.
Os estudos de caso foram escolhidos por serem referências de espaços de produção orgânica em São Paulo, sendo dois de hortas urbanas e um viveiro que comercializa uma grande diversidade de plantas comestíveis e medicinais, dentre essas, algumas classificadas como PANCs.
Foram analisados principalmente a localização, as formas de acesso, os equipamentos contidos nesses espaços (composteira, meliponário, sementeiras), a forma de participação da população, e, principalmente, o repertório vegetal com suas características de usos, portes, insolação, tipo de solo e necessidades de irrigação.
2.1.1.
40
HORTA DO CCSP
A Horta como hoje a conhecemos se materializou em 2013, ocupando a cobertura do Centro Cultural São Paulo (CCSP)²⁴, localizado no bairro do Paraíso, ao lado da estação de metrô Vergueiro, o que facilita o acesso ao espaço (Figura 8). Por se tratar de um centro cultural, o prédio recebe inúmeros visitantes diariamente, fato que auxilia na divulgação e possível interesse de novas pessoas para participar da horta. Primeiramente, ela surgiu como uma iniciativa do próprio CCSP em transformar o gramado de sua cobertura em uma horta, entretanto o projeto não durou muito tempo, retomando após o interesse pessoal de alguns participantes do coletivo de cultivadores urbanos, os “Hortelões Urbanos”²⁵. Após um acordo de efetivação do projeto conjuntamente com o CCSP, a horta pode voltar a existir, agora com a iniciativa vinda diretamente da comunidade.
m
Figura 8: Localização do CCSP
24. In: <http:// centrocultural. sp.gov.br/ site/eventos/ evento/hortacomunitaria-noccsp/> Acesso em 15 de abril de 2019. 25. Grupo criado em 2011 que reúne em redes sociais como o
Facebook (https:// www.facebook. com/groups/ horteloes/), as pessoas envolvidas nas práticas de cultivo urbano para troca de experiências, discussões, divulgação de eventos e mutirões de algumas hortas. In: <https://www.
41
Figuras 9 e 10: A horta sobre a cobertura do CCSP
tvgazeta.com.br/ meio-ambiente/ hortas-urbanasqualidade-devida/> Acesso em 15 de abril de 2019.
Inicialmente, a horta contou com apenas um patrocínio de mudas e composto orgânico vindos do viveiro municipal, ademais todas as necessidades foram provenientes de doações dos próprios hortelões. O CCSP atua com o apoio institucional de divulgação, mas todas as ações são geridas pelos voluntários, necessitando constante participação. A ocupação se deu de forma a aproveitar os canteiros terraceados, já existentes na cobertura, ou seja, um jardim
sobre laje (Figuras 9 e 10). Esses níveis foram determinantes para o posicionamento de algumas espécies segundo seu porte e, consequentemente, a profundidade de suas raízes. A escolha das espécies, conforme informado pelo grupo, se deu de forma experimental, procurando aplicar diferentes princípios e observar os resultados obtidos nos canteiros. Ultimamente, tem-se optado por selecionar espécies mais resistentes à falta de água e que não requerem tantos cuidados diários, já que não há tantos voluntários durante
42
a semana. Com essas escolhas, as PANCs são empregadas em grande número, pois são facilmente adaptáveis e até espontâneas no meio urbano, em alguns casos. Os canteiros variam desde os agroflorestais até os de alelopatia²⁶. Nos estratos maiores, utilizam-se bananeiras, que fornecem quantidade expressiva de folhas para compostagem, e margaridões como barreira de vento, já que o prédio encontra-se em uma cota alta e em ambiente aberto. Dessa forma, o uso da própria natureza como forma de solucionar as necessidades diárias, evitando gastos desnecessários e impactos ao ambiente. “As técnicas utilizadas para planejamento, plantio, manejo, manutenção e colheita compreendem técnicas agroecológicas e permaculturais, que buscam valorizar o uso de recursos locais, a ciclagem de nutrientes, a vivificação do solo, o consorciamento de culturas, a compostagem e a bioconstrução. Essas técnicas são estudadas pelos voluntários e são aplicadas em caráter experimental, valorizando a construção horizontal do conhecimento entre os participantes por meio da troca de saberes, da experimentação e da interação em rede com outros grupos de agricultores” (BIAZOTI et al., 2017).
Conforme observado, a associação das plantas é feita segundo a melhor adaptabilidade entre os elementos, entretanto, por serem experimentais, algumas plantas acabam ocupando o espaço de outras, mostrando como seria em um processo natural, tal fato é comum se considerado o sistema agroecológico, uma planta convivendo com outra e se adaptando. As espécies utilizadas acabam sendo as que conseguem ter melhor adaptação e durabilidade ao longo do ano. Se há a presença de pragas, isso representa que há algum desequilíbrio que procura ser sanado pela própria associação das plantas que se ajudam. A composição, a primeira vista, aparenta uma “bagunça” como apresentado em uma placa na entrada da horta, mas esse “caos” representa os princípios da agroecologia, o livre crescimento das plantas em associação. É uma ideia que temos de que todos os canteiros de horta tem que ser alinhados e seguindo espaçamentos regulares, mas o modelo proposto é totalmente diferente, formando canteiros onde há uma relação harmônica, que respeitam os ciclos naturais e os conhecimentos empíricos trazidos pelos voluntários.
Qualquer pessoa que
26. A alelopatia é definida como um processo que envolve metabólitos secundários produzidos por plantas, algas, bactérias e fungos que influenciam o crescimento e desenvolvimento de sistemas biológicos. É a capacidade de plantas produzirem substâncias químicas que, liberadas no ambiente de outras, influenciam de forma favorável ou desfavorável para o seu desenvolvimento. In: <https:// pt.wikipedia.org/ wiki/Alelopatia> Acesso em 6 de maio de 2019.
estiver passando pelo espaço pode colher, claro que de forma consciente para que todos possam desfrutar do que é produzido. A horta tem que ter esse compromisso de oferecer um benefício para as pessoas.
Mas, “Cadê as fileiras de alface?” Placa informativa da horta
Figuras 11 e 12: Placa informativa e a relação da horta com a paisagem
43
27. In: <https:// saopaulosao. com.br/nossasacoes/3786horta-urbanacomunit%C3% A1ria-e-agroecol% C3%B3gica-docentro-culturalsp-comemora-5anos.html> Acesso em 6 de maio de 2019.
Justamente por pensar em outra forma de produção, a presença de algumas espécies como a alface é propositalmente menor que as PANCs para que haja a diversificação e, assim, elas estejam presentes em mais espaços para o conhecimento da população.
“A gente aplica um processo
Segundo Borducchi (2018), voluntário da horta, em entrevista ao portal “São Paulo São”, afirma que no processo participativo dos mutirões:
convencionais (PANCs), que
de manejo agroecológico. É uma horta muito biodiversa, com resgate de espécies nativas e com o uso de sementes criolas, que são sementes que não foram processadas e que não foram geneticamente modificadas. Temos um olhar também para as plantas alimentícias não tem uma grande resistência e demandam poucos cuidados” (BORDUCCHI, 2018, em entrevista ao portal São Paulo São).²⁷
Figuras 13 e 14: Espécies da Horta – Tomate cereja e um exemplo de uma florífera para polinização (Ruellia coerulea) Figuras 15 e 16: Meliponário e sementeiras da Horta
44
A horta conta ainda com uma área para compostagem do material orgânico e um meliponário de abelhas nativas sem ferrão (Figura 15), importante para a polinização das plantas e auxiliando na preservação de seres tão importantes para a manutenção do ecossistema.
O contato de diversas pessoas fora do movimento que ficam interessadas pela horta é intenso, já que se trata de um espaço público. Para isso foram criadas placas informativas sobre o espaço e onde se divulgam também as atividades do grupo e suas redes sociais.²⁸ A horta assim possui uma ampla
28. In: <https:// www.facebook. com/hortaccsp> Acesso em 15 de abril de 2019.
divulgação e acessibilidade. São nessas redes sociais que são marcados os eventos e, principalmente, os mutirões coletivos, aos finais de semana, para a realização de manutenções mais pesadas como podas, adubações e plantios. Nesses encontros, a colheita torna-se importante como um incentivo à prática e o compartilhamento de toda a produção. Com esse processo de acompanhamento de todo o ciclo, ressaltam-se o entendimento das dificuldades em se produzir, desde o plantio até o consumo, havendo assim um novo olhar sobre o alimento. Figuras 17 e 18: Destaque de algumas espécies – celósia, mandioca e taioba
45
Figuras 19: Ação dos hortelões em um dia de mutirão
AS PLANTAS ENCONTRADAS NA HORTA DO CCSP A listagem de plantas foi obtida em consulta ao grupo da horta do CCSP no Facebook e também pela visita realizada à horta
46
no estudo de caso. No total foram identificadas 40 espécies. Em destaque são as espécies classificadas como PANCs.
Tabela 1: Espécies presentes no CCSP no ano de 2019 Fonte: Horta do CCSP, 2019, organizado pelo autor.
nome popular
nome científico
nome popular
nome científico
Abacaxi
Ananas comosus
Feijão
Phaseolus vulgaris
Alface
Lactuca sativa
Inhame
Colocasia esculenta
Almeirão de árvore
Lactuca canadensis
Mandioca
Manihot esculenta
Almeirão roxo
Lactuca canadensis
Margaridão
Sphagneticola trilobata
Araruta
Maranta arundinacea
Milho
Zea mays ssp.
Arruda
Ruta graveolens
Morango
Fragaria ananassa
Assa-peixe
Vernonia polyanthes
Ora pro nobis
Pereskia aculeata
Banana
Musa paradisiaca
Peixinho da horta
Stachys byzantina
Batata doce
Ipomoea batatas
Physalis
Physalis peruviana
Beringela
Solanum melongeana
Pimenta
Capsicum sp.
Bertalha
Basella alba
Pingo de sangue
Ruellia brevifolia
Brócolis
Brassica oleracea var.
Quiabo
Abelmoschus esculentus
Rúcula
Eruca vesicaria ssp.
italica
Capuchinha
Tropaeolum majus
Sativa
Celósia
Celosia argentea
Ruelia azul
Ruellia coerulea
Cenoura
Daucus carota
Salsão
Apium graveolens
Cidreira de árvore
Lippia alba
Taioba
Xanthosoma taioba
Cosmos amarelo
Cosmos sulphureus
Tanchagem/Tansagem Plantago australis
Cúrcuma
Curcuma longa
Tomate
Solanum lycopersicum
Ervilha
Pisum sativum
Trevo
Oxalis latifolia
Fáfia
Pfaffia glomerata
Tupinambo
Helianthus tuberosus
Figuras 20, 21, 22 e 23: Processo de compostagem na horta Figura 24: Grupo de hortelĂľes da horta do CCSP
47
2.1.2.
48
HORTA DAS CORUJAS
A Horta das Corujas²⁹ é localizada na Praça Dolores Ibarruri, região da Vila Madalena (Figura 25). Compreende uma área de 800 m², com cultivo de grande diversidade de espécies e acesso à água limpa, mesmo em tempos de seca, desde que houve a recuperação de uma das nascentes que abastecem o Córrego das Corujas, que dá nome à horta. O acesso por transporte público se dá de maneira facilitada pelo metrô Vila Madalena e diversas linhas de ônibus que acessam o terminal, havendo um trajeto de 900 m a pé até a chegada à horta, passando por um trajeto bastante arborizado e com diversos espaços livres, compondo um percurso agradável, mesmo que dificultado pela topografia acentuada do terreno do bairro (Figuras 26 e 27). Figura 25: Percurso de 900m da estação de metrô Vila Madalena à horta
29. In: <https:// hortadascorujas. wordpress.com/> Acesso em 6 de maio de 2019. 30. Claudia Visoni é jornalista, conselheira do Conselho de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz da Subprefeitura
de Pinheiros, ambientalista, agricultora urbana e permacultora. Atua no espaço urbano como ativista pelas causas das hortas e a alimentação de qualidade dentro da cidade. Trabalha também como voluntária tanto na Horta das Corujas
m
49
Figuras 26 e 27: Caminho de acesso da estação de metrô Vila Madalena até a Horta
(Vila Madalena), presente neste estudo de caso, como também na dos Ciclistas (Avenida Paulista). In: <http://www. rededosaber. sp.gov.br/portais/ Portals/84/docs/ entrevista_ claudia_visoni. pdf> Acesso em 6 de maio de 2019.
A horta foi fruto de discussões ocorridas em um evento no ano de 2011, que reuniu cerca de 50 pessoas interessadas na questão da agricultura urbana, que mantiveram contínuo o debate. Um ano e meio depois do primeiro encontro, com mais adeptos, houve o interesse em ocupar o terreno para a implantação futura da horta. Claudia Visoni³⁰, jornalista ativista da causa, em contato com o Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável e Cultura de Paz (CADES - Pinheiros), conjuntamente com o subprefeito de Pinheiros, em 2012, iniciaram os processos para que o projeto pudesse se concretizar e pudesse ser realizado única e exclusivamente pela comunidade. Esse caso recebeu grande visibilidade sendo, atualmente, referência para outros projetos de hortas urbanas, como a Horta das Bicicletas e a Horta Comunitária da City Lapa, idealizada
pela nutricionista Neide Rigo³¹. Mesmo com tamanha importância e possuir inúmeras pessoas em contato nas redes sociais, são poucos os adeptos que atuam frequentemente na manutenção do espaço, um problema comum entre diversas iniciativas no assunto. Desses integrantes, a maioria são moradores dos arredores da horta, do bairro ou de regiões próximas.
50
Geralmente a manutenção ocorre três vezes durante a semana, em algumas horas por dia, e aos fins de semana ocorrem os mutirões com maior número de pessoas. Os cuidados se baseiam na retirada de eventuais plantas espontâneas, a irrigação dos canteiros em períodos mais secos, processos de compostagem da matéria orgânica produzida, replantio de mudas, entre outras atividades. É cultivada uma diversidade de espécies, que além das comestíveis convencionais, se destacam as PANCs em grande presença, espécies floríferas que atraem polinizadores e algumas que são empregadas para acrescer o repertório da horta. Visualmente, a primeira vista, a composição empregada aparenta não possuir uma organização, mas esse aspecto é devido ao emprego de técnicas
agroecológicas que permitem a associação mais livre entre as espécies, buscando novas formas de adaptabilidade entre os exemplares. Entretanto, mesmo que livres, seguem um rigor de seleção feita pelos hortelões, não permitindo que se plante espontaneamente sem que haja um planejamento conjunto. É o caso da proibição de plantio de espécies arbóreas, que promoverão o sombreamento que não beneficia a horta, além de plantas ornamentais. A colheita é feita de forma consciente, permitindo que as pessoas colham desde que com bom senso para que todos possam se beneficiar da horta. Não há a produção para fins de mercado, mesmo assim a produção é suficiente para suprir o consumo de parte dos vegetais diários da alimentação de alguns dos hortelões. O espaço conta ainda com o tratamento de uma nascente por meio das plantas – a nascente do córrego que dá nome a horta; e uma composteira para a produção de adubo orgânico para uso da horta. Nesse processo são recolhidos os resíduos orgânicos trazidos pelos voluntários e misturados com palhas de podas que após o tempo necessário são usados como compostos na terra.
31. Neide Rigo é nutricionista formada pela Faculdade de Saúde Pública da USP, pesquisa espécies alimentícias não convencionais (PANCs), ingredientes pouco conhecidos, esquecidos ou desvalorizados, seu cultivo e a maneira como podem ser preparados. É autora do blog Come-se (come-se. blogspot.com), reconhecido como um dos 55 melhores blogs de comida pela revista Saveur (Estados Unidos). É colunista do caderno “Paladar” de O Estado de S. Paulo. Atua no meio urbano conscientizando as pessoas das plantas alimentícias que podem ser encontrados pela cidade, promovendo percursos a pé no movimento “Panc na City”. In: <https:// casadosaber.com. br/sp/professores/ neide-rigo.html> <https://come-se. blogspot.com/> Acesso em 6 de maio de 2019.
Figura 28: Placa informativa da Horta
O uso desse espaço se dá principalmente pela motivação dos hortelões em ocupar um espaço que antes era degradado e que hoje produz alimento de forma orgânica e com valor nutricional elevado, transformando a horta num instrumento de práticas educacionais para a população que se motiva a gerir coletivamente esse espaço, de maneira a também se sentirem pertencentes a ele e à cidade. Essa experiência promoveu um fortalecimento das relações em comunidade e a própria união do bairro para as ações, assim como a construção de uma visibilidade para que outras pessoas venham a se interessar pelo movimento. A horta é aberta para qualquer
pessoa, ficando apenas fechada para evitar o acesso de animais, tendo como restrições o manejo adequado das mudas, podendose colher o necessário sem a retirada da planta da horta. Segundo Claudia Visoni, qualquer um pode colher, mesmo que não tenha plantado, e esse plantio pode ser feito da forma que a pessoa sente que é benéfico para a planta, não havendo certo e errado, para valorizar a experiência do indivíduo com a terra. Mesmo que haja a constante presença de algumas pessoas e o espaço tenha gerado a mobilização e aproximação dos moradores do entorno, o projeto ainda necessita de uma maior participação efetiva de pessoas
51
que se disponibilizem pela causa. Trazer a simplicidade de se ter uma horta, a sua acessibilidade e custos reduzidos são alguns dos aspectos trabalhados com o projeto. O intuito é que ao longo dos anos ela possa ter uma maior abrangência e seja autossuficiente, entretanto não
é uma tarefa fácil e só com o fortalecimento comunitário isso pode se materializar. Movimentos como esse são incentivos para que as pessoas pensem mais sobre a cidade, não só participando das questões políticas envolvidas, mas de fato agindo no espaço urbano. Figuras 29 e 30: Entrada da Horta e alguns dos canteiros Figura 31: Vista geral da Horta
52
AS PLANTAS ENCONTRADAS NA HORTA DAS CORUJAS A listagem de plantas foi obtida em uma relação disponível na dissertação de mestrado de NAGIB (2016), onde constam as espécies presentes na horta
Tabela 2: Espécies presentes na Horta das Corujas no ano de 2016
no ano de 2016, data da coleta do autor. Ao total, foram identificadas 116 espécies. Em destaque são as espécies classificadas como PANCs.
Fonte: NAGIB, 2016, organizado pelo autor.
nome popular
nome científico
nome popular
nome científico
Abacaxi
Ananas comosus
Beldroega
Portulaca oleracea
Abóbora
Cucurbita spp.
Beringela
Solanum melongeana
Abobrinha
Cucurbita pepo
Bertalha
Basella alba
Acariçoba
Hydrocotyle umbellata
Bertalha coração
Anredera cordifolia
Agrião
Nasturtium officinale
Beterraba
Beta
Alcachofra
Cynara scolymus
Boldo
Plectranthus barbatus
Alecrim
Rosmarinus officinalis
Borragem
Borago officinalis
Alface
Lactuca sativa
Branquinha
Plectranthus madagascariensis
Alfavacão
Ocimum gratissimum
Brócolis
Brassica oleracea var. italica
Alho
Allium sativum
Cana de açúcar
Saccharum officinarum
Alho-poró
Allium ampeloprasum
Capiçoba
Erechtites hieraciifolius
Almeirão de árvore
Lactuca canadensis
Capim limão
Cymbopogon citratus
Almeirão roxo
Lactuca canadensis
Capuchinha
Tropaeolum majus
Amendoim
Arachys hypogaea
Cará moela
Dioscorea bulbifera
Anis
Pimpenella anisum
Cavalinha
Equisetum
Araruta
Maranta arundinacea
Cebolinha
Allium schoenoprasum
Argyreia
Argyreia nervosa
Celósia
Celosia argentea
Azaleia
Rhododendron simsii
Cenoura
Daucus carota
Azedinha
Rumex acetosa
Chuchu
Sechium edule
Babosa
Aloe vera
Citronela
Cymbopogon nandus
Bálsamo
Cotyledon orbiculata
Coentro
Coriandrum sativum
Banana
Musa paradisiaca
Confrei
Symphytum officinale
Batata
Solanum tuberosum
Cosmos amarelo
Cosmos sulphureus
Batata doce
Ipomoea batatas
Couve
Brassica oleracea
53
nome popular
nome científico
nome popular
nome científico
Couve flor
Brassica oleracea var.
Menta
Mentha spicata
botrytis
Cúrcuma
Curcuma longa
Milho
Zea mays ssp.
Dália
Dahlia pinnata
Morango
Fragaria ananassa
Dente de leão
Taraxacum officinale
Morango silvestre
Fragaria vesca
Dormideira
Mimosa pudica
Nabo
Brassica napus
Erva cidreira
Melissa officinalis
Nirá
Allium tuberosum
Erva de jabuti
Peperomia pelucida
Novalgina
Achillea millefolium
Ervilha
Pisum sativum
Ora pro nobis
Pereskia aculeata
Espinafre
Spinacia oleracea
Orégano
Origanum vulgare
Estévia
Stevia rebaudiana
Peixinho da horta
Stachys byzantina
Feijão
Phaseolus vulgaris
Pepino
Cucumis sativus
Flor da fortuna
Kalanchoe blossfeldiana
Physalis
Physalis peruviana
Funcho
Foeniculum vulgare
Pimenta
Capsicum sp.
Gengibre
Zingiber officinale
Pimentão
Capsicum anuum
Gerânio
Pelargonium
Quiabo
Abelmoschus esculentus
Gerânio silvestre
Erodium cicutarium
Rabanete
Raphanus sativus
Gergelim
Sesamum indicum
Repolho
Brassica oleracea var.
Girassol
Helianthus annuus
Rosa
Rosa sp.
Girassol mexicano
Tithonia rotundifolia
Salsa lisa
Petroselinum sativum
Guaco
Mikania glomerata
Sálvia
Salvia officinalis
Guandu
Cajanus cajan
Serralha
Sonchus oleraceus
Hortelã
Mentha piperita
Shissô
Perilla frutescens
Inhame
Colocasia esculenta
Tagetes
Tagetes erecta
Lavanda
Lavandula dentata
Taioba
Xanthosoma taioba
Limão
Citrus limon
Tanchagem/Tansagem Plantago australis
Mamão
Carica papaya
Tansagem grande
Plantago major
Mamona
Ricinus communis
Tansagem sete veias
Plantago lanceolata
Mandioca
Manihot esculenta
Tomate
Solanum lycopersicum
Mandioquinha
Arracacia xanthorrhiza
Tomate cereja
Solanum lycopersicum
Mangalô
Lablab purpureus
Tomate de árvore
Solanum betaceum
Manjericão
Ocimum basilicum
Tomilho
Thymus vulgaris
Manjerona
Origanum majorana
Trevo
Oxalis latifolia
Maracujá
Passiflora edulis
Urtiguinha
Urtica dioica
Maxixe
Cucumis anguria
Vinagreira
Hibiscus sabdariffa
54
capitata
var. cerasiforme
Figuras 32, 33, 34 e 35: Algumas espécies da horta - Celósia, Morango silvestre, Physalis e Batata doce Figura 36: Placa de boas vindas ao espaço da horta
55
2.1.3.
56
VIVEIRO SABOR DE FAZENDA
A escolha de um estudo de caso que fosse um viveiro tem uma justificativa importante, pois se o projeto de cultivo visa à acessibilidade, as mudas orgânicas tem que ser facilmente encontradas pelas pessoas, o que é o caso desse espaço em questão. Além desse fator, foi considerada a diversidade de espécies oferecidas. O enfoque do viveiro são as espécies medicinais, aromáticas e temperos, mas oferecem também grande número de comestíveis, muitas delas consideradas PANCs. Localizado na Vila Maria, Zona Norte de São Paulo (Figura 37), em meio a uma área consolidada de residências e indústrias, o viveiro aparece como um espaço de respiro. Dentre os estudos de caso é o que apresenta trajeto dificultado por transporte público pela ausência de estações de metrô nas proximidades, sendo apenas acessado por ônibus.
Figura 37: Localização do Viveiro Sabor de Fazenda Figura 38: Viveirista no sombral de ervas
57
Figura 39: A produção do viveiro 32. In: <http://www. sabordefazenda. com.br/htm/ empresa/index. php> Acesso em 26 de abril de 2019.
O espaço foi idealizado pela nutricionista e herborista Silvia Jeha, sendo fundado em 1993 e hoje certificado com o selo da ECOCERT, garantindo a qualidade e autenticidade de tudo que é produzido no viveiro de forma orgânica. O viveiro conta com uma área de 1.500 m², por onde se espalham as estufas e viveiros de sementes e mudas.
Além das áreas destinadas ao cultivo das mudas, o espaço possui também composteira orgânica dos resíduos e uma área para minhocultura, para a produção de terra preparada e adubos naturais. Também são oferecidos periodicamente cursos de jardinagem, cultivo de ervas medicinais, aromaterapia, entre outros.³²
AS PLANTAS ENCONTRADAS NO VIVEIRO SABOR DE FAZENDA
33. In: < http://www. sabordefazenda. com.br/htm/ produtos/ervas/ index.php> Acesso em 26 de abril de 2019.
A listagem de plantas foi obtida pela página online do viveiro³³, onde foram sistematizadas toda a relação de espécies produzidas e as características de cada uma
Tabela 3: Espécies presentes no viveiro Sabor de Fazenda no ano de 2019
para posterior análise. Foram identificadas 104 espécies. Em destaque são as espécies classificadas como PANCs.
Fonte: Viveiro Sabor de Fazenda, 2019, organizado pelo autor.
nome popular
nome científico
nome popular
nome científico
Agrião
Nasturtium officinale
Cânfora
Artemisia camphorata
Alecrim
Rosmarinus officinalis
Capim limão
Cymbopogon citratus
Alecrim macho
Rosmarinus officinalis
Capuchinha
Tropaeolum majus
Alecrim rasteiro
Rosmarinus officinalis
Carqueja
Baccharis trimera
var. prostatus
58
Alface
Lactuca sativa
Cavalinha
Equisetum
Alfavacão
Ocimum gratissimum
Cebolinha
Allium schoenoprasum
Alfazema
Lavandula officinalis
Cebolinha francesa
Allium schoenoprasum
Amor perfeito
Viola x wittrockiana
Celósia
Celosia argentea
Anador
Justicia pectoralis
Cenoura
Daucus carota
Aniseto
Ocimum selloi
Cidreira de árvore
Lippia alba
Arnica do mato
Solidago microglossa ou
Citronela
Cymbopogon nandus
Solidago chilensis
Arruda
Ruta graveolens
Coentro
Coriandrum sativum
Aveloz
Euphorbia tirucalli
Confrei
Symphytum officinale
Azedinha
Rumex acetosa
Couve
Brassica oleracea
Babosa
Aloe vera
Cúrcuma
Curcuma longa
Babosa
Aloe arborescens
Curry
Helichrysum italicum
Bálsamo
Cotyledon orbiculata
Dente de leão
Taraxacum officinale
Beterraba
Beta
Endro
Anethum graveolens
Boldo
Plectranthus barbatus
Erva de gato
Nepeta cataria
Boldo indígena
Verdonia condensata
Erva luiza
Aloysia triphylla
Boldo miúdo
Plectranthus neochilus
Estévia
Stevia rebaudiana
Calêndula
Calendula officinalis
Funcho
Foeniculum vulgare
Camomila
Matricaria recutita
Gengibre
Zingiber officinale
nome popular
nome científico
nome popular
nome científico
Gervão
Stachytarpheta
Mil em rama
Achillea millefolium
cayennensis
Guaco
Mikania glomerata
Morango silvestre
Fragaria vesca
Guiné
Petiveria alliacea
Nim
Azadirachta indica
Hortelã
Mentha piperita
Nirá
Allium tuberosum
Hortelã branca
Plectranthus sp.
Ora pro nobis
Pereskia aculeata
Hortelã do norte
Plectranthus ambonicus
Orégano
Origanum vulgare
Hortelã pimenta
Mentha x piperita
Patchouly
Pogostemon patchouli
Hortelã portuguesa
Mentha suaveolens
Peixinho da horta
Stachys byzantina
Hortelã variegata
Mentha suaveolens
Pimenta
Capsicum sp.
Variegata
Incenso
Tetrania riparia
Pimenta biquinho
Capsicum chinense
Insulina
Cissus verticullata
Pimenta caiena
Capsicum annuum
Jambú
Acmella oleracea
Pimenta malagueta
Capsicum frutescens
Lavanda
Lavandula dentata
Poejo
Mentha pulegium
Levante
Mentha spicata
Quebra demanda
Justicia gendarussa
Losna / Yomogi /
Artemisia absinthium
Rúcula
Eruca vesicaria ssp. Sativa
Fuchibá Louro
Laurus nobilis
Salsa crespa
Petroselinum crispum
Malva branca
Pelargonium
Salsa libanesa
Apium nodiflorum
odoratissimum
Malva cheirosa
Pelargonium graveolens
Salsa lisa
Petroselinum sativum
Manjericão
Ocimum basilicum
Sálvia
Salvia officinalis
Manjericão folha de
Ocimum basilicum
Segurelha
Satureja montana
alface
crispum
Manjericão italiano
Ocimum basilicum
Shissô
Perilla frutescens
Tomate
Solanum lycopersicum
Tomate cereja
Solanum lycopersicum
'Genovese'
Manjericão italiano
Ocimum basilicum var.
roxo
purpurascens
Manjericão limão
Ocimum basilicum var. citriodorum
Manjericão miúdo
Ocimum basilicum var.
var. cerasiforme
Tomilho
Thymus vulgaris
minimum
Manjericão roxinho
Ocimum basilicum
Tomilho limão
Thymus x citriodorus
Manjerona
Origanum majorana
Trevo de quatro folhas
Marsilea quadrifolia
Marcela
Chamaemelum nobile
Urtiguinha
Urtica dioica
Melissa
Melissa officinalis
Vinagreira
Hibiscus sabdariffa
Menta
Mentha spicata
Violeta perfumada
Viola odorata
59
2.1.4.
ANÁLISE DO REPERTÓRIO VEGETAL
Ao longo do levantamento dos estudos de caso, foram reunidas e listadas as plantas que aparecem nos espaços cultivados. A partir desse repertório foram colhidas as informações de cada uma, atentando-se a algumas características principais que possibilitaram o cruzamento de alguns dados para organizá-las em grupos de plantas, como por exemplo: a divisão em portes – herbáceas, semi-arbustivas, arbustivas, trepadeiras, etc. 60
Muitas das plantas utilizadas são comuns entre o repertório das hortas e o viveiro (Tabela 4), tendo ao todo 9 espécies em comum nos três espaços – alface, capuchinha, celósia, cenoura, cúrcuma, ora-pronóbis, peixinho-da-horta, pimenta e tomate – , dentre elas se destacam as de uso não convencional (PANCs). A disponibilidade dessas plantas para venda no viveiro torna-as acessíveis para que sejam encontradas também
fora das hortas, podendo ser utilizadas em outros espaços. Mesmo que o enfoque do viveiro seja as aromáticas e medicinais, muitas delas também podem ser empregadas como comestíveis, atribuindo a característica de PANC, caso de particular interesse nesse estudo. Entretanto, algumas plantas não podem ser ingeridas nas hortas e no viveiro, tendo alguns exemplares ornamentais, de caráter apenas florífero para atrair polinizadores, ou funcionem como inseticidas naturais, ou ainda utilizadas também como barreiras naturais.
Tabela 4: Espécies encontradas nas hortas e no viveiro Fonte: organizado pelo autor, 2019.
A listagem a seguir apresenta a relação de espécies das hortas que estão presentes no viveiro, tendo como intuito principal verificar a disponibilidade das mudas para comercialização. Foram encontradas 47 espécies ao todo, sendo 16 dessas classificadas como Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs): Espécies classificadas como PANCs Consta no espaço analisado
nome popular
nome científico
Agrião
Nasturtium officinale
Alecrim
Rosmarinus officinalis
Alface
Lactuca sativa
Alfavacão
Ocimum gratissimum
Arruda
Ruta graveolens
Azedinha
Rumex acetosa
Babosa
Aloe vera
Bálsamo
Cotyledon orbiculata
Beterraba
Beta
Boldo
Plectranthus barbatus
Capim limão
Cymbopogon citratus
Capuchinha
Tropaeolum majus
Cavalinha
Equisetum setaceum
Cebolinha
Allium schoenoprasum
Celósia
Celosia argentea
Cenoura
Daucus carota
Cidreira de árvore
Lippia alba
Citronela
Cymbopogon nandus
Coentro
Coriandrum sativum
Confrei
Symphytum officinale
Couve
Brassica oleracea
Cúrcuma
Curcuma longa
Dente de leão
Taraxacum officinale
Estévia
Stevia rebaudiana
Funcho
Foeniculum vulgare
Gengibre
Zingiber officinale
Guaco
Mikania glomerata
Hortelã
Mentha piperita
Lavanda
Lavandula dentata
Manjericão
Ocimum basilicum
Manjerona
Origanum majorana
Menta
Mentha spicata
Morango silvestre
Fragaria vesca
Nirá
Allium tuberosum
Ora pro nobis
Pereskia aculeata
Orégano
Origanum vulgare
Peixinho da horta
Stachys byzantina
ccsp
horta das corujas
viveiro sabor de fazenda
61
nome popular
nome científico
Pimenta
Capsicum sp.
Rúcula
Eruca vesicaria ssp.
ccsp
horta das corujas
viveiro sabor de fazenda
Sativa
Salsa lisa
Petroselinum sativum
Sálvia
Salvia officinalis
Shissô
Perilla frutescens
Tomate
Solanum lycopersicum
Tomate cereja
Solanum lycopersicum var. cerasiforme
62
Tomilho
Thymus vulgaris
Urtiguinha
Urtica dioica
Vinagreira
Hibiscus sabdariffa
A seguinte relação de espécies apresenta as consideradas comestíveis presentes no
repertório vegetal dos espaços visitados, destacando as classificadas como PANCs.
ESPÉCIES COMESTÍVEIS nome popular
nome científico
usos
Abacaxi
Ananas comosus
Comestível
Abóbora
Cucurbita spp.
Comestível
Abobrinha
Cucurbita pepo
Comestível
Agrião
Nasturtium officinale
Comestível
Alcachofra
Cynara scolymus
Comestível
Alecrim
Rosmarinus officinalis
Comestível
Alecrim macho
Rosmarinus officinalis
Comestível e Aromática
Alecrim rasteiro
Rosmarinus officinalis var. prostatus
Comestível e Aromática
Alface
Lactuca sativa
Comestível
Alfavacão
Ocimum gratissimum
Comestível e Medicinal
Alfazema
Lavandula officinalis
Comestível e Aromática
Alho
Allium sativum
Comestível
Alho-poró
Allium ampeloprasum
Comestível
Almeirão de árvore
Lactuca canadensis
Comestível
Tabela 5: Espécies comestíveis Fonte: organizado pelo autor, 2019.
nome popular
nome científico
usos
Almeirão roxo
Lactuca canadensis
Comestível
Amendoim
Arachys hypogaea
Comestível
Amor perfeito
Viola x wittrockiana
Comestível
Anis
Pimpenella anisum
Comestível
Aniseto
Ocimum selloi
Comestível
Araruta
Maranta arundinacea
Comestível
Assa-peixe
Vernonia polyanthes
Comestível e Medicinal
Azedinha
Rumex acetosa
Comestível
Banana
Musa paradisiaca
Comestível
Batata
Solanum tuberosum
Comestível
Batata doce
Ipomoea batatas
Comestível
Beldroega
Portulaca oleracea
Comestível
Beringela
Solanum melongeana
Comestível
Bertalha
Basella alba
Comestível
Bertalha coração
Anredera cordifolia
Comestível
Beterraba
Beta
Comestível
Borragem
Borago officinalis
Comestível e Medicinal
Brócolis
Brassica oleracea var. italica
Comestível
Cana de açúcar
Saccharum officinarum
Comestível
Capiçoba
Erechtites hieraciifolius
Comestível
Capim limão
Cymbopogon citratus
Comestível e Medicinal
Capuchinha
Tropaeolum majus
Comestível
Cará moela
Dioscorea bulbifera
Comestível
Cebolinha
Allium schoenoprasum
Comestível
Cebolinha francesa
Allium schoenoprasum
Comestível e Medicinal
Celósia
Celosia argentea
Comestível
Cenoura
Daucus carota
Comestível
Chuchu
Sechium edule
Comestível
Coentro
Coriandrum sativum
Comestível
Cosmos amarelo
Cosmos sulphureus
Comestível e Florífera para polinização
Couve
Brassica oleracea
Comestível
Couve flor
Brassica oleracea var. botrytis
Comestível
Cúrcuma
Curcuma longa
Comestível
Curry
Helichrysum italicum
Comestível e Medicinal
Dália
Dahlia pinnata
Comestível e Florífera para polinização
Dente de leão
Taraxacum officinale
Comestível
Endro
Anethum graveolens
Comestível e Medicinal
63
64
nome popular
nome científico
usos
Erva cidreira
Melissa officinalis
Comestível
Erva de jabuti
Peperomia pelucida
Comestível e Medicinal
Erva luiza
Aloysia triphylla
Comestível e Medicinal
Ervilha
Pisum sativum
Comestível
Espinafre
Spinacia oleracea
Comestível
Feijão
Phaseolus vulgaris
Comestível
Funcho
Foeniculum vulgare
Comestível
Gengibre
Zingiber officinale
Comestível
Gerânio silvestre
Erodium cicutarium
Comestível
Gergelim
Sesamum indicum
Comestível
Guandu
Cajanus cajan
Comestível
Hortelã
Mentha piperita
Comestível e Medicinal
Hortelã branca
Plectranthus sp.
Comestível e Medicinal
Hortelã do norte
Plectranthus ambonicus
Comestível e Medicinal
Hortelã pimenta
Mentha x piperita
Comestível e Medicinal
Hortelã portuguesa
Mentha suaveolens
Comestível e Medicinal
Hortelã variegata
Mentha suaveolens Variegata
Comestível e Ornamental
Inhame
Colocasia esculenta
Comestível
Jambú
Acmella oleracea
Comestível e Medicinal
Levante
Mentha spicata
Comestível e Medicinal
Limão
Citrus limon
Comestível
Losna / Yomogi / Fuchibá
Artemisia absinthium
Comestível e Medicinal
Louro
Laurus nobilis
Comestível e Medicinal
Mamão
Carica papaya
Comestível
Mandioca
Manihot esculenta
Comestível
Mandioquinha
Arracacia xanthorrhiza
Comestível
Mangalô
Lablab purpureus
Comestível
Manjericão
Ocimum basilicum
Comestível
Manjericão folha de alface
Ocimum basilicum crispum
Comestível
Manjericão italiano roxo
Ocimum basilicum var. purpurascens
Comestível e Medicinal
Manjericão limão
Ocimum basilicum var. citriodorum
Comestível
Manjericão miúdo
Ocimum basilicum var. minimum
Comestível e Medicinal
Manjericão roxinho
Ocimum basilicum
Comestível e Medicinal
Manjerona
Origanum majorana
Comestível
nome popular
nome científico
usos
Maracujá
Passiflora edulis
Comestível
Maxixe
Cucumis anguria
Comestível
Menta
Mentha spicata
Comestível e Medicinal
Milho
Zea mays ssp.
Comestível
Morango
Fragaria ananassa
Comestível
Morango silvestre
Fragaria vesca
Comestível
Nabo
Brassica napus
Comestível
Nirá
Allium tuberosum
Comestível
Ora pro nobis
Pereskia aculeata
Comestível
Orégano
Origanum vulgare
Comestível
Peixinho da horta
Stachys byzantina
Comestível
Pepino
Cucumis sativus
Comestível
Physalis
Physalis peruviana
Comestível
Pimenta
Capsicum sp.
Comestível
Pimenta biquinho
Capsicum chinense
Comestível
Pimenta caiena
Capsicum annuum
Comestível
Pimenta malagueta
Capsicum frutescens
Comestível
Pimentão
Capsicum anuum
Comestível
Quiabo
Abelmoschus esculentus
Comestível
Rabanete
Raphanus sativus
Comestível
Repolho
Brassica oleracea var. capitata
Comestível
Romã
Punica granatum
Comestível
Rúcula
Eruca vesicaria ssp. Sativa
Comestível
Salsa crespa
Petroselinum crispum
Comestível e Medicinal
Salsa libanesa
Apium nodiflorum
Comestível
Salsa lisa
Petroselinum sativum
Comestível
Salsão
Apium graveolens
Comestível
Sálvia
Salvia officinalis
Comestível e Medicinal
Segurelha
Satureja montana
Comestível e Medicinal
Serralha
Sonchus oleraceus
Comestível
Shissô
Perilla frutescens
Comestível
Tagetes
Tagetes erecta
Comestível e Florífera para polinização
Taioba
Xanthosoma taioba
Comestível
Tanchagem/Tansagem Plantago australis
Comestível
Tansagem grande
Plantago major
Comestível
Tansagem sete veias
Plantago lanceolata
Comestível
Tomate
Solanum lycopersicum
Comestível
65
nome popular
nome científico
usos
Tomate cereja
Solanum lycopersicum var. cerasiforme
Comestível
Tomate de árvore
Solanum betaceum
Comestível
Tomilho
Thymus vulgaris
Comestível
Tomilho limão
Thymus x citriodorus
Comestível e Medicinal
Trevo
Oxalis latifolia
Comestível
Trevo de quatro folhas
Marsilea quadrifolia
Comestível, Medicinal e Ornamental
Tupinambo
Helianthus tuberosus
Comestível
Urtiguinha
Urtica dioica
Comestível
Vinagreira
Hibiscus sabdariffa
Comestível
Violeta perfumada
Viola odorata
Comestível, Medicinal e Ornamental
As tabelas seguintes apresentam as espécies de uso medicinal ou medicinais indicadas para apenas uso externo, como exemplo para preparo de pomadas cicatrizantes para tratamento de machucados
(Tabela 6); e a relação de espécies com outros usos como floríferas para polinização, diversificação de cultivo e como inseticidas naturais (Tabela 7).
Tabela 6: Espécies medicinais e de uso externo Fonte: organizado pelo autor, 2019.
66
ESPÉCIES MEDICINAIS E DE USO EXTERNO nome popular
nome científico
usos
Acariçoba
Hydrocotyle umbellata
Medicinal
Anador
Justicia pectoralis
Medicinal
Arnica do mato
Solidago microglossa ou Solidago chilensis
Uso externo
Arruda
Ruta graveolens
Medicinal
Aveloz
Euphorbia tirucalli
Uso externo
Babosa
Aloe vera
Uso externo
Babosa
Aloe arbotescens
Uso externo
Bálsamo
Cotyledon orbiculata
Medicinal
Bálsamo
Cotyledon orbiculata
Medicinal
Boldo
Plectranthus barbatus
Medicinal
Boldo indígena
Verdonia condensata
Medicinal
Boldo miúdo
Plectranthus neochilus
Medicinal
Branquinha
Plectranthus madagascariensis
Medicinal
Calêndula
Calendula officinalis
Medicinal
Camomila
Matricaria recutita
Medicinal
nome popular
nome científico
usos
Cânfora
Artemisia camphorata
Uso externo
Carqueja
Baccharis trimera
Medicinal
Cavalinha
Equisetum
Medicinal
Cidreira de árvore
Lippia alba
Medicinal
Citronela
Cymbopogon nandus
Medicinal
Confrei
Symphytum officinale
Medicinal
Dormideira
Mimosa pudica
Medicinal
Erva de gato
Nepeta cataria
Medicinal
Estévia
Stevia rebaudiana
Medicinal
Gervão
Stachytarpheta cayennensis
Medicinal
Guiné
Petiveria alliacea
Medicinal
Incenso
Tetrania riparia
Uso externo
Insulina
Cissus verticullata
Medicinal
Malva branca
Pelargonium odoratissimum
Medicinal
Malva cheirosa
Pelargonium graveolens
Medicinal
Manjericão italiano
Ocimum basilicum 'Genovese'
Medicinal e Aromática
Marcela
Chamaemelum nobile
Medicinal e Aromática
Melissa
Melissa officinalis
Medicinal e Aromática
Mil em rama
Achillea millefolium
Medicinal
Novalgina
Achillea millefolium
Medicinal
Patchouly
Pogostemon patchouli
Uso externo e Aromático
Poejo
Mentha pulegium
Medicinal
Quebra demanda
Justicia gendarussa
Uso externo e Ornamental
Tabela 7: Espécies com outros usos – polinização, inseticida natural e diversificação
67
ESPÉCIES COM OUTROS USOS POLINIZAÇÃO, INSETICIDA NATURAL* E DIVERSIFICAÇÃO**
Fonte: organizado pelo autor, 2019.
nome popular
nome científico
nome popular
nome científico
Argyreia**
Argyreia nervosa
Mamona**
Ricinus communis
Azaleia
Rhododendron simsii
Margaridão
Sphagneticola trilobata
Flor da fortuna
Kalanchoe blossfeldiana
Nim*
Azadirachta indica
Gerânio
Pelargonium
Pingo de sangue
Ruellia brevifolia
Girassol
Helianthus annuus
Rosa
Rosa sp.
Girassol mexicano
Tithonia rotundifolia
Ruelia azul
Ruellia coerulea
Lavanda
Lavandula dentata
2.2.
2.2.1
BAURU QUINTAIS DE BAURU
1
Como estudo de caso também foram realizadas visitas a residências com quintais que possuem algumas das espécies listadas nos estudos anteriores e outras de destaque. Encontrou-se um repertório extenso de plantas não convencionais, tendo como destaque as plantas asiáticas. 68
Foram visitados cinco quintais (Figura 30): da família Chiyoda (de meu avô); da família Hirota; da senhora Toshiko Komori; da família Ishikawa; esses com predominância das plantas japonesas e o meu próprio quintal, tendo outras variedades de plantas.
2 Figura 40: Localização dos quintais em Bauru
5 4
69
3
70
Na casa de meu avô (1), localizada no Jardim Nova Esperança, há uma diversidade de espécies plantadas no quintal, em frente à residência ou nos cantos que restaram do lote, muitas delas consideradas PANCs e algumas frutíferas convencionais plantadas em vasos ou canteiros no chão. Nestes espaços podem ser vistas Nirá (Allium tuberosum), Inhame (Colocasia esculenta), Konnyaku (Amorphophallus konjac), Nigagori ou Melão de são caetano (Momordica charantia) (Figura 41), Cebolinha (Allium fistulosum), Gobô ou Bardana (Arctium lappa) (Figura 42), Alecrim (Rosmarinus officinalis), Beldroega (Portulaca oleracea), Figo (Ficus carica), Mamão (Carica papaya), Jabuticaba (Myrciaria cauliflora), Pitanga (Eugenia uniflora), Pinha (Annona squamosa), Romã (Punica granatum), além de outras plantas de uso ornamental.
Figura 41: Nigagori ou Melão de São Caetano Figura 42: Gobô ou Bardana
71
Figuras 43 e 44: Ilustrações das PANCs asiáticas
72
No quintal da família Hirota (2), na Vila Industrial, são encontradas Vinagreira (Hibiscus sabdariffa) (Figura 45), Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), Fuchibá ou Yomogi (Artemisia absinthium), Nirá (Allium tuberosum) (Figura 46), Rakkyo (Allium chinense), Feijão guandú (Cajanus cajan), Ervilha orelha de padre (Dolichos lablab) (Figura 47), Batata doce (Ipomoea batatas), Couve (Brassica oleracea), Cebolinha (Allium fistulosum) e Abóbora (Cucurbita spp). Algumas delas plantadas em pequena quantidade e outras como a Vinagreira que acabou tomando conta do terreno e se destacando com seu tom avermelhado.
Figura 45: Vinagreira Figura 46: Nirá Figura 47: Orelha de padre
73
Figuras 48, 49 e 50: Ilustrações das PANCs asiáticas
74
No pequeno quintal da Senhora Toshiko Komori (3), na região Central, foram aproveitados os corredores e o pequeno fundo para plantar em vasos espécies como o Figo (Ficus carica), Abóbora (Cucurbita spp), Gobô (Arctium lappa), Alecrim (Rosmarinus officinalis), Cebolinha (Allium fistulosum), Tomate (Solanum lycopersicum), Crisântemo japonês (Shungiku – Chrysanthemum coronarium) (Figuras 51 e 52), Gardênia (Gardenia jasminoides), Shissô (Perilla frutescens) (Figura 53), Babosa (Aloe barbadensis), Arruda (Ruta graveolens), Gengibre (Zingiber officinale) (Figura 54) e Cravinho da serra (Tagetes filifolia).
Figura 51 e 52: Shungiku Figura 53: Shissô Figura 54: Gengibre
No quintal da família Ishikawa (4), na Vila Independência, plantado em uma antiga piscina que foi aterrada se encontram além de diversas plantas ornamentais, Cúrcuma (Curcuma longa) (Figura 55), Cosmos (Cosmos sulphurea), Gengibre (Zingiber officinale), Tanchagem (Plantago major), Quiabo (Abelmoschus esculentus), Milho (Zea mays spp), Capim cidreira (Cymbopogon citratus), Laranja (Citrus sinensis) e Limão cravo (Citrus x limonia).
Em meu próprio quintal (5) da casa compartilhada onde vivo, existem diversas áreas utilizadas para plantio aproveitando grande parte dos recuos laterais e o fundo. Por ser uma casa antiga, provavelmente da década de 1940, situada na região central, o terreno é grande e as áreas destinadas ao quintal são amplas.
Figura 56: Tumbérgia azul Figura 57: Ilustração das PANCs asiáticas
Figura 55: Cúrcuma
75
76
Há plantadas, tanto em vasos como em canteiros, Argyreia (Argyreia nervosa), Quebra pedra (Phyllanthus niruri), Caruru (Amaranthus viridis), Cariru (Talinum triangulare), Azedinha (Oxalia latifolia), Trapoeraba azul (Commelina erecta), Banana (Musa acuminata), Berinjela (Solanum melongena), Alface (Lactuca sativa), Tomate (Solanum lycopersicum), Tumbérgia azul (Thumbergia grandiflora) (Figura 56), Capuchinha (Tropaeolum majus), Manjericão (Ocimum basilicum), Alecrim (Rosmarinus officinalis), Tomilho limão (Thymus citriodorus), Morango (Fragaria x ananassa), Pinha (Annona squamosa), Caferana (Bunchosia armeniaca), Jabuticaba (Myrciaria cauliflora), Manga (Mangifera indica) e Amora (Morus nigra), muitas delas nascendo espontaneamente.
Nesses espaços foi interessante observar como cada planta faz parte da rotina de cada um, trazendo várias lembranças, como a da senhora Maria Hirota, que relata que “essa planta minha mãe ganhou e a planto até hoje para lembrar dela”. Traz também uma noção de tempo e ciclos que geralmente não se pensa mais: “tem que plantar as sementes em outubro, ver as flores em março e colher os frutos entre abril e maio, antes que o frio chegue”, palavras repletas de sabedoria que podem se perder. Percebe-se que os quintais visitados funcionam como espaços de experimentação de cultivos, onde se misturam muitas espécies num mesmo local a fim de testar empiricamente combinações de plantio. Um espaço com diversas funções, sendo extensão das atividades domésticas do cotidiano como prolongamento da cozinha, lavanderia, área de lazer, garagem, canil, pomar, horta, resultando também em diversos significados de memória e cultura que são retomados diariamente.
2.2.2
FEIRAS DE BAURU
Além dos quintais também foram realizadas visitas a algumas feiras livres de Bauru (Figura 58) para entender como acontece a venda dos produtos produzidos na região, sobretudo, observar se existiam as PANCs e os produtos orgânicos nas bancas. Foram três feiras em dias e locais distintos: de quinta-feira (1), no Jardim Estoril, onde ocorre a venda de orgânicos certificados; de sextafeira (2), na região dos Altos da Cidade, que possui algumas bancas onde se encontram as PANCs asiáticas; e, de domingo (3), no Centro, que ocorre a maior feira da cidade, portanto, com maior variedade de produtos. As feiras, de maneira geral, comercializam em grande maioria as plantas convencionais – legumes, hortaliças, tubérculos –, encontradas com facilidade em outros locais e consumidas habitualmente pela população. A diferença de se comprar diretamente do produtor é a qualidade dos produtos frescos. Mesmo que as plantas habituais ocupem a maior parte do espaço das bancas, existem algumas
3 77
2 1 Figura 58: Localização das feiras em Bauru
pouco conhecidas ou consumidas em pequena quantidade por culturas específicas, caso das PANCs encontradas, que para os poucos consumidores são comuns na dieta. É engraçado perguntar se a pessoa sabia que tais plantas são PANC, a maioria se assusta e pergunta o que é isso; no fim, para eles elas são comuns.
78
Na feira de quinta-feira (Figura 59), existe apenas uma banca que oferece produtos integralmente orgânicos com certificação – a banca de Eneida Carrasco, produtora orgânica e biodinâmica (Figura 60). São oferecidos tanto os legumes e verduras convencionais, como também as PANCs Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), Cúrcuma (Curcuma longa), Vinagreira (Hibiscus sabdariffa), Taioba (Xanthosoma taioba), Funcho (Foeniculum vulgare) e outras que variam conforme o período do ano. Em conversa com um feirante dessa banca, ele afirma que mesmo com a conscientização dos benefícios desses produtos, ainda é uma causa a ser atingida aos poucos pela população, pois o maior empecilho, infelizmente, são os preços ainda elevados. Uma grande ajuda foi a iniciativa da Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), que promove a reunião de pessoas interessadas em adquirir semanalmente uma
cesta com produtos variados a um preço único, fazendo com que tanto produtor e consumidor sejam beneficiados, associando qualidade, comodidade, estabilidade para quem produz e maior tempo de dedicação na horta. Outro ponto levantado é a redução de custos com embalagens, transporte e perdas no manuseio dos produtos. Mesmo com essa iniciativa, a venda nas feiras ainda é o melhor meio, no momento, para a divulgação dos produtos.
Figura 59: Feira de orgânicos Figura 60: Eneida com sua equipe na horta
Figuras 61, 62, 63, 64 e 65: Algumas espĂŠcies da horta - Quiabo, Taioba, Batata doce, Tomate cereja e AbĂłbora
79
80
Nas feiras de sexta-feira e domingo (Figura 66) foram identificadas algumas das PANCs encontradas nos quintais visitados, além de outras PANCs. Foram encontradas principalmente as asiáticas, vendidas nas bancas de descendentes dos imigrantes, como a do senhor Akira Sakai (Figura 67). São exemplos de produtos encontrados nas feiras: o Hanaumê ou Vinagreira (Hibiscus sabdariffa), o Gobô ou Bardana (Arctium lappa), o Nigagori ou Melão-de-SãoCaetano (Momordica charantia), o Cará moela (Dioscorea bulbifera), o Inhame (Colocasia esculenta), o Nasu ou Berinjela japonesa (Solanum melongena), o Takê-no-ko ou Broto de bambú (Phyllostachys edulis), o Moyashi ou Broto de feijão (Phaseolus vulgaris), o Chingensai ou Couve chinesa (Brassica rapa), o Renkon ou Raiz-de-flor-de-lótus (Nelumbo nucifera), além de outros mais comuns e também de outras culturas como Gengibre (Zingiber officinale), Naboforrageiro (Raphanus sativus), Maxixe (Cucumis anguria), Salsão (Apium graveolens), Serralha (Sonchus oleraceus), Bertalha (Basella alba), Taioba (Xanthosoma taioba), Orapro-nóbis (Pereskia aculeata), Pinhão (Araucaria angustifolia) e Cambuquira (Cuburbita spp), muitas delas apenas sazonais.
Figura 66: Produtos na feira de domingo Figura 67: Banca da família Sakai
2.2.3.
ANÁLISE DO REPERTÓRIO VEGETAL
Adentrar o espaço dos quintais visitados foi uma grande experiência, pois pode-se observar como é a relação das plantas com quem as cultiva, tendo uma intensa proximidade e utilização delas no cotidiano, o que mostra como o quintal ainda não perdeu seu significado para essas pessoas. Algumas das plantas encontradas são utilizadas diariamente, principalmente os temperos, com ciclos perenes, as demais de ciclo anual são empregadas sazonalmente em usos específicos de alguns pratos característicos. Como apresentado, as origens de quem cultiva determinaram os tipos de plantas utilizadas, fazendo com que grande parte delas, tanto nos quintais como nas feiras, fosse representativa dessas culturas, predominando em Bauru a japonesa. Desse repertório nos quintais foram obtidas 69 espécies, sendo 33 dessas classificadas como PANCs. Dessas plantas não convencionais, 9 são de origem asiática. Mesmo que várias das PANCs cultivadas nos quintais sejam encontradas nas feiras, prefere-
se, na maioria dos casos, consumir o que é produzido no local, tanto pela segurança de saber o que se consome, quanto pela comodidade de apenas sair pela porta e colher o que irá ser a refeição. Esse ato valoriza muito a relação com a terra e o apreço por cada planta colhida. Além disso, um fato interessante da análise desse repertório são as diferentes formas de cultivo empregadas nos quintais, sendo utilizados meios alternativos de plantio em vasos para otimizar espaço, aproveitando-se cada canto disponível. A mistura de plantas utilizadas em cada vaso mostra também essa forma de aproveitamento do espaço. Cada canto é aproveitado para o cultivo, nascendo muitas vezes de forma espontânea. Nas feiras, o repertório de plantas, principalmente as asiáticas comumente encontradas nos quintais analisados, aparecem em evidência na variedade oferecida pelas bancas, que devido à quantidade de descendentes, elas são amplamente cultivadas e consumidas. Mas também, muitos outros consumidores não
81
asiáticos estão tendo acesso a essas plantas que, cada vez mais, se tornam comuns no cardápio, mostrando a adaptação para outros hábitos alimentares. Nos espaços das feiras foram encontradas 84 espécies, sendo 22 classificadas como PANCs e dessas 7 de origem asiática. Comparando os dois repertórios,
2.3.
82
tanto dos quintais como das feiras, pode-se obter 42 espécies em comum aos dois estudos de caso. Dessas, destacam-se 10 PANCs, como a Batata doce, a Cúrcuma, a Bardana, o Guandu, o Mangalô, o Melão de São Caetano, o Nirá, a Ora pro nóbis, a Taioba e a Vinagreira.
COMPARAÇÃO E ANÁLISE DO REPERTÓRIO VEGETAL DAS HORTAS URBANAS NA CAPITAL E NO INTERIOR PAULISTA
Por meio dos estudos de caso realizados na cidade pode-se comparar o repertório utilizado em São Paulo com o encontrado em Bauru nos quintais e nas feiras, mostrando diversas semelhanças e alguns acréscimos decorrentes de plantas mais de uso regional ou cultural. Há em comum as PANCs mais conhecidas e de maior utilização, tendo o acréscimo em Bauru das plantas de origem asiática, devido à origem e cultura de quem as cultiva nos quintais visitados nos estudos de caso e presentes também nas feiras. Das PANCs observadas, muitas delas são encontradas dentro da cidade, entretanto, algumas não são utilizadas por
falta de conhecimento ou por preconceito por não serem de uso comum. Mas muitas delas já estão inseridas e se tornaram bastante comuns, tanto que algumas se apresentam em quase todos os levantamentos, como a Taioba, Ora-pro-nóbis, Inhame, Vinagreira, algumas flores comestíveis e os temperos. Na tabela 8, estão presentes as espécies em comum encontradas tanto no repertório de São Paulo como nos quintais e feiras visitados em Bauru, destacando as classificadas como PANCs. Foram encontradas 88 espécies, sendo 30 dessa lista que são classificadas como PANCs, pouco mais de 30%, o que mostra uma variedade significativa encontrada nesse repertório.
Tabela 8: Relação de espécies em comum no repertório de São Paulo e Bauru Fonte: organizado pelo autor, 2019.
nome popular
nome científico
nome popular
nome científico
Abacaxi
Ananas comosus
Limão
Citrus limon
Abóbora
Cucurbita spp.
Losna / Yomogi / Fuchibá
Artemisia absinthium
Abobrinha
Cucurbita pepo
Louro
Laurus nobilis
Agrião
Nasturtium officinale
Mamão
Carica papaya
Alecrim
Rosmarinus officinalis
Mandioca
Manihot esculenta
Alface
Lactuca sativa
Mandioquinha
Arracacia xanthorrhiza
Alfavacão
Ocimum gratissimum
Mangalô
Lablab purpureus
Alho
Allium sativum
Manjericão
Ocimum basilicum
Alho-poró
Allium ampeloprasum
Manjericão roxinho
Ocimum basilicum
Argyreia
Argyreia nervosa
Maracujá
Passiflora edulis
Arruda
Ruta graveolens
Maxixe
Cucumis anguria
Azedinha
Rumex acetosa
Milho
Zea mays ssp.
Babosa
Aloe vera
Morango
Fragaria ananassa
Banana
Musa paradisiaca
Morango silvestre
Fragaria vesca
Batata doce
Ipomoea batatas
Nabo
Brassica napus
Beldroega
Portulaca oleracea
Nirá
Allium tuberosum
Beringela
Solanum melongeana
Ora pro nobis
Pereskia aculeata
Bertalha
Basella alba
Orégano
Origanum vulgare
Beterraba
Beta sp.
Peixinho da horta
Stachys byzantina
Boldo
Plectranthus barbatus
Pepino
Cucumis sativus
Brócolis
Brassica oleracea var. italica
Physalis
Physalis peruviana
Capuchinha
Tropaeolum majus
Pimenta
Capsicum sp.
Cará moela
Dioscorea bulbifera
Pimenta biquinho
Capsicum chinense
Cavalinha
Equisetum hyemale
Pimenta malagueta
Capsicum frutescens
Cebolinha
Allium schoenoprasum
Pimentão
Capsicum anuum
Cenoura
Daucus carota
Quiabo
Abelmoschus esculentus
Chuchu
Sechium edule
Rúcula
Eruca vesicaria ssp. Sativa
Citronela
Cymbopogon nandus
Ruelia azul
Ruellia coerulea
Coentro
Coriandrum sativum
Salsa crespa
Petroselinum crispum
Cosmos amarelo
Cosmos sulphureus
Salsa lisa
Petroselinum sativum
Couve
Brassica oleracea
Salsão
Apium graveolens
Couve flor
Brassica oleracea var. botrytis
Sálvia
Salvia officinalis
Cúrcuma
Curcuma longa
Serralha
Sonchus oleraceus
Dente de leão
Taraxacum officinale
Shissô
Perilla frutescens
Espinafre
Spinacia oleracea
Tagetes
Tagetes erecta
Flor da fortuna
Kalanchoe blossfeldiana
Taioba
Xanthosoma taioba
83
nome popular
nome científico
nome popular
Funcho
Foeniculum vulgare
Tanchagem/Tansagem Plantago australis
Gengibre
Zingiber officinale
Tomate
Solanum lycopersicum
Guaco
Mikania glomerata
Tomate cereja
Solanum lycopersicum var. cerasiforme
Guandu
Cajanus cajan
Tomilho
Thymus vulgaris
Guiné
Petiveria alliacea
Tomilho limão
Thymus x citriodorus
Hortelã
Mentha piperita
Trevo
Oxalis latifolia
Inhame
Colocasia esculenta
Vinagreira
Hibiscus sabdariffa
Lavanda
Lavandula dentata
Violeta perfumada
Viola odorata
2.4.
84
nome científico
OUTRAS PANCs ENCONTRADAS EM BAURU
Além das PANCs encontradas ao longo das análises nos estudos de caso, algumas outras também comparecem no repertório vegetal de Bauru e foram elencadas durante o período da pesquisa na Tabela 9 abaixo. Nesse caso, foi interessante observar que grande parte dessa relação são de espécies arbóreas
que amplamente são utilizadas na arborização urbana das cidades e no paisagismo, sendo também muitas delas de origem nativa como os Ipês, o Jatobá, a Paineira, o Pequi, a Pimenta rosa, o Jerivá e a Rosa madeira. Dessa relação obteve-se ao todo 25 espécies.
Tabela 9: Outras PANCs que podem ser encontradas em Bauru Fonte: organizado pelo autor, 2019.
nome popular
nome científico
nome popular
nome científico
Camélia
Camellia japonica
Maria sem vergonha
Impatiens walleriana
Celósia
Celosia argentea
Moringa
Moringa oleifera
Chuva de ouro
Cassia fistula
Mostarda
Brassica juncea
Flamboianzinho
Caesalpinia pulcherrima Paineira
Ceiba speciosa
Ipê amarelo
Handroanthus chrysotrichus
Pequi
Caryocar brasiliense
Ipê branco
Tabebuia roseoalba
Picão preto
Bidens pilosa
Jaca
Artocarpus heterophyllus
Picão branco
Galinsoga quadriradiata
Jasmim manga
Plumeria rubra
Pimenta rosa
Schinus terebinthifolius
Jatobá
Hymenaea courbaril
Pitaia
Hylocereus lemairei
Jerivá
Syagrus romanzoffiana
Rosa madeira
Pereskia grandifolia
Lírio amarelo
Hemerocallis x hybrida
Seriguela
Spondias purpurea
nome popular
nome científico
nome popular
nome científico
Lírio do brejo
Hedychium coronarium
Taboa
Typha domingensis
Malvavisco
Malvaviscus arboreus
Em anexo (Anexo 1) são listadas todas as espécies do repertório levantado ao longo da pesquisa,
2.5.
apresentando dados de suas características, usos, indicações de plantio, etc.
ALGUMAS PANCs ASIÁTICAS DOS QUINTAIS E FEIRAS DE BAURU Como forma de ilustrar e apresentar as PANCs asiáticas encontradas nos quintais e feiras visitados foram criadas fichas inseridas ao longo do trabalho que contam um pouco da história de cada planta, suas
características, assim como sua relação com quem as cultiva. Como a culinária é uma das formas de manter viva a cultura, foram também apresentadas algumas curiosidades que envolvem a criação das receitas.
85
Partes utilizadas: Raízes cozidas. Ciclo de vida: Bianual Características: O Gobô ou Bardana é um subarbusto bianual, ereto, com uma raiz principal que é a parte comestível, com cerca de 60 cm. As folhas formam o arbusto atingindo de 60 a 190 cm. Possui inflorescências globosas terminais, com flores róseo-púrpuras, protegidas com espinhos. Nativo da Europa, mas é amplamente usado na culinária asiática. As raízes são ricas em potássio, magnésio e insulina natural, sendo muito recomendada para diabéticos. Consumo: Mesmo sendo de origem europeia, foram os imigrantes japoneses que divulgaram seu uso, na culinária tradicional, o Gobô é um dos ingredientes mais populares, a exemplo do famoso prato “Kinpira gobô”, que é uma receita adocicada e levemente apimentada, muito comum de ser encontrado na marmita (obentô) dos japoneses. Geralmente, o Gobô pode ser refogada, cozida ou frita como tempurá. No quintal: É comumente encontrado, sendo plantado em canteiros, em vasos improvisados de isopor, ou curiosamente cultivado também em canos de PVC devido à profundidade das raízes. É encontrada facilmente em bancas de japoneses nas feires livres, principalmente durante os meses de maio e junho, havendo apenas nessa época por ser um produto sazonal. Um das bancas visitadas foi a do senhor Akira Sakai, que além do Gobô, produz outras PANCs japonesas para comercialização nas feiras.
Senhor Akira Sakai e esposa em sua banca na feira
Gobô
Arctium lappa
Kinpira gobô Ingredientes: . 1 raiz de gobô grossa . 1/3 de cenoura . 1/2 pimenta fatiada finamente . 1 colher (sopa) de óleo de gergelim . 1/2 colher (sopa) de Hondashi . 1/2 xícara de água . 1/2 colher (sopa) de açúcar . 1 colher (sopa) de shoyu . 1 colher (sopa) de mirin . 1 colher (sopa) de gergelim branco Preparo: 1. Raspe a casca da raiz com as costas da faca e corte-a em tiras finas e compridas de cerca de 5 cm. 2. Deixe a raiz em água até o momento do preparo. Escorra bem antes de ir à panela. 3. Corte a cenoura da mesma forma. 4. Em uma frigideira, aqueça o óleo de gergelim e adicione o gobô e a cenoura. Tempere com o Hondashi. 5. Quando os vegetais estiverem refogados, acrescente a água, a pimenta e os demais temperos. Misture tudo até que o líquido evapore. 6. Finalize salpicando o gergelim branco.
Gobô plantado de forma inusitada aproveitando a altura de um tubo de PVC
.3
O PROJETO
3.1.
O CENTRO DA CIDADE Assim como diversas cidades do interior paulista, Bauru teve seu crescimento por meio dos trilhos da ferrovia. No caso, três delas fizeram parte da história da cidade - a Companhia Paulista, a Companhia Sorocabana e a Noroeste do Brasil, que criaram um dos mais importantes entroncamentos ferroviários da América do Sul. Esse potencial trazido para conduziu, além do seu crescimento, a história e a memória da região central que tem nos trilhos um dos seus limites, marcando fortemente a ligação entre passado e presente, que muitas vezes é esquecido ou negado. A negação à área patrimonial da cidade que se desenvolveram com a ferrovia
3.1.1.
faz com que sejam apenas consideradas ruínas de um passado. Essas ruínas resistem em poucos edifícios históricos dentre a área de interesse histórico-cultural, casos como as estações das três companhias principais, palacetes, hotéis, casarões e vilas ferroviárias, em diversos estilos e períodos, de ecléticos, art-déco aos modernos. Nessa convergência de histórias, edifícios e pluralidade de pessoas que circulam diariamente é que o centro se constitui como área de interesse para intervenção, buscando nesses resquícios históricos o potencial para ressignificar e retomar a vida dos antigos centros urbanos.
O LOCAL ESCOLHIDO O perímetro que abrange a área central da cidade com valor histórico-cultural é delimitada além da ferrovia a oeste, a leste a rua Araújo Leite como a mais antiga da cidade. Outras importantes para o traçado inicial como a Primeiro de
Agosto, a Batista de Carvalho e a Avenida Rodrigues Alves foram grandes nomes no auge da ferrovia, onde se concentravam a maior parte da infraestrutura urbana da cidade, os comércios, hotéis e casarões (Mapa 1).
89
Mapa 1: A região central de Bauru
o centro
a quadra 90
Nesse contexto, analisando o entorno e o potencial históricocultural para os bauruenses dessa conformação inicial da cidade, contemporaneamente é inevitável não se prender a magnitude que esse passado representou para o crescimento e identidade da cidade. Como forma de experienciar isso, foi escolhida uma das quadras que
mais representa esse período, com diversos hotéis importantes para a cidade, ao lado da Estação Central da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Como região central, além das questões histórico-culturais, é onde converge grande parte das infraestruturas de uma cidade, sendo um grande ponto de passagem para a maioria das
linhas de transporte público, concentração de comércios e serviços, áreas institucionais e o
3.1.2.
trânsito de centenas de pessoas todos os dias que passam pelo centro.
HABITAR O CENTRO Utilizar essa quadra como um início de retomada das áreas centrais por moradia, sobretudo, as iniciativas que possuem o intuito de serem habitações de interesse social. Dessa forma,
ocupar os hotéis históricos adequando-os a novos usos com esse intuito é uma maneira de reativar essa área em constante degradação.
Figuras 68: Hotel Milanese e Hotel Estoril
91
92
Aproveitando a história e memória que um dia receberam aqueles que vinham de tantas outras cidades para tentar a sorte e que aqui ficaram, construindo a cidade. Nesse pressuposto, permanecer no espaço desses patrimônios para estabeleceremse assim na função de habitação. Ocupando esses patrimônios subutilizados, pode-se reviver a área central da cidade, promover a diversidade de usos
do centro, que deixa de ser monofuncional. Os centros antigos se bem utilizados são o palco fundamental para a geração dessa diversidade tão procurada no planejamento das cidades. Jane Jacobs, jornalista e escritora de uns dos livros mais influentes quando se trata no planejamento de cidades vivas e diversificadas, diz que é preciso tanto de
“prédios antigos, que talvez seja impossível obter ruas e distritos vivos sem eles. Ao falar em prédios antigos, refiro-me não aos edifícios que sejam peças de museu, nem aos prédios antigos que passaram por reforma excelentes e dispendiosas [...], mas a uma boa porção de prédios antigos simples, de baixo valor, incluindo alguns prédios antigos deteriorados” (JACOBS, 2014, p. 131).
Dessa forma, esses prédios se tornam importantes elementos para que haja a ressignificação e a posterior vida nos centros. Ainda segundo a autora, “Uma das coisas mais admiráveis e agradáveis que podem ser vistas ao longo das calçadas das grandes cidades são as engenhosas adaptações de velhos espaços para novo usos. A sala de estar do casarão que se transforma em sala de exposições do artesão,
Figuras 69: Os vazios da quadra
o estábulo que se transforma em casa [...] são desse tipo as pequenas transformações que estão sempre ocorrendo nos distritos em que há vitalidade e que atendem às necessidades humanas” (JACOBS, 2014, p. 135).
Assim, utilizar as estruturas existentes, além de ressignificar um passado que tornou-se obsoleto, pode configurar uma
das formas para adaptação às mudanças e necessidades de um tempo, fazendo que áreas tão ricas de histórias não se percam.
93
3.1.3.
RESSIGNIFICAR OS VAZIOS
94
vazio Figura 70: O local de intervenção
Além de ressignificar os hotéis, ocupar os vazios entre esses espaços edificados é uma das formas de trazer espaços livres a uma área tão carente de lazer e áreas verdes. Dessa forma, utilizar esses vazios pode funcionar como uma mobilização da comunidade em atuar conjuntamente na recuperação de áreas subutilizadas e degradadas para o funcionamento de
estruturas que beneficiem não só quem habita (ou um dia habitará) o centro, mas também para a região como um todo. O espaço ocupado no centro da quadra como um incentivo às práticas comunitárias que podem ser aplicadas nos vazios urbanos de outros lugares, não apenas nas regiões centrais e significativamente adensadas.
95
Figuras 71: Diagrama de inserção da quadra
3.1.4.
OCUPAR COM O VERDE ALIMENTAR O CENTRO
“a comida sempre será para a alma” BOTTURA, 2017.³⁴
96
Dentre as premissas estudadas tanto na primeira parte deste estudo, quanto nos futuros percursos da pesquisa, a ocupação de vazios urbanos por meio de movimentos que buscam utilizar o verde para trazer novos usos à áreas degradadas é um dos caminhos continuados para a fase projetual do presente trabalho. Dessa forma, utilizar o verde para alimentar é, sobretudo, o propósito do trabalho. Muitas das formas de produção possuem altos índices de desperdício, em mercados, feiras, entrepostos, no campo e na cidade, deixando que grande parte de alimentos que poderiam ser consumidos vão acabar descartados, não tendo a função à qual foram destinados. Como uma alternativa à diminuição desse fato, tem-se no Rio de Janeiro, no bairro da Lapa, região central, um movimento que vem transformando a vida de muitas pessoas e principalmente
diminuindo o desperdício em grandes centros urbanos. O Refettorio Gastromotiva é uma iniciativa trazida para o Brasil pelos chefes Massimo Bottura, David Hertz e a jornalista Ale Forbes, tendo como principal objetivo lutar para diminuir o desperdício de alimentos, a má nutrição e a exclusão social. Fundado em 2016, durante as Olimpíadas, tornou-se um marco no Rio de Janeiro como uma instrumento de transformação social pela alimentação. Nessas intenções possui como pilares o trabalho com gastronomia social voltada às pessoas em situação de vulnerabilidade social, produzindo alimento de qualidade àqueles que possuem tão pouco. • Combate ao desperdício de alimentos • Capacitação profissional • Educação alimentar • Oferecer uma refeição com dignidade
34. Em entrevista para a apresentação institucional do Refettorio Gastromotiva. In: <https:// www.youtube. com/watch?v= tXddK4fWJ4A> Acesso em 13/09/2019.
alimentar vem do Latim “alere”, que significa “fazer crescer”, “nutrir”, “curar”, “tratar”.³⁵
97
Figuras 72, 73 e 74: O Reffetorio Gastromotiva
Arquitetos: Metro Arquitetos Associados Localização: Rua da Lapa, 108 - Centro, Rio de Janeiro - RJ, 20021-180
35. Verbo alere. In <https://pt.glosbe. com/la/pt/ alere> Acesso em 15/09/2019.
Equipe: Gustavo Cedroni, Martin Corullon, Helena Cavalheiro, Marina Ioshii, Amanda Amicis, Gabriela Santana, João Quinas, Luís Tavares, Manuela Porto, Rafael Sousa, Renata Mori Área: 425 m² Ano do projeto: 2016
O terreno escolhido foi cedido pela prefeitura do Rio de Janeiro, ficando entre os Arcos da Lapa e o Aterro do Flamengo. A área além de ser caracterizada pelo seu centro histórico e cultural possui um elevado índice de desigualdade e vulnerabilidade social, com muitas pessoas morando nas ruas e carentes de qualquer tipo de assistência.³⁶
98
O edifício além de aberto para tratar dessas questões sociais, representa em seu projeto uma conexão com o espaço público da praça adjacente e a comunidade local. Ocupa uma estreita faixa de 6 m de largura por 50 m de comprimento do terreno, deixando que grande parte do programa funcional do restaurante fique aparente, evidenciado pelo uso da translucidez do policarbonato. Internamente, as funções de cada espaço também são integradas, promovendo uma nova experiência para aqueles que frequentam o ambiente, deixando claro o funcionamento da estrutura, dos usos e do movimento da cozinha. Esse ambiente em especial fica totalmente aberto, tendo o intuito principal de mostrar como é possível transformar antigos padrões em novas experiências.
“Cozinha é lugar pra dançar, tirar folga dos problemas, despir os preconceitos, adorar o novo, apreciar os detalhes, fazer do simples algo especial, afinar o paladar, testar nossos limites, inovar, meditar sobre o correr dos dias, associar olfatos, fazer da pimenta e dos problemas ardidos algo agridoce, ganhar experiências, se fartar com novos cheiros, misturar sabores” (DINI, 2018).
Juntando essa experiência de gastronomia social e busca pelo combate ao desperdício aplicadas no Rio de Janeiro com outra iniciativa de valorização de produtos cultivados organicamente por pequenos produtores da cidade de São Paulo há o Instituto Feira Livre SP que atua no centro comercializando a preços justos alimento de qualidade. É promovido o acesso aos orgânicos de maneira transparente e sustentável - sem agrotóxicos e sem especulação, estabelecendo relações justas com todos as pessoas envolvidas nessa cadeia produtiva, conectando quem produz e quem consome.
36. In: <https:// www.archdaily. com.br/ br/801226/ refettoriogastromotivametro-arquitetosassociados> Acesso em: 14/09/2019.
Figura 75: Capa da página online do Instituto Feira Livre
Localização: Rua Major Sertório, 229 - República - São Paulo. Funcionamento: De terça à sexta: das 9h às 19h.
Sábado e domingo: das 9h às 15h.
Pode ser acessado de metrô, carro, bicicleta, a pé. 99
38. In: <http:// institutofeiralivre. org/> Acesso em: 14/09/2019.
O Instituto feira Feira Livre discute os altos valores dos orgânicos vendidos em grandes redes de supermercados, ou seja, os produtores e consumidores são explorados ao máximo nessa lógica de mercado. Dessa forma, são repensados esses valores para distribuir produtos ao mesmo preço do produtor. “Aquilo que é pago ao produtor
é o custo exposto nas etiquetas dos produtos”.³⁸ Os demais custos como o aluguel do espaço de comercialização, fretes, salários, impostos e taxas são totalmente expostos e abertos para o consumidor, para que todos possam saber os custos envolvidos. Esses valores são adicionados ao valor do produto, variando conforme as despesas
mensais do Instituto. Têm-se então como principais elementos que movem o Instituto: “comercializar produtos do campo e propor a economia solidária são os meios do Feira Livre colocar em prática seus ideais de liberdade e democracia” (Instituto Feira Livre, 2019).
100
Dessa forma, segundo esses referenciais pode-se pensar o espaço da quadra com a premissa de produzir, distribuir e fomentar a gastronomia social para o intento de diminuir, mesmo que em pequena escala, as desigualdades sociais desse recorte central de Bauru.
Figuras 76 e 77: Explicativo dos custos do projeto e formas de contribuição
3.2.
A INTERVENÇÃO
3.2.1.
UM POUCO DE "CAOS" Aproveitando da espontaneidade de muitas das PANCs e o desenho natural e instintivo encontrado nos quintais, a proposta de criação no projeto é assumir esses aspectos associados a uma atribuição de um pequeno “caos” que comumente é encontrado nesses espaços. Esse caos projetado, espontaneidade e sazonalidade que muitas vezes o jardim assume é amplamente explorado em projetos de autores como o holandês Piet Oudolf, expoente do movimento de jardins naturalistas contemporâneos. Esses jardins além de utilizarem desse aspecto, são projetos que exprimem a beleza pela transformação das plantas ao
Figuras 78 e 79: O High Line Park e sua sazonalidade
longo do ano. O autor afirma que “marrom também é cor”, exemplificando as diversas tonalidades que pode-se obter e as formas escultóricas da vegetação principalmente no início do período de dormência, durante o outono. Como um exemplo notório tem-se o High Line Park, de Nova York (Figuras 78 e 79) que traz o jardim com uma “beleza melancólica de uma infraestrutura urbana que tornou-se ruína pós-industrial”, dessa forma o projeto apropriouse da vegetação espontânea que se instalou no espaço para formar uma sequência de paisagens ao longo do parque (PANZINI, 2013).
Figuras 80 e 81: A composição dos jardins de Oudolf no Serpentine Pavilion Figuras 82: A arquitetura da vegetação e a sazonalidade dos jardins
102
39. Esses dados de composição são os elementos projetuais empregados por Piet Oudolf em seus jardins, escritos por Noel Kingsburry, pesquisador dos jardins naturalistas contemporâneos. Tais informações foram obtidas em um curso ministrado pela arquiteta paisagista Mariana Siqueira que utiliza também desses princípios em seus projetos de jardins de cerrado no Brasil.
Os jardins aparentam não possuir um desenho, mas a escolha do repertório vegetal é feita meticulosamente, buscando explorar as potencialidades nas composições dos agrupamentos de cada um dos elementos do projeto. São três princípios de composição: as plantas protagonistas que representam os destaques no jardim; as plantas de fundo que trazem a base
3.2.2.
importante para dar legibilidade ao jardim; e as plantas dispersas que dão dinamismo ao jardim, aparecendo e desaparecendo ao longo do ano, o que representa o elemento de sazonalidade.³⁹ Essas técnicas inspiraram a criação do projeto, adaptando essa estética a um jardim comestível que tenha, sobretudo, potencial paisagístico para o local escolhido.
O PROJETO
. transformar o vazio . ocupar com o verde . alimentar o centro
Na área demarcada para utilização da quadra são considerados os edifícios históricos dos hotéis Milanese e Cariani, considerando-os como futuras unidades de habitação de interesse social. O hotel Estoril, também de importância histórica, foi considerado como um centro de cultura e arte para a quadra. Alguns edifícios em estado degradado e sem potencialidade para restauro foi considerado como área passível de transformação, propondo a sua remoção. Com isso, ainda permanece na quadra os vazios de estacionamentos que terão seus usos modificados para abrigar o espaço de plantio da horta (Figuras 83 e 84).
103
situação atual
104
intervenções iniciais
Por se tratar de uma horta que necessita de alta incidência de insolação ao longo do ano, foi analisado durante os solstícios de verão e inverno a quantidade de
luz e o sombreamento que atua na área. Durante esses períodos, grande parte do espaço consegue ter a luz necessária para a implantação do projeto.
105
Figura 83: Situação atual da quadra Figura 84: Proposta de intervenções iniciais Figura 85 e 86: Estudos de insolação para a quadra
Nesses vazios, conjuntamente aos 370 m² de horta, é proposta a inserção de 81 m² de estufa e também uma parte destinada para os 243 m² do refeitório social que utiliza a produção do espaço para servir alimento às pessoas em situação de vulnerabilidade social que habitam as áreas adjacentes da quadra.
106
Além desses usos relacionados à horta, a requalificação também se dá por meio da proposição de espaços de permanência, descanso e contemplação que são vistos como necessários e escassos no entorno. Com isso, propõe-se também que haja uso do espaço nos períodos noturnos para projeção de audiovisual, eventos de música, áreas de Biergarten e usos livres. Visando a variedade de vegetação ao longo do ano conforme os elementos inspirados nos jardins naturalistas contemporâneos, as diversas espécies anuais geram o movimento, pois são constantemente trocadas por outras, o que traz o aspecto de sazonalidade ao jardim. No anexo 2 foram selecionadas 98 espécies encontradas ao longo da análise dos repertórios vegetais encontrados, a fim de experimentar no projeto a associação dessas espécies assim como propostas de
substituições ao longo dos anos para a transformação desse jardim. Nessa lista também estão destacados por cor os potenciais paisagísticos desse repertório pelas estações do ano, que auxiliaram a compor a proposta inicial. Desse repertório foram selecionadas 68 espécies para a proposta inicial. Os canteiros são divididos em três setores principais. O primeiro com uso de trepadeiras; o segundo, ocupando a faixa central, com herbáceas e arbustos tanto anuais como perenes; e o terceiro com espécies adaptadas a terrenos mais úmidos. Há na arborização do espaço o uso de espécies comestíveis, proporcionando uma continuidade da proposta das PANCs em todo o projeto de quintal. Muitas delas são frutíferas comuns nos quintais antigos, remetendo às memórias desses espaços. Conforme há a troca das espécies, os canteiros vazios podem ser utilizados como espaços para compostagem dos resíduos orgânicos, renovando o solo para receber as novas mudas. Além da preocupação com o aproveitamento dos resíduos, também pensa-se em reutilizar a água da chuva para a irrigação dos espaços de horta.
O REPERTÓRIO VEGETAL INICIAL trepadeiras
ora pro nóbis Pereskia aculeata
mangalô Lablab purpureus
maracujá Passiflora edulis
argyreia Argyreia nervosa
tumbérgia azul Thunbergia grandiflora
maxixe Cucumis anguria
melão de tomate são caetano Solanum licopersicum Momordica charantia
pepino Cucumis sativus
pitaia Hylocereus guatemalensis
anuais
107
abacaxi Ananas comosus
abóbora Cucurbita spp.
alface Lactuca sativa
beldroega Portulaca oleracea
beringela Solanum melongena
beterraba Beta
brócolis Brassica oleracea var. italica
capuchinha Tropaeolum majus
celósia Celosia argentea
cosmos amarelo Cosmos sulphureus
couve Brassica oleracea
couve flor Brassica oleracea var. botrytis
tagetes Tagetes filifolia
cúrcuma Curcuma longa
gengibre Zingiber officinale
gobô Arctium lappa
manjericão Ocimum basillicum
milho Zea mays ssp.
rúcula Eruca vesicaria ssp. sativa
shissô Perilla frutescens
vinagreira Hibiscus sabdariffa
alecrim Rosmarinus officinalis
alho Allium sativum
batata doce Ipomoea batatas
cavalinha Equisetum hyemale
pimentão Capsicum anuum
quiabo Abelmoschus esculentus
azedinha Rumex acetosa
babosa Aloe vera
banana Musa paradisiaca
cebolinha Allium schoenoprasum
citronela dente de leão Cymbopogon nandus Taraxacum officinale
hortelã Mentha piperita
lírio amarelo Hemerocallis x hybrida
perenes
108
gardênia guandu Gardenia jasminoides Cajanus cajan
malvavisco Malvaviscus arboreus
mandioca Manihot esculenta
morango Fragaria vesca
nirá Allium tuberosum
taioba Xanthosoma taioba
trapoeraba azul Commelina erecta
violeta perfumada Viola odorata
peixinho da horta rakkyo Stachys byzantina Allium chinense
arbóreas e arvoretas
109
amora Morus nigra
chuva de ouro Cassia fistula
ipê amarelo Handroanthus chrysotrichus
ipê branco Tabebuia roseoalba
jabuticaba Myrciaria cauliflora
limão Citrus limon
limão cravo Citrus x limonia
mamão Carica papaya
moringa Moringa oleifera
pequi Caryocar brasiliense
pimenta rosa Schinus terebinthifolius
pitanga Eugenia uniflora
chuva de ouro milho
Os canteiros foram tratados como iniciais, pois conforme estudado, o universo das PANCs é muito diversificado e que pode ser amplamente explorado nesses canteiros experimentais. Para isso, a troca de espécies, principalmente as sazonais, é de de grande importância. Buscando essa diversidade, nunca se terá monoculturas, solos desgastados e alimentos consumidos sem variedade ao longo do ano.
ipê branco pimentão ora pro nóbis
mandioca
mangalô
cosmos
couve
peixinho
tagetes abóbora
morango maracujá
batata doce brócolis violeta gobô
110
maxixe
rúcula
malvavisco
1
azedinha
2
capuchinha
pepino
gardênia
alface
3
dente de leão argyreia
beldroega shissô
celósia
abacaxi
celósia melão de são caetano
capuchinha
tomate pitaia
babosa
implantação geral
cosmos pimenta rosa
ipê amarelo
pequi tumbérgia azul
limão
alecrim
jabuticaba
pequi limão cravo
ipê branco
ipê amarelo chuva de ouro guandu
tomate nirá alho cosmos cebolinha batata doce
jabuticaba
rakkyo lírio amarelo gardênia
pitanga
abóbora
pimenta rosa
ipê amarelo
manjericão capuchinha
pequi
mamão
couve flor
111
quiabo trapoeraba
vinagreira pequi beterraba amora
ipê branco alface
taioba
vinagreira alecrim
cúrcuma
beringela pitanga
hortelã
banana
cavalinha
citronela ipê amarelo
moringa
gengibre
0
1
5
10
CANTEIROS
inĂcio do plantio de novas mudas
intervalo para compostagem do canteiro colheita dos canteiros
112
canteiros verĂŁo
canteiros inverno
113
transformação dos canteiros ao longo do ano
Nos diagramas abaixo estão representadas as espécies que podem ser colhidas em cada uma das estações do ano.
COLHEITAS
tomate mandioca
gardênia
manjericão nirá capuchinha cebolinha trapoeraba
tagetes abóbora
tumbérgia azul
batata doce
quiabo
capuchinha
ora pro nóbis
taioba hortelã cavalinha citronela
beterraba
rúcula gardênia alface beldroega
pimentão
alface
couve peixinho
alecrim beringela
banana
maxixe pepino azedinha
114
dente de leão
primavera
pitaia tomate mandioca
tomate
rakkyo lírio amarelo
guandu
milho
babosa
manjericão nirá capuchinha cebolinha trapoeraba tumbérgia azul
batata doce
quiabo
capuchinha
taioba hortelã cavalinha citronela
beterraba
rúcula ora pro nóbis
alface beldroega
pimentão
alface
couve peixinho
verão
maracujá maxixe
alecrim beringela
azedinha pepino
dente de leão
abacaxi melão de são caetano
celósia babosa
tomate
banana
rakkyo mandioca
manjericão nirá capuchinha cebolinha trapoeraba tumbérgia azul
tagetes abóbora
quiabo
capuchinha
beterraba
rúcula ora pro nóbis
taioba cúrcuma hortelã cavalinha citronela
vinagreira alface beldroega shissô alface
couve peixinho
alecrim beringela
morango
banana
brócolis gobô azedinha argyreia
outono
115 dente de leão babosa
cosmos
couve flor
milho
nirá manjericão alho cebolinha
mandioca
trapoeraba tagetes
tumbérgia azul
batata doce
quiabo violeta capuchinha
beterraba
taioba hortelã cavalinha citronela
rúcula ora pro nóbis
alface beldroega
mangalô
alface
couve peixinho
alecrim beringela
morango
inverno
brócolis gobô azedinha argyreia
dente de leão babosa
banana gengibre
a inserção na quadra
116
o refettorio
canteiros de horta
biergarten
117
refettorio diagrama geral da quadra
espaรงo de eventos e descanso estufas
118
entrada do refettorio
119
120
121
a praรงa | biergarten
122
o quintal
123
beringela vinagreira manjericão
celósia
shissô
rúcula
124
gardênia
rakkyo
lírio amarelo
couve flor
nirá
cosmos
tomate
capuchinha
mangalĂ´
ora pro nĂłbis
125
o quintal guandu
batata doce
tagetes
cosmos
mandioca
8
5
6
4 3
2 7
1 126
refettorio - planta pav. térreo
1. estufas 2. cozinha 3. depósito e despensa 4. câmara fria 5. antecâmara 6. sanitários 7. salão 8. arquibancada e área de lazer 9. mezanino
0
1
5
10
9
127
refettorio - planta pav. superior
O Refettorio tem a intenção de acolher a produção da horta e os insumos que seriam descartados pelas feiras da região, dando uma destinação desse alimento para as pessoas em situação de vulnerabilidade social. Tendo a latente inspiração no projeto social do Gastromotiva, em menor escala, essa unidade tenta
0
1
5
trazer uma refeição de qualidade e com dignidade para quem necessita. A proposta de ter o Refettorio conjunto a um espaço público é para que haja a ocupação, a permanência desses locais, sobretudo, tragam vida para essa pequena parcela do centro de Bauru.
10
Dessa forma, pensar tanto a escala da horta, como a evocação da intimidade dos espaços de quintais são retomados e utilizados no projeto, buscando associar o cultivo, a alimentação, os significados envolvidos na prática das hortas, a conscientização e o lazer num único espaço coletivo e de livre acesso. Almejando assim, com os vários elementos projetuais estudados e o repertório diverso proposto trazer a proximidade com o cultivo e o uso do espaço público para ressignificá-lo. 128
129
interior do refettorio
130
interior do refettorio
131
Partes utilizadas: Frutos e sementes Ciclo de vida: Anual
Características: O Nigagori, Goya ou Melão de são caetano é uma herbácea trepadeira vigorosa e de fácil cultivo, pois em pouco tempo se desenvolve e começa a frutificar, sendo considerada uma planta espontânea em muitos casos. Da família das Curcubitaceas, assemelhase a um pepino, mas com textura enrugada na casca. Consumo: É uma espécie asiática que foi trazida pelos escravos africanos para o Brasil. Conta a tradição que o nome do fruto é em homenagem ao padroeiro de uma capela onde a planta nasceu e decorava o altar. Podem ser consumidos seus frutos verdes refogados ou em salada e suas sementes maduras cozidas. Apresenta sabor fortemente amargo, mas muito apreciado principalmente pela cultura asiática que utiliza o fruto em preparos diversos, sendo muito importante para o controle de diabetes, prevenção ao câncer, entre outras doenças. No quintal: É encontrado nos quintais cobrindo muros, cercas, portões ou onde possa se prender. Geralmente seu sabor amargo assusta quem o prova pela primeira vez, mas logo se acostuma. No quintal de meus avós, o Nigagori faz presença em todos os verões. Preparado com Missô - pasta de soja fermentada - perde a força de seu sabor, tornando-se um prato indispensável para a cultura e o dia a dia da casa.
Senhor e senhora Chiyoda, meus avós
Nigagori
Momordica charantia
Goya chanpuru Ingredientes: . 1 Nigagori ou Goya grande . 1 porção de tofu fresco . 1 ovo . 2 colheres (sopa) de óleo vegetal . 1 colher (sopa) de shoyu . 1 colher (sopa) de missô branco . 1 pimenta em pó . 1 sal a gosto Preparo: 1. Corte o Goya pela metade; limpe a parte interna e corte-o em fatias finas. 2. Deixe-o de molho na água para que saia um pouco do amargor dele. 3. Corte o tofu em cubos. 4. Em uma frigideira, aqueça o óleo de e adicione o tofu para dourá-lo 5. Reserve o tofu tostado e acrescente na mesma frigideira o Goya escorrido. Refogue até deixá-lo ao dente. 6. Junte-o com o ovo batido mexendo até que cozinhe. 7. Acrescente o tofu ao refogado. 8. Tempere com o molho de soja, o missô e a pimenta. Se desejar pode salpicar flocos de peixe bonito seco em cima (hana katsuo), trazendo o aroma de peixe ao prato.
Nigagori crescendo no portão de entrada da casa de meus avós
CONSIDERAÇÕES FINAIS
134
Ao longo da pesquisa, o percurso desde a discussão dos processos que envolvem a produção agrícola, as hortas no espaço urbano às reflexões acerca da alimentação, nos mostrou como a cadeia produtiva de alimentos pode influenciar nas nossas escolhas do que comemos ou deixamos de comer. Dessa forma, o constante e massivo uso de uma pequena parcela de plantas, faz com que muitas outras, as denominadas PANCs, tenham dificuldade para serem inseridas no cotidiano, dependendo muito de uma mudança de consciência para que haja a diversificação de nossos hábitos à mesa. Conforme visto, essas plantas ganham espaço para se desenvolverem nas hortas urbanas e os poucos quintais que ainda mantém a atividade de cultivo. Nesse processo é envolvido muito mais que produzir o que nos alimenta, mas também preservar os
significados e a cultura que essas plantas e o próprio espaço do quintal carregam. Poder entrar em contato com a história desses ambientes me fez retomar memórias, conhecimentos e, principalmente, a retomada do contato com a terra. Assim, após a proximidade com esse repertório de plantas nas hortas e quintais, possibilitou a organização e sistematização de um elenco de espécies para possíveis estudos em projetos de espaços públicos, que possam ressignificar ou rememorar o quintal na contemporaneidade, dentro das cidades em espaços cada vez mais reduzidos. Trazendo além dos significados dos quintais, mas também a riqueza do repertório vegetal e as receitas que compõem a memória desses espaços, constituindo uma importante forma de remeter as origens de nossas culturas para mantê-las vivas.
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お き に
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Ă?NDICE DE FIGURAS Capa: Karen Assay Uehara (2019)
Figura 27: Foto do autor (2019)
Figura 1: https://i2.wp.com/www.casadaciencia.com.br/ wp-content/uploads/2017/06/02.jpg
Figura 28: Foto do autor (2019)
Figura 2: https://www.susag.iastate.edu/files/events/ images/screen_shot_2018-02-20_at_10.17.13_am.png Figura 3: https://j9v6u8t3.stackpathcdn.com/media/14697/ yojana.jpg Figura 4: https://www.italymagazine.com/sites/default/ files/styles/624xauto/public/feature-story/leader/slowfoodlead.jpg?itok=kmMGq0dZ
Figura 30: Foto do autor (2019) Figura 31: Foto do autor (2019) Figura 32: Foto do autor (2019) Figura 33: Foto do autor (2019) Figura 34: Foto do autor (2019)
Figura 5: http://revistapress.com.br/wp-content/ uploads/2018/08/LIXO-desperd%C3%ADcio-de-alimentosfoto-agencia-brasil.jpg
Figura 35: Foto do autor (2019)
Figura 6: http://www.ressource0.com/wp-content/ uploads/2013/06/Image-16.png
Figura 37: Google Earth, 2019, adaptado pelo autor
Figura 7: http://muda.org.br/ Figura 8: Google Earth, 2019, adaptado pelo autor
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Figura 29: Foto do autor (2019)
Figura 9: Foto do autor (2019) Figura 10: Foto do autor (2019) Figura 11: Foto do autor (2019) Figura 12: Foto do autor (2019) Figura 13: Foto do autor (2019) Figura 14: Foto do autor (2019) Figura 15: Foto do autor (2019) Figura 16: Foto do autor (2019) Figura 17: Foto do autor (2019) Figura 18: Foto do autor (2019) Figura 19: Foto do autor (2019) Figura 20: Foto do autor (2019) Figura 21: Foto do autor (2019) Figura 22: Foto do autor (2019) Figura 23: Foto do autor (2019)
Figura 36: Foto do autor (2019)
Figura 38: https://conteudo.imguol.com.br/c/ noticias/2013/07/29/fundada-em-1993-a-sabor-defazenda-mantem-na-zona-norte-de-sao-paulo-umviveiro-de-288-m-com-mais-de-cem-tipos-de-ervas1375134946311_956x500.jpg Figura 39: https://sabordefazenda.com.br/ Figura 40: Google Earth, 2019, adaptado pelo autor Figura 41: Foto do autor (2019) Figura 42: Foto do autor (2019) Figura 43: https://i.pinimg.com/564x/1f/df/ d8/1fdfd82dbc3908e29242cd6ba0cdb57d.jpg Figura 44: https://i.pinimg. com/564x/00/78/3d/00783dd6630f4ccd034ba2d20 2a94181.jpg Figura 45: Foto do autor (2019) Figura 46: Foto do autor (2019) Figura 47: Foto do autor (2019) Figura 48: https://i.pinimg.com/564x/37/36/ ce/3736cee23d1ca28fa98b1974130eba39.jpg Figura 49: https://i.pinimg.com/564x/37/55/ b2/3755b21ac1cd8424514cc2a45b56aa7b.jpg
Figura 25: Google Earth, 2019, adaptado pelo autor
Figura 50: https://i.pinimg. com/564x/6e/9d/16/6e9d16dadfd05fe7f22eae6c367c 4774.jpg
Figura 26: Foto do autor (2019)
Figura 51: Foto do autor (2019)
Figura 24: Foto do autor (2019)
Figura 52: https://i.pinimg.com/564x/bc/e5/ca/ bce5cab7d914e01a5a98fdbb54fd53bd.jpg)
Figura 80: https://oudolf.com/wp-content/uploads/ serpentine-gallery-03-550x350.jpg
Figura 53: Foto do autor (2019)
Figura 81: https://oudolf.com/wp-content/uploads/ serpentine-gallery-05-550x350.jpg
Figura 54: Foto do autor (2019) Figura 55: Foto do autor (2019)
Figura 82: https://oudolf.com/wp-content/uploads/ serpentine-gallery-06-550x350.jpg
Figura 56: Foto do autor (2019)
Figura 83: Foto do autor (2019)
Figura 57: https://i.pinimg.com/564x/d9/0d/2b/ d90d2b74620e9dc5b94306cb99041de9.jpg
Figura 84: Foto do autor (2019)
Figura 58: Google Earth, 2019, adaptado pelo autor Figura 59: Foto do autor (2019) Figura 60: Foto do autor (2019) Figura 61: Foto do autor (2019) Figura 62: Foto do autor (2019) Figura 63: Foto do autor (2019) Figura 64: Foto do autor (2019) Figura 65: Foto do autor (2019) Figura 66: Foto do autor (2019) Figura 67: Foto do autor (2019) Figura 68: Foto do autor (2019) Figura 69: Foto do autor (2019) Figura 70: Foto do autor (2019) Figura 71: Foto do autor (2019) Figura 72: https://images.adsttc.com/media/ images/584c/4c65/e58e/ce89/a700/0077/slideshow/16.11. METROGastromotiva_137_copy.jpg?1481395295 Figura 73: https://images.adsttc.com/media/ images/584c/4c89/e58e/ceb1/9a00/00ae/slideshow/ REFETTORIO_GASTROMOTIVA_AngeloDalBo_0969. jpg?1481395330 Figura 74: https://images.adsttc.com/media/ images/584c/4d1f/e58e/ceb1/9a00/00b5/slideshow/ REFETTORIO_GASTROMOTIVA_AngeloDalBo_9956. jpg?1481395479 Figura 75: http://institutofeiralivre.org/ Figura 76: http://institutofeiralivre.org/ Figura 77: http://institutofeiralivre.org/ Figura 78: https://www.thehighline.org/ Figura 79: https://patricetodisco.files.wordpress. com/2012/05/img_5914.jpg
Figura 85: Foto do autor (2019) Figura 86: Foto do autor (2019) Figura 87: Foto do autor (2019) Figura 88: Foto do autor (2019) Figura 89: Foto do autor (2019) Figura 90: Foto do autor (2019) Figura 91: Foto do autor (2019) Figura 92: Foto do autor (2019) Figura 93: Foto do autor (2019) Figura 94: Foto do autor (2019) Figura 95: Foto do autor (2019) Figura 96: Foto do autor (2019) Figura 97: Foto do autor (2019) Figura 98: Foto do autor (2019) Figura 99: Anna Carolina Arruda CĂŠsar (2019) Figura 100: Anna Carolina Arruda CĂŠsar (2019)
Mapa 1: Plataforma My maps Google, 2019, adaptado pelo autor
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