um quintal para o centro | caderno tfg

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um

quintal para o centro

estudo sobre o repertório vegetal em hortas urbanas e quintais na capital e no interior paulista

faculdade de arquitetura, artes e comunicação da universidade estadual paulista “Júlio de Mesquita Filho” trabalho final de graduação orientadora. profa. dra. Marta Enokibara

Lucas Tioda Antonini

11. 2019.



AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gratidão pelas memórias de infância em meio ao quintal e a terra que produziu tanta experiência a mim, inspirando e me alimentando. Em segundo lugar a todas as pessoas que cultivam a terra e lutam para que ela continue a alimentar. Em especial a meus avós que sempre me mostraram esse caminho. Aos amigos que me acompanharam nas descobertas e aprendizados. Aos quintais, hortas e feiras que me acolheram nesse estudo, mantendo suas culturas vivas. À minha orientadora, professora Marta, que despertou em mim a paixão por descobrir e experienciar repertórios vegetais. Repertórios presentes em cada cantinho verde que trilhei nessa busca.



RESUMO

Pensar na alimentação e sua produção nos levam a diversas reflexões acerca dos processos que envolvem desde a semeadura até o alimento chegar a nosso prato. Ter o conhecimento do que comemos envolve também entender como a agricultura impacta no ambiente e como pode ser repensada para produzir, em menor escala, dentro do espaço urbano, tendo como locus os limites de um jardim. Repensar a relação íntima entre o jardim e a agricultura, retornando ao sentido primordial de suas origens, trazendo o cultivo dos alimentos para esses espaços, é uma possibilidade, nos dias atuais, de novamente aproximar a produção de seu consumidor em seu próprio quintal. Se nesse espaço forem inclusas Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), procurando respeitar e reativar as plantas nativas ou características de uma cultura regional onde se insere o quintal, esse adquire um valor ainda mais amplo. Nesse contexto, a presente Palavras chave: Hortas Urbanas, Quintais, Plantas Alimentícias Não Convencionais.

pesquisa tem como objetivo levantar o repertório vegetal que vem sendo utilizado em

hortas urbanas, quintais e feiras

livres da capital e do interior paulista com experiências ligadas ao tema, com o objetivo específico de comparar e analisar esse repertório para assim constituir um elenco de possibilidades que possam ser incorporadas em projetos. Para atingir tais objetivos será feito, primeiramente, um levantamento de campo em projetos em andamento com experiências ligadas ao tema na capital paulista, para averiguar as plantas utilizadas em hortas urbanas, a fim de coletar a variedade de repertório, região/ país de origem das espécies, forma de plantio e condições de adaptabilidade ao local. Em um segundo momento, a pesquisa se volta para as espécies adaptadas à região de Bauru, verificando quais vêm sendo usadas nos quintais urbanos e periurbanos, bem como nas feiras da cidade. Diante desse repertório vegetal e a infinidade de possibilidades de utilização é que o projeto irá retomar e ocupar um espaço degradado da cidade, ressignificando-o para inseri-lo novamente na dinâmica urbana contemporânea.


.1 1.1.

SUMÁRIO Introdução

10

Objetivos

12

Material e métodos

12

revisão bibliográfica

Alimentação e agricultura

17

1.2. Agricultura urbana

25

Os orgânicos 1.2.1.

27

Os agroecológicos 1.2.2.

28

1.3. Agricultura no jardim, uma retomada

30

1.4. O espaço do quintal

34

1.5. Diversificar com PANCs

36

.2 2.1.

estudos de caso

São Paulo

41

Horta do CCSP 2.1.1.

42

Horta das Corujas 2.1.2.

50

Viveiro Sabor de Fazenda 2.1.3.

58

Análise do Repertório Vegetal 2.1.4.

62

2.2.

Bauru

70

Quintais de Bauru 2.2.1.

70

Feiras de Bauru 2.2.2.

79

Análise do Repertório Vegetal 2.2.3.

83

2.3.

2.4. 2.5.

Comparação e análise do repertório vegetal das hortas urbanas na capital e no 84 interior paulista Outras PANCs encontradas em Bauru

86

Algumas PANCs asiáticas dos quintais e feiras de Bauru

87


.3

o projeto

3.1. O centro da cidade

91

O local escolhido 3.1.1.

91

Habitar o centro 3.1.2.

93

Ressignificar os vazios 3.1.3.

96

Ocupar com o verde | Alimentar o centro 3.1.4.

98

3.2. A intervenção

103

Um pouco de “caos” 3.2.1.

103

O projeto 3.2.2.

105

Considerações finais

136

Referências bibliográficas

137


INTRODUÇÃO

O intento pela temática da presente pesquisa se deu pelos questionamentos acerca dos processos de produção de alimentos, sobretudo, àqueles que se realizam dentro do espaço urbano. A intenção é repensar a produção convencional, aproximando o campo das cidades e principalmente reconectando as pessoas com a terra e o que ela pode gerar.

8

Essa tomada de consciência pública, segundo Hough (1995) aumentou nos anos 90, com a verificação de que “cidades diversificadas e produtivas são uma base fundamental para um futuro sustentável. A conservação do solo, a adaptação da agricultura tradicional a pequena escala, os problemas inerentes da produção química de alimentos e a busca de um maior controle sobre os destinos pessoais e da comunidade, são as bases de ação de um grande número de organizações que buscam uma relação mais humana e integrada com os processos naturais que sustentam a vida” (HOUGH, 1995 apud BATLLE, 2011, p. 58, tradução nossa).¹

A alimentação é o início de tudo. Pensar a relação com nossa existência nos remete àquilo que comemos, a alimentação é responsável pela base das atividades humanas, é o sustento da vida. Ter essa importância em mente e pensar que “somos aquilo que comemos” nos faz refletir se o que nos alimentamos é realmente saudável ou não, visto que a informação da origem dos produtos é dificilmente informada pelos mercados convencionais, além da nossa dependência dos alimentos industrializados ou ultra processados. Pensar em alimentação nos faz refletir também nos aspectos que envolvem a sua produção no campo. Quem produziu e em que terra foi produzido, são alguns dos muitos questionamentos que podem ser trazidos à discussão. Os métodos agrícolas convencionais são extremamente exploratórios, promovem grandiosas desigualdades sociais, impactos ao solo, à vida animal e vegetal, fatos que na maioria das vezes são irreversíveis. Aproximar a agricultura das pessoas e da cidade é um dos

1. “En la década de 1990 ha aumentado la conciencia pública de que las ciudades diversificadas y productivas son una base fundamental para un futuro sostenible. La conservación del suelo, la adaptación de la agricultura tradicional a pequeña escala, los problemas de salud inherentes a la producción química de alimentos y la búsqueda de un mayor control sobre los destinos personales y de la comunidad, son la base de acción de un gran número de organizaciones que buscan una relación más humana e integrada con los procesos naturales que sostienen la vida” (BATLLE, 2011, p. 58).


2. Segundo Claudia Visoni, esse foi o ano no qual se iniciaram as discussões sobre a ocupação dos espaços vazios para o desenvolvimento de hortas pelo grupo de Hortelões urbanos.

meios de nos aproximarmos de nossas origens, valorarmos os processos e entendermos a importância da alimentação consciente e diversificada, produzida de forma “boa, justa e limpa” (PETRINI, 2009). Houve no Brasil, a partir de 2010², uma busca por resolver essa proximidade através das hortas surgidas após intensas discussões dentro do espaço urbano, entretanto, tal relação ainda mostra-se tímida e necessitando de maior engajamento e participação para que existam. Funcionam ainda como uma provocação no meio urbano, uma busca por um espaço produtivo alternativo e de luta, mas que ainda necessita de tempo para inserir-se na consciência da população. Nesse contexto, analisar a viabilidade das hortas no urbano, aproximando-as do contato com as pessoas, traz a possibilidade de repensar o espaço do quintal como locus produtivo, rico em significados e memórias. O quintal já foi um ambiente indispensável para a casa, funcionando como uma extensão das atividades realizadas no interior da habitação para o espaço externo, principalmente na relação de proximidade com a cozinha. Dos diversos papeis

desenvolvidos, ele possuía desde o período colonial uma importante função de ser um local de experimentação de diversas espécies que hoje são comuns nas cidades, algumas nos remetendo às memórias da infância nos quintais de nossos avós com bananeiras, jabuticabeiras, goiabeiras, entre outras diversas plantas presentes nesses espaços. Dessas plantas adaptadas por séculos aos quintais que nasceram diversos pratos carregados de cultura regional, representando patrimônios importantes para que se mantenham vivas essas tradições. A diversidade de plantas encontradas nos quintais pode abranger as convencionais, habituais do uso cotidiano, mas também existem muitas consideradas não convencionais, as chamadas “Plantas Alimentícias Não Convencionais”, mais conhecidas pela sigla PANCs. Esse é o universo da pesquisa que foi escolhido como objeto de estudo para desenvolvimento do Trabalho Final de Graduação.

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OBJETIVOS

A presente pesquisa possui o

O objetivo específico é comparar

objetivo de levantar o repertório

e analisar o repertório vegetal

vegetal que vem sendo utilizado

que vem sendo utilizado e

e comercializado em hortas

assim constituir um elenco de

urbanas, quintais e feiras livres

possibilidades que possam ser

da capital e do interior paulista

incorporadas em um projeto de

com experiências ligadas à

espaço público produtivo inserido

inclusão de Plantas Alimentícias

no contexto urbano.

Não Convencionais (PANCs).

MATERIAL E MÉTODOS 10

A pesquisa foi dividida em 3 etapas de trabalho: Primeiramente foi feita a revisão da bibliografia pertinente ao tema, discutindo de maneira

MENESES (2015); MOUGEOT (2000); NAGIB (2016); PANZINI (2013); PETRINI (2009);

geral a alimentação, seus

TOURINHO, SILVA (2016).

processos de obtenção por meio

Num segundo momento foram

da agricultura; a produção da

realizadas pesquisas de campo

agricultura no espaço urbano,

tanto na cidade de São Paulo,

tanto nas hortas urbanas como

como no interior – Bauru.

nos quintais. Para esta revisão a

Na capital, foram levantados

pesquisa se apoiou em trabalhos

dois espaços onde ocorre o

de autores como BATTLE

desenvolvimento de hortas

(2011); BRASIL (2014), (2015);

urbanas – a Horta das Corujas

DOURADO (2004); HAEG

e a Horta do Centro Cultural

(2013); LAHM, NÓR (2016);

São Paulo (CCSP); e um viveiro


3. In: <https:// hortadascorujas. wordpress.com/> Acesso em 6 de maio de 2019. 4. In: <http:// centrocultural. sp.gov.br/ site/eventos/ evento/hortacomunitaria-noccsp/> Acesso em 6 de maio de 2019. 5. In: <http:// www. sabordefazenda. com.br/htm/ produtos/ervas/ index.php> Acesso em 6 de maio de 2019.

que produz, de forma orgânica,

comparação desse repertório

grande variedade de espécies – o

com o encontrado nos estudos

Viveiro Sabor de Fazenda – com

de caso feitos em Bauru. Desses

similaridades ao repertório

cruzamentos foi possível uma

vegetal utilizado nessas hortas.

série de comparações, trazendo

A Horta das Corujas foi objeto

como produto final uma

da dissertação de NAGIB

sistematização dos dados da

(2016) e também encontram-

relação de espécies do repertório

se informações em sua página

encontrado ao longo da pesquisa.

online.³ O CCSP possui um site

O objetivo é constituir um

que apresenta a proposta da

elenco de espécies, com registros

horta.⁴ E o “Viveiro Sabor de

tanto visuais, quanto de usos,

Fazenda” possui um site onde

possibilidades de utilização,

é disponibilizada a relação de

época de floração e colheita,

espécies comercializadas.⁵

etc. Além dessa relação foram

Em Bauru foram visitados alguns

organizadas fichas de algumas

quintais e três feiras livres: a que ocorre na praça Nabih Gebara (localizada no Jardim Estoril) realizada às quintas-feiras, com produtos orgânicos; a da rua Virgilio Malta (localizada

PANCs asiáticas significativas que foram encontradas no repertório dos quintais e feiras de Bauru, retomando dessa forma um pouco da memória das receitas, histórias e significados

nos Altos da Cidade) realizada

dessas plantas para os quintais.

às sextas-feiras, com produtos

Como resultado final, pode-se

convencionais; e a da rua Gustavo

obter um elenco de espécies

Maciel (localizada na área

para serem utilizadas no

central da cidade) realizada aos

projeto, inserindo-as em um

domingos, sendo esta a maior e

vazio urbano, com o intuito

mais tradicional da cidade, com

de ressignificar o espaço

diversidade de produtos, inclusive

como um grande quintal para

de PANCs.

a região central da cidade,

Na terceira etapa foram

unindo a produção de alimento,

comparados e analisados os repertórios vegetais dos diferentes estudos de caso da capital, encontrando suas similaridades. Após foi feita a

a diversificação vegetal, a conscientização e o reativamento da memória desse espaço.

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Partes utilizadas: Folhas, flores e frutos (cálice floral), crus ou cozidos. Ciclo de vida: Anual ou Bianual Época de plantio: Período chuvoso (evitar épocas mais frias) Características: O Hanaumê, como é conhecido pela cultura nipobrasileira, planta arbustiva anual, ereta, ramificada, de cerca de 2 m, cultivada em sol pleno a partir de sementes semeadas em outubro, floração branca/creme nos meses de março e abril, com colheita das sépalas e brácteas no final de abril e início de maio, antes do frio. Nativa da Ásia e África, mas facilmente cultivada em climas quentes como do Brasil. Pode ser comestível como também ornamental. Consumo: O nome deriva das palavras “hana” – flor, e “umê” – ameixa, mas na realidade a parte que se come não é nem flor nem ameixa, sendo uma criação dos imigrantes japoneses no Brasil. A adaptação foi feita para tentar relembrar os sabores da terra natal com ingredientes encontrados aqui, como wé o caso da conserva de Hanaume de cor intensa e sabor ácido, segundo a chefe e embaixadora da Boa Vontade para Difusão da Culinária Japonesa, Telma Shiraishi, do restaurante Aizomê. São várias suas formas de uso, no Maranhão, as folhas picadas fazem parte da receita de arroz de cuxá. As brácteas e sépalas (estruturas das flores) possuem um sabor ácido e uma coloração vermelha intensa e são usadas para a confecção de geleias, sucos e chás. Na medicina caseira o chá é usado para baixar febre, melhorar problemas digestivos e diuréticos. A bebida feita de suas flores é conhecida como água de Jamaica ou água de flor da Jamaica. No quintal: Em Bauru existem em diversos quintais como é o caso da família Hirota. As sementes foram recebidas há vários anos e são plantadas para que se relembre da família e as tradições que envolvem o campo e a cozinha. “Minha mãe plantou a primeira muda e continuo plantando para me recordar dela”, segundo Maria, filha de imigrantes.

Maria e Noboru em meio a plantação do quintal


Vinagreira

Hibiscus sabdariffa

Conserva de hanaumê Ingredientes: . 100 g de cálices de hibiscos frescos . 8 a 12 g de sal . 2 a 4 g de açúcar . 10 g de Shissô fresco ou 2 a 4 g dele desidratado Preparo: 1. Corte a base das sépalas e tire as sementes 2. Lave bem com água filtrada e deixe escorrer para tirar o excesso de água 3. Coloque em um recipiente, polvilhe o sal sobre as sépalas e adicione o açúcar e o Shissô. Deixe descansando por dois ou três dias até que comece a desidratar. O volume do hanaumê irá diminuir e se formará uma espécie de vinagre rosado. 4. Distribua a conserva em potes esterilizados e guarde-a na geladeira.

Vinagreira com quase 2,5 m de altura em período de colheita


.1

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA


ALIMENTAÇÃO 1.1.

E AGRICULTURA A alimentação acompanha a história da humanidade, evoluindo conjuntamente desde os primórdios de ocupação da terra para a produção do sustento do homem. O ato de ocupar a terra e iniciar os processos de domesticação da natureza é o que dá o surgimento da agricultura. A partir desse momento, homem e natureza possuem uma íntima relação de troca – cuidar da terra para que ela possa fornecer o alimento. Há diferentes teorias de como o cultivo de alimentos tenha surgido, mas há um consenso geral de que os chamados “caçadores-coletores” tiveram um papel fundamental, iniciando os primeiros aglomerados humanos

Figura 1: Desenho rupestre mostrando a atividade dos “caçadorescoletores”

há mais de 10.000 anos. A vida em sociedade foi, portanto, possibilitada nesse momento, uma vez que podiam fixar-se em um território específico por mais tempo, havendo mantimentos disponíveis a fim de se protegerem de animais, mudanças climáticas ou mesmo de outros “caçadores-coletores” (PENA, 2017) (Figura 1). Nesse momento ocorre o início do processo civilizatório no mundo. Com o fim do nomadismo para a obtenção de alimento, a agricultura passa a fazer o papel fundamental de fornecer a sobrevivência, dando condições necessárias para que a humanidade pudesse evoluir, encontrando no solo o seu

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sustento e suas raízes, dando origem às ocupações e a formação de comunidades pertencentes a um espaço.

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No caso do Brasil, entender como a agricultura se desenvolveu nos primeiros tempos, implica em refletir a forma de distribuição da terra, iniciando através da divisão feita pelos portugueses e a exploração das terras indígenas, suprimindo seus domínios e sua cultura. Houve a imposição de um modelo cultural externo na forma de produção, restando pouco das culturas ancestrais de nosso país. Pode-se entender esse método de cultivo pela forma de distribuição de terras, beneficiando uma pequena parcela da população, tendo uma origem segregacionista, que valoriza o domínio de latifúndios e exploradora da mão-de-obra escrava de povos dominados, sobretudo de indígenas e negros. Trata-se de um território formado desde o princípio por uma “sociedade historicamente patriarcal, latifundiária, com ranços coloniais e, ainda, pautada na desigualdade” (LEONEL JÚNIOR, 2016, p. 11 apud SILVA, 2017). Dessa forma, a produção na agricultura convencional se mantém por séculos arraigada nas questões desiguais de

seu histórico, fomentando desenvolvimentos que não atingem a todos, passando por revoluções tecnológicas pensadas apenas para alimentar um sistema que beneficia a poucos. Durante a década de 1960 houve uma mudança drástica no funcionamento das estruturas agrícolas no país, quando disseminou-se um grande aumento na produtividade, promovendo um crescimento econômico, alavancado pelas intensas exportações que fizeram crescer o mercado exterior brasileiro. O movimento responsável por essa ideia de transformação ficou conhecido como a “Revolução Verde”.⁶ A proposta consiste na utilização intensiva de uma tecnologia para trazer um acréscimo na produção, criando sementes híbridas resistentes; insumos industriais na lavoura; mecanização do trabalho; fertilizantes químicos; defensivos agrícolas; inseticidas (Figuras 2 e 3). Tal diretriz deu início a uma série de impactos ambientais com consequências presentes até os dias atuais. Pensava-se inicialmente na erradicação da fome no mundo com esse movimento, entretanto os intentos foram controversos resultando em um processo devastador e incoerente.

6. Expressão criada em 1966 por William Gown, em uma conferência realizada em Washington. Gown idealizava o desenvolvimento dos países com déficit de alimentos, dizendo que seria “a Revolução Verde, feita à base de tecnologia, e não do sofrimento do povo”, responsável por erradicar a fome. Entretanto, o movimento teve vertentes capitalistas que impediram de realizar tal feito, aumentando a produção, mas destinando-a a países ricos industrializados, como Estados Unidos, Japão e União Europeia, deixando de lado os que realmente necessitam. In: <https:// mundoeducacao. bol.uol.com.br/ geografia/arevolucao-verde. htm> Acesso em 29 de abril de 2019.


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Figura 2: Homem pulverizando produtos químicos em plantação na Índia Figura 3: Agricultor indiano no campo

Nesse contexto, o “Guia alimentar para a população brasileira” de 2014, produzido pelo Ministério da Saúde, traz informações de conscientização acerca da alimentação e dos processos envolvidos, levando em consideração o impacto das formas de produção, sua distribuição pensando nos aspectos sociais e na integridade do meio ambiente (BRASIL, 2014).

“[...] o sistema de produção e distribuição dos alimentos pode promover justiça social e proteger o ambiente; ou, ao contrário, gerar desigualdades sociais e ameaças aos recursos naturais e à biodiversidade. Aspectos que definem o impacto social do sistema alimentar incluem: tamanho e uso das propriedades rurais que produzem os alimentos; autonomia dos agricultores na escolha de sementes, de fertilizantes e de formas


de controle de pragas e doenças; condições de trabalho e exposição a riscos ocupacionais; papel e número de intermediários entre agricultores e consumidores; capilaridade do sistema de comercialização; geração de oportunidades de trabalho e renda ao longo da cadeia alimentar; e partilha do lucro gerado pelo sistema entre capital e trabalho” (BRASIL, 2014, p. 18).

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Pelos métodos convencionais de produção do sistema agrícola ocorrem, além da distribuição desigual da terra e seus problemas sociais, diversos impactos ao meio ambiente, pois dependem de “[...] grandes extensões de terra, do uso intenso de mecanização, do alto consumo de água e de combustíveis, do emprego de fertilizantes químicos, sementes transgênicas, agrotóxicos e antibióticos e, ainda, do transporte por longas distâncias. Completam esses sistemas alimentares grandes redes de distribuição com forte poder de negociação de preços em relação a fornecedores e a consumidores finais” (BRASIL, 2014, p. 19-20).

Segundo o Centro Regional de Assessoria e Capacitação (CERAC), desde 1985 diversos

venenos como o “DDT, ELDRIN, ALDRIN, DIELDRIN, CLORDANE E LINDANE, HEPTACLORO, GRAMA BHC, PARATHION AZODRIN, NUVACRON, ALDICARB (TEMIK), GELECRON FUNDAL, 02-4-3T (Agente Laranja), EDB, DBCP, PARAQUAT FUNGICIDAS a base de Mercúrio” (CERAC, 2009), são considerados altamente tóxicos e proibidos em vários países, com exceção ao Brasil que continua sendo usado por famílias de agricultores que não possuem instrução sobre a toxicidade do produto utilizado nos campos (CERAC, 2009). Além desses exemplos, uma lista de novos agrotóxicos foi inserida para comercialização, autorizados por medidas governamentais que não se preocupam com os riscos ambientais e de saúde da população. Foram aprovados em 2018, 450 registros de defensivos, o maior número em 13 anos. Em apenas dois meses desde o início do ano de 2019 foram aprovados 74 registros, dos quais 58 foram oficializados para comercialização. Desses, “21 são considerados extremamente tóxicos; 11, altamente; 19, medianamente; e 7, pouco tóxicos” (FOLHA DE SÃO PAULO, 2019).⁷ Mesmo que já existam diversas recomendações da Organização das Nações

7. Publicação no portal da Folha de São Paulo. “Registro de agrotóxicos cresce e atinge maior marca em 2018” In: <https://www1. folha.uol.com.br/ mercado/2019/03/ registro-deagrotoxicos-nobrasil-cresce-eatinge-maiormarca-em-2018. shtml> Acesso em 23 de abril de 2019.


8. Movimento gastronômico nascido na Itália, em 1986, que pensava as alterações sofridas pelos alimentos no processo de industrialização, preocupando-se não apenas com a qualidade do produto final, mas desde a terra onde é cultivado, quem o cultiva e por fim o consumidor. Não há a eliminação do processo industrial, mas que possa ser reconduzido à sustentabilidade e a valorização do processo ancestral, inserindo no produto os custos ambientais e sociais ao custo real, mas sem deixar de ser acessível a todos. In: <https://www. slowfood.com/ptpt/quem-somos/anossa-historia/> Acesso em 23 de abril de 2019.

Figura 4: Logo do movimento “Slow Food”

Unidas (ONU) para a retirada de agrotóxicos altamente perigosos, o Brasil ainda aprova e amplia o uso desses componentes. O uso de diferentes tipos de fertilizantes e agrotóxicos para atingir a máxima produtividade do campo foi uma das consequências da Revolução Verde, gerando oposições como o movimento Slow Food⁸ (Figura 4), durante a década de 1980. Esse movimento contrário à Revolução e ao Fast Food disseminado nas grandes redes de alimento, em especial, o McDonald’s, buscou opor-se à momentaneidade que a produção de alimentos atingia, defendendo não apenas o prazer envolvido ao alimento em torno da refeição, mas defender a importância da diversidade de sabores e aos processos artesanais de cada alimento, associados ao respeito com os ciclos naturais. É levado em consideração não apenas o sabor ou o produto final, mas olhar de uma forma ampla as questões que envolvem todo o processo de produção, pensando desde o produtor, o meio ambiente, terminando no prato e na maneira de como se come. São propostos três parâmetros indissociáveis que dizem respeito ao “alimento bom, justo e limpo”. “Bom”, pelo aspecto belo, de sabor e de qualidade nutricional;

“limpo”, pois se preocupa com as questões de impacto mínimo ao meio ambiente; e “justo”, pois torna-se acessível, possuindo preços justos que beneficiem o produtor e o consumidor em toda a cadeia produtiva (PETRINI, 2009). Portanto, não se pode pensar apenas no prato sem pensar no que está ao redor. Carlo Petrini, um dos fundadores do movimento, se questiona em “como desindustrializar a agricultura?” (PETRINI, 2009). Por ser uma questão ideológica e difícil para se colocar contra o modelo de consumo que move a economia, ele responde à pergunta afirmando que tudo está no poder de escolha do consumidor, que necessita repensar e questionar o sistema, recusando o que não é natural, de produção intensiva e em monoculturas. Recusar um sistema que visa apenas o lucro e a produção desmedida, que não se preocupa com os custos ambientais, sociais e culturais intrínsecos a cada alimento. O consumidor, com essa consciência, passa a ter o poder de escolha de evitar que a comida se torne um mero produto de consumo que não considera essas questões. Há a defesa e a valorização do agricultor, realizando uma reconexão do homem com

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o campo para promover um novo tipo de agricultura, não significando retornar ao passado, mas repensar os erros cometidos para que haja mudanças. Petrini (2009) afirma também que para isso deve haver um equilíbrio entre o tradicional e o moderno, possibilitando um diálogo entre a indústria e a cozinha popular; o desenvolvimento de pesquisas que não atuem apenas pela produtividade, mas também em benefício das comunidades produtoras e da agricultura em pequena escala.

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Pensa-se em produzir cada vez mais, mas não há a produção de alimento para que a população coma bem. Como exemplo, grande parte das terras são ocupadas por monoculturas de soja e milho - todos modificados geneticamente - para tornaremse ração e alimentos ultraprocessados. Esta questão afeta diariamente nossa mesa, pois se mantermos nossos hábitos alimentares, o mundo não conseguirá suprir a demanda. Especificamente, no caso do consumo de carnes, atualmente a maior parte da terra serve para produzir comida para os animais que comemos. Dessa forma, a terra perde a função de produzir alimentos para as pessoas que necessitam dela para seu sustento, beneficiando apenas

uma pequena parcela que visa o mercado. Isso mostra que “[...] a prioridade para a produção não é ditada por elementos sociais, mesmo sendo utilizada dissimuladamente para garantir os privilégios econômicos dos setores ruralistas, a despeito da destruição da natureza. Tanto é que [...] os produtos mais plantados pelo setor agrícola nacional estão longe de ser o arroz e o feijão, que são responsáveis pela alimentação básica do/a trabalhador/a brasileiro/a. O preponderante é o plantio de cana, do eucalipto, da soja e a criação de gado pelos grandes proprietários de terra” (LEONEL JÚNIOR, 2016, p. 33-34 apud SILVA, 2017).

Não há países onde o agronegócio consiga produzir a maior parte dos alimentos consumidos por sua população local, sendo que grande parte de todo o alimento produzido não chega a ser consumido pelo homem, grande parte é exportada e a outra parcela é desperdiçada. Há então diversos fatos que causam inúmeros questionamentos. Pelos hábitos em excesso, a produção de alimento gera comida para 12 bilhões de pessoas, mas somos apenas 7 bilhões e 300 milhões, o restante é desperdiçado. Segundo a


9. In: <http:// midianinja.org/ news/carlopetrini-por-queestao-destruindoa-agriculturafamiliar-nobrasil/> Acesso em 23 de abril de 2019. 10. In: <https:// nacoesunidas. org/mais-deum-bilhao-detoneladas-dealimentos-saodesperdicadaspor-ano-alertafao/> Acesso em 23 de abril de 2019. 11. FAO – Food and Agriculture Organization. 12. In: <https:// nacoesunidas. org/mais-deum-bilhao-detoneladas-dealimentos-saodesperdicadaspor-ano-alertafao/> Acesso em 23 de abril de 2019. 13. In: <http:// midianinja.org/ news/carlopetrini-por-queestao-destruindoa-agriculturafamiliar-nobrasil/> Acesso em 23 de abril de 2019.

Figura 5: O desperdício de alimentos no CEAGESP de São Paulo

ONU, em 2050 estima-se que a população atingirá 9 bilhões de pessoas.⁹ Se a produção atual supera esse valor, seria uma loucura pensar em produzir mais. Entretanto a distribuição equivocada dessa produção e o desperdício impedem que o mundo seja alimentado de maneira justa. O desperdício atinge aproximadamente 1,3 bilhões de toneladas todos os anos, sendo que cerca de 1/3 da produção anual vai para o lixo¹⁰ (Figura 5). Esse estudo realizado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)¹¹ revela que “o desperdício é maior nos países ricos, enquanto a perda de alimentos durante a produção é mais frequente em países pobres, devido à precariedade da tecnologia e da infraestrutura”,¹² motivo agravado pela falta de

conscientização sobre o assunto. Não há educação alimentar na escola e se torna muito frequente e naturalizado a manutenção dos hábitos de desperdício. Além disso, Petrini (2018) aponta que um dos grandes problemas dessa ausência de educação alimentar é a perda de conhecimentos passados dos pequenos produtores para a população. Não se sabe mais de onde vem nosso alimento. “Em um momento como esse, por que estão destruindo a agricultura familiar no Brasil? eu não me encanto em ver que o agronegócio vai bem, no Brasil a fome está voltando, e você vem me fala da exportação? Antes da exportação, necessitamos que o brasileiro coma bem!” (PETRINI, 2018, em entrevista ao portal Mídia NINJA).¹³

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Fortalecer a relação entre produtor e consumidor é um passo fundamental, pois a partir disso se dá valor àquilo que se come, alimentando-se com produtos locais produzidos por agricultura familiar. Ser local é importante, pois não depende de cadeias de transportes, o que gera menos impactos – “o alimento a 0 km” –, além de representar um produto mais fresco. “Eu prefiro um produto local a um que precisou atravessar continentes. Essa é uma coisa incrível, comer e ajudar a economia local” (PETRINI, 2018). “A segurança afetiva é muito importante se você quer

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realizar um desafio por outras pessoas. Tem que ser afetivamente entregue. Isso é comunidade. O futuro é construir comunidades em que um desafio forte é a seguridade afetiva. Isso é uma força enorme, que na política não existe mais, pois muitas vezes nos mesmos

manutenção de uma comunidade consolidada, representa também a salvaguarda de hábitos alimentares ancestrais muito vulneráveis ao desaparecimento. Protege-se a floresta e também a “cultura do respeito” por aquilo que se come e principalmente a terra que o produz. A comida materializa um patrimônio cultural regional, um símbolo de identidade de um povo. Pollan (2004, apud BRASIL, 2015) afirma que existe um perigo dessa identidade regional perder-se pela iminente dissipação do patrimônio alimentar, causada por mudanças tecnológicas, referências externas e o mercado. Essas culturas regionais, mesmo que vulneráveis, ainda podem sobreviver, pois a cozinha e os costumes são espaços sociais de resistência, como visto pela história da alimentação ao longo de séculos (BRASIL, 2015).

partidos só há contraposição,

“De maneira geral, o

não há construção.

indivíduo necessita de

A melhor escola para isso são os indígenas, porque eles são uma comunidade. Os indígenas têm uma realidade com uma visão muito próxima da natureza, e precisamos escutar suas vozes” (PETRINI, 2018).

Esse cuidado que os indígenas têm com a floresta e a

símbolos para entender sua realidade social, sua comida, seu sustento material, sentirse num mundo comum e se reconhecer como sujeito de sua realidade. A comida o identifica enquanto personagem de seu território, um ethos textualizado, uma cultura, um valor, um pertencimento. Nesse


sentido, tem-se o exemplo dos emigrantes europeus do final do século XIX (alemães, italianos etc.), que foram para o Sul e Sudeste com sua cozinha étnica, misturando seus hábitos com os produtos da terra (basicamente, de raízes e farinhas) e as culturas tupi e guarani. No Centro-Oeste, a capacidade de conservar valores locais dos povos indígenas produz permanentemente hábitos característicos, como temperos, bebidas e tubérculos. Uma manifestação intertextual sinaliza em qualquer dessas populações o modo de comer, a concepção

Assim, compreender essa relação do alimento com a cultura local não significa apenas uma questão de identidade, mas um envolvimento com todos os elementos que constituem o meio, o que está à volta, os recursos naturais, as relações que se tem com o mercado num contexto capitalista. Nesse sentido, resistir por uma soberania alimentar é manter viva a cultura desses povos, respeitando a diversidade da produção da agricultura familiar e sua relação direta com a terra e o alimento que geram esses significados.

do indivíduo ou grupo social sobre sua comida e revela a história, a identidade social,

23

o acesso e escolhas de seus alimentos” (WOORTMAN, 1978, apud BRASIL, 2015).

1.2.

AGRICULTURA URBANA Segundo Lahm e Nór (2016), os pequenos fragmentos de espaços verdes que ainda restam nas cidades estão sendo absorvidos pelo mercado imobiliário, transformando essas áreas em uma mercadoria, deixando de exercer sua função social como espaço público para perder-se como uma “terra de ninguém”.

Nesse contexto, a produção dentro do espaço urbano converge numa junção de diversos fatores complexos que envolvem principalmente o desenvolvimento, buscando uma forma de ajudar a resolver ou a enfrentar essas questões, agravadas pela “insegurança alimentar e a pobreza urbana”


(MOUGEOT, 2000). Como resposta a esses conflitos, reduzir as distâncias, os impactos da cadeia produtiva, as escalas e o desperdício são motivações fundamentais para que se possa inserir a agricultura no meio urbano, fomentando os movimentos das “hortas urbanas”. Esses espaços além de produzirem alimento, integram a comunidade, incentivam a ocupação da cidade, promovem principalmente a consciência de que a terra e os alimentos são bens comuns aos quais todos têm direito (LAHM; NÓR, 2016).

24

O artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 contempla a alimentação como um direito. Discutida em 2010 no Brasil, por amplo processo de mobilização social e aprovada como Emenda Constitucional de nº 64, inclui no artigo 6º da Constituição Federal, o Direito à Alimentação como um direito fundamental.

Além desse direito primordial, existe ainda o direito à alimentação adequada, presentes na Lei nº 11.346 de 2006, que é definido pelo “acesso físico e econômico de todas as pessoas aos alimentos e aos recursos, como emprego ou terra, para garantir esse acesso de modo contínuo” (CONTI, 2014).¹⁴ “A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população” (BRASIL, 2006, art. 2º).

“A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade

“São direitos sociais a

suficiente, sem comprometer

educação, a saúde, a

o acesso a outras

alimentação, o trabalho,

necessidades essenciais,

a moradia, o lazer, a

tendo como base práticas

segurança, a previdência

alimentares promotoras

social, a proteção à

de saúde que respeitam a

maternidade e à infância,

diversidade cultural e que

a assistência aos

sejam ambiental, cultural,

desamparados, na forma

econômica e socialmente

desta Constituição” (BRASIL,

sustentáveis” (BRASIL, 2006,

2010, art. 6º da C. F.).

art. 3º).

14. In: <http:// www4.planalto. gov.br/consea/ comunicacao/ artigos/2014/ direito-humanoa-alimentacaoadequada-esoberaniaalimentar/ #acontent> Acesso em 30 de abril de 2019.


As hortas urbanas, por terem em sua ideologia esse acesso do direito à alimentação adequada e igualitária, são um instrumento que propicia o cultivo e a

1.2.1. 15. In: <https:// www.oeco.org. br/dicionarioambiental/28593o-que-saoalimentosorganicos/> Acesso em 1 de maio de 2019.

distribuição de alimentos orgânicos e agroecológicos, cujas definições são expostas na sequência.

OS ORGÂNICOS Os denominados “alimentos orgânicos” são aqueles isentos de todo tipo de contaminante que possa causar danos à saúde ambiental ou humana, seja dos produtores ou consumidores. Dado o fato de não receber procedimentos químicos ou industriais, podem ser considerados mais saudáveis. Sua produção se dá por meios naturais de controle de pragas, diversificação das culturas, maximização dos benefícios sociais, minimização da dependência de fontes energéticas não renováveis para oferecer produtos sadios (Portal ((o))eco, 2014).¹⁵ É um ideal de produto produzido por “[...] um sistema sustentável que tome a natureza como modelo, que dispense o uso de substâncias químicas sintéticas como também qualquer tipo de insumos adquiridos, e que devolva ao solo tanto quanto extraia dele” (POLLAN, 2007, p. 176, apud NAGIB, 2016, p.

83). Trata-se de um ideal árduo de materializar-se, mas que contém muito envolvimento e significados para quem produz. “Hoje, de uma maneira geral, há um movimento de alguns setores da sociedade (não dá para falar que é generalizado) em direção a uma alimentação mais saudável. E o orgânico está dentro disso. (...) Obrigatoriamente precisa haver uma conversão para o orgânico, não ter agrotóxico ali é fundamental para a preservação. (...) Cada vez mais a noção de sustentabilidade, pelo menos na Europa, coloca a questão da proximidade entre o local de produção de alimentos e a cidade. Para evitar que o alimento tenha que percorrer enormes, às vezes até atravessando continentes, para chegar no mercado consumidor” (BONDUKI, 2014, Apud NAGIB, 2016, p. 79).

25


Mesmo com as dificuldades e entraves econômicos, há diversos incentivos por meio de legislações como a que normatiza e certifica a produção e comercialização de orgânicos (Lei Federal nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003),

1.2.2.

26

regulamentada pelo Decreto nº 6.323, de 27 de dezembro de 2007 (Brasil, 2007). Tal iniciativa promoveu um impulso para a atividade orgânica que vem crescendo ano a ano (VILELA et al, 2019).

OS AGROECOLÓGICOS

Os denominados produtos “agroecológicos” representam a junção daquilo que é defendido pelo movimento orgânico, conjuntamente com outro modelo de agricultura que tenha função social e ambientalmente mais equilibrada, buscando vencer os paradigmas comuns à produção convencional. “Resiliência”, “sustentabilidade” e “horizontalidade” são palavras relacionadas aos intentos do movimento (NAGIB, 2016). Dessa forma, segundo Altieri (2012), para a agroecologia há 4 pontos que confirmam e justificam tais características: “Seu papel enquanto mobilizadora social, ao requerer a participação dos agricultores; Sua abordagem acessível, já que está baseada em sabores tradicionais e dialoga com a ciência moderna; Sua capacidade de promover

técnicas economicamente viáveis, já que evita a dependência de recursos externos; É ecológica, já que promove a diversidade e otimiza o desempenho do sistema produtivo” (ALTIERI, 2012, Apud NAGIB 2016, p. 92-93).

Neste contexto, segundo Nagib (2016), a agricultura urbana pelos preceitos agroecológicos representa uma alternativa de grande viabilidade por diversos fatores, como: . Menor dependência de insumos externos, o que facilita o manejo cotidiano dos hortelões; . Auxilia no processo de ampliação do mercado de produtos orgânicos, beneficiando os pequenos produtores de agricultura familiar, conscientizando da prática para promover melhor qualidade


dos alimentos e conservação ambiental;

além da redução dos custos com a alimentação familiar.

. Funciona como uma ferramenta para o desenvolvimento de políticas ou programas públicos de educação socioambiental;

Para a implantação e manutenção, os custos também são pequenos, pois há o reaproveitamento de muitos materiais encontrados, apresentando inúmeras possibilidades, podendo ocupar o quintal de casa ou qualquer solo disponível. O mais importante é a mobilização popular.

. É uma forma de resgatar e preservar espécies cultivares adaptadas às condições locais, o que respeita os ciclos de plantio e colheita de cada uma; . É um meio de controle alternativo e não poluente de pragas, promovendo a adaptação da produção agrícola ao meio urbano; . É um mecanismo de reaproveitamento dos resíduos orgânicos da cidade, já que pode produzir seu próprio adubo por meio de processos de compostagem desse material. O manejo desse adubo deve ser orientado para que possa produzir os nutrientes necessários ao solo. Tal prática representa uma grande redução dos resíduos, principalmente da população que vive próxima às hortas. Dessa forma, além dos fatos anteriormente citados, a produção dentro do espaço urbano pode representar um auxílio para a renda de muitas famílias caso a produção seja voltada para a comercialização,

No contexto brasileiro atual, esses espaços verdes podem sofrer pela pouca ou inexistente regulamentação, funcionando como uma alternativa de ocupação dos vazios urbanos. Tal ato representa uma forma de resistência, devendo ser feita com cautela já que esses mesmos espaços podem acabar pela falta de planejamento ou má gestão do próprio movimento. Por não fazerem parte ainda de nossa cultura, comumente podese haver uma grande mobilização inicial, reduzindo a participação ao longo do processo por necessitar de tempo e dedicação das pessoas envolvidas. Mesmo com a atividade constante de mutirões, há sempre a necessidade de alguns hortelões ativos, principalmente aqueles que habitam próximos a esses espaços para que haja a manutenção diária. Esse é um

27


exemplo de atividades que serão abordadas na Parte 2 do presente trabalho. Mesmo com esses impasses e dificuldades de se manterem, a horta e o “ativismo verde”,

1.3.

28

representam nesse contexto uma forma de ir contra a dominante produção convencional, retomando a produção diversificada e voltada para o benefício das pessoas do próprio local.

AGRICULTURA NO JARDIM, UMA RETOMADA

O autor Enric Batlle (2011) traz reflexões do jardim inserido na metrópole e sua relação íntima com a agricultura. Segundo Batlle, “se a agricultura é uma das origens do jardim, é lógico que, depois de um longo período de máxima artificialidade e perda das origens, pensa-se que o jardim pode voltar para a agricultura, pode ser agricultura” (BATLLE, 2011, p. 25).¹⁶ Assim como a agricultura nasce da necessidade do homem em domesticar e dominar os métodos de cultivo das plantas, o jardim possui como significado a materialização desse domínio da natureza, aproximando do homem essa relação, dessa forma atribuindo ao jardim o testemunho vivo do momento cultural, de riquezas, do valor simbólico e religioso dos povos.

Ao longo da história, segundo Batlle (2011) a prática do desenho dos jardins deriva-se da agricultura, de forma direta, transferindo as imagens agrárias para o jardim, ou indiretamente, utilizando-se das técnicas obtidas com a agricultura para a construção deles. Dessa forma, tanto as imagens como as técnicas facilitaram suas utilizações na configuração da paisagem e do significado de jardim para a metrópole. O mesmo autor elucida como seria um “jardim de agriculturas” inserido na metrópole, representando resposta à ocupação dos vazios urbanos, “áreas sobrantes”, com imenso potencial de uso por meio da agricultura, resolvendo a formalização, o uso e a manutenção desses vazios, sem

16. “Si la agricultura es uno de los orígenes del jardín, es lógico que, después de un largo período de máxima artificialidad y pérdida de los orígenes, se piense que el jardín puede regresar hacia la agricultura, puede ser agricultura” (BATLLE, 2011, p. 25).


17. “El jardín de agriculturas es una estrategia que trata de estabelecer una nueva relación entre estos espacios y la metrópoli en los que se encuentram. Una estrategia que requerirá nuevas consideraciones, nuevos límmites entre la agricultura y la metrópoli - unos nuevos límites claros, estables, definidos - que permitam evitar la especulación habitual sobre estos espacios - considerados normalmente como páramos en proceso de possible ocupación -, que ya no serán vacíos, sino llenos, que ya no serán lugares que hay que proyectar, sino lugares con los que establecer nuevos vínculos” (BATLLE, 2011, p. 59-60).

haver a necessidade de esperar por operações que visem ocupar esses espaços. A agricultura pode-se encarregar disso. Ela pode reabilitar essas áreas, promovendo novas relações com a cidade.

como um palco verde ornamental para as terras dos grandes proprietários ingleses do século XVIII. O verde simbolizava a saúde e o poder para essa classe. “Já que a terra fértil em frente da propriedade se transformou

“O jardim de agriculturas

em monocultura estéril, onde

é uma estratégia que tenta

é que o cultivo de alimentos

estabelecer uma nova relação

acontece? Fora da vista, é

entre esses espaços e a

claro, escondido numa área

metrópole em que se encontra.

remota da propriedade, onde

Uma estratégia que exigirá

os visitantes e o dono da terra

novas considerações, novos

nunca o verão. É provável

limites entre a agricultura e

que venha daí a noção de

a metrópole - novos limites

que plantas que produzem

claros, estáveis e definidos

alimentos são feias e não

- que permitem evitar a

devem ser vistas. Hoje essa

especulação habitual sobre

ideia já se sustenta sozinha

esses espaços - normalmente

numa escala industrial

considerados como parados

global, com os produtos que

no processo de ocupação

consumimos sendo cultivados

possível -, que não serão

do outro lado do planeta. A

mais vazios, mas cheios, que

única paisagem digna dos

não serão mais lugares para

olhos do público é aquela

projetar, mas lugares para

constituída de ornamentos

estabelecer novos vínculos”

aparados a 2 centímetros

(BATLLE, 2011, p. 59-60,

de vida, que, inóspitos para

tradução nossa).¹⁷

outras criaturas, nunca mudam com as estações e, por

Uma forma de entender a perda da função produtora, segundo Haeg (2013), está na representação do jardim em estilo inglês, empregado por muitos anos, que ainda se mantém como herança formal nos extensos gramados projetados. Esteticamente não era mais interessante haver uma lavoura na frente da casa, fazendo com que o gramado funcionasse

isso, são sempre os mesmos” (HAEG, 2013).

Durante o período de guerras mundiais, houve práticas de incentivo que tentaram retomar a produção dentro do ambiente doméstico, nos chamados “Jardins de Guerra”, e mais tarde, os “Jardins da Vitória” (HAEG, 2013). Os campos estavam devastados, fazendo com que o plantio em menores

29


escalas fosse uma alternativa viável para conseguir alimentar a população nesse período. Nos Estados Unidos, ao final da segunda grande guerra, segundo Haeg (2013), cerca de 80% das donas de casa estavam cultivando alguns dos seus alimentos, fato que foi diminuindo rapidamente no pós guerra, fazendo com que tanto os jardins como o conhecimento popular de cultivo fossem perdidos.

30

Um dos testemunhos que ainda sobrevivem como modelo são os Schrebengärten alemães iniciados na Berlim do século XIX. Esta foi uma alternativa desenvolvida por programas sociais para criar cinturões verdes nas periferias, havendo jardins comunitários que produziam desde flores a alimentos, o que representava uma forma de descanso para a conturbada vida urbana. Hoje, alguns desses jardins sobrevivem por toda a Alemanha, simbolizando tanto uma memória de um passado agrário quanto uma busca por um futuro utópico (HAEG, 2013). Representam uma consciência criada do jardim como responsável por uma função social. Pensando o jardim além de suas significações na história, filosoficamente e conceitualmente, ele é capaz de

ser um sistema praticamente independente, constantemente em processo de transformação, um “jardim em movimento” (CLÉMENT, 2014)¹⁸ (Figura 6). Ele resiste às mudanças de alguma forma, e mesmo que possa sobreviver, ele necessita ainda da mão do homem que busque manter a dinâmica do jardim em concordância com a natureza e não contra ela. Segundo Clemént (2014)¹⁹, “os jardineiros sabem há séculos que dominar a natureza é uma ilusão. A natureza transforma e inventa constantemente”. Observar a transformação do jardim é um processo fundamental para o entendimento dos processos naturais conforme afirma Clément, “o jardim não é ensinado, ele é o professor” (CLÉMENT, 2016).²⁰ É o mesmo autor, ainda, que trás uma grande reflexão sobre o papel do jardineiro no jardim, afirmando que, “Até o início do século XXI o jardineiro era o arquiteto do jardim, o provedor de flores, de frutos, de legumes, aquele que cortava a grama, irrigava e adubava, subitamente o vemos aparecer como responsável pelo que é vivo, protetor de uma diversidade da qual a humanidade depende. Ninguém está preparado para

18. In: <http:// leblogdeviviane. free.fr/index. php/2014/10/19/ le-jardin-enmouvement-degilles-clement/> Acesso em 13 de maio de 2019. 19. Tradução livre de “Les jardiniers savent depuis des siècles que la maîtrise de la nature est une illusion. La nature transforme et invente sans arrêt” (CLÉMENT, 2014). Para Clément, seu jardim é o resultado do comportamento entre as espécies e os elementos que compõem seus ciclos. Ele busca enfatizar os processos naturais sem perdê-los por uma forma pré-estabelecida em projeto. Portanto, quer que a natureza possa participar ativamente em sua intervenção. A ação do paisagista em sua concepção, é de potencializar os processos. O jardim trabalha uma relação de limite entre arte e a natureza predominante. In: <https:// reporterre.net/ Gilles-ClementJardiner-c-estresister> Acesso em 13 de maio de 2019.


20. Tradução livre de “Le jardin ne s’enseigne pas, il est l’enseignant” (CLÉMENT, 2016). In: < https://www. franceculture. fr/emissions/ college-defrance-40-leconsinaugurales/ gilles-clementjardins-paysageet-genie-naturel> Acesso em 19 de maio de 2019.

esse papel, adverte. Porém, o jardim de hoje e o de amanhã devem integrar essa prática exploradora - da proteção da vida - sem a qual se coloca em risco inclusive o jardineiro. Assim, concordando ou não com as mudanças anunciadas pela ecologia, os passageiros da terra, deveriam optar por tornarem-se jardineiros em vez de ficar ocupando o território a partir de suas simples obliteração do espaço ou da sua brutal exploração”

Como forma de reconexão ao cultivo e a redução máxima de escalas se chega ao espaço do quintal, ou uma retomada de seu significado inicial como representante do imaginário de um “jardim de agriculturas”. O espaço de múltiplos significados do cotidiano, o ambiente que outrora era responsável por formar os espaços verdes e produzir alimentos (DOURADO, 2004).

(CLÉMENT, 2013. Apud OLIVEIRA, 2015, p. 69).

“Le jardin ne s’enseigne pas, il est l’enseignant” Figura 6: O jardim em movimento – Jardins du TiersPaysage, SaintNazaire, França

31


1.4.

32

O ESPAÇO DO QUINTAL

O quintal é indissociável dos significados e da composição tradicional de uma casa. Durante o período colonial, ele nasce conjuntamente com a casa brasileira, tornando-se parte inseparável dela, sendo o coração da vida doméstica (DOURADO, 2004). Ele representa uma relação entre passado e presente no espaço urbano, deixando de ser um local meramente funcional para ser um espaço ligado à memória. Para muitos, o ambiente do quintal é uma recordação de um espaço que está se perdendo nas cidades.

Durante os séculos XVIII e XIX, os viajantes naturalistas como o botânico francês Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire, mais conhecido como Auguste de Saint-Hilaire, ficaram impressionados com a diversidade de plantas cultivadas nos quintais mineiros, sendo vistas muitas das plantas que fazem parte da memória coletiva e dos costumes do povo mineiro, como o caso das bananeiras encontradas em grande parte dos quintais (MENESES, 2015). “Nota-se que todas as vezes que descrevo vilas e aldeias

Esse espaço no passado tinha a importante função de prover parte dos alimentos para as casas, tendo uma íntima relação

das regiões auríferas, refiro-

com a cozinha e funcionando como a extensão do ambiente doméstico, significando quase um complemento a essa parte da residência (MENESES, 2015). Como produtor de alimento, ele foi também palco de experimentação e disseminação de diversas espécies que hoje fazem parte do nosso cotidiano, tanto de hortaliças, temperos, ervas medicinais e árvores frutíferas.

grande recurso para os

me ao plantio das bananeiras junto de cada casa. Os frutos dessas imensas ervas, muito sadios e nutritivos, são um pobres, que os comem com farinha e milho” (SAINTHILAIRE, 1974. apud MENESES, 2015 p. 83).

Nos quintais, a cultura produzida e a memória são geralmente relacionadas com alguma planta existente nesses espaços. Além da bananeira, podem ser citadas jabuticabeiras, marmeleiros, mamoeiros (SAINT-HILAIRE, 1974. apud MENESES,


2015), laranjeiras, cidreiras, limoeiros, limeiras, jaqueiras, maracujazeiros, goiabeiras, abacaxis, cajuzeiros (DOURADO, 2004), entre outras frutíferas características. Dessa forma, a cultura mineira, muito relacionada aos hábitos alimentares, provavelmente tiveram suas origens nos quintais, segundo Meneses (2015), aproveitando de tudo que era produzido para criar os pratos tão estimados que caracterizam a gastronomia mineira, tida como um dos principais valores para a sua cultura. São pratos carregados de história que vivem no cotidiano dos lares populares. Os quintais podem ser espaços onde ocorre a manutenção de uma diversidade vegetal, do conhecimento e preservação de plantas quase em desuso. Sendo patrimônios suscetíveis ao desaparecimento, pois cada vez mais os hábitos alimentares modificam essas tradições, fazendo com que a transmissão desses conhecimentos seja interrompida, além da descontinuidade do cultivo, de forma que identificar e utilizar tais plantas na alimentação seja algo raro. Pensando como ocorreu a transformação dessa imagem pretérita para o modelo contemporâneo de quintal, cada

vez mais reduzido, retomamos as influências da urbanização moderna, o crescimento populacional e das cidades. Nesse contexto, a mudança sofrida é decorrente principalmente do processo de desenvolvimento industrial, a mecanização do campo e a consequente alteração dos hábitos de consumo da população. Esses fatos fizeram com que o capital e a pressão do mercado imobiliário suprimissem esse espaço da concepção arquitetônica das novas moradias, sobretudo as verticalizadas surgidas após 1930 (TOURINHO; SILVA, 2016). Aos poucos a realidade do quintal nos espaços urbanizados das grandes cidades foi sendo reduzida ou simplesmente suprimida. “À medida que as cidades cresciam, se intensificou o uso e a ocupação do solo urbano, por meio da construção de empreendimentos imobiliários verticalizados. Neste contexto, os quintais se tornam mercadoria valiosa, incorporando crescente valorização imobiliária. Os agentes imobiliários avançam em direção aos espaços privados naturais tradicionais das antigas residências urbanas com amplos quintais” (TOURINHO; SILVA, 2016, p. 647).

O resgate do imaginário dos quintais como elementos

33


significativos para a concepção da casa, funcionando como um espaço verde capaz de simbolizar pelas suas plantas uma cultura viva, representando um contato com espaços, lugares e paisagens que não são necessariamente urbanos ou rurais, mas capazes de materializar uma confluência de “territórios”. Nesse espaço múltiplo são revelados sentidos, memórias, experiências que podem estar presentes ou

1.5. 34

simplesmente esquecidas pela vida urbana. Para que não se perca, seria preciso retomar essas vivências não apenas nos sentidos e significados, mas também o caráter de alimentar, de ser experimental, de abraçar um amplo repertório vegetal capaz de preservar culturas. Dessa forma, trazer de volta o contato com um ambiente vivo, diverso e espontâneo.

DIVERSIFICAR COM PANCs

O cultivo massivo de plantas convencionais para a alimentação faz com que apenas uma pequena quantidade de espécies sejam conhecidas e consumidas pela população, limitando o repertório, muitas vezes apenas com plantas exóticas. O Brasil possui uma média de 3000 espécies de plantas com potencial alimentício, mas apenas cerca de 100 espécies são consumidas no dia a dia, produzidas com os meios convencionais (ANDRADE et al, 2015). Andrade et al (2015), afirma também que “A globalização alimentar, que padroniza nossa mesa, pode ser vista por todo o país. Uma colonização da alimentação”. Para Rigo (2018),

“O conhecimento e o nível de empoderamento por meio da comida vão ainda mais além da cozinha. Estar ciente da diversidade alimentar que o Brasil é capaz de fornecer, amplia a nossa gama de opções em prol da saúde como um todo, de forma simples e democrática” (RIGO, 2018).

Segundo Andrade et al. (2015), grande parte das culturas cultivadas em nossas terras são de plantas vindas de outros países e que monopolizam as culturas alimentícias, fazendo com que deixemos de conhecer outras plantas, muitas nativas, que podem substituir essas culturas e que muitas vezes são vistas como “daninhas”,

21. Valdely Ferreira Kinupp, conforme consta no Currículo Lattes do autor, é “professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, Campus ManausZona Leste (IFAM-CMZL) e Fundador-Curador do Herbário EAFM deste instituto. Docente e orientador credenciado no Programa de Pós-Graduação em Botânica do INPA. Atua na pesquisa e divulgação das PANC - Plantas Alimentícias Não Convencionais. Tem experiência na área de Botânica, com ênfase em Botânica Econômica, Taxonomia de Fanerógamas, Etnobotânica, Herbário e Biodiversidade, atuando principalmente nos seguintes temas: alimentos vegetais não convencionais, recursos genéticos vegetais, segurança alimentar, florística, olericultura (hortaliças não convencionais) e agroecologia. Doutor em FitotecniaHorticultura (2007) pelo PPG Fitotecnia da


Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. Mestre em Ciências Biológicas (Botânica) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA (2002. Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina - UEL (2000). Autor do livro Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil em coautoria do Harri Lorenzi (Editora Plantarum, 2014). In: <http:// buscatextual.cnpq. br/buscatextual/ Acesso em 21 de março de 2019. 22. In: <https:// www.hypeness. com.br/2018/10/ vizinhos-se-unempara-cultivarpanc-na-hortaurbana-city-lapaem-sao-paulo/> Acesso em 6 de maio de 2019.

nascendo espontaneamente e não sendo exploradas para o fim de alimentação. Por serem consideradas dessa forma, entram na definição de plantas alimentícias e, por não serem comuns ou do diaa-dia da população, foram chamadas por Kinupp²¹ de “Não Convencionais”, gerando o termo das PANC - Plantas Alimentícias Não Convencionais. Dessas plantas podem ser aproveitadas “uma ou mais partes (ou derivados dessas partes) que podem ser utilizados diretamente na alimentação humana, tais como: raízes tuberosas, tubérculos, bulbos, rizomas, colmos, talos, folhas, brotos, flores, frutos e sementes” (KINUPP; LORENZI, 2014, p. 13). Atualmente há uma cultura de destaque em relação às PANCs, muitas vezes de moda, que torna algo tão acessível em um conhecimento restrito. Segundo Rigo (2018),

“é uma opção alimentar de baixo custo. Existe uma deturpação de que o acesso às PANC é elitizado. Há uma elite engajada e que busca utilizálas em restaurantes, divulgar… e isso é super positivo. Mas de forma alguma isso é elitista. Boa parte delas cresce de forma espontânea, na sua rua ou quintal. Então olha só que coisa boa, você está comendo uma coisa da moda e orgânica!” (RIGO, 2018, em entrevista ao portal Hypeness).²²

Como proposta de vegetação, pensando em diversificação e adaptação para esse jardim proposto, há a intenção de inserir as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), aumentando o repertório vegetal para os projetos dos jardins, também conscientizando sobre suas propriedades e usos na alimentação diária. O contato próximo com as plantas pode oferecer um aprendizado dos ciclos de vida, permitindo observar as mudanças e respeitar o tempo de cada exemplar.

35


Partes utilizadas: Folhas e flores, crus ou cozidos. Ciclo de vida: Anual

Características: O Shissô é uma herbácea anual, ereta, com forte aroma característico, de coloração verde ou púpura-escuro, com altura de 35 a 50 cm, nativa do Himalaia e China. Possui inflorescências compridas, com flores róseas nas pontas, assemelhando-se ao manjericão. O meio mais simples de propagação é por sementes, podendo-se colher após seis meses da semeadura. A colheita deve ser feita pelo destacamento das folhas uma a uma para evitar que a planta não sofra e no período da manhã. Aprecia sol pleno, necessitando de dias mais curtos para que possa florir. Consumo: Mesmo sendo de origem chinesa, foram os imigrantes japoneses que a trouxeram para o Brasil, sendo muito utilizada na gastronomia em diversos pratos, também na forma de chá e suco. Nos pratos aparece crua, seca em flocos para temperar o arroz e sopas, em conserva e também como um corante natural arroxeado. Podem ser aproveitadas as folhas, as inflorescências jovens (hojiso) e as sementes, sendo muito aromáticas. No quintal: Por ser uma planta anual, foi encontrada já colhida pela senhora Komori que a retirou de seu quintal antes que perdesse suas folhas com o frio. Ela utiliza as folhas e flores para o preparo de Tempurá ou na forma de chá, que se assemelha a uma mistura de hortelã e erva-doce.

Senhora Komori em seu quintal


S hissô

Perilla frutescens

Tempurá de Shissô Ingredientes: . folhas e flores de Shissô frescas . 100 g de farinha de tempurá . 160 ml de água gelada . 100 g de farinha de trigo . uma pitada de sal . óleo para fritar Preparo: 1. Esquente o óleo em uma panela funda, e mantenha em fogo médio 2. Misture a farinha de tempurá com água fria. Passe as folhas e flores sobre a farinha de trigo em ambos os lados e retire o excesso. 3. Mergulhe-as, uma a uma, na mistura de tempurá preparada anteriormente. Frite-as de ambos os lados. 4. Quando estiverem crocantes, retire do óleo. Escorra bem e está pronto.

Mudas de Shissô, com cerca de 30 cm


.2

ESTUDOS DE CASO


2.1.

SÃO PAULO

23. In: <http:// muda.org.br/> Acesso em 6 de maio de 2019.

Segundo a página da organização MUDA Sp. (Movimento Urbano de Agroecologia de São Paulo)²³, em um mapa colaborativo (Figura 7), foram registradas 95 hortas

urbanas e 66 pontos de vendas de orgânicos espalhadas pela cidade. Dentre essas foram selecionados alguns exemplos para análise.

39

Figura 7: Mapa das hortas e feiras orgânicas de São Paulo.

Os estudos de caso foram escolhidos por serem referências de espaços de produção orgânica em São Paulo, sendo dois de hortas urbanas e um viveiro que comercializa uma grande diversidade de plantas comestíveis e medicinais, dentre essas, algumas classificadas como PANCs.

Foram analisados principalmente a localização, as formas de acesso, os equipamentos contidos nesses espaços (composteira, meliponário, sementeiras), a forma de participação da população, e, principalmente, o repertório vegetal com suas características de usos, portes, insolação, tipo de solo e necessidades de irrigação.


2.1.1.

40

HORTA DO CCSP

A Horta como hoje a conhecemos se materializou em 2013, ocupando a cobertura do Centro Cultural São Paulo (CCSP)²⁴, localizado no bairro do Paraíso, ao lado da estação de metrô Vergueiro, o que facilita o acesso ao espaço (Figura 8). Por se tratar de um centro cultural, o prédio recebe inúmeros visitantes diariamente, fato que auxilia na divulgação e possível interesse de novas pessoas para participar da horta. Primeiramente, ela surgiu como uma iniciativa do próprio CCSP em transformar o gramado de sua cobertura em uma horta, entretanto o projeto não durou muito tempo, retomando após o interesse pessoal de alguns participantes do coletivo de cultivadores urbanos, os “Hortelões Urbanos”²⁵. Após um acordo de efetivação do projeto conjuntamente com o CCSP, a horta pode voltar a existir, agora com a iniciativa vinda diretamente da comunidade.

m

Figura 8: Localização do CCSP

24. In: <http:// centrocultural. sp.gov.br/ site/eventos/ evento/hortacomunitaria-noccsp/> Acesso em 15 de abril de 2019. 25. Grupo criado em 2011 que reúne em redes sociais como o

Facebook (https:// www.facebook. com/groups/ horteloes/), as pessoas envolvidas nas práticas de cultivo urbano para troca de experiências, discussões, divulgação de eventos e mutirões de algumas hortas. In: <https://www.


41

Figuras 9 e 10: A horta sobre a cobertura do CCSP

tvgazeta.com.br/ meio-ambiente/ hortas-urbanasqualidade-devida/> Acesso em 15 de abril de 2019.

Inicialmente, a horta contou com apenas um patrocínio de mudas e composto orgânico vindos do viveiro municipal, ademais todas as necessidades foram provenientes de doações dos próprios hortelões. O CCSP atua com o apoio institucional de divulgação, mas todas as ações são geridas pelos voluntários, necessitando constante participação. A ocupação se deu de forma a aproveitar os canteiros terraceados, já existentes na cobertura, ou seja, um jardim

sobre laje (Figuras 9 e 10). Esses níveis foram determinantes para o posicionamento de algumas espécies segundo seu porte e, consequentemente, a profundidade de suas raízes. A escolha das espécies, conforme informado pelo grupo, se deu de forma experimental, procurando aplicar diferentes princípios e observar os resultados obtidos nos canteiros. Ultimamente, tem-se optado por selecionar espécies mais resistentes à falta de água e que não requerem tantos cuidados diários, já que não há tantos voluntários durante


42

a semana. Com essas escolhas, as PANCs são empregadas em grande número, pois são facilmente adaptáveis e até espontâneas no meio urbano, em alguns casos. Os canteiros variam desde os agroflorestais até os de alelopatia²⁶. Nos estratos maiores, utilizam-se bananeiras, que fornecem quantidade expressiva de folhas para compostagem, e margaridões como barreira de vento, já que o prédio encontra-se em uma cota alta e em ambiente aberto. Dessa forma, o uso da própria natureza como forma de solucionar as necessidades diárias, evitando gastos desnecessários e impactos ao ambiente. “As técnicas utilizadas para planejamento, plantio, manejo, manutenção e colheita compreendem técnicas agroecológicas e permaculturais, que buscam valorizar o uso de recursos locais, a ciclagem de nutrientes, a vivificação do solo, o consorciamento de culturas, a compostagem e a bioconstrução. Essas técnicas são estudadas pelos voluntários e são aplicadas em caráter experimental, valorizando a construção horizontal do conhecimento entre os participantes por meio da troca de saberes, da experimentação e da interação em rede com outros grupos de agricultores” (BIAZOTI et al., 2017).

Conforme observado, a associação das plantas é feita segundo a melhor adaptabilidade entre os elementos, entretanto, por serem experimentais, algumas plantas acabam ocupando o espaço de outras, mostrando como seria em um processo natural, tal fato é comum se considerado o sistema agroecológico, uma planta convivendo com outra e se adaptando. As espécies utilizadas acabam sendo as que conseguem ter melhor adaptação e durabilidade ao longo do ano. Se há a presença de pragas, isso representa que há algum desequilíbrio que procura ser sanado pela própria associação das plantas que se ajudam. A composição, a primeira vista, aparenta uma “bagunça” como apresentado em uma placa na entrada da horta, mas esse “caos” representa os princípios da agroecologia, o livre crescimento das plantas em associação. É uma ideia que temos de que todos os canteiros de horta tem que ser alinhados e seguindo espaçamentos regulares, mas o modelo proposto é totalmente diferente, formando canteiros onde há uma relação harmônica, que respeitam os ciclos naturais e os conhecimentos empíricos trazidos pelos voluntários.

Qualquer pessoa que

26. A alelopatia é definida como um processo que envolve metabólitos secundários produzidos por plantas, algas, bactérias e fungos que influenciam o crescimento e desenvolvimento de sistemas biológicos. É a capacidade de plantas produzirem substâncias químicas que, liberadas no ambiente de outras, influenciam de forma favorável ou desfavorável para o seu desenvolvimento. In: <https:// pt.wikipedia.org/ wiki/Alelopatia> Acesso em 6 de maio de 2019.


estiver passando pelo espaço pode colher, claro que de forma consciente para que todos possam desfrutar do que é produzido. A horta tem que ter esse compromisso de oferecer um benefício para as pessoas.

Mas, “Cadê as fileiras de alface?” Placa informativa da horta

Figuras 11 e 12: Placa informativa e a relação da horta com a paisagem

43

27. In: <https:// saopaulosao. com.br/nossasacoes/3786horta-urbanacomunit%C3% A1ria-e-agroecol% C3%B3gica-docentro-culturalsp-comemora-5anos.html> Acesso em 6 de maio de 2019.

Justamente por pensar em outra forma de produção, a presença de algumas espécies como a alface é propositalmente menor que as PANCs para que haja a diversificação e, assim, elas estejam presentes em mais espaços para o conhecimento da população.

“A gente aplica um processo

Segundo Borducchi (2018), voluntário da horta, em entrevista ao portal “São Paulo São”, afirma que no processo participativo dos mutirões:

convencionais (PANCs), que

de manejo agroecológico. É uma horta muito biodiversa, com resgate de espécies nativas e com o uso de sementes criolas, que são sementes que não foram processadas e que não foram geneticamente modificadas. Temos um olhar também para as plantas alimentícias não tem uma grande resistência e demandam poucos cuidados” (BORDUCCHI, 2018, em entrevista ao portal São Paulo São).²⁷


Figuras 13 e 14: Espécies da Horta – Tomate cereja e um exemplo de uma florífera para polinização (Ruellia coerulea) Figuras 15 e 16: Meliponário e sementeiras da Horta

44

A horta conta ainda com uma área para compostagem do material orgânico e um meliponário de abelhas nativas sem ferrão (Figura 15), importante para a polinização das plantas e auxiliando na preservação de seres tão importantes para a manutenção do ecossistema.

O contato de diversas pessoas fora do movimento que ficam interessadas pela horta é intenso, já que se trata de um espaço público. Para isso foram criadas placas informativas sobre o espaço e onde se divulgam também as atividades do grupo e suas redes sociais.²⁸ A horta assim possui uma ampla

28. In: <https:// www.facebook. com/hortaccsp> Acesso em 15 de abril de 2019.


divulgação e acessibilidade. São nessas redes sociais que são marcados os eventos e, principalmente, os mutirões coletivos, aos finais de semana, para a realização de manutenções mais pesadas como podas, adubações e plantios. Nesses encontros, a colheita torna-se importante como um incentivo à prática e o compartilhamento de toda a produção. Com esse processo de acompanhamento de todo o ciclo, ressaltam-se o entendimento das dificuldades em se produzir, desde o plantio até o consumo, havendo assim um novo olhar sobre o alimento. Figuras 17 e 18: Destaque de algumas espécies – celósia, mandioca e taioba

45

Figuras 19: Ação dos hortelões em um dia de mutirão


AS PLANTAS ENCONTRADAS NA HORTA DO CCSP A listagem de plantas foi obtida em consulta ao grupo da horta do CCSP no Facebook e também pela visita realizada à horta

46

no estudo de caso. No total foram identificadas 40 espécies. Em destaque são as espécies classificadas como PANCs.

Tabela 1: Espécies presentes no CCSP no ano de 2019 Fonte: Horta do CCSP, 2019, organizado pelo autor.

nome popular

nome científico

nome popular

nome científico

Abacaxi

Ananas comosus

Feijão

Phaseolus vulgaris

Alface

Lactuca sativa

Inhame

Colocasia esculenta

Almeirão de árvore

Lactuca canadensis

Mandioca

Manihot esculenta

Almeirão roxo

Lactuca canadensis

Margaridão

Sphagneticola trilobata

Araruta

Maranta arundinacea

Milho

Zea mays ssp.

Arruda

Ruta graveolens

Morango

Fragaria ananassa

Assa-peixe

Vernonia polyanthes

Ora pro nobis

Pereskia aculeata

Banana

Musa paradisiaca

Peixinho da horta

Stachys byzantina

Batata doce

Ipomoea batatas

Physalis

Physalis peruviana

Beringela

Solanum melongeana

Pimenta

Capsicum sp.

Bertalha

Basella alba

Pingo de sangue

Ruellia brevifolia

Brócolis

Brassica oleracea var.

Quiabo

Abelmoschus esculentus

Rúcula

Eruca vesicaria ssp.

italica

Capuchinha

Tropaeolum majus

Sativa

Celósia

Celosia argentea

Ruelia azul

Ruellia coerulea

Cenoura

Daucus carota

Salsão

Apium graveolens

Cidreira de árvore

Lippia alba

Taioba

Xanthosoma taioba

Cosmos amarelo

Cosmos sulphureus

Tanchagem/Tansagem Plantago australis

Cúrcuma

Curcuma longa

Tomate

Solanum lycopersicum

Ervilha

Pisum sativum

Trevo

Oxalis latifolia

Fáfia

Pfaffia glomerata

Tupinambo

Helianthus tuberosus


Figuras 20, 21, 22 e 23: Processo de compostagem na horta Figura 24: Grupo de hortelĂľes da horta do CCSP

47


2.1.2.

48

HORTA DAS CORUJAS

A Horta das Corujas²⁹ é localizada na Praça Dolores Ibarruri, região da Vila Madalena (Figura 25). Compreende uma área de 800 m², com cultivo de grande diversidade de espécies e acesso à água limpa, mesmo em tempos de seca, desde que houve a recuperação de uma das nascentes que abastecem o Córrego das Corujas, que dá nome à horta. O acesso por transporte público se dá de maneira facilitada pelo metrô Vila Madalena e diversas linhas de ônibus que acessam o terminal, havendo um trajeto de 900 m a pé até a chegada à horta, passando por um trajeto bastante arborizado e com diversos espaços livres, compondo um percurso agradável, mesmo que dificultado pela topografia acentuada do terreno do bairro (Figuras 26 e 27). Figura 25: Percurso de 900m da estação de metrô Vila Madalena à horta

29. In: <https:// hortadascorujas. wordpress.com/> Acesso em 6 de maio de 2019. 30. Claudia Visoni é jornalista, conselheira do Conselho de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz da Subprefeitura

de Pinheiros, ambientalista, agricultora urbana e permacultora. Atua no espaço urbano como ativista pelas causas das hortas e a alimentação de qualidade dentro da cidade. Trabalha também como voluntária tanto na Horta das Corujas


m

49

Figuras 26 e 27: Caminho de acesso da estação de metrô Vila Madalena até a Horta

(Vila Madalena), presente neste estudo de caso, como também na dos Ciclistas (Avenida Paulista). In: <http://www. rededosaber. sp.gov.br/portais/ Portals/84/docs/ entrevista_ claudia_visoni. pdf> Acesso em 6 de maio de 2019.

A horta foi fruto de discussões ocorridas em um evento no ano de 2011, que reuniu cerca de 50 pessoas interessadas na questão da agricultura urbana, que mantiveram contínuo o debate. Um ano e meio depois do primeiro encontro, com mais adeptos, houve o interesse em ocupar o terreno para a implantação futura da horta. Claudia Visoni³⁰, jornalista ativista da causa, em contato com o Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável e Cultura de Paz (CADES - Pinheiros), conjuntamente com o subprefeito de Pinheiros, em 2012, iniciaram os processos para que o projeto pudesse se concretizar e pudesse ser realizado única e exclusivamente pela comunidade. Esse caso recebeu grande visibilidade sendo, atualmente, referência para outros projetos de hortas urbanas, como a Horta das Bicicletas e a Horta Comunitária da City Lapa, idealizada


pela nutricionista Neide Rigo³¹. Mesmo com tamanha importância e possuir inúmeras pessoas em contato nas redes sociais, são poucos os adeptos que atuam frequentemente na manutenção do espaço, um problema comum entre diversas iniciativas no assunto. Desses integrantes, a maioria são moradores dos arredores da horta, do bairro ou de regiões próximas.

50

Geralmente a manutenção ocorre três vezes durante a semana, em algumas horas por dia, e aos fins de semana ocorrem os mutirões com maior número de pessoas. Os cuidados se baseiam na retirada de eventuais plantas espontâneas, a irrigação dos canteiros em períodos mais secos, processos de compostagem da matéria orgânica produzida, replantio de mudas, entre outras atividades. É cultivada uma diversidade de espécies, que além das comestíveis convencionais, se destacam as PANCs em grande presença, espécies floríferas que atraem polinizadores e algumas que são empregadas para acrescer o repertório da horta. Visualmente, a primeira vista, a composição empregada aparenta não possuir uma organização, mas esse aspecto é devido ao emprego de técnicas

agroecológicas que permitem a associação mais livre entre as espécies, buscando novas formas de adaptabilidade entre os exemplares. Entretanto, mesmo que livres, seguem um rigor de seleção feita pelos hortelões, não permitindo que se plante espontaneamente sem que haja um planejamento conjunto. É o caso da proibição de plantio de espécies arbóreas, que promoverão o sombreamento que não beneficia a horta, além de plantas ornamentais. A colheita é feita de forma consciente, permitindo que as pessoas colham desde que com bom senso para que todos possam se beneficiar da horta. Não há a produção para fins de mercado, mesmo assim a produção é suficiente para suprir o consumo de parte dos vegetais diários da alimentação de alguns dos hortelões. O espaço conta ainda com o tratamento de uma nascente por meio das plantas – a nascente do córrego que dá nome a horta; e uma composteira para a produção de adubo orgânico para uso da horta. Nesse processo são recolhidos os resíduos orgânicos trazidos pelos voluntários e misturados com palhas de podas que após o tempo necessário são usados como compostos na terra.

31. Neide Rigo é nutricionista formada pela Faculdade de Saúde Pública da USP, pesquisa espécies alimentícias não convencionais (PANCs), ingredientes pouco conhecidos, esquecidos ou desvalorizados, seu cultivo e a maneira como podem ser preparados. É autora do blog Come-se (come-se. blogspot.com), reconhecido como um dos 55 melhores blogs de comida pela revista Saveur (Estados Unidos). É colunista do caderno “Paladar” de O Estado de S. Paulo. Atua no meio urbano conscientizando as pessoas das plantas alimentícias que podem ser encontrados pela cidade, promovendo percursos a pé no movimento “Panc na City”. In: <https:// casadosaber.com. br/sp/professores/ neide-rigo.html> <https://come-se. blogspot.com/> Acesso em 6 de maio de 2019.


Figura 28: Placa informativa da Horta

O uso desse espaço se dá principalmente pela motivação dos hortelões em ocupar um espaço que antes era degradado e que hoje produz alimento de forma orgânica e com valor nutricional elevado, transformando a horta num instrumento de práticas educacionais para a população que se motiva a gerir coletivamente esse espaço, de maneira a também se sentirem pertencentes a ele e à cidade. Essa experiência promoveu um fortalecimento das relações em comunidade e a própria união do bairro para as ações, assim como a construção de uma visibilidade para que outras pessoas venham a se interessar pelo movimento. A horta é aberta para qualquer

pessoa, ficando apenas fechada para evitar o acesso de animais, tendo como restrições o manejo adequado das mudas, podendose colher o necessário sem a retirada da planta da horta. Segundo Claudia Visoni, qualquer um pode colher, mesmo que não tenha plantado, e esse plantio pode ser feito da forma que a pessoa sente que é benéfico para a planta, não havendo certo e errado, para valorizar a experiência do indivíduo com a terra. Mesmo que haja a constante presença de algumas pessoas e o espaço tenha gerado a mobilização e aproximação dos moradores do entorno, o projeto ainda necessita de uma maior participação efetiva de pessoas

51


que se disponibilizem pela causa. Trazer a simplicidade de se ter uma horta, a sua acessibilidade e custos reduzidos são alguns dos aspectos trabalhados com o projeto. O intuito é que ao longo dos anos ela possa ter uma maior abrangência e seja autossuficiente, entretanto não

é uma tarefa fácil e só com o fortalecimento comunitário isso pode se materializar. Movimentos como esse são incentivos para que as pessoas pensem mais sobre a cidade, não só participando das questões políticas envolvidas, mas de fato agindo no espaço urbano. Figuras 29 e 30: Entrada da Horta e alguns dos canteiros Figura 31: Vista geral da Horta

52


AS PLANTAS ENCONTRADAS NA HORTA DAS CORUJAS A listagem de plantas foi obtida em uma relação disponível na dissertação de mestrado de NAGIB (2016), onde constam as espécies presentes na horta

Tabela 2: Espécies presentes na Horta das Corujas no ano de 2016

no ano de 2016, data da coleta do autor. Ao total, foram identificadas 116 espécies. Em destaque são as espécies classificadas como PANCs.

Fonte: NAGIB, 2016, organizado pelo autor.

nome popular

nome científico

nome popular

nome científico

Abacaxi

Ananas comosus

Beldroega

Portulaca oleracea

Abóbora

Cucurbita spp.

Beringela

Solanum melongeana

Abobrinha

Cucurbita pepo

Bertalha

Basella alba

Acariçoba

Hydrocotyle umbellata

Bertalha coração

Anredera cordifolia

Agrião

Nasturtium officinale

Beterraba

Beta

Alcachofra

Cynara scolymus

Boldo

Plectranthus barbatus

Alecrim

Rosmarinus officinalis

Borragem

Borago officinalis

Alface

Lactuca sativa

Branquinha

Plectranthus madagascariensis

Alfavacão

Ocimum gratissimum

Brócolis

Brassica oleracea var. italica

Alho

Allium sativum

Cana de açúcar

Saccharum officinarum

Alho-poró

Allium ampeloprasum

Capiçoba

Erechtites hieraciifolius

Almeirão de árvore

Lactuca canadensis

Capim limão

Cymbopogon citratus

Almeirão roxo

Lactuca canadensis

Capuchinha

Tropaeolum majus

Amendoim

Arachys hypogaea

Cará moela

Dioscorea bulbifera

Anis

Pimpenella anisum

Cavalinha

Equisetum

Araruta

Maranta arundinacea

Cebolinha

Allium schoenoprasum

Argyreia

Argyreia nervosa

Celósia

Celosia argentea

Azaleia

Rhododendron simsii

Cenoura

Daucus carota

Azedinha

Rumex acetosa

Chuchu

Sechium edule

Babosa

Aloe vera

Citronela

Cymbopogon nandus

Bálsamo

Cotyledon orbiculata

Coentro

Coriandrum sativum

Banana

Musa paradisiaca

Confrei

Symphytum officinale

Batata

Solanum tuberosum

Cosmos amarelo

Cosmos sulphureus

Batata doce

Ipomoea batatas

Couve

Brassica oleracea

53


nome popular

nome científico

nome popular

nome científico

Couve flor

Brassica oleracea var.

Menta

Mentha spicata

botrytis

Cúrcuma

Curcuma longa

Milho

Zea mays ssp.

Dália

Dahlia pinnata

Morango

Fragaria ananassa

Dente de leão

Taraxacum officinale

Morango silvestre

Fragaria vesca

Dormideira

Mimosa pudica

Nabo

Brassica napus

Erva cidreira

Melissa officinalis

Nirá

Allium tuberosum

Erva de jabuti

Peperomia pelucida

Novalgina

Achillea millefolium

Ervilha

Pisum sativum

Ora pro nobis

Pereskia aculeata

Espinafre

Spinacia oleracea

Orégano

Origanum vulgare

Estévia

Stevia rebaudiana

Peixinho da horta

Stachys byzantina

Feijão

Phaseolus vulgaris

Pepino

Cucumis sativus

Flor da fortuna

Kalanchoe blossfeldiana

Physalis

Physalis peruviana

Funcho

Foeniculum vulgare

Pimenta

Capsicum sp.

Gengibre

Zingiber officinale

Pimentão

Capsicum anuum

Gerânio

Pelargonium

Quiabo

Abelmoschus esculentus

Gerânio silvestre

Erodium cicutarium

Rabanete

Raphanus sativus

Gergelim

Sesamum indicum

Repolho

Brassica oleracea var.

Girassol

Helianthus annuus

Rosa

Rosa sp.

Girassol mexicano

Tithonia rotundifolia

Salsa lisa

Petroselinum sativum

Guaco

Mikania glomerata

Sálvia

Salvia officinalis

Guandu

Cajanus cajan

Serralha

Sonchus oleraceus

Hortelã

Mentha piperita

Shissô

Perilla frutescens

Inhame

Colocasia esculenta

Tagetes

Tagetes erecta

Lavanda

Lavandula dentata

Taioba

Xanthosoma taioba

Limão

Citrus limon

Tanchagem/Tansagem Plantago australis

Mamão

Carica papaya

Tansagem grande

Plantago major

Mamona

Ricinus communis

Tansagem sete veias

Plantago lanceolata

Mandioca

Manihot esculenta

Tomate

Solanum lycopersicum

Mandioquinha

Arracacia xanthorrhiza

Tomate cereja

Solanum lycopersicum

Mangalô

Lablab purpureus

Tomate de árvore

Solanum betaceum

Manjericão

Ocimum basilicum

Tomilho

Thymus vulgaris

Manjerona

Origanum majorana

Trevo

Oxalis latifolia

Maracujá

Passiflora edulis

Urtiguinha

Urtica dioica

Maxixe

Cucumis anguria

Vinagreira

Hibiscus sabdariffa

54

capitata

var. cerasiforme


Figuras 32, 33, 34 e 35: Algumas espécies da horta - Celósia, Morango silvestre, Physalis e Batata doce Figura 36: Placa de boas vindas ao espaço da horta

55


2.1.3.

56

VIVEIRO SABOR DE FAZENDA

A escolha de um estudo de caso que fosse um viveiro tem uma justificativa importante, pois se o projeto de cultivo visa à acessibilidade, as mudas orgânicas tem que ser facilmente encontradas pelas pessoas, o que é o caso desse espaço em questão. Além desse fator, foi considerada a diversidade de espécies oferecidas. O enfoque do viveiro são as espécies medicinais, aromáticas e temperos, mas oferecem também grande número de comestíveis, muitas delas consideradas PANCs. Localizado na Vila Maria, Zona Norte de São Paulo (Figura 37), em meio a uma área consolidada de residências e indústrias, o viveiro aparece como um espaço de respiro. Dentre os estudos de caso é o que apresenta trajeto dificultado por transporte público pela ausência de estações de metrô nas proximidades, sendo apenas acessado por ônibus.

Figura 37: Localização do Viveiro Sabor de Fazenda Figura 38: Viveirista no sombral de ervas


57

Figura 39: A produção do viveiro 32. In: <http://www. sabordefazenda. com.br/htm/ empresa/index. php> Acesso em 26 de abril de 2019.

O espaço foi idealizado pela nutricionista e herborista Silvia Jeha, sendo fundado em 1993 e hoje certificado com o selo da ECOCERT, garantindo a qualidade e autenticidade de tudo que é produzido no viveiro de forma orgânica. O viveiro conta com uma área de 1.500 m², por onde se espalham as estufas e viveiros de sementes e mudas.

Além das áreas destinadas ao cultivo das mudas, o espaço possui também composteira orgânica dos resíduos e uma área para minhocultura, para a produção de terra preparada e adubos naturais. Também são oferecidos periodicamente cursos de jardinagem, cultivo de ervas medicinais, aromaterapia, entre outros.³²


AS PLANTAS ENCONTRADAS NO VIVEIRO SABOR DE FAZENDA

33. In: < http://www. sabordefazenda. com.br/htm/ produtos/ervas/ index.php> Acesso em 26 de abril de 2019.

A listagem de plantas foi obtida pela página online do viveiro³³, onde foram sistematizadas toda a relação de espécies produzidas e as características de cada uma

Tabela 3: Espécies presentes no viveiro Sabor de Fazenda no ano de 2019

para posterior análise. Foram identificadas 104 espécies. Em destaque são as espécies classificadas como PANCs.

Fonte: Viveiro Sabor de Fazenda, 2019, organizado pelo autor.

nome popular

nome científico

nome popular

nome científico

Agrião

Nasturtium officinale

Cânfora

Artemisia camphorata

Alecrim

Rosmarinus officinalis

Capim limão

Cymbopogon citratus

Alecrim macho

Rosmarinus officinalis

Capuchinha

Tropaeolum majus

Alecrim rasteiro

Rosmarinus officinalis

Carqueja

Baccharis trimera

var. prostatus

58

Alface

Lactuca sativa

Cavalinha

Equisetum

Alfavacão

Ocimum gratissimum

Cebolinha

Allium schoenoprasum

Alfazema

Lavandula officinalis

Cebolinha francesa

Allium schoenoprasum

Amor perfeito

Viola x wittrockiana

Celósia

Celosia argentea

Anador

Justicia pectoralis

Cenoura

Daucus carota

Aniseto

Ocimum selloi

Cidreira de árvore

Lippia alba

Arnica do mato

Solidago microglossa ou

Citronela

Cymbopogon nandus

Solidago chilensis

Arruda

Ruta graveolens

Coentro

Coriandrum sativum

Aveloz

Euphorbia tirucalli

Confrei

Symphytum officinale

Azedinha

Rumex acetosa

Couve

Brassica oleracea

Babosa

Aloe vera

Cúrcuma

Curcuma longa

Babosa

Aloe arborescens

Curry

Helichrysum italicum

Bálsamo

Cotyledon orbiculata

Dente de leão

Taraxacum officinale

Beterraba

Beta

Endro

Anethum graveolens

Boldo

Plectranthus barbatus

Erva de gato

Nepeta cataria

Boldo indígena

Verdonia condensata

Erva luiza

Aloysia triphylla

Boldo miúdo

Plectranthus neochilus

Estévia

Stevia rebaudiana

Calêndula

Calendula officinalis

Funcho

Foeniculum vulgare

Camomila

Matricaria recutita

Gengibre

Zingiber officinale


nome popular

nome científico

nome popular

nome científico

Gervão

Stachytarpheta

Mil em rama

Achillea millefolium

cayennensis

Guaco

Mikania glomerata

Morango silvestre

Fragaria vesca

Guiné

Petiveria alliacea

Nim

Azadirachta indica

Hortelã

Mentha piperita

Nirá

Allium tuberosum

Hortelã branca

Plectranthus sp.

Ora pro nobis

Pereskia aculeata

Hortelã do norte

Plectranthus ambonicus

Orégano

Origanum vulgare

Hortelã pimenta

Mentha x piperita

Patchouly

Pogostemon patchouli

Hortelã portuguesa

Mentha suaveolens

Peixinho da horta

Stachys byzantina

Hortelã variegata

Mentha suaveolens

Pimenta

Capsicum sp.

Variegata

Incenso

Tetrania riparia

Pimenta biquinho

Capsicum chinense

Insulina

Cissus verticullata

Pimenta caiena

Capsicum annuum

Jambú

Acmella oleracea

Pimenta malagueta

Capsicum frutescens

Lavanda

Lavandula dentata

Poejo

Mentha pulegium

Levante

Mentha spicata

Quebra demanda

Justicia gendarussa

Losna / Yomogi /

Artemisia absinthium

Rúcula

Eruca vesicaria ssp. Sativa

Fuchibá Louro

Laurus nobilis

Salsa crespa

Petroselinum crispum

Malva branca

Pelargonium

Salsa libanesa

Apium nodiflorum

odoratissimum

Malva cheirosa

Pelargonium graveolens

Salsa lisa

Petroselinum sativum

Manjericão

Ocimum basilicum

Sálvia

Salvia officinalis

Manjericão folha de

Ocimum basilicum

Segurelha

Satureja montana

alface

crispum

Manjericão italiano

Ocimum basilicum

Shissô

Perilla frutescens

Tomate

Solanum lycopersicum

Tomate cereja

Solanum lycopersicum

'Genovese'

Manjericão italiano

Ocimum basilicum var.

roxo

purpurascens

Manjericão limão

Ocimum basilicum var. citriodorum

Manjericão miúdo

Ocimum basilicum var.

var. cerasiforme

Tomilho

Thymus vulgaris

minimum

Manjericão roxinho

Ocimum basilicum

Tomilho limão

Thymus x citriodorus

Manjerona

Origanum majorana

Trevo de quatro folhas

Marsilea quadrifolia

Marcela

Chamaemelum nobile

Urtiguinha

Urtica dioica

Melissa

Melissa officinalis

Vinagreira

Hibiscus sabdariffa

Menta

Mentha spicata

Violeta perfumada

Viola odorata

59


2.1.4.

ANÁLISE DO REPERTÓRIO VEGETAL

Ao longo do levantamento dos estudos de caso, foram reunidas e listadas as plantas que aparecem nos espaços cultivados. A partir desse repertório foram colhidas as informações de cada uma, atentando-se a algumas características principais que possibilitaram o cruzamento de alguns dados para organizá-las em grupos de plantas, como por exemplo: a divisão em portes – herbáceas, semi-arbustivas, arbustivas, trepadeiras, etc. 60

Muitas das plantas utilizadas são comuns entre o repertório das hortas e o viveiro (Tabela 4), tendo ao todo 9 espécies em comum nos três espaços – alface, capuchinha, celósia, cenoura, cúrcuma, ora-pronóbis, peixinho-da-horta, pimenta e tomate – , dentre elas se destacam as de uso não convencional (PANCs). A disponibilidade dessas plantas para venda no viveiro torna-as acessíveis para que sejam encontradas também

fora das hortas, podendo ser utilizadas em outros espaços. Mesmo que o enfoque do viveiro seja as aromáticas e medicinais, muitas delas também podem ser empregadas como comestíveis, atribuindo a característica de PANC, caso de particular interesse nesse estudo. Entretanto, algumas plantas não podem ser ingeridas nas hortas e no viveiro, tendo alguns exemplares ornamentais, de caráter apenas florífero para atrair polinizadores, ou funcionem como inseticidas naturais, ou ainda utilizadas também como barreiras naturais.

Tabela 4: Espécies encontradas nas hortas e no viveiro Fonte: organizado pelo autor, 2019.

A listagem a seguir apresenta a relação de espécies das hortas que estão presentes no viveiro, tendo como intuito principal verificar a disponibilidade das mudas para comercialização. Foram encontradas 47 espécies ao todo, sendo 16 dessas classificadas como Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs): Espécies classificadas como PANCs Consta no espaço analisado


nome popular

nome científico

Agrião

Nasturtium officinale

Alecrim

Rosmarinus officinalis

Alface

Lactuca sativa

Alfavacão

Ocimum gratissimum

Arruda

Ruta graveolens

Azedinha

Rumex acetosa

Babosa

Aloe vera

Bálsamo

Cotyledon orbiculata

Beterraba

Beta

Boldo

Plectranthus barbatus

Capim limão

Cymbopogon citratus

Capuchinha

Tropaeolum majus

Cavalinha

Equisetum setaceum

Cebolinha

Allium schoenoprasum

Celósia

Celosia argentea

Cenoura

Daucus carota

Cidreira de árvore

Lippia alba

Citronela

Cymbopogon nandus

Coentro

Coriandrum sativum

Confrei

Symphytum officinale

Couve

Brassica oleracea

Cúrcuma

Curcuma longa

Dente de leão

Taraxacum officinale

Estévia

Stevia rebaudiana

Funcho

Foeniculum vulgare

Gengibre

Zingiber officinale

Guaco

Mikania glomerata

Hortelã

Mentha piperita

Lavanda

Lavandula dentata

Manjericão

Ocimum basilicum

Manjerona

Origanum majorana

Menta

Mentha spicata

Morango silvestre

Fragaria vesca

Nirá

Allium tuberosum

Ora pro nobis

Pereskia aculeata

Orégano

Origanum vulgare

Peixinho da horta

Stachys byzantina

ccsp

horta das corujas

viveiro sabor de fazenda

61


nome popular

nome científico

Pimenta

Capsicum sp.

Rúcula

Eruca vesicaria ssp.

ccsp

horta das corujas

viveiro sabor de fazenda

Sativa

Salsa lisa

Petroselinum sativum

Sálvia

Salvia officinalis

Shissô

Perilla frutescens

Tomate

Solanum lycopersicum

Tomate cereja

Solanum lycopersicum var. cerasiforme

62

Tomilho

Thymus vulgaris

Urtiguinha

Urtica dioica

Vinagreira

Hibiscus sabdariffa

A seguinte relação de espécies apresenta as consideradas comestíveis presentes no

repertório vegetal dos espaços visitados, destacando as classificadas como PANCs.

ESPÉCIES COMESTÍVEIS nome popular

nome científico

usos

Abacaxi

Ananas comosus

Comestível

Abóbora

Cucurbita spp.

Comestível

Abobrinha

Cucurbita pepo

Comestível

Agrião

Nasturtium officinale

Comestível

Alcachofra

Cynara scolymus

Comestível

Alecrim

Rosmarinus officinalis

Comestível

Alecrim macho

Rosmarinus officinalis

Comestível e Aromática

Alecrim rasteiro

Rosmarinus officinalis var. prostatus

Comestível e Aromática

Alface

Lactuca sativa

Comestível

Alfavacão

Ocimum gratissimum

Comestível e Medicinal

Alfazema

Lavandula officinalis

Comestível e Aromática

Alho

Allium sativum

Comestível

Alho-poró

Allium ampeloprasum

Comestível

Almeirão de árvore

Lactuca canadensis

Comestível

Tabela 5: Espécies comestíveis Fonte: organizado pelo autor, 2019.


nome popular

nome científico

usos

Almeirão roxo

Lactuca canadensis

Comestível

Amendoim

Arachys hypogaea

Comestível

Amor perfeito

Viola x wittrockiana

Comestível

Anis

Pimpenella anisum

Comestível

Aniseto

Ocimum selloi

Comestível

Araruta

Maranta arundinacea

Comestível

Assa-peixe

Vernonia polyanthes

Comestível e Medicinal

Azedinha

Rumex acetosa

Comestível

Banana

Musa paradisiaca

Comestível

Batata

Solanum tuberosum

Comestível

Batata doce

Ipomoea batatas

Comestível

Beldroega

Portulaca oleracea

Comestível

Beringela

Solanum melongeana

Comestível

Bertalha

Basella alba

Comestível

Bertalha coração

Anredera cordifolia

Comestível

Beterraba

Beta

Comestível

Borragem

Borago officinalis

Comestível e Medicinal

Brócolis

Brassica oleracea var. italica

Comestível

Cana de açúcar

Saccharum officinarum

Comestível

Capiçoba

Erechtites hieraciifolius

Comestível

Capim limão

Cymbopogon citratus

Comestível e Medicinal

Capuchinha

Tropaeolum majus

Comestível

Cará moela

Dioscorea bulbifera

Comestível

Cebolinha

Allium schoenoprasum

Comestível

Cebolinha francesa

Allium schoenoprasum

Comestível e Medicinal

Celósia

Celosia argentea

Comestível

Cenoura

Daucus carota

Comestível

Chuchu

Sechium edule

Comestível

Coentro

Coriandrum sativum

Comestível

Cosmos amarelo

Cosmos sulphureus

Comestível e Florífera para polinização

Couve

Brassica oleracea

Comestível

Couve flor

Brassica oleracea var. botrytis

Comestível

Cúrcuma

Curcuma longa

Comestível

Curry

Helichrysum italicum

Comestível e Medicinal

Dália

Dahlia pinnata

Comestível e Florífera para polinização

Dente de leão

Taraxacum officinale

Comestível

Endro

Anethum graveolens

Comestível e Medicinal

63


64

nome popular

nome científico

usos

Erva cidreira

Melissa officinalis

Comestível

Erva de jabuti

Peperomia pelucida

Comestível e Medicinal

Erva luiza

Aloysia triphylla

Comestível e Medicinal

Ervilha

Pisum sativum

Comestível

Espinafre

Spinacia oleracea

Comestível

Feijão

Phaseolus vulgaris

Comestível

Funcho

Foeniculum vulgare

Comestível

Gengibre

Zingiber officinale

Comestível

Gerânio silvestre

Erodium cicutarium

Comestível

Gergelim

Sesamum indicum

Comestível

Guandu

Cajanus cajan

Comestível

Hortelã

Mentha piperita

Comestível e Medicinal

Hortelã branca

Plectranthus sp.

Comestível e Medicinal

Hortelã do norte

Plectranthus ambonicus

Comestível e Medicinal

Hortelã pimenta

Mentha x piperita

Comestível e Medicinal

Hortelã portuguesa

Mentha suaveolens

Comestível e Medicinal

Hortelã variegata

Mentha suaveolens Variegata

Comestível e Ornamental

Inhame

Colocasia esculenta

Comestível

Jambú

Acmella oleracea

Comestível e Medicinal

Levante

Mentha spicata

Comestível e Medicinal

Limão

Citrus limon

Comestível

Losna / Yomogi / Fuchibá

Artemisia absinthium

Comestível e Medicinal

Louro

Laurus nobilis

Comestível e Medicinal

Mamão

Carica papaya

Comestível

Mandioca

Manihot esculenta

Comestível

Mandioquinha

Arracacia xanthorrhiza

Comestível

Mangalô

Lablab purpureus

Comestível

Manjericão

Ocimum basilicum

Comestível

Manjericão folha de alface

Ocimum basilicum crispum

Comestível

Manjericão italiano roxo

Ocimum basilicum var. purpurascens

Comestível e Medicinal

Manjericão limão

Ocimum basilicum var. citriodorum

Comestível

Manjericão miúdo

Ocimum basilicum var. minimum

Comestível e Medicinal

Manjericão roxinho

Ocimum basilicum

Comestível e Medicinal

Manjerona

Origanum majorana

Comestível


nome popular

nome científico

usos

Maracujá

Passiflora edulis

Comestível

Maxixe

Cucumis anguria

Comestível

Menta

Mentha spicata

Comestível e Medicinal

Milho

Zea mays ssp.

Comestível

Morango

Fragaria ananassa

Comestível

Morango silvestre

Fragaria vesca

Comestível

Nabo

Brassica napus

Comestível

Nirá

Allium tuberosum

Comestível

Ora pro nobis

Pereskia aculeata

Comestível

Orégano

Origanum vulgare

Comestível

Peixinho da horta

Stachys byzantina

Comestível

Pepino

Cucumis sativus

Comestível

Physalis

Physalis peruviana

Comestível

Pimenta

Capsicum sp.

Comestível

Pimenta biquinho

Capsicum chinense

Comestível

Pimenta caiena

Capsicum annuum

Comestível

Pimenta malagueta

Capsicum frutescens

Comestível

Pimentão

Capsicum anuum

Comestível

Quiabo

Abelmoschus esculentus

Comestível

Rabanete

Raphanus sativus

Comestível

Repolho

Brassica oleracea var. capitata

Comestível

Romã

Punica granatum

Comestível

Rúcula

Eruca vesicaria ssp. Sativa

Comestível

Salsa crespa

Petroselinum crispum

Comestível e Medicinal

Salsa libanesa

Apium nodiflorum

Comestível

Salsa lisa

Petroselinum sativum

Comestível

Salsão

Apium graveolens

Comestível

Sálvia

Salvia officinalis

Comestível e Medicinal

Segurelha

Satureja montana

Comestível e Medicinal

Serralha

Sonchus oleraceus

Comestível

Shissô

Perilla frutescens

Comestível

Tagetes

Tagetes erecta

Comestível e Florífera para polinização

Taioba

Xanthosoma taioba

Comestível

Tanchagem/Tansagem Plantago australis

Comestível

Tansagem grande

Plantago major

Comestível

Tansagem sete veias

Plantago lanceolata

Comestível

Tomate

Solanum lycopersicum

Comestível

65


nome popular

nome científico

usos

Tomate cereja

Solanum lycopersicum var. cerasiforme

Comestível

Tomate de árvore

Solanum betaceum

Comestível

Tomilho

Thymus vulgaris

Comestível

Tomilho limão

Thymus x citriodorus

Comestível e Medicinal

Trevo

Oxalis latifolia

Comestível

Trevo de quatro folhas

Marsilea quadrifolia

Comestível, Medicinal e Ornamental

Tupinambo

Helianthus tuberosus

Comestível

Urtiguinha

Urtica dioica

Comestível

Vinagreira

Hibiscus sabdariffa

Comestível

Violeta perfumada

Viola odorata

Comestível, Medicinal e Ornamental

As tabelas seguintes apresentam as espécies de uso medicinal ou medicinais indicadas para apenas uso externo, como exemplo para preparo de pomadas cicatrizantes para tratamento de machucados

(Tabela 6); e a relação de espécies com outros usos como floríferas para polinização, diversificação de cultivo e como inseticidas naturais (Tabela 7).

Tabela 6: Espécies medicinais e de uso externo Fonte: organizado pelo autor, 2019.

66

ESPÉCIES MEDICINAIS E DE USO EXTERNO nome popular

nome científico

usos

Acariçoba

Hydrocotyle umbellata

Medicinal

Anador

Justicia pectoralis

Medicinal

Arnica do mato

Solidago microglossa ou Solidago chilensis

Uso externo

Arruda

Ruta graveolens

Medicinal

Aveloz

Euphorbia tirucalli

Uso externo

Babosa

Aloe vera

Uso externo

Babosa

Aloe arbotescens

Uso externo

Bálsamo

Cotyledon orbiculata

Medicinal

Bálsamo

Cotyledon orbiculata

Medicinal

Boldo

Plectranthus barbatus

Medicinal

Boldo indígena

Verdonia condensata

Medicinal

Boldo miúdo

Plectranthus neochilus

Medicinal

Branquinha

Plectranthus madagascariensis

Medicinal

Calêndula

Calendula officinalis

Medicinal

Camomila

Matricaria recutita

Medicinal


nome popular

nome científico

usos

Cânfora

Artemisia camphorata

Uso externo

Carqueja

Baccharis trimera

Medicinal

Cavalinha

Equisetum

Medicinal

Cidreira de árvore

Lippia alba

Medicinal

Citronela

Cymbopogon nandus

Medicinal

Confrei

Symphytum officinale

Medicinal

Dormideira

Mimosa pudica

Medicinal

Erva de gato

Nepeta cataria

Medicinal

Estévia

Stevia rebaudiana

Medicinal

Gervão

Stachytarpheta cayennensis

Medicinal

Guiné

Petiveria alliacea

Medicinal

Incenso

Tetrania riparia

Uso externo

Insulina

Cissus verticullata

Medicinal

Malva branca

Pelargonium odoratissimum

Medicinal

Malva cheirosa

Pelargonium graveolens

Medicinal

Manjericão italiano

Ocimum basilicum 'Genovese'

Medicinal e Aromática

Marcela

Chamaemelum nobile

Medicinal e Aromática

Melissa

Melissa officinalis

Medicinal e Aromática

Mil em rama

Achillea millefolium

Medicinal

Novalgina

Achillea millefolium

Medicinal

Patchouly

Pogostemon patchouli

Uso externo e Aromático

Poejo

Mentha pulegium

Medicinal

Quebra demanda

Justicia gendarussa

Uso externo e Ornamental

Tabela 7: Espécies com outros usos – polinização, inseticida natural e diversificação

67

ESPÉCIES COM OUTROS USOS POLINIZAÇÃO, INSETICIDA NATURAL* E DIVERSIFICAÇÃO**

Fonte: organizado pelo autor, 2019.

nome popular

nome científico

nome popular

nome científico

Argyreia**

Argyreia nervosa

Mamona**

Ricinus communis

Azaleia

Rhododendron simsii

Margaridão

Sphagneticola trilobata

Flor da fortuna

Kalanchoe blossfeldiana

Nim*

Azadirachta indica

Gerânio

Pelargonium

Pingo de sangue

Ruellia brevifolia

Girassol

Helianthus annuus

Rosa

Rosa sp.

Girassol mexicano

Tithonia rotundifolia

Ruelia azul

Ruellia coerulea

Lavanda

Lavandula dentata


2.2.

2.2.1

BAURU QUINTAIS DE BAURU

1

Como estudo de caso também foram realizadas visitas a residências com quintais que possuem algumas das espécies listadas nos estudos anteriores e outras de destaque. Encontrou-se um repertório extenso de plantas não convencionais, tendo como destaque as plantas asiáticas. 68

Foram visitados cinco quintais (Figura 30): da família Chiyoda (de meu avô); da família Hirota; da senhora Toshiko Komori; da família Ishikawa; esses com predominância das plantas japonesas e o meu próprio quintal, tendo outras variedades de plantas.

2 Figura 40: Localização dos quintais em Bauru


5 4

69

3


70

Na casa de meu avô (1), localizada no Jardim Nova Esperança, há uma diversidade de espécies plantadas no quintal, em frente à residência ou nos cantos que restaram do lote, muitas delas consideradas PANCs e algumas frutíferas convencionais plantadas em vasos ou canteiros no chão. Nestes espaços podem ser vistas Nirá (Allium tuberosum), Inhame (Colocasia esculenta), Konnyaku (Amorphophallus konjac), Nigagori ou Melão de são caetano (Momordica charantia) (Figura 41), Cebolinha (Allium fistulosum), Gobô ou Bardana (Arctium lappa) (Figura 42), Alecrim (Rosmarinus officinalis), Beldroega (Portulaca oleracea), Figo (Ficus carica), Mamão (Carica papaya), Jabuticaba (Myrciaria cauliflora), Pitanga (Eugenia uniflora), Pinha (Annona squamosa), Romã (Punica granatum), além de outras plantas de uso ornamental.

Figura 41: Nigagori ou Melão de São Caetano Figura 42: Gobô ou Bardana


71

Figuras 43 e 44: Ilustrações das PANCs asiáticas


72

No quintal da família Hirota (2), na Vila Industrial, são encontradas Vinagreira (Hibiscus sabdariffa) (Figura 45), Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), Fuchibá ou Yomogi (Artemisia absinthium), Nirá (Allium tuberosum) (Figura 46), Rakkyo (Allium chinense), Feijão guandú (Cajanus cajan), Ervilha orelha de padre (Dolichos lablab) (Figura 47), Batata doce (Ipomoea batatas), Couve (Brassica oleracea), Cebolinha (Allium fistulosum) e Abóbora (Cucurbita spp). Algumas delas plantadas em pequena quantidade e outras como a Vinagreira que acabou tomando conta do terreno e se destacando com seu tom avermelhado.

Figura 45: Vinagreira Figura 46: Nirá Figura 47: Orelha de padre


73

Figuras 48, 49 e 50: Ilustrações das PANCs asiáticas


74

No pequeno quintal da Senhora Toshiko Komori (3), na região Central, foram aproveitados os corredores e o pequeno fundo para plantar em vasos espécies como o Figo (Ficus carica), Abóbora (Cucurbita spp), Gobô (Arctium lappa), Alecrim (Rosmarinus officinalis), Cebolinha (Allium fistulosum), Tomate (Solanum lycopersicum), Crisântemo japonês (Shungiku – Chrysanthemum coronarium) (Figuras 51 e 52), Gardênia (Gardenia jasminoides), Shissô (Perilla frutescens) (Figura 53), Babosa (Aloe barbadensis), Arruda (Ruta graveolens), Gengibre (Zingiber officinale) (Figura 54) e Cravinho da serra (Tagetes filifolia).

Figura 51 e 52: Shungiku Figura 53: Shissô Figura 54: Gengibre


No quintal da família Ishikawa (4), na Vila Independência, plantado em uma antiga piscina que foi aterrada se encontram além de diversas plantas ornamentais, Cúrcuma (Curcuma longa) (Figura 55), Cosmos (Cosmos sulphurea), Gengibre (Zingiber officinale), Tanchagem (Plantago major), Quiabo (Abelmoschus esculentus), Milho (Zea mays spp), Capim cidreira (Cymbopogon citratus), Laranja (Citrus sinensis) e Limão cravo (Citrus x limonia).

Em meu próprio quintal (5) da casa compartilhada onde vivo, existem diversas áreas utilizadas para plantio aproveitando grande parte dos recuos laterais e o fundo. Por ser uma casa antiga, provavelmente da década de 1940, situada na região central, o terreno é grande e as áreas destinadas ao quintal são amplas.

Figura 56: Tumbérgia azul Figura 57: Ilustração das PANCs asiáticas

Figura 55: Cúrcuma

75


76

Há plantadas, tanto em vasos como em canteiros, Argyreia (Argyreia nervosa), Quebra pedra (Phyllanthus niruri), Caruru (Amaranthus viridis), Cariru (Talinum triangulare), Azedinha (Oxalia latifolia), Trapoeraba azul (Commelina erecta), Banana (Musa acuminata), Berinjela (Solanum melongena), Alface (Lactuca sativa), Tomate (Solanum lycopersicum), Tumbérgia azul (Thumbergia grandiflora) (Figura 56), Capuchinha (Tropaeolum majus), Manjericão (Ocimum basilicum), Alecrim (Rosmarinus officinalis), Tomilho limão (Thymus citriodorus), Morango (Fragaria x ananassa), Pinha (Annona squamosa), Caferana (Bunchosia armeniaca), Jabuticaba (Myrciaria cauliflora), Manga (Mangifera indica) e Amora (Morus nigra), muitas delas nascendo espontaneamente.

Nesses espaços foi interessante observar como cada planta faz parte da rotina de cada um, trazendo várias lembranças, como a da senhora Maria Hirota, que relata que “essa planta minha mãe ganhou e a planto até hoje para lembrar dela”. Traz também uma noção de tempo e ciclos que geralmente não se pensa mais: “tem que plantar as sementes em outubro, ver as flores em março e colher os frutos entre abril e maio, antes que o frio chegue”, palavras repletas de sabedoria que podem se perder. Percebe-se que os quintais visitados funcionam como espaços de experimentação de cultivos, onde se misturam muitas espécies num mesmo local a fim de testar empiricamente combinações de plantio. Um espaço com diversas funções, sendo extensão das atividades domésticas do cotidiano como prolongamento da cozinha, lavanderia, área de lazer, garagem, canil, pomar, horta, resultando também em diversos significados de memória e cultura que são retomados diariamente.


2.2.2

FEIRAS DE BAURU

Além dos quintais também foram realizadas visitas a algumas feiras livres de Bauru (Figura 58) para entender como acontece a venda dos produtos produzidos na região, sobretudo, observar se existiam as PANCs e os produtos orgânicos nas bancas. Foram três feiras em dias e locais distintos: de quinta-feira (1), no Jardim Estoril, onde ocorre a venda de orgânicos certificados; de sextafeira (2), na região dos Altos da Cidade, que possui algumas bancas onde se encontram as PANCs asiáticas; e, de domingo (3), no Centro, que ocorre a maior feira da cidade, portanto, com maior variedade de produtos. As feiras, de maneira geral, comercializam em grande maioria as plantas convencionais – legumes, hortaliças, tubérculos –, encontradas com facilidade em outros locais e consumidas habitualmente pela população. A diferença de se comprar diretamente do produtor é a qualidade dos produtos frescos. Mesmo que as plantas habituais ocupem a maior parte do espaço das bancas, existem algumas

3 77

2 1 Figura 58: Localização das feiras em Bauru


pouco conhecidas ou consumidas em pequena quantidade por culturas específicas, caso das PANCs encontradas, que para os poucos consumidores são comuns na dieta. É engraçado perguntar se a pessoa sabia que tais plantas são PANC, a maioria se assusta e pergunta o que é isso; no fim, para eles elas são comuns.

78

Na feira de quinta-feira (Figura 59), existe apenas uma banca que oferece produtos integralmente orgânicos com certificação – a banca de Eneida Carrasco, produtora orgânica e biodinâmica (Figura 60). São oferecidos tanto os legumes e verduras convencionais, como também as PANCs Ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata), Cúrcuma (Curcuma longa), Vinagreira (Hibiscus sabdariffa), Taioba (Xanthosoma taioba), Funcho (Foeniculum vulgare) e outras que variam conforme o período do ano. Em conversa com um feirante dessa banca, ele afirma que mesmo com a conscientização dos benefícios desses produtos, ainda é uma causa a ser atingida aos poucos pela população, pois o maior empecilho, infelizmente, são os preços ainda elevados. Uma grande ajuda foi a iniciativa da Comunidade que Sustenta a Agricultura (CSA), que promove a reunião de pessoas interessadas em adquirir semanalmente uma

cesta com produtos variados a um preço único, fazendo com que tanto produtor e consumidor sejam beneficiados, associando qualidade, comodidade, estabilidade para quem produz e maior tempo de dedicação na horta. Outro ponto levantado é a redução de custos com embalagens, transporte e perdas no manuseio dos produtos. Mesmo com essa iniciativa, a venda nas feiras ainda é o melhor meio, no momento, para a divulgação dos produtos.

Figura 59: Feira de orgânicos Figura 60: Eneida com sua equipe na horta


Figuras 61, 62, 63, 64 e 65: Algumas espĂŠcies da horta - Quiabo, Taioba, Batata doce, Tomate cereja e AbĂłbora

79


80

Nas feiras de sexta-feira e domingo (Figura 66) foram identificadas algumas das PANCs encontradas nos quintais visitados, além de outras PANCs. Foram encontradas principalmente as asiáticas, vendidas nas bancas de descendentes dos imigrantes, como a do senhor Akira Sakai (Figura 67). São exemplos de produtos encontrados nas feiras: o Hanaumê ou Vinagreira (Hibiscus sabdariffa), o Gobô ou Bardana (Arctium lappa), o Nigagori ou Melão-de-SãoCaetano (Momordica charantia), o Cará moela (Dioscorea bulbifera), o Inhame (Colocasia esculenta), o Nasu ou Berinjela japonesa (Solanum melongena), o Takê-no-ko ou Broto de bambú (Phyllostachys edulis), o Moyashi ou Broto de feijão (Phaseolus vulgaris), o Chingensai ou Couve chinesa (Brassica rapa), o Renkon ou Raiz-de-flor-de-lótus (Nelumbo nucifera), além de outros mais comuns e também de outras culturas como Gengibre (Zingiber officinale), Naboforrageiro (Raphanus sativus), Maxixe (Cucumis anguria), Salsão (Apium graveolens), Serralha (Sonchus oleraceus), Bertalha (Basella alba), Taioba (Xanthosoma taioba), Orapro-nóbis (Pereskia aculeata), Pinhão (Araucaria angustifolia) e Cambuquira (Cuburbita spp), muitas delas apenas sazonais.

Figura 66: Produtos na feira de domingo Figura 67: Banca da família Sakai


2.2.3.

ANÁLISE DO REPERTÓRIO VEGETAL

Adentrar o espaço dos quintais visitados foi uma grande experiência, pois pode-se observar como é a relação das plantas com quem as cultiva, tendo uma intensa proximidade e utilização delas no cotidiano, o que mostra como o quintal ainda não perdeu seu significado para essas pessoas. Algumas das plantas encontradas são utilizadas diariamente, principalmente os temperos, com ciclos perenes, as demais de ciclo anual são empregadas sazonalmente em usos específicos de alguns pratos característicos. Como apresentado, as origens de quem cultiva determinaram os tipos de plantas utilizadas, fazendo com que grande parte delas, tanto nos quintais como nas feiras, fosse representativa dessas culturas, predominando em Bauru a japonesa. Desse repertório nos quintais foram obtidas 69 espécies, sendo 33 dessas classificadas como PANCs. Dessas plantas não convencionais, 9 são de origem asiática. Mesmo que várias das PANCs cultivadas nos quintais sejam encontradas nas feiras, prefere-

se, na maioria dos casos, consumir o que é produzido no local, tanto pela segurança de saber o que se consome, quanto pela comodidade de apenas sair pela porta e colher o que irá ser a refeição. Esse ato valoriza muito a relação com a terra e o apreço por cada planta colhida. Além disso, um fato interessante da análise desse repertório são as diferentes formas de cultivo empregadas nos quintais, sendo utilizados meios alternativos de plantio em vasos para otimizar espaço, aproveitando-se cada canto disponível. A mistura de plantas utilizadas em cada vaso mostra também essa forma de aproveitamento do espaço. Cada canto é aproveitado para o cultivo, nascendo muitas vezes de forma espontânea. Nas feiras, o repertório de plantas, principalmente as asiáticas comumente encontradas nos quintais analisados, aparecem em evidência na variedade oferecida pelas bancas, que devido à quantidade de descendentes, elas são amplamente cultivadas e consumidas. Mas também, muitos outros consumidores não

81


asiáticos estão tendo acesso a essas plantas que, cada vez mais, se tornam comuns no cardápio, mostrando a adaptação para outros hábitos alimentares. Nos espaços das feiras foram encontradas 84 espécies, sendo 22 classificadas como PANCs e dessas 7 de origem asiática. Comparando os dois repertórios,

2.3.

82

tanto dos quintais como das feiras, pode-se obter 42 espécies em comum aos dois estudos de caso. Dessas, destacam-se 10 PANCs, como a Batata doce, a Cúrcuma, a Bardana, o Guandu, o Mangalô, o Melão de São Caetano, o Nirá, a Ora pro nóbis, a Taioba e a Vinagreira.

COMPARAÇÃO E ANÁLISE DO REPERTÓRIO VEGETAL DAS HORTAS URBANAS NA CAPITAL E NO INTERIOR PAULISTA

Por meio dos estudos de caso realizados na cidade pode-se comparar o repertório utilizado em São Paulo com o encontrado em Bauru nos quintais e nas feiras, mostrando diversas semelhanças e alguns acréscimos decorrentes de plantas mais de uso regional ou cultural. Há em comum as PANCs mais conhecidas e de maior utilização, tendo o acréscimo em Bauru das plantas de origem asiática, devido à origem e cultura de quem as cultiva nos quintais visitados nos estudos de caso e presentes também nas feiras. Das PANCs observadas, muitas delas são encontradas dentro da cidade, entretanto, algumas não são utilizadas por

falta de conhecimento ou por preconceito por não serem de uso comum. Mas muitas delas já estão inseridas e se tornaram bastante comuns, tanto que algumas se apresentam em quase todos os levantamentos, como a Taioba, Ora-pro-nóbis, Inhame, Vinagreira, algumas flores comestíveis e os temperos. Na tabela 8, estão presentes as espécies em comum encontradas tanto no repertório de São Paulo como nos quintais e feiras visitados em Bauru, destacando as classificadas como PANCs. Foram encontradas 88 espécies, sendo 30 dessa lista que são classificadas como PANCs, pouco mais de 30%, o que mostra uma variedade significativa encontrada nesse repertório.

Tabela 8: Relação de espécies em comum no repertório de São Paulo e Bauru Fonte: organizado pelo autor, 2019.


nome popular

nome científico

nome popular

nome científico

Abacaxi

Ananas comosus

Limão

Citrus limon

Abóbora

Cucurbita spp.

Losna / Yomogi / Fuchibá

Artemisia absinthium

Abobrinha

Cucurbita pepo

Louro

Laurus nobilis

Agrião

Nasturtium officinale

Mamão

Carica papaya

Alecrim

Rosmarinus officinalis

Mandioca

Manihot esculenta

Alface

Lactuca sativa

Mandioquinha

Arracacia xanthorrhiza

Alfavacão

Ocimum gratissimum

Mangalô

Lablab purpureus

Alho

Allium sativum

Manjericão

Ocimum basilicum

Alho-poró

Allium ampeloprasum

Manjericão roxinho

Ocimum basilicum

Argyreia

Argyreia nervosa

Maracujá

Passiflora edulis

Arruda

Ruta graveolens

Maxixe

Cucumis anguria

Azedinha

Rumex acetosa

Milho

Zea mays ssp.

Babosa

Aloe vera

Morango

Fragaria ananassa

Banana

Musa paradisiaca

Morango silvestre

Fragaria vesca

Batata doce

Ipomoea batatas

Nabo

Brassica napus

Beldroega

Portulaca oleracea

Nirá

Allium tuberosum

Beringela

Solanum melongeana

Ora pro nobis

Pereskia aculeata

Bertalha

Basella alba

Orégano

Origanum vulgare

Beterraba

Beta sp.

Peixinho da horta

Stachys byzantina

Boldo

Plectranthus barbatus

Pepino

Cucumis sativus

Brócolis

Brassica oleracea var. italica

Physalis

Physalis peruviana

Capuchinha

Tropaeolum majus

Pimenta

Capsicum sp.

Cará moela

Dioscorea bulbifera

Pimenta biquinho

Capsicum chinense

Cavalinha

Equisetum hyemale

Pimenta malagueta

Capsicum frutescens

Cebolinha

Allium schoenoprasum

Pimentão

Capsicum anuum

Cenoura

Daucus carota

Quiabo

Abelmoschus esculentus

Chuchu

Sechium edule

Rúcula

Eruca vesicaria ssp. Sativa

Citronela

Cymbopogon nandus

Ruelia azul

Ruellia coerulea

Coentro

Coriandrum sativum

Salsa crespa

Petroselinum crispum

Cosmos amarelo

Cosmos sulphureus

Salsa lisa

Petroselinum sativum

Couve

Brassica oleracea

Salsão

Apium graveolens

Couve flor

Brassica oleracea var. botrytis

Sálvia

Salvia officinalis

Cúrcuma

Curcuma longa

Serralha

Sonchus oleraceus

Dente de leão

Taraxacum officinale

Shissô

Perilla frutescens

Espinafre

Spinacia oleracea

Tagetes

Tagetes erecta

Flor da fortuna

Kalanchoe blossfeldiana

Taioba

Xanthosoma taioba

83


nome popular

nome científico

nome popular

Funcho

Foeniculum vulgare

Tanchagem/Tansagem Plantago australis

Gengibre

Zingiber officinale

Tomate

Solanum lycopersicum

Guaco

Mikania glomerata

Tomate cereja

Solanum lycopersicum var. cerasiforme

Guandu

Cajanus cajan

Tomilho

Thymus vulgaris

Guiné

Petiveria alliacea

Tomilho limão

Thymus x citriodorus

Hortelã

Mentha piperita

Trevo

Oxalis latifolia

Inhame

Colocasia esculenta

Vinagreira

Hibiscus sabdariffa

Lavanda

Lavandula dentata

Violeta perfumada

Viola odorata

2.4.

84

nome científico

OUTRAS PANCs ENCONTRADAS EM BAURU

Além das PANCs encontradas ao longo das análises nos estudos de caso, algumas outras também comparecem no repertório vegetal de Bauru e foram elencadas durante o período da pesquisa na Tabela 9 abaixo. Nesse caso, foi interessante observar que grande parte dessa relação são de espécies arbóreas

que amplamente são utilizadas na arborização urbana das cidades e no paisagismo, sendo também muitas delas de origem nativa como os Ipês, o Jatobá, a Paineira, o Pequi, a Pimenta rosa, o Jerivá e a Rosa madeira. Dessa relação obteve-se ao todo 25 espécies.

Tabela 9: Outras PANCs que podem ser encontradas em Bauru Fonte: organizado pelo autor, 2019.

nome popular

nome científico

nome popular

nome científico

Camélia

Camellia japonica

Maria sem vergonha

Impatiens walleriana

Celósia

Celosia argentea

Moringa

Moringa oleifera

Chuva de ouro

Cassia fistula

Mostarda

Brassica juncea

Flamboianzinho

Caesalpinia pulcherrima Paineira

Ceiba speciosa

Ipê amarelo

Handroanthus chrysotrichus

Pequi

Caryocar brasiliense

Ipê branco

Tabebuia roseoalba

Picão preto

Bidens pilosa

Jaca

Artocarpus heterophyllus

Picão branco

Galinsoga quadriradiata

Jasmim manga

Plumeria rubra

Pimenta rosa

Schinus terebinthifolius

Jatobá

Hymenaea courbaril

Pitaia

Hylocereus lemairei

Jerivá

Syagrus romanzoffiana

Rosa madeira

Pereskia grandifolia

Lírio amarelo

Hemerocallis x hybrida

Seriguela

Spondias purpurea


nome popular

nome científico

nome popular

nome científico

Lírio do brejo

Hedychium coronarium

Taboa

Typha domingensis

Malvavisco

Malvaviscus arboreus

Em anexo (Anexo 1) são listadas todas as espécies do repertório levantado ao longo da pesquisa,

2.5.

apresentando dados de suas características, usos, indicações de plantio, etc.

ALGUMAS PANCs ASIÁTICAS DOS QUINTAIS E FEIRAS DE BAURU Como forma de ilustrar e apresentar as PANCs asiáticas encontradas nos quintais e feiras visitados foram criadas fichas inseridas ao longo do trabalho que contam um pouco da história de cada planta, suas

características, assim como sua relação com quem as cultiva. Como a culinária é uma das formas de manter viva a cultura, foram também apresentadas algumas curiosidades que envolvem a criação das receitas.

85


Partes utilizadas: Raízes cozidas. Ciclo de vida: Bianual Características: O Gobô ou Bardana é um subarbusto bianual, ereto, com uma raiz principal que é a parte comestível, com cerca de 60 cm. As folhas formam o arbusto atingindo de 60 a 190 cm. Possui inflorescências globosas terminais, com flores róseo-púrpuras, protegidas com espinhos. Nativo da Europa, mas é amplamente usado na culinária asiática. As raízes são ricas em potássio, magnésio e insulina natural, sendo muito recomendada para diabéticos. Consumo: Mesmo sendo de origem europeia, foram os imigrantes japoneses que divulgaram seu uso, na culinária tradicional, o Gobô é um dos ingredientes mais populares, a exemplo do famoso prato “Kinpira gobô”, que é uma receita adocicada e levemente apimentada, muito comum de ser encontrado na marmita (obentô) dos japoneses. Geralmente, o Gobô pode ser refogada, cozida ou frita como tempurá. No quintal: É comumente encontrado, sendo plantado em canteiros, em vasos improvisados de isopor, ou curiosamente cultivado também em canos de PVC devido à profundidade das raízes. É encontrada facilmente em bancas de japoneses nas feires livres, principalmente durante os meses de maio e junho, havendo apenas nessa época por ser um produto sazonal. Um das bancas visitadas foi a do senhor Akira Sakai, que além do Gobô, produz outras PANCs japonesas para comercialização nas feiras.

Senhor Akira Sakai e esposa em sua banca na feira


Gobô

Arctium lappa

Kinpira gobô Ingredientes: . 1 raiz de gobô grossa . 1/3 de cenoura . 1/2 pimenta fatiada finamente . 1 colher (sopa) de óleo de gergelim . 1/2 colher (sopa) de Hondashi . 1/2 xícara de água . 1/2 colher (sopa) de açúcar . 1 colher (sopa) de shoyu . 1 colher (sopa) de mirin . 1 colher (sopa) de gergelim branco Preparo: 1. Raspe a casca da raiz com as costas da faca e corte-a em tiras finas e compridas de cerca de 5 cm. 2. Deixe a raiz em água até o momento do preparo. Escorra bem antes de ir à panela. 3. Corte a cenoura da mesma forma. 4. Em uma frigideira, aqueça o óleo de gergelim e adicione o gobô e a cenoura. Tempere com o Hondashi. 5. Quando os vegetais estiverem refogados, acrescente a água, a pimenta e os demais temperos. Misture tudo até que o líquido evapore. 6. Finalize salpicando o gergelim branco.

Gobô plantado de forma inusitada aproveitando a altura de um tubo de PVC


.3

O PROJETO


3.1.

O CENTRO DA CIDADE Assim como diversas cidades do interior paulista, Bauru teve seu crescimento por meio dos trilhos da ferrovia. No caso, três delas fizeram parte da história da cidade - a Companhia Paulista, a Companhia Sorocabana e a Noroeste do Brasil, que criaram um dos mais importantes entroncamentos ferroviários da América do Sul. Esse potencial trazido para conduziu, além do seu crescimento, a história e a memória da região central que tem nos trilhos um dos seus limites, marcando fortemente a ligação entre passado e presente, que muitas vezes é esquecido ou negado. A negação à área patrimonial da cidade que se desenvolveram com a ferrovia

3.1.1.

faz com que sejam apenas consideradas ruínas de um passado. Essas ruínas resistem em poucos edifícios históricos dentre a área de interesse histórico-cultural, casos como as estações das três companhias principais, palacetes, hotéis, casarões e vilas ferroviárias, em diversos estilos e períodos, de ecléticos, art-déco aos modernos. Nessa convergência de histórias, edifícios e pluralidade de pessoas que circulam diariamente é que o centro se constitui como área de interesse para intervenção, buscando nesses resquícios históricos o potencial para ressignificar e retomar a vida dos antigos centros urbanos.

O LOCAL ESCOLHIDO O perímetro que abrange a área central da cidade com valor histórico-cultural é delimitada além da ferrovia a oeste, a leste a rua Araújo Leite como a mais antiga da cidade. Outras importantes para o traçado inicial como a Primeiro de

Agosto, a Batista de Carvalho e a Avenida Rodrigues Alves foram grandes nomes no auge da ferrovia, onde se concentravam a maior parte da infraestrutura urbana da cidade, os comércios, hotéis e casarões (Mapa 1).

89


Mapa 1: A região central de Bauru

o centro

a quadra 90

Nesse contexto, analisando o entorno e o potencial históricocultural para os bauruenses dessa conformação inicial da cidade, contemporaneamente é inevitável não se prender a magnitude que esse passado representou para o crescimento e identidade da cidade. Como forma de experienciar isso, foi escolhida uma das quadras que

mais representa esse período, com diversos hotéis importantes para a cidade, ao lado da Estação Central da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Como região central, além das questões histórico-culturais, é onde converge grande parte das infraestruturas de uma cidade, sendo um grande ponto de passagem para a maioria das


linhas de transporte público, concentração de comércios e serviços, áreas institucionais e o

3.1.2.

trânsito de centenas de pessoas todos os dias que passam pelo centro.

HABITAR O CENTRO Utilizar essa quadra como um início de retomada das áreas centrais por moradia, sobretudo, as iniciativas que possuem o intuito de serem habitações de interesse social. Dessa forma,

ocupar os hotéis históricos adequando-os a novos usos com esse intuito é uma maneira de reativar essa área em constante degradação.

Figuras 68: Hotel Milanese e Hotel Estoril

91


92

Aproveitando a história e memória que um dia receberam aqueles que vinham de tantas outras cidades para tentar a sorte e que aqui ficaram, construindo a cidade. Nesse pressuposto, permanecer no espaço desses patrimônios para estabeleceremse assim na função de habitação. Ocupando esses patrimônios subutilizados, pode-se reviver a área central da cidade, promover a diversidade de usos

do centro, que deixa de ser monofuncional. Os centros antigos se bem utilizados são o palco fundamental para a geração dessa diversidade tão procurada no planejamento das cidades. Jane Jacobs, jornalista e escritora de uns dos livros mais influentes quando se trata no planejamento de cidades vivas e diversificadas, diz que é preciso tanto de


“prédios antigos, que talvez seja impossível obter ruas e distritos vivos sem eles. Ao falar em prédios antigos, refiro-me não aos edifícios que sejam peças de museu, nem aos prédios antigos que passaram por reforma excelentes e dispendiosas [...], mas a uma boa porção de prédios antigos simples, de baixo valor, incluindo alguns prédios antigos deteriorados” (JACOBS, 2014, p. 131).

Dessa forma, esses prédios se tornam importantes elementos para que haja a ressignificação e a posterior vida nos centros. Ainda segundo a autora, “Uma das coisas mais admiráveis e agradáveis que podem ser vistas ao longo das calçadas das grandes cidades são as engenhosas adaptações de velhos espaços para novo usos. A sala de estar do casarão que se transforma em sala de exposições do artesão,

Figuras 69: Os vazios da quadra

o estábulo que se transforma em casa [...] são desse tipo as pequenas transformações que estão sempre ocorrendo nos distritos em que há vitalidade e que atendem às necessidades humanas” (JACOBS, 2014, p. 135).

Assim, utilizar as estruturas existentes, além de ressignificar um passado que tornou-se obsoleto, pode configurar uma

das formas para adaptação às mudanças e necessidades de um tempo, fazendo que áreas tão ricas de histórias não se percam.

93


3.1.3.

RESSIGNIFICAR OS VAZIOS

94

vazio Figura 70: O local de intervenção


Além de ressignificar os hotéis, ocupar os vazios entre esses espaços edificados é uma das formas de trazer espaços livres a uma área tão carente de lazer e áreas verdes. Dessa forma, utilizar esses vazios pode funcionar como uma mobilização da comunidade em atuar conjuntamente na recuperação de áreas subutilizadas e degradadas para o funcionamento de

estruturas que beneficiem não só quem habita (ou um dia habitará) o centro, mas também para a região como um todo. O espaço ocupado no centro da quadra como um incentivo às práticas comunitárias que podem ser aplicadas nos vazios urbanos de outros lugares, não apenas nas regiões centrais e significativamente adensadas.

95

Figuras 71: Diagrama de inserção da quadra


3.1.4.

OCUPAR COM O VERDE ALIMENTAR O CENTRO

“a comida sempre será para a alma” BOTTURA, 2017.³⁴

96

Dentre as premissas estudadas tanto na primeira parte deste estudo, quanto nos futuros percursos da pesquisa, a ocupação de vazios urbanos por meio de movimentos que buscam utilizar o verde para trazer novos usos à áreas degradadas é um dos caminhos continuados para a fase projetual do presente trabalho. Dessa forma, utilizar o verde para alimentar é, sobretudo, o propósito do trabalho. Muitas das formas de produção possuem altos índices de desperdício, em mercados, feiras, entrepostos, no campo e na cidade, deixando que grande parte de alimentos que poderiam ser consumidos vão acabar descartados, não tendo a função à qual foram destinados. Como uma alternativa à diminuição desse fato, tem-se no Rio de Janeiro, no bairro da Lapa, região central, um movimento que vem transformando a vida de muitas pessoas e principalmente

diminuindo o desperdício em grandes centros urbanos. O Refettorio Gastromotiva é uma iniciativa trazida para o Brasil pelos chefes Massimo Bottura, David Hertz e a jornalista Ale Forbes, tendo como principal objetivo lutar para diminuir o desperdício de alimentos, a má nutrição e a exclusão social. Fundado em 2016, durante as Olimpíadas, tornou-se um marco no Rio de Janeiro como uma instrumento de transformação social pela alimentação. Nessas intenções possui como pilares o trabalho com gastronomia social voltada às pessoas em situação de vulnerabilidade social, produzindo alimento de qualidade àqueles que possuem tão pouco. • Combate ao desperdício de alimentos • Capacitação profissional • Educação alimentar • Oferecer uma refeição com dignidade

34. Em entrevista para a apresentação institucional do Refettorio Gastromotiva. In: <https:// www.youtube. com/watch?v= tXddK4fWJ4A> Acesso em 13/09/2019.


alimentar vem do Latim “alere”, que significa “fazer crescer”, “nutrir”, “curar”, “tratar”.³⁵

97

Figuras 72, 73 e 74: O Reffetorio Gastromotiva

Arquitetos: Metro Arquitetos Associados Localização: Rua da Lapa, 108 - Centro, Rio de Janeiro - RJ, 20021-180

35. Verbo alere. In <https://pt.glosbe. com/la/pt/ alere> Acesso em 15/09/2019.

Equipe: Gustavo Cedroni, Martin Corullon, Helena Cavalheiro, Marina Ioshii, Amanda Amicis, Gabriela Santana, João Quinas, Luís Tavares, Manuela Porto, Rafael Sousa, Renata Mori Área: 425 m² Ano do projeto: 2016


O terreno escolhido foi cedido pela prefeitura do Rio de Janeiro, ficando entre os Arcos da Lapa e o Aterro do Flamengo. A área além de ser caracterizada pelo seu centro histórico e cultural possui um elevado índice de desigualdade e vulnerabilidade social, com muitas pessoas morando nas ruas e carentes de qualquer tipo de assistência.³⁶

98

O edifício além de aberto para tratar dessas questões sociais, representa em seu projeto uma conexão com o espaço público da praça adjacente e a comunidade local. Ocupa uma estreita faixa de 6 m de largura por 50 m de comprimento do terreno, deixando que grande parte do programa funcional do restaurante fique aparente, evidenciado pelo uso da translucidez do policarbonato. Internamente, as funções de cada espaço também são integradas, promovendo uma nova experiência para aqueles que frequentam o ambiente, deixando claro o funcionamento da estrutura, dos usos e do movimento da cozinha. Esse ambiente em especial fica totalmente aberto, tendo o intuito principal de mostrar como é possível transformar antigos padrões em novas experiências.

“Cozinha é lugar pra dançar, tirar folga dos problemas, despir os preconceitos, adorar o novo, apreciar os detalhes, fazer do simples algo especial, afinar o paladar, testar nossos limites, inovar, meditar sobre o correr dos dias, associar olfatos, fazer da pimenta e dos problemas ardidos algo agridoce, ganhar experiências, se fartar com novos cheiros, misturar sabores” (DINI, 2018).

Juntando essa experiência de gastronomia social e busca pelo combate ao desperdício aplicadas no Rio de Janeiro com outra iniciativa de valorização de produtos cultivados organicamente por pequenos produtores da cidade de São Paulo há o Instituto Feira Livre SP que atua no centro comercializando a preços justos alimento de qualidade. É promovido o acesso aos orgânicos de maneira transparente e sustentável - sem agrotóxicos e sem especulação, estabelecendo relações justas com todos as pessoas envolvidas nessa cadeia produtiva, conectando quem produz e quem consome.

36. In: <https:// www.archdaily. com.br/ br/801226/ refettoriogastromotivametro-arquitetosassociados> Acesso em: 14/09/2019.


Figura 75: Capa da página online do Instituto Feira Livre

Localização: Rua Major Sertório, 229 - República - São Paulo. Funcionamento: De terça à sexta: das 9h às 19h.

Sábado e domingo: das 9h às 15h.

Pode ser acessado de metrô, carro, bicicleta, a pé. 99

38. In: <http:// institutofeiralivre. org/> Acesso em: 14/09/2019.

O Instituto feira Feira Livre discute os altos valores dos orgânicos vendidos em grandes redes de supermercados, ou seja, os produtores e consumidores são explorados ao máximo nessa lógica de mercado. Dessa forma, são repensados esses valores para distribuir produtos ao mesmo preço do produtor. “Aquilo que é pago ao produtor

é o custo exposto nas etiquetas dos produtos”.³⁸ Os demais custos como o aluguel do espaço de comercialização, fretes, salários, impostos e taxas são totalmente expostos e abertos para o consumidor, para que todos possam saber os custos envolvidos. Esses valores são adicionados ao valor do produto, variando conforme as despesas


mensais do Instituto. Têm-se então como principais elementos que movem o Instituto: “comercializar produtos do campo e propor a economia solidária são os meios do Feira Livre colocar em prática seus ideais de liberdade e democracia” (Instituto Feira Livre, 2019).

100

Dessa forma, segundo esses referenciais pode-se pensar o espaço da quadra com a premissa de produzir, distribuir e fomentar a gastronomia social para o intento de diminuir, mesmo que em pequena escala, as desigualdades sociais desse recorte central de Bauru.

Figuras 76 e 77: Explicativo dos custos do projeto e formas de contribuição


3.2.

A INTERVENÇÃO

3.2.1.

UM POUCO DE "CAOS" Aproveitando da espontaneidade de muitas das PANCs e o desenho natural e instintivo encontrado nos quintais, a proposta de criação no projeto é assumir esses aspectos associados a uma atribuição de um pequeno “caos” que comumente é encontrado nesses espaços. Esse caos projetado, espontaneidade e sazonalidade que muitas vezes o jardim assume é amplamente explorado em projetos de autores como o holandês Piet Oudolf, expoente do movimento de jardins naturalistas contemporâneos. Esses jardins além de utilizarem desse aspecto, são projetos que exprimem a beleza pela transformação das plantas ao

Figuras 78 e 79: O High Line Park e sua sazonalidade

longo do ano. O autor afirma que “marrom também é cor”, exemplificando as diversas tonalidades que pode-se obter e as formas escultóricas da vegetação principalmente no início do período de dormência, durante o outono. Como um exemplo notório tem-se o High Line Park, de Nova York (Figuras 78 e 79) que traz o jardim com uma “beleza melancólica de uma infraestrutura urbana que tornou-se ruína pós-industrial”, dessa forma o projeto apropriouse da vegetação espontânea que se instalou no espaço para formar uma sequência de paisagens ao longo do parque (PANZINI, 2013).


Figuras 80 e 81: A composição dos jardins de Oudolf no Serpentine Pavilion Figuras 82: A arquitetura da vegetação e a sazonalidade dos jardins

102

39. Esses dados de composição são os elementos projetuais empregados por Piet Oudolf em seus jardins, escritos por Noel Kingsburry, pesquisador dos jardins naturalistas contemporâneos. Tais informações foram obtidas em um curso ministrado pela arquiteta paisagista Mariana Siqueira que utiliza também desses princípios em seus projetos de jardins de cerrado no Brasil.


Os jardins aparentam não possuir um desenho, mas a escolha do repertório vegetal é feita meticulosamente, buscando explorar as potencialidades nas composições dos agrupamentos de cada um dos elementos do projeto. São três princípios de composição: as plantas protagonistas que representam os destaques no jardim; as plantas de fundo que trazem a base

3.2.2.

importante para dar legibilidade ao jardim; e as plantas dispersas que dão dinamismo ao jardim, aparecendo e desaparecendo ao longo do ano, o que representa o elemento de sazonalidade.³⁹ Essas técnicas inspiraram a criação do projeto, adaptando essa estética a um jardim comestível que tenha, sobretudo, potencial paisagístico para o local escolhido.

O PROJETO

. transformar o vazio . ocupar com o verde . alimentar o centro

Na área demarcada para utilização da quadra são considerados os edifícios históricos dos hotéis Milanese e Cariani, considerando-os como futuras unidades de habitação de interesse social. O hotel Estoril, também de importância histórica, foi considerado como um centro de cultura e arte para a quadra. Alguns edifícios em estado degradado e sem potencialidade para restauro foi considerado como área passível de transformação, propondo a sua remoção. Com isso, ainda permanece na quadra os vazios de estacionamentos que terão seus usos modificados para abrigar o espaço de plantio da horta (Figuras 83 e 84).

103


situação atual

104

intervenções iniciais


Por se tratar de uma horta que necessita de alta incidência de insolação ao longo do ano, foi analisado durante os solstícios de verão e inverno a quantidade de

luz e o sombreamento que atua na área. Durante esses períodos, grande parte do espaço consegue ter a luz necessária para a implantação do projeto.

105

Figura 83: Situação atual da quadra Figura 84: Proposta de intervenções iniciais Figura 85 e 86: Estudos de insolação para a quadra


Nesses vazios, conjuntamente aos 370 m² de horta, é proposta a inserção de 81 m² de estufa e também uma parte destinada para os 243 m² do refeitório social que utiliza a produção do espaço para servir alimento às pessoas em situação de vulnerabilidade social que habitam as áreas adjacentes da quadra.

106

Além desses usos relacionados à horta, a requalificação também se dá por meio da proposição de espaços de permanência, descanso e contemplação que são vistos como necessários e escassos no entorno. Com isso, propõe-se também que haja uso do espaço nos períodos noturnos para projeção de audiovisual, eventos de música, áreas de Biergarten e usos livres. Visando a variedade de vegetação ao longo do ano conforme os elementos inspirados nos jardins naturalistas contemporâneos, as diversas espécies anuais geram o movimento, pois são constantemente trocadas por outras, o que traz o aspecto de sazonalidade ao jardim. No anexo 2 foram selecionadas 98 espécies encontradas ao longo da análise dos repertórios vegetais encontrados, a fim de experimentar no projeto a associação dessas espécies assim como propostas de

substituições ao longo dos anos para a transformação desse jardim. Nessa lista também estão destacados por cor os potenciais paisagísticos desse repertório pelas estações do ano, que auxiliaram a compor a proposta inicial. Desse repertório foram selecionadas 68 espécies para a proposta inicial. Os canteiros são divididos em três setores principais. O primeiro com uso de trepadeiras; o segundo, ocupando a faixa central, com herbáceas e arbustos tanto anuais como perenes; e o terceiro com espécies adaptadas a terrenos mais úmidos. Há na arborização do espaço o uso de espécies comestíveis, proporcionando uma continuidade da proposta das PANCs em todo o projeto de quintal. Muitas delas são frutíferas comuns nos quintais antigos, remetendo às memórias desses espaços. Conforme há a troca das espécies, os canteiros vazios podem ser utilizados como espaços para compostagem dos resíduos orgânicos, renovando o solo para receber as novas mudas. Além da preocupação com o aproveitamento dos resíduos, também pensa-se em reutilizar a água da chuva para a irrigação dos espaços de horta.


O REPERTÓRIO VEGETAL INICIAL trepadeiras

ora pro nóbis Pereskia aculeata

mangalô Lablab purpureus

maracujá Passiflora edulis

argyreia Argyreia nervosa

tumbérgia azul Thunbergia grandiflora

maxixe Cucumis anguria

melão de tomate são caetano Solanum licopersicum Momordica charantia

pepino Cucumis sativus

pitaia Hylocereus guatemalensis

anuais

107

abacaxi Ananas comosus

abóbora Cucurbita spp.

alface Lactuca sativa

beldroega Portulaca oleracea

beringela Solanum melongena

beterraba Beta

brócolis Brassica oleracea var. italica

capuchinha Tropaeolum majus

celósia Celosia argentea

cosmos amarelo Cosmos sulphureus

couve Brassica oleracea

couve flor Brassica oleracea var. botrytis

tagetes Tagetes filifolia

cúrcuma Curcuma longa

gengibre Zingiber officinale


gobô Arctium lappa

manjericão Ocimum basillicum

milho Zea mays ssp.

rúcula Eruca vesicaria ssp. sativa

shissô Perilla frutescens

vinagreira Hibiscus sabdariffa

alecrim Rosmarinus officinalis

alho Allium sativum

batata doce Ipomoea batatas

cavalinha Equisetum hyemale

pimentão Capsicum anuum

quiabo Abelmoschus esculentus

azedinha Rumex acetosa

babosa Aloe vera

banana Musa paradisiaca

cebolinha Allium schoenoprasum

citronela dente de leão Cymbopogon nandus Taraxacum officinale

hortelã Mentha piperita

lírio amarelo Hemerocallis x hybrida

perenes

108

gardênia guandu Gardenia jasminoides Cajanus cajan

malvavisco Malvaviscus arboreus


mandioca Manihot esculenta

morango Fragaria vesca

nirá Allium tuberosum

taioba Xanthosoma taioba

trapoeraba azul Commelina erecta

violeta perfumada Viola odorata

peixinho da horta rakkyo Stachys byzantina Allium chinense

arbóreas e arvoretas

109

amora Morus nigra

chuva de ouro Cassia fistula

ipê amarelo Handroanthus chrysotrichus

ipê branco Tabebuia roseoalba

jabuticaba Myrciaria cauliflora

limão Citrus limon

limão cravo Citrus x limonia

mamão Carica papaya

moringa Moringa oleifera

pequi Caryocar brasiliense

pimenta rosa Schinus terebinthifolius

pitanga Eugenia uniflora


chuva de ouro milho

Os canteiros foram tratados como iniciais, pois conforme estudado, o universo das PANCs é muito diversificado e que pode ser amplamente explorado nesses canteiros experimentais. Para isso, a troca de espécies, principalmente as sazonais, é de de grande importância. Buscando essa diversidade, nunca se terá monoculturas, solos desgastados e alimentos consumidos sem variedade ao longo do ano.

ipê branco pimentão ora pro nóbis

mandioca

mangalô

cosmos

couve

peixinho

tagetes abóbora

morango maracujá

batata doce brócolis violeta gobô

110

maxixe

rúcula

malvavisco

1

azedinha

2

capuchinha

pepino

gardênia

alface

3

dente de leão argyreia

beldroega shissô

celósia

abacaxi

celósia melão de são caetano

capuchinha

tomate pitaia

babosa

implantação geral

cosmos pimenta rosa

ipê amarelo


pequi tumbérgia azul

limão

alecrim

jabuticaba

pequi limão cravo

ipê branco

ipê amarelo chuva de ouro guandu

tomate nirá alho cosmos cebolinha batata doce

jabuticaba

rakkyo lírio amarelo gardênia

pitanga

abóbora

pimenta rosa

ipê amarelo

manjericão capuchinha

pequi

mamão

couve flor

111

quiabo trapoeraba

vinagreira pequi beterraba amora

ipê branco alface

taioba

vinagreira alecrim

cúrcuma

beringela pitanga

hortelã

banana

cavalinha

citronela ipê amarelo

moringa

gengibre

0

1

5

10


CANTEIROS

inĂ­cio do plantio de novas mudas

intervalo para compostagem do canteiro colheita dos canteiros

112

canteiros verĂŁo

canteiros inverno


113

transformação dos canteiros ao longo do ano


Nos diagramas abaixo estão representadas as espécies que podem ser colhidas em cada uma das estações do ano.

COLHEITAS

tomate mandioca

gardênia

manjericão nirá capuchinha cebolinha trapoeraba

tagetes abóbora

tumbérgia azul

batata doce

quiabo

capuchinha

ora pro nóbis

taioba hortelã cavalinha citronela

beterraba

rúcula gardênia alface beldroega

pimentão

alface

couve peixinho

alecrim beringela

banana

maxixe pepino azedinha

114

dente de leão

primavera

pitaia tomate mandioca

tomate

rakkyo lírio amarelo

guandu

milho

babosa

manjericão nirá capuchinha cebolinha trapoeraba tumbérgia azul

batata doce

quiabo

capuchinha

taioba hortelã cavalinha citronela

beterraba

rúcula ora pro nóbis

alface beldroega

pimentão

alface

couve peixinho

verão

maracujá maxixe

alecrim beringela

azedinha pepino

dente de leão

abacaxi melão de são caetano

celósia babosa

tomate

banana


rakkyo mandioca

manjericão nirá capuchinha cebolinha trapoeraba tumbérgia azul

tagetes abóbora

quiabo

capuchinha

beterraba

rúcula ora pro nóbis

taioba cúrcuma hortelã cavalinha citronela

vinagreira alface beldroega shissô alface

couve peixinho

alecrim beringela

morango

banana

brócolis gobô azedinha argyreia

outono

115 dente de leão babosa

cosmos

couve flor

milho

nirá manjericão alho cebolinha

mandioca

trapoeraba tagetes

tumbérgia azul

batata doce

quiabo violeta capuchinha

beterraba

taioba hortelã cavalinha citronela

rúcula ora pro nóbis

alface beldroega

mangalô

alface

couve peixinho

alecrim beringela

morango

inverno

brócolis gobô azedinha argyreia

dente de leão babosa

banana gengibre


a inserção na quadra

116

o refettorio


canteiros de horta

biergarten

117

refettorio diagrama geral da quadra

espaรงo de eventos e descanso estufas


118

entrada do refettorio


119


120


121

a praรงa | biergarten


122

o quintal


123


beringela vinagreira manjericão

celósia

shissô

rúcula

124

gardênia

rakkyo

lírio amarelo

couve flor

nirá

cosmos

tomate


capuchinha

mangalĂ´

ora pro nĂłbis

125

o quintal guandu

batata doce

tagetes

cosmos

mandioca


8

5

6

4 3

2 7

1 126

refettorio - planta pav. térreo

1. estufas 2. cozinha 3. depósito e despensa 4. câmara fria 5. antecâmara 6. sanitários 7. salão 8. arquibancada e área de lazer 9. mezanino

0

1

5

10


9

127

refettorio - planta pav. superior

O Refettorio tem a intenção de acolher a produção da horta e os insumos que seriam descartados pelas feiras da região, dando uma destinação desse alimento para as pessoas em situação de vulnerabilidade social. Tendo a latente inspiração no projeto social do Gastromotiva, em menor escala, essa unidade tenta

0

1

5

trazer uma refeição de qualidade e com dignidade para quem necessita. A proposta de ter o Refettorio conjunto a um espaço público é para que haja a ocupação, a permanência desses locais, sobretudo, tragam vida para essa pequena parcela do centro de Bauru.

10


Dessa forma, pensar tanto a escala da horta, como a evocação da intimidade dos espaços de quintais são retomados e utilizados no projeto, buscando associar o cultivo, a alimentação, os significados envolvidos na prática das hortas, a conscientização e o lazer num único espaço coletivo e de livre acesso. Almejando assim, com os vários elementos projetuais estudados e o repertório diverso proposto trazer a proximidade com o cultivo e o uso do espaço público para ressignificá-lo. 128


129

interior do refettorio


130

interior do refettorio


131


Partes utilizadas: Frutos e sementes Ciclo de vida: Anual

Características: O Nigagori, Goya ou Melão de são caetano é uma herbácea trepadeira vigorosa e de fácil cultivo, pois em pouco tempo se desenvolve e começa a frutificar, sendo considerada uma planta espontânea em muitos casos. Da família das Curcubitaceas, assemelhase a um pepino, mas com textura enrugada na casca. Consumo: É uma espécie asiática que foi trazida pelos escravos africanos para o Brasil. Conta a tradição que o nome do fruto é em homenagem ao padroeiro de uma capela onde a planta nasceu e decorava o altar. Podem ser consumidos seus frutos verdes refogados ou em salada e suas sementes maduras cozidas. Apresenta sabor fortemente amargo, mas muito apreciado principalmente pela cultura asiática que utiliza o fruto em preparos diversos, sendo muito importante para o controle de diabetes, prevenção ao câncer, entre outras doenças. No quintal: É encontrado nos quintais cobrindo muros, cercas, portões ou onde possa se prender. Geralmente seu sabor amargo assusta quem o prova pela primeira vez, mas logo se acostuma. No quintal de meus avós, o Nigagori faz presença em todos os verões. Preparado com Missô - pasta de soja fermentada - perde a força de seu sabor, tornando-se um prato indispensável para a cultura e o dia a dia da casa.

Senhor e senhora Chiyoda, meus avós


Nigagori

Momordica charantia

Goya chanpuru Ingredientes: . 1 Nigagori ou Goya grande . 1 porção de tofu fresco . 1 ovo . 2 colheres (sopa) de óleo vegetal . 1 colher (sopa) de shoyu . 1 colher (sopa) de missô branco . 1 pimenta em pó . 1 sal a gosto Preparo: 1. Corte o Goya pela metade; limpe a parte interna e corte-o em fatias finas. 2. Deixe-o de molho na água para que saia um pouco do amargor dele. 3. Corte o tofu em cubos. 4. Em uma frigideira, aqueça o óleo de e adicione o tofu para dourá-lo 5. Reserve o tofu tostado e acrescente na mesma frigideira o Goya escorrido. Refogue até deixá-lo ao dente. 6. Junte-o com o ovo batido mexendo até que cozinhe. 7. Acrescente o tofu ao refogado. 8. Tempere com o molho de soja, o missô e a pimenta. Se desejar pode salpicar flocos de peixe bonito seco em cima (hana katsuo), trazendo o aroma de peixe ao prato.

Nigagori crescendo no portão de entrada da casa de meus avós


CONSIDERAÇÕES FINAIS

134

Ao longo da pesquisa, o percurso desde a discussão dos processos que envolvem a produção agrícola, as hortas no espaço urbano às reflexões acerca da alimentação, nos mostrou como a cadeia produtiva de alimentos pode influenciar nas nossas escolhas do que comemos ou deixamos de comer. Dessa forma, o constante e massivo uso de uma pequena parcela de plantas, faz com que muitas outras, as denominadas PANCs, tenham dificuldade para serem inseridas no cotidiano, dependendo muito de uma mudança de consciência para que haja a diversificação de nossos hábitos à mesa. Conforme visto, essas plantas ganham espaço para se desenvolverem nas hortas urbanas e os poucos quintais que ainda mantém a atividade de cultivo. Nesse processo é envolvido muito mais que produzir o que nos alimenta, mas também preservar os

significados e a cultura que essas plantas e o próprio espaço do quintal carregam. Poder entrar em contato com a história desses ambientes me fez retomar memórias, conhecimentos e, principalmente, a retomada do contato com a terra. Assim, após a proximidade com esse repertório de plantas nas hortas e quintais, possibilitou a organização e sistematização de um elenco de espécies para possíveis estudos em projetos de espaços públicos, que possam ressignificar ou rememorar o quintal na contemporaneidade, dentro das cidades em espaços cada vez mais reduzidos. Trazendo além dos significados dos quintais, mas também a riqueza do repertório vegetal e as receitas que compõem a memória desses espaços, constituindo uma importante forma de remeter as origens de nossas culturas para mantê-las vivas.

お き に


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Rafael Ferreira de; LAYHER, Erika; MARTINS, Maíra Cabral; ROSA, Gabriela. Plantas Alimentícias Não Convencionais em Rio Claro. Trabalho final da disciplina de Ecossistemas Urbanos, Instituto de Biociências, UNESP, Rio Claro/SP, 2015. BATLLE, Enric. El jardín de la metrópoli. Del paisaje romântico al espacio libre para uma ciudad sostenible. Barcelona: Editorial Gustavo Gilli, 2011. BRASIL, Constituição Federal (1988), Art. 6º, Emenda Constitucional nº 64, 2010. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/ emc64.htm>. Acesso em 23 de abril de 2019. ___________. Lei nº 11.346, 2006, Art. 2 e 3. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11346.htm>. Acesso em: 23 de abril de 2019. ___________. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. 2. Ed., 1 reimpr. - Brasília: Ministério da Saúde, 2014. ___________. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Alimentos regionais brasileiros. 2. Ed. - Brasília: Ministério da Saúde, 2015. BIAZOTI, André; BORDUCCHI, Guilherme; LIM, Lana; MARCHESI, Mariana. Agricultura cidadã na cidade de concreto: a experiência da Horta do Centro Cultural São Paulo (CCSP). In: VI Congresso Latino-Americano, X Congresso Brasileiro, V Seminário do DF e Entorno em Agroecologia Brasília, 2017. CERAC - Centro Regional de Acessoria e Capacitação. Cartilha agroecológica de produção familiar. 1. Ed., Parnaíba, 2009. DOURADO, Guilherme Mazza. Vegetação e quintais da casa brasileira. Paisagem e Ambiente, n. 19, p. 83-101, 30 dez. 2004. HAEG, Fritz. Jardins comestíveis. In PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 06, página 30 - 37, 2013. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. WMF Martins Fontes, São Paulo; 3. Edição, 2014.

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137


Ă?NDICE DE FIGURAS Capa: Karen Assay Uehara (2019)

Figura 27: Foto do autor (2019)

Figura 1: https://i2.wp.com/www.casadaciencia.com.br/ wp-content/uploads/2017/06/02.jpg

Figura 28: Foto do autor (2019)

Figura 2: https://www.susag.iastate.edu/files/events/ images/screen_shot_2018-02-20_at_10.17.13_am.png Figura 3: https://j9v6u8t3.stackpathcdn.com/media/14697/ yojana.jpg Figura 4: https://www.italymagazine.com/sites/default/ files/styles/624xauto/public/feature-story/leader/slowfoodlead.jpg?itok=kmMGq0dZ

Figura 30: Foto do autor (2019) Figura 31: Foto do autor (2019) Figura 32: Foto do autor (2019) Figura 33: Foto do autor (2019) Figura 34: Foto do autor (2019)

Figura 5: http://revistapress.com.br/wp-content/ uploads/2018/08/LIXO-desperd%C3%ADcio-de-alimentosfoto-agencia-brasil.jpg

Figura 35: Foto do autor (2019)

Figura 6: http://www.ressource0.com/wp-content/ uploads/2013/06/Image-16.png

Figura 37: Google Earth, 2019, adaptado pelo autor

Figura 7: http://muda.org.br/ Figura 8: Google Earth, 2019, adaptado pelo autor

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Figura 29: Foto do autor (2019)

Figura 9: Foto do autor (2019) Figura 10: Foto do autor (2019) Figura 11: Foto do autor (2019) Figura 12: Foto do autor (2019) Figura 13: Foto do autor (2019) Figura 14: Foto do autor (2019) Figura 15: Foto do autor (2019) Figura 16: Foto do autor (2019) Figura 17: Foto do autor (2019) Figura 18: Foto do autor (2019) Figura 19: Foto do autor (2019) Figura 20: Foto do autor (2019) Figura 21: Foto do autor (2019) Figura 22: Foto do autor (2019) Figura 23: Foto do autor (2019)

Figura 36: Foto do autor (2019)

Figura 38: https://conteudo.imguol.com.br/c/ noticias/2013/07/29/fundada-em-1993-a-sabor-defazenda-mantem-na-zona-norte-de-sao-paulo-umviveiro-de-288-m-com-mais-de-cem-tipos-de-ervas1375134946311_956x500.jpg Figura 39: https://sabordefazenda.com.br/ Figura 40: Google Earth, 2019, adaptado pelo autor Figura 41: Foto do autor (2019) Figura 42: Foto do autor (2019) Figura 43: https://i.pinimg.com/564x/1f/df/ d8/1fdfd82dbc3908e29242cd6ba0cdb57d.jpg Figura 44: https://i.pinimg. com/564x/00/78/3d/00783dd6630f4ccd034ba2d20 2a94181.jpg Figura 45: Foto do autor (2019) Figura 46: Foto do autor (2019) Figura 47: Foto do autor (2019) Figura 48: https://i.pinimg.com/564x/37/36/ ce/3736cee23d1ca28fa98b1974130eba39.jpg Figura 49: https://i.pinimg.com/564x/37/55/ b2/3755b21ac1cd8424514cc2a45b56aa7b.jpg

Figura 25: Google Earth, 2019, adaptado pelo autor

Figura 50: https://i.pinimg. com/564x/6e/9d/16/6e9d16dadfd05fe7f22eae6c367c 4774.jpg

Figura 26: Foto do autor (2019)

Figura 51: Foto do autor (2019)

Figura 24: Foto do autor (2019)


Figura 52: https://i.pinimg.com/564x/bc/e5/ca/ bce5cab7d914e01a5a98fdbb54fd53bd.jpg)

Figura 80: https://oudolf.com/wp-content/uploads/ serpentine-gallery-03-550x350.jpg

Figura 53: Foto do autor (2019)

Figura 81: https://oudolf.com/wp-content/uploads/ serpentine-gallery-05-550x350.jpg

Figura 54: Foto do autor (2019) Figura 55: Foto do autor (2019)

Figura 82: https://oudolf.com/wp-content/uploads/ serpentine-gallery-06-550x350.jpg

Figura 56: Foto do autor (2019)

Figura 83: Foto do autor (2019)

Figura 57: https://i.pinimg.com/564x/d9/0d/2b/ d90d2b74620e9dc5b94306cb99041de9.jpg

Figura 84: Foto do autor (2019)

Figura 58: Google Earth, 2019, adaptado pelo autor Figura 59: Foto do autor (2019) Figura 60: Foto do autor (2019) Figura 61: Foto do autor (2019) Figura 62: Foto do autor (2019) Figura 63: Foto do autor (2019) Figura 64: Foto do autor (2019) Figura 65: Foto do autor (2019) Figura 66: Foto do autor (2019) Figura 67: Foto do autor (2019) Figura 68: Foto do autor (2019) Figura 69: Foto do autor (2019) Figura 70: Foto do autor (2019) Figura 71: Foto do autor (2019) Figura 72: https://images.adsttc.com/media/ images/584c/4c65/e58e/ce89/a700/0077/slideshow/16.11. METROGastromotiva_137_copy.jpg?1481395295 Figura 73: https://images.adsttc.com/media/ images/584c/4c89/e58e/ceb1/9a00/00ae/slideshow/ REFETTORIO_GASTROMOTIVA_AngeloDalBo_0969. jpg?1481395330 Figura 74: https://images.adsttc.com/media/ images/584c/4d1f/e58e/ceb1/9a00/00b5/slideshow/ REFETTORIO_GASTROMOTIVA_AngeloDalBo_9956. jpg?1481395479 Figura 75: http://institutofeiralivre.org/ Figura 76: http://institutofeiralivre.org/ Figura 77: http://institutofeiralivre.org/ Figura 78: https://www.thehighline.org/ Figura 79: https://patricetodisco.files.wordpress. com/2012/05/img_5914.jpg

Figura 85: Foto do autor (2019) Figura 86: Foto do autor (2019) Figura 87: Foto do autor (2019) Figura 88: Foto do autor (2019) Figura 89: Foto do autor (2019) Figura 90: Foto do autor (2019) Figura 91: Foto do autor (2019) Figura 92: Foto do autor (2019) Figura 93: Foto do autor (2019) Figura 94: Foto do autor (2019) Figura 95: Foto do autor (2019) Figura 96: Foto do autor (2019) Figura 97: Foto do autor (2019) Figura 98: Foto do autor (2019) Figura 99: Anna Carolina Arruda CĂŠsar (2019) Figura 100: Anna Carolina Arruda CĂŠsar (2019)

Mapa 1: Plataforma My maps Google, 2019, adaptado pelo autor

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