BRASIL EM PALAVRAS: sim, uma revolução burguesa!
Lucas Martins Vieira
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÒRIA Disciplina: História do Brasil Republicano II 5º Período Discente: Clayton Cardoso Romano Docente: Lucas Martins Vieira Data: 01/07/2017
Este trabalho tem como base a leitura e discussão do texto “A concretização da Revolução Burguesa” , 5º capítulo do livro “A Revolução Burguesa no Brasil” de Florestan Fernandes. Florestan Fernandes (19201995), autor que foi perseguido pela ditadura brasileira, docente, mestre em sociologia e política, doutor em sociologia e considerado o fundador da sociologia no Brasil. O livro, renova as concepções tradicionais e contemporâneas da burguesia e do desenvolvimento do capitalismo no país, abordando a resistência das classes dominantes frente às mudanças sociais. O capítulo selecionado, “ A concretização da Revolução Burguesa ”, apresenta as contradições e incongruências existentes na formação da burguesia nacional, os jogos de interesse e disputas por poder, uma transição forçada de um sistema oligárquico e senhorial para outro, onde o capitalismo se impunha através da presença do capital externo e suas exigências por lucro e no qual se mantiveram, desenvolveram e criaram novas estruturas de dominação e exclusão social, grande parte dessas advindas do período colonial e que levariam o país à modernidade. As palavras nos acenam para o ser que desvelam, e que, tanto nos textos dos primeiros filósofos quanto nos poemas, apelam para nós, chamando nos o pensamento. O pensamento segue este único apelo: das Ruf des Seins, o apelo do ser que não apenas repercute na linguagem, mas que somente nela aparece, quando nomeado, no sentido fenomenológico do vir a furo, sair à luz e mostrarse. (NUNES, 2000 apud HEIDEGGER, 1959, p. 21)
Como forma de oportunizar a reflexão e debate sobre o tema, o discente optou por associar a leitura do texto supracitado à produção de conteúdo poético. Acreditando na possibilidade de associação entre essas duas formas de linguagem, nasce com base na análise dessa narrativa histórica, a poesia que expõem de maneira lírica e crítica uma visão e interpretação atual sobre a implementação dos moldes burgueses e capitalistas no Brasil contemporâneo. De acordo com Nunes (2000) A poesia poderia então aparecer dentro e fora da literatura, como a mobilidade da palavra fundadora, fronteiriça entre logos e mythos . Como logos , a poesia mostra, faz ver; e o que faz ver é o longínquo que o mito assinala. A dialética do próximo e do longínquo rege a palavra projetiva. Não é algo de determinado o que a poesia mostra; e o longínquo que ela faz ver nada é. "Ela mostra alguma coisa que há e que não é" (Heidegger 1959, p. 193). Anulase a palavra poética como doação de si mesma para fazer aparecer o que há. Quando faz aparecer o que há, a linguagem fala, a língua (die Sprache) então retomada pelo discurso (die Rede). Investigar a poesia seria, ainda, postulandose, como Heidegger, um conceito extralingüístico de linguagem, isto é, um conceito à margem da lingüística que tem por fundamento uma teoria do signo, investigar a linguagem como fala. Partindo desse pressuposto, o discente espera poder contribuir com o debate e entendimento do tema através dos textos poéticos a seguir.
é uma história contraditória disputas de poder manutenção modernidade atraso corrupção desigualdade uma história de riqueza no país onde impera a pobreza se você está aqui, é porque ainda não desistiu seja bemvindo ao Brasil!
o Atlântico é um portal mágico transformou burgueses em senhores e o Brasil em um local trágico transforma oligarcas em burgueses patriarcas em regentes forma coronéis sem patentes o teatro é real e sensato a transformação é um ato mantémse o quadro em defesa do status fato, a atualidade é um retrato o brasileiro esquece, a história se repete mudança, mudança? engatinha criança corre na esteira toma rasteira a algazarra estrangeira se fez brasileira
revolução forjada manutenção forçada burguesia outorgada e as formigas no vai e vem aquelas que nada têm e do nada fazem tudo também na essência do todos por um passado e presente em cartoon desenhando um inimigo comum e quem não chorou antes, chora agora do escravizado que quis a forra ao trabalhador que não aceita a esmola
ao escolher um sistema indiferente mantevese uma estrutura vital acumular capital uma questão fundamental à expansão comercial preservação do velho no novo a lógica da dominação ao evidenciar interesses expõem a verdadeira intenção na ausência de conflitos o capital se impôs os oligarcas agora burgueses são capitalistas e também senhores mais poder ao poder e menor participação ao povo voltemos ao final da fila, comecemos tudo de novo o Estado amassou o pão enquanto o circo pegou fogo quem cozinhou primeiro, a galinha ou o povo?
na ausência de opção elegeuse um novo sistema que de novo não tinha nada preservouse o mesmo esquema o senhor de engenho se modernizou o sistema então fluiu o capital externo se animou na dependência do Brasil se o povo não foi incluso e se não houve alteração o sistema mudar de roupas fez jus à nova estação na mudança que estava em curso uma questão de aceitação fatos e termos duvidosos chamaremos a isso, revolução?
conservadorismo reacionário ultranacionalismo desnecessário revolução com significado necessitamos um novo dicionário
evolução pura evolução revolução, pura evolução revolução por revolução evolução por revolução revolução, pura evolução revolução, que decepção
fechados à mudança social seguiram adiante com seu plano estrutural como se fosse a única forma de seguir adiante optaram por um capitalismo dependente preterindo seu povo, empobrecendo sua gente estruturas mantidas, práticas renovadas atitudes mantidas, exaltação da exclusão o contexto evoluiu, mas a mudança social não o pai se fez filho ou o filho se fez pai alterações nada naturais estruturas formadas contradições reforçadas erros, acertos e enganos favorecendo a aceitação daquilo que Florestan nomeou Revolução Burguesa
o Brasil é uma bagunça como nação temos nossa constituição criada como povo temos parte da história apagada o sistema é uma desgraça permanecem as velhas visões aqui só se cresce na raça e a raça é padrão que se impõem abatidos, são pretos, brancos e índios crianças abandonadas, não mudou nada nativos tratados como bichos uma imprensa que não presta pagamos caro para o pouco que temos escolas como canoas sem remos escolhas que não queremos escolhas que não faremos um futuro nebuloso a espera por novas revoluções que não sejam burguesas...
samba, dança pula, corre é bala, é tiro é mais um p. que morre cobrança ou cadeia empurra, empurra a fila anda, pára polícia, polícia lá vem vara tapa na cara a coisa tá feia é a classe média a distância está na área imposição que tara miscigenação que embala oba, oba, é carnaval passistas, alegorias, reis momos não temos reis e nem queremos tronos anjos e demônios estamos em falta com a união protagonista ou ator, estamos ligados na dor mas isso é tudo boato, já nos perdemos de fato naquela velha canção, naqueles velhos ditados cara, Belchior é demais: “Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.”
é que isso irá te causar arrepios... a realidade do Brasil na reflexão dos fatos uma revolução burguesa na confusão das classes a concentração de rendas na percepção das cenas o conciliar de interesses e num piscar de olhos o oligarca se adaptou ao modo burguês o que mudou? eu não sei, reflita.
bate, bate, bate bate, bate o martelo vermelho é a cor do meu sangue vermelho não é verde amarelo
bate, bate, bate aceitaremos sua delação bate, bate, bate é a comitiva da corrupção
bate, bate, bate bate, bate a panela camisa verde amarela entoando uma velha canção
bandido entregando bandido nenhum deles verá a prisão bate, bate, bate bate que continua tudo igual
bate, bate, bate bate que as mudanças machuca esse povo virão sofrido o cego não ouve os machuca ele até o final seus gritos o surdo não enxerga a bate só mais um pouco bate, bate, bate opressão baticundum que nem bate, bate, bate samba bate, e senta o cacete batuca ele na corda informe que este é bamba meliante bate forte, bate legal divulgue isso em toda bate forte, feito carnaval essa rede
por fim, em tom de considerações finais uma última reflexão poética fruto de discussão resultado da análise produto da dialética na difícil aceitação do termo, suas causas e direções que corromperam o sentido romântico de revolução mantendo com sucesso inegável as estruturas, a exploração e as opressões mesmo evitando comparações o uso do termo, a mim, é questionável enfim… burguesa ou oligárquica, a meu ver houve manutenção em nossa história tudo é contraditório, o que não é falso é premeditado o que não está escrito, ainda será contado e mesmo que a esperança tenha se enfraquecido não me permitirei cair, mesmo quando desanimado e ainda que veja o indivíduo sobreporse ao coletivo o descrédito me leva a encontrar motivos para crer e persistir. ou o meteoro acaba com tudo ou nossa revolução está no porvir.
Referências BELCHIOR, A. C. Como nossos pais. In: _____ BELCHIOR, A. C. Alucinação , 1976. 1 CD. Faixa 3 (4 min 41). FERNANDES, F. A revolução burguesa no Brasil : ensaio de interpretação sociológica. São Paulo: Globo, 5.ed, 1975. FONSECA, S. A incorporação de diferentes fontes e linguagens no ensino de História. In: _____. FONSECA, S. Didática e prática de ensino de história: experiências, reflexões e aprendizados. Campinas: Papirus, 2003. NUNES, B. Heidegger e a poesia. Nat. hum. , São Paulo , v. 2, n. 1, p. 103127, jun. 2000. Disponível e m : < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext& pid=S151724302000000100004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 01 jul. 2017.