Poezine-se
Carolina Figueiredo e Rebeca Canhestro VOLUME 3. 1ª EDIÇÃO. 06/2016 - ANO II
POEZ I N E-SE O 3º volume do Poezine-se reflete a união em seu mais puro sentido.
sobre as escritoras: Carolina Figueiredo
Elas se conheceram na UFTM em 2014, onde cursam letras e local onde consolidam a primeira parte de suas produções na m ú s i c a e n a l i t e r a t u r a l o c a l . Carolina Figueiredo, 21 anos, reside Uberaba embora seja de Ribeirão Preto. Desde os 15 escreve poesia em prosa.
Rebeca Canhestro
Rebeca Canhestro, 25 anos, nasceu em São Paulo. Além de poetisa, é compositora, violonista e cantora nos projetos ‘De Bem’ e ‘Rebeca Canhestro’. Vive em Uberaba desde os 20 anos.
Volume 3. 1. ed. Ano II. jun. 2016. Tiragem: 100 unidades
Leia as edições anteriores em: www.issuu.com/poezine-se
P o e s i a s e t e x t o s d e : Carolina Figueiredo e Rebeca Canhestro
PO E S I A OR U T U F EN S I NA Z I R T OM I MA GEM NA T I V A E - SE .
Capa, diagramação impressão e montagem: Lucas Vieira Ilustrações: Rebeca Canhestro Revisão e correção: Diego C. Ribeiro Larissa Marra Apoio: Ong ‘Cultura Roulets’, Blog ‘Roulets’ ‘Desculpe o Trasnstorno’ zine, EMABEM, La Escuta, Casa Chavela.
Realização
Contato: poezinese@gmail.com CULTURA ROULETS
www.facebook.com/poezineseoficial
Índice
Carolina Figueiredo 1........................................................ Limão 2......................... O que me disse um velho morinbundo na cadeira de balanço 3...................................................... Plateau Rebeca Canhestro 5................................................... Elefantes 6................................................ Licantropia 7....................................................... Te vejo 8.............................................. Tuberculose 9.......................................................... Calo 10.................................................. Rebento
LIMÃO Preciso espremer minhas ideias. Meu cérebro escorre pensamentos embaralhados. Aperto e sinto o líquido denso escorrer pelos meus dedos. Sinto o frio pesado de ser como eu, de pensar como eu. Não há facilidade, todo movimento pesa. Minha cabeça dói, exige mais força, mais empenho em externalizar o turbilhão violento de sementes, pensamentos, podres que me atacam e pressionam. Já não é possível distinguir o maduro do pútrido. É uma destruição, é tudo batendo e afundando, só porque faço o que o corpo pede: espremer. Exprimo pensares. Mas elas me tocam de novo. Tocam meus dedos, entram pelas minhas unhas e já não me interesso em tentar limpá-las, já que são tantas. Em minhas mãos adquiro essa textura pastosa, grudenta, lavá-las vai contra meus instintos, mas é o que me foi ensinado: as mãos devem sempre ficar limpas. É a etiqueta tão rasa e fútil, assim como tudo que a palavra possa se relacionar. Esfrego os dedos, obrigo as ideias contra o papel. Não lavo as mãos, mas a cabeça acalma, as sementes são enterradas. O ácido grudento e fixo nos meus dedos não passa para o papel, alcalino, que recusa minhas já ultrapassadas tentativas de me livrar do que, ao sol, queima. Quanto às unhas, pouco me importo, que entre elas fiquem os pensamentos.
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O QUE ME DISSE UM VELHO MORIBUNDO NA CADEIRA DE BALANÇO Acho que por sempre conseguir o que quero, as abelhas africanas logo me fizeram uma visita: viajaram da África ao Brasil pra matar minha outra, tão adorada, conquista, um corrupião muito bem treinado, que me acompanhava pelos ombros. Éramos dois íntimos amigos, por isso nunca me deixou. Se quisesse, poderia fazê-lo. Nunca me permiti chorar por nada, por que, então, desperdiçava todas minhas frias lágrimas pelo corrupião? Talvez por entender a finitude da vida, que me entorpecia com coisas mundanas. O corrupião nunca foi uma delas. Tive a chance de me despedir com tranquilidade, morrer nos sonhos. Pediria por mais alguns cigarros, se fosse possível... e fósforos! Isqueiro nenhum vai me roubar o prazer de riscar um fósforo enquanto no sítio. Pra me encontrar utilidade. Também culpo o corrupião pelos carros que bati enquanto dirigia ébrio. Digo isso devido a vontade de voar. Por que não fugir, ser livre, se eu o soltei sempre, diariamente? Não se tratava de fidelidade, mas de medo.
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PLATEAU Me lembro da primeira vez que senti dor. O momento em que o ar invasivo preencheu meus pulmões, cada brônquio se abrindo para uma ideia surgir. Até o sofrimento carrega consigo sua necessidade. Essa foi a única pra mim, costumava pensar. Por me situar em um lugar estranho, inúmeras e frustradas vezes tentei, mas não encontro ou conheço nada do que me rodeia e, aparentemente, nada quer ser conhecido. Não serei impedido de caminhar por essas dores musculares, apesar de não conseguir, de maneira alguma, me distanciar delas, sempre atraem minha atenção por serem desconhecidas ao meu corpo e só atrasam a chegada da luz ao mundo. O significado do toque não foge nunca à memória: cada um representa ganho tanto físico quanto mental, ao menos é assim quando se há contato com a essência das coisas, isso inclui tudo, desde aquele ao outro. O engrandecimento é mútuo, o que toca também é tocado e nisso trocam-se experiências, verdades e moral, é por isso que sinto-me como tudo, não sei quem sou e não consigo me ver. Nem meus olhos, belos e ideais, me permitem mirar; antes, sem mover muito a cabeça víamos quase tudo à volta. Por que está tão difícil enxergar? Os passos cansados começam a mostrar algum resultado, depois de tempos frios inacabáveis, para contestar toda a minha falta de desejo com a vida, um fio quase inexistente de esperança cobre minha pele, aquecendo-a, e acho forças para sair num novo mundo. A luz começou a
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tocar os olhos e foi quase impossível confiar na minha visão. Há todo um espaço em movimento, que me oferece, de cara, o que mais persegui nos dias em que me encontrei nessa cripta desconhecida por minhas verdades, água e comida em abundância, para que pudesse me deitar e esperar minha alma acalmar e poder ser livre. Já pouco me importo com sociedade, não busco a soma de corpos, somente meios para sobreviver isolado e sem complicações. As plantas, quando fora da minha imaginação, não me deixam aproximar, cheias de espinhos e barreiras, destroem de corte em corte, dedo em dedo e mão em mão, todos os planos que fiz para alcançar minha paz. Não são facilmente compreendidas, mas pensei conseguir, através de seus cheiros, entender suas finalidades, no entanto, vivo frustrado por perceber meu olfato tão falho, confuso com a mistura infinita de sentidos então, cansado de tanto questionar, apenas arranquei algumas frutas que aparentassem suculência e mordi, sem antes refletir sobre a nova fenda em que eu mergulhava. Demorou algumas horas e comecei a sentir o mal estar, todo meu corpo arrepiado, avistando um ser estranho, que se aproveitava do meu ar, fechando toda a passagem do meu pulmão. Fui oposto do que vim, perdendo ideias.
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ELEFANTES
Esses elefantes, belos vagarosos Passos frouxos, entediantes, melancólicos E lá se vão pisando fundo e forte que andar já é o bastante.
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LICANTROPIA
Contenha essa mania de rastejar por onde ando Não é demagogia é temor brando De trombar em qualquer esquina deixar rastros da avaria até a brisa marina confirmar sua teoria Que farejo determina: miserando o odor de quem amara Vagando na noite clara Lobisomeando
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TE VEJO
Te vejo com outros olhos com raiva com desejo com nojo com recusa com medo confusa
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TUBERCULOSE
Escarro singelo Catarro vermelho Pigarro, me olho no espelho: Amarelo
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CALO
Falei o indevido, pisei no calo do pĂŠ do ouvido
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REBENTO
Rebento, sem futuro, meio sem raรงa, meio minoria, meio ameaรงa, Meio dia, meio Nascimento, prematuro, 50%
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CASA
CHAVELA
A Casa Chavela é uma república independente, formada por estudantes da área de Humanas da UFTM, com o compromisso para o reconhecimento da identidade latina que há em nós, a cultura vegetariana, além de espaço de resistência e debate sobre a diversidade sexual e igualdade de gênero.
O nome é uma homenagem a Chavela V a r g a s , a r t i s t a e a t i v i s t a costarriquenha, conhecida principalmente por difundir a música ranchera México afora.
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