Poezine-se - Volume 8 - Lucas Vieira

Page 1

POE ZIN E-SE

Lucas Vieira VOLUME 8. 1ª EDIÇÃO. 01/2018 ­ ANO IV


POEZ I N E-SE O 8º volume do Poezine-se chega caminhando entre os vales incertos de uma triste poética apresentada por Lucas Vieira.

sobre o autor: Lucas Vieira além de publicitário e estudante do curso de História da UFTM, é uma mente criativa que não cansa de produzir e desenvolver novos projetos. Idealizador do projeto entitulado Poezine­se, trabalha e desenvolve sua criatividade diariamente através da escrita, composição musical entre outros. “Não vim ao mundo para ser amado e admirado, mas sim para amar e agir. Quem me cerca não tem o dever de me amar. Ao contrário, é meu dever estar consciente do mundo e dos homens.” Janusz Korczak

Volume 8. 1. ed. Ano IV. jan. 2018. Tiragem: 100 unidades Poesias de: Lucas Vieira Capa, diagramação impressão e montagem: Lucas Vieira Fotografia da capa: Internet Revisão e correção: Lucas Vieira Contato: poezinese@gmail.com Leia as edições anteriores em: www.issuu.com/poezine­se Realização:

POE ZIN E-SE

www.facebook.com/poezineseoficial


Índice

história triste, café pequeno

1

fico

2

tardes sem aquarela

2

tédios, prédios e silhuetas

3

urbana

4

nos braços de minha mãe

5

cadeira elétrica

6

assim, só sei brincar

6

erramos?

7

reverb, loop, delay

8

para que servem as portas?

8

Dr. Bacamarte

8


história triste, café pequeno tento imaginar um eu, encontro rascunhos detalhes perdidos de algo que em mim já viveu me vejo perdido entre escolhas perdidas, entre histórias recortadas, personagens e indivíduos eu não me reconheço mais me sinto um jornal velho de alguns segundos atrás agora, tudo é tão dinâmico, tudo é tão incerto. nada é sincero se for para agradar, opiniões se for para amar, silencio se for para viver, já não sei se consigo se tiver que engolir, mastigo se for para esquecer, não lembro um recado dado, um momento uma lembrança inoportuna, um tormento se paro, não volto se volto, não paro corro tão lento o quanto caminho minha jornada é longa e não consigo enxergar um destino tenho prazeres e dores que não cabem em poesia minha viagem foi ter ido além a felicidade é vazia, história triste e café pequeno.

1


fico mancho o carpete, minhas calças e meu zelo, enquanto guardo sentimentos e palavras em segredo tenho cadeados mas não chaves, tenho medo percebo que carrego um pouco de tudo aquilo que vejo nada é imune o tempo me pesa feito o machado que pune doem em mim sentimentos que morrem como o amor e o ciúme seguir adiante, um raro hábito, um necessário costume se é de terra o chão, vou descalço se é de coração, vou de fato se você sabe, não foi de praxe eu, quando vôo, permaneço.

tardes sem aquarela numa página em branco descrevo o vazio nada é mais sonolento e frio nem a ferida, nem a morte nem a falta de cor, nem a falta de sorte da faca ao corte, pedaços de vida tudo vai, nada fica.

2


tédios, prédios e silhuetas eram eram eram eram

pessoas acima de tudo medianas pequenas em estatura, menores em valores anões gigantes pessoas, acima de tudo, pessoas

eram coloridas, roupas de todas as cores eram como o arco-íris alegres e felizes eram cores, acima de tudo, cores eram peles diferentes eram incomuns variadas e diversas eram peles, acima de tudo, peles eram mentalidades corroídas, outras distraídas eram múltiplas em falas e exposições, defesas e distorções sensatas e outras não eram mentalidades, acima de tudo, mentalidades era um festival de discordâncias, algumas se coincidiam eram idas e voltas, afetos e desafetos eram silenciosas, porém gritantes eram discordâncias, acima de tudo, discordâncias eram eram eram eram

retratos distorcidos que formavam uma visão geral tortos e retorcidos, mas havia em alguns, sentido montagens e manipulações retratos distorcidos, acima de tudo, retratos distorcidos

eram mortes sem motivos aparentes, assassinatos eram suicídios induzidos, disfunção mental e pobreza tristes e intensas eram mortes sem motivos, acima de tudo, mortes sem motivos eram eram eram eram

sonhos que se foram, pouco a pouco ideais e atitudes, todos verdadeiros e puros desejos intensos de mudança sonhos que se foram, acima de tudo, sonhos que se foram.

3


urbana algo ali não fazia sentido era a direção e o tempo 35 anos e nada proveitoso uma vida toda de desgosto no espelho em que reito atos que me embaraçam desfaço nós que se refazem nem todo caminho que se cruza é realmente um caminho pessoas vêm e vão eu fico palavras que se perderam sentimento oblíquo quando a verdade foge omito não minto sem ilusão ou mito aceito a leveza da pressão ela se alimenta do meu peso peço que ilumine meus olhos a frieza em minha alma, a tristeza em minha calma vazio que me torno completo o meu resumo palavras vem e vão eu desisto.

4


nos braços de minha mãe entre todos os seres o amor acima dos deveres e quando eu perdi meu pai você se fez mais que ele demorei tanto para interpretar seus silêncios e olhares na medida que crescia aprendia que a vida era composta por pares e você tão ímpar, tão importante, mesmo ausente tive que me perder para te fazer presente quando perdi o Fiíco e dizia que queria ter uma avó lembro do Serginho, do pedido e do carinho em ter um tio Lucas e só lembro da infância perdida, da adolescência forçada e da maturidade esquecida lembro muito de te ouvir dizer que assim era a vida das discussões, diferenças e atritos longos 44 anos, quase um abismo de tudo que me lembro e em tudo que insisto carrego tanto de ti, mais ainda do que imagino se para todo passado há um destino meu caminho era ser teu filho sentir as dores e os arrepios sentir o amor, seu calor e seu frio.

5


cadeira elétrica altos e baixos diferenças de pressão à depressão algo fere algo alimenta aumenta a dor e tudo passa a vontade o prazer a graça na solidão de um banco de praça poesia desperdiçada berros sussuros chamados a solução não é um segredo as portas se abrem e se mostram cada uma com um mesmo enredo durmo tarde e acordo cedo.

assim, só sei brincar Nua Crua Cedo Tora Mente Sua Rua Cabo Losa Mente Crua Nua Re Donda Mente 6


erramos? Humanos que somos, por inocência ou intencionalidades, nos concentramos nas diferenças. Conceituamos, selecionamos e agrupamos nossos semelhantes ao ponto de nos tornarmos díspares. Criamos a guerra e a competição, a pobreza e a miséria, a segregação e os povos. Definimos o certo e o errado, o bem e o mal, os valores e a moral com uma ética cética e dissimulada. Desenvolvemos processos de seleção, os quais se demonstram capazes de ampliar a diferenciação, criamos ritos de maldade, violência velada e institucionalizada. Aceitamos isso como necessário, desrespeitando semelhantes por pensarmos o contrário. Criamos debates sem conteúdo, defendemos o que pensamos e condenamos o contrário ao absurdo. Não reetimos, apenas pensamos. Questionamos sem reexão de contextos. Sem conhecimento de causa, desrepeitamos lugares de fala, acusamos, rotulamos com conceitos os quais nem sempre conhecemos apenas ouvimos falar -, ignoramos o saber. Divulgamos inverdades, publicizamos e trabalhamos em função de uma distorção geral. Tememos o futuro e vivemos num mundo dominado pelo medo. Tememos o retrocesso e ainda assim retrocedemos. Assim, o passado se mostra bem mais claro que o presente e, então, por lá permanecemos. Hoje ao me olhar no espelho, percebi que não me reconheço, não tenho as mesmas certezas do início e nem as dúvidas do passado. Não sou mais o mesmo e já não sei se fico triste, se ignoro ou se agradeço. Comecei certo e terminei errado, com a incerteza de que todo dia é um novo começo.

7


reverb, loop, delay segunda-feira, mais um dia em que sobrevivo nuvens se sobrepõem num céu cinza e branco meus olhos, como elas, se derretem em pranto me vejo rodeado por pensamentos e meu pensamento em branco deixo a cozinha, vou à copa trago suco e pimenta a fome não colabora e o alimento não me alimenta volto em uma ida sem fim o passado presente se filia ao que se tornaria rotina não há portos seguros o futuro, uma cortina ou um muro?

para que servem as portas? tenho janelas que escoam sentimentos que prefiro esquecer duas tardes de lembranças que a noite fez questão de amanhecer nuances, fragrâncias, efemeridades do viver tenho janelas que escoam sentimentos difíceis de esquecer duas horas de memórias que fazem o tempo doer desencontros, despedidas, necessidades do ser tenho janelas que se fecham para momentos que eu deveria viver tenho janelas que me mostram o que eu não deveria fazer tenho janelas.

Dr. Bacamarte covarde me sinto como Dr. Bacamarte perdido entre ciência e arte preso dentro de mim mesmo correndo em círculos e a esmo.

8



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.