POP ART
Pop Art/Marxismo Design e texto de Lúcia Rocha Orientação de Mário Moura Faculdade de Belas Artes do Porto 2010/2011
POP ART E MARXISMO
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POP ART E MARXISMO “A Pop Art é popular, transitória, consumível, de baixo custo, produzida em massa, jovem, espirituosa, sexy, chamativa, glamorosa e um grande negócio” Richard Hamilton A Pop Art foi um movimento artístico, principalmente americano e britânico, cuja denominação surgiu, pela primeira vez, em 1954, pelo crítico inglês Lawrence
¶ Este movimento teve como grande influência a vida quotidiana, sobrevalorizando, desta forma o carácter figurativo ao expressionismo abstracto que
Alloway, para designar os produtos da cultura popular da civilização ocidental. ¶ A Pop Art começou a ganhar forma ainda no dadaísmo de Marcel Duchamp, no final da década de 50, quando alguns artistas passaram a utilizar como tema das suas obras, símbolos e produtos da propaganda dos Estados Unidos, encontrando assim um novo ideal estético.
vigorara até à Grande Guerra. Tendo ficado marcada esta época pela iconografia da televisão, fotografia, publicidade e do cinema. ¶ Não se tratou de um movimento artístico sem sentido, porque a par da tentativa de criar objectos em massa, de grande circulação, acessíveis a todos os indivíduos, também existia crítica e isso é que permitiu a transformação do objecto vulgar em objectos de arte.
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“Everybody has called Pop Art ‘American’ painting but it’s actually industrial painting. America was hit by industrialism and Capitalism harder and sooner and its values seem more askew.” Roy Lichtenstein Contudo, a Pop Art apoiava-se essencialmente no consumo, na aproximação da arte às massas e um bom exemplo dessa tentativa são as sopas Campbell de Andy Warhol (FIGURA I), possibilitando a desmistificação dos valores artísticos. ¶ Outros artistas da geração de Warhol, entre os quais Roy Lichtenstein e Robert Rauschenberg partilharam da mesma vontade de ruptura com a não-forma, apoiando-se na fotografia, banda desenhada e objectos reais para realizar as suas obras. “(...) a Pop foi um dos movimentos centrais da arte britânica e americana, impondo várias personalidades, como artistas de primeira categoria, afectando directamente, em todo o mundo, o curso da arte subsequente e reconfigurando o nosso entendimento da cultura do século XX.” Apesar da ruptura visível com os movimentos de arte moderna anteriores, a Pop Art não se consagrou um movimento de completa oposição, o seu principal objectivo era conceber arte que pudesse ser entendida por todos os que viessem a observá-la, não sendo necessária formação clássica ou religiosa para a entender, tendo em conta que as imagens representadas eram suficientemente actuais.
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ROY LICHTENSTEIN POPEYE, 1965
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“Ser bom no negócio é a mais fascinante espécie de arte (...) Ganhar dinheiro é uma arte, trabalhar é uma arte e fazer bons negócios é a melhor de todas as artes.” Andy Warhol As imagens/ícones representados, facilmente se adaptavam a outros suportes, mais comerciáveis, como estampas, cartazes e postais e, desta forma, os artistas também conseguiam divulgar mais ampla e rapidamente o seu próprio trabalho, bem como vendê-lo. ¶ No que toca ao entendimento do processo de produção e venda do produto artístico, Warhol foi o artista que melhor se adaptou, tendo abandonado o cavalete por volta de 1962, para o substituir pela serigrafia. ¶ A vantagem desta técnica sobre a pintura estava precisamente no facto de permitir a reprodução de vários exemplares de um mesmo trabalho, ampliando assim, o número de vendas. No entanto, sendo um processo quase mecânico de produção, praticamente se perdeu a noção de gesto do artista na obra. ¶ Para além da serigrafia, a colagem era um outro meio de produção que utilizava um estilo figurativo e iconográfico acessível, semelhante às revistas de grande circulação, possibilitando assim o seu fácil reconhecimento, entendimento e aceitação, ao contrário da pintura, que se fechava dentro de uma narrativa não objectiva, acessível somente a alguns indivíduos, instruídos em história e teoria da arte moderna.
FIGURA I ANDY WARHOL SOPAS CAMPBELL,1963
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“É perfeitamente legítmo dizer-se que o movimento artístico do pós-guerra, identificado de imediato com os símbolos, o consumismo e a comunicação de massas, tenha descoberto uma das suas primeiras (...) imagens sob a forma de anúncio publicitário.” In Pop Art, Movimentos de Arte Contemporânea
A Pop era simples (no que se refere à forma e ao conteúdo), plana, antigestual e premeditada no seu estilo, tornando-se, involuntariamente, a melhor publicidade para o mundo artístico e permanecendo inabalável até aos dias de hoje. ¶ Os artistas desta época provaram não ser de um mundo aparte, mas sim parte da cultura contemporânea como qualquer homem de negócios, estando completamente à vontade no que que tocava à produção e consumo do pós-guerra.
ROY LICHTENSTEIN EDDIE DIPTYCH, 1962
ROY LICHTENSTEIN PINCELADA, 1965
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“Arte e sociedade não se podem ignorar, já que a própria arte é um fenómeno social.” Karl Marx Cada sociedade tem “a arte que merece”, na medida em que os artistas produzem artefactos de acordo com a relação que estabelecem com ela. Quer isto dizer que arte e sociedade nunca poderiam estar “de costas voltadas” uma para a outra. ¶ Este é um facto que se verifica na forma como os artistas deste movimento tentaram contornar a situação económica e social do pós-guerra, atribuindo às suas obras um carácter mais comercial e tornando-as mais acessíveis a toda a sociedade. ¶ Ao agirem desta forma os artistas pop contrariaram, de algum modo, o que até à data era assimilado como fruto da arte dita moderna, para propor algo de novo, algo que a própria sociedade daquele presente necessitava, tendo em conta a situação política e económica em que se encontrava. ¶ Karl Marx não criou o movimento do proletário, mas sim atribuiu ao seu conteúdo uma nova expressão teórica e científica, elevando a consciência proletária a um nível superior, bem como os artistas da Pop Art não criaram arte para as classes sociais menos beneficiadas, mas sim incentivaram o alargamento da produção artística e sua compreensão a todos os indivíduos sem excepção, elevando assim a igualdade entre todas as classes sociais no acesso à cultura.
ROY LICHTENSTEIN AS I OPENED FIRE, 1964
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¶ Um sistema social não floresce antes que se tenham expandido as forças produtivas que a ele competem, assim como novas relações de produção não surgem antes de as condições materiais, para a sua existência, terem amadurecido na sociedade antiga e é certo que a Pop Art não é consequência de um fenómeno imediato, mas sim uma reacção a uma cultura sólida que a antecedeu. ¶ O que conduziu à alteração dos valores artísticos modernistas foi a realidade material da sociedade do pós-guerra, porque o que leva à mudança da história de uma sociedade é inevitavelmente a economia, política e religião, e a arte não é mais nem menos do que uma construção a partir deste conjunto de valores. ¶ Pode-se dizer então que, neste caso, a Pop Art tornou-se solidária com as forças sociais, na medida em que, contribuiu para o desenvolvimento de uma comunidade em que todos os indivíduos têm o direito e acesso à arte. ¶ Este movimento artístico veio contradizer a teoria de Marx, quando este afirma que a arte é uma forma ideológica que as classes dominantes utilizavam para mostrar o seu poder. E era de facto assim que acontecia até meados do século XX, mas com a Guerra Mundial houve grandes alterações na economia que condicionaram as ideologias – conjunto de ideias sistemático e coerente (Karl Marx) – antes praticadas. ¶ A arte deixou de ter o estatuto social que possuia até então, para passar a uma forma de produção económica, não limitada a uma ou outra camada social e universal, tal como Marx a idealizava.
Bibliografia Livros: Pop Art, Object and Image – Finch, Cristopher, Studio Vista, Dutton Pictureback, General Editor David Herbert; Movimentos de arte contemporânea, Pop Art, McCarthy, David – Editorial Presença; Pop Art – Lippard, Lucy R. – Thams & Hudson, World of Art; Pop Art – Osterword, Tilman – Taschen; Marxismo e Filosofia – Korsch, Karl, Edições Afrontamento; As ideias estéticas de Marx – Vásquez, Adolfo Sanchez, Edições Paz e Terra; Conceito marxista do homem – Fromm, Erich, Zahar Editores. Internet: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index. cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=367; http://www.pbs.org/wnet/americanmasters/episodes/robertrauschenberg/about-the-artist/49/; http://www.historiadaarte.com.br/popart.html; http://www.slideshare.net/danifiuza/pop-art-histria-do-design-fesurv; http://owl.english.purdue.edu/owl/resource/722/05/.