Revista Agricultura & Engenharia

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Editorial

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Embrapa tem como missão “Viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira”. Sua principal atuação e composta por unidades de Serviços e Unidades Centrais, contando com 9.790 empregados, dos quais 2.444 são pesquisadores. Suas unidades (centros de pesquisa) estão distribuídas em quase todos os Estados do Brasil e suas ações de pesquisa têm abrangência nacional. Constituída por instituições públicas federais, estaduais, universidades, empresas privadas e fundações que, de forma cooperada, executam pesquisas nas diferentes áreas geográficas e campos do conhecimento científico. Confira o trabalho da Embrapa em nossa Materia de Capa e na Palavra do Presidente,materia assinada pelo diretor Maurício Antônio Lopes. Leiam também os artigos do Governador Geraldo Alckmim. do Professor Roberto Rodrigues. Destacamos ainda as seções Agronegócios, Governo, Maquinas e Equipamentos e finalizando a edição apresentamos a matéria Agronegócio Boas notícias para 2017. Este é nosso desejo que 2017 venha repleto de boas novas em todos os segmentos. Boa leitura a todos e aguardamos suas sugestões para materias das proximas edições. O Editor Revista A&E

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Expediente

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Agricultura Engenharia Editor Dr. José Márcio da Silva Araújo j.marcioaraujo@bol.com.br Publicidade Gilberto Cozzuol gibacozzuol@gmail.com.br Administração e Circulação Yvete Togni dra.ytogni@hotmail.com Diretora de Relações Externas Ariadne De Marchi Produção e Publicação Lucida Artes Gráficas lucida.editorial@uol.com.br Fotografia Assessoria de Imprensa Embrapa Arquivos - Arquivos A&E Correspôndencia Rua Carneiro da Cunha, 212 sl 1 Vila da Saúde - CEP 04144-000 Contato Fone - 11- 2339-4710 Fax - 11 - 2339-4711 Agradecimentos Jorge Duarte - Coordenador de Comunicação em Ciência e Tecnologia Secretaria de Comunicação (Secom) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - Brasília/DF jorge.duarte@embrapa.br Tel. 61) 3448-4012 / 9.9108.0567 www.embrapa.br

As opiniões expressas ou artigos assinados são de responsabilidade dos autores Conselho Editorial

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Prof. Dr. Roberto Rodrigues Prof. Dr. Paulo Sergio G. Magalhães Sr. Cesário ramalho da Silva Prof. Roberto Testeziaf Prof. Dr. Silvio Crestana

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Sumário AgroNews Notícias..............................................................06 Palavra do Presidente Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa.........................................14 Matéria de Capa 4 décadas de dedicação ao agronegócio Brasileiro................................................................16 Governo Desburocratização do Agro+ é modelo para outros ministérios .........................32 Plano Agrícola e Pecuário ...................................34 Agronegócio As consequências das mudanças macroeconômicas para o agronegócio ..............................36 O futuro do agronegócio brasileiro com Trump ................................................................... 38 Agronegócio brasileiro: projeções para 2026 ......................................................................40 Maquinas & Equipamentos Safra cheia deve impulsionar venda de má quinas agrícolas, diz Anfavea ..............................42 Case IH aposta na retomada do mercado de máquinas agrícolas..........................43 Pesquisa Diga não ao sódio....................................................44 Matsuda apresenta quatro variedades de se mentes de pastagem..............................................45 Artigo A Lógica da Intensificação Sustentável.................48 Brava gente!..............................................50 Os desafios do agronegócio...................................51 Evento Abisolo projeta 2017 positivo..............................53 Opinião Agronegócio Boas notícias para 2017.................54

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Entregas de fertilizantes “Lavoura digital” tem trator autônomo cresceram 23,6% em e reconhecimento de janeiro deste ano erva daninha

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s entregas de fertilizantes totalizaram 2,63 milhões de toneladas no Brasil em janeiro deste ano, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Historicamente, foi o maior volume entregue no mês. Em relação a janeiro de 2016, houve crescimento de 23,6%. A demanda neste momento é principalmente pelos setores de laranja e cana-de-açúcar. Para 2017, a Scot Consultoria estima um volume entregue entre 35,0 milhões e 36,0 milhões de toneladas de fertilizantes entregues no país. Em 2016 foram entregues 34,08 milhões de toneladas. Com relação aos preços, o dólar recuando em relação ao real em janeiro e fevereiro são fatores baixistas para as cotações no mercado brasileiro. Por outro lado, o da oferta, algumas empresas falam em uma disponibilidade menor de adubos e matéria-prima desde o final do ano passado. Em curto e médio prazos espera-se maior movimentação no mercado brasileiro de fertilizantes, fato que pode dar sustentação às cotações. Vai depender do câmbio e do ritmo das importações. Por fim, a Anda estimou os estoques de passagem em 2016 em 5,07 milhões de toneladas de fertilizantes, frente as 5,40 milhões de toneladas ao final de 2015.

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s agricultores João e José de Oliveira, da pequena cidade de Rancho Alegre, no interior do Paraná, preparam-se para um dos momentos mais importantes da cultura da soja: o plantio. Se ele for bem-feito e realizado em condições apropriadas, boa parte do resultado da produtividade estará garantida. Os produtores checaram no celular as estações meteorológicas da propriedade; verificaram os sensores de umidade do solo e, tudo acertado, decidiram enviar o trator, sozinho, para a roça. A máquina começa o plantio pela parte da fazenda que tem as melhores condições no momento, seguindo as recomendações das fontes de informações que eles têm. Os personagens dessa história são fictícios, mas as novas tecnologias e o trator autônomo, que dispensa o operador, já são realidade.

Safra brasileira cresce para 107 milhões

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AgResource elevou as estimativas da produção de soja brasileira para 107 MTs, nessa semana. Relatos dos produtores da maioria do Centro Oeste e Sul do país são bastante otimistas com produtividades acima do recorde de 2010/11 (em torno das 52 sacas/ha para ambas regiões). As queda dos preços na CBOT é pressionada pela elevada confiança do Mercado em uma safra gigantesca no Brasil. A qual começou com estimativas logo acima de 102 MTs, e agora já prevemos um adicional de 5 MTs devido ao cenário climático favorável durante os últimos meses. A ARC Brasil acredita que ainda há chances dos números finais brasileiros alcançarem 109 MTs, caso o Rio Grande do Sul volte a receber novas rodadas de chuvas significantes nas próximas semanas. Os números oficiais dos fundos mostram que mais posições compradas foram empilhadas durante a semana de 8 a 14 de fevereiro. Fundos não deverão "largar" o mercado de commodity tão cedo. 6

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John Deere é eleita uma das empresas mais admiradas do mundo

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John Deere está presente, uma vez mais, na lista de 50 Empresas Mais Admiradas do mundo. A listagem, elaborada pela revista americana Fortune, é considerada o “relatório definitivo” sobre reputações corporativas. A pesquisa leva em conta o desempenho das companhias em nove critérios, dentre eles inovação, gestão de pessoas, uso de ativos corporativos, responsabilidade social, qualidade da gestão, solidez financeira, investimentos de longo prazo, qualidade dos produtos e serviços e ainda capacidade de competir globalmente. “O ranking das Mais Admiradas da Fortune demonstra que os cerca de 60 mil funcionários da John Deere em todo o mundo estão focados

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em trabalhar para oferecerem o melhor aos nossos clientes, além de atuarem sob os valores fundamentais da companhia: integridade, qualidade, compromisso e inovação”, diz Samuel R. Allen, CEO da Deere. Para elaborar o ranking, a revista Fortune analisou 1.500 grandes companhias globais. A Deere & Company é líder mundial no fornecimento de serviços e produtos avançados e está comprometida com o sucesso dos clientes, que cultivam, colhem, transformam e enriquecem a terra para enfrentar a crescente demanda mundial por alimentos, combustíveis, habitação e infraestrutura. Desde sua fundação, em 1837, a John Deere tem oferecido produtos inovadores de alta qualidade, contribuindo para a construção de uma tradição de integridade.

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Bayer anuncia compra da Monsanto

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por US$ 66 bilhões

farmacêutica e companhia de produtos químicos alemã Bayer anunciou nesta quarta-feira (14) ter fechado acordo para a compra da norte-americana Monsanto, líder mundial dos herbicidas e engenharia genética de sementes, por US$ 66 bilhões. O negócio encerra uma disputa de meses – após a Bayer aumentar a sua oferta pela terceira vez – e tem sido tratado como o maior do ano até agora. Trata-se também da maior compra realizada até hoje por uma empresa alemã. Em comunicado, as empresas disseram que o "acordo de fusão definitiva" foi aprovado por unanimidade pelos Conselho de Administração da Monsanto, Conselho de Administração da Bayer e Conselho Fiscal da Bayer. Negócio de gigantes O acordo cria uma empresa que dominará mais de um quarto do mercado mundial combinado para sementes e pesticidas em uma rápida consolidação da indústria de insumos agrícolas. Saiba mais Juntas, Bayer e Monsanto se converterão em um gigante mundial com um volume de negócios anual de 23 bilhões de euros (US$ 25,8 bilhões) e quase 140.000 funcionários. Se concretizado, o negócio deverá criar criará a maior fabricante de insumos agrícolas e sementes do mundo. Segundo o jornal The Wall Street Journal, juntas, as duas empresas controlariam 28% das vendas de herbicidas. "A transição une duas empresas diferentes, mas fortemente complementares" em termos de sementes, fertilizantes e pesticidas, destaca a Bayer em comunicado, projetando sinergias anuais de US$ 1,5 bilhão após o terceiro ano de operação combinada. A fusão anunciada nesta quarta-feira é o capítulo mais recente de um processo crescente de concentração na indústria química. Com os preços reduzidos das matérias-primas, as americanas Dow Chemical e DuPont também anunciaram uma fusão no final de 2015. Ao mesmo tempo, a chinesa ChemChina deseja comprar a suíça Syngenta, que por algum tempo foi cortejada pela Monsanto. O movimento de fusões no setor tem sido motivado pela queda contínua dos preços agrícolas nos últimos três anos, que tem pressionado as empresas do setor. 8

Cepea:

Agronegócio soma 19 milhões de pessoas ocupadas

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esquisa do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, revela que, atualmente, chega em cerca de 19 milhões o número de pessoas ocupadas no agronegócio brasileiro, com destaque para o segmento primário (“dentro da porteira”), com 9,09 milhões de trabalhadores ou quase metade do total. Agroindústria e serviços empregam, respectivamente, 4,12 milhões e 5,67 milhões de pessoas, enquanto, no segmento de insumos do agronegócio, estão outras 227,9 mil pessoas. Os resultados foram obtidos com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do IBGE, referentes ao ano de 2015, e em coeficientes específicos com informações principalmente da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) calculados para o agronegócio. Os números não incluem os trabalhadores que produzem exclusivamente para próprio consumo.

Agrishow 2017 Revista A&E


New Holland testa trator

movido a biometano pela primeira vez no Brasil

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rator T6.140 da New Holland está sendo testado em uma propriedade rural no município de Santa Helena, oeste do Paraná, pela primeira vez. Nesse primeiro teste será possível verificar a performance do trator movido a biometano em terras brasileiras. O protótipo já tinha sido testado exaustivamente na fazenda La Bellotta, propriedade rural de um cliente New Holland localizada no norte da Itália, onde pôde ser conferida 40% de economia de combustível em comparação com um trator a diesel. “Com o teste em uma área brasileira, podemos confirmar a autonomia de pelo menos cinco horas da máquina nas condições que os produtores rurais do País trabalham. Também poderemos observar a economia no consumo de combustível”, conta o gerente de Marketing de Produto, Nilson Righi, que coordena o teste. Com capacidade para armazenar 300 litros de metano comprimido, o T6.140 tem à disposição a estrutura de produção de biometano da propriedade, localizada entre os municípios de

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Foz do Iguaçu e Cascavel, que já possui parceria técnica com a Itaipu Binacional em um projeto piloto de produção de combustível. André Haacke, dono da propriedade, afirma que, se os testes forem bem-sucedidos, deve haver economia nos custos. “A nossa propriedade tem uma estrutura na produção de biogás, com compressores e filtro, itens fornecidos pela parceria com a Itaipu, além do biodigestor”. A propriedade em Santa Helena tem cerca de 40 hectares, produz milho e aveia para o gado confinado e ainda cria aves para a produção de ovos. Em fevereiro de 2015 a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) regulamentou o uso do biometano em veículos no Brasil. O combustível é gerado a partir da decomposição de resíduos orgânicos, 100% renovável e tem características químicas semelhantes ao GNV. A regulamentação era aguardada desde 2011, ano em que foram iniciados testes com veículos movidos a biometano no país.

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Igus apresenta

bucha com promessa de alta resistência à compressão

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Igus tem uma novidade ao setor agrícola. Recentemente, a fabricante apresentou a bucha iglidur TX1, indicada para aplicações mais exigentes. Segundo a empresa, o produto se distingue pela alta resistência à compressão e por sua longa vida útil, dispondo ainda de elevada resistência a fluidos e a temperaturas de até 170 graus Celsius em curtos espaços de tempo. Produtos cada vez mais robustos e, ao mesmo tempo, leves são constantemente procurados pelo setor. Para a Igus, esses requisitos são preenchidos com material da bucha TX1 – especialmente em aplicações em que cargas muito pesadas são movidas. “Com uma resistência à compressão estática até 200 MPa e dinâmica de 140 MPa, conseguimos abranger inúmeras aplicações na maior classe de peso”, explica René Achnitz, diretor Comercial na Igus. O iglidur TX1, assim como as demais buchas deslizantes da marca, é autolubrificante e funciona a seco, podendo, no entanto, ser também aplicado com lubrificação em determinadas situações, como quando, em aplicações típicas no setor agrícola ou de máquinas de construção, o lubrificante é utilizado como proteção anticorrosiva para o eixo. O iglidur TX1 combina coeficientes de desgaste e boa fricção com alta estabilidade dimensional. “Devido às longas fibras reforçadas, as buchas deslizantes em iglidur TX1 absorvem mesmo os choques e impactos mais fortes, e permanecem muito estáveis na forma”, afirma Achnitz. Segundo ele, mesmo aplicações mais pesadas podem ser equipadas com buchas iglidur como uma alternativa às soluções metálicas, as quais exigem lubrificação contínua. Além disso, nestas, uma lubrificação insuficiente pode resultar em elevadas despesas de manutenção e reparação, bem como em paradas na produção.

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UNIPORT em Ação

tem continuidade em 2017

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A Arysta LifeScience anuncia parceria global com a DuPon

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e janeiro a abril, a Jacto vai realizar o Arysta LifeScience anuncia parceria projeto Uniport em Ação, dando contiglobal com a DuPont – Proteção de nuidade às atividades que foram iniPlantas para o desenvolvimento de nociadas no ano passado, em que cinco veículos vos inseticidas foliares à base do produto líder passaram por 80 pontos de treinamento, em Rynaxypyr® (chlorantraniliprole). O acordo de 12 estados. longo prazo entre as duas indústrias possibilita à Arysta LifeScience combinar as qualidades de O objetivo do projeto itinerante é capacitar Rynaxypyr® no controle de pragas com premivendedores da linha Uniport, discutindo as ca- xes com acetamiprid. Essa combinação possibiracterísticas das máquinas, apontado seus di- litará o desenvolvimento de novas e modernas ferenciais competitivos e para tirar dúvidas dos fórmulas de inseticidas, mais eficientes e direcionadas ao atendimento das necessidades que atuam no contato direto com os clientes. dos agricultores.“A partir desse acordo com a Nos treinamentos, que são realizados dire- DuPont, a Arysta LifeScience expande o desentamente nas revendas, são trabalhadas espe- volvimento de inseticidas foliares próprios para cificações, pontos fortes do produto e compa- proteção de cultivos de especialidades”, explica rativos dos produtos Jacto com concorrentes do Diego Lopez Casanello, presidente da empresa. “As novas formulações em premix terão o poder mercado. de controlar um espectro de enfermidades maior do que a atual linha Rynaxypyr®, ampliando sig“A previsão é passar por 55 revendas em 14 nificativamente sua utilização por produtores ruestados e também no Paraguai, até o final do rais em muitos países em todos os continentes”. mês de abril. Nesse período, o objetivo é treinar “Nosso acordo com a Arysta LifeScience amcerca de 530 vendedores. O Uniport em Ação plia os investimentos em Rynaxypyr e, o mais facilita o nosso acesso a esse público, agilizan- importante, fornece aos agricultores novas ferrado o contato, diminuindo os custos de deslo- mentas para manejar as pragas com eficiência”, camentos para treinamentos e nos colocando explica Timothy P. Glenn, presidente da DuPont mais próximos às particularidades de cada re- – Proteção de Plantas. A combinação de Rynaxypyr com acetamigião”, afirma Rafael Arcuri Neto, coordenador de treinamento e documentação técnica da prid ofecerá múltiplos benefícios aos agricultoempresa, que também explica que “realizamos res, incluindo: esta ação nesse período do ano para que as * Ampliação do espectro de controle de Rynaequipes estejam alinhadas desde o começo e xypyr no combate a insetos, como mosca branca, também porque é o período de menor deman- pulgões, certas lepidópteras e micro lepidópteras. da para treinamentos de técnicos e operadores no nosso Centro de Treinamento em Pompéia/ * Atuação em ampla gama de culturas agrícolas, incluindo grandes culturas e cultivos de espeSP”. cialidades.

No mês de fevereiro, as equipes estarão * Flexibilidade de aplicação adequada ao manenos estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Mato jo integrado de pragas. Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Sergipe e * Eficaz controle de pragas resistentes a outros Tocantins. produtos. Revista A&E

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BASF - alerta para perda de produtividade no canavial causada pela ferrugem alaranjada

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evantamento feito pelo Instituto Agronômico (IAC) em uma área de 6,11 milhões dos 9,5 milhões de hectares de cana do Centro-Sul do Brasil apontou que a falta de investimento na renovação do canavial elevou a idade média das plantações para 3,6 anos. O estudo, realizado em 217 usinas e destilarias, que representam aproximadamente 66% da região Centro-Sul, também mostrou que a área que contempla os plantios novos com cana-de-açúcar alcançou, até meados de dezembro, 10,6% do total cultivado em 2016, podendo chegar a 12% até o fechamento do ano safra em março de 2017. Aumentar a produtividade dos canaviais passa pela renovação da lavoura, utilizando variedades com boas características agronômicas, mudas sadias e tratos culturais. Outro manejo importante é o controle químico de forma preventiva. Nesse contexto, a ferrugem alaranjada é uma das doenças que mais impacta na produtividade. Se não for corretamente controlada, ela pode causar perdas de até 50% em toneladas de cana por hectare e de até 20% no teor de açúcar da planta. A BASF, empresa química líder em inovação, oferece o fungicida Opera® que tem como objetivo o controle da ferrugem alaranjada e de

outras importantes doenças. A solução também promove efeitos fisiológicos positivos que incrementam o rendimento do cultivo, como aumento do teor de açúcar e maior vigor nas plantas. Esses ganhos de produtividade e qualidade do canavial se devem ao efeito AgCelence®, tecnologia da BASF relacionada aos resultados do efeito fisiológico positivo que a molécula F500 promove nas plantas. “Produto com tecnologia AgCelence® vem para auxiliar na retomada do aumento da produtividade e consequentemente na redução de custos, dois dos maiores desafios do setor sucroenergético“, ressalta Cristiano Peraceli, gerente de Marketing de Cana da BASF. Prezado jornalista, favor contatar a BASF, por meio de sua área da Comunicação Corporativa, em caso de informações sobre os produtos e sua correta aplicação. Uso exclusivamente agrícola. Aplique somente as doses recomendadas. Descarte corretamente as embalagens e restos de produtos. Incluir outros métodos de controle do programa do Manejo Integrado de Pragas (MIP) quando disponíveis e apropriados. O Opera® está devidamente registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento sob o número: 08601.

Tramontini anuncia parceria com fabricante italiana

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Tramontini anunciou uma parceria com a empresa italiana de tratores Antonio Carraro. Inicialmente, o negócio com a multinacional visa distribuir e comercializar três versões de máquinas, nos modelos compacto, articulado e reversível. Os equipamentos possuem potências entre 50 cv e 75 cv, desenvolvidos para regiões de difícil acesso, como montanhosas, onde geralmente são cultivadas frutas, hortaliças e café, entre outras culturas. Entretanto, faz parte do acordoa nacionalização de tecnologia, onde as máquinas 12

passariam a ser montadas no parque fabril da Tramontini. A Antonio Carraro tem sede em Campodarsego, na Itália, e atua há mais de uma década na fabricação de tratores. “Esse acordo vai mudar nosso posicionamento no mercado. Vamos incorporar ao nosso portfólio um produto diferenciado, que ainda não é oferecido no mercado nacional. Futuramente, nosso objetivo é lançar uma versão nacional, montada aqui no Rio Grande do Sul”, revela o diretor executivo da indústria, Ubirajara Choairi. Revista A&E


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PALAVRA DO PRESIDENTE

A Lógica da Sustentáve

Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa.

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população segue crescendo, mas o planeta não! Teremos, portanto, que intensificar o uso da base de recursos naturais do globo, de forma sustentável, para atender às necessidades de uma população cada vez maior e mais exigente. O Brasil segue célere na adaptação de sua agropecuária a esta realidade. O futuro da nossa agropecuária será, cada vez mais, baseado na integração de lavouras, pecuária e até florestas, tudo no mesmo espaço. Revista A&E


a da Intensificação ável

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Temos cerca de 70 milhões de hectares de pastagens degradadas e de baixa produtividade no Brasil que poderão ser ocupados por sistemas integrados. Essa é a grande fronteira para expansão da agropecuária brasileira nas aproximas décadas, especialmente na faixa tropical, ou região central do Brasil onde se concentra o nosso cerrado. A integração lavoura-pecuária ou lavoura-pecuária-floresta permite efeitos sinérgicos entre os diferentes fatores de produção, contemplando a adequação ambiental, a valorização e o bem-estar dos seres humanos e a viabilidade econômica. Objetivamente, para o agricultor, viabiliza um modelo de agropecuária ocorrendo durante 365 dias no ano, com intensificação do uso da terra, maior produção por área ocupada, sem desgastes para o meio ambiente. Através da alternância de lavouras, pastos, pecuária e florestas, no mesmo espaço, o agricultor pode elevar a produtividade do sistema de produção, promovendo aumentos nos estoques de matéria orgânica no solo e reduzindo significativamente a emissão de gases de efeito estufa. O uso mais intensivo das áreas já abertas para agricultura leva ao aumento de eficiência e consequente redução de pressão sobre ambientes frágeis, em especial as florestas naturais. A Embrapa conta com a parceria da Rede Fomento ILPF para desenvolvimento de disseminação de tecnologias de integração. Esta parceria público-privada é formada por Cocamar, Dow AgroScience, John Deere, Parker, Syngenta e a grande rede de Unidades da Embrapa, que atuam juntos para acelerar a adoção dos sistemas integrados por produtores rurais em todo o BraRevista A&E

sil. Criada em 2012, a rede opera com 97 Unidades de Referencia Tecnológica (URTs), que são plataformas de teste e validação de tecnologias distribuídas em todos os biomas brasileiros. É crescente o número de propriedades que já vêm adotando a lógica dos sistemas integrados no Brasil. Em função das preocupações ambientais, decorrentes das mudanças climáticas globais e do novo Código Florestal, cresce entre os produtores brasileiros a consciência de que precisarão ampliar a eficiência - com maior produtividade por área - além da resiliência dos sistemas produtivos, que deverão ganhar capacidade de resistir a estresses mais intensos. Importante destacar que os sistemas integrados, juntamente com o plantio direto na palha, o plantio de florestas comerciais, a fixação biológica de nitrogênio e o tratamento de resíduos animais compõem um conjunto de tecnologias fundamentais para sustentação do Programa Agricultura de Baixo Carbono – ABC, talvez a maior e mais ousada plataforma de redução das emissões de gases de efeito estufa na agricultura em implementação em todo o mundo. Esse protagonismo e as oportunidades de geração e disseminação de tecnologias capazes de promover a expansão sustentável da produção agropecuária é que marcarão o futuro do agronegócio brasileiro. Assim, o Brasil estará ajudando a produzir a próxima grande revolução agropecuária no cinturão tropical do globo. Continuaremos respondendo à necessidade de produzir volumes crescentes de alimentos que garantam segurança nutricional no nosso País e, também, a elevação da nossa capacidade exportadora. É para isso que estamos trabalhando. 15


Matéria de Capa

Camin para o P

roduzir cada vez mais, em espaços cada vez menores, com mais eficiência e sem agredir a natureza. Nas próximas décadas, esse é o grande desafio para a agropecuária brasileira, que carrega de um lado a pecha de vilã do meio ambiente e, de outro, a responsabilidade de garantir a segurança alimentar de milhões de pessoas ao redor do mundo. Para enfrentar esse desafio, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem ajudando o País a modernizar sua agricultura e a desenvolver formas criativas de fortalecer o seu protagonismo. Um exemplo de avanço que está em construção no momento, com a liderança da Embrapa, é o processo de intensificação sustentável da agropecuária, por meio da integração lavoura-pecuária (ILP) e lavoura-pecuária-floresta (ILPF), considerada por muitos a mais nova fronteira para a pesquisa no Brasil. Nesta edição da Revista Agricultura e Engenharia você confere como a Embrapa está ajudando o Brasil a aumentar sua produção sem aumentar um hectare sequer de área plantada e sem degradar o meio ambiente, gerando assim mais riquezas para o País e para o produtor rural. 16

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inhos a o futuro

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Produção integrada, agropecuária sustentável

Estima-se que o Brasil tenha em torno de 50 a 60 milhões de hectares de pastagens degradadas. Essas são as áreas ideais para expansão da agricultura, da pecuária e da base florestal brasileira, sem a necessidade de novos desmatamentos. “Faz mais sentido recuperar áreas de pastagens degradadas e intensificar seu uso do que abrir novas áreas para a exploração agrícola”, destaca o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes. Ele ressalta que as tecnologias de integração lavoura, pecuária e floresta já permitem desenvolver num mesmo espaço múltiplas atividades produtivas, construindo no processo a fertilidade do solo. Tais inovações tecnológicas serão fundamentais para sustentação do Programa Agricultura de Baixo Carbono – ABC, e diversas propriedades brasileiras já vêm adotando a lógica dos sistemas integrados. “Em breve, os sistemas integrados nos permitirão produzir carne, grãos, fibras e energia com emissões líquidas de carbono muito baixas ou, em algumas situações, com captura maior que emissão, um grande feito que vai Revista A&E

projetar a agropecuária brasileira como uma das mais sustentáveis do mundo”, afirma Lopes.

Conceito A ILPF é uma estratégia de produção que integra as possíveis combinações de diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma propriedade. Pode ser feita em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades. Esta forma de sistema integrado busca otimizar o uso da terra, elevando os patamares de produtividade, diversificando a produção e gerando produtos de qualidade. Com isso reduz a pressão sobre a abertura de novas áreas. Entre os principais benefícios da ILPF estão a otimização e intensificação da ciclagem de nutrientes no solo; o melhoramento da qualidade e conservação das características produtivas do solo; a manutenção da biodiversidade e sustentabilidade da agropecuária; e a melhoria do bem-estar animal em decorrência do conforto térmico e melhor ambiência. Também são benefícios desse modelo a diversificação da produção; aumento da produção de grãos, fibras, carne, leite e produtos 17


Matéria de Capa

OLIVEIRA, Tadário Kamel de

madeireiros e não madeireiros; maior eficiência de utilização de recursos naturais; redução na pressão pela abertura de novas áreas com vegetação nativa; redução da sazonalidade do uso da mão de obra; geração de empregos diretos e indiretos; e flexibilidade, que permite ser adaptado para diferentes realidades produtivas.

Por: PORPINO, Gustavo

Plantação de milho com mulateiro e bordão de velho no Acre

Por: ANTUNES, Joseani Mesquita

ILPF na Embrapa Cerrados

Gado de corte sobre pastagem de trigo duplo propósito BRS Tarumã, na Fazenda Librelotto, em Boa Vista das Missões, RS.

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Exemplo de sucesso Em dez anos de ILPF, Fazenda Santa Brígida aumentou a produtividade em dez vezes Em 2006, quando assumiu a gestão da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO), Marize Porto Costa estava diante de uma propriedade com pastagens degradadas e pecuária de baixa produtividade. Ao constatar o elevado custo da recuperação direta dos pastos, ela decidiu buscar orientação na Embrapa. Foi assim que conheceu os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), apresentados pelos pesquisadores João Kluthcouski e Homero Aidar. Com a integração lavoura-pecuária, Marize poderia recuperar as pastagens da fazenda. “A agricultura pagaria as contas e o pasto sairia de graça. Essa tecnologia caiu do céu para mim”, conta. Sem contar com maquinário, mão-de-obra nem muito conhecimento, ela contratou um vizinho para realizar o trabalho de implantação das primeiras lavouras de soja e milho do sistema. “Colhi e vendi o grão e paguei as contas. No final, o que a Embrapa me prometeu estava lá (no campo): um pasto lindo de primeiro ano. E de graça, porque a agricultura pagou as contas”, lembra. No terceiro ano de sistema de integração na fazenda, o componente florestal foi incorporado com o plantio de eucalipto. Além de fornecerem madeira, o que representa mais um ganho econômico, as árvores proporcionam sombreamento para o gado e conforto animal, além de fixarem carbono do sistema.

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Em 10 anos de adoção do sistema ILPF, a pecuária de baixa produtividade, cuja lotação animal na safra 2006/07 não passava de 0,5 UA/ha, produzindo 2,5@/ha/ano, sendo que na safra 2015/16 está em 4 UA/ha, com produção de 25@/ha/ano, ou seja, 10 vezes mais. As lavouras também ficaram mais produtivas ao longo do tempo. No mesmo período, as produtividades médias de soja e de milho passaram, respectivamente, de 45 sacas/ha para cerca de 65 sacas/ha e de 90 sacas/ha para uma projeção de até 190 sacas/ha. A diversificação de atividades da fazenda também promoveu ganhos sociais. “Como é um sistema diversificado, onde temos três fazendas dentro de uma, permitiu que eu contratasse mais pessoas, desse mais emprego e treinasse mais pessoas para trabalhar com a gente. É um ganho social muito importante, no nosso ponto de vista”, afirma. Após uma década de adoção do sistema, Marize vê as pastagens da fazenda totalmente recuperadas. “Tudo o que quero agora é aumentar o valor agregado em cada um dos itens”, diz. Para isso, a ideia é intensificar a produção de soja e milho na mesma área, produzir carne de animais resultantes de cruzamento industrial e conduzir as árvores do sistema para a produção de madeira.

vam degradados, foi possível elevar no primeiro pastejo as taxas médias de lotação de uma para até cinco unidades-animal (UA) por hectare. O resultado foi observado em solos arenosos do oeste paulista, nos municípios de Presidente Prudente, Presidente Wenceslau e do Oeste do Paraná, região do arenito de Maringá. A UA corresponde a um animal de 450 quilos de peso vivo. Os dados foram registrados pelo pesquisador da Embrapa Cerrados João Kluthcouski. “São solos considerados difíceis, mas que com o uso da tecnologia se tornam fáceis [de manejar]”, declara.

Integração com lavoura quintuplica lotação animal após recuperar pastos Após dois anos de cultivo de capim, seguidos de dois anos de soja, em pastos que antes estaRevista A&E

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Por: ALCANTARA, Pedro

Matéria de Capa

Por: LOBATO, Breno

Unidade: Embrapa Pesca e Aquicultura

Por: Rosa, Ronaldo

Sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) implantado na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO). Fotos de março de 2012.

As pesquisas mostram que a soja tem se apresentado como uma alternativa viável para lidar com solos arenosos e em estado de degradação. A recuperação se dá por meio da integração lavoura-pecuária (ILP). Há ganhos tanto em produtividade, quanto no uso e conservação do solo. De acordo com os dados obtidos nas pesquisas de Kluthcouski, as pastagens degradadas são recuperadas, permitindo a engorda dos rebanhos. A técnica consiste em alternar espécies vegetais, numa mesma área, conservando o solo e diminuindo sua exaustão. “Podemos dizer que a pastagem beneficia a soja e a soja beneficia a pastagem, em rotação”, diz o pesquisador da Embrapa Soja (PR) Alvadi Antonio Balbinot. Ele explica que a soja fixa nitrogênio (N) no solo e se torna uma combinação perfeita com pastagem, formada por gramínea que não retém esse elemento. A fixação biológica de nitrogênio (FBN) economiza a aplicação desse macronutriente no solo. Balbinot defende a soja como alternativa de cultura economicamente interessante ao pecuarista. “Produzir soja significa gerar proteína e garantir a produção de frango, suínos, leite e outros produtos animais, sem esquecer do óleo. O mercado para os grãos da oleaginosa é garantido”, afirma.

Colheita do milho no sistema ILPF.

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Revista A&E


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Panorama da degradação Atualmente, mais da metade das pastagens localizadas no Cerrado brasileiro encontram-se em algum estágio de degradação, segundo dados da Embrapa Monitoramento por Satélite (SP). São 32 milhões de hectares em que a qualidade do pasto está abaixo do esperado, no cenário mais realista, comprometendo a produtividade e gerando prejuízos econômicos e ambientais. Boa parte desses solos é arenoso e poderia ser recuperada, possibilitando até triplicar a produção de carne nessas áreas ou contribuir para a expansão da agricultura, além de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. "São milhares de famílias vivendo sem perspectivas nessas áreas. A adoção da ILP permitiria quase dobrar a área de produção de lavouras anuais de grãos, que hoje é de 55 milhões de hectares", observa Kluthcouski.

Revista A&E

Se adotada e conduzida de modo adequado e por um período suficientemente longo, o cultivo de soja, por meio de rotação de culturas, incluindo pastagens, apresenta inúmeras vantagens ao pecuarista: produção diversificada de alimentos e outros produtos agrícolas, melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo; auxílio no controle de plantas daninhas, doenças e pragas; reposição de matéria orgânica e proteção do solo contra a ação dos agentes climáticos. O plantio de braquiária costuma quebrar o ciclo de doenças e pragas que atacam a soja. "Porém, é bom lembrar também que soja não substitui a pastagem. Ela entra nas propriedades como uma boa alternativa rentável", ressalta o pesquisador Balbinot, da Embrapa Soja. Algumas iniciativas desenvolvidas pela Embrapa, em parceria com outras instituições, nos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Oeste Paulista e Oeste Baiano, revelam que por

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Por: FARIA, Gabriel Rezende

Matéria de Capa

Por: LOBATO, Breno

Animais de corte em sistema de integração-lavoura-pecuária-floresta (iLPF), um dos processos pesquisados pela Embrapa Agrossilvipastoril. Esta foto foi tirada na fazenda Gamada, em Nova Canaã do Norte (MT), uma das URTs de iLPF acompanhadas pela Embrapa em MT.

Por: FARIA, Gabriel Rezende

Bovinos em sistema de Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO). Fotos de março de 2012.

Plantio direto de soja sobre palhada de milho e braquiária em sistema ILPF

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meio do ILP a recuperação de pastagens é viável e apresenta resultados financeiros positivos com o passar dos anos. Curiosamente, um dos maiores obstáculos para a adoção da ILP é o costume arraigado da monocultura no cenário nacional. "[A ILP] demanda o desenvolvimento de novas habilidades por parte dos pecuaristas e dos agricultores, incentivando uma saudável troca de experiências e o fortalecimento de parcerias em favor do aumento da produtividade do campo, porém, isso envolve a quebra de paradigmas", analisa o pesquisador Guilherme Lafourcade Asmus, chefe-geral da Embrapa Agropecuária Oeste (MS). Para o secretário de Produção e Agricultura Familiar do Governo de Mato Grosso do Sul, Fernando Lamas, a Integração Lavoura-Pecuária é uma das soluções, dentro do Plano ABC do governo federal, para ocupar de forma produtiva os nove milhões de hectares de pastagens degradadas existentes em Mato Grosso do Sul. "É uma tecnologia acessível, que pode ser adotada pelos grandes e médios pecuaristas de gado de corte e pelos pequenos produtores de gado de leite e que traz grandes benefícios para toda a sociedade", afirma Lamas.

Sistema São Mateus A região da Costa Leste de Mato Grosso do Sul, também conhecida como Bolsão-Sul-Mato-Grossense, possui solo arenoso e chuvas distribuídas durante o ano de forma irregular. Há muitos anos, acreditava-se que, por esses motivos, seria impossível implantar a agricultura, especialmente o cultivo de soja, na região. Mas, depois de oito anos de trabalho com soja, pastagem e pecuária, profissionais da Embrapa e da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) obtiveram resultados impressionantes. A média produtiva de carne subiu de seis para 20 arrobas por hectare e ainda foram obtidas 50 sacas de soja por hectare, em média, no mesmo sistema.

Revista A&E


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Isso significa que a prática da ILP viabiliza a agricultura na região, sem abandonar a pecuária. O sistema utilizado no Mato Grosso do Sul é o São Mateus (SSMateus). A diferença dessa tecnologia, validada pela Embrapa Agropecuária Oeste (MS) e Embrapa Gado de Corte (MS), é a correção química e física do solo antes de implantar a lavoura, além da formação de palhada para o plantio direto da soja. “Após a colheita, a área é usada como pasto por dois anos, depois a soja retorna e assim vão se alternando”, explica o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Júlio Cesar Salton.

Benefícios da integração lavoura-pecuária no Matopiba

Marcos Teixeira é analista de transferência de tecnologia da Embrapa Meio Norte (Teresina-PI) e coordena o projeto de transferência de tecnologia em ILPF no Matopiba. Segundo ele, a região tem tudo para aumentar essa integração: “nós estamos apenas nos primeiros produtores pioneiros. Não temos nenhum dado ainda pra registrar se tem 5% de integração lavoura-pecuária e mais o componente florestal, se são 10% ou se são 20%”, aponta. Ele diz que os Cerrados existentes nos quatro estados do Matopiba são parecidos em termos de oportunidade para o agronegócio. Luciano Vilela, pecuarista em Araguatins-TO, vem inserindo o componente agrícola de forma gradativa em sua área. Segundo ele, “com essa nova proposta da agricultura integrada com a pecuária, a gente pensa em não ter aquele pasto mais de muitos anos, com um zelo muito caro pra manter durante 20, 30 anos”. Ou seja, o produtor refere-se a possível diminuição de custos financeiros relacionados à manutenção do capim para o gado, situação permitida com a integração feita com o componente agrícola. Perguntado se indicaria a outros produtores também adotarem a integração lavoura-pecuária, o gerente da Agropecuária Santa Luzia afirma que sim. “Por mais que cada caso é um caso. Logicamente, a fazenda hoje é um projeto modelo, de sucesso, na região do Matopiba. Mas esses agricultores que estão tendo a oportunidade de visitar e ver essa referência têm a oportunidade de adaptar essa estrutura dentro da propriedade, dentro da microrregião deles”, opina Adelmo.

“São vários benefícios. Principalmente agregação de valor. A empresa que implanta sistemas integrados consegue manter altas produtividades, tanto da cultura de grãos (como soja, milho e sorgo), como consegue ter um ganho muito bom também na parte de pecuária”, afirma Adelmo Oliveira, gerente-geral da Agropecuária Santa Luzia, que fica em São Raimundo das Mangabeiras (MA) e pratica integração lavoura-pecuária (ILP) há 10 anos. O proprietário da Agropecuária Santa Luzia é Oswaldo Massao. De acordo com ele, a produtividade, na década de 1990, era em média de 40 a 42 sacas de soja e entre 90 e 100 sacas de milho por hectare. Desde que implantou a integração lavoura-pecuária, há cerca de 10 anos, a fazenda viu as médias aumentaram para cerca de 60 sacas e para quase 160 sacas, respectivamente. Ou seja, houve consideráveis Integração aumenta ganhos de produtividade nas duas culturas produção de grãos na agrícolas. Referindo-se à experiência em sua propriedade, ele afirma que “esses três itens eu agricultura familiar acho o pilar do sucesso: o melhoramento da genética, a plantabilidade (plantadeiras mais moPesquisas comprovam que associar plandernas) e a palhada de braquiária, que aguenta tios agrícolas e produção pecuária ao cultivo de muito tempo”. espécies florestais nativas da Amazônia ajuda Revista A&E

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Matéria de Capa a recuperar a fertilidade do solo de antigas áreas, com ganhos significativos na produtividade de grãos. Em propriedades rurais familiares do Acre, essa combinação mais que dobrou a produtividade de milho e aumentou em 60% a produção de feijão.

Por: FARIA, Gabriel Rezende

A demanda por tecnologias sustentáveis para o setor agropecuário e florestal tem contribuído para intensificar as pesquisas sobre a eficácia da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) nas diversas regiões brasileiras. Um projeto executado pela Embrapa, em parceria com instituições da iniciativa privada como Cocamar, Dow, John Deere, Parker, Syngenta e Schaeffler, participantes da Rede de Fomento à ILPF, estuda diferentes modalidades de sistemas integrados, em estados da Região Norte, considerando particularidades da floresta e demandas produtivas de cada localidade.

Por: ARAUJO, Clenio

Plantio direto de soja sobre palhada de milho e braquiária em sistema ILPF

fotos tiradas durante o I Encontro de ILPF e do Plano ABC na Região do Matopiba

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No Acre, as pesquisas envolvem combinações que priorizam o uso de árvores nativas, culturas tradicionais e forrageiras recomendadas para o estado. Os primeiros resultados revelam que o uso de espécies florestais como bordão-de-velho e mulateiro na composição desses sistemas ajuda a restabelecer a capacidade produtiva do solo, condição essencial para o bom desempenho das lavouras e da pastagem. O trabalho tem a parceria de agricultores familiares e visa definir arranjos mais adequados às condições de clima e solo do estado, além de diferentes estratégias de implantação, com foco na melhoria da produção agrícola e pecuária. “Os arranjos avaliados possibilitam mais de uma safra de grãos por ano e retorno financeiro em curto prazo, com ganhos na produção agrícola superiores aos custos de implantação do sistema. Além do caráter autorremunerável, essas composições agregam benefícios ambientais, aspecto que ajuda a confirmar a sua viabilidade”, explica o pesquisador Tadário Kamel, responsável pelos estudos com ILPF no Acre. Revista A&E


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Estratégias de implantação No Acre, o uso de sistemas integrados ainda é novidade na agricultura familiar e o desafio inicial dos pesquisadores foi sensibilizar os agricultores quanto ao potencial desta tecnologia para diversificar e melhorar a produção. No processo de implantação das composições estudadas, a principal estratégia envolveu o plantio de árvores, em diferentes espaçamentos, e o cultivo de milho nas entrelinhas, utilizando plantio convencional no primeiro ciclo produtivo e plantio direto na segunda safra (milho safrinha) por três anos consecutivos. A pastagem, formada com capim Braquiária brizantha, cultivar Xaraés, foi implantada junto com a última safra agrícola. Segundo o pesquisador, há um efeito em cadeia entre os diferentes componentes. A adubação do solo, destinada à agricultura, favorece os demais componentes. “Nessa dinâmica, os índices de sobrevivência e crescimento tanto do bordão-de-velho como do mulateiro variaram entre 85% e 100% e confirmam a adaptação dessas espécies ao sistema. Em outo momento, a pastagem é beneficiada pela adubação residual da lavoura e por uma adubação natural do solo, proporcionada principalmente pelas leguminosas. Isso contribui para potencializar o desempenho da pecuária”, afirma.

andamento destacam o potencial dessas espécies em sistemas integrados. O bordão-de-velho é uma leguminosa, de ocorrência espontânea, com alta capacidade de fixar nitrogênio no solo, característica que ajuda a melhorar a fertilidade desse recurso e o valor nutritivo da pastagem. Segundo Kamel, em áreas a pleno sol, o teor de proteína bruta na forragem foi de 8,5%, enquanto à sombra da copa do bordão-de-velho esse índice subiu para 11,45%. Já o crescimento da pastagem sob a copa da árvore aumentou em 20% em relação ao pasto a pleno sol. O interesse pelo mulateiro está mais relacionado aos benefícios proporcionados pelas características da árvore e pelo valor comercial da madeira. Essa espécie nativa de grande porte e crescimento rápido possui copa de formato oval e densidade rala, permitindo ao mesmo tempo luz e sombreamento moderados, condi-

Arranjos regionais O uso de árvores nativas na composição de sistemas integrados tem sido uma tendência da pesquisa científica, como forma de focar em particularidades dos estados e regiões e conservar os recursos naturais. De acordo com o Guia Arbopasto, publicado pela Embrapa em 2013, existem 51 espécies florestais com indicação de uso associado a pastagens nos diversos estados amazônicos, entre elas o bordão-de-velho (Samanea tubulosa) e o mulateiro (Calicophyllum spruceanum). As pesquisas em Revista A&E

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Matéria de Capa

Por: ARAUJO, Clenio

ções que influenciam positivamente a qualidade da forragem.

fotos tiradas durante o I Encontro de ILPF e do Plano ABC na Região do Matopiba

Por: FARIA, Gabriel Rezende

“Pensando em todas essas vantagens, procuramos mesclar espécies leguminosas, que podem oferecer serviços adicionais, com espécies madeireiras comerciais na composição de arranjos tipicamente regionais. Essas combinações garantem continuidade às atividades produtivas e renda para as famílias, condições cruciais para a permanência no campo”, esclarece Kamel.

Resultados Experimentos de integração lavoura-pecuáriafloresta realizados na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT)

Por: BASTOS, Fabiano Marques Dourado

A presença dessas árvores em pastagens proporciona ainda conforto térmico para o rebanho e oferta de vagens ricas em proteínas, que ajudam a suplementar a dieta alimentar animal, fatores importantes na produtividade pecuária. Em sistemas integrados, o componente arbóreo agrega a possibilidade de contribuir para a recomposição de áreas desmatadas, favorecendo a adequação ambiental da propriedade, além de oferecer madeira como renda extra para as famílias.

Dia de campo realizado no ano de 2011 na Embrapa Cerrados durante a reunião de chefes.

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O paranaense João Evangelista, proprietário da Colônia São João, localizada no Município de Senador Guiomard, no Acre, cedeu três hectares de sua propriedade para implantação da primeira Unidade de Referência Tecnológica (URT) e descobriu que a produção integrada proporciona múltiplas vantagens. “Sempre trabalhei com agricultura e pecuária de forma separada, mas aprendi que posso unir essas atividades e ainda associar o plantio de árvores, com menos custos e mais benefícios. Além dos ganhos na agricultura, ainda fiquei com o pasto recuperado e arborizado. Agora posso investir mais na pecuária”, diz o agricultor. Na primeira safra, a produção de milho convencional foi de cinco toneladas/hectare, evoluindo para sete toneladas no segundo e terceiro anos. Já o milho safrinha produziu em torRevista A&E


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colheita de soja feita no experimento de Integração Lavoura Pecuária Floresta na Embrapa Cerrados em Brasília.

no de 3,5 toneladas/hectare. “Esse desempenho pode ser considerado excelente, em comparação com a produtividade média da cultura no estado, de 2,5 toneladas/hectare”, destaca Kamel. Na propriedade da agricultora Francineide Paiva da Silva, no Assentamento Moreno Maia, em Rio Branco, o experimento iniciado há três anos integra o componente arbóreo com o cultivo de feijão, milho, mandioca e melancia, em sistema de rotação de culturas, em uma área de 2,5 hectares. No início, o solo endurecido indicava elevado estágio de degradação, o que dificultava os cultivos agrícolas e causava prejuízos à família. “A produção de 900 quilos de feijão por hectare, superior à média do estado, de 550 quilos por hectare, e da região Norte, de 700 quilos por hectare, confirma a eficiência do sistema”, ressalta Kamel. Atualmente, com a área arborizada e o solo fértil, a pastagem está em fase de implantação para a criação de gado leiteiro, uma novidade para Francineide: “Não imaginava que ainda conseguiria produzir aqui. A produção combinada mostrou que é possível permanecer na agricultura, ter boa produção e investir também em outras atividades”. No componente pecuário, o foco das pesquisas é a recuperação de pastagens degradadas, principal problema da pecuária na Amazônia 28

Por: Rosa, Ronaldo

Por: BASTOS, Fabiano Marques Dourado

Matéria de Capa

Visão em perspectiva do detalhe do tronco e galhos do eucalipto.

e em outras regiões. Estima-se que no Acre existam 500 mil hectares de pastagens com algum nível de degradação e grande parte dos agricultores familiares deixa de recuperar essas áreas por causa do elevado custo dos insumos no mercado local. Embora iniciais, dados relativos ao desempenho do pasto em sistema de integração no Acre são animadores. Os pesquisadores observaram que o pasto suporta até três unidades animal por hectare, produtividade similar à encontrada em pastagens da região em excelentes condições de pastejo e bem manejadas. Demanda crescente Principal matéria-prima utilizada na fabricação de ração para peixes e aves no Acre, o milho é uma cultura promissora para o estado. Nos últimos cinco anos, a implementação de políticas públicas estaduais que ampliaram a abertura de linhas de crédito para a agricultura familiar e apoiaram a implantação de empreendimentos voltados para o processamento industrial do milho contribuiu para aumentar o interesse de famílias rurais pela cultura e a procura por esse produto no mercado local. Além disso, há uma tendência de uso do milho como principal cultura no consórcio com capins para recuperar pastagens degradadas na região. No contexto da agricultura familiar, além de representar importante fonte de renda, o milho ajuda a garantir segurança alimentar. Apesar de sua relevância econômica e social no estado, Revista A&E


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os cultivos são realizados predominantemente por agricultores familiares com reduzido uso de tecnologias e insumos. Como reflexo, a produtividade da cultura é baixa – 4,9 toneladas/hectare – menos da metade da média nacional e, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), insuficiente para suprir a demanda interna. “Esse cenário contribui para uma demanda crescente por recomendações técnicas para uso de sistemas integrados de modo a ampliar a produção agrícola no estado, primordialmente a de milho, aliada à recuperação de pastagens”, conclui Kamel. Pesquisa mostra lucratividade de sistemas ILPF

O retorno do investimento feito pelos produtores que adotam sistemas integrados de produção como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é maior do que daqueles que utilizam sistemas exclusivos de lavoura ou pecuária. O resultado foi identificado na Embrapa Agrossilvipasto-

Revista A&E

ril por meio da avaliação de quatro Unidades de Referência Tecnológica e Econômica (URTE) em Mato Grosso. Na fazenda Dona Isabina, em Santa Carmem (MT), por exemplo, no período de 2005 a 2012, para cada R$ 1 investido pelo proprietário no sistema integrado, o lucro foi de R$ 0,53. Já a fazenda modal da região, com agricultura exclusiva, neste mesmo período teve um prejuízo de R$ 0,31. O lucro anual de cada hectare na ILPF foi de R$ 230, muito superior ao prejuízo anual médio de R$ 116 da sucessão soja e milho. Trabalhando com integração lavoura-pecuária-floresta, a Fazenda Brasil, em Barra do Garças, também obteve resultados superiores à fazenda modal da região, com retorno de R$ 0,89 por real investido contra R$ 0,35 da propriedade de comparação. O pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Júlio César dos Reis explica que cada caso é muito particular, pois são muitos os fatores que influenciam nos custos e receitas. Como exem-

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Matéria de Capa plo ele cita a localização da propriedade, logística, tipo de sistema integrado, culturas adotadas, época de avaliação, câmbio, etc.. Júlio César explica que no caso da Dona Isabina, um fator que contribuiu muito para os resultados tão superiores da integração lavoura-pecuária foi o mau momento vivido pela agricultura nos anos 2005 e 2006. Fatores como a ferrugem asiática aumentaram o custo de produção num período em que o preço da soja estava baixo e o milho safrinha ainda era pouco expressivo. Logo, a pecuária do sistema integrado ajudou a equilibrar as contas. A comprovação da importância da conjuntura para o resultado final está nos dados obtidos na fazenda Certeza, em Querência, no leste do estado. A propriedade também trabalha com integração lavoura-pecuária e teve os resultados econômicos de 2008 a 2012 analisados. Naquele período, o mercado da soja já havia se recuperado, sobretudo com o estabelecimento da China como grande compradora do grão. Com isso, a fazenda modal de agricultura obteve resultados melhores do que a ILP. Mesmo assim, o sistema integrado ainda se mostrou viável. De acordo com Júlio, os dados avaliados mostram que a ILPF tem todas as condições de ser lucrativa, mas também reforçam a necessidade de planejamento e organização para tomar as decisões mais corretas no momento certo. “Olhando nossos resultados é bem evidente que vale a pena adotar a ILPF. Mas é preciso ter muito claro que é um sistema que só apresenta resultados se o produtor tiver um nível de planejamento e organização muito grande. Se por um lado o sistema mostra um nível de retorno, receita e comportamento mais estável no tempo, isso é em função do desempenho do produtor. Saber negociar no momento correto e entender as dinâmicas dos preços são questões fundamentais”, analisa o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril. Indicadores de rentabilidade Mesmo levando-se em consideração todas as características particulares de cada fazenda

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avaliada, todas as fazendas com alguma configuração de ILPF tiveram resultados positivos. A maior parte delas, inclusive, superando com grande margem as fazendas modais com as quais foram comparadas. Para que seja possível comparar resultados de fazendas tão distintas, a equipe do projeto, composta por pesquisadores da Embrapa, professores e alunos da Unemat, analistas do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e da Rede de Fomento ILPF, padronizou uma metodologia de análise de custos. Com esse método, é possível chegar a indicadores que auxiliam o produtor a visualizar os benefícios econômicos da ILPF. Três desses indicadores exemplificam bem os resultados. Um é o valor presente líquido anual (VPLA), que faz uma comparação do fluxo de custos e receitas ao longo do tempo, traz os valores para um momento inicial do sistema e mostra a rentabilidade por ano. Outro indicador é o índice de lucratividade, que apresenta o lucro ou prejuízo para cada R$ 1 investido. O terceiro indicador é o ROIA, que é uma transformação percentual do índice de lucratividade. A análise econômica da ILPF ainda gera outros índices que estão sendo trabalhados para que possam auxiliar tanto os produtores na tomada de decisão quanto os agentes financiadores a simularem melhor os sistemas integrados no momento de liberar o crédito. “O produtor precisa estar sempre muito conectado com o que está acontecendo para tomar a decisão correta. Nossas avaliações são no sentido de dar dicas para ele de como as coisas estão se comportando”, afirma Júlio César dos Reis.

Pesquisa A pesquisa de avaliação econômica de ILPF é coordenada pela Embrapa Agrossilvipastoril e conta com parceria com o Imea, Unemat, Rede de Fomento ILPF e com participação de outras Unidades da Embrapa. Por meio de um projeto nacional, a metodologia de avaliação quem vem sendo validada em Mato Grosso será aplicada em outros estados, padronizando os trabalhos na área de economia em ILPF.

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Governo

Desburocratização do Agro+ é modelo para outros ministérios

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O ministro Blairo Maggi

programa Agro+ do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, iniciativa do ministro Blairo Maggi, que visa a desburocratização e modernização do setor, está sendo seguido por outros ministérios, a pedido do presidente Michel Temer. Propostas de ministros de diferentes áreas estão sendo examinadas na Casa Civil, disse o presidente, durante cerimônia, nesta segunda-feira (20), em que o governo de São Paulo lançou a versão local do programa em parceria com a Federação da Agricultura estadual (Faesp). “Depois que o Blairo fez, reuni os ministros para que fizessem o mesmo”, observou em seu discurso, no evento que teve a presença do governador Geraldo Alckmin. Temer destacou a importância do agronegócio para a economia brasileira. “É a força motriz da economia”, 32

enfatizou. Destacou as missões internacionais que Maggi tem realizado, “divulgando a agricultura brasileira” e as ações de sustentabilidade ambiental, “que mantém preservados 61% do território nacional na forma original”. E acrescentou que “o Brasil respeita o meio ambiente e o Acordo do Clima de Paris”. Prazos O ministro Blairo Maggi disse esperar que todos os estados implantem o Agro+ local até o fim deste ano, assim como os municípios, informou. São Paulo foi o segundo estado a aderir ao programa, depois do Rio Grande do Sul. O Distrito Federal está com lançamento agendado para a segunda quinzena de maio, durante a feira AgroBrasília . Os estados de Mato Grosso, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia, Rio de Janeiro e Goiás, já demonstraram interesse ou estão com seus planos avançados. Revista A&E


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“As regras precisam ser ajustadas para estados para que a flexibilização feita pelo governo dê resultado”, enfatizou o ministro, acrescentando que a reprodução do modelo demonstra tratar-se de uma política consistente . É preciso evitar que novas barreiras locais emperrem os negócios, segundo ele. Maggi destacou que, em relação ao crédito rural, o Banco do Brasil já adotou medidas de desburocratização. O ministro enviou recentemente à Casa Civil da Presidência da República sugestões

de mudanças no Riispoa, que facilitarão a vida dos produtores rurais, sendo, muitas das alterações, relativas à carne. O Riispoa (Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal) prevê normas de inspeção industrial e sanitária de recebimento, manipulação, transformação, elaboração e preparo de produtos. Essas mudanças estavam previstas como parte das medidas do Agro+, quando do lançamento do programa, em agosto do ano passado.

Outras medidas que integram o Agro+: Transparência e Parcerias - Lançamento do Sistema de rótulos e produtos de origem animal - Acordo com a CNA (troca de informações sanitárias, de 2 anos para 3 meses) - Cooperação com a ABRAFRIGO, ABIEC, ABPA, VIVA LÁCTEOS - Parcerias com entidades da sociedade civil organizada Melhoria do processo regulatório e normas técnicas

- Permitir a utilização de containers para armazenamento de produtos lácteos - Simplificação de procedimentos da vigilância internacional, em portos e aeroportos, sem abrir mão da qualidade e segurança do serviço. - Atualização do RIISPOA - Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal, de 1952

- Alteração da temperatura de congelamento da carne suína (-18°C para -12°C) - Isenção de registro para estabelecimentos comerciais de produtos veterinários Facilitação do comércio exterior - Fim da reinspeção nos portos e carregamentos vindos de unidades com SIF - Revisão de regras de certificação fitossanitárias - Aceite de laudos digitais também em espanhol e inglês Revista A&E

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Governo

Plano Agrícola e Pecuário

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Plano Agricultura e Pecuário 2016/2017 destinará R$ 185 bilhões de crédito aos produtores rurais brasileiros investirem em custeio e comercialização. O plano foi foi disponibilizado em 1º de julho de 2016 e se estende até 30 de junho de 2017. O volume de crédito rural sofreu alteração. Em maio deste ano, o governo federal anunciou R$ 202,88 bilhões para o Plano Agrícola e Pecuária 2016/2017. No entanto, os recursos ficaram agora em R$ 185 bilhões. Isso é reflexo do redimensionamento da Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), que terá em torno de R$ 10 bilhões à taxa controlada de 12,75% ao ano. De acordo com o secretário de Política Agrícola do Mapa, Neri Geller, a expectativa da nova safra é favorável. “O Brasil vai colher mais de 200 milhões de toneladas de grãos. As cotações no mercado internacional estão aquecidos, há previsão de preços remuneradores e os recursos programados são significativos.” As operações de custeio e comercialização com juros controlados contarão com R$ 115,6 bilhões. Os juros foram ajustados sem comprometer a capacidade de pagamento do produtor, com taxas que variam de 9,5% a 12,75% ao ano. Já os juros para agricultores enquadrados no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) são de 8,5%. Para os programas de investimento, o governo federal destinou R$ 34,045 bi. Inovações O Plano Agrícola e Pecuária 2016/2017 traz inovações. Em reunião nesse quinta-feira 34

(30), o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu o limite único de custeio de R$ 3 milhões por beneficiário por ano agrícola. Deste total, no primeiro semestre do plano (1º de julho a 31 dezembro de 2016) podem ser aplicados no máximo 60% e o restante no segundo semestre (1º de janeiro a 30 de junho de 2017). Já para a comercialização, o limite aprovado foi de R$ 4,5 milhões por produtor. Para investimento, o teto permaneceu inalterado em R$ 430 mil reais por beneficiário. Na pecuária de corte, a aquisição de animais para recria e engorda deixa de ser considerada investimento e passa para a modalidade de custeio. A mudança vai proporcionar ao produtor mais recursos e agilidade na contratação do crédito. O Programa de Modernização à Irrigação e Cultivos Protegidos (Moderinfra), por sua vez, prevê incentivos à aquisição de painéis solares e caldeiras para geração de energia autônoma em áreas irrigadas. O valor programado é de R$ 550 milhões. O novo plano ainda elevou, de R$ 40 mil para R$ 320 mil, o limite para financiamento de estruturas de secagem e beneficiamento de café, por meio do Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota). Ao todo, o Moderfrota tem programado R$ 5,050 bilhões. Outra meta do Plano Agrícola e Pecuária 2016/2017 é incentivar, por intermédio do Programa ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), o plantio de açaí e cacau na Amazônia. O programa ABC conta com R$ 2,990 bilhões. Revista A&E


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Também foram renovados para a temporada os programas de investimento para construção de armazéns (PCA), inovação e modernização tecnológica na agropecuária (Inovagro e Moderagro) e os destinados às cooperativas (Prodecoop e Procap-Agro). Letras de crédito Os produtores de maior escala podem contar, agora, com recursos complementares àqueles limites fixados pelo crédito rural, conhecidos como extrateto, para fazer frente as suas despesas de custeio. Esses recursos serão oriundos das LCAs, com taxa fixada em 12,75% ao ano, cujo montante estimado é da ordem de R$ 10 bilhões. Nos planos anteriores, não havia essa opção. Os juros eram livres e, consequentemente, menos atrativos ao setor produtivo,

Revista A&E

destacou o ministro Blairo Maggi. Além disso, os Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCAs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), emitidos por cooperativas e empresas que desejam atrair investidores, poderão ser corrigidos em moeda estrangeira, desde que lastreados na mesma condição. Preços mínimos O Conselho Monetário Nacional (CMN) também aprovou os novos preços mínimos das culturas de verão, produtos extrativistas e regionais para a nova temporada agrícola. Nos próximos dias, o Ministério da Agricultura divulgará as respectivas portarias no Diário Oficial da União.

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Agronegócio

As consequências

das mudanças macroeconômicas para o agronegócio

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desequilíbrio macroeconômico brasileiro afetou o agronegócio especialmente através de três canais: câmbio, crédito e consumo.

para os níveis recordes de 12%, associada à alta inflação, derrubou o poder aquisitivo do brasileiro. A consequência desse movimento foi a queda de consumo, especialmente de produtos de maior valor, como as carnes e o leite e seus derivados. Esse desenho marcou todo o ano de A forte desvalorização do real ocorrida em 2015 e o de 2016, e é possível afirmar que diver2015 permitiu ganhos expressivos de rentabili- sos mercados retrocederam em tamanho. dade na agricultura brasileira. Normalmente, a desvalorização melhora as margens da maior “Essa perda de poder aquisitivo resultou em parte dos produtos agrícolas, pois apenas uma uma redução importante no consumo per capita parcela dos custos é cotada em dólar. de carne bovina, que retoma o nível de 15 anos atrás. Além disso, não houve a migração esperaEntretanto, esse fato não é necessaria- da para a carne de aves ou mesmo a suína, que mente verdadeiro para o setor pecuário, pois também foram impactadas e registraram quea desvalorização pode acarretar aumento nos das”, explica Antonio Carlos P. Costa, gerente do preços dos grãos. Isso se mostrou verdadeiro departamento de Agronegócio da Fiesp em 2016, com uma relevante deterioração das . margens operacionais da produção de frangos, Já a desvalorização do câmbio, ocorrida ovos, suínos e leite. até o início de 2016, gerou outro desequilíbrio no balanço de diversas empresas que, nos úlAlém disso, a elevação do desemprego timos anos, se endividaram em dólar. A depre36

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ciação do real afetou as métricas financeiras, comprometendo sua situação de crédito. Esse ponto se tornou especialmente relevante diante do quadro de elevação da taxa de juros e redução da oferta de crédito que marcou a segunda metade de 2015 e o ano de 2016.

Do ponto de vista da taxa de câmbio, assistiu-se a uma valorização do real em 2016 que desenhou uma piora nas margens de rentabilidade de diversas culturas, a despeito da redução dos custos decorrentes de um real mais forte.

Com a queda do PIB e a elevação da inflação, o montante de depósitos à vista caiu, reduzindo a oferta de crédito. Além disso, a degradação do quadro econômico fez com que diversos setores da economia sofressem reduções de demanda e suas receitas caíram significativamente, complicando os balanços. Com isso, as provisões dos bancos comerciais aumentaram muito, o que limitou o volume de crédito disponível às empresas agrícolas e aos produtores rurais.

Entretanto, o balanço de oferta e demanda mundial de alguns produtos vem criando uma situação atípica de melhora nas margens de culturas como a cana-de-açúcar, o café e a laranja.

Essa restrição foi compensada por uma maior participação das empresas ligadas fisicamente ao setor, como os traders, as indústrias de insumos, os distribuidores e as cooperativas de produção, com financiamentos superiores a 180 dias.

Assim, a combinação da queda na oferta mundial com a valorização do real provocou a alta das cotações em dólares dessas commodities, compensando o efeito da valorização da nossa moeda nos preços aos produtores. Essa situação vem fazendo com que os preços em reais estejam estáveis (em nível alto) ou em ascensão.

O que esperar para os próximos anos? O desenho macroeconômico que se configura é o de recuperação e de retomada de crescimento do consumo. A queda no desemprego e na inflação trará de volta a demanda por alimentos, fibras e energia. “Mais de 60% do PIB é proveniente do consumo familiar. Qualquer incremento de renda acaba refletindo imediatamente no aumento do consumo de alimentos”, lembra o especialista da Fiesp. A recuperação econômica, ainda que mais lenta do que o desejado, e a queda da inflação devem restabelecer os depósitos à vista aos níveis anteriores à recessão, incrementando a disponibilidade de crédito rural. A redução na taxa de juros deve conferir forte alívio às empresas endividadas.

Revista A&E

Essas commodities estão vivendo um momento semelhante de desequilíbrio entre oferta e demanda. A relação entre os estoques de suco de laranja, açúcar e café vem diminuindo em relação ao consumo mundial.

A valorização do real, no entanto, gera queda nos custos de produção, ao mesmo tempo que reduz a alavancagem das empresas e dos produtores que têm dívidas em moeda estrangeira. “Entramos no ano de 2017 otimistas, já com perspectiva de safra recorde para as culturas de soja e milho, com reflexos importantes para as indústrias de insumos agropecuários. As produções de açúcar, suco de laranja e café também devem desfrutar de um mercado positivo. Outro avanço foi o anúncio da queda mais acelerada na taxa Selic, que deve favorecer setores importantes e que sofreram bastante com o efeito da crise, como o de máquinas e equipamentos”, finaliza Antonio Carlos P. Costa.

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Agronegócio

O futuro

do agronegócio brasileiro com Trump

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vocação para o agronegócio do Brasil mostra que o EUA sob o comando de Donald Trump é o maior concorrente dos produtores rurais . É importante olhar dados sobre o Intercâmbio Comercial do Agronegócio (do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, (dados de 2013), apenas 5% de nossas exportações agrícolas vão para os EUA. A China participa com 24%, a União Europeia com 21% e diversos países com os demais 50%.

químicos) em consumos e vendas? Antes, os produtores brasileiros estavam usando e gastando mais do que o necessário? Sustentabilidade é a palavra do agro, conscientização dos agricultores em reduzir custosas aplicações associando-as a produtos mais baratos, de extrações orgânicas e naturais. Mas a era Trump, vê essa estratégia como uma ameaça a seus mercados.

O Brasil deve colher 210 milhões de toneladas de grãos, 1,3% a mais do que em 2015. Em 2013, o Brasil exportou US$ 86,6 bilhões Mesmo com toda a crise, a área plantada crese importou US$ 12,5 bilhões. Resultou um sal- cerá 1% e o valor bruto da produção está estido positivo de US$ 74,1 bilhões. A participação mado em R$ 515,2 bilhões. americana no saldo foi de 3,5% e da China de 26,5%. Uma das principais revistas do agronegócio brasileiro teve como manchete “A corrida do Do total de importações (US$ 12,5 bilhões), milho: demanda explode e faz preço disparar”. os itens mais significativos foram: trigo (EUA, Há 20 dias as cotações do mercado futuro, em Argentina, Canadá); bebidas alcoólicas (África Nova York e Chicago, para café, soja e milho, do Sul, Chile, Japão, União Europeia); pescados não param de subir. congelados (Chile, Marrocos, Tailândia, Taiwan, A vitória de Donald Trump está gerando preVietnã); óleo de palma e dendê(Colômbia, Indoocupação no mercado global, especialmente nésia, Malásia). em relação à falta de previsibilidade que inAssim, no Brasil temos 90% do que vêm vestidores enxergam no perfil do republicano. da Rússia são Waffles; 50% do Egito, algodão O dólar à vista abriu com alta superior a 2% e especial para roupas de cama; 60% da Índia, saiu dos R$ 3,17 para R$3,24 na máxima da de óleos essenciais, algo que pode parecer es- manhã. tranho. O ambiente de mais nervosismo pode afetar Contra o crescimento da produção e da pro- as commodities agrícolas negociadas no merdutividade da próxima safra, 2016, conforme cado futuro internacional, o mercado de câmprevisto por Conab e IBGE, e como se justifica bio e num futuro próximo há quem veja efeitos a queda de 22% (defensivos) e 7% (fertilizantes na dinâmica do comércio global. 38

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Em consultas com economistas, analistas de mercado e especialistas os temas são os efeitos no mercado de câmbio com tendência de alta para o dólar frente ao real. Como será o mercado de câmbio com análises mais extremistas apontando que a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, pode abandonar o cargo em razão de diferenças com Trump. Além de mais aversão ao risco e demanda por dólares que são considerados ativos mais seguros As commodities agrícolas que são consideradas ativos mais arriscados e podem sofrer fuga de capitais, ou seja perder investimentos. Tendo a dinâmica de comércio mundial com expectativa de que Trump seja mais protecionista, o que poderia afetar as negociações internacionais em mercados como a pecuária brasileira que depois de anos voltou a exportar carne in

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natura para os EUA. Na cafeicultura o Brasil é um dos principais exportadores do produto para a maior economia do mundo, como serão os efeitos, retração nas compras de alta qualidade ficando a preferencia para os cafés de países que oferecem preços inferiores em qualidade e preço? O republicano Donald Trump venceu graças a votação maciça que obteve nos estados do cinturão agrícola americano que já recebem incentivos e subsídios. É preciso ser cauteloso no primeiro momento e audacioso no longo prazo, ir em busca de mercados ainda não explorados e que talvez até desconheçam os produtos agrícolas brasileiros.

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Agronegócio

Agronegócio brasileiro: projeções para 2026

Levantamento realizado pela Fiesp aponta que o ritmo de crescimento do setor no Brasil será maior que no restante do mundo

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s indústrias vinculadas ao agronegócio têm uma expressiva participação na economia do País, representando 39% do PIB do setor. Desde 2007, com a criação do Departamento do Agronegócio da Fiesp (Deagro), a Federação desenvolve pesquisas e estudos estratégicos relacionados aos principais segmentos da cadeia produtiva, dos insumos agropecuários às indústrias de alimentos.

Skaf, presidente da Fiesp e do Ciesp, lembra que, atualmente, 60% das exportações do setor passam por algum tipo de industrialização. “Precisamos abrir novos mercados, como o asiático, para aumentar essa proporção.” Panorama para os principais produtos

De acordo com o Outlook Fiesp 2026, a participação de mercado do Brasil nas exportações mundiais de soja, por exemplo, chegará a 49% em 2026, com crescimento anual de O objetivo dessas análises é auxiliar in- 4,6%, acima dos 2,7%, em média, dos demais dústrias, produtores e governos na melhor to- produtores do mundo. mada de decisões, beneficiando não apenas o próprio setor, mas a sociedade do País como A projeção para o milho é de um crescium todo. mento anual de 8,8%, com a participação nas exportações mundiais indo a 23% ao final do Entre esses estudos está o “Outlook Fiesp período projetado. Para a safra 2025/2026, es2026 – Projeções para o Agronegócio Brasileiro”, tima-se aumento de 21% no consumo interno, que reúne diagnósticos e informações do setor puxado pelo setor de proteínas animais. para a próxima década, em termos de produção, produtividade, consumo doméstico e exportações. No caso do açúcar, em dez anos o País será responsável por metade do que é comerDe acordo com os últimos resultados di- cializado internacionalmente, com taxa de cresvulgados, o desempenho do agronegócio brasi- cimento de 2,2% ao ano. leiro no period de 2016 a 2026 será melhor do que a média mundial para produtos importanVale destacar que 2016 foi um ano de retes, como soja, milho, açúcar e carnes (bovina, cuperação para o setor, impulsionado pela alta suína e frango). do preço do açúcar, em razão do desequilíbrio ocorrido no quadro de suprimento global desse Apesar disso, o País não repetirá para os produto. próximos dez anos a robusta taxa de crescimento da última década em relação à produção e Segundo o gerente do Deagro, Antonio às exportações das principais culturas. Paulo Carlos Costa, 2017 também pode marcar o 40

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início da recuperação para o mercado das carnes, como a de frango e suína, que enfrentaram uma “tempestade perfeita” em 2016, com aumentos históricos dos custos de produção e estagnação do consumo por conta da redução do poder de compra da população brasileira. Os prejuízos acumulados nesse elo da cadeia produtiva devem chegar a R$ 4 bilhões até o final do ano, segundo dados da Fiesp. A carne bovina, cuja demanda doméstica foi afetada pela crise econômica, registra o pior consumo per capita em 15 anos. Mesmo com uma recuperação lenta da economia, esses segmentos devem se beneficiar com uma melhora na conjuntura macroeconômica. O cenário para a carne bovina aponta para um crescimento anual das exportações de 4,5%, com sua fatia do mercado internacional se elevando para 18% na próxima década. Além disso, a abertura recíproca entre Brasil e EUA para o produto sinaliza, no médio prazo, a possibilidade de acesso a novos mercados, o que poderá resultar em numeros ainda mais positivos para o País. A projeção para os próximos dez anos para a carne suína também é favorável, com crescimento annual das exportações de 3% e participação no mercado internacional de 10%. A carne de frango manterá sua expressiva fatia do mercado global, com 41% do montante comercializado.

Quanto às outras culturas, o desequilíbrio no suprimento mundial deu fôlego a produtores e indústrias de laranja. Já a valorização do real melhorou os custos na lavoura, ofereceu alívio para as indústrias com dívidas em dólar e impulsionou a comercialização do café. Riscos para a próxima década O gerente do Deagro explica que o agronegócio já mostrou que não está blindado contra o que ocorre na economia brasileira, já que a queda na renda e na confiança do consumidor atingem o consumo de alimentos mais elaborados. A situação fiscal do País também lança um enorme desafio para a política agrícola – especialmente para o crédito e o seguro rural, fundamentais para assegurar o desempenho futuro. A redução de empréstimos impacta os investimentos, com consequências para a produtividade das lavouras. Além disso, o ponto de equilíbrio do câmbio e o possível surgimento de uma onda protecionista trazem novas preocupações no curto prazo. “Para o país que detém o maior superávit comercial do agronegócio do mundo, movimentos protecionistas são ruins por princípio. No entanto, temos que estar atentos a oportunidades, mesmo com esse horizonte,como uma maior aproximação com mercados que venham a ser preteridos no processo”, conclui Costa.

Projeção para 2026 Produto

Exportação

Carne Bovina

2,2 milhões toneladas

Soja em Grãos

84,3 milhões toneladas

58%

Milho

41 milhões de toneladas

168%

Açúcar

32,6 milhões de toneladas

25%

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Crescimento

(Em relação a safra 2016 /2017)

66%

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Maquinas & Equipamentos

Safra cheia deve impulsionar venda de máquinas agrícolas, diz Anfavea

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s fabricantes de veículos automotores começaram 2017 com uma queda nas vendas de veículos de 5,2% em janeiro em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) foram divulgados hoje (6) e frustaram o setor.

“O número de janeiro frustrou as nossas expectativas. Claro que tem a questão da sazonalidade, mas esperávamos chegar, pelo menos, no mesmo nível de janeiro de 2016”, disse o presidente da Anfavea, Antonio Megale, durante coletiva, em São Paulo, onde apresentou o desempenho da indústria automobilística brasileira no primeiro mês de 2017. A expectativa da associação, no entanto, é que as vendas de máquinas agrícolas e rodoviárias deve alavancar o setor. Somente no primeiro mês deste ano houve um crescimento interno de 74,9% em relação a janeiro de 2016, e de 42% nas exportações. A previsão da entidade para este ano é de um aumento na produção de 10,7%, puxando o crescimento em 13% nas vendas internas, e 6% nas exportações . “A previsão da safra recorde este ano é positiva para a questão das substituições de equipamentos agrícolas. Esperamos boa produtividade nessa safra e nas demais”. Já os fabricantes de caminhões tiveram o pior desempenho no mês desde 2006, com queda de 33,3% em relação ao mesmo período de 2016. Megale considerou a situação “dramática” para o segmento, que vem apresentado recuos desde 2011. Embora o mercado interno tenha amargado queda nas vendas de autoveículos novos, as exportações tiveram crescimento em janeiro de 56% em relação ao período anterior. “Este foi o melhor janeiro desde 2008 nas exportações, isso nos dá a indicação de que teremos um bom ano de vendas externas”, disse Megale. Mesmo com as quedas, o presidente da Anfavea mantém a projeção do setor para 2017. “Continuamos com a previsão de crescimento de 4% na venda de autoveículos novos; 7,2% nas exportações e de 11,9% na produção”. Os postos de trabalho no setor seguem estáveis, com ligeira queda em janeiro de 0,04% em relação a dezembro de 2016. “Este mês já estabilizou a questão de postos de empregos, estamos prontos para dar a largada, mas ainda não apresentamos números positivos”, disse. 42

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Case IH

aposta na retomada do mercado de máquinas agrícolas

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e acordo com César Di Luca, diretor comercial da marca para o Brasil, “dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) indicam que serão fabricadas 59,6 mil novas máquinas neste ano, uma alta de 10,7% com relação a 2016. É por isso que queremos oferecer maquinário de alta tecnologia ao agricultor brasileiro”. Entre as novidades deste ano, estão a plantadeira Easy Riser 3200 e os novos modelos de tratores e colheitadeiras homologados pelo Programa Proconve-MAR 1. A nova regra estabelece limites de emissões para os motores de novos equipamentos agrícolas e de construção. “Já faz alguns anos que temos produtos que atendem essa regra, por isso estamos preparados para aproveitar essa oportunidade”, comenta Di Luca. Além disso, teremos o encerramento do ciclo de lançamento das colheitadeiras Axial-Flow Série 130, um dos mais importantes feitos pela marca no país, e o início de uma nova campanha: a comemoração de seus 175 anos de história e pioneirismo na agricultura mundial. 175 anos de inovação A Case IH, líder mundial na produção de equipamentos agrícolas, está iniciando um ano de comemorações do seu 175º aniversário na sede mundial da marca em Racine, no estado do Wisconsin, nos Estados Unidos. Foi lá, na beira do Rio Root, que o fundador Jerome Increase Case instalou a Racine Threshing Machine Works para produzir uma máquina revolucionária, projetada para acelerar a separação dos grãos após a colheita. Entre os principais marcos em sua trajetória estão o desenvolvimento do AFS (Advanced Farming System – AFS™), que tem sido a vanguarda na agricultura de precisão por mais de duas décadas, proporcionando aos produtores a capacidade de maximizar a produtividade e rentabilidade com a utilização das tecnologias AFS. Outro marco é o conceito de "Efficient Power" no qual todos os produtos da marca são projetados visando alta eficiência energética, contribuindo com maior performance e menor custo operacional. Além disso, a marca apresentou recentemente o seu conceito de trator autônomo, projetado para tornar a agricultura mais eficiente.

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Pesquisa

Diga não ao sódio Estudantes de Ciências dos Alimentos da ESALQ criam uma linha de sopa instantânea com menor teor de sódio

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grande quantidade de sódio encontrada nas sopas instantâneas é alvo de frequentes preocupações e questionamentos entre os consumidores preocupados com a saúde. No entanto, a parcela da população que não se atenta aos riscos, continua excedendo o ideal recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que seria de 5 gramas por dia. Enquanto alguns tentam reduzir ao máximo esse indicativo, procurando alternativas de produtos livres desse componente, cinco estudantes de Ciências dos Alimentos da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) dedicaram-se a criar uma linha de sopa instantânea com menor teor de sódio, a qual deram o nome de “Sopa Benevie”, do italiano, “Boa Vida”. Além das diversas doenças crônicas que o excesso de sódio pode ocasionar à saúde humana, boa parte dos alimentos industrializados levam em sua composição ingredientes que os consumidores desconhecem e não sabem quais são as funções. “Buscamos diminuir estes ingredientes e trazer mais transparência e proximidade ao consumidor”, contou Marianne Tufani, umas das alunas responsáveis pela pesquisa. A ideia surgiu quando tiveram contato na disciplina Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos I em parceria com a empresa Unilever, que trouxe o desafio da criação de uma sopa com redução de sódio, clean label e sustentabilidade. Esse contato possibilitou as estudantes atuarem como profissionais fora da sala de aula.

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O estudo, orientado pela professora Thais Maria Ferreira de Souza Vieira, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição da ESALQ, buscou utilizar elementos naturais em sua formulação. Com isso, a linha apresentou quatro sopas orgânicas diferentes, com objetivo de alcançar quatro faixas etárias (gerações Baby Boomer, X, Y e Z). “Conseguimos reduzir o sódio, implantar o clean label, oferecendo produtos com rótulos mais limpos, com poucos ingredientes e aderindo à produção sustentável”, contou Vanessa de Lima, graduanda de Ciência dos Alimentos Durante as avaliações, as estudantes realizaram pesquisa de campo com 30 pessoas. A maioria dos entrevistados garantiu sentir falta de sopas mais naturais no mercado, considerando que as que existem são muito artificiais e não saudáveis. “Tentamos atender a todos os públicos com sabores que, ao mesmo tempo, fossem saudáveis e gostosos, a sopa “Benevie” apresenta embalagem atrativa e transparente, para demonstrar o produto em sua essência, eliminando dúvidas e aumentando o contato com o consumidor”, disse Marianne. Revista A&E


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Pesquisa

Matsuda apresenta

quatro variedades de sementes de pastagem

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pós 13 anos de pesquisas, chega ao mercado quatro novas variedades de sementes de pastagem, cada uma com características específicas para atender diferentes demandas. As variedades de forrageiras foram apresentadas pelo Grupo Matsuda para pecuaristas e profissionais da área, durante evento realizado na unidade industrial de Cuiabá, Mato Grosso. Na oportunidade, os participantes também conheceram o programa Desempenho Máximo Matsuda. As sementes foram desenvolvidas com base em pesquisas e passaram por rigorosos testes antes de chegarem ao mercado. Todas as sementes possuem uma característica exclusiva que é a incrustação para elevar a pureza da semente. A partir de uma tecnologia holandesa, as sementes passam por um processo de limpeza e depois de escarificação química, tratamento com fungicida e polímero com incrustação. As quatro variedades que chegam ao mercado são MG7 – Tupã, MG11 – Tijuca, MG12 – Paredão e MG13 – Braúna. O diretor da Matsuda Cuiabá, Ricardo Mitsunaga, explica que o desafio é transformar os pecuaristas em produtores de pasto. Segundo Mitsunaga, quando se investe em pasto com uso de tecnologia, o produtor ganha em produtividade e qualidade. “Ainda se desperdiça investimento com sementes de baixa eficiência e pureza. Ao adquirir uma semente de qualidade, com características específicas para aquele solo, se ganha na relação custo benefício”. De acordo com Ricardo Mitsunaga, gran-

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de parte das sementes disponíveis no mercado possui 60% de pureza, ou seja, 40% não é reaproveitado. “A Matsuda trouxe inovação ao elevar a pureza para 100%. Ao invés de comprar uma carreta de sementes, o pecuarista renova a pastagem numa caçamba de caminhonete”, relativiza o diretor. EXPANSÃO - Os avanços no setor do agronegócio não param, nem mesmo em tempos de recessão econômico. Em Mato Grosso, estado detentor do maior rebanho bovino e um dos principais exportadores do país, o Grupo Matsuda investiu R$ 1 milhão em melhorias no laboratório de análises de materiais e deve dobrar a produção de ração da linha pet. Atualmente a planta industrial instalada em Cuiabá produz 700 toneladas por dia de suplementos minerais e mais 200 toneladas por dia de ração para pequenos animais, a chamada linha pet. Esta planta é responsável pelo abastecimento de Mato Grosso, Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, sul do Pará e ainda exporta parte da produção. Somente na indústria são cerca de 300 pessoas contratadas, fora a linha de vendas, que soma aproximadamente 200 pessoas em todo o Estado. As sementes, outra linha de atuação do Grupo Matsuda, são fabricadas na unidade de São Paulo e distribuídas em Mato Grosso. As rações pet são fabricadas a partir do milho ou farelo de soja, produzidos no Estado e comercializados também para outros países da América Latina. A produção de suplementos é feita a partir de minerais, parte aqui de Mato Grosso, parte vindo de outras plantas industriais.

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Artigo

A Lógica da Intensificação Sustentável

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população segue crescendo, mas o planeta não. Teremos, portanto, que intensificar o uso da base de recursos naturais do globo, de forma sustentável, para atender às necessidades de uma população maior e mais exigente. O Brasil segue célere na adaptação de sua agropecuária a esta realidade. O futuro da nossa agropecuária será, cada vez mais, baseado na integração de lavouras, pecuária e até florestas, tudo no mesmo espaço. Temos cerca de 70 milhões de hectares de pastagens degradadas e de baixa produtividade no Brasil que poderão ser ocupados por sistemas integrados. Essa é a grande fronteira para expansão da agropecuária brasileira nas próximas décadas, especialmente na faixa tropical, ou região central do Brasil, onde se concentra o nosso Cerrado. A integração lavoura-pecuária ou lavoura-pecuária-floresta permite efeitos sinérgicos entre os diferentes fatores de produção, contemplando a adequação ambiental, a valorização e o bem-estar dos seres humanos e a viabilidade econômica. Objetivamente, para o agricultor, viabiliza um modelo de agropecuária ocorrendo durante 365 dias no ano, com intensificação do uso da terra, maior produção por área ocupada, sem desgastes para o meio ambiente. Essa alternância de lavouras, pastos, pecuária e florestas, no mesmo espaço, permite igualmente ao agricultor elevar a produtividade do sistema de produção, promovendo aumento nos estoques de matéria orgânica no solo e reduzindo significativamente a emissão de gases de efeito estufa. O uso mais intensivo das áreas já abertas para agricultura leva ao aumento de eficiência e consequentemente à redução de pressão sobre ambientes frágeis, em especial as florestas naturais. A Embrapa conta com a parceria da Rede Fomento ILPF para o desenvolvimento e disseminação de tecnologias de integração. Essa parceria público48

Maurício Antônio Lopes, presidente da Embrapa -privada é formada por Cocamar, Dow AgroScience, John Deere, Parker, Syngenta e a grande rede de Unidades da Embrapa, que atuam para acelerar a adoção dos sistemas integrados por produtores rurais em todo o Brasil. Criada em 2012, essa Rede opera com 97 Unidades de Referência Tecnológica (URTs), que são plataformas de teste e validação de tecnologias distribuídas em todos os biomas brasileiros. Já é possível observar um aumento no número de propriedades que vêm adotando a lógica dos sistemas integrados no Brasil. Por causa das preocupações ambientais, decorrentes das mudanças climáticas globais e do novo Código Florestal, cresce entre os produtores brasileiros a consciência de que precisarão ampliar a eficiência − com maior produtividade por área − além da resiliência dos sistemas produtivos, que deverão ganhar capacidade de resistir a estresses mais intensos. Importante destacar que os sistemas integrados, juntamente com o plantio direto na palha, o plantio de florestas comerciais, a fixação biológica de nitrogênio e o tratamento de resíduos animais compõem um conjunto de tecnologias fundamentais para sustentação do Programa Agricultura de Baixo Carbono – ABC, talvez a maior e mais ousada plataforma de redução das emissões de gases de efeito estufa na agricultura em implementação em todo o mundo. Esse protagonismo e as oportunidades de geração e disseminação de tecnologias capazes de promover a expansão sustentável da produção agropecuária é que marcarão o futuro do agronegócio brasileiro. Assim, o Brasil estará ajudando a produzir a próxima grande revolução agropecuária no cinturão tropical do globo. Continuaremos respondendo à necessidade de produzir volumes crescentes de alimentos que garantam segurança nutricional no nosso país e, também, a elevação da nossa capacidade exportadora. É para isso que estamos trabalhando. Revista A&E


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Brava gente!

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Roberto Rodrigues*

á poucos dias estive a trabalho em Chapadão do Céu, em Goiás, e me emocionei com o que lá vi. Quilômetros de estradas ladeadas por áreas de soja sem fim, que emendam com as de Chapadão do Sul/MS, e descem para Aparecida do Taboado, correm para oeste e se juntam com as lavouras espetaculares de Bandeirantes e Bodoquena. Ainda no Céu estão canaviais verdejantes que se somam aos de Quirinópolis, e mais os de Costa Rica, Rio Brilhante e Dourados no Mato Grosso do Sul.

Roberto Rodrigues

Coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas

Tenho passado por essas estradas há décadas. Há 45 anos vou pescar no Rio Taquari, na boca pantaneira do Coxim, e assisti o Brasil sendo construído com duro trabalho incessante. Vi os primeiros gaúchos chegarem a São Gabriel do Oeste em cima de velhos caminhões de mudança deixando para trás tudo o que tinham, inclusive sua história familiar. Abastecia então o carro em postos precários, onde frentistas eram meninos e meninas de olhos azuis, pés descalços e mal vestidos, mas trazendo no rosto a coragem e a determinação de seus pais em plantar o futuro. Eram campos de terra fraca, desprezados pelos tradicionais agricultores do Sudeste. Passo lá agora e vejo centenas de milhares de hectares com a soja bufando, já no "canivete", assim como a que cultivam os bravos sulistas de Rondonópolis, os de Sinop, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Sapezal, Tangará da Serra e Juína no Mato Grosso. Por essas estradas surgiram usinas de açúcar e álcool gerando eletricidade, e em menos de 10 anos criaram milhares de empregos, mudaram as cidades pequenas e médias em comunidades progressistas com IDH invejável, e tudo com a melhor tecnologia do mundo. Nos últimos meses andei por Não-me-Toque/RS, e lá também as roças de grãos ocuparam todas as terras aptas, vi aves e suínos crescendo em Chapecó/SC, passei por Campo Mourão, por Medianeira e Cafelândia no lindo Paraná e

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Artigo dei graças a Deus pela brava gente que abriu Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa, misturando europeus e asiáticos destemidos com caboclos paulistas e nordestinos num vigor híbrido de empoderamento. Percorri o mágico Triângulo Mineiro, o sul cafeeiro de Minas e bati em Montes Claros e Janaúba, onde bananais produzem as frutas que consomem os brasilienses. Vi produção de ovos e morango surgindo do nada em Jetibá no Espírito Santo, onde o conilon sacudiu São Gabriel da Palha. Fui a Luis Eduardo Magalhães-BA, que conheci como Mimoso do Oeste há poucas décadas. E lá estão algodoais tão espetaculares quanto os de Campo Verde e Primavera do Leste/MT. Estive em Balsas no sul do Maranhão, Uruçuí no Piauí e lá tem soja e milho abundantes. E rodei pelas pastagens de Chupinguaia e Ji-Paraná em Rondônia, pela pecuária de corte sustentável de Esperança, no Acre, e de todo Mato Grosso do Sul; bebi o leite que escorre de Goiás e de Minas Gerais para os consumidores de São Paulo e do Rio de Janeiro, vi as frutas exportadas do Ceará e do Rio Grande do Norte, visitei os canaviais produtivos de Alagoas, os cacaueiros do sul da Bahia, o óleo de palma do Pará, o gadão do Rio Grande e testemunhei as duras lutas dos produtores da Amazônia e do Nordeste. Esta gente extraordinária, mulheres e homens que batalham todos os dias, anos a fio, arrostando dificuldades de toda ordem, estão construindo de fato o nosso Brasil. Quem conhece Ribeirão Preto, Araçatuba, Bauru, São José do Rio Preto, Presidente Prudente, Marilia, Assis, sabe disso. Ou Campinas e Jaú, além de Barretos, Bebedouro, São José dos Campos, entre tantas outras grandes cidades paulistas que nasceram e cresceram empurradas pelos bandeirantes modernos que cultivaram suas terras. Passo Fundo e Santa Maria, Caxias e Gramado, Ijuí e Alegrete, no grande Rio Grande do Sul, idem. E também Lages com suas florestas plantadas, ou Joaçaba, Campos Novos e Concórdia em Santa Catarina, e ainda 50

o Paraná inteirinho... Mas quem nunca foi a Rio Verde, Piracanjuba ou Formosa, em Goiás, não sabe do que estamos falando. Ou a Gurupi e Araguaína, no Tocantins, a Santarém e Marabá, no Pará, a Vitória da Conquista, Juazeiro ou Feira de Santana, na Bahia, a todo este imenso sertão brasileiro, não saberá jamais quem faz esse País bombar. Toda essa brava gente brasileira quer progredir e avançar socialmente, não importando se são pequenos, médios ou grandes. Todos mourejam o dia todo torcendo ora por sol, ora por chuva, e sonham todas as noites com um futuro melhor para seus filhos e netos. E transformam seus sonhos na bela realidade do agronegócio brasileiro pujante e competitivo, sustentável e moderno.Toda essa gente está preocupada com a brutal crise econômica, social e política em que maus gestores meteram o Brasil. Mas, apesar dessa crise sem precedentes, toda essa gente destemida continuará a plantar, tratar e colher sua soja, seu milho, seu algodão, seu arroz e feijão, seu café, sua cana-de-açúcar, suas frutas e verduras, seu cacau, suas pastagens, sua seringueira, seu tabaco, seu amendoim e seu girassol. Vai transformar grãos em carne de frango, de suínos e em leite e derivados, e pastos em carne bovina. Vai plantar eucaliptos e pinheiros, vai dar mercado para quem produz insumos e serviços, vai fornecer a matéria-prima para a indústria de alimentos e bebidas, de moda, de móveis e de livros. Vai gerar empregos, riqueza e renda. Vai abastecer todos os brasileiros e vai alimentar milhões de estrangeiros. Vai continuar com sua inquebrantável bravura a construir uma grande Nação. Que Deus os abençoe! *Coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas Revista A&E


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Os desafios do agronegócio

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ações de curto prazo, como a por-

teira para dentro a agricultura vai sempre bem, diz o refrão nas rodas de conversa no interior. A pujança econômica das cidades do agronegócio comprova a sabedoria cabocla. Verdade também que a agricultura poderia ir muito melhor, da porteira em diante, até a mesa dos brasileiros e os contêineres de exportação.

Geraldo Alckmin Governador do Estado de São Paulo

Por caminhos esburacados e pelas tributações tortuosas do Brasil, grãos e competitividade vão se perdendo. Mesmo assim, a agricultura tem sido a salvação da lavoura da combalida economia brasileira e vai repetir o feito em 2017, evitando que o país feche o terceiro ano consecutivo sem crescer. O PIB do agronegócio (23% da produção brasileira) deve crescer 2%. Para o PIB nacional, as projeções otimistas mencionam crescimento perto de 1%. A safra de grãos vai produzir 221 milhões de toneladas em 60 milhões de hectares, crescimento de 20% em relação a 2016. Isso ajuda a produção de carnes e puxa as vendas de máquinas agrícolas. Em 2017, portanto, o gigante da produção de alimentos vai rugir. No entanto, precisamos avançar, com infraestrutura e logística competitivas, política de seguro agrícola, simplificação tributária e trabalhista, qualificação da mão de obra, inovação, desburocratização e aumento e pulverização do crédito agrícola.

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Artigo Em São Paulo, produtores e exportadores têm a melhor infraestrutura de logística e transportes do país e a mão de obra mais qualificada, resultado da concentração de universidades e da melhor rede de escolas técnicas (Etecs) e faculdades de tecnologia (Fatecs). Neste momento, com experiência acumulada de 20 anos na área, temos em andamento os processos de concessões de quatro lotes de rodovias. Serão mais 3.500 quilômetros de duplicações e modernizações, cortando o Estado do nordeste ao sul e ligando o litoral sul e norte. O primeiro desses lotes traz inovação importante, a licitação internacional. A abertura dos envelopes com propostas será feita na BM&F na próxima semana. São Paulo é um dos Estados que já possuem lei e decreto específicos para o Programa de Regularização Ambiental (PRA), adequados ecologicamente e aos quais produtores paulistas aderiram em massa ao cadastramento ambiental rural das propriedades. Além disso, criou o Programa Nascentes, que alia a conservação de recursos hídricos à proteção da biodiversidade, contando com a participação efetiva dos produtores.

ser buscados em órgãos da Secretaria de Agricultura. Alguns exemplos: emissão de guias de trânsito animal e vegetal, licenciamento para desenvolver atividades agropecuárias em áreas de até mil hectares e a compra de sementes certificadas da secretaria. Na área de inovação, as dimensões e a qualidade da rede paulista de pesquisas agrícolas fazem de São Paulo um grande exportador de tecnologia. Cerca de 25% das variedades de café cultivadas no país nasceram dos institutos do Estado. As variedades de cana desenvolvidas no Instituto Agronômico estão nos campos de Goiás e Tocantins, de México e Angola. Cerca de 80% dos produtos agrícolas exportados por São Paulo passaram por algum processo de manufatura, o que confere a eles maior valor agregado.

A média nacional é de 53%. Ampliar esses patamares é o desafio. O agronegócio alimenta o Brasil e o mundo. Para ajudar agricultores e empreendedores a aumentarem a qualidade e o valor agregado de produtos e das exportações são necessárias políticas públicas de curto, médio e longo prazos. Só assim alcançaremos um crescimento sustentável que melhore a renda, Estamos lançando o Agrofácil São Paulo, gere mais empregos e traga segurança econôprograma ambicioso de modernização e desbu- mica para São Paulo e o Brasil. rocratização. O produtor terá acesso rápido, por via eletrônica, a serviços que antes teriam de

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Evento

Abisolo projeta 2017 positivo

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s projeções da indústria de tecnologia em Nutrição Vegetal para 2017 são bastante otimistas. “Nossa expectativa é manter o nível de crescimento dos últimos anos, que tem ficado na casa dos 13% de expansão no faturamento do segmento, o que pode ser considerado uma invejável marca perante outros setores da economia”, afirmou Roberto Levrero, presidente da Abisolo – Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal, durante entrevista coletiva realizada nesta terça-feira (21), em São Paulo. Os dados gerais do segmento referentes a 2016 estão em fase final de levantamento e serão consolidados num estudo a ser apresentado durante a VII edição do Fórum e Exposição Abisolo, que será realizada nos dias 5 e 6 de abril no Expo Dom Pedro, em Campinas/SP. “O Fórum é a principal ferramenta de divulgação das inovações tecnológicas e dos conhecimentos do segmento, sobretudo para a cadeia produtiva do agronegócio e para a sociedade de forma geral”, pondera Levrero. De acordo com Anderson Ribeiro, diretor de Relações Institucionais e Comunicação Social da Abisolo, o Fórum está dividido em três blocos. “No primeiro, estarão reunidos os principais nomes do mundo acadêmico envolvidos com pesquisa e desenvolvimento para o segmento de nutrição. No segundo, concentramos palestrantes que tratarão de temas relativos a aspectos regulatórios e ambientais. Por fim, o terceiro bloco reunirá diversos especialistas para traçar o cenário atual e as perspectivas do agronegócio para os próximos anos. Esse bloco terá as presenças dos ex-ministros da Agricultura, Roberto Rodrigues e Alysson Paulinelli, e será finalizado com um debate”. De acordo com os dirigentes da Abisolo, um dos principais fatores para justificar o bom desempenho do segmento de tecnologia para nutrição vegetal é a constante necessidade do produtor agrícola em aumentar sua competitividade, fazendo melhor uso da área plantada. “Outro fator para o crescimento é uma maior conscientização, por parte do produtor, de que a nutrição de plantas é responsável por 30% a 40% da produção das culturas e que o uso de tecnologias nessa área é fundamental para continuar avançando em produtividade”, acrescenta Levrero. Outra informação detalhada durante a coletiva foi a de que a expansão do segmento tem sido abrangente e envolve cada vez mais culturas. “Um exemplo disso é o uso dos produtos na cultura da cana, que era praticamente zero há 10 anos, e hoje se estima que já chega a 10% da área plantada”, informou Ribeiro. Atualmente, a cultura que mais utiliza fertilizantes especiais é a da soja, seguida de hortaliças, milho, café, cana e frutas. “Mas milho vem num movimento de forte crescimento e deve ultrapassar as hortaliças em importância nos próximos anos”, finaliza Levrero. Revista A&E

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Opinião

Agronegócio Boas notícias para 2017

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rise econômica, crise política e crise humanitária marcaram indelevelmente o ano de 2016 e geraram notícias negativas e perturbadoras. Um dos poucos setores que originou manchetes alvissareiras foi o agronegócio. Mais uma vez foi o setor que demonstrou grande capacidade de geração de riquezas, manutenção de empregos e distribuição de resultados. De modo geral, a produção esteve em alta (ou em leve recuo em alguns segmentos) e as exportações evoluíram. O consumo interno não cresceu em face do endividamento geral das famílias, mas o alimento esteve disponível, farto e acessível em todas as áreas. O produtor rural catarinense, de outro lado, experimentou um período de recuperação de preços depois de dois anos seguidos perdendo para a inflação. Isso se refletiu na elevação do valor bruto da produção agropecuária e no aumento da renda para parte expressiva dos produtores. De acordo com o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Cepa), o valor bruto dos principais produtos da agropecuária de Santa Catarina foi estimado em 28,8 bilhões de reais em 2016: aumento nominal de 16,2% e real de 3,5% em relação a 2015. Embora tenham sido considerados 49 produtos, destaca-se que apenas cinco (carne de frango, carne suína, leite, soja e fumo) contribuem com dois terços de todo o valor, mostrando que o agronegócio catarinense está concentrado em poucas cadeias produtivas. Dos 20 produtos mais importantes na composição do VBP da agropecuária de Santa Catarina, 12 tiveram aumento de preços ao produtor bem superior à inflação medida no transcorrer da safra. Os mais significativos aumentos foram observados no alho, no milho, no feijão, no leite, na banana, no frango, no arroz e na soja, todos produtos de grande importância para o agronegócio catarinense. A frustração das safras nas principais regi-

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ões produtores do País foi o principal fator a contribuir para a forte elevação dos preços dos produtos agrícolas em 2016, provocando redução da oferta no mercado de milho, arroz, feijão, banana e maçã. Além disso, a forte desvalorização cambial mantida durante a maior parte do primeiro semestre incentivou as exportações e o aumento dos preços domésticos de soja, milho e arroz. Apesar dessas condicionantes, 2016 chega ao fim com perspectivas melhores que as manifestadas pelo setor ao final do primeiro semestre. Exemplo disto é o preço do milho, que encerra o ano com valores abaixo de R$ 40 pela saca de 60 quilos - significativamente menor que os valores praticados meses atrás, que superaram R$ 60. A oferta no Paraguai e na Argentina, além da recentemente autorizada importação dos Estados Unidos, deverão reduzir a pressão sobre a cotação do insumo em, 2017, quando alguns fatores devem favorecer os negócios dos setores, tanto internamente, quanto no mercado internacional. As entidades do agronegócio acreditam que a possível recuperação econômica poderá influenciar os níveis de consumo das proteínas, melhorando a oferta interna e restabelecendo patamares per capita semelhantes aos de 2015. No mercado mundial, o "efeito Trump" deve se manifestar com regras protecionistas ao agronegócio americano e agressividade para a expansão de mercados. Se Trump adotar essa linha protecionista e, eventualmente, não reconhecer os tratados dos quais os EUA é signatários, com o Nafta, Otan e Parceria Transpacífico, pode acabar criando uma grande oportunidade para o Brasil. Aproximar-nos cada vez mais da China, Ásia, Oriente Médio, México, países africanos, países latino-americanos, assim como a Europa, será a nossa saída.

José Zeferino Pedrozo Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Revista A&E


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