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Especial - 35 anos Embrapa

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Palavra do Presidente

Rumo ao Futuro

Dr. Silvio Crestana - diretor-presidente da Embrapa

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Tecnologia e Inovação são conceitos fundamentais para o sucesso em empreendimentos na Sociedade da Informação e do Conhecimento. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa comemorou ao fazer 35 anos de existência, em 2008, o que junto com o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, é o resultado de uma parceria frutífera entre produtores e cientistas: uma nova agricultura, produtiva, eficiente, vigorosa e, acima de tudo vitoriosa, referência no que diz respeito aos trópicos. A união bem sucedida é que hoje permitiu obter na safra de 2007/8 uma produção recorde de grãos, da ordem de 144,1 milhões de toneladas. Possibilitou também que de 1975 a 2008, enquanto a produção dos cinco principais grãos (soja, trigo, milho, arroz e feijão) aumentasse três vezes, houvesse o incremento de apenas 40% na área plantada, com mostras evidentes de grande aumento da produtividade, propiciado pela adoção de tecnologias. No mesmo período o preço da cesta básica caiu de base 100 para base 30, ou seja, uma redução de cerca de 70% nos preços ao consumidor, considerando o poder de compra e preços reais já corrigidos e deflacionados. Mas criação e inovação são constantes e, por isso, que ao completar 35 anos lançamos o desafio: pensar como será o Brasil e o mundo em 2023, nos 50 anos da empresa. Com base nessa reflexão, elaboramos o 5º Plano Diretor da Embrapa. Com este horizonte, a longo prazo visando garantir a competitividade e a sustentabilidade da agricultura brasileira, com ênfase em novo patamar tecnológico para a agroenergia e biocombustíveis, uso sustentável dos biomas e integração produtiva das regiões brasileiras e, ainda, desenvolvimento de produtos diferenciados. Além disso, temas como mudanças climáticas, nutracêutica, (combinação dos termos nutrição e farmacêutica que estuda os componentes fitoquímicos nas frutas, legumes, vegetais e cereais como benéficos à saúde e possíveis curas de doenças) e nanotecnologia (construção de estruturas e novos materiais a partir dos átomos) foram consolidados na agenda de pesquisa.

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Palavra do Presidente

Mas criação e inovação são constantes e, por isso, que ao completar 35 anos lançamos o desafio: pensar como será o Brasil e o mundo em 2023, nos 50 anos da empresa.

Foi também o ano do Plano de Crescimento e Fortalecimento- PAC Embrapa. O programa destinará à pesquisa agropecuária até dezembro de 2010, cerca de R$ 914 milhões. Desse montante, R$650 milhões serão investidos diretamente na Embrapa. Outros R$264 milhões, aproximadamente, serão repassados pela empresa a organizações estaduais de pesquisa agropecuária que integram o SNPA. Vemos nessa ação, por parte do Governo, uma sólida demonstração de reconhecimento ao trabalho da empresa e de confiança no seu potencial de contribuir continuamente para o futuro do país. E dentro de uma maneira de agir sempre pautada no pioneirismo e na maneira de ser da ciência , de se antecipar aos problemas e planejar soluções é que criamos a Embrapa Agroenergia, e dentro em breve teremos os nossos horizontes ampliados com a implantação de três novos Centros de Pesquisa de âmbito nacional, sediados em Mato Grossso, Tocantins e Maranhão, estados que ainda não contavam com Unidades da Empresa. No que diz respeito ao setor privado, buscamos diversas formas de entendimentos, com destaque para a participação em parques tecnológicos, incubação de empresas, estabelecimento de redes de pesquisa. Algumas modalidades inéditas como o Programa de Parceria de Inovações Tecnológicas – Parcintec - concebido pela nossa Assessoria de Inovação Tecnológica (AIT). Tratase de uma parceria de base tecnológica entre a Embrapa e empresas do setor privado com o envolvimento do governo municipal, em alguns

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Silvio Crestana

casos. Arranjos como esse foram concluídos, por exemplo, com os municípios de Franca e Ituverava, no estado de São Paulo. Mas a busca pelo novo vai além das fronteiras nacionais e tem consonância com a política externa brasileira, materializada com a criação dos nossos Laboratórios Virtuais nos Exterior Labex, presentes nos Estados Unidos, França e Holanda e com previsão de abertura , ainda em 2009, no Reino Unido e Coréia do Sul. Em outra vertente, estamos levando nossas tecnologias para a África, onde nos instalamos em 2006, e também para a Venezuela, com criação do escritório da Embrapa em Caracas, em ambos os casos, praticando uma forma diferenciada de transferência de tecnologia . Não podemos também deixar de mencionar os quase 115 mil empregos gerados em 2007, que segundo o nosso Balanço Social registrou um lucro social de 15 bilhões de reais, significando que para cada real aplicado, R$ 13 retornaram para a sociedade brasileira, com quem temos o nosso maior compromisso. Aliados aos desafios que se apresentam hoje para a pesquisa agropecuária, todos os resultados são para nós motivo de orgulho e incentivo, na busca de mais inovações e índices mais arrojados que auxiliem no crescimento econômico, com justiça social e sustentabilidade ambiental.

Silvio Crestana Diretor - Presidente da Embrapa

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Expediente

Editorial

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Editorial

35 anos de Sucesso Volume 1 - Edição 2 - Ano II - 2009 Diretor e Editor José Márcio da Silva Araujo j.marcioaraujo@bol.com.br Publicidade Gilberto Cozzuol gilbertocozzuol@gmail.com Administração e Circulação Edmetec Ltda Produção Grafica Lucida Ltda Impressão & Acabamento Duograf Uma publicação: Edmetec Edições Médicas, Técnicas e Científicas Ltda Correspôndecia Rua Dra. Maria Augusta Saraiva,74 - Vila Olimpia - CEP 04545-060 Contato F: (011) 3849-1768 Fax: (011) 3849-2137 contato.edmetec@bol.com.br textos e Fotos Assessoria de Comunicação Social Embrapa

O conteúdo dos artigos assinados é de inteira responsabilidade dos autores

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Nesta edição nossa homenageada e uma das mais importantes instituições de pesquisas do setor agrícola do mundo, com atuação em quase todos segmentos da agricultura, estamos falando da Embrapa que completou 35 anos de sucesso na pesquisa agrícola. Nesta edição apresentamos a historia, os serviços prestados e os desafios que a Embrapa superou ao longo desses anos. Na seção “Palavra do Presidente” o Dr. Silvio Crestana – nos faz um balanço das atividades da Instituição e nos revela as metas da mesma para o futuro. Prof. Dr. José Teixeira Filho, coordenador de graduação da FEAGRI, fala sobre a profissão do Engenheiro Agrícola, artigo que todo profissional da área deveria ler. Assim como a matéria que abordamos sobre agronegócio, onde destacamos todas as atividades deste setor. Para encerrar essa edição apresentamos um artigo do Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Sr, Reinhold Stephanes, onde faz uma analise do Agronegócio em tempo de crise. Crise que não assustou os anunciantes desta edição, agradecemos a todos eles que acreditaram nesse projeto e tornou possível a concretização desta edição em que homenageamos esta instituição modelo para todo nós. Parabéns Embrapa pelos 35 anos de sucesso.

Boa Leitura

Conselho Editorial Sr. Cesário Ramalho da Silva Presidente da Sociedade Rural Brasileira Profº Dr. Paulo Sérgio Graziano Magalhães Profº. Titular da Feagri-Unicamp Profº Dr. Roberto Rodrigues Ex- Ministro Agricultura Profº Dr. Roberto Testeziaf Profº Titular da Feagri- Unicamp Prof . Dr. Silvio Crestana Diretor Presidente da Embrapa

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SumárioSumário Palavra do Presidente................................................03 Dr. Silvio Crestana - Diretor Presidente da Embrapa

Agronews......................................................................10 Notícias da área agrícola

Profissão.......................................................................16 artigo sobre a carreira do Engenheiro Agícola

Capa...............................................................................18 35 anos de sucesso - Embrapa

Fatos que marcaram a história da Embrapa.........26 Linha do Tempo

Serviços da Embrapa..................................................32 serviços prestados pela Embrapa à comunidade

Agronegócio..................................................................40 Uma analise das oportunidades no agronegócio brasileiro

Artigo.............................................................................48 O Agronegócio em tempo de crise - Ministro Reinhold Stephanes

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Agronews Agroeste Sementes lança híbridos de milho superprecoces com tecnologia YieldGard® Três novos híbridos de milho geneticamente modificados com tecnologia YieldGard ® foram lançados pela Agroeste Sementes no Show Rural Coopavel 2009, que aconteceu nos 9 a 13 de fevereiro, em Cascavel (PR). São eles o superprecoces AS 1551YG, indicado para a Safra de Verão e Safrinha e AS 1590YG para Safrinha; e o precoce AS 1572YG para safra verão, que é o primeiro hibrido YieldGard® recomendado para silagem de planta inteira e grãos úmidos no Brasil. A tecnologia YieldGard® caracteriza-se por conferir resistência a algumas espécies de lepidópteros-praga. O híbrido com essa característica carrega uma proteína eficaz contra os insetos-alvo, promovendo a proteção da planta antes mesmo que a praga consiga causar danos à cultura. Aplicada aos híbridos convencionais da Agroeste Sementes, já reconhecidos pelo mercado, a tecnologia passa a oferecer aos agricultores uma produção mais sustentável, com redução de uso de defensivos agrícolas e mais benéfica ao meio ambiente (www.yieldgard.com.br). Conheça também os híbridos AS 1596YG e AS 3421YG com tecnologia YieldGard®. Mais informações: www.agroeste.com.br

Wurth lança produto que protege máquinas agrícolas dos efeitos do tempo e produtos químicos O contato com adubos e outros produtos químicos provoca grande desgaste nas máquinas agrícolas, como tratores e plantadeiras. Em razão disso e do elevado custo deste tipo de equipamento, entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão, a Wurth do Brasil, multinacional alemã especializada em peças de fixação, ferramentas e produtos químicos, desenvolveu o Protetor de Superfície. Produto a base de resina acrílica, forma um filme impermeável e transparente para proteger máquinas agrícolas. Resultado de intensos investimentos para o desenvolvimento, que incluíram rigorosos testes de qualidade, de acordo com os padrões determinados pela matriz na Alemanha, o protetor é resistente à água e não agride o meio ambiente, já que é biodegradável. Sua aplicação também é bem simples, basta o local estar limpo, aplicar o produto por um processo de pulverização e esperar cerca de 30 minutos para secar. Além de poder ser aplicado em veículos em geral o Protetor de Superfície também pode ser utilizado para proteger implementos agrícolas, como arado, grade e plantaderia. O produto garante que elas estejam protegidas das corrosões causadas por produtos químicos utilizados nas lavouras, como adubo e uréia. “É fundamental a proteção de todo tipo de superfícies externas. Fatores naturais como raios solares e maresia estragam a pintura e deixam o veículo com uma má aparência. Os investimentos para se ter uma dessas máquinas é muito alto, e para comprar e aplicar o Protetor de Superfície é baixo e garante maior durabilidade e conservação da máquina.”, explica Evandro Cordova, gerente da Divisão Cargo. Para divulgar seu evento, produtos e ou serviços nessa seção enviar e-mail aos cuidados da redação para: contato.edmetec@bol.com.br

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Agronews Sementes De Atitude: Projeto inédito da Vipal já distribuiu mais de 50 mil sementes

Kits contendo sementes de ipê roxo, jacarandá, pau-formiga e imburana foram distribuídos entre os colaboradores, escolas, clientes e jornalistas em todo o país, visando incentivar o replantio de árvores e a troca de conhecimento sobre ações de preservação do meio ambiente. Sementes de Atitude possui também um site exclusivo com notícias, jogos e uma árvore virtual, entre outras ferramentas de interatividade. Por isso, o projeto vai além de um programa de replantio de árvores. Sementes de Atitude possui um site exclusivo (www.atitudevipal. com.br), onde são disseminadas idéias, conteúdos e discussões sobre as ações em prol de um futuro melhor. “Há décadas realizamos ações ecológicas. Aliás, o nosso negócio é especialmente ecologicamente correto. Mas sentíamos falta de um canal de troca de informações e de incentivo às ações ambientais. E nada melhor do que a Internet para proporcionar acessibilidade e disseminação dos temas”, destaca João Carlos Paludo, presidente executivo da Borrachas Vipal. Ao entrar no site www.atitudevipal.com.br e digitar o número, o visitante conhece a espécie de árvore que recebeu, como plantá-la e tratála. Interagindo com o site, navegando e respondendo às questões sobre meio ambiente, o visitante também fará crescer uma árvore virtual, estimulando também os cuidados com a árvore que recebeu. “Integramos a teoria, a prática, o conteúdo, a acessibilidade e o apelo para a preservação do planeta”, afirma João Carlos

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Trigo: Paraná Obteve Produtividade Recorde Na Safra 2008 Em 2008, o rendimento médio da safra de trigo paranaense atingiu o recorde de 2.820 kg/ ha e a produção, que chegou a 3,2 milhões toneladas, foi uma das melhores já obtidas no Estado. Conforme avaliação do engenheiro agrônomo Otmar Hubner, do Departamento de Economia Rural (Deral), a qualidade física dos grãos colhidos foi beneficiada pelas condições climáticas. Porém, “mais uma vez, os produtores têm dificuldade em vender e os preços não são atrativos”, avalia Hubner. Em 2008, até aos primeiros dias de fevereiro os paranaenses tinham vendido 89% do trigo colhido na safra 2006/07, agora, a comercialização da safra 2007/08 vem seguindo lentamente, tendo chegado a 65% da produção em 09 de fevereiro. Os baixos preços e a falta de compradores são as principais causas. O preço médio praticado no Paraná está em R$ 29,62 por saca de 60 kg, variando de R$ 26,00 a R$ 33,00 nas diferentes regiões do Estado. Em abril e em maio de 2008, quando os produtores estavam semeando o trigo, o valor médio estava em R$ 41,00. Em dezembro de 2008 a média foi de R$ 25,32 e em janeiro de 2009 houve ligeira reação, chegando a R$ 26,80. Para Hubner, falta de liquidez do trigo brasileiro tem por principal causa o fato de as industrias comprarem o mesmo conforme a necessidade imediata ao longo do ano, também importando parte do consumo, principalmente da Argentina e do Paraguai, países que estão geograficamente próximos do Paraná. “A reação que tem sido verificada desde início do ano nos preços do trigo é devida à frustração da safra argentina que foi castigada por estiagem, sendo que, o produto comprado em outras praças tende a custar mais caro por causa da maior distância e do aumento verificado no estoque mundial, conforme divulgado pelo Departamento de Agricultura Americano que estima safra mundial recorde para o período 2008/09”, conclui o agrônomo do Deral.

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Produção de grãos poderá ser ainda menor Os efeitos da forte seca na região Sul e parte de Mato Grosso do Sul provocaram uma quebra de 6,5% na safra nacional de grãos, fibras e cereais. Mas a quebra de 9,4 milhões de toneladas detectada até meados de janeiro pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deve ser ampliada. A estatal prevê uma colheita de 134,68 milhões de toneladas, longe do recorde histórico de 144,11 milhões ocorrido na safra anterior. Os indícios de uma quebra ainda maior nesta safra são corroborados pela elevação no volume de comunicados de perdas nas lavouras do Centro-Sul do país. Os prejuízos potenciais relatados por 48 mil produtores somam pelo menos R$ 500 milhões, segundo dados do Banco Central e do Banco do Brasil. Até ontem, o sistema de seguro oficial do governo (Proagro) registrou 44 mil pedidos de indenização. As perdas potenciais no seguro privado operado pelo Banco do Brasil chegaram a 3.844 comunicados formais. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, estima uma quebra de 8%, mas o ritmo dos pedidos de indenização sugerem um índice acima de 10%. No sistema do Proagro, as perdas potenciais estão em 9% da carteira total de 485 mil apólices. No Banco do Brasil, o índice sobe a 11% num universo de 35.852 contratos. “Pode haver uma variação aí. Mas acho que vai ficar nesse intervalo entre 6% e 8% porque ainda temos consequências climáticas que não foram totalmente medidas”, disse Stephanes. Estado mais castigado pela estiagem, o Paraná contabiliza 21.572 comunicados de perda no Proagro e 3.309 pedidos de indenização no Banco do Brasil. O milho, principal alimento usado na cadeia das carnes, foi a cultura mais prejudicada pela seca. A quebra superou 7 milhões de toneladas, dos quais 3,7 milhões apenas no Paraná. Mas o tombo do milho atingiu todo o país. No Centro-Sul, a produção quebrou 14,6% - no Paraná, chegou a 38%. Na região Norte-Nordeste, a queda foi de 10%. Termômetro para a rentabilidade das lavouras em geral, a produtividade média no milho recuou 15% no

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país, 24% na região Sul e 33% no Paraná. Diante do tamanho da quebra, os impactos nos preços aos consumidores de milho e de carnes já estão no radar do governo. “O milho é a nossa maior atenção, com recuperação importante agora da safrinha”, disse o diretor de Logística da Conab, Silvio Porto. “Já que tivemos na primeira safra uma redução de sete milhões de toneladas, é importante termos uma boa segunda safra para assegurar um quadro de suprimento ao longo desse ano”. Os estoques finais de milho devem ficar em 6,8 milhões de toneladas, suficiente para abastecer o mercado interno e ainda garantir exportação de 9 milhões de toneladas, segundo ele. Na safra passada, o estoque era de 11,9 milhões. A safra de soja também deve sofrer uma significativa redução de 2,8 milhões de toneladas (-4,7%), segundo a Conab. A colheita foi reestimada para 57,21 milhões de toneladas. Paraná, Mato Grosso do Sul, Bahia e Maranhão puxaram a quebra. A produtividade nacional recuou 5,4%. No algodão, a estimativa da Conab informa uma redução 22,2%, para 1,25 milhão de toneladas de pluma. Foram 356 mil toneladas abaixo das 1,6 milhão de toneladas colhidas na safra passada. Na outra mão, a boa colheita estimada para arroz e feijão estaria garantida. Para o arroz, a projeção indica a produção de 12,35 milhões de toneladas (+2,5%). Na soma das três safras de feijão, os produtores devem colher 3,59 milhões de toneladas (+1,9%). “Entendemos que os preços estão em equilíbrio e não devemos fazer intervenção para reduzir preço ao produtor nessa situação”, afirmou Silvio Porto.

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Agronews Brasil toma mercado argentino de milho Por um acidente climático na vizinha Argentina, o Brasil pode assumir este ano, pela primeira vez, a posição de segundo maior exportador mundial de milho, apontam dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda). O novo levantamento reduziu as exportações argentinas referente a safra 2008/09 à metade, 7 milhões de toneladas. Ainda de acordo com as projeções do Usda, as vendas externas de milho brasileiro devem ficar próximas à 10 milhões de toneladas. Mesmo com um volume inferior em um milhão de toneladas ao embarcado em 2007, o Brasil ficaria atrás apenas dos Estados Unidos, com exportações estimadas em 45 milhões de toneladas. O Brasil ficaria ainda à frente da Ucrânia, com vendas externas estimadas no ciclo 2008/09 em 4 milhões de toneladas, da África do Sul, que deve embarcar outras 2,5 milhões de toneladas, da União Européia , 2 milhões, e até da China, que de grande exportador passou a coadjuvante no mercado externo de milho com estimativa de embarcar apenas 500 mil toneladas. A seca na Argentina contraiu a safra para 13,5 milhões de toneladas,

ante as 16,5 milhões de toneladas previstas. Em 2008, o país colheu 20,85 milhões de toneladas. A produção brasileira também foi afetada, mas em proporções menores. Segundo o Usda, o País deve produzir 49,5 milhões de toneladas. Em janeiro, o Departamento de Agricultura americano estimava uma safra de 51,5 milhões. No ano passado foram colhidas 58,6 milhões. De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o estoque de passagem foi superior a 10 milhões de toneladas. Esse volume estocado da temporada passada e o consumo interno estável em 2008 garantiriam oferta suficiente para as exportações previstas para o Brasil. Segundo informou um corretor, a Argentina está com licença de exportação suspensa. Enquanto isso, o Brasil contabiliza dois milhões de toneladas embarcadas em 2009. “Mas é um market share pontual, graças à uma catástrofe climática e não ao esforço brasileiro”, avalia Paulo Molinari, da Safras&Mercado. A “pontualidade” assinalada pelo analista é justificada pela logística do player vizinho e pelo consolidado consumo doméstico brasileiro.

Colheita de cana superará 500 milhões de toneladas A produção de cana-de-açúcar no Centro-Sul do país deverá superar pela primeira vez a marca de 500 milhões de toneladas nesta safra (2008/09), graças à continuidade da moagem da matéria-prima durante o período de entressafra, confirmou ontem a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). Até o dia 15 de janeiro, 46 usinas mantiveram o processamento da cana e pelo menos dez unidades poderão emendar uma safra na outra, se o clima permitir. Até agora, 26 unidades continuam em operação. Levantamento da Unica mostra que até o dia 15 de janeiro a moagem totalizou 499,6 milhões de toneladas, volume 15,88% maior em relação ao ciclo anterior. Na primeira quinzena do mês, a moagem totalizou 2,34 milhões de toneladas de cana. “A moagem ainda continua porque muitos projetos de novas usinas iniciaram suas operações no fim do ano passado”, afirmou Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica. A

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maior produtividade registrada no período também colaborou para o bom desempenho do setor sucroalcooleiro. A produção de açúcar totalizou 26,75 milhões de toneladas até o dia 15 de janeiro, alta de 2,11% sobre a safra 2007/08. A oferta de etanol, no mesmo período, atingiu 24,79 bilhões de litros, 22,59% superior ao total produzido na safra anterior. No mercado interno, as vendas de etanol entre abril de 2008 e o dia 15 de janeiro de 2009 foram de 16,4 bilhões de litros, 25,2% maior sobre igual período do ciclo anterior. Já as exportações no mesmo período ficaram em 3,98 bilhões de litros, 67,2% superior ao verificado no mesmo período da safra passada. Para 2009/10, a expectativa do mercado é de que a safra bata novo recorde, mesmo com boa parte das usinas passando por uma situação financeira delicada. O aumento da produção refletirá as expansões em curso de grupos do setor.

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Du Pont prevê avanço A DuPont, segunda maior empresa de sementes do mundo, prevê que os lucros de sua divisão agrícola crescerão mais de 15% ao ano até 2013 com o desenvolvimento de novos transgênicos e pesticidas, diz a Bloomberg.

“Big Brother” do Boi Os pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) captaram, em um ano, mais de 500 mil imagens de satélite de 375 mil km2 da faixa da divisa entre o Acre e o Paraná. São pontos estratégicos para a defesa sanitária brasileira. Essas áreas fronteiriças são as mais preocupantes. Somente no município sul-mato-grossense de Eldorado, existem 42 estradas de acesso ao Paraguai, segundo dados da Embrapa Monitoramento por Satélite.

Flor no cacau Produtores de cacau da Bahia continuam diversificando as suas fazendas. Agora resolveram investir no plantio consorciado de flores tropicais. Boa parte dos produtores que formaram a Associação dos Produtores de Flores e Plantas Ornamentais do Sul da Bahia (Florassulba) também produz cacau. Segundo a associação, o mercado baiano de flores tropicais já movimenta cerca de R$ 5 milhões por ano. Em Ilhéus e Itabuna, há cerca de 100 hectares plantados com flores e plantas tropicais. O objetivo do projeto é a exportação. Na Alemanha, a Musa é vendida por até 15 euros, enquanto por aqui vale no máximo R$ 1,50. Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas pelo telefone (73) 3231-1783 ou e-mail florassulba@hotmail.com

Porteira aberta Desde o dia 1° de dezembro de 2008, estão liberadas as exportações de carne in natura para a União Européia, provenientes de bovinos abatidos em Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso. Com a habilitação dessas áreas, mais 40 milhões de bovinos podem ser comercializados para o mercado europeu.

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Safra de 137 milhões de toneladas Levantamento divulgado pela Conab no início de janeiro estima que a safra nacional de grãos 2008/2009 deva alcançar 137 milhões de toneladas. O resultado, quase 5% inferior ao divulgado anteriormente, já considera os efeitos da estiagem e do excesso de chuvas em algumas regiões do Sul do Brasil. A previsão da área plantada é de 47,49 milhões de hectares. A pesquisa foi realizada no período entre 15 de novembro e 19 de dezembro. Informações mais detalhadas podem ser obtidas no site www.conab.gov.br.

Novas frutas Abacaxi sem espinhos e com sabor mais doce, bananas com alta resistência a doenças, variedades de maracujá ricos em vitamina C, tolerantes a pragas e que reduzem os gastos com defensivos. O arsenal de pesquisas da Embrapa na área de fruticultura permite aos produtores aumentar a produtividade, diminuir custos e agregar valor à produção. Os avanços da pesquisa transformaram o Vale do São Francisco no maior pólo de fruticultura do Brasil. Manga e uvas, as principais frutas cultivadas na região, ocupam área de 33 mil hectares ente Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), que já se destacam também na fabricação de sucos, polpas e alimentos industrializados.

Inovação na cana A Syngenta lançou uma nova tecnologia para o plantio de cana-de-açúcar no Brasil. Segundo os técnicos da empresa, o sistema, que utiliza mudas tratadas com produtos da empresa, pode reduzir em até 15% os custos de plantio por hectare. O emprego de pequenas mudas, de 6 centímetros de altura, deve simplificar o trabalho de plantio. A John Deere está participando da nova tecnologia desenvolvendo a máquina a ser utilizada no plantio.

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Profissão

Engenharia Agrícola

O engenheiro no ambiente rural O profissional de engenharia com importante atuação na preservação e na conservação ambiental.

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O Engenheiro Agrícola é um profissional qualificado para levar ao campo soluções inovadoras que contribuem com o avanço tecnológico dos sistemas de produção agrícola e agroindustriais, incluindo produção, processamento e distribuição de produtos agrícolas em todas as fases da cadeia produtiva do agronegócio, em harmonia com o meio ambiente e com o desenvolvimento sustentado. Esse profissional é habilitado para: - Planejar métodos de armazenagem e de conservação de produtos agrícolas, elaborando projetos de unidades armazenadoras e sistemas de refrigeração; - Projetar e construir obras e estruturas relacionadas a sistemas de produção animal e vegetal, dentro dos princípios de ambiência e de preservação ambiental; - Otimizar o uso dos recursos naturais e sua conservação, projetando açudes, barragens, obras hidráulicas e sistemas de irrigação, drena-

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gem e saneamento; - Elaborar, modificar e projetar máquinas e equipamentos agrícolas, sendo especializado no uso de energia e de recursos naturais; - Contribuir, dentro do conceito de sustenta-bilidade, para a destinação adequada de resíduos gerados nas atividades agropecuárias e agroindustriais, visando o controle de poluição e da contaminação ambiental; - Atuar na administração e gerenciamento de empreendimentos agrícolas, baseado em conceitos de agricultura de precisão e visando a otimização do uso dos insumos agrícolas e a racionalização do uso de energia; - Trabalhar em pesquisa nos setores agropecuário e agroindustrial, gerando e desenvolvendo sistemas de produção e componentes tecnológicos. - Atuar na gestão de recursos naturais, na perspectiva da sustentabilidade.

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É para você? Se você deseja se tornar um Engenheiro Agrícola, você terá garantido para si uma carreira multifacetada com inúmeras possibilidades de trabalho. O mercado globalizado demanda alimentos mais saudáveis e que sejam produzidos em maior quantidade levando-se em conta, além dos custos, questões sociais e ambientais. O aumento da produtividade exige a introdução de novas tecnologias, mais apropriadas para cada sistema produtivo. As culturas voltadas para produção de energia (bio-combustíveis) ganham espaço na matriz energética mundial e requerem o aprimoramento e o desenvolvimento das tecnologias de produção, manuseio e uso. O agronegócio brasileiro conquista espaços no mercado mundial de carne, soja, açúcar, álcool e mostra potencial ainda pouco explorado para frutas, hortaliças e flores, dentre tantos outros produtos. Em especial, atuando para sustentabilidade do meio ambiente para uma melhoria da qualidade de vida. Desta maneira, o Engenheiro Agrícola tem um papel muito importante no atual cenário mundial, desenvolvendo um trabalho de grande responsabilidade perante nossa sociedade e atuando de forma decisiva no desenvolvimento de nosso país. Formação dos Engenheiros Os Engenheiros Agrícolas na UNICAMP são capacitados e motivados para atuarem na área de engenharia com base técnica diversificada e com preocupação social, econômica e ambiental. O futuro Engenheiro Agrícola recebe uma formação que tem como base as ciências exatas – fundamentalmente os recursos da física, como nas engenharias tradicionais – ainda que façam parte do currículo do curso disciplinas com ênfase nas áreas social, econômica e ambiental. Portanto, é fundamental que, ao optar pela Engenharia Agrícola, o interessado se prepare para receber uma formação plena como engenheiro. Isto significa estudar, nos dois primeiros anos, disciplinas comuns a outros cursos de engenharia, como física, matemática e química. O currículo básico inclui ainda a introdução ao processamento de dados e técnicas de planejamento, entre outras. A partir do terceiro semestre é que o aluno começa a se aprofundar em disciplinas específicas. Algumas delas: resistência dos materiais, fundamentos do cálculo estrutural, hidráulica geral, hidrologia,

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processamento e interpretação de imagens, saneamento, laboratório de máquinas agrícolas, barragens e obras de terra, formação e desenvolvimento da agricultura brasileira e armazenamento de produtos agrícolas. O profissional é capacitado para gerar e difundir conhecimento para o meio rural, propondo alternativas viáveis, de forma a atender as necessidades e demandas da sociedade, respeitando os princípios de sustentabilidade ambiental. Com essa formação, o engenheiro agrícola atua em Institutos de Pesquisa, Universidades do Brasil e do Exterior, Escolas Técnicas Agrícolas e diversas Empresas do Setor Agroindustrial. Capacitação profissional. O Engenheiro Agrícola é reconhecido no país e no exterior como símbolo de excelência, pela atuação no ensino, pesquisa e extensão em áreas afins das Ciências Agrárias. O Engenheiro trabalha de forma interdisciplinar e cooperativa, e participa na formulação de políticas públicas na área das Ciências Agrárias. O Engenheiro Agrícola busca contribuir para a produção de alimentos, usando a combinação de conhecimentos científicos e de engenharia para encontrar soluções que respeitem o uso sustentável dos recursos naturais, preocupado sempre com a questão socio-econômica. Assim, o Profissional graduado deve sistematicamente buscar informações para poder se atualizar constantemente, não medindo esforços intelectuais para o desenvolvimento da comunidade nos aspectos: social, cultural, cientifico, tecnológico e econômico. Oportunidades Parte significativa dos alunos tem oportunidade de participar ativamente em atividades de pesquisa, na forma de bolsistas de Iniciação Científica. Essa importante atividade permite ao aluno manterse em contato com as novidades tecnológicas mais recentes do setor agroindustrial. Estágios em empresas e/ou no exterior também são incentivados, como forma de preparar adequadamente os alunos para o mercado de trabalho.

Prof. Dr. José Teixeira Filho, coordenador de graduação da FEAGRI - Unicamp

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Capa

Embrapa 35 anos de sucesso

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Década de 70. A agricultura se intensificava no Brasil. A população e a renda per capita cresciam em ritmo acelerado. Ao mesmo tempo, profissionais da extensão rural questionavam a falta de conhecimentos técnicos genuinamente brasileiros para repassar aos agricultores e o País se abria ao exterior, conquistando novos mercados consumidores. O cenário era claro: sem investimentos em pesquisa agropecuária, o Brasil não conseguiria atender a crescente demanda por alimentos e fibras. Nesse contexto, o então ministro da Agricultura, Luiz Fernando Cirne Lima, constituiu um grupo de trabalho para alavancar a pesquisa agropecuária nacional. O objetivo era identificar limitações, sugerir providências, indicar fontes e formas de financiamento e propor uma legislação adequada para o setor. O relatório final desse grupo de trabalho, denominado “Sugestões para a Formulação de um Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA)”, acabou se transformando no famoso “Livro Preto”, pois tinha uma capa de cartolina negra, a única disponível no momento. Entre as recomendações desse relatório, estava a criação de uma empresa pública capaz de gerir e fomentar com eficiência e agilidade o SNPA. Era a semente da Embrapa, definitivamente plantada em 28 de março de 1973, com o Decreto nº 72.020, que aprovou os estatutos da Empresa e determinou sua instalação em 20 dias. A posse da primeira Diretoria aconteceu em 26 de abril de 1973: José Irineu Cabral foi nomeado o primeiro diretor-presidente da Embrapa, apoiado pelos diretores Eliseu Roberto de Andrade Alves, Edmundo da Fontoura Gastal e Roberto Meirelles de Miranda. Instalada provisoriamente no Edifício Palácio do Desenvolvimento, em Brasília, DF, a diretoria da nova empresa buscou no mercado os quadros que pudessem liderar as atividades da nova estrutura de pesquisa. O problema começou a ser resolvido no final de 1973, quando uma portaria do Executivo extinguiu o Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação (DNPEA), que coordenava todos os órgãos de pesquisa existentes até a criação da Embrapa.

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Com isso, a Empresa herdou do DNPEA uma estrutura composta de 92 bases físicas: 9 sedes dos institutos regionais, 70 estações experimentais, 11 imóveis e 2 centros nacionais. A partir daí a Embrapa começava a sua fase operativa, passando a administrar todo o sistema de pesquisa agropecuária no âmbito federal. Hoje, os frutos daquela semente plantada em 1973 estão por todo o País, na forma de tecnolo-gias e produtos gerados pelas 38 Unidades de Pesquisa e três de Serviços presentes em quase todos os Estados da Federação. E para alcançar o sucesso brasileiro na agricultura tropical a Empresa investiu principalmente no treinamento de recursos humanos: atualmente, possui 8.275 empregados, dos quais 2.113 são pesquisadores – 25% com mestrado e 74% com doutorado.

Nasce a nova agricultura dos trópicos O Brasil vive um processo de adoção de tecnologias modernas de velocidade e intensidade desconhecidas até mesmo nos países avançados. Em pouco mais de três décadas, o País criou uma poderosa cadeia produtiva - o agronegócio - que responde por 25% do PIB nacional e contribui com cerca de 37% do valor das exportações. Além de sua participação no abastecimento de produtos tradicionais como madeira, açúcar e café, o Brasil está entre os grandes exportadores do complexo soja, de carnes bovina, suína e de frango, frutas, suco de laranja, milho, e celulose. É o maior produtor e já exportador de álcool de cana de açúcar e voltou a ser um importante fornecedor de algodão. O País se tornou um ator destacado no cenário mundial. Não só passou a influir decisivamente no preço e no fluxo de alimentos e outras commodities agrícolas, como desembarcou no centro de todas as disputas legais e diplomáticas em torno de subsídios, cotas e outras barreiras que impedem o acesso dos produtores agrícolas aos mercadores consumidores.

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O Brasil se construiu líder na agricultura mundial. O sucesso no desenvolvimento do agronegócio, que se verificou desde então, foi engendrado pela conjunção de políticas públicas acertadas e continuadas, a existência de um empresariado empreendedor, ousado e persistente, e pela disponibilidade de algum capital público, doméstico e internacional. Além da industrialização, que tem suas raízes na década de 50, o país passou a fazer vultosos investimentos em infra-estrutura de estradas, portos, aeroportos, telecomunicações e armazenagem, em crédito rural, educação e ciência&tecnologia. Uma das políticas públicas mais decisivas foi a de modernização da agricultura brasileira, iniciada com a reforma da estrutura federal de pesquisa agrícola para criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e de um Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária. A partir de sua ação, o País estimulou a criação e consolidação de uma indústria de sementes certificadas de âmbito nacional, estabeleceu a indústria e o uso metódico de fertilizantes, corretivos e defensivos químicos, e ampliou sua base agroindustrial de padrões internacionais. Dessa maneira, reinventou sua agricultura. Na verdade, criou uma nova agricultura, tão eficiente quanto a dos países desenvolvidos, de clima temperado, mas uma agricultura essencialmente tropical, provando ser possível fazê-lo nessa latitude do Planeta Terra.

O problema, o propósito e o foco O ano de 1973 foi um divisor de águas. Até então, a agricultura brasileira tinha um caráter extrativista ainda bastante acentuado. Seu crescimento decorria primordialmente da abertura de novas fronteiras agrícolas em busca do aproveitamento da fertilidade natural dos solos, nas várzeas e nos talhões da chamada “terra de cultura”. Em números aproximados, a produção de carne (2 milhões de ton.) e leite (7,5 bilhões de litros) era extraída em sua maior parte de pasta-

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Capa gens naturais, de baixa capacidade de suporte, onde se criava um rebanho expressivo de 90 milhões de bovinos. Pouco mais de 20% das pastagens (35 milhões de hectares) eram plantadas. As granjas forneciam cerca de 700 mil ton. de carne suína e 400 mil ton. de frango. A produção de grãos concentrava-se no Sul e no Sudeste, que respondiam por 16,7 milhões dos 23,8 milhões de hectares cultivados em todo o país. O Nordeste flagelava-se com as incertezas da seca em 4,6 milhões de hectares para cultivar milho, feijão e algum arroz. O CentroOeste ousava enfrentar seus “veranicos” em 2,4 milhões de hectares: na metade produzia arroz de sequeiro (como forma de domar o solo para outros cultivos) e no restante extraía algum milho e feijão. O Norte era na sua quase totalidade uma floresta extrativista, cultivando arroz, feijão de corda e milho em escassos 190 mil hectares.

poucos meses do ano, às cidades mais desenvolvidas. Maçãs, uvas, nozes e castanhas, só importadas, no Natal. Frango, reservado para o “ajantarado” de domingo ou a canja dos convalescentes.

O uso de fertilizantes, sementes melhoradas, corretivos dos solos, controles sanitários e de outras formas de inteligência e conhecimento na operação agrícola era bastante reduzido. Esses traços de modernidade ficavam praticamente restritos aos estados do Sul e notadamente em São Paulo, mercê da presença dos descendentes de imigrantes europeus e japoneses e de sólidas universidades e institutos de pesquisa agrícola.

A missão de criar uma base tecnológica para o desenvolvimento da agropecuária, confiada à Embrapa pelo I Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND, 1970-74), tinha propósitos muito simples e claros: garantir o abastecimento nas cidades, onde vivia a maioria dos pobres; interiorizar o desenvolvimento, criando empregos e renda na larga maioria de municípios de base rural; preservar recursos naturais; e criar excedentes exportáveis.

No mais, o uso de tecnologias importadas, por impróprias ao clima tropical, resultava desanimador. Não havia práticas conservacionistas e as queimadas eram rotina aceita no preparo da terra. De maneira geral, os produtores viviam ao sabor das incertezas do clima, castigados por secas, geadas, chuvas concentradas e surtos inesperados de pragas e doenças.

A primeira grande alteração nesse cenário foi uma mudança de mentalidade. O movimento de modernização da agricultura, liderado pela Embrapa e ancorado nas universidades e institutos estaduais de pesquisa agrícola, conseguiu convencer a sociedade brasileira – sobretudo políticos e empresários – de que era preciso aumentar a safra por meio do crescimento da produtividade, em vez de abrir novas áreas de plantio.

Nesse cenário, as crises de abastecimento eram constantes. Nas cidades, que já então abrigavam mais de 70% da população, convivia-se com a escassez de carne, de leite e do feijão, clamava-se contra a inflação do chuchu ou do ovo, vigiava-se o preço do pãozinho de sal, pautado pela cota do trigo importado a peso de dólar. A oferta de frutas, legumes e verduras era escassa e sazonal, restrita a uns poucos itens, a

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O movimento fez governantes e cidadãos compreenderem que era preciso desenvolver e usar tecnologias adequadas ao ambiente tropical. Isso demandava criar competência própria e conhecer bem esse universo, de maneira a saber escolher e usar as contribuições relevantes da ciência mundial, mas com o cuidado de não ser dependente das tecnologias feitas fora do Brasil. Um projeto de soberania.

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Com capitais nacionais e internacionais, a Embrapa atualizou e ampliou a estrutura de pesquisa herdada do Ministério da Agricultura. Seus laboratórios foram aparelhados com métodos e equipamentos de última geração. Tal estrutura foi estabelecida de forma equânime e proporcional ao tamanho da tarefa: 6 centros de pesquisas nas florestas amazônica, e sete em cada um dos ecossistemas restantes, no semi-árido do Nordeste, nos cerrados do Centro-Oeste, nas áreas subtropicais do Sudeste e nas áreas temperadas do Sul, totalizando 34 estações de pesquisa. Com pequenas adições, é o conjunto de 38 centros de pesquisas que se tem hoje e que, com as universidades e os institutos estaduais forma uma rede nacional de pesquisa agrícola e de característica multidisciplinar, em estreita parceria com os centros internacionais de pesquisa. Para essa rede nacional, foi estabelecido um programa de trabalho que tinha um único foco, muito preciso, delineado em três tarefas: conhecer e avaliar os recursos de solo, água, clima, plantas, animais, insetos e microfauna, e suas relações de causas e efeitos; desenvolver e avaliar usos e aplicações sustentadas para esses recursos naturais, seja em novos sistemas de produção ou nos sistemas existentes; avaliar e adaptar às condições ambientais do Brasil as tecnologias de origem estrangeira relevantes para os propósitos estabelecidos para a agropecuária nacional.

Em 1985 já se vislumbrava que algo novo e diferente acontecia, em proporções inesperadas. O rebanho bovino, já com 127 milhões de cabeças, se sustentava já em 74 milhões de hectares de pastagens melhoradas. A área de pastos nativas voltara aos níveis de 1970.

A Embrapa iniciou então um dos mais ambiciosos programas de capacitação, que treinou, nas mais importantes universidades do Brasil e do exterior, mais de 4 mil pesquisadores agrícolas. Não apenas os seus, mas também os pesquisadores das universidades e dos órgãos estaduais de pesquisa. Tal programa, já menos ambicioso, continua até hoje.

A oferta de leite crescera mais de 50%, chegando a 12 bilhões de litros, e a de carne cerca de 70%, somando 3,4 milhões de ton. Mas isso se deu mais em regiões não tradicionais: a produção de leite, quase dobrou no Sul e no Norte e quase triplicou no Centro-Oeste. O tamanho do rebanho duplicou no Norte e aumentou 60% do Centro Oeste.

São esses os heróis anônimos e as condições decisivas que criaram a nova agricultura, de talhe tropical, que o Brasil hoje exibe para o mundo. Uma cadeia complexa e sofisticada de relações, causas e efeitos, que pode ser sintetizada em uma única palavra: Conhecimento. Ou melhor ainda: Informação, que é o Conhecimento em movimento.

A área plantada com grãos também cresceu 2,5 vezes no Centro-Oeste e 3,5 vezes no Norte. Sobretudo, nas culturas de milho e a soja que permitem maior agregação de valor: a área de cultivo da soja no Centro Oeste multiplicou-se quase 20 vezes nesse período.

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Estabeleceu-se então um ciclo virtuoso: os novos conhecimentos, traduzidos como informações e tecnologias, incorporam-se aos sistemas produtivos agropecuário e florestal e produzem mais informações (respostas e questionamentos) que ensejam a produção de novos conhecimentos.

A nova agricultura tropical

Nesse período, o aumento da safra ainda dependia da abertura de novas áreas, mas eram

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Capa regiões não tradicionais, com cultivos não tradicionais: era fruto de um conhecimento novo. E a produtividade média também crescia: de 1280 para 1620 kg/ha. Tudo isso delineava uma nova realidade, que seria uma constante nas décadas a seguir.

mitiu que a irrigação chegasse redentora ao semiárido nordestino, e com ela um enorme avanço na produção de frutas e hortaliças e redução dos seus preços para os consumidores, fazendo do Brasil um dos grandes exportadores de frutas.

De lá para cá, a contribuição mais importante da Embrapa e instituições associadas não terá sido uma ou outra tecnologia isolada, mas o fato de que criou e adaptou, às condições do país, um conjunto de plantas, animais, práticas, máquinas e manejos que formam uma agricultura totalmente diferente daquilo que o Brasil praticava até o início dos anos 70.

Dessas mudanças resultaram a ampliação da oferta e variabilidade de produtos agrícolas e a estabilização do abastecimento. A estabilidade na oferta ensejou o desenvolvimento da agroindústria e da logística de armazenamento e distribuição, reduzindo os problemas de sazonalidade. Produtos raros como frutas de clima temperado e as castanhas e sucos da Amazônia e do Nordeste tornaram-se acessíveis a qualquer cidadão.

Dentre os principais atributos dessa nova agricultura estão o elevado índice modernização tecnológica dos sistemas de produção, as altas taxas de produtividade física e a competitividade daí decorrente. Talvez o mais relevante deles seja a nova geografia da produção, redesenhada a partir do aproveitamento dos Cerrados e do SemiÁrido Nordestino, como áreas nobres para produção de grãos, carnes, fibras, hortaliças e frutas.

Numa decorrência direta dessas mudanças, ampliou-se a variedade de itens que compõem a dieta básica da população, antes restrita aos tradicionais arroz, feijão, carne ou ovos, farinha de mandioca, e macarrão, mas hoje enriquecida pela atual riqueza de frutas, legumes e verduras, leites e carnes, de produtos pré-processados e de outras fontes de carboidratos e proteínas.

Conhecimentos e investimentos foram interiorizados, deslocando-se o eixo de produção e criando riquezas e bem-estar em regiões desconhecidas e distantes como o Norte do Mato Grosso, o Sul do Piauí ou o Vale do Açu. O que era sinônimo de atraso, tornou-se paradigma de eficiência produtiva. A conquista dos cerrados, no Centro-Oeste e fímbrias da região amazônica, é uma façanha ímpar da moderna agricultura e teria sido impossível sem o concurso da ciência. Foi preciso conhecer bem, nos seus detalhes, as relações entre o clima, solo, água, planta, animais e microorganis-mos para que as práticas de irrigação e de uso de adubos, corretivos e micronutrientes fossem bem sucedidas, proporcionando 2,5 safras de grãos por ano e o avanço tecnológico da produção de açúcar e álcool. Da mesma maneira, esse conhecimento per-

A nova tecnologia agrícola criou um movimento de mobilidade social, transformando em inclusão social o que era ameaça de marginalização. Parte considerável dos então jovens agricultores sem acesso à terra, da década de 70, são hoje os eficientes produtores da nova geografia da safra. Outra dimensão da democratização da nova agricultura é o acesso dos pequenos agricultores à tecnologia gerada no próprio país. A tecnologia importada estava restrita aos produtores capitalizados. A nova agricultura se notabiliza também por sua busca incessante por novas evoluções, para agregar mais ganhos de qualidade e de eficiência. Novas máquinas como detectores de prenhez, medidores de toucinho por ultra-som, tomógrafos de solos, raízes e de alimentos, e “chips” de rastreamento, revolucionam a prática agrícola e a prática científica, pavimentando o caminho para a agricultura de precisão e para a expansão da base tecnológica à serviço da agricultura.

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Defesa ambiental: O pilar invisível Não tão visível quanto os ganhos de produtividades e safras crescentes, mas particularmente crucial para a sustentabilidade do agronegócio, o arsenal de práticas e manejos de defesa ambiental incorporados à tecnologia de produção é um dos atributos mais relevantes da nova agricultura, e que retrata a riqueza de conhecimentos da base tecnológica colocada à disposição dos agricultores. Desde seus primeiros dias, a Embrapa buscou concluir o primeiro mapa de solos do Brasil, que evoluiu para o zoneamento agroecológico e, depois, para o zoneamento agroclimático. Combinando dados de solos, vegetação, e ocorrências climáticas para definir as regiões de cultivo e de risco ambiental, o zoneamento orienta políticas públicas importantes como o seguro agrícola, reduzindo os riscos dos empreendimentos agrícolas. O conhecimento amplo da microbiologia e da flora tropical tanto ajudou a prevenir desastres ecológicos quanto a operar a regeneração ambiental. De um lado, bactérias associadas à soja e ao feijão, a árvores e à cana-de-açúcar reduziram a adubação nitrogenada, afastando o risco de nitrificação dos lençóis freáticos e mananciais de água. De outro, têm operado a revegetação das lagoas de decantação de minérios, dos montes de escória siderúrgica e de grandes voçorocas nas hidrelétricas e rodovias. No plano de defesa das lavouras e dos criatórios, o monitoramento diário de pragas e doenças agrícolas, domésticas e exóticas tem permitido às instituições de pesquisa se anteciparem aos ataques e contaminações e buscar o melhores métodos de profilaxia e controle dessas pragas e doenças, evitando que se tornem endêmicas e causem prejuízos de monta. O controle biológico dos gafanhotos, cigarrinhas das pastagens, mosca das frutas, mosca da carambola e mosca branca, e o bem sucedido manejo integrado de pragas tais como lagarta da soja, pulgão do trigo, vespa da madeira, mosca do chifre, lagarta do cartucho do milho e traça do tomateiro, são exemplos de como o uso de

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inimigos naturais combinados com defensivos têm contribuído para a redução do uso de agrotóxicos. Além dos ganhos ambientais, registramse ganhos na qualidade dos alimentos in natura, na saúde dos produtores, e na economia da produção. O uso de barragens genéticas, mediante seleção de gens promotores de resistência a pragas e doenças, e a obtenção, por processos biotecnológicos, de plantas livres de vírus são responsáveis por importantes ganhos ambientais e econômicos nos cultivos de hortaliças, frutas, fibras e grãos. No caso do “bicudo” do algodoeiro, variedades precoces romperam o ciclo de reprodução do inseto, propiciando o renascimento da cotonicultura no Nordeste e garantindo as safras recordes dos Cerrados. Todas essas práticas ecológicas incorporadas aos sistemas de produção, além de outras como o plantio direto, aliadas aos ganhos de produtividade, à mudança da geografia de produção elevaram a competitividade de nichos da agricultura, produziram um efeito indireto valoroso para a questão ambiental: a relativa estabilização da área plantada, reduzindo o ímpeto da abertura de novas fronteiras agrícolas e liberando áreas declivosas da Mata Atlântica e do litoral para preservação ou projetos ecologicamente benéficos. O país está obtendo efeito similar com a recuperação de pastagens degradadas, através dos sistema de integração lavoura-pecuária, que pode atingir 40 milhões de hectares. Assim, as lavouras estão se expandindo em terras já incorporadas, e a pecuária está compensando a perda de área com um incrível aumento de produtividade e capacidade de suporte dos pastos. Vigorassem hoje as taxas de produtividade dos anos 40, teríamos nos transformado em grandes importadores líquidos de alimentos e devastado a maior parte das reservas florestais. Em outras palavras, a nova agricultura tropical, criada pelos pesquisadores agrícolas e pelos agricultores brasileiros, estava conseguindo que o Brasil produzisse mais e melhor, e com custos ambientais bem menores que os do passado.

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Capa A redenção do interior A nova agricultura tropical está enriquecendo o Brasil e melhorando a vida dos brasileiros. Em todos os rincões. No interior, a mudança foi sendo percebida a olho nu. A princípio, foi crescendo o comércio de interesse direto da produção: as sementes, os adubos, os defensivos, máquinas e implementos. Depois, vieram as oficinas, as pequenas indústrias e agroindústrias, os agentes financeiros, a assistência técnica, os armazéns, as empresas atacadistas e as exportadoras. Por fim, os serviços que atendiam à família do agricultor: as escolas, os hospitais, os videoclubes, os servidores de informática, telefonia móvel, internet, os supermercados, shoppings e empresas de lazer. Com eles, mais renda, mais empregos.

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O mundo hoje tem duas agriculturas, duas safras de igual importância tecnológica e econômica: a tradicional, das áreas de clima temperado, conhecida e consolidada; e a nova agricultura, de base tropical, ainda restrita ao Brasil. Com elas, o mundo tem hoje possibilidades bem mais concretas de enfrentar a fome endêmica, instalada exatamente na faixa tropical da América Latina, da África e da Ásia. O mercado mundial de alimentos e bens de base rural, e a competição nele estabelecida, se modifica todos os dias, demandando novas soluções tecnológicas. As fronteiras da ciência e os meios de produção de conhecimentos se alargam a cada dia. Tudo isso exige, da Embrapa e suas associadas, constante atualização para enfrentar os novos desafios tecnológicos e manter a agricultura tropical vigorosa e competitiva.

Os benefícios foram percebidos também nas grandes cidades. A população do país foi desde então fortemente beneficiada pela queda dos preços de produtos importantes para sua nutrição, como o arroz, derivados do milho e da soja, feijão, batata, carnes, ovos, leite, frutas e hortaliças.

A Embrapa não ignora de que a manutenção do capital científico do Brasil, expresso num time de profissionais bem treinados, motivados e equipados para trafegar nas fronteiras do conhecimento, é a única garantia de o país vai continuar a contribuir para o crescimento do agronegócio tropical, em bases ambientalmente sustentadas.

Assim, a democratização dos alimentos, pela qual a massa de consumidores teve acesso a alimentos de preços compatíveis com o seu poder de compra, com reflexo importante na diminuição da fome entre os brasileiros, é uma das mais importantes contribuições da modernização da agricultura ao bem-estar da sociedade brasileira, porque significa a valorização real do salário do trabalhador.

Com sua rede de laboratórios no Exterior, os Labex-EUA e Labex-Europa (e agora com a definição da instalação do Labex-Coréia, na Ásia), a Embrapa amalgama parcerias produtivas com a comunidade internacional de pesquisa agrícola, para manter a capacidade brasileira de investigar o futuro, antecipar as perguntas, e começar desde já a construir as respostas que o bem estar da humanidade vão requerer.

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Capa

Confira abaixo os principais fatos que marcaram a história da Embrapa: 26 de abril de 1973. No salão do Brasília Palace Hotel, é realizado o ato formal e solene de instalação da Embrapa. Na foto, da esquerda para a direita, estão José Irineu Cabral, primeiro diretor-presidente da Empresa, Luiz Fernando Cirne Lima, então Ministro da Agricultura, o Embaixador da Alemanha no Brasil, o representante das Nações Unidas no país e o representante da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) em Brasília. Além de José Irineu Cabral, a primeira diretoria da Embrapa era formada por Roberto Meirelles Miranda, Eliseu Roberto Andrade Alves e Edmundo da Fontoura Gastal.

Março de 1974. O então presidente da República, Ernesto Geisel (E), visita a Embrapa logo nas primeiras semanas de seu governo. A sede da Empresa ainda funcionava no Palácio do Desenvolvimento, em Brasília. Após a reunião, disse ao ministro da Agricultura Alysson Paulinelli (C) e ao diretor-presidente José Irineu Cabral (D): “Não mudem a rota: o caminho é este que foi traçado”.

1974 – São inauguradas cinco Unidades Descentralizadas da Embrapa: Centro de Tecnologia Agrícola e Alimentar (CTAA – Rio de Janeiro/RJ), Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte (Embrapa Gado de Corte – Campo Grande/MS), Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite (Embrapa Gado de Leite – Juiz de Fora/MG), Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia – Brasília/DF) e Centro Nacional de Pesquisa Trigo (Embrapa Trigo – Passo Fundo/RS).

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1975 – Em um único ano, a Empresa ganha nada menos que 24 novos centros de pesquisa, dentre eles o Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (Embrapa Cerrados – Planaltina/DF).

É instituído o Prêmio Frederico de Menezes Veiga, em homenagem ao pesquisador amazonense que desenvolveu novas variedades de cana-de-açúcar e ajudou a colocar o Brasil numa posição de destaque como maior produtor mundial e um dos maiores exportadores de açúcar do mundo. O vencedor da primeira edição foi o pesquisador Ursulino Veloso, Ph.D, criador de variedades de algodão para o Nordeste, e Antônio Teixeira Vianna (Fazenda Canchin/SP).

1976 – Inaugurado o Centro de Pesquisa Agroflorestal do Amapá (Embrapa Amapá – Macapá/AP)

1978 – A Empresa ganha o Centro Nacional de Pesquisas de Florestas (Embrapa Florestas – Colombo/PR).

Em sua passagem pelo Brasil, o príncipe Charles, da Inglaterra, visita a Embrapa Cerrados (Planaltina – DF), que ainda se chamava Centro Nacional de Pesquisa do Cerrados. Ele recebe, das mãos do então ministro da Agricultura, Alysson Paulinelli, e do presidente da Embrapa, J. Irineu Cabral, uma sela modelo brasileiro.

1981 – É inaugurado o Centro de Pesquisa Agroflorestal de Roraima (Embrapa Roraima – Boa Vista/RR). 1982 – Fundado o Centro Nacional de Pesquisa de Monitoramento e Avaliação de Impacto Ambiental (Embrapa Meio Ambiente – Jaguariúna/SP). 1985 – O Centro de Tecnologia Agrícola e Alimentar (CTAA) ganha novas instalações físicas e se transforma em Centro Nacional de Pesquisa de Tecnologia Agroindústria de Alimentos (Embrapa Agroindústria de Alimentos – Rio de Janeiro/RJ). Inaugurados o Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento em Informática para a Agricultura (Embrapa Informática Agropecuária – Campinas/SP) e Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária (Embrapa Instrumentação Agropecuária – São Carlos/SP).

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Capa 30 de agosto de 1986. O então presidente da República José Sarney observa a técnica de bipartição de embriões acompanhado pelo presidente da Embrapa Ormuz Rivaldo, pelo diretor Ali Saab e pelo pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Roberto De Bem.

26 de abril de 1989. É inaugurado o edifício sede da Embrapa, em Brasília. Até então, a sede da Empresa funcionava no Edifício Venâncio 2000, no coração da Capital da República. A nova sede foi inaugurada com a presença do então presidente José Sarney, do ex-ministro da Agricultura Iris Rezende Machado, da diretoria da Embrapa e de dezenas de empregados. Na ocasião, foi feita uma exposição de produtos pesquisados pela Empresa.

1989 – Inaugurado o Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiologia (Embrapa Agrobiologia – Seropédica/RJ).

1990 – Criado o Centro Nacional de Pesquisa de Monitoramento por Satélite (Embrapa Monitoramento por Satélite – Campinas/SP).

1991 – Inaugurado o Serviço de Informação Científica e Tecnológica (Embrapa Informação Tecnológica – Brasília/DF).

19/06/1996 – É instalada a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), encarregada de fiscalizar o desenvolvimento de pesquisas genéticas e fazer análise de risco de todas as atividades relacionadas à manutenção, uso e comercialização de organismos geneticamente modificados (transgênicos) por meio da engenharia genética. O Comitê é composto de 36 membros e a Embrapa é a instituição com maior número de representantes.

10/07/1997 – A Embrapa ganha um poderoso instrumento para a divulgação e comercialização de seus livros: a Livraria Virtual, onde é possível adquirir, online, publicações da Empresa que abordam os mais variados temas do setor agropecuário.

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04/08 – Aprovado o Decreto 2.291, que cria o Conselho de Administração (CA) da Embrapa como órgão de deliberação superior. O Conselho conta com a participação da iniciativa privada e da sociedade em geral, com mais transparência e menos corporativismo. 28/04/1998 – É assinado o convênio para a criação do Laboratório Virtual nos Estados Unidos, o Labex EUA. Silvio Crestana é escolhido para ser o primeiro coordenador do Laboratório, que tem o objetivo de ampliar a cooperação científica e tecnológica, explorando novas oportunidades em pesquisa e negócios agrícolas entre os dois países.

1999 – É inaugurada a Embrapa Café (Brasília – DF).

O Sistema EmbrapaSat é utilizado pela primeira vez no País, permitindo a comunicação de voz, fax e videoconferência, via satélite, entre a Sede e as Unidades Descentralizadas da Embrapa distribuídas em todo Brasil. Trata-se de uma das mais completas redes privadas de telecomunicações via satélite do setor público.

17/03/2001 – Nasce a bezerra Vitória da Embrapa, o primeiro bovino resultante da clonagem por transferência nuclear produzido na América Latina. O aprimoramento da técnica abre a possibilidade de multiplicação de bovinos de elevado padrão genético pela clonagem a partir de indivíduos adultos. 2002 – É criado o Labex França, com o objetivo de desenvolver pesquisas estratégicas para o agronegócio brasileiro e acompanhar os avanços científicos e tecnológicos na Europa na área de agricultura. 05/02/2004 – Nasce a bezerrinha Vitoriosa da Embrapa, clone da Vitória. Ou seja: é clone de um clone.

30/05/2004 – Morre a bezerra “Vitoriosa da Embrapa”, por choque cardiogênico causado por hipertensão arterial. 24/05/2006 – Criada a Embrapa Agroenergia, com sede em Brasília, mas atuação nacional, por meio de uma rede formada por profissionais das Unidades descentralizadas da Embrapa e outras instituições parceiras.

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Paulo Roberto Galerani Cláudio Bragantini,

/11/2006 – Os pesquisadores Cláudio Bragantini, da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás - GO) e Paulo Roberto Galerani, da Embrapa Soja (Londrina - PR), embarcam para Acra, capital de Gana, onde é instalado o Escritório da Embrapa na África. 10/03/2008 – Com a instalação de um Escritório de Negócios na Venezuela, o País vizinho passa a contar com produtos e serviços desenvolvidos pela Embrapa. A iniciativa que segue o formato do trabalho desenvolvido em Gana, com foco na transferência de tecnologia, formação de recursos humanos e atuação com organizações voltadas para o desenvolvimento sustentável da agricultura. 10/03/2008 – Brasil e Coréia do Sul assinam um memorando de entendimento. O acordo de cooperação bilateral prevê a instalação de um laboratório virtual (Labex) na Coréia e, em contrapartida, a criação de um laboratório da Agência de Desenvolvimento Rural da Coréia (RDA), nos mesmos moldes do Labex, no Brasil. O foco principal do projeto é a troca de experiências. Enquanto o País asiático poderá se beneficiar do conhecimento brasileiro sobre biocombustíveis, a Embrapa aproveitará a vasta experiência dos coreanos na área de nanotecnologia aplicada à agricultura.

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Serviços Embrapa

Embrapa amplia suas fronteiras

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Depois de chegar aos Estados Unidos, França, Holanda, África e Venezuela, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) se prepara agora para alcançar mais um continente: a Ásia. China, Índia, Japão e Coréia do Sul estão no páreo para receber o mais novo Laboratório Virtual da Empresa (Labex). A possibilidade de estreitar relações com os países asiáticos anima o diretor-presidente da Embrapa, Silvio Crestana. “A Ásia é a próxima fronteira a ser explorada por nós. São parceiros muito interessantes para o avanço de temas complexos de pesquisa que devem conformar a base científica da tecnologia do agronegócio do futuro. Além disso, existe interesse dos países desse continente em conhecer as tecnologias que nós desenvolvemos para o mundo tropical”, destaca Crestana. O nome do país escolhido para sediar o Labex Ásia deve ser divulgado ainda este ano. A presença internacional da Embrapa segue modelos de ação diferentes em cada uma das regiões do planeta. Os Labex, por exemplo, são laboratórios de prospecção e parceria tecnológica com países do Hemisfério Norte. O primeiro foi instalado em 1998, em Washington, fruto de uma parceria com o Agriculture Research Service (ARS), com o objetivo de acompanhar pesquisas nas áreas de biotecnologia, nanotecnologia, mudanças climáticas, agroenergia e bioenergia. Na Europa, o Labex compartilha a rede de pesquisas do pólo de ciência e tecnologia da Agrópolis, em Montpelier, e na Holanda a Embrapa trabalha com a Universidade de Wageningen em investigações sobre biologia avançada e genômica. Assim, a relação da Empresa com os parceiros do Hemisfério Norte é de troca. “Temos liderança na agricultura tropical e eles na de clima temperado. Conseguimos criar um modelo de equilíbrio”, explica Crestana. Esse também deve ser o modelo do Labex Ásia. “Nesses países há instituições de pesquisa consolidadas, com pessoal muito qualificado. Dá para ter política de cooperação”, justifica o diretor-presidente da Embrapa.

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Já no Hemisfério Sul o modelo é outro. “Na relação Sul-Sul nossa posição é de liderança, uma vez que o Brasil tem hegemonia científica e tecnológica em agricultura tropical. É mais um projeto de transferência de tecnologia. Em alguns lugares, como no caso do Haiti, a relação é de cooperação humanitária”, comenta Crestana. A Embrapa atua em parceria com o governo haitiano para levar tecnologias para a cooperativa de produtores AFÈ NÈG COMBIT (ANC), que abrange 80 comunidades, num total de aproximadamente 4 mil agricultores. Em maio, a Embrapa se instalou na Venezuela com o objetivo de transferir tecnologia verde-e-amarela para o vizinho sul-americano, que importa 75% do alimento consumido pela população. Para reduzir essa dependência, o governo venezuelano quer aumentar a produção de leite, ovos e frango com a ajuda da estatal brasileira. “Estamos transferindo tecnologia de produção de milho, soja e forrageiras, além da nossa experiência em genética”, ressalta o diretor-presidente. O compromisso envolve parceria com o Insti-

tuto Nacional de Investigaciones Agrícolas e é o embrião de um projeto bem mais ambicioso: a Embrapa América Latina. Na África, a Embrapa mantém um grupo de pesquisadores desde 2006 na cidade de Acra, capital de Gana. A Empresa desenvolve no continente africano projetos de uso sustentável de recursos naturais, sistemas produtivos e proteção sanitária de plantas e animais, fruticultura e horti-cultura tropical, zoneamento agrícola, biotecnolo-gia e troca de material genético, entre outros. Os países africanos respondem atualmente por 60% das solicitações de assistência técnica e de desenvolvimento de recursos humanos à Embrapa. Mas a estatal brasileira também espera colher alguns frutos dessa parceria no futuro. “Em decorrência das possíveis mudanças que ocorrerão no sistema produtivo agropecuário de muitos países no continente africano, espera-se a abertura de oportunidades para estabelecimento de novos mercados aos produtos do agronegócio brasileiro”, diz Elísio Contini, chefe da Assessoria de Relações Internacionais da Embrapa.

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Serviços Embrapa A Base de Dados fica no endereço eletrônico http://www.bdpa.cnptia.embrapa.br/

Diagnóstico do futuro

O maravilhoso mundo da informação Imagine um banco de dados com mais de 10 mil documentos – entre livros, folhetos, teses, artigos de periódicos, trabalhos apresentados em eventos, documentos eletrônicos, sistemas de produção, etc –, todos disponíveis online, sem nenhum custo. Pode parecer utopia, mas essa Bases de Dados da Pesquisa Agropecuária já existe. A tecnologia, desenvolvida pela Embrapa Informática Agropecuária (Campinas – SP), possibilita o acesso às informações de forma rápida e eficiente, com apresentação visual dos resultados bastante inovadora. Nessa base de dados, encontra-se nada menos do que toda a literatura técnico-científica existente nas bibliotecas das Unidades de pesquisa da Embrapa em todo território nacional, bem como o acervo documental da Empresa. As bases são atualizadas toda semana, para levar o conhecimento à sociedade de forma rápida e segura. O projeto gráfico do portal permite ao visitante encontrar as informações desejadas com facilidade. “O usuário encontra todas as informações em apenas uma página”, explica um dos criadores do sistema, o pesquisador Marcos Cezar Visoli. O visitante também pode acessar todos os registros disponíveis, relacionados ao tema desejado. Outra vantagem do portal refere-se à busca avançada, que oferece ferramentas de pesquisa, como busca por ano ou período, idioma, tipo e origem da publicação, além da possibilidade de realizar a pesquisa em unidade específica da Embrapa.

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Um computador capaz de diagnosticar doenças em plantas pode parecer coisa de ficção científica, mas acredite: já existe um sistema capaz de fazer esse trabalho. É o Diagnose Virtual, um software que já faz o diagnóstico de doenças do milho e passará a detectar doenças no feijão, na soja, no trigo, no tomate e no pimentão. Futuramente, o sistema será ampliado para realizar diagnósticos em sanidade animal. O sistema, desenvolvido pela Embrapa Informática Agropecuária (Campinas – SP), possui um módulo acessado por especialistas, para inserção de dados relacionados a doenças das plantas estudadas. Outro módulo está disponível para o produtor, em que este registra os sintomas detectados em sua cultura, respondendo questões colocadas pelo software. Por exemplo, em que parte da planta a doença se manifesta, qual é a cor e o formato da lesão etc. Dessa forma, é possível detectar o tipo de doença e possíveis medidas de controle. “Esse tipo de tecnologia pode colaborar com a agricultura sustentável, diminuindo o uso de fungicidas e herbicidas”, diz a pesquisadora Silvia Massruhá, líder do projeto. “O produtor que tem as informações de possíveis doenças na plantação pode tomar uma ação preventiva em vez de uma corretiva, o que contribui com a segurança alimentar da sociedade em geral”, afirma. O projeto de pesquisa tem como parceiros no seu desenvolvimento a Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás, GO), Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), Embrapa Hortaliças (Brasília), Embrapa Soja (Londrina, PR), Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), Embrapa Instrumentação Agropecuária (São Carlos, SP) e Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju).

Tecnologia de ponta, chova ou faça sol Para saber se vai chover ou fazer sol, o agricultor costuma olhar para o céu e observar o comportamento dos bichos. Mas hoje em dia, além

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po contam com a parceria do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura – Cepagri, da Universidade Estadual de Campinas, além de outras 30 instituições nacionais e de 11 centros de pesquisa da Embrapa. Para acessar o sistema, basta ir ao endereço eletrônico http://www.agritempo.gov.br/

Cerrado ainda possui boa cobertura nativa da sabedoria popular, ele já conta com um recurso pra lá de moderno: a internet. Com o Sistema de Monitoramento Agrometeorológico (Agritempo), qualquer pessoa pode acompanhar em tempo real, por meio da rede mundial de computadores, as informações meteorológicas e agrometeorológicas de diversos municípios e estados brasileiros. Desenvolvida pela Embrapa Informática Agropecuária (São Carlos – SP), essa ferramenta oficial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento possibilita, por exemplo, obter respostas muito mais rápidas para as consultas de monitoramento agrometeorológico das culturas contempladas pelo zoneamento agrícola. Entre os vários produtos que o Agritempo oferece pela internet, há sistemas de alerta para doenças e identificação de áreas atingidas por eventos climáticos extremos, como temporais, geadas, seca, veranicos. O sistema gera diariamente mais de 800 mapas referentes a estiagem, evapotranspiração, dias com chuva para todo o Brasil, entre outros. Apresenta, ainda, mapas de índice de seca, comparando longos períodos, com análise de séries históricas e mapas de índice de vegetação, que permitem acompanhar grandes safras, como produção de soja e de cana-de-açúcar. Também possui mapas de solo para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal e Rio Grande do Sul. Atualmente, o Agritempo é alimentado por 1.280 estações espalhadas pelo País, além de 11.200 estações virtuais, as quais utilizam imagens do satélite TRMM da Nasa – a agência espacial norte-americana, para estimar dados climáticos, informa o analista da Embrapa Sílvio Evangelista. Os serviços oferecidos pelo Agritem-

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O Cerrado brasileiro mantém 61% de vegetação nativa, sendo 13% de pastagens nativas e 48% de cobertura vegetal remanescentes. É o que mostra o projeto “Mapeamento de remanescentes de cobertura vegetal natural do Cerrado”, da Embrapa Cerrados (Planaltina – DF). Ao todo, foram mapeados 204,7 milhões de hectares por meio de 114 cenas do satélite Landsat. O mapeamento indica os tipos de interferência dominantes no Cerrado brasileiro. Por exemplo: em Minas Gerais, prevalece a pastagem; já em solo paulista, a cultura agrícola. Segundo o pesquisador Edson Sano, coordenador do estudo, o objetivo do trabalho é evitar que outras áreas sejam devastadas “por meio do desenvolvimento de tecnologias como o zoneamento agrícola e alternativas de manejo do solo que permitam o aumento da produção de alimentos sem novos desmatamentos”. Cada cena do satélite cobre 185 km2 e possui precisão de mapeamento 33 vezes maior do que as utilizadas em estudos anteriores. O mapeamento do Cerrado via satélite dividiu o Bioma em 172 cartas planimétricas. O estudo aponta também a área preservada em cada um dos quadrantes, assim como a porcentagem de vegetação nativa por bacia hidrográfica e por estados. No Distrito Federal, por exemplo, o estudo aponta que 51% da cobertura vegetal é nativa. O estudo custou R$ 700 mil, financiados pelo Ministério do Meio Ambiente e Banco Mundial, e teve a participação de 14 bolsistas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e pesquisadores da Embrapa Cerrados, Universidade Federal de Uberlândia e Universidade Federal de Goiás.

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Serviços Embrapa Qualidade e segurança dos alimentos na ponta do dedo No que depender do Projeto Além do Rótulo, num futuro bem próximo, com apenas um toque na tela de um monitor, qualquer consumidor poderá ter acesso às principais informações sobre diversos tipos de alimento. Ao encostar a ponta do dedo na “Telinha do Consumidor”, é possível descobrir as propriedades nutricionais, recomendações, restrições, critérios de escolha, dicas de armazenamento e preparo de 150 produtos, entre frutas, legumes, verduras e condimentos. A “Telinha do Consumidor” é um totem desenvolvido pela Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro – RJ) que em breve estará nos supermercados, ao alcance de todos que buscam informações sobre qualidade e segurança dos alimentos. O Projeto Além do Rótulo tem potencial para atingir mais de 50 mil supermercados em todo o Brasil, mas seu conteúdo também já pode ser acessado pela internet, no endereço www.alemdorotulo.com.br “Saber alimentar-se bem é um desafio para a população que está sendo constantemente bombardeada por propaganda consumista. Além disso, vemos que a maioria das pessoas não lê rótulos, se lê, não entende, e, se entende, tem dificuldade para incorporar a informação ao cotidiano. O rótulo tem espaço, conteúdo e linguagem limitados”, explica Fénelon do Nascimento Neto, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Um grupo de especialistas ligados a nutrição, comunicação e informática desenvolveu o sistema de navegação e o conteúdo que incorpora saberes além dos existentes no rótulo e ligados a saúde, nutrição e pós-colheita de alimentos. Se o consumidor não encontrar o que quer, pode escrever para os especialistas e terá a resposta personalizada por e-mail. A nova informação será incorporada à base de dados enriquecendo o sistema a partir das demandas do próprio consumidor. O projeto Além do Rótulo conta com a parceria da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas – SP), Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Católica de Brasília. Novos parceiros estão sendo contatados para execução da Fase 2, que terá início em 2009, com a introdução de outra centena de alimentos in natura e processados e informações sobre sistemas de produção, políticas de saúde pública e meio ambiente.

Pó de café e arroz vira barrinha com sabor de café e chocolate A Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro-RJ) desenvolveu um processo que combina o pó de café e o arroz para produzir uma farinha mista que entra na composição de uma barrinha com sabor de café e chocolate. O produto é uma alternativa para a indústria alimentícia que quer colocar o sabor de café em novos produtos numa perspectiva de expansão de mercados. A farinha, composta de 30% de pó de café e 70% de arroz, é obtida graças a um processo de extrusão que funde as duas matérias-primas num só produto, gerando a farinha mista e instantânea com sabor café e as propriedades nutritivas dos alimentos que lhe deram origem como óleos essenciais, fibras e proteína. “Depois da extrusão do café e do arroz, o processo é bem simples e basta adicionar à farinha mista ingredientes como açúcar, mel, leite e chocolate. A etapa seguinte é o cozimento até que a massa desprenda-se do fundo do recipiente. Então, a massa é colocada numa superfície lisa e, depois de esfriada, cortada em pedaços e embalada”, explica o pesquisador José Luis Ascheri, da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Alternativas como essa, levam o sabor do café a outros produtos e isso contribui para ampliar os negócios que envolvem a cultura do café. Hoje, a bebida de café, feita de grão torrado e moído, é responsável pelo consumo de mais de 400 bilhões de xícaras de café em todo o mundo. Mas empresas ligadas ao setor estão preocupadas com o mercado futuro, principalmente na camada jovem da população, e o desenvolvimento de produtos derivados de café amplia as oportunidades de negócio, além de ofertar ao consumidor alimentos mais saborosos e nutritivos.

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Serviços Embrapa De olho no PAC O andamento e os impactos decorrentes de diversas barragens, estradas, gasodutos, vias férreas, projetos de irrigação, terminais portuários, usinas de biodiesel e obras de saneamento, realizadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), serão monitorados, por meio de satélite em todo o território nacional. Como os satélites representam uma ferramenta operacional confiável e segura para retratar, de forma permanente e objetiva, a situação de cada obra, esse trabalho ampliará a capacidade do Governo Federal de fiscalizar e acompanhar a realização efetiva do programa. A estruturação e a operação do sistema serão feitas pela Embrapa Monitoramento por Satélite (Campinas – SP). O sistema possui um protótipo operacional construído em função das demandas da Casa Civil da Presidência da República para um grupo de obras prioritárias. Serão utilizados diversos satélites (europeus, sino-brasileiros, norte-america-

nos, canadenses e israelenses) em função da freqüência e do detalhamento das observações requeridas por cada obra, dada sua natureza, seu cronograma de execução e sua localização geográfica. Foram testados satélites que produzem imagens com detalhes inferiores a um metro e serão empregados com maior ênfase nesse sistema, para garantir um monitoramento mais preciso. Para atender as demandas específicas de cada caso, o sistema terá subsistemas de monitoramento por satélite das obras instalados também na Presidência da República, na Casa Civil, no Gabinete de Segurança Institucional e, futuramente, no Ministério do Planejamento. A proposta inclui ainda treinamentos de pessoal da Presidência da República no uso dessas ferramentas, apoio no desenvolvimento de subsistemas locais, geração de produtos como gráficos, mapas e relatórios regulares sobre a evolução das obras do PAC monitoradas.

Algodão verde-e-amarelo, literalmente Além de representar uma importante fonte de custos para a indústria têxtil, o tingimento de tecidos resulta na produção de resíduos nocivos ao meio ambiente e em um elevado consumo de recursos naturais, principalmente água. Mas e se o algodão já saísse da lavoura colorido? Coisa de cientista “maluco”? Não para os pesquisadores da Embrapa Algodão (Campina Grande – PB), que desde 2000 já desenvolveram quatro cultivares de algodão colorido: BRS 200 Marrom, BRS Verde, BRS Safira e BRS Rubi. Todas foram obtidas por meio de métodos de melhoramento genético convencionais e sua pluma tem tido crescente demanda no mercado. Além de adaptadas às fiações modernas, as cultivares de algodão colorido da Embrapa reduzem os custos de produção para a indústria têxtil e o lançamento de efluentes químicos e tóxicos, por dispensarem o uso de corantes. Na Paraíba, a exploração do algodão colorido está a pleno vapor. Para se ter uma idéia, com ele os produto-

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res ganham até o dobro do valor pago pelo algodão branco convencional. Mas além de beneficiar o pequeno produtor, a cadeia produtiva do algodão colorido envolve várias pessoas ligadas a cooperativas associadas a uma empresa que fabrica roupas e outros artigos com o produto, como enfeites e adereços. O maior consumo de produtos feitos com algodão colorido é nacional, mas já há significativa exportação do produto para vários países da Europa e para o Japão. É tecnologia verde-e-amarela ganhando o mundo.

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Medicamentos naturais mostram eficácia no combate a parasitas de bovinos Minimizar o uso de produtos químicos no controle de parasitas em animais, de modo a diminuir o impacto de resíduos no meio ambiente e nos produtos alimentícios de origem animal, como leite, carne e derivados. Esse é o objetivo da nova linha de pesquisa implantada na Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP), sobre controle alternativo de parasitas por meio de medicamentos feitos a partir de plantas, a fitoterapia. Os estudos têm como objetivo controlar os parasitas animais com a utilização do princípio ativo das plantas, isoladamente ou associados a formulações químicas. Em alguns casos, a planta pode ser utilizada diretamente como um vermífugo natural. Por isso, pode ser facilmente adotada pelos agricultores e pecuaristas, familiares ou capitalistas. Um dos fatores positivos é que a fitoterapia elimina ou, ao menos, reduz, o uso de produtos químicos, com efeitos positivos para o meio ambiente e também para a qualidade de alimentos, como leite e derivados e carnes bovina e ovina. Outras vantagens são a redução de custos para o pecuarista, além de maior vida útil do medicamento, pois a resistência do parasita é menor. Nos últimos anos os parasitas se tornaram mais resistentes ao princípios ativos (químicos). Entre os principais problemas da fitoterapia está a variação do princípio ativo das plantas, de acordo com o local, o solo e o clima. Nem sempre uma planta que apresenta ótimos resultados na Região Sul, terá o mesmo desempenho no Norte do País. “Por isso, é preciso a realização de pesquisas regionalizadas e controle de qualidade por meio de técnicas de análise do material vegetal”, opina a pesquisadora. Em função da rápida aquisição de resistência, por parte dos parasitas, aos produtos químicos comerciais, a fitoterapia tem sido amplamente estudada na atualidade. Os experimentos são realizados com o apoio da fitoquímica e toxicologia, para conhecimento das substâncias ativas

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das plantas e seus efeitos. Atualmente, Ana Carolina estuda um produto feito à base de eucalipto. Os resultados no laboratório foram de grande eficácia e os resultados em bovinos tratados indicaram efeito a campo também. O novo fitoterápico é feito a partir do óleo de eucalipto, que é comprado diretamente de empresas especializadas, algumas produzindo em larga escala. “Essa foi uma forma que encontramos para fugir um pouco da dependência de fatores climáticos, de solo, entre outras coisas”, diz ela. A intenção agora é aprimorar o produto com o apoio da tecnologia disponível em empresas fabricantes de medicamentos veterinários. Dessa forma, um produto fitoterápico comercial poderia ser disponibilizado aos produtores.

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Agronegócio

Agronegócio Brasileiro: Uma Oportunidade de Investimentos

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Moderno, eficiente e competitivo, o agronegócio brasileiro é uma atividade próspera, segura e rentável. Com um clima diversificado, chuvas regulares, energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce disponível no planeta, o Brasil tem 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de alta produtividade, dos quais 90 milhões ainda não foram explorados. Esses fatores fazem do país um lugar de vocação natural para a agropecuária e todos os negócios relacionados à suas cadeias produtivas. O agronegócio é hoje a principal locomotiva da economia brasileira e responde por um em cada três reais gerados no país. O agronegócio é responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB), 42% das exportações totais e 37% dos empregos brasileiros. Estimase que o PIB do setor chegue a US$ 180,2 bilhões em 2004, contra US$ 165,5 bilhões alcançados no ano passado. Entre 1998 e 2003, a taxa de crescimento do PIB agropecuário foi de 4,67% ao ano. No ano passado, as vendas externas de produtos agropecuários renderam ao Brasil US$ 36 bilhões, com superávit de US$ 25,8 bilhões. Nos últimos anos, poucos países tiveram um crescimento tão expressivo no comércio inter-

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nacional do agronegócio quanto o Brasil. Os números comprovam: em 1993, as exportações do setor eram de US$ 15,94 bilhões, com um superávit de US$ 11,7 bilhões. Em dez anos, o país dobrou o faturamento com as vendas externas de produtos agropecuários e teve um crescimento superior a 100% no saldo comercial. Esses resultados levaram a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) a prever que o país será o maior produtor mundial de alimentos na próxima década. O Brasil é um dos líderes mundiais na produção e exportação de vários produtos agropecuários. É o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, álcool e sucos de frutas. Além disso, lidera o ranking das vendas externas de soja, carne bovina, carne de frango, tabaco, couro e calçados de couro. As projeções indicam que o país também será, em pouco tempo, o principal pólo mundial de produção de algodão e biocombustíveis, feitos a partir de cana-de-açúcar e óleos vegetais. Milho, arroz, frutas frescas, cacau, castanhas, nozes, além de suínos e pescados, são destaques no agronegócio brasileiro, que emprega atualmente 17,7 milhões de trabalhadores somente no campo.

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Modernização O bom desempenho das exportações do setor e a oferta crescente de empregos na cadeia produtiva não podem ser atribuídos apenas à vocação agropecuária brasileira. O desenvolvimento científico-tecnológico e a modernização da atividade rural, obtidos por intermédio de pesquisas e da expansão da indústria de máquinas e implementos, contribuíram igualmente para transformar o país numa das mais respeitáveis plataformas mundiais do agronegócio. A adoção de programas de sanidade animal e vegetal, garantindo a produção de alimentos saudáveis, também ajudou o país a alcançar essa condição. É evidente, entretanto, que o clima privilegiado, o solo fértil, a disponibilidade de água e a inigualável biodiversidade, além da mão-de-obra qualificada, dão ao Brasil uma condição singular para o desenvolvimento da agropecuária e de todas as demais atividades relacionadas ao agronegócio. O país é um dos poucos do mundo onde é possível plantar e criar animais em áreas temperadas e tropicais. Favorecida pela natureza, a agricultura brasileira pode obter até duas safras anuais de grãos, enquanto a pecuária se estende dos campos do Sul ao Pantanal de Mato Grosso - a maior planície inundável do planeta. Para fortalecer essas vantagens competitivas, tornando o agronegócio um investimento ainda mais atrativo, o governo tem modernizado a Política Agrícola. A espinha dorsal desse processo é o seguro rural. Indispensável à garantia de renda do produtor, ele também é essencial à geração de empregos no campo, ao avanço tecnológico e à efetiva incorporação do setor ao mercado de capitais. Outros modernos instrumentos de Política Agrícola, como o Fundo de Investimento do Agronegócio (FIA), o Certificado de Depósito Agropecuário e o Warrant Agropecuário, têm sido desenvolvidos e aperfeiçoados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Com isso, o governo busca atrair parte do patrimônio de mais de US$ 165 bilhões dos fundos de investimentos ao financiamento das atividades agropecuárias para impulsionar ainda mais o setor por meio do crédito rural. O governo acaba de modernizar os contratos de opção de venda, trazendo o setor privado para dentro das políticas públicas do setor. Des-

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sa forma, aumenta o potencial de alavancagem dos recursos públicos aplicados na agropecuária e garante ainda mais liberdade ao setor privado. Essas mudanças certamente impulsionarão ainda mais o agronegócio, responsável pela totalidade do superávit da balança comercial brasileira nos últimos anos. Com uma população superior a 170 milhões, o Brasil tem um dos maiores mercados consumidores do mundo. Hoje, cerca de 80% da produção brasileira de alimentos é consumida internamente e apenas 20% são embarcados para mais de 209 países. Em 2003, o Brasil vendeu mais de 1.800 diferentes produtos para mercados estrangeiros. Além dos importadores tradicionais, como Europa, Estados Unidos e os países do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai), o Brasil tem ampliado as vendas dos produtos do seu agronegócio aos mercados da Ásia, Oriente Médio e África.

Superprodução O desempenho da agropecuária brasileira é incomparável. Nenhum outro país do mundo teve um crescimento tão expressivo na agropecuária quanto o Brasil nos últimos anos. A safra de grãos, por exemplo, saltou de 57,8 milhões de toneladas para 123,2 milhões de toneladas entre as safras 1990/1991 e 2002/2003. Nesse período, a evolução da pecuária também foi invejável, com destaque para a avicultura, cuja produção aumentou 234% - ou incríveis 16,7% ao ano -, passando de 2,3 milhões para 7,8 milhões de toneladas. Não é por acaso, portanto, que o setor, dono de uma alta produtividade, excelente nível sanitário e alta tecnologia, tem atraído cada vez mais investimentos internacionais nos últimos anos. De 1990 para cá, a produção de grãos no Brasil cresceu 131%. Nesse período, a área plantada ampliou-se apenas 16,1%, passando de 36,8 milhões para 43,9 milhões de hectares. A abundância foi obtida, portanto, graças ao aumento de 85,5% no índice de produtividade nessas últimas 13 safras. O rendimento das principais culturas agrícolas saltou de 1,5 tonelada para 2,8 toneladas por hectare. Por trás desse avanço, estão as digitais da pesquisa agropecuária, responsável pelo desenvolvimento de 529 novos cultivares adaptados especificamente a

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Agronegócio cada clima e solo nas principais regiões produtoras do Brasil. Pesaram também o emprego de técnicas mais avançadas e ambientalmente corretas, como o plantio direto na palha, e o trabalho de correção de solos e recuperação de áreas degradadas de pastagens e outras culturas. Com pelo menos 90 milhões de terras agricultáveis ainda não utilizadas, o Brasil pode aumentar em, no mínimo, três vezes sua atual produção de grãos, saltando dos atuais 123,2 milhões para 367,2 milhões de toneladas. Esse volume, porém, poderá ser ainda maior, considerando-se que 30% dos 220 milhões de hectares hoje ocupados por pastagens devem ser incorporados à produção agrícola em função do expressivo aumento da produtividade na pecuária. O país tem condições de chegar facilmente a uma área plantada de 140 milhões de hectares, com a expansão da fronteira agrícola no Centro-Oeste e no Nordeste. Tudo isso sem causar qualquer impacto à Amazônia e em total sintonia e respeito à legislação ambiental.

mento genético, e na certificação de origem do produto. Tudo para oferecer aos consumidores alimentos seguros e de alta qualidade, como o chamado “boi verde”, um animal alimentado apenas com pastagem, muito diferente dos sistemas mantidos em outros países produtores. Dono do maior rebanho bovino comercial do mundo, o Brasil tem mais de 83% das suas 183 milhões de cabeças em áreas livres da febre aftosa, uma doença altamente contagiosa e economicamente devastadora. O país também é considerado pelo Comitê Veterinário da União Européia como “área de risco desprezível” para a ocorrência do chamado mal da “vaca louca”, a doença que dizimou populações inteiras na Europa e chegou recentemente ao continente americano. Ao mesmo tempo, a maior parte do território brasileiro está livre de doenças como “Newcastle”, que pode exterminar plantéis inteiros de frangos e até mesmo contagiar o homem, e a peste suína clássica, letal para animais jovens. O país também não registra qualquer caso de influenza aviária, a chamada “gripe do frango”, um vírus altamente contagioso que tem infectado aves na Ásia, América do Norte e Europa. No setor avícola, o país é o segundo maior do mundo. Em suínos, tem a terceira maior população do globo.

Pecuária A exemplo da agricultura, a pecuária registra um crescimento espetacular. De 1990 a 2003, a produção de carne bovina aumentou 85,2% ou 6,1% ao ano -, passando de 4,1 milhões para 7,6 milhões de toneladas. Nesse período, a suinocultura cresceu 173,3%, ou 12,4% ao ano. A produção de carne suína saltou de 1 milhão para 2,87 milhões de toneladas. O complexo carnes, que inclui outros tipos do produto, também investe em pesquisa, por intermédio do melhora-

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Álcool e Açúcar Introduzida no Brasil para consolidar a colonização portuguesa e, ao mesmo tempo, garantir grandes lucros à metrópole, a cana-de-açúcar tornou-se um dos produtos mais importantes

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do agronegócio brasileiro. Do auge durante o chamado ciclo da cana (séculos XVI e XVII) aos dias de hoje, a cultura manteve uma forte participação na economia nacional. O país é o maior produtor mundial de cana, com uma área plantada de 5,4 milhões de hectares e uma safra anual de cerca de 354 milhões de toneladas. Em conseqüência disso, também é, naturalmente, o mais importante produtor de açúcar e de álcool. Em 2003, segundo dados consolidados pela Secretaria de Produção e Comercialização (SPC), as exportações de açúcar atingiram 12,9 milhões de toneladas, com receitas de US$ 2,1 bilhões, um resultado 2,2% superior ao registrado em 2002. Os principais destinos do nosso produto foram Rússia, Nigéria, Emirados Árabes Unidos, Canadá e Egito. A produção em 2003/2004 chegou a 24,8 milhões de toneladas de açúcar. A cana também é matéria-prima para extração de álcool. Cada tonelada de cana tem o potencial energético de 1,2 barril de petróleo. Atualmente, o álcool movimenta 15% da frota automotiva do país. Em 2003/20004, o Brasil produziu 14,4 bilhões de litros de álcool. No ano passado, o volume de embarques bateu em 800 milhões de litros. Combustível não-poluente, o álcool é um produto que cada vez mais interessa às nações interessadas em reduzir a emissão de gases nocivos à saúde humana. Países como a China e o Japão já manifestaram intenção de importar o combustível. A perspectiva é de que as exportações de álcool dêem um salto espetacular nos próximos anos.

Café Da Etiópia, no nordeste da África, ao Brasil, o café fez um longo percurso. Primeiro, migrou para a Península Arábica, entre 600 e 700 d.C, conquistando mouros e cristãos. Durante a Idade Média, chegou à Europa, onde era conhecido como a “vinha da Arábia”. No início do século XVIII, as primeiras sementes do produto chegaram ao território brasileiro trazidas da Guiana Francesa. Depois

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de tentativas frustradas de desenvolver a cultura no Norte, a cafeicultura se fixou no Sudeste do país e, mais tarde, expandiu-se por Paraná e Bahia, transformando o Brasil no maior produtor e exportador mundial de café. Com uma área plantada de 2,2 milhões de hectares, o Brasil teve uma safra de 28,82 milhões de sacas em 2003/04. No ano passado, as exportações brasileiras do produto chegaram a 1,43 milhão de toneladas, com faturamento de US$ 1,51 bilhão. Os principais destinos foram Estados Unidos, Alemanha, Itália e Japão. O país detém 28% do mercado mundial de café em grão in natura.

Carnes e Couro A pecuária brasileira é hoje uma das mais modernas do mundo. O alto padrão da sanidade e qualidade dos produtos de origem bovina, suína e de aves elevaram as exportações do complexo carne a US$ 4,1 bilhões em 2003, com um aumento de 31% em comparação com o resultado de 2002. Com isso, o Brasil passou a liderar o ranking dos maiores exportadores de carne bovina e de frangos. As exportações de carne bovina in natura e industrializada cresceram 40% em 2003, chegando a US$ 1,5 bilhão. Em volume, totalizaram 1,4 milhão de toneladas e foram embarcadas principalmente para Chile, Países Baixos, Egito, Reino Unido, Itália, Arábia Saudita e Alemanha, entre outros. Esse desempenho colocou o país em primeiro lugar no ranking mundial das vendas do setor, superando a Austrália, até então o líder comércio internacional do produto.

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Agronegócio Em 2003, o país assumiu ainda a liderança do ranking dos maiores exportadores do setor avícola, com crescimento de 20% em relação a 2002. As exportações brasileiras de frango in natura e industrializado somaram US$ 1,8 bilhão, representando cerca de 2 milhões de toneladas. A maior parte dos embarques foram para a Arábia Saudita, Japão, Países Baixos, Alemanha, Rússia e Hong Kong. O Brasil também registrou crescimento nas vendas externas de carne suína, que aumentaram 12%, chegando a US$ 526 milhões - ou cerca de 550 mil toneladas. Rússia, Hong Kong, Argentina, Cingapura e Uruguai foram os principais importadores da carne suína brasileira. As exportações de couros cresceram mais de 10,2% em 2003, saltando a US$ 1,06 bilhão. O couro acabado foi o que apresentou o melhor resultado, ampliando seu volume de negócios em 29,5%, o que correspondeu a quase US$ 469 milhões. Com isso, atingiu 44% da exportação total de couros. As vendas externas dos produtos de couro foram de quase US$ 1,4 bilhão no ano passado. Os calçados de couro representaram 91,5% das exportações. Os Estados Unidos compraram 91,5% de todos os produtos de couros, seguidos do Reino Unido e Canadá.

com uma safra de 52 milhões de toneladas e uma área plantada de 18,4 milhões de hectares na temporada 2002/2003. A soja é conhecida há mais de cinco mil anos. No Brasil, chegou em 1882, quando foi introduzida no tórrido território baiano. A partir de 1940, começou a ganhar importância na agricultura. Passados quase 64 anos, transformouse no maior destaque do agronegócio brasileiro. No ano passado, o Brasil assumiu a liderança no mercado internacional do complexo soja (grãos, farelo e óleo), com exportações de US$ 8,1 bilhões, 31% acima do valor alcançado em 2002. A expansão do plantio de soja é um dos maiores exemplos do potencial e vocação agrícola brasileira. Até a década de 80, as lavouras da oleaginosa se concentravam nos estados do Sul - Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Graças ao desenvolvimento de cultivares adaptados ao solo e ao clima das diferentes regiões brasileiras, a soja se espalhou também pelo Centro-Oeste, nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e no Distrito Federal, além de parte do Nordeste - principalmente no oeste da Bahia e no sul do Maranhão e do Piauí. O crescimento da soja no Brasil também foi fantástico. Em 1990/1991, a colheita foi de 15,3 milhões de toneladas, com uma área plantada de 9,7 milhões de hectares. Com a safra de 52 milhões de toneladas em 2002/03, a produção mais do que triplicou em 12 safras, em conseqüência dos ganhos de rendimento.

Sucos e Frutas

Soja Originária da China, a soja é hoje o principal grão do agronegócio brasileiro. O país é o segundo maior produtor mundial da oleaginosa,

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A fruticultura é estratégica para o agronegócio brasileiro. Com um superávit de US$ 267 milhões em 2003, o setor ocupa uma área de 3,4 milhões de hectares. A produção de frutas permite obter um faturamento bruto entre R$ 1 mil e R$ 20 mil por hectare. Hoje, o mercado interno absorve 21 milhões de toneladas/ano e o excedente exportável é de cerca de 17 milhões de toneladas. Com uma fruticultura diversificada, o Brasil é um dos maiores pólos mundiais de produção de sucos de frutas. No ano passado, as exportações do setor alcançaram US$ 1,25 bilhão. Do total, 95,5% corresponde a suco de laranja, do qual o país é o maior produtor e exportador. O setor gerou receitas cambiais de US$ 1,2 bilhão

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Produtos Florestais A indústria brasileira de papel e celulose tem vocação exportadora, graças a sua competitividade, o que tem se refletido no aumento de sua participação no comércio internacional. Em 2003, as exportações de celulose cresceram mais de 50% em relação ao ano anterior, saltando de US$ 1,1 bilhão para US$ 1,7 bilhão. Os principais destinos foram Estados Unidos, China, Japão e países da União Européia. Já as vendas externas de papel chegaram a US$ 1 bilhão em 2003, 21,5% acima do valor comercializado em 2002, de US$ 900 milhões.

em 2003, um resultado 14,6% acima do valor vendido ao mercado externo em 2002. Os principais destinos foram Bélgica, Países Baixos, Estados Unidos e Japão. O Brasil é o terceiro pólo mundial de fruticultura, com uma produção anual de cerca de 38 milhões de toneladas. Em 2003, as vendas externas de frutas frescas alcançaram US$ 335,3 milhões, com um aumento de 39% em comparação aos US$ 241 milhões obtidos em 2002. Neste ano, devem crescer algo em torno de 15%, chegando a US$ 375 milhões. Com isso, torna-se cada vez mais factível a meta brasileira de elevar a US$ 1 bilhão as exportações de frutas frescas até o final desta década. Consciente do enorme potencial do país na área de fruticultura, com plenas condições de ampliar sua participação do mercado internacional, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e os produtores do setor estão investindo em um sistema de cultivo de frutas de alto padrão de qualidade e sanidade. É o programa de Produção Integrada de Frutas (PIF), que prevê o emprego de normas de sustentabilidade ambiental, segurança alimentar, viabilidade econômica e socialmente justa, mediante o uso de tecnologias não agressivas ao meio ambiente e ao homem. As frutas cultivadas no sistema de produção integrada vão para o mercado com um selo de conformidade, atestando a sua qualidade e sanidade. Desde que foi implantada, a PIF permitiu uma redução de 63% no uso de agrotóxicos nos pomares de manga; de 50% no mamão; de 32% na uva; e de 30% na maçã.

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Papel, celulose, madeiras e suas obras compõem um importante item da pauta de exportações brasileiras. No ano passado, o país exportou US$ 4,9 bilhões de produtos florestais, representando um aumento de 28,6% em comparação ao valor alcançado em 2002. As exportações de madeira e suas obras aumentaram 18,4%, passando de US$ 2,2 bilhões em 2002 para US$ 2,6 bilhões em 2003. Os Estados Unidos é o principal comprador brasileiro, absorvendo 44% das vendas. Outros importantes destinos foram Reino Unido, China, Bélgica, França, Japão e Espanha.

Algodão O cultivo de algodão no Brasil deve dar um salto nos próximos anos. A expansão do plantio indica que o país também poderá assumir papel de destaque na cotonicultura mundial. As plantações têm crescido especialmente em estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e na

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Agronegócio Bahia. Com alto grau de tecnologia, as lavouras de algodão apresentam resultados animadores em termos de produção e produtividade. As exportações da pluma dobraram em apenas uma safra, passando de US$ 93 milhões em 2002 para US$ 188,5 milhões em 2003. Na temporada 2003/04, o país deve produzir 1,2 milhão de toneladas do produto em pluma, contra 847,5 milhões de toneladas do período anterior. Isso representa um crescimento de 46,3%, o que significou um acréscimo de 392,6 milhões de toneladas na produção de algodão. A área plantada deve passar de 735,1 milhões de hectares para 1 milhão de hectares.

Agricultura Orgânica

Cacau Bebida sagrada para os povos indígenas da América, o cacau passou a ter importância comercial no Brasil dos fins do século XVII. Embora tenha sido cultivado inicialmente no Norte do país, o cacau só ganhou força depois de ser introduzido no sul da Bahia, onde encontrou as condições naturais favoráveis para se expandir. Até hoje, a região é a principal pólo de produção da cacauicultura, setor cuja trajetória teve importante participação na economia e na política brasileira das últimas décadas. As exportações de cacau e seus derivados aumentaram 55,4% em 2003, saltando de US$ 206 milhões em 2002 para US$ 321 milhões no ano passado.

O aumento crescente da demanda por produtos livres de agrotóxicos tem impulsionado a agricultura orgânica no Brasil. Sistema de manejo sustentável que dispensa o uso de agro-tóxicos sintéticos, esse sistema agrícola privilegia a preservação ambiental, a biodiversidade, os ciclos biológicos e a qualidade de vida do homem. Com uma área plantada de 842 mil de hectares, o setor movimentou cerca de US$ 1 bilhão em 2003. O país tem 19 mil propriedades orgânicas certificadas e 174 processadoras espalhadas em diversas regiões. A agricultura orgânica brasileira cresce a uma taxa anual de 20% e já tem grande participação no mercado interno e, em breve, deve ampliar sua presença no mercado internacional. A crescente demanda por produtos orgânicos está fortemente relacionada ao aumento da exigência dos consumidores, internos e externos, com a qualidade dos alimentos e com os impactos da agricultura sobre o meio ambiente. A expansão da agricultura orgânica também pode ser atribuída ao desenvolvimento de um mercado mais justo para produtores e consumidores, que é altamente gerador de empregos. Em 2003, o Brasil aprovou uma lei específica para a agricultura orgânica. Ao mesmo tempo, elaborou um plano de trabalho para executar o Programa de Desenvolvimento na Agricultura Orgânica, contemplado no Plano Plurianual 2004-2007. Com isso, o governo brasileiro valoriza o segmento, estruturando o gerenciamento físico e financeiro das ações para a área.

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Pesquisa & Desenvolvmento O conhecimento e tecnologia são instrumentos imprescindíveis ao crescimento sustentável do agronegócio do Brasil. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem papel fundamental no desenvolvimento de pesquisas e na produção de novas técnicas agrícolas e pecuárias, além de contribuir com a agroindústria. Reconhecida como uma das grandes responsáveis pelo aumento da produção brasileira de grãos, que atingiu 9,5% em 2003, a Embrapa lidera o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA). Essa rede engloba, além das unidades de pesquisa e desenvolvimento da empresa, centros de pesquisa agropecuária estaduais, algumas universidades brasileiras e outras instituições privadas. Também fazem parte do sistema os Laboratórios Virtuais no Exterior (Labex) da Embrapa, implantados atualmente nos Estados Unidos e na Europa (França). Estudos de simulação feitos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) demonstraram que os investimentos em pesquisa e desenvolvimento podem elevar a produção de grãos no Brasil a 295 milhões de toneladas com a utilização da tecnologia já disponível, hoje usada apenas por uma parte dos produtores brasilei-

ros. De acordo com especialistas da área, a Embrapa desenvolve 52% dos projetos em agricultura no Brasil. Governos estaduais contribuem com 20%. Universidades, com 21%. As variedades de sementes desenvolvidas pela Embrapa representaram 77% das variedades de arroz oferecidas no Brasil entre 1976 e 1999; 30% do feijão; e 37% da soja. Entre os materiais desenvolvidos pela empresa até 2004 são contabilizadas 91 variedades de arroz, 36 de feijão, 68 de milho, 87 de trigo, 37 de algodão e 210 variedades de soja. O imenso potencial do agronegócio brasileiro, aliado à capacidade instalada de suas instituições e à reconhecida criatividade de seus pesquisadores, abrem enormes possibilidades de investimentos externos e privados em pesquisa e desenvolvimento no país. Cosméticos, nutracêuticos, uso da biotecnologia para desenvolvimento de raças e variedades resistentes a parasitas, doenças, pragas, estresse hídrico e secas prolongadas, juntamente com informática agropecuária e agricultura de precisão, são algumas das áreas que apresentam as melhores oportunidades de investimento por intermédio de parceria público-privado para a geração de conhecimento técnico-científico.

A revista Agricultura & Engenharia parabeniza a

por seus 35 anos de sucesso da pesquisa agrícola Especial - 35 anos Embrapa

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Artigo

O agronegócio em tempo de crise Reinhold Stephanes Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

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Além de estar sujeita às intempéries climáticas periodicamente, a agricultura tem que driblar efeitos de crises financeiras. Foi assim ao longo das décadas de 1980 e 1990, com o congelamento de preços, inflação e sucessivos planos econômicos. E agora não é diferente. Enquanto o país acumula recordes nas safras de grãos, surge a crise financeira mundial ameaçando o plantio e a comercialização. Apesar de o quadro de dificuldades e de previsões pessimistas de algumas autoridades e mesmo de especialistas, até o momento o agronegócio brasileiro tem reagido positivamente. Isso se deve principalmente ao dinamismo do setor, que sendo a base econômica de mais de quatro mil municípios, proporciona o superávit da balança comercial, e ainda financia o déficit dos demais setores da nossa economia. Mesmo que haja divergência sobre a intensidade da crise, a expectativa é que todos os países serão afetados, em menor ou maior dimensão. Afinal, reduzindo o crescimento mundial, as exportações também recuam, enxugando mercados até então com grande potencial de expansão, como o da China, da Rússia e de países do Oriente Médio, importantes consumidores de produtos agropecuários. O primeiro impacto da crise financeira foi a queda generalizada de preço no mercado mundial das commodities agrícolas, em função da diminuição de compras futuras e do aumento do custo de carregamento de estoques. Esse processo afetou as tradings e outras instituições de

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crédito privado que financiam segmentos do setor rural, principalmente no Centro-Oeste brasileiro. Quase 60% da produção agropecuária do Estado de Mato Grosso, por exemplo, dependiam destas instituições. Mesmo sob impacto da crise, o Brasil plantou uma área equivalente a do ano anterior e tem a estimativa de queda na produção de 8%, o que significa voltar ao nível da penúltima safra. O recuo se dará principalmente na produtividade, devido à diminuição do uso de tecnologia e de fertilizantes. Vale lembrar, no entanto, que a seca que vem atingindo o sul do país também contribuiu para esse resultado. Não obstante os prejuízos enfrentados pelos produtores de feijão, soja e milho, considerando o recorde de crescimento da safra anterior, de 9%, o recuo da safra, em termos de Brasil, ainda pode ser visto como suportável. Merece destaque, porém, o caso do algodão, que, assim como o café, ficou de fora da melhoria dos preços nos últimos dois anos. Na verdade, os preços estão nos piores níveis desde 2003, com uma queda de 25% na área de plantio, e sem perspectiva de aquecimento do mercado neste momento. No caso do milho, o baixo preço no mercado externo e o alto estoque interno foram responsáveis pela diminuição da área de plantio. Porém, a quebra da safra, em função da seca no sul do país, e a recuperação dos preços nas últimas semanas, melhoram a perspectiva desta commodity. É bom lembrar que o milho é extre-

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Apesar de o quadro de dificuldades e de previsões pessimistas de algumas autoridades e mesmo de especialistas, até o momento o agronegócio brasileiro tem reagido positivamente

Reinhold Stephanes mamente importante, pelos subprodutos gerados, que se destinam à alimentação humana e à cadeia de frangos e suínos. Ainda em relação ao milho, a preocupação atual é quanto ao plantio da safrinha, que no ano passado foi produzida em um valor elevado e até aqui se mostra sem tendência positiva. Situação que indica a necessidade de oferecer uma política de crédito específica ao produtor, pois sem apoio, ele não vai plantar. A variação de preços e o fluxo da produção são preocupações do governo federal. Garantir a comercialização da safra será vital para evitar novos prejuízos para o setor e para a economia. Sabe-se que, embora os estoques mundiais de alimentos estejam baixos, o investimento para recompô-los é muito alto. E, sem recursos, os países vão comprar da mão para a boca, o que pode dar margem ao oportunismo de grandes corporações. O contexto, que deixa apreensivos governo e setor rural, indica que o atual modelo de crédito agrícola está esgotado, sendo preciso adotar medidas que perpassem as crises e blindem a agricultura. Para isso, devemos rever as políticas de garantia, de preços e do seguro rural. Vale lembrar que a última reestruturação das dívidas do setor ocorreu, em junho, sob perspectivas extremamente otimistas, com mercado e preço aquecidos. E esse cenário não se concretizou. Regularizar a situação do produtor junto ao agente financeiro permite que ele volte a ser adimplente e consiga ter acesso ao crédito. A dívida rural se acumula há mais de 20 anos com constantes renegociações. E esta dívida surgia

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normalmente por duas questões principais: climáticas e de mercado. No caso de problemas com o clima, a baixa cobertura do seguro nos últimos anos acabou endividando o produtor. Já a questão de mercado ocorre quando o produtor planta com preço bom, mas depois o preço cai e o ele não consegue cobrir o custo do plantio. Temos que encontrar um novo caminho, um novo modelo. Um grupo de especialistas estuda o assunto, reunindo o Ministério de Agricultura, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federação dos Bancos, Banco do Brasil e Ministério da Fazenda. A crise reforça as dificuldades que vamos enfrentar em 2009 e nos obriga a agir de forma mais rápida. Até aqui, a agricultura tem mostrado capacidade para atravessar esse período de turbulência e um exemplo são as perspectivas positivas para produtos como soja, carne, açúcar, feijão e arroz. Além disso, levando em consideração a existência de crises, numa série histórica de três décadas, as projeções mostram que o Brasil manterá a liderança no mercado mundial e o mercado interno será um grande fator de crescimento. Para os próximos 10 anos, a previsão é que a demanda no mundo vai crescer 50%; um aumento extraordinário. E o Brasil tem o melhor acervo tecnológico entre os países tropicais, profissionais qualificados e terras agricultáveis disponíveis, hoje ocupadas por pastagens que poderão ser remanejadas, com ganhos de produtividade. Temos condições de garantir o abastecimento interno e ampliar ainda mais as exportações dos produtos do agronegócio, que hoje já chegam a mais de 180 países.

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