Folder Luiz Lemos

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O Ministério da Cultura e a Vale apresentam

CICLO DE EXPOSIÇÕES MEMORIAL MINAS GERAIS VALE 2016

A letra torna-se signo dos resíduos das palavras, mas aponta para os vazios da linguagem e dos discursos, tanto aqueles do jogo linguístico das vogais próximas, quanto retomando o sentido de fenda ou incisão. Diante das obras, parece que sempre estamos entre: seja entre os sentidos desgarrados da fragmentação da palavra e a falência da linguagem em tentar dar conta de tudo ou entre os sentidos que deslizam na intensidade cromática e formal que compõe o conjunto de obras expostas.

LUIZ LEMOS

As palavras nomeiam o mundo, constroem a linguagem e acionam os discursos. A palavra é também o ponto de partida de Luiz Eduardo Lemos em suas séries anteriores. Num gesto forte e potente, pouco a pouco, Lemos fragmenta e destitui as palavras de sua totalidade, reduzindo-as a letras que povoam o espaço cromático das telas em sofisticadas camadas e sobreposições. A cor, ao cobrir a tela, paradoxalmente também revela e deixa vestígios sutis.

HIATO

Nas diversas significações da palavra hiato, as ideias de interrupção, fenda, intervalo ou falha se colocam de forma central. Na exposição de Luiz Eduardo Lemos esses sentidos são ainda mais ampliados para tratar de formas residuais do sentido e da significação, especialmente em relação à palavra.

19 DE NOVEMBRO A 22 DE JANEIRO / 2017

A MEIO CAMINHO ENTRE AS PALAVRAS E AS COISAS

No modo de construir as obras surgem outros planos nos recortes que abrem as telas, lembrando Lúcio Fontana, ou nas dobras nas telas, formando volumes, assim como nas grandes áreas monocromáticas que, muitas vezes, encobrem camadas anteriores. É nesse trânsito, nesse meio caminho entre vestígios, rasuras e enormes planos cromáticos sobrepostos que uma composição rigorosamente inquieta se forma e nos convoca a deslocar nosso olhar em intervalos entre o todo e os detalhes.

Além de dar destaque para as manifestações da cultura ligadas à memória e à tradição, o Memorial Minas Gerais Vale ainda ativa as potências do contemporâneo como forma de dar sustentação e circulação ao legado do passado. Esse gesto aproxima e coloca as dimensões do tempo em um jogo, no qual passado e presente se entrecruzam nas dinâmicas das muitas manifestações da arte e da cultura. O Programa de Exposições 2016, selecionadas pelo Edital para Jovens Artistas Mineiros, é um desses gestos que aciona a produção artística contemporânea, dando visibilidade a artistas emergentes. Nessa temporada, quatro exposições revelam o vigor da produção artística emergente. A ideia central é dar espaço para a diversidade de discursos, práticas e estratégias da arte contemporânea produzida em Minas Gerais, garantindo aos jovens artistas boas condições de exposição e de visibilidade. www.memorialvale.com.br Iniciativa:

Patrocínio:

FICHA TÉCNICA } REALIZAÇÃO: MEMORIAL MINAS GERAIS VALE / GESTOR: WAGNER TAMEIRÃO } MONTAGEM: GUILHERME MACHADO } DESIGN GRÁFICO: AD10 COMUNICAÇÃO } SELEÇÃO DAS EXPOSIÇÕES: EDUARDO DE JESUS, WAGNER TAMEIRÃO E MARIA ANGÉLICA MELENDI } COORDENAÇÃO GERAL E TEXTOS: EDUARDO DE JESUS

Parceria:

Realização:

MINISTÉRIO DA CULTURA


ENTREVISTA – LUIZ E. LEMOS

4. Quais são as suas principais referências na arte?

1. Como começou seu interesse por arte e como se deu a escolha pela pintura?

Alguns artistas que vejo e pesquiso são grandes referências no fazer da pintura e que me apontam um caminho pelas inúmeras possibilidades da arte. Aqui posso pontuar os artistas Cy Twombly, Tatiana Blass, Josh Smith, Gustavo Spiridião, Oscar Murillo, Lúcia Laguna, Francis Bacon, entre muitos outros mais.

Sou filho de artista, portanto a arte sempre esteve presente em minha vida. Mas o entendimento de que era a essa área de pesquisa que queria me dedicar veio mais tarde, ao decidir entrar para a Faculdade de Artes. Naquele momento tinha a certeza de que estudaria escultura... Uma certeza torta que não durou muito e foi substituída assim que tive contato com a pintura e com artistas que a ela se dedicavam. Nos primeiros momentos da faculdade descobri na tinta, na tela e nos pincéis uma nova função, uma nova certeza. A pintura é uma descoberta que persiste até hoje e, por vezes, aponta para outros caminhos e técnicas.

Outros artistas são fortes referências em minha pesquisa teórico-visual e apresentam perspectivas para a criação em artes visuais pela fusão entre a palavra e a imagem: Raquel Stolf, Rosana Ricalde, Marilá Dardot, Fábio Morais, Jorge Menna Barreto e, aqui também, vão muitos outros artistas que admiro.

2. Como foi o desenvolvimento dessa série que você apresenta aqui no MMGV, em Hiato? Como foi o processo de criação? A série de pinturas apresentadas na exposição Hiato deriva de pinturas anteriores. O significado da palavra escrita, muito importante em outros trabalhos, já não importa tanto em Hiato. Aqui me interessa o uso da letra como forma de esvaziamento do significado. A opção pelo uso da letra desconectada do significado da palavra é o ponto principal de investigação dessa série. Os trabalhos de Hiato foram desenvolvidos a partir do confronto entre as letras e os elementos de construção pictórica (manchas, cores, gestos, formas). A letra (gráfica, matemática e direta) é afirmada, repetida e, então, anulada-acumulada aos gestos e matérias da pintura. A proposta de compor imagens através de camadas está presente no processo de criação das pinturas, que são várias e várias vezes superpostas por outras camadas: letras são sistematicamente cobertas e anuladas por camadas de cor, gestos, outras letras e matérias. As letras desaparecem e aparecem em uma espécie de palimpsesto, em que a informação anterior, e já rasurada, mantém-se como memória do que foi feito. 3. Quais são as principais articulações conceituais de seu trabalho atual? Quais são as linhas de força? Trabalho há alguns anos com as misturas entre palavra e imagem, busco a criação de um texto visual que diminua as distâncias entre os sistemas de signos distintos. Articulo elementos da escrita (seja a caligrafia, a letra ou a palavra) com elementos pictóricos. Atualmente a LETRA tem lugar de destaque em minhas investigações e, por meio dela, busco o que está antes do discurso escrito, antes do significado da palavra: a letra como fresta. Trabalho insistentemente o confronto da certeza da letra com o erro do gesto, a matemática da forma da letra com o vacilo do movimento. As pinturas de Hiato são uma série de ações gestuais, em que a letra é escolhida, seja por sua forma e/ou pelas possibilidades de confronto com outras marcas da pintura, e, então, afirmada, repetida e depois anulada.

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Luiz Lemos

Luiz Eduardo Lemos é graduado em Artes pela Escola de Belas Artes da UFMG (2012) e mestrando em Estudos de Linguagens no CEFET-MG. Entre suas exposições destacam-se: Mostra Curto Circuito (Galeria GTO, Sesc Palladium, Belo Horizonte, 2016), Entre a casa e o acaso (Galeria Mama-Cadela, Belo Horizonte, 2015), ÁTIMO (Centro Cultural da UFMG, Belo Horizonte, 2012), Mostra! (Centro Cultural da UFMG, Belo Horizonte, 2011 e 2012), Mostra coletiva de inauguração da Casa Camelo (Casa Camelo, Belo Horizonte, 2011). Entre as exposições individuais, destacam-se: Anáfora (Casa Camelo, Belo Horizonte, 2013), Memória Estrutural (FAOP, Ouro Preto, 2013) e Sobre silêncios e palavras (BDMG Cultural, Belo Horizonte, 2012), entre outras. A atuação de Luiz Eduardo Lemos abrange ainda uma destacada inserção na gestão e no fomento à produção artística, especialmente pela criação e direção da Casa Camelo, um dos mais destacados espaços de produção artística independente da cidade, que recebe artistas em residências e ateliês coletivos, além de fomentar mostras coletivas e festivais, como o recente Festival Camelo de Arte Contemporânea (Galpão Paraíso, Belo Horizonte, 2016), que selecionou artistas de Minas Gerais e de diversos outros estados em uma potente mostra coletiva. Além disso, foi curador de diversas mostras e exposições na Casa Camelo e em outros espaços da cidade.


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