Ministério da Cidadania e Vale apresentam
TUDO É CASA, CASCA, ESCASSO, OCASO, CORPO LUIZA ALCÂNTARA CURADORIA JÚLIO MARTINS
Iniciativa:
Patrocínio:
TUDO É CASA, CASCA, ESCASSO, OCASO, CORPO, OBRAS DE LUIZA ALCÂNTARA. Parceria:
Nesta exposição, Luiza Alcântara apresenta desenhos, fotografias e cerâmicas, além da videoinstalação Desmanche, exibida pela primeira vez. Nos vídeos, vemos maquetes das casas onde a artista residiu ao longo de toda a sua vida, feitas de argila e submersas em meio líquido, de modo que são dissolvidas e terminam por desaparecer. Em plena dissolução, portanto, estão os espaços da intimidade e da memória, como também Realização:
estão a pele e o corpo, que vão se desmanchando diante do fluxo acelerado do tempo. Um testemunho daquilo que Walter Benjamin elaborou em seu texto de 1931, chamado “O caráter destrutivo”, que segundo o filósofo
“só conhece um lema: criar espaço; apenas uma atividade: esvaziar”. A imagem da casa como espaço
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arquitetônico e subjetivo nos evoca o que Gaston Bachelard descreveu por “síntese do imemorial com a lembrança. Nessa região longínqua, memória e imaginação não se deixam dissociar”. Sob essa condição simbólica, sem se restringirem à biografia de Luiza Alcântara, as casas são lugares que todos habitamos e
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carregamos em nossas lembranças, arquetipias constantemente mobilizadas no fluir do tempo. Comumente vinculados ao corpo e seus devires, os dados da memória íntima e da sensibilidade são tratados pela artista de modo a permitir tanto a metaforização dos sentidos, como a observação delicada de suas materialidades frágeis. Sobretudo em seus desenhos, há uma presença implícita do corpo como matriz sensível motivadora das relações que estabelece com arquiteturas reais e imaginárias (Afetos), com vasos de armazenamento
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cuja inteireza se desfaz (Potes de Ouro), bem como com sementes e vegetais que insinuam antropomorfias (No quanto de mim que se faz agora, Vulvas e Aste). A casa - assim como a linguagem - é morada do ser. E debaixo desse mesmo teto, onde busca abrigo à medida de seu corpo, também se ergue uma superfície de interação ativa entre exterioridade e interioridade. Os trabalhos reunidos na exposição estabelecem negociações entre certas estruturas com o vazio: seja nos espaços em branco dos desenhos, no oco das cerâmicas, nas casas que se tornam ruínas ou numa folha de papel totalmente preenchida pelos traços delicados da artista. São poéticas as palavras que Luiza Alcântara colhe para concluir a respeito de sua produção: “Tudo é casa, casca, escasso, ocaso, corpo”. Tomando um partido fenomenológico, para ela, as experiências diluem-se em suas próprias materialidades, como nas
1 Desmanche | Videoinstalação com duas projeções, 2017-19
casas de argila a derreterem ou em potes feitos por lacunas e marcas ancestrais. Ademais, suas arquiteturas
2 Vulvas | Lápis de cor sobre papel, 66 x 52cm, 2016
que se fragmentam, mapeadas por zonas cromáticas que atravessam e reafirmam a reconstrução afetiva do
3 Aste l Lápis de cor sobre papel, 66 x 52cm, 2016
espaço, e mesmo as formas orgânicas são, igualmente, estruturadas. As sementes recolhidas à palma da mão da artista convivem com réplicas feitas em cerâmica, que repõem a solicitação do tato presente nas imagens e também nas pequenas esculturas, ambas prolongando a extensão da pele pelo olhar.
4 Afetos | Lápis e aquarela sobre papel, dimensões variáveis, 2018-19 5 No quanto de mim que se faz agora: semente | Fotografia e cerâmica, dimensões variáveis, 2019 6 Potes de ouro | Tinta gráfica sobre papel, 110 x 75cm, 2018
Júlio Martins, curador LUIZA ALCÂNTARA
O Edital para Novos Artistas do Memorial Minas Gerais Vale foi lançado entre 2013 e 2014 com o objetivo de apoiar e dar visibilidade à vasta e diversificada produção artística contemporânea do estado, sobretudo de artistas em início de carreira. Durante esse período foram realizadas 19 exposições. Em 2019, inicia-se mais uma etapa do Edital, ainda voltado a artistas em início de carreira, mas independentemente de idade. Com uma nova coordenação, o projeto atual propõe um acompanhamento junto aos artistas, com o objetivo de proporcionar o maior amadurecimento dos trabalhos e a potencialização dos projetos expográficos.
Nascida em Belo Horizonte (MG) em 1993, formou-se em Audiovisual na Oi Kabum! BH - Escola Técnica de Arte e Tecnologia, em 2012. Em 2015, tornou-se bacharel em Artes Plásticas pela Escola Guignard - UEMG. Tem como principal objeto de interesse e pesquisa o espaço. Em suas produções, busca retratar as percepções individuais sobre determinado lugar e as relações entre os diversos elementos que o constituem. Seus trabalhos são desenvolvidos em meios variados, como o audiovisual, a cerâmica, o desenho e a gravura. Atua também com curadoria e produção em artes visuais. luizaalcantara.com