Folder Luiza Nobel, Tipologia das Multidões

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16 DE SETEMBRO A 12 DE NOVEMBRO / 2017

TIPOLOGIAS DAS MULTIDÕES

Uma coleção composta ao longo do tempo por imagens e recortes, vindos de diversas publicações, se estrutura em montagens e desmontagens junto com fragmentos de toda ordem. São marcas e vestígios sutis da memória que atravessam o conjunto de obras da exposição “Tipologias das multidões” de Luiza Nobel, selecionada pelo edital para jovens artistas mineiros do Memorial Minas Gerais Vale.

CICLO DE EXPOSIÇÕES MEMORIAL MINAS GERAIS VALE 2017 O Ministério da Cultura e a Vale apresentam Luiza Nobel, Caixa de vidro, da série Multidões, 2017

Homogênea, compacta, contínua e unidirecional, a massa, como afirma Peter Pál Pelbart2, é todo o contrário da multidão, que é heterogênea, dispersa, complexa, multidirecional. Nobel parece ter levado a reflexão de Pál Pelbart para o cerne das construções imagéticas, dos objetos e intervenções que nos apresenta. Se a multidão figura nas obras, sua potência se mostra ainda mais evidente na dispersão e na complexidade que habitam as imagens, fazendo-as escapar do gesto revisionista, melancólico ou nostálgico da mera representação para nos deixar curiosos por saber do que tratam, o que nos indagam e como podemos enfrentá-las quando habilmente são distanciadas das narrativas hegemônicas. Com isso, as imagens parecem escapar da lógica linear mais tradicional para alcançar outras densidades, tanto pela heterogeneidade de seus procedimentos de construção e pelas estratégias de montagem, quanto pelo modo como tudo isso convive com as inevitáveis marcas do tempo. 1. Noção apropriada da tese de doutorado “Arquivos em performance – poéticas da memória na arte contemporânea”, de Renata Alencar (Escola de Belas Artes, UFMG, 2017) 2. “Poder sobre a vida, potência da vida.” Peter Pál-Pelbart. Revista Lugar Comum, nº 17, pp. 33-43, Junho de 2008. Disponível em: http://uninomade.net/lugarcomum/17/

Luiza Nobel, sem título, 27 x 10 x 30cm, 2016

FICHA TÉCNICA } REALIZAÇÃO: MEMORIAL MINAS GERAIS VALE / GESTOR: WAGNER TAMEIRÃO } MONTAGEM: GUILHERME MACHADO E MÁRCIA RENÓ } DESIGN GRÁFICO: AD10 COMUNICAÇÃO } SELEÇÃO DAS EXPOSIÇÕES: EDUARDO DE JESUS, WAGNER TAMEIRÃO, MARIA ANGÉLICA MELENDI, ANA LUIZA NEVES E NANCY MORA } COORDENAÇÃO GERAL E TEXTOS: EDUARDO DE JESUS Esta exposição contará com audiodescrição a partir do dia 26 de setembro

Iniciativa:

Além de dar destaque para as manifestações da cultura ligadas à memória e à tradição, o Memorial Minas Gerais Vale ainda ativa as potências do contemporâneo como forma de dar sustentação e circulação ao legado do passado. Esse gesto aproxima e coloca as dimensões do tempo em um jogo, no qual passado e presente se entrecruzam nas dinâmicas das muitas manifestações da arte e da cultura. O Programa de Exposições 2017, selecionadas pelo Edital para Jovens Artistas Mineiros, é um desses gestos que aciona a produção artística contemporânea, dando visibilidade a artistas emergentes. Nessa temporada, quatro exposições revelam o vigor da produção artística emergente. A ideia central é dar espaço para a diversidade de discursos, práticas e estratégias da arte contemporânea produzida em Minas Gerais, garantindo aos jovens artistas boas condições de exposição e de visibilidade. www.memorialvale.com.br

Luiza Nobel, sem título, 26 x 30cm, 2016

Tudo está em processo e os gestos tangenciam o interminável, já que as obras – compostas por séries que não param de se desdobrar – trazem um arquivo em performance1 em constante mutação, conjugando construção e ruína, preservação e destruição com a mesma intensidade. São paradoxos das visões do passado, da relação entre o tempo histórico, as imagens e as urgências que agora experimentamos que não param de mudar, de ganhar outras e novas formas. A memória torna-se espaço de reflexão, de ativação das fabulações do passado que se entranham nas formas de representação mais comuns que agora circulam entre nós.

Luiza Nobel, sem título, 18 x 7cm

Ganham espaço nos trabalhos apresentados delicadas colagens e assemblages cheias de aberturas, prontas para as mais diversas aproximações sensíveis e ressignificações das temporalidades. Ao observar as obras, percebemos que os tempos podem se cruzar, assumindo passagens e tensões entre as múltiplas faces do passado em contato direto com o nosso presente.

LUIZA NOBEL

TIPOLOGIAS DESMESURADAS OU ESCAPANDO DAS REPRESENTAÇÕES

Parceria:

Patrocínio:

Realização:

MINISTÉRIO DA CULTURA


ENTREVISTA – LUIZA NOBEL 1. Como é seu processo de criação? Como os trabalhos da exposição foram ganhando corpo? Onde tudo começa?

2. Uma questão que parece importante para suas obras é a da memória e do arquivo. Como essas questões se articulam em suas obras?

O sutil, que nem sempre se manifesta como fragilidade, no sentido de não conter forças suficientes para irromper prematuramente, dissolve o que é denso por sua leveza, mas principalmente por sua capacidade e consciência das transformações como um processo necessário. A resistência e as interferências externas contribuem para uma certa força que transforma, sempre atenta e pacientemente. Talvez a palavra seja “resiliência”, um estado que nos permite, mesmo imergidos na fragilidade e hostilidade, observar, dissolver, conviver e agir conscientemente com o que é denso, rígido, incerto, autoritário e opressivo, podendo distinguir o que faz parte de um processo interno e o externo. Essa compreensão se manifesta nos materiais, nas imagens, no cotidiano, que nos ensinam sobre a transitoriedade das coisas, sua força, a contemplação dos micro detalhes e da instabilidade como força criativa.

Quando falamos em memória, muitas vezes a primeira imagem que criamos é de algo extremamente distante, retrógrado, pálido, inofensivo e banal, mas ao mesmo tempo incômodo. O esquecimento ou a amnésia caminha hoje com a aceleração, o acúmulo inconsciente, o consumo incessante de imagens, e faz parte de uma realidade contemporânea. Em momentos de instabilidade, observamos estruturas rígidas sucumbirem ou serem destruídas, como estátuas, cidades e histórias, e esta é uma tentativa de ocultar ou silenciar a memória através dos símbolos. A contemplação paciente das imagens, independentemente de seu tempo histórico, vai em contramão aos sistemas burocráticos, à rigidez, aos cálculos, à repressão que ignoram a singularidade, os processos, a pluralidade, o sonho, mas principalmente a sensibilidade.

}

Luiza Nobel, da série Mulheres, representatividade, 2017

Sobreposições, acúmulos, formulários, revistas, jornais, documentos, bobinas, dicionários, calendários, pedras, fotografias, papéis, caixas, arquivos e livros perpassam um inventário em constante movimento e expansão. O deslocamento, o descarte e seus inúmeros fragmentos se reconfiguram incessantemente. Os materiais são rasgados, catalogados, rasurados, colados, contemplados e deslocados de seu lugar comum, criando novas possibilidades para narrativas, tipologias e confrontos.

Luiza Nobel, sem título, 26 x 33cm, 2016

4. Como você vê a relação entre arte e política nas séries de trabalhos que compõem a exposição?

3. Fragilidade e resistências são linha de força em suas obras, especialmente pelos suportes utilizados em quase todas as obras, que parecem se contrapor à força das imagens próximas ao domínio da política. Como essas linhas conformam seu trabalho? Qual a expectativa ao expô-los?

Luiza Nobel

Luiza Nobel (Belo Horizonte, 1993) é graduanda da Escola de Belas Artes da UFMG. Em 2016, realizou “Reverências”, sua primeira individual, no Espaço Ateliê Kayab (Congonhas, Minas Gerais), a qual integravam algumas obras que apresenta em “Tipologia das multidões”.

Luiza Nobel, sem título, 8 x 13 cm, 2016

Realizou, ainda, as coletivas “Retornável – pausas cotidianas”, na Sala Mari’Stella Tristão, no

Os seixos, o metal, a madeira compartilham o mesmo espaço com folhas apodrecidas, fragmentos das fotografias e palavras que se tornam ilegíveis, em meio aos papéis rachados. A fragilidade na verdade se manifesta também como uma força que silenciosamente transforma, no seu tempo, o que é concreto, palpável, em vestígios. As transformações a longo prazo fazem parte de um processo natural em que as horas correm com um propósito: o da entrega, no sentido de não mascarar as características que encaramos primeiramente como negativas, os resíduos, as marcas, o envelhecimento, a quebra, as dobras e a incerteza. Mesmo as pedras, em sua rigidez, as imagens estáticas e o metal possuem em sua substância a mudança, que é aparentemente silenciosa. A instabilidade que está presente nos materiais, sejam eles familiares ou não, possibilita o estranhamento de estruturas convencionais nas quais eram submetidos.

Palácio das Artes (Belo Horizonte) e, no mesmo ano, no núcleo Plug Minas (Belo Horizonte), suas obras integraram a exposição “As canções que você fez para mim”. Nobel atua no planejamento e desenvolvimento de ações educativas no Espaço do Conhecimento da UFMG (Belo Horizonte).


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