Folder Exposição Xicão Xicão

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25 DE NOVEMBRO A 21 DE JANEIRO / 2018

SELFIE SERVICE

Todos nós sabemos que as diversas tecnologias de comunicação que usamos em nosso cotidiano redimensionaram intensamente nossas formas de presença e visibilidade na vida social, repercutindo diretamente em nossas subjetividades. As obras que Xikão Xikão nos apresenta em Selfie Service, terceira exposição selecionada pelo edital para jovens artistas mineiros do Memorial Minas Gerais Vale, tomam como matéria-prima os dispositivos e as estratégias do ambiente on line, com suas imagens e formas específicas de interação.

CICLO DE EXPOSIÇÕES MEMORIAL MINAS GERAIS VALE 2017 O Ministério da Cultura e a Vale apresentam Selfie Service - Xikão Xikão, 2016

Em contextos sociais atravessados pelas forças do capitalismo cognitivo, as performances de si construídas no imediatismo das imagens em circulação pelas redes configuram um ponto importante das dinâmicas de consumo dos padrões identitários, apontando para a paradoxal dinâmica da rede que oscila entre multiplicidade e uniformidade. As obras que Xikão Xikão nos apresenta em Selfie Service acionam o cerne dessas questões em proposições que nos fazem refletir sobre todos esses processos que experimentamos diariamente nas interações mediadas pelas redes sociais, nos convocando a pensar qual lugar ocupamos nessas dinâmicas. Sutis e bem-humoradas, as obras tramam jogos críticos entre palavra e imagem, assim como entre presença, visibilidade e identidade, nos confrontando com práticas comuns e ordinárias que, ao serem subvertidas ou deslocadas pelas obras, acabam por nos alertar para nossos atuais modos de vida.

Nude - Xikão Xikão, 2017

FICHA TÉCNICA } REALIZAÇÃO: MEMORIAL MINAS GERAIS VALE / GESTOR: WAGNER TAMEIRÃO } MONTAGEM: GUILHERME MACHADO E MÁRCIA RENÓ } DESIGN GRÁFICO: AD10 COMUNICAÇÃO } SELEÇÃO DAS EXPOSIÇÕES: EDUARDO DE JESUS, WAGNER TAMEIRÃO, MARIA ANGÉLICA MELENDI, ANA LUIZA NEVES E NANCY MORA } COORDENAÇÃO GERAL E TEXTOS: EDUARDO DE JESUS

Iniciativa:

Além de dar destaque para as manifestações da cultura ligadas à memória e à tradição, o Memorial Minas Gerais Vale ainda ativa as potências do contemporâneo como forma de dar sustentação e circulação ao legado do passado. Esse gesto aproxima e coloca as dimensões do tempo em um jogo, no qual passado e presente se entrecruzam nas dinâmicas das muitas manifestações da arte e da cultura. O Programa de Exposições 2017, selecionadas pelo Edital para Jovens Artistas Mineiros, é um desses gestos que aciona a produção artística contemporânea, dando visibilidade a artistas emergentes. Nessa temporada, quatro exposições revelam o vigor da produção artística emergente. A ideia central é dar espaço para a diversidade de discursos, práticas e estratégias da arte contemporânea produzida em Minas Gerais, garantindo aos jovens artistas boas condições de exposição e de visibilidade. www.memorialvale.com.br

Nude - Xikão Xikão, 2017

Segundo Groys, as questões do design são apenas tratadas de forma adequada se o assunto for colocado em relação ao modo como o sujeito quer se manifestar, ou seja, a forma que quer dar a si próprio. Como esse sujeito quer apresentar-se ao olhar do Outro. Para Groys – que toma Nietzsche e o ensaio de Alfred Loos “Ornamento e crime” (retomado também por Hal Foster em Design and Crime), publicado em 1908 –, essa é a questão central do design atual, uma espécie de obrigação de “desenhar a si próprio”. Já que Deus está morto, como afirmou Nietzsche, não precisamos mais de desenhar a alma para os olhos de Deus, mas a superfície de nossas corpos e vidas para o olhar do Outro e toda a complexidade que deriva disso. A questão que se coloca, tomando a reflexão de Groys, é quem é esse Outro e como podemos ampliar nossas formas de contato com ele.

Copy of Copy - Xikão Xikão, 2017

No domínio das trocas simbólicas efetuadas nas redes sociais vemos identidades fluidas que se associam a um conjunto de estratégias de visibilidade que colocam a imagem como um ponto central na constituição do que somos e do que desejamos ser, especialmente em relação ao outro e seus modos de interação e avaliação na economia inflacionada e muito valorizada dos likes e shares. Uma espécie de self-design, como caracteriza Boris Groys.

XIKÃO XIKÃO

SELFIE-DESIGN

Parceria:

Patrocínio:

Realização:

MINISTÉRIO DA CULTURA


ENTREVISTA – XIKÃO XIKÃO 1. As obras que compõem sua exposição trazem como forte componente as relações sociais mediadas pelas redes sociais. Como você se aproximou desse universo midiático e quais as questões que mais lhe interessam nas dinâmicas das trocas simbólicas e subjetivas efetuadas pela rede?

(In)Finito Feed - Xikão Xikão, 2017

Como grande parte dos millenials, o cyberespaço e as mídias digitais se fizeram presentes na minha trajetória. Com 14 anos, já experimentava as dinâmicas sociais da web, criando fakes em fóruns de discussão ou postando em meu fotolog. Atualmente encaro os ambientes virtuais como fonte de pesquisa e plataforma de criação. Interesso-me de uma maneira geral pelas imagens que produzimos na web – selfies, nudes, memes, gif’s – e como nos relacionamos com elas. No entanto, me despertam mais atenção essas estratégias que possibilitam afirmar, negar, criar, ocultar e legitimar identidades. 2. O corpo, a aparência e os estereótipos (tanto de imagens quanto de corpos) parecem lhe interessar. Como você maneja esses três pontos e suas potências em seus trabalhos? Enquanto artista, meus interesses nucleares são a identidade e o autorretrato. O corpo, a aparência e os estereótipos se fazem presentes na minha produção, pois estão conectados a estes núcleos. Atualmente, como me dedico à discussão das identidades virtuais, esses três pontos se inserem nessa discussão também. Óculos de realidade virtual e a selfie como forma de experimentar o presente. Como se configura o corpo nesse cenário tão desmaterializado? #Musafitness e homogeneização das selfies. Como desconstruir a presença de novos estereótipos? Uma possível resposta a estes novos cenários é a subversão. Em Nude, crio um corpo sem gênero, sem aparência, sem identidade. Já em ALTERselfie, faço uma espécie de “jogo da memória” com os estereótipos. Assim, através da subversão, vou operando esses pontos a fim de criar novos questionamentos.

4. Na exposição, você apresenta os vídeos Ações subversivas para fruição nas redes sociais. Como foi passar das imagens e textos para o campo da performance? Como essa passagem se deu? Quais os principais desdobramentos que essas performances trazem em relação ao domínio das redes sociais que já apareciam em suas obras anteriores? Minha produção tem um caráter multilinguagem. Sendo que três linguagens sempre me acompanham: desenho, fotografia e performance. Logo, foi natural que a performance também surgisse dentre os trabalhos desta exposição. Nesse caso, a performance veio para confrontar o modo como consumimos o conteúdo das redes sociais. Considerando que o exercício de consultar seu smartphone em busca de likes é um exercício em que o corpo fica parado, em silêncio e num tempo reduzido. A intenção foi transmutar essa lógica e fruir as redes sociais através de outras corporalidades (cair, rodar, dançar), outras ressonâncias (gritar, repetir, acelerar) e outros tempos (tempo expandido, time-lapse). Assim surgiu esse tríptico de vídeo-performances Ações subversivas para fruição nas redes sociais.

}

Xikão Xikão (1991, Belo Horizonte)

Com bacharelado em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (2014), Xikão Xikão já participou de diversas exposições. Entre as individuais, destacam-se Copy of a Copy, na Galeria de Arte Nello Nuno - FAOP (Ouro Preto, Minas Gerais, 2017), Cópia da Cópia.jpeg, na Galeria de Arte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais

Ações Subversivas para Fruição de Redes Sociais - Xikão Xikão, 2017

3. Algumas das obras expostas, como Alter-selfie, se estruturam intensamente em torno das questões da imagem. No entanto, outras, como Selfie Service, parecem suprimir as imagens para assim comentá-las e colocá-las num jogo crítico. Como você estabelece essas relações entre palavra e imagem? Quais desdobramentos dessa relação lhe interessam?

(Belo Horizonte, Minas Gerais, 2017), e Persona, no Centro Cultural de Contagem (Contagem, Minas Gerais, 2015). Entre as coletivas, destacam-se em 2017 as participações no VIII Salão de Itabirito (Itabirito, Ouro Preto e Belo Horizonte), na exposição Fotografia e Palavra / Poesia e Imagem, no

A relação entre imagem e palavra sempre me interessou e sempre esteve presente no meu processo criativo, diretamente ou indiretamente. Quando mergulhei no universo das selfies e das redes sociais, me senti esgotado pelo volume de imagens e pela efemeridade delas. As imagens desaparecem com o correr do dedo pelo smartphone. Então me senti impelido a pensar novas possibilidades. Como criar uma selfie sem imagem? Como materializar um feed? Nesse momento, surgem os trabalhos Selfie Service e In/Finito Feed, que se constituem na operação de complexificar o lugar da imagem com o uso do texto. A partir de meus questionamentos sobre as selfies e as redes sociais, crio pequenos textos que descrevem, observam, criticam, replicam essas imagens digitais e insiro-os no espaço expositivo.

Sobrado Quatro Cantos (Tiradentes, Minas Gerais), como parte do 7º Festival de Fotografia de Tiradentes – Foto em Pauta, e Cá Entre Nós, na OÁ Galeria (Vitória, Espírito Santo). Já em 2016, participou das exposições Fotografia e Palavra / Poesia e Imagem, no Espaço F da Escola de Belas Artes da UFMG (Belo Horizonte, Minas Gerais), no Curto Circuito – Conexões Imprevistas no SESC Palladium (Belo Horizonte, Minas Gerais) e na mostra de performance VESPA f(x)², no Galpão Paraíso e FUNARTE MG (Belo Horizonte, Minas Gerais).


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