carolina cordeiro

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Ministério da Cultura e Vale

Ciclo de Exposições Memorial Minas Gerais Vale 2013 / 2014

ENTRE CAROLINA CORDEIRO

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PASSAGENS (ENTRE)

OBRAS

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Sem título (2013)

(Vidro e pedra, dimensões variáveis)

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Eventos (2013)

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Sem título (2013)

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Entre outras coisas

(Livros)

(Pedra e barbante, dimensões variáveis)

(Três canais de som e vídeo projetado)

Põem-se portas e janelas numa casa Mas é o vazio da casa que se usa O haver que faz a utilidade Mas é o não haver que faz o uso.

Quando vemos os trabalhos de Carolina Cordeiro reunidos aqui, na exposição “entre”, podemos perceber um desejo de materializar os acontecimentos inesperados e as alterações que estes provocam nas relações espaço temporais. Na dinâmica entre as obras, os sujeitos e o espaço expositivo experimentamos uma espécie de pequeno intervalo no tempo. Trabalhos que nos direcionam para um gesto duplo, entre a pausa e o movimento, orquestrados em total sutileza, indo desde o muito breve, mas também e paradoxalmente, até o muito duradouro. Tudo isso nos convoca a observar esses tempos que são distendidos de diferentes modos. Em alguns momentos a extrema contemplação dos vídeos, torna-se quase vigilância, mas também sugere, por outro lado, uma certa melancolia de uma expectativa que nunca se cumpre. O momento inesperado que nunca ocorre. Se nos vídeos a contemplação desinteressada urge o tempo distendido da duração, nos outros trabalhos expressa-se uma forma diferente de distender, quase indefinidamente, o tempo. Instaura-se a urgência de um agora congelado, como se o momento inesperado estivesse presente, mas sem a força de sua ação. A mesma dinâmica que ocorre nas temporalidades, instigadas pelos acontecimentos inesperados, reverbera no espaço e nos coloca em uma situação limítrofe, no intervalo entre dentro e fora, pura passagem e intervalo.

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1 2 GALERIA 02

GALERIA 01


CAROLINA CORDEIRO |

http://cordeirocarolina.tumblr.com

Graduada em Desenho pela Escola de Belas Artes da UFMG e mestranda em Linguagens Visuais, Escola de Belas Artes da UFRJ, Carolina Cordeiro vem desenvolvendo seu trabalho transitando entre diversos suportes e mídias como a fotografia, o vídeo e as instalações com uso de materiais diversos. Vem realizando exposições individuais e coletivas no Brasil e em diversos países do mundo, onde, em alguns participou de residências artísticas. No Home Session (http://www.homesession.org) em Barcelona, Carolina residiu entre junho e julho de 2011 onde desenvolveu e expôs um conjunto de trabalhos que tomavam a ideia dos acontecimentos inesperados, dialogando com os trabalhos aqui expostos. Em 2009 participou do GLogauAIR Artist Residence Program (http://www.glogauair.net) em Berlim, Alemanha, para a qual recebeu financiamento através do Edital de Intercâmbio Cultural do Ministério da Cultura.

Entre as coletivas mais recentes destaca-se: “Blind Field“ (2013, Krannert Art Museum,Champaign, Estados Unidos), “PelasVias da Dúvida“ (2012, Centro Cultural HélioOiticica, Rio de Janeiro), “Through thesurfaceofthepages“(2012,Harvard University, Boston, EUA),“Deslocamento, Fricção“ (Mezanino do Palácio Gustavo Capanema– PrêmioFunarte de Arte Contemporânea, Rio de Janeiro), “Outrascoisasvisíveissobrepapel“ (2012, GaleriaLeme, São Paulo, SP), “EmDireto“(2011, Centro Cultural Oswald Andrade, São Paulo, SP),CEIA (Centro de Experimentação e Informação em Arte): Desenho, (2010, Belo Horizonte, MG), “Sempre a vista – Miragem” (Galeria Mendes Wood, São Paulo, SP). “De Passagem” (Galeria Mendes Wood, São Paulo, SP), “SOUVENIR“ (2009, Kunstraum Kreuzberg / Bethanien, Berlim, Alemanha) e ”Despues de Usted” (2009, Instituto Francés de Valencia, Espanha).

Entre as exposições individuais, destaca-se “Notas de Rodapé” (Galeria Genesco Murta, 2009, Belo Horizonte, MG) “Campos de Ação” (Galeria Ido Finotti, 2011, Uberlândia, MG), e “Carolina Cordeiro at Homesession” (Home Session, 2011, Barcelona, Espanha).

Aqui estamos Home Session (Barcelona, 2011) Instalação (presunto ibérico suspenso por balões de gás hélio).

Notas de rodapé Galeria Genesco Murta (Belo Horizonte, 2011) Instalação (parede falsa, ventiladores e tiras de livros)


CAROLINA CORDEIRO

Você vem trabalhando com diversos suportes e mídias, entre eles o vídeo e a fotografia, como esses suportes passaram a integrar sua prática artística. A minha relação com o fazer artístico (falo da prática, do ofício) partiu do desenho e ainda tenho uma relação de grande respeito pelo desenho, é uma espécie de guia de pensamento em muitos dos trabalhos que faço. Mas quando comecei a estudar arte e realizar trabalhos que seriam expostos, há aproximadamente dez anos, precisei de outras mídias para resolver alguns trabalhos dos quais o desenho fazia parte, mas não alcançava inteiramente todo o conceito que queria dar ao projeto. Minha primeira exposição individual, feita na Escola de Belas Artes da UFMG em 2006, tinha, exatamente, vídeo, desenho e fotografia, todos em um diálogo muito amarrado, se completando e ocupando o mesmo espaço. Daí veio um diálogo com a instalação e não parei de trabalhar com essas mídias. Mas seja a fotografia ou o vídeo que faço, na verdade, eles não são documentais, não sou uma fotógrafa que sai por aí fotografando o mundo, ao contrário, sempre parto de um projeto já concebido, e em muitos casos são interferências que faço em objetos e espaços, exceto em “Campo Cego”, um trabalho de 2008 em que fotografo as placas cobertas de pó, que eram interferências que gostaria de ter feito, mas já estavam lá. Enfim, o que quero dizer é que tanto o vídeo, a fotografia, a instalação ou o desenho são meios que utilizo para trabalhar e cada projeto se encaixa em um desses meios. Preciso descobrir e testar qual funciona melhor para a idéia que tenho no momento.

A relação com os chamados acontecimentos inesperados aparece no conjunto de trabalhos da exposição, assim como em outras mostras realizadas como no “Home session” em Barcelona. De onde partiu seu interesse por essas situações? Da própria vida, que é cheia delas e o mais interessante é perceber como esses acontecimentos inesperados podem ser transformadores se você os assimila . Legal você lembrar a experiência em Barcelona, porque quando cheguei lá vivi uma situação específica que me obrigou a refazer todo projeto que eu tinha feito para apresentar naquela situação. A solução naquele momento, como em vários outros, era: ou arrumo minha mala e volto pra casa, porque não seria possível realizar o projeto que tinha pensado, ou agarrava essa experiência e a transformava em trabalhos novos. Claro que isso exigia muito trabalho, não deu tempo de conhecer os famosos pontos turísticos de Barcelona, por exemplo.

Você já esteve em algumas residências artísticas nos últimos anos, como essa prática repercute em seu trabalho? O lugar sempre influencia fortemente meus trabalhos. Quando esse lugar é estranho e os códigos são novos é que minha percepção fica mais aguçada. A questão é que a resolução de problemas, que todos os trabalhos apresentam e que seriam facilmente resolvidos na cidade em que vivemos, criam outros desafios quando mudamos de contexto e isso pode se transformar em uma verdadeira saga. As situações inesperadas aparecem e nem sempre é possível fazer exatamente o que se pensou. Em Berlim, por exemplo, resolvi fazer um trabalho em que eu utilizaria tabuleiros de alumínio, acontece que lá não existe tabuleiro de alumínio. Conversando com uma amiga, tentando resolver essa situação, ela me sugeriu que fossemos para a Polônia, que obviamente era um país economicamente menos industrializado que a Alemanha e com certeza, assim como no Brasil, lá eu encontraria esses tabuleiros. A partir daí, uma aventura se desenrolou, fomos parar na Polônia com um carro emprestado, encontramos tabuleiros de alumínio e muita história aconteceu nesse trajeto. Essa foi uma experiência específica, muito marcante e hoje posso dizer que foi divertida, mas o que quero dizer é que o artista lida o tempo todo com essas situações inesperadas e as residências artísticas potencializam isso, obrigando o artista e resolver problemas, é um ganho enorme para a prática, principalmente de quem está começando.

Existe uma nítida relação com as temporalidades e suas distensões em muitos de seus trabalhos. Como essa questão vem se colocando em sua prática artística? Penso muito sobre a velocidade do mundo hoje e as relações interpessoais, afetivas, de trabalho, incluindo os trabalhos artísticos, não estão livres desse processo de aceleração. Isso me faz desejar a desaceleração, a demora reflexiva frente a alguma coisa. A tentativa de instigar as percepções menos óbvias das pessoas. Por isso continuo fazendo interferências em lugares e objetos que, muitas vezes, podem não ser percebidos em um primeiro contato. Além de tentar subtrair as informações dos lugares, no sentido de retirada. Procuro um determinado esvaziamento para que o outro possa preencher aquele espaço a partir de sua própria percepção.

Quais são seus próximos projetos? É engraçada essa pergunta por que parece que eu não tenho próximos projetos. Tenho muitos acontecendo o tempo todo na minha cabeça além das anotações que faço e fico esperando a situação certa para serem realizados e mostrados. Meus interesses, nesse momento, estão muito focados na desaceleração, na subtração. Quero a incorporação do entorno e das situações inesperadas, que possibilitem a ativação das subjetividades dos espectadores.


O Memorial Minas Gerais Vale, mais do que um espaço dedicado as tradições, origens e construções da cultura mineira é um lugar de trânsito, tensionamento e cruzamento entre a potência destas manifestações fundantes e as pulsações mais contemporâneas e atuais da arte e da cultura. Longe de dar visibilidade apenas a um recorte histórico, o Memorial coloca em contato direto presente e passado promovendo, com esse gesto, outras formas de aproximação do público com as questões que atravessam nosso tempo. Toda essa dinâmica visa gerar processos de fruição – sejam eles vindos da história ou das produções contemporâneas – mais intensos, renovadores e criativos estabelecendo novas modos de pensar identidade e memória. Na série de mostras que compõem o Programa de Exposições 2013-2014 do Memorial Minas Gerais Vale, vamos trazer ao público um panorama complexo e instigante da produção de seis jovens artistas e coletivos mineiros. A ideia central do programa é dar visibilidade à diversidade de discursos e estratégias da arte contemporânea produzida por aqui garantindo aos jovens artistas boas condições de exposição e acesso. O gesto, mais uma vez, é aproximar passado e presente como forma de nos inserirmos no mundo e revelarmos assim nossas singularidades diante dele.

www.memorialvale.com.br

FICHA TÉCNICA Realização: MEMORIAL MINAS GERAIS VALE / Gestor: Wagner Tameirão Montagem: Guilherme Machado Design Gráfico: Voltz Design Assessoria de Imprensa: Pessoa Comunicação Produção: Mercado Moderno Seleção das exposições: Eduardo de Jesus, Francisca Caporalli, Júlia Rebouças, Wagner Tameirão Coordenação geral e textos: Eduardo de Jesus

Iniciativa:


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