EspEcial capital
A ESCOLHA A Pixeon desenvolve software de gestão de imagens para clínicas e hospitais. As imagens dos exames dos pacientes são colocadas numa rede à qual médicos de diversas especialidades têm acesso, o que torna tudo mais simples e mais ágil. Além disso, permite diminuir custos com gravações em papel ou CD e com a organização de diversos arquivos. Considerando a demanda do mercado, o crescimento da Pixeon era muito tímido. Buscamos investidores para ganhar folêgo financeiro e dobrar a equipe que prospecta novos clientes. Conversamos com gestores de vários fundos. Em dezembro de 2011, fechamos com o Intel Capital. Na escolha, pesou o fato de a Intel ser uma fornecedora de tecnologia respeitada no setor de saúde, o que pode nos abrir muitas portas.
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As dúvidas mais frequentes que os empreendedores têm quando procuram ou são procurados para receber investimentos de terceiros em suas empresas Bruno vieira feijó
A
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ilustrações Will knack
s oportunidAdes pArA donos de pe quenAs e médiAs empresAs consegui-
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rem bons investimentos estão lançadas. Cerca de 3 bilhões de reais é quanto os capitalistas de risco têm reservados para colocar em empresas brasileiras emergentes — seis vezes mais do que há cinco anos, segundo uma estimativa do Instituto Inovação, órgão de fomento ao empreendedorismo. Qual é o perfl dos negócios que mais atraem esse tipo de investidor? O que diferencia um fundo de investimento de outro? De que forma os investidores calculam o valor de uma empresa que nem sequer começou a gerar receitas? Para
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estar preparado para as negociações, o empreendedor precisa antes entender o impacto que a entrada de capital que vem de fora pode causar no dia a dia de sua empresa. Exame PME ouviu empreendedores que buscaram aportes recentemente e gestores de fundos que investem em negócios promissores. Veja, nas próximas páginas, quais são as respostas para dúvidas que costumam surgir nessa hora — e o que os donos do dinheiro consideram importante ao investir num pequeno ou médio negócio.
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EspEcial capital Como o empreendedor pode saber se ele e sua empresa têm o perfil necessário para receber capital de risco? Pequenas e médias empresas que atuam em setores com forte potencial de expansão têm meio caminho andado para conseguir a atenção de investidores. “Hoje, os mercados que mais atraem investimentos são os de saúde, turismo, sustentabilidade, energia, petróleo e gás, imobiliário, educação a distância, jogos online, marketing interativo, aplicativos para celular e comércio eletrônico”, diz Edson Rigonatti, sócio da paulista Astella, gestora de
contratar as pessoas certas. Deve cumprir ainda uma rotina de prestação de contas, escrever relatórios e ser sabatinado em reuniões periódicas. Precisa também conviver com a ideia de que, dentro de alguns anos, parte do negócio ou até a empresa inteira pode ser vendida para uma companhia ou fundo maior. “Quem se sente desconfortável em ter de lidar com alguma dessas situações deve esquecer o capital de risco”, diz Rigonatti.
Quando é um bom momento para buscar aporte? Muitos empreendedores podem pensar que o momento para procurar um investidor é quando há necessidade de capital para equilibrar o fuxo de caixa. Mas a lógica dos investidores diz exatamente o contrário. “A extrema necessidade deixa o empreendedor em desvantagem na negociação”, diz Yuri Gitahy, da Aceleradora, consultoria que ajuda empreendedores a lançar seus negócios. “Quanto melhor for a saúde da empresa, maior tende a ser seu valor.” Um bom mo-
pode ser o caso de buscar investimento antes mesmo de entrar dinheiro em caixa. “Um aporte pode ajudar a sair na frente da concorrência e conquistar uma fatia importante de mercado”, diz Gitahy.
Quais os principais aspectos que diferenciam um fundo de investimento de outro? Entre as muitas diferenças entre os fundos, as características mais importantes são estilo de gestão, tamanho e momento do aporte e setor de atuação. Entenda-as. • Estilo dE gEstão “Alguns fundos participam ativamente do dia a dia, e seus gestores acompanham tudo de perto”, diz Clóvis Meurer, presidente da ABVCAP, associação que reúne os fundos de capital de risco no Brasil. “Outros guardam certa distância, e os gestores se preocupam mais com o resultado em si.” A situação em que os executivos do fundo interferem pode ser vantajosa quando seus gestores trazem conhecimento sobre o mercado e uma boa rede de contatos.
o VAloR Trabalhei alguns anos no mercado financeiro. Uma de minhas funções era calcular o valor de empresas com base em histórico de faturamento e perspectivas de novos negócios, entre outros critérios. Mesmo assim, quando eu e meu sócio decidimos procurar investidores para o GetNinjas — um serviço online que criamos em setembro de 2011 para facilitar a procura e a contratação de profissionais autônomos —, tive imensa dificuldade para determinar o valor de um negócio iniciante como o meu, que nem sequer gerava receitas ainda. Passei horas e horas fazendo contas. É uma tarefa maçante, mas necessária para negociar bem. No ano passado, o GetNinjas recebeu aporte de dois fundos — o brasileiro Monashees Capital e o Kaszek Ventures, da Argentina.
EduARdo l’HotElliER
fundos de investimento em pequenas e médias empresas. Mas não é só o mercado de atuação que é considerado pelos donos do dinheiro. Eles também observam, com o mesmo grau de importância, a personalidade do empreendedor — basicamente, se ele demonstra ter capacidade para levar a empresa à expansão. Além disso, o empreendedor precisa estar preparado para trabalhar sob pressão de outras pessoas interferindo em diversos aspectos da gestão. Ele pode ouvir dos investidores, por exemplo, que não é a pessoa mais adequada para controlar as fnanças da empresa ou que não tem habilidade para
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mento para buscar investimento de fora é quando a empresa está fnanceiramente saudável e planeja dar um grande salto para a próxima etapa de expansão num curto espaço de tempo — por exemplo, atingir sua primeira centena de grandes clientes, levar a operação para outros países ou investir em uma nova área de atuação. Em situações como essas, mesmo grandes empresas nem sempre conseguem cumprir seus objetivos apenas com recursos próprios. Negócios iniciantes podem exigir que a operação comece num prazo curto para que não se perca determinada oportunidade. Nessas situações,
• O APORTE O primeiro estágio de inves-
timento geralmente é responsabilidade dos investidores-anjo, que chamados dessa maneira por proteger empreendedores nas primeiras fases de um negócio e por ajudálos a tirar as ideias do papel. O investimento costuma variar de 100 000 a 1 milhão de reais. Os fundos de venture capital são indicados para o estágio seguinte, quando a empresa já está em operação. Eles podem ser divididos em três tipos: 1. Fundos que investem nos primeiros anos de crescimento do negócio e que fazem aportes de até 5 milhões de reais.
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negócios já se provou consistente e que aportam até 10 milhões de reais. 3. Fundos que se especializam em empresas que já se consolidaram no mercado e faturam mais de 30 milhões de reais por ano. • ESPECIALIZAÇÃO Vários fundos só colocam dinheiro em empresas de determinado setor em que seus gestores acumularam experiência ou têm alguma afnidade. É o caso, por exemplo, do fundo paulista Criatec, que investe em empresas emergentes no setor de tecnologia e no de biotecnologia.
Como abordar os investidores? São várias as formas de aproximação. Eis as principais: • INDICAÇÕES Os investidores consideram bastante as indicações pessoais que recebem — especialmente de empreendedores cujas empresas já receberam investimentos de seus clientes e fornecedores. • EVENTOS Há eventos organizados para aproximar empresas e investidores — vários são destinados a empreendedores de primeira viagem. Mais informais, há os chamados meetups. São encontros que mais parecem uma happy hour em que dois ou três empreendedores apresentam seus projetos em 20 minutos a outros empreendedores e
investidores. Para empresas já consolidadas, entidades como a ABVCAP costumam promover eventos setoriais. Num dos últimos, ocorrido em junho, o assunto foram as oportunidades no mercado de petróleo e gás. • WORKSHOPS São organizados por aceleradoras como a Startup Farm e a 21212. Num deles, a Startup Farm, cerca de 50 empreendedores de aproximadamente 20 empresas são selecionados para um programa intensivo de um mês. Nesse período, recebem conselhos de outros empreendedores, indicações para parcerias estratégicas e fazem discussões sobre seus modelos de negócios. • INTERMEDIAÇÃO Para empresas que faturam acima de 20 milhões de reais por ano, uma alternativa que pode ser interessante é contratar um intermediador, conhecido como advisor. Trata-se de um especialista — normalmente advogado, auditor ou ex-executivo — que prepara a documentação da empresa e apresenta-a para gestores de fundos que possam se interessar pelo negócio. “Se a transação for concluída com sucesso, o empreendedor arca com o pagamento de uma comissão de cerca de 6% do valor total negociado”, diz Juliano Graf, da empresa paulista de investimentos Master Minds.
Quais as principais fases de uma negociação e quanto tempo elas demoram? 1. É assinado um termo em que o investidor se compromete a não divulgar informações confdenciais da empresa. A partir daí, os investidores começam uma análise preliminar do potencial do negócio. Segundo os gestores dos fundos entrevistados por Exame PME, ela é feita por meio de informações fornecidas pela empresa, estimativas de mercado dadas por consultorias, entrevistas com clientes e concorrentes e visitas à empresa.
“Eventualmente, o empreendedor é convidado a fazer uma apresentação do negócio ao comitê de investimentos do fundo”, diz Meurer, da ABVCAP. 2. É redigido o term-sheet, uma carta de intenções em que os investidores fazem ofcialmente uma oferta. Normalmente é estipulado um prazo para que ambos os lados cheguem a um consenso quanto aos valores envolvidos na operação. 3. Se houver acordo, acontece o due-diligence (“pente-fno”, em bom português), uma auditoria legal, contábil e fscal na empresa. Essa etapa costuma durar uns dois meses. 4. Na última fase, começam as conversas para a assinatura de três documentos defnitivos: o acordo de subscrição (em que fcam registradas as participações acionárias de cada um), o acordo de acionistas (que defne direitos e deveres de ambas as partes) e um novo estatuto social (que estabelece as novas regras de funcionamento da empresa). “Em média, as negociações com um investidor duram de cinco a sete meses”, diz Meurer.
De que modo os investidores calculam quanto vale uma empresa? Uma característica dos pequenos e médios negócios atraentes é seu potencial para crescer. É por isso que os investidores costumam calcular o valor das empresas emergentes com base em projeções de receitas e lucros que ainda vão acontecer. O método usado mais frequentemente é o que calcula o fuxo de caixa da empresa no futuro. Normalmente, consideram-se projeções sobre o caixa da empresa depois de cinco anos — desse valor, desconta-se um percentual, que é o custo necessário para trazer ao presente valores que só seriam obtidos anos à frente. É por isso que tudo o que ajuda a empresa a proje-
A NEGOCIAÇÃO Tive a ideia de criar a Fisgo quando era funcionário do comparador de preços online Bondfaro. Na época, eu achava que faltava um buscador para quem procura imóveis, carros e motos para comprar. Em agosto de 2010, o serviço entrou no ar, juntando classificados virtuais de vários portais. No ano seguinte, fui atrás de investidores para acelerar a operação. Entrei em contato com vários deles pela rede social LinkedIn e alguns se interessaram pelo negócio. A tensão surgiu quando o fundo mineiro Confrapar exigiu exclusividade na negociação — dali para a frente, teríamos de interromper as conversas com os demais. E se não desse certo? Nada estava fechado ainda. Passamos na avaliação e recebemos um aporte de 2,5 milhões de reais.
FREDERICO ALVES
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Que cláusulas contratuais merecem mais atenção? “De modo geral, o empreendedor deve dedicar atenção redobrada principalmente às regras que regem cenários futuros”, diz o advogado Rodrigo Menezes, do escritório paulista Derraik SS, especializado em direito societário. “É o caso, por exemplo, dos procedimentos que serão observados quando eventualmente um dos lados quiser sair do negócio.” Eis as principais cláusulas negociadas nesse tipo de contrato: • Tag-along (algo como “seguir o mesmo preço”). A cláusula de tag-along estipula que, quando um sócio quiser vender sua participação para alguém de fora da empresa, os demais sócios ganham automaticamente o direito de vender, em condições idênticas, suas ações ao mesmo comprador — independentemente de quanto pesam suas partes no capital. “Isso ajuda a proteger o empreendedor quando ele não tem mais o controle acionário e o comprador quer pagar proporcionalmente menos aos que têm poucas ações”, diz Menezes.
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tar o crescimento facilita a avaliação. Contratos de longo prazo com clientes podem valer muito mais do que seu patrimônio, como imóveis, máquinas, equipamentos e veículos. As exceções ocorrem quando o patrimônio está diretamente ligado a resultados. É o caso, por exemplo, dos terrenos pertencentes a uma construtora, que pode usá-los para construir novos empreendimentos, ou da frota de caminhões de uma transportadora. Quando se consideram os resultados futuros, o peso dos bens patrimoniais pode até diminuir. É o que acontece, por exemplo, quando uma empresa poderia aproveitar melhor seus recursos se vendesse os imóveis que possui para investir em novos produtos com potencial de crescimento — mesmo que, para isso, fosse necessário pagar aluguel. Em empresas nascentes, há uma difculdade adicional — a ausência de um histórico de receitas, custos e despesas que ajude a prever a capacidade de geração de caixa. “Nessas situações, a avaliação da empresa depende quase exclusivamente do que foi projetado pelo empreendedor no seu plano de negócios”, diz Rigonatti, da Astella. “Como o risco de que as projeções não se realizem é maior numa empresa muito nova do que em negócios um pouco mais maduros, os investidores costumam descontar ainda uma taxa de risco, diminuindo o valor projetado.”
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• Drag-along
(algo como “arrastar todos juntos”). Essa cláusula determina que, se um sócio (geralmente, o fundo) quiser vender sua parte para alguém de fora do negócio, os demais são obrigados a fazer o mesmo. É uma forma de os fundos garantirem que poderão vender sua participação a um comprador que só se interessar em fazer negócio se comprar a empresa toda. “Convém ao empreendedor negociar limites de prazo e valor para que essa cláusula possa ser acionada”, diz Menezes. “É preciso cuidado para que as regras não o obriguem a vender sua parte em condições muito desfavoráveis.” • preferência De compra Esse tópico do contrato diz que o lado que pretende sair só pode vender sua participação a pessoas de fora da empresa depois que os sócios manifestarem desinteresse em comprá-la nas mesmas condições. O objetivo da preferência de compra é dar aos que permanecem no negócio chance de aumentar sua participação ou de barrar a entrada de um novo investidor que não lhes agrade. • preferência De voto Mesmo quando não detém o controle acionário do negócio, o fundo costuma pedir, em contrato, que o voto de seus gestores tenha maior peso em decisões importantes que são tomadas nas reuniões do conselho de administração, como compra de bens permanentes ou aumento do nível de endividamento da empresa. “A recomendação é que o empreendedor negocie até o limite em que a administração do dia a dia não fque engessada, a ponto de qualquer centavo precisar ser justifcado”, diz Menezes. • non-competition (“sem competição”). Às vezes, o investidor pede que seja acrescentada uma regra que impeça o empreendedor de montar outro negócio que concorra com o atual por um prazo que varia de um a três anos, em média.
por que alguns fundos exigem que a empresa se transforme numa sociedade anônima? A Lei das S.A., que rege as sociedades anônimas, traz mais obrigações do que a legislação convencional em relação ao fornecimento de informações sobre a empresa — algo que os fundos consideram fundamental em negócios constituídos por muitos sócios, em que cada um detém uma forma de participação diferente, mas todos querem estar a par de tudo o que acontece. “A Lei das S.A. obriga a empresa a fazer periodicamente uma série de relatórios, como balanço patrimonial e demonstração fnanceira”, diz Menezes. Uma empresa constituída em S.A. também pode legitimar seu conselho de administração como um órgão ofcial para votar decisões importantes. Nos casos em que essas decisões não forem respeitadas, o fundo ganha poder para contestar a empresa na Justiça. A S.A. também possibilita distribuir participação acionária com direitos diferentes no que se refere ao poder de decisão e distribuição de resultados. antes do aporte, quais aspectos da gestão são mais valorizados pelos investidores? Uma avaliação completa depende muito de qual é o negócio da empresa. Mas pode-se dizer, de modo geral, que há quatro grandes fatores que chamam a atenção de todo investidor. Veja quais são. • receitas futuras “A existência de contratos de longo prazo com clientes costuma servir como prova da capacidade da empresa para gerar receitas recorrentes”, diz Cristiano Boccia, diretor da Grayclif Partners, administradora de fundos de investi-
o momento Em 2011, eu e mais quatro colegas montamos um site que eu adoraria ter usado quando tinha meu próprio consultório médico — uma agenda virtual em que os pacientes pesquisam médicos por especialidade, localização e plano de saúde, e marcam e desmarcam a consulta sem depender de telefonemas. Usamos nossas economias para começar a operação e achávamos que, quanto mais tempo permanecêssemos independentes, maior poderia ser o valor da empresa. Discutimos muito sobre adiar ou não a busca por investidores. Mas, quando soubemos que concorrentes entrariam no ar, buscamos ajuda para expandir o serviço para várias cidades ao mesmo tempo. Em abril deste ano, recebemos aporte do fundo americano Valor Capital Group.
Daniela Bouissou
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EspEcial capital mento em pequenas e médias empresas, ligada ao banco HSBC. Para negócios que normalmente atuam em mercados sazonais, é observado se os empreendedores encontraram alguma forma de obter receita também em épocas de baixa. • Barreiras São os fatores que difcultam a entrada ou a atuação de concorrentes — aspecto que costuma ser importante quando a expansão está diretamente ligada ao desenvolvimento, por parte da empresa, de novas tecnologias. Os fundos verifcam, por exemplo, se todas as patentes estão pelo menos em fase de registro.
conhecimentos distintos, que se completam uns aos outros”, afrma Boccia. “Também costuma ser observado se a personalidade dos sócios é compatível entre si, o que pode ajudar a evitar brigas futuras sobre quem manda em qual área.”
O que os investidores observam na forma como a empresa funciona? Para o investidor, quanto maior for o grau de desorganização das informações e dos processos do negócio, maior é a percepção de risco. “Em pequenas e médias empresas, é comum encontrar controle fnanceiro e processos precários de administração”, diz Felipe Matos, diretor do Instituto Inovação, que faz investimentos e promove campeonatos com empresas iniciantes. “Muitas vezes, esses descuidos causam erros nos registros contábeis e transações não declaradas, o que pode ser interpretado como indício de sonegação”, diz Matos. Além disso, os investidores observam se os processos de como a em-
mam acontecer conforme a empresa alcança as metas. “Pode fcar combinado que o segundo aporte só será feito quando os custos forem reduzidos para determinado patamar e que o seguinte depende de a empresa aumentar o faturamento”, diz Gitahy, da Aceleradora. “Dividir o investimento em rodadas é uma forma de estimular os empreendedores a permanecer no negócio, diminuir o descumprimento de metas e incentivar o bom uso do dinheiro.” O mais comum é que o mesmo investidor participe das rodadas ou pelo menos ajude a organizá-las.
Quais mudanças os investidores costumam fazer na gestão da empresa? Após o aporte, investidores dão início ao chamado “plano de 100 dias” — uma espécie de choque de gestão para rever as estratégias e melhorar o desempenho geral da empresa. “É nesse período que acontece a integração entre os funcionários da empresa e a equipe do investidor”, diz Matos. Novas metas são regis-
a aNÁLise Os gestores do fundo Monashees Capital e o investidor-anjo Luciano Tavares procuraram a mim e a meu sócio querendo saber mais sobre a Conta Azul — uma plataforma online para a área financeira de pequenas e médias empresas que permite controlar o fluxo de caixa e o estoque, a gestão de compras e a emissão de notas fiscais eletrônicas. Não sabíamos muito bem o que os fundos levavam em consideração, mas, pelas entrevistas, percebi que a maior preocupação era com a qualificação dos funcionários. O aporte dos dois veio em janeiro deste ano. Os investidores ensinaram a melhorar os critérios de contratação. Eles explicaram que ajustes no modelo de negócios de uma empresa jovem como a nossa são comuns, o que exige uma equipe capacitada para mudanças.
ViNicius rOVeda
• OrgaNizaçãO
Um estudo conduzido recentemente pelo Centro de Estudos de Private Equity e Venture Capital (GVcepe), da Fundação Getulio Vargas, apontou que os gestores de fundos têm uma disposição de pagar, em média, 17% a mais por uma empresa que já tenha uma boa governança. Isso signifca ter um acordo de acionistas, balanços auditados e um conselho de administração atuante, que cubra a prestação de contas entre os sócios e que ajude nas orientações para traçar novas estratégias. • sóciOs “Quando há mais de um fundador, o investidor verifca se os sócios têm
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presa funciona no dia a dia (quem se reporta a quem, o que fazer caso ocorra isso ou aquilo, como desempenhar esta ou aquela tarefa) não são documentados, fca difícil replicar esse conhecimento — o que pode ser um indício de que a empresa não funciona direito sem a presença dos donos.
como são feitos os aportes de capital depois que a negociação é fechada? Muitas vezes, o fundo não coloca todo o dinheiro de uma vez. As novas rodadas costu-
tradas num documento que elenca os responsáveis por elas e o prazo esperado para cada uma. Novos produtos e alianças comerciais também podem ser sugeridos pelos investidores. “Funcionários que não se adaptarem ou não entregarem resultados geralmente acabam sendo substituídos”, diz Matos. “Os primeiros alvos costumam ser os departamentos fnanceiro e comercial.” É hora também de estruturar ou melhorar o conselho de administração. Formado por pessoas que representam os investidores, fundadores e funcionários, o conselho se reúne formalmente para rever estratégias.
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A lógicA dE QuEm iNVESTE
Um estudo recente sobre o capital de risco no Brasil revelou como agem os investidores antes, durante e após as negociações para aporte de capital. Conheça as preferências de quem coloca dinheiro numa empresa(1)
A procura por novos negócios Como os investidores descobrem as empresas
37%
14%
5,5%
5%
4,5 %
Competições, fóruns e institutos empresariais
Concorrentes, fornecedores e clientes da empresa
Visitas a incubadoras e parques tecnológicos
Notícias publicadas em jornais e revistas
Rede de contatos dos próprios investidores
colocando as cartas na mesa
Fatores apontados como decisivos para fechar a negociação...
23% Facilidade na negociação de cláusulas dos contratos
21% Regras para o investidor poder sair do negócio
21% Monitoramento dos aspectos de gestão da empresa
18% Plano de negócios que esteja bem estruturado
16% Regras para o investidor poder entrar no negócio
...e o que pode inviabilizar o investimento
21% Existência de passivos fiscais e de processos judiciais
16% Mudanças que alteram o diagnóstico do mercado(2)
11% Veto da operação por gestores do fundo
10% Impacto no valor por causa de ajustes na contabilidade
7% Crises ou mudanças no cenário econômico
Onde eles querem intervir
Os principais aspectos que necessitam do aval do conselho de administração da empresa após o aporte de um fundo
97%
92%
72%
69%
58%
Aquisições de empresas e fusões
Aprovação do orçamento anual
Pagamento de dividendos aos acionistas
Nível de endividamento do negócio
Contratação de pessoas estratégicas
1. Respostas múltiplas 2. Preço, custo de itens relevantes e movimento da concorrência Fonte 2o Censo Brasileiro da Indústria de Private Equity e Venture Capital, feito pela GVcepe. Entrevistas com 144 gestores de fundos de investimento em empresas
Quanto tempo um investidor costuma permanecer no negócio e como é sua saída? Mais cedo ou mais tarde, chega o momento em que o sócio capitalista precisa passar adiante sua participação na empresa que ajudou a criar ou fazer crescer a fm de ob ter o retorno do investimento. “A associa ção com o investidor é um casamento com data para acabar”, diz Graf, da Master Minds. “O objetivo de quem investe é colo car dinheiro, apoiar o empreendedor para acelerar a expansão da empresa e, se tudo der certo, vender a parte dele por um valor muito maior que o investido.” A previsão de saída é combinada com o empreendedor e registrada em contrato antes mesmo do primeiro aporte. A saída do investidor, cha mada de desinvestimento, geralmente acon tece quando a empresa recebe uma propos ta para ser adquirida por outro fundo ou por uma grande empresa. Uma possibili dade menos comum no Brasil, mas possí vel, é o negócio crescer de tal maneira que passa a ser interessante abrir o capital na bolsa de valores. Num estudo recente do GVcepe com gestores de fundos, foi identi fcado que a maioria dos desinvestimentos ocorre num prazo entre seis e dez anos de pois da entrada do fundo. E se o investidor quiser deixar a operação antes do combinado? Assim como num casamento, o divórcio é uma possibilidade real em qualquer união entre o dono de um pequeno ou médio ne gócio e um capitalista de risco. Isso pode acontecer, por exemplo, quando o mercado ou a estratégia do fundo mudam. Se alguma empresa se torna um problema ou se mos tra menos promissora do que parecia na época em que despertou interesse, a decisão do fundo também pode ser sair de campo antes do prazo combinado. Aí, são aciona das as mesmas regras de qualquer desinves timento. “Essas situações não são tão inco muns quanto pode parecer”, diz Boccia, da Grayclif Partners. Geralmente, há um acor do para que o empreendedor compre de volta a parte do fundo — muitas vezes, pa gando um preço abaixo do que seria o nor mal. Não é, necessariamente, um atestado de que a empresa é ruim. “Em vários casos, ela pode não ser adequada àquele investidor capitalista, mas continua a ser um bom ne gócio para seus donos”, diz Boccia.
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