O lixo que vira lucro

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Robson: microempresário viu que resíduos metálicos poderiam se transformar em bons negócios, além de contribuir para o meio ambiente

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MEIO-AMBIENTE

O lixo que vira lucro

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Investir na sustentabilidade ambiental traz vantagens não só para a sociedade e o meio ambiente, mas também retorno econômico para as próprias empresas Que destino dar a entulhos, serragens e materiais recicláveis provenientes de embalagens como papel, plástico e vidros gerados pelas empresas? No Vale do Aço, empresários têm se preocupado em investir na sustentabilidade ambiental, transformando resíduos em bons negócios. A Dhamq Engenharia, instalada em Ipatinga, gera 20 toneladas de resíduos por mês e através da gestão consciente tem reduzido seus custos, é o que garante o gerente de produção, Tales de Castro Nunes. “Como trabalhamos com demolições e revestimentos industriais, geramos grande quantidade de ferragens, entulhos e fios de cobre que de alguma forma nos dá retorno seja por meio da venda, troca ou reciclagem”, destacou. Praticamente toda atividade humana gera resíduos que causam impactos e descontrole ambiental. Seja na indústria, construção civil, panificação ou indústria do vestuário, a ideia sobre o que fazer com esses resíduos se resume em reduzir sua quantidade, seja por meio da reutilização ou por meio da reciclagem. De acordo com dados disponibilizados pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (FEAM), através do Inventário de Resíduos Sólidos Industriais de 2008, na Superinten-

dência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SUPRAM) Leste de Minas, que engloba 135 municípios, aproximadamente 100 milhões de toneladas de resíduos são geradas por ano pelas empresas da região. Cláudia Stancioli, analista ambiental da Fiemg e responsável pelo Programa Mineiro de Simbiose Industrial (PMSI), esclarece que os resíduos são considerados fonte de negócios, pois geram empregos, aumentam as vendas e investimentos interno, além de reduzir gastos, uso de recursos naturais, emissão de CO2 e aterros. “O que não tem utilidade na minha organização poderá servir de matéria-prima para outras empresas”, explicou. Para o presidente da Fiemg Regional Vale do Aço, Luciano Araujo, a simbiose é a oportunidade de negócios antes não pensadas através dos resíduos. “O Vale do Aço é uma região volNa Superintendência Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SUPRAM) Leste de Minas, que engloba 135 municípios, aproximadamente 100 milhões de toneladas de resíduos são geradas por ano pelas empresas da região

tada para o setor siderúrgico e está em constante expansão, para garantir a qualidade de vida e o desenvolvimento é preciso que as empresas pratiquem a sustentabilidade como diferencial competitivo”, afirmou. Proprietário da recicladora Sucatas Gerais, Robson Madeira garante que o que é considerado lixo para muitos é fonte de renda para tantos outros. “Nossas sucatas são fonte de sustento para 10 famílias”, referindo aos 10 funcionários da empresa. De acordo com ele, dentre as sucatas comercializadas o aço inoxidável assume a liderança, com 200 toneladas por mês. “Além da parceria com empresas de pequeno e médio porte da região como Viga, Lider e Emalto, compramos o aço que não tem mais utilidade para a Vale, Cenibra e Usiminas, processamos e revendemos para a ArcelorMittal, em parceria com a Sianfer, empresa que atua no comércio de aço, metais e sucatas”, declarou. Para Robson, apesar de o mercado trabalhar atrelado a bolsa de valores, nos últimos meses houve uma melhora na venda do ferro, cobre e níquel. Segundo ele falta incentivo fiscal do governo. “A gestão dos resíduos está diretamente ligada ao meio ambiente, portanto, é de interesse do governo, nada mais justo que ter reconhecimento e apoio”.

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meio ambiente

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Luciano Araújo: Fiemg Regional Vale do Aço promoveu encontro entre fornecedores e compradores de “sucatas”

Exemplo Na Usiminas, a preocupação com ações ambientais é histórica. Desde 1970, a empresa tem feito consideráveis esforços para o desenvolvimento de tecnologias para o reaproveitamento e a reciclagem de resíduos ou como é chamado na empresa, co produtos, gerados nos seus processos produtivos. De acordo com o gerente de vendas especiais, Luiz Antonio Bernardino, tudo é de alguma forma reaproveitado dentro da empresa. “Agregamos valor ao co produto que servirá de matéria-prima no aproveitamento interno, externo ou reciclagem”, enfatizou. Atualmente mais de 40 empresas no Vale do Aço trabalham na comercialização e reciclagem de resí-

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duos em parceria com a Usiminas. Entre elas, pequenas metalúrgicas, empresas de fertilizantes, de reciclagem de madeira, cimenteiras, olarias e cerâmicas. A Sankyu é uma dessas empresas, situada na área da Usiminas, ela realiza a coleta e encaminha seus resíduos para o pátio de triagem da Usiminas que administra e dá o destino final aos resíduos que vai desde copos descartáveis a sucatas metálicas. “É importante as empresas gerenciarem seus resíduos para terem controle do que pode ser reaproveitado de forma que não degrade o meio ambiente”, afirmou Natália Bretas, técnica em meio ambiente da Sankyu. Parceira da Usiminas, a Convaço Construtora também destina seus resíduos à empresa. Erailton da Sil-

va, gerente regional, acredita que a construtora seja uma das maiores destinadoras de refratários para a Usiminas. “Não temos como reaproveitar o produto por ser material siderúrgico, então encaminhamos para a Usiminas que agrega valor ao resíduo e comercializa ou reaproveita”, ressaltou. Não é por acaso que a Usiminas gera por ano aproximadamente três milhões e meio de toneladas de co produtos, sendo que 96% desses resíduos são reaproveitados pela própria empresa. “As lamas de aciaria e de alto forno são exemplos de resíduos que são recicladas internamente na fabricação do aço ou comercializados para as indústrias de cerâmica da região para fabricação do produto final”, finalizou Bernardino.


panorama

O sonho virou realidade Há dois anos indústrias metalmecânicas iniciaram a prospecção de mercado. Hoje são fornecedoras da cadeia de petróleo e gás A distância de cerca de 500 quilômetros do litoral e dos campos de pré-sal mais próximos não estão impedindo que as pequenas e médias indústrias do Vale do Aço, no Leste Mineiro, consigam, aos poucos, participar do filão de 174 bilhões de dólares investidos pela Petrobras até 2013. Pequenas e médias empresas metalmecânicas regionais conseguiram, através da indústria naval, abrir as portas de um grande mercado. Em sua estreia, a Negócios Industriais que circulou em junho (leia a edição on line em http://bit. ly/cgdaeU) abordou como as indústrias associadas aos Sindimiva conseguiram vender blocos de navios, portas e dutos para estaleiros. A Câmara da Indústria do Petróleo e Gás da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) estima o faturamento mineiro com o setor de petróleo e gás saia de 770 milhões para 2 bilhões de dólares em 2011. Em junho de 2009, o I Seminário de Petróleo, Gás e Energias Renováveis, realizado pelo Sindimiva, Sistema Fiemg e Faculdade Pitágoras, com o apoio da Letra de Forma Comunicação Empresarial (empresa que edita a Revista Negócios Industriais) e diversos parceiros, no Centro Cultural Usi-

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minas, reuniu mais de 700 pessoas e apresentou as possibilidades de negócios. “A longa experiência adquirida para atender os setores mais fortes da economia mineira (siderurgia e mineração) credencia o Pólo Metalmecânico do Vale do Aço a se inserir nesta importante cadeia da economia brasileira”, disse, à época, o presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Vale do Aço, Jeferson Bachour Coelho. Para auxiliar os potenciais fornecedores mineiros, o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) estruturou o Núcleo de Inteligência Competitiva da Cadeia de Petróleo e Gás (NIC) para aumentar a presença das empresas mineiras na cadeia de petróleo e gás. Também através de uma parceria com o IEL, Refinaria Gabriel Passos e Sebrae Minas, empresas da região participam da RedePetro, um projeto que busca aumentar em 20% o número de pequenas empresas fornecedoras da Refinaria de Betim até 2011. Os resultados das ações de prospecção de mercados foram apresentados no II Seminário de Petróleo, Gás e Energias Renováveis, realizado pelo Sindimiva, Sistema Fiemg e Usiminas, com o apoio da Revista Negócios Industriais, e

Jeferson Bachour, do SINDIMIVA: experiência nos setores de mineração e siderurgia contribuiram para inserção do Pólo Metalmecânico na cadeia de petróleo e naval

parceiros. O evento promovido no dia 10 de agosto, no Centro Cultural Usiminas, apresentou os cases da Viga Caldeiraria e da Arcon Engenharia de Refrigeração, antecipados pela revista em sua primeira edição. Grandes indústrias regionais, como Usiminas e ArcelorMittal


Sérgio Roberto/Agência Cobertura

Inox Brasil, também apresentaram ao público as tecnologias que estão desenvolvendo para ampliar a participação neste mercado. A siderúrgica de Ipatinga, por exemplo, “importou” uma tecnologia da Nippon Steel para oferecer aos seus clientes um aço mais resistente e ao mesmo tempo de melhor ma-

nuseio. (Leia sobre as tecnologias CLC e o Aço Inox para Offshore a partir da página 42). Os desafios da qualificação profissional, financiamentos e normatização de produtos são grandes, mas aquilo que era um sonho, quase um devaneio de criança, já virou realidade.

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