Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
ISSN: in process
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
ISSN: in attribution process
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN Revista Ibérica de Neurociências
Diretor-in-Chief Luis Alberto Coelho Rebelo Maia
Associated Editores Hélder Lopes Rodrigues Humberto Mendes Faria Rodrigues
Propriedade Editora Éditos Prometaicos
GNPF
Gabinete de Neuropsicologia, Psicopedagogia e Formação Profissional Avenida da ANIL nº 7, 1º piso, Escritórios 8; 6200-502 Covilhã Telefones: (+351) 275 088 893, (+351) 91486 81 82; Fax: (+351) 275 088 894
Email: luismaia.gabinete@gmail.com; Blog: http://gabinetedeneuropsicologialuismaia.blogspot.com/
Edição Éditos Prometaicos
ISSN In attribution process
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
ISSN: in attribution process
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Author Guidelines
The
Iberian
Forensic
Papers will be valued by the Editorial Board and referees
Neuroscience publish papers on a broad range of topics
in terms of scientific value, readability, and importance
of
to a wide-ranging circulation.
general
Journal
interest
of
to
Clinical
those
and
working
on
the
neuroscientific field. Papers should be submitted following APA norms (APA The
Journal
of
Clinical
and
Forensic
Publication
Manual published
by
the
American
Neuroscience publishes theory-driven patient studies,
Psychological Association), and preferentially presented
studies about forensic field applied to neuroscience as
in written English language. Abstracts should be available
well as basic studies in the large neuroscience area.
in English, Portuguese and Spanish idiom as well as key words.
The journal publishes group and case studies addressing fundamental issues concerning the brain functional
The Journal operates in a policy of anonymous peer
relations with behavior, epidemiology, basic science, etc.
review.
The journal is dedicated to a fast and proficient turn-
Each submission should follow the procedure of sending
around of papers, targeting to complete reviewing in
by email two documents: a) a Title page with all
under 60 days. Submissions should be made in a word
information about authors’ affiliations and indications of
format document (editable) to
the correspondent author; b) a second document, containing
the
entire
article,
WIHTOUT
ANY
IDENTIFICATION of the authors, to assure the blind luismaia.gabinete@gmail.com
review process.
(Luis Maia, Editor in Chief), or iberianjournalneuroscience@gmail.com.
After the effective publication of articles, authors assume that the copyright are totally trespassed to Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience editors.
We invite you to discuss, exchange ideas and have free access to the journal also in facebook page https://www.facebook.com/iberianjournalofclinicalandforensicneuroscience?fref=ts
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Orientações para autores
O
Iberian
Journal
of
Clinical
and
Forensic
Neuroscience publica trabalhos acerca de uma ampla gama de tópicos de interesse geral para aqueles que
Os artigos serão avaliados pelo Conselho Editorial e por “revisores cegos”, em termos do valor científico, legibilidade e importância para uma ampla circulação.
trabalham no vasto campo das neurociências. Os artigos devem ser submetidos de acordo com as O Journal of Clinical and Forensic Neuroscience publica estudos teórico e / ou práticos orientado para pacientes, estudos
sobre
o
campo
forense
aplicado
às
neurociências, bem como estudos básicos na vasta área
normas APA (APA Publication Manual, publicado pela American
Psychological
Association),
e,
preferencialmente, apresentado no idioma Inglês escrito. Os resumos devem estar disponíveis nos idiomas Inglês, Português e Espanhol, bem como as palavras-chave.
das neurociência.
O Jornal publica ainda estudos de casos e de grupos, abordando também questões fundamentais relativas às
O Jornal segue uma política de revisão por pares anónimos
relações funcionais do cérebro com o comportamento,
.
epidemiologia, ciência básica, etc.
Cada submissão deve seguir o procedimento de envio pode dois documentos de e-mail: a) uma página de
O jornal é dedicado a uma rápida e proficiente edição de artigos, ponderando-se uma revisão completa em menos de 60 dias. As submissões devem ser feitas enviando um ficheiro em formato word (editável) para
título, com todas as informações sobre afiliações dos autores e indicações do autor correspondente; b) um segundo documento, contendo o artigo inteiro, SEM QUALQUER
IDENTIFICAÇÃO
DOS
AUTORES,
para
assegurar o processo de revisão cega
luismaia.gabinete@gmail.com Após a efetiva publicação dos artigos, os autores (Luis Maia, Editor in Chief), ou
assumem que os direitos autorais são totalmente
iberianjournalneuroscience@gmail.com.
cedidos à Editora do Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience.
Convidamo-los a debater, trocar ideias e aceder gratuitamente à Revista também na página de facebook https://www.facebook.com/iberianjournalofclinicalandforensicneuroscience?fref=ts
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Índice Editorial - Uma nova era nas Neurociências em Portugal Luis Maia
1
Artigo Especial de Opinião - Neurociências, cérebro e xadrez José Manuel Paulino
3
Original Article - Enviesamento Atencional no Abuso de Substâncias: O Papel da Carga Cognitiva. Humberto Rodrigues, Sandra C. Soares, Paulo Rodrigues, Aldina Martins e Luis Maia
14
Original Article - Estudo de Caso Controlo: 68 sujeitos Emparelhados, Reclusos a cumprir Pena por ter cometido Crime Passional Comparados com Sujeitos Normativos Celina Ribeiro e Luis Maia
39
Caso Clínico - O Síndrome Wernicke-Korsakoff sobre o prisma da neuropsicologia Mónica Sousa
57
Caso Clínico - A “Aceitação da Diferença” pós-AVC, pela Psicologia Cognitiva Narrativa Hélder Lopes e Luis Maia
66
Estudos de Casos Clínicos - Alterações neuropatológicas entre indivíduos com Doença de Alzheimer e Portadores de Trissomia 21 Maria João e Luis Maia
74
A Saúde mental nos cuidadores dos doentes de Alzheimer Daniel Martins e Luis Maia
87
Clinical Case – Neuropsychology applied to psychiatry Obsessive Compulsive Disorder, Schizoaffective Disorder, or nothing at all? A 19 year old patient with an awkward diagnosis Luis Maia
95
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
ISSN: in attribution process
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Editorial Uma nova era nas Neurociências em Portugal Luis Maia Auxiliar Professor - Beira Interior University; Clinical Neuropsychologist, PhD (USAL - Spain); Neuroscientist, MsC (Medicine School of Lisbon - Portugal) Medico Legal Perit (Medicine Institute Abel Salazar - Oporto, Portugal); Graduation in Clinical Neuropsychology (USAL - Spain); Graduation in Investigative Proficiency on Psychobiology (USAL - Spain); Clinical Psychologist (Minho University - Portugal); Professional Card from Psychologyst Portuguese norm, number 102.
_________________________________________________________________________________
Com o lançamento de um novo periódico que se pretende científico e acessível a todos os leitores (cientistas ou não) temos consciência que a empreitada a que nos propomos é de grande imponência.
Portugal (em particular), e na Península Ibérica, bem ainda como no mundo inteiro, não existam muitos para
referirmos
que
as
iniciativas
mas ao mesmo tempo tão pequenos, como aquilo que o nosso olhar consegue alcançar: a infinidade! O Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience
Fazemo-lo, pois que não é compreensível que em
motivos
amigos… mais ainda…. Somos tão humildes e pequenos,
de
Portugueses ao nível de projetos de investigação e subsequente divulgação possam sobejar.
será publicado online, bimensalmente, estando em processo de atribuição o respetivo ISSN. A pesquisa do sítio
da
Revista
na
Internet
http://luismaiagabinete.wix.com/iberianneuroscience, permitirá aos colegas compreenderem as nossas linhas de orientação editorial. Procurar-se-á alcançar o máximo de público possível e por isso procuraremos que, com o
Muito menos podemos referi-lo se mencionar-mos a iniciativa privada de um grupo de colegas do sector público e privado sem representação e sustentação de uma instituição pública (como uma Universidade,
tempo, se desenvolva a cultura da publicação dos artigos em língua inglesa, podendo optar ainda por uma edição bilíngue, inglês - português, dado a versatilidade que a publicação online permitiria.
Instituto ou uma Fundação). Convidamos assim, qualquer pessoa, mesmo qualquer Com este primeiro exemplar do Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience pretendemos iniciar um novo ciclo.
pessoa, a submeter os seus artigos à nossa publicação para
os
emails
iberianneuroscience@gmail.com
e
luismaia.gabinete@gmail.com. As únicas condições que
Somos um grupo humilde, suportado por uma editora
colocamos e ao mesmo tempo asseguramos é que
ainda mais humilde (Éditos Prometáicos), todavia temos
apenas serão publicados artigos com elevada qualidade
a noção do nosso valor. O pouco que nos queiram
científico – literária, podendo vir de vários quadrantes e
atribuir, e ao mesmo tempo, o muito que consigamos
colaborações (estudantes, autodidatas, investigadores,
trabalhar e demonstrar cativando os nossos colegas e
professores, etc.). Uma coisa vos garantimos, estamos
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
1
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
cansados de “Vacas Sagradas”, e neste palco, como
paciente apenas com aquilo que consegue carregar na
referia Chaplin, todos devem apresentar a sua ária o
própria bata! Assim, também aqui deixamos um desafio,
mais rapidamente possível, antes que, quando se deem
um Neurocientista deve ser capaz de apresentar
conta, as cortinas já se tenham encerrado, o público já
neurociência apenas com aquilo que mais tem de valioso,
tenha abandonado a plateia e os “Detentores do Saber”
a sua mente, e por conseguinte, o seu SNC, o seu
se assustem com a escuridão da sua própria solidão!
encéfalo, ou, se quisermos, em linguagem comum,
Temos uma política de revisão dos artigos duplamente cega e apenas serão publicados aqueles que forem
apenas precisa da sua cabeça! Um beijo e um abraço neurocientífico a todos
aceites por pelo menos dois revisores especialistas na área do artigo. Do colega Terminamos com a alusão a um dos mais conhecidos Neuropsicólogos do Mundo, para muitos, o verdadeiro Pai da Neuropsicologia: Alexander Romanovich Luria – Um neuropsicólogo deve ser capaz de avaliar um
Luis Maia, PhD, Editor-in-Chief, Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience. Covilhã, 24 de Julho de 2013.
Convidamos a debater, trocar ideias e aceder gratuitamente à Revista também na página de facebook https://www.facebook.com/iberianjournalofclinicalandforensicneuroscience?fref=ts
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
2
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Artigo Especial de Opinião Neurociências, cérebro e xadrez José Manuel Paulino Clinical Psychologist; MSc in Neuropsychology and Neuroscience. Actual FIDE player (ELO) 2039; International FIDE rating, 1901176. All correspondence about this article should be sent to email: paulinojo@hotmail.com.
_________________________________________________________________________________
Neurociência e funcionamento cerebral 3 O Campo da Neurociência Cognitiva recebeu esse nome pela primeira vez em finais dos anos 70 do século passado, no banco de trás de um táxi em New York, quando Michael S. Gazzaniga e o brilhante Psicólogo Cognitivo George A. Miller se dirigiam a um “jantarencontro” no Hotel Algonquin que estava sendo realizado pelas equipas de cientistas das universidades de Rockefeller e Cornell, que se tinham reunido para debater precisamente essa temática que ainda não tinha
Cronologicamente pode-se fazer uma ideia de como a Terra se formou há cerca de 5 biliões de anos, a vida sobre ela começou há cerca de 3,5 biliões de anos, o cérebro de um primata evoluiu desde há 20 milhões de anos e o cérebro humano na sua presente forma há “apenas” 100.000 anos, e a Natureza corre o seu curso, construindo e desenvolvendo o cérebro capaz de um sem número de feitos brilhantes e geniais mas também capaz dos factos e atos mais banais e cruéis.
uma designação satisfatória. Fora do táxi surgiu, então, essa designação de Cognitive Neuroscience que haveria de ser bem acolhida pela comunidade científica. Agora a questão seguinte que se punha seria qual o significado a atribuir a este termo? : “Qual o significado deste termo”? Em resposta a esta questão teríamos que voltar atrás e ver, não só história do Pensamento Humano, como também a história da ciência em disciplinas como a Medicina, a Psicologia, ou mesmo a Biologia. Para compreender
as
propriedades
e
miraculosas
características do funcionamento cerebral, é preciso admitir que foi a Mãe natureza a construir o cérebro e não uma equipa de técnicos engenheiros.
A disciplina das neurociências que estuda o cérebro tem raízes imemoriais, a espécie humana sempre esteve muito ocupada a pensar sobre o próprio Pensamento, sobre o que são e de onde derivam os processos do nosso cérebro que nos permitiu adaptar ao meio onde vivemos,
inventar
a
agricultura
de
subsistência,
domesticar animais, enfim, tudo aquilo o que nos tem permitido sobreviver como espécie e chegar até este momento da nossa civilização e evolução. À medida que a sobrevivência foi sendo assegurada sem grandes sobressaltos mais o Homem ficou libertado para refletir sobre estes fenómenos. Desde a antiga Grécia, Mesopotâmia, e Egipto, que se sabe que o Homem reflete e teoriza sobre as motivações da nossa espécie e
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
os desígnios do Universo onde estamos inseridos. Os
de personalidade e até o grau de criminalidade de uma
nossos mecanismos cerebrais permitiram criar inúmeras
pessoa, contribuindo assim desse modo para a ideia de
teorias
que a certas regiões do cérebro correspondiam
acerca
da
natureza
do
Homem
e
consequentemente do seu próprio cérebro. Søren Aabye Kierkegaard afirmava em 1846 “que o Homem deveria pura e simplesmente admitir que não compreende como e quando é que a Consciência apareceu na sua Existência”, mas que apesar disso o Homem deve guindar os seus olhos para a reflexão e ação de forma a tentar compreender as suas reais motivações! No seculo XIX assistiu-se finalmente a grandes avanços no estudo do funcionamento cerebral, tentando estabelecer-se um nexo de causalidade entre comportamentos e sintomas resultantes de diversas lesões cerebrais e as diferentes zonas do cérebro que lhes estavam subjacentes. Tudo começou com os chamados Frenologistas, liderados por Franz Joseph Gall (1758-1828) e J.G. Spurzheim (17761832) que declararam que o cérebro humano era organizado à volta de 35 funções específicas. Essas funções cognitivas básicas do cérebro iam desde as mais básicas como, por exemplo, a linguagem e a perceção da cor, até às mais subjetivas capacidades humanas de sentir autoestima ou esperança, que se pensava ter localizações específicas no cérebro. Acreditava-se que se a pessoa usasse com mais frequência algumas destas suas capacidades, a parte do cérebro responsável por essas faculdades desenvolvia-se mais em relação às outras. Gall era um médico neuroanatomista Austríaco, apesar disso as suas ideias eram empíricas e não eram suportadas nem validadas por experimentação científica nessa época. Dedicou a sua vida a estudar e refletir sobre o córtex cerebral e defendeu a ideia de que as diferentes funções
cerebrais
estavam
localizadas
em
áreas
específicas do cérebro.
determinadas funções cerebrais. No continente Europeu o neurologista inglês John Hughlings Jackson (1835-1911), tornou-se o primeiro a sugerir a distinção de funções dos hemisférios direitos e esquerdo do cérebro, cabendo ao direito a relação com as emoções e, ao esquerdo, com a linguagem. Depois em meados de finais dos anos 50 do século XIX o francês Paul
Broca
(1824-1880),
talvez
o
mais
famoso
neurologista da Historia, reportava o caso de um homem que havia sido vítima de uma lesão cerebral na parte frontal do lado esquerdo do cérebro. Após esta lesão este homem conseguia compreender a linguagem mas não se conseguia expressar oralmente, estas evidências eram consistentes com as teorias de Jackson sobre os hemisférios cerebrais. A partir daí, a área descrita ficou designada pela área cerebral de Broca que também designa a Afasia com o mesmo nome. O impacto destas descobertas foi enorme e permitiu compreender que certos
aspetos
diferentes
da
linguagem
tinham
correspondência com regiões específicas do cérebro. Posteriormente, o neurologista alemão Carl Wernike (1848-1905) contribuiu decisivamente na continuação do estudo desta temática ao dar a conhecer o caso de um paciente com uma lesão similar à do paciente relatado por Broca. A lesão do paciente de Wernike apesar de se localizar no mesmo lado, o esquerdo, localizava-se numa região posterior à do paciente de Broca, o paciente conseguia falar, ao invés do paciente de Broca, mas o que falava não fazia sentido e nem o próprio o compreendia. Assim através desta dissociação de sintomas dos dois pacientes narrados por Broca e
A Frenologia estudava, assim, nos inícios do seculo XIX a
Wernike, nascia a compreensão de duas localizações
morfologia do crânio humano, afirmando existir uma
diferentes do cérebro (Área de Broca e Área de Wernike,
relação
e
e as afasias com os mesmos nomes) que se relacionavam
protuberâncias do cérebro e o carácter, características
diretamente com diferentes défices de linguagem e
direta
entre
as
diferentes
formas
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
4
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
capacidades cognitivas. Estas constatações seriam fáceis
responsáveis por comportamentos e funções específicas,
de ver hoje em dia em alguns segundos usando métodos
começou-se a centrar a investigação nos diferentes níveis
de Neuroimagem que há 150 anos não existiam. Passado
de organização celular do cérebro. No seguimento destas
pouco tempo destas descobertas alguns cientistas
ideias, o alemão Korbinian Brodman (1868-1918), deu
alemães, nomeadamente Gustav Fritsch (1938-1937) e
uma contribuição enorme na designação e divisão das
Eduard Hitzig (1939-1907) usaram técnicas como a
diferentes áreas cerebrais (Fig.1), usando o microscópio,
estimulação elétrica cerebral em cães, e como esta
designadas as 52 áreas de Brodmann.
estimulação produzia determinados comportamentos nos
animais.
Estas
descobertas
levaram
os
neuroanatomistas a mais detalhadas análises acerca do córtex cerebral e a sua organização celular. Por causa da aceitação de que determinadas regiões cerebrais são
5
Fig. 1 As 52 áreas cerebrais de Brodman (1909)
Um dos critérios era a diferenciação celular das diferentes
áreas
cerebrais,
designada
arquitetura
cerebral, onde o Italiano Camillo Golgy (1843-1926) e o espanhol Santiago Ramon y Cajal (1852-1934), covencedores do premio Nobel em 1906, deram o seu contributo
na
chamada
“doutrina
neuronal”,
ISSN: in attribution process
na
identificação de células neuronais e de como estas propagavam a informação nervosa entre as células nervosas.
Golgy,
enquanto
defendia
a
posição
reticularista, devido à insuficiente técnica utilizada na altura, manifestava dúvidas em como os neurónios propagavam a informação, pensando que se fundiam uns
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
nos outros; Cajal finalmente, e no seguimento das
também a capacidade de sintetizar, e também aspetos
pesquisas de Golgy, usando tecnologia mais avançada,
éticos e morais. Algumas das questões que se poderão
conseguiu finalmente concluir que a informação nervosa
pôr, dizem a ver com a idade e o género. Será que a
dos neurónios se dava só na direção dos dendritos para
idade e o género são fatores determinantes que
os axónios.
interagem
A história do estudo do cérebro não parou desde aí e hoje em dia é central como disciplina das neurociências. (Gazzaniga, Ivry & Mangun, 2002).
com
a
capacidade
cognitiva
e
consequentemente com a performance dos jogadores de xadrez? Que fatores cognitivos ou biológicos poderão estar subjacentes ao melhor funcionamento cerebral que permite uma maior performance destes jogadores? Testosterona,
O Xadrez
capacidade
visou-espacial,
memória,
pensamento abstrato, capacidade emocional, ou que
Tal como Montaigne afirmava que o jogo de xadrez é “Muito jogo para ser ciência e muita ciência para ser jogo”, também o poeta Goethe destacava o aspeto nobre do jogo ao dizer que o xadrez é a “ginástica da inteligência”, mas há também aqueles que tentam relativizar, ou mesmo minimizar, a sua importância, como o escritor Bernard Shaw, que ironizava admitindo que o xadrez desenvolve a inteligência para jogar xadrez! Polemicas à parte, o certo é que algumas disciplinas das neurociências e das tecnologias da Cognição, como por exemplo a “Inteligência artificial”, a Psicologia, ou mesmo a Ciência Cognitiva de uma forma geral (Varela, 2006), encontram nesta nobre modalidade um terreno fértil para a investigação de fenómenos tais como os processos do funcionamento cerebral, suas funções e aptidões cognitivas várias.
tipos de inteligência caracterizam estas diferenças que proporcionam a alguns se tornarem Mestres e outros não? Respostas a estas e a outras questões similares permitiriam conhecer alguns dos mecanismos que estão subjacentes a uma melhor capacidade de raciocínio e até de performance cognitiva dos xadrezistas de competição, que extrapolados para a população em geral permitiria, enfim, compreender até que ponto certos tipos de substâncias
potencializam
ou
não
determinadas
capacidades cognitivas. É sabido que atualmente nas competições escaquísticas (xadrezistas) existe já um controlo antidoping que permite detetar substâncias proibitivas, como por exemplo a cafeína, o álcool, e um rol de substâncias legais e ilegais que têm gerado polémica em meios tanto de leigos como académicos devido ao pouco conhecimento da comunidade científica sobre as reias substâncias que efetivamente poderão
O xadrez é um jogo que exprime a capacidade artística, criativa e científica de quem o pratica. Um espelho do Cosmos que se projeta num microcosmos onde o funcionamento cerebral lida com regras estabelecidas a priori, numa linguagem simbólica e abstrata mas também muito concreta e hierarquizada pelos conceitos de Matéria, Tempo e Espaço nele existentes, e que apela por exemplo a um rol de determinadas capacidades cognitivas como a Memória, a atenção, a capacidade de decisão, a capacidade visou-espacial, a abstração, mas
ISSN: in attribution process
ajudar o jogador de xadrez a melhorar as suas performances; nada há de concreto sobre o assunto, apesar de existir já um determinado número de substâncias proibidas que o são, não por essa razão, mas apenas talvez por muitas delas serem de consumo ilegal. Sendo o xadrez um jogo que apela às reais capacidades cognitivas de quem o pratica, uma das questões que pretendemos levantar é se haverá um limite de idade mínima no que concerne à capacidade de um jovem se tornar Grande Mestre, ou seja, atingir o mais elevado
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
6
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
patamar no que diz respeito ao grau de grau de
culturais, são argumentos que poderão não estar longe
hierarquia do Xadrez. Calcula-se que haja centenas de
de explicar a realidade dos factos, mas pessoalmente
milhões de pessoas no mundo a praticar o jogo de
também partilhamos a ideia deste jogo apelar a
xadrez, seja de forma ocasional ou regular, e que mais de
capacidades biológicas inatas, mais estruturais do que
dois biliões saibam o nome ou o movimento das peças
contextuais e que explicam alguma desta diferença na
que compõem este jogo! Apesar disso, existem apenas
performance da generalidade do género. Não nos
cerca de 1500 Grandes Mestres no Mundo (Gutman,
referimos a casos particulares, mas uma análise
2005). Por estes números se percebe bem o quão difícil é
estatística elaborada não terá dificuldade em provar isso
para o comum dos mortais a obtenção de um título desta
mesmo! Mais uma vez frisamos que nos estamos a
natureza.
referir à média na generalidade das mulheres, em relação à média na generalidade dos homens, essa
A seguir publicamos duas tabelas, atuais, com os cem
diferença de performance acentua-se mais no top da
melhores ratings do mundo, em masculinos e femininos
pirâmide e esbate-se mais na base! Claro que haverá
“World Chess Federation” (http://ratings.fide.com/).
mulheres que jogam muito melhor do que os homens,
Constatamos que apenas existe uma mulher nos cem
não nos referimos a casos particulares, mas se
melhores, a Húngara Judite Polgar, no posto número 52
atentarmos mais uma vez nos cem melhores ratings os
que vive atualmente nos Estados Unidos! A estatística de
números falam por si!
haver mais homens a jogar xadrez em termos absolutos do que mulheres, ou fatores contextuais e sociais, ou
Tabela 1. Melhores cem jogadores mundiais Rank Name
Title Country Rating Games B-Year
1
Carlsen, Magnus
g
NOR
2862
9
1990
2
Aronian, Levon
g
ARM
2813
0
1982
3
Caruana, Fabiano
g
ITA
2796
20
1992
4
Kramnik, Vladimir
g
RUS
2784
9
1975
5
Grischuk, Alexander
g
RUS
2780
11
1983
6
Karjakin, Sergey
g
RUS
2776
9
1990
7
Nakamura, Hikaru
g
USA
2775
20
1987
8
Anand, Viswanathan
g
IND
2775
9
1969
9
Gelfand, Boris
g
ISR
2773
9
1968
10
Topalov, Veselin
g
BUL
2767
11
1975
11
Kamsky, Gata
g
USA
2763
11
1974
12
Mamedyarov, Shakhriyar
g
AZE
2761
9
1985
13
Dominguez Perez, Leinier
g
CUB
2757
11
1983
14
Ponomariov, Ruslan
g
UKR
2756
22
1983
15
Wang, Hao
g
CHN
2752
4
1989
16
Svidler, Peter
g
RUS
2746
11
1976
17
Adams, Michael
g
ENG
2740
0
1971
18
Leko, Peter
g
HUN
2737
0
1979
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
7
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
19
Morozevich, Alexander
g
RUS
2736
20
1977
20
Giri, Anish
g
NED
2734
0
1994
21
Vitiugov, Nikita
g
RUS
2734
0
1987
22
Ivanchuk, Vassily
g
UKR
2733
11
1969
23
Radjabov, Teimour
g
AZE
2733
0
1987
24
Andreikin, Dmitry
g
RUS
2727
9
1990
25
Korobov, Anton
g
UKR
2720
11
1985
26
Vachier-Lagrave, Maxime
g
FRA
2719
12
1990
27
Nepomniachtchi, Ian
g
RUS
2717
0
1990
28
Navara, David
g
CZE
2715
19
1985
29
Bacrot, Etienne
g
FRA
2714
17
1983
30
Ding, Liren
g
CHN
2714
9
1992
31
Alekseev, Evgeny
g
RUS
2714
0
1985
32
Jakovenko, Dmitry
g
RUS
2713
3
1983
33
Le, Quang Liem
g
VIE
2712
0
1991
34
Naiditsch, Arkadij
g
GER
2710
5
1985
35
Areshchenko, Alexander
g
UKR
2709
11
1986
36
Malakhov, Vladimir
g
RUS
2709
4
1980
37
Tomashevsky, Evgeny
g
RUS
2709
0
1987
38
So, Wesley
g
PHI
2708
18
1993
39
Fressinet, Laurent
g
FRA
2708
11
1981
40
Riazantsev, Alexander
g
RUS
2708
0
1985
41
Almasi, Zoltan
g
HUN
2707
0
1976
42
Vallejo Pons, Francisco
g
ESP
2706
0
1982
43
Wang, Yue
g
CHN
2705
15
1987
44
Eljanov, Pavel
g
UKR
2702
14
1983
45
Van Wely, Loek
g
NED
2701
18
1972
46
Wojtaszek, Radoslaw
g
POL
2701
11
1987
47
Moiseenko, Alexander
g
UKR
2699
14
1980
48
Kasimdzhanov, Rustam
g
UZB
2699
13
1979
49
Movsesian, Sergei
g
ARM
2699
0
1978
50
McShane, Luke J
g
ENG
2697
0
1984
51
Shirov, Alexei
g
LAT
2696
1
1972
52
Polgar, Judit
g
HUN
2696
0
1976
53
Rublevsky, Sergei
g
RUS
2695
0
1974
54
Rapport, Richard
g
HUN
2693
17
1996
55
Jobava, Baadur
g
GEO
2693
4
1983
56
Akopian, Vladimir
g
ARM
2691
0
1971
57
Bruzon Batista, Lazaro
g
CUB
2689
9
1982
58
Volokitin, Andrei
g
UKR
2688
20
1986
59
Short, Nigel D
g
ENG
2688
11
1965
60
Berkes, Ferenc
g
HUN
2687
0
1985
61
Li, Chao b
g
CHN
2686
11
1989
62
Laznicka, Viktor
g
CZE
2684
0
1988
63
Grachev, Boris
g
RUS
2683
0
1986
64
Ragger, Markus
g
AUT
2680
8
1988
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
65
Harikrishna, P.
g
IND
2680
0
1986
66
Inarkiev, Ernesto
g
RUS
2680
0
1985
67
Granda Zuniga, Julio E
g
PER
2679
0
1967
68
Kryvoruchko, Yuriy
g
UKR
2678
11
1986
69
Cheparinov, Ivan
g
BUL
2678
0
1986
70
Gareev, Timur
g
USA
2676
0
1988
71
Bologan, Viktor
g
MDA
2672
0
1971
72
Sargissian, Gabriel
g
ARM
2671
0
1983
73
Nisipeanu, Liviu-Dieter
g
ROU
2670
9
1976
74
Dreev, Aleksey
g
RUS
2668
0
1969
75
Fedorchuk, Sergey A.
g
UKR
2667
8
1981
76
Onischuk, Alexander
g
USA
2667
0
1975
77
Matlakov, Maxim
g
RUS
2665
0
1991
78
Bu, Xiangzhi
g
CHN
2664
24
1985
79
Shimanov, Aleksandr
g
RUS
2664
0
1992
80
Smirin, Ilia
g
ISR
2663
0
1968
81
Edouard, Romain
g
FRA
2662
11
1990
82
Romanov, Evgeny
g
RUS
2662
0
1988
83
Ni, Hua
g
CHN
2661
13
1983
84
Zhigalko, Sergei
g
BLR
2661
0
1989
85
Petrosian, Tigran L.
g
ARM
2660
17
1984
86
Safarli, Eltaj
g
AZE
2660
0
1992
87
Sasikiran, Krishnan
g
IND
2660
0
1981
88
Sutovsky, Emil
g
ISR
2660
0
1977
89
Zvjaginsev, Vadim
g
RUS
2659
0
1976
90
Khairullin, Ildar
g
RUS
2658
0
1990
91
Khismatullin, Denis
g
RUS
2658
0
1984
92
Nielsen, Peter Heine
g
DEN
2658
0
1973
93
Yu, Yangyi
g
CHN
2657
24
1994
94
Efimenko, Zahar
g
UKR
2657
11
1985
95
Kurnosov, Igor
g
RUS
2657
0
1985
96
Lysyj, Igor
g
RUS
2656
0
1987
97
Gharamian, Tigran
g
FRA
2655
0
1984
98
Motylev, Alexander
g
RUS
2655
0
1979
99
Tiviakov, Sergei
g
NED
2654
10
1973
100
Gajewski, Grzegorz
g
POL
2653
11
1985
9
Tabela 2. Melhores cem jogadoras mundiais Rank Name
Title Country Rating Games B-Year
1
Polgar, Judit
g
HUN
2696
0
1976
2
Koneru, Humpy
g
IND
2607
11
1987
3
Hou, Yifan
g
CHN
2600
15
1994
4
Muzychuk, Anna
g
SLO
2594
11
1990
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
5
Dzagnidze, Nana
g
GEO
2558
11
1987
6
Zhao, Xue
g
CHN
2553
4
1985
7
Lagno, Kateryna
g
UKR
2542
0
1989
8
Ju, Wenjun
wg
CHN
2531
2
1991
9
Kosintseva, Nadezhda
g
RUS
2531
0
1985
10
Kosintseva, Tatiana
g
RUS
2528
11
1986
11
Sebag, Marie
g
FRA
2528
11
1986
12
Cramling, Pia
g
SWE
2524
0
1963
13
Khotenashvili, Bela
m
GEO
2512
11
1988
14
Gunina, Valentina
g
RUS
2507
4
1989
15
Ruan, Lufei
wg
CHN
2501
0
1987
16
Ushenina, Anna
g
UKR
2500
11
1985
17
Stefanova, Antoaneta
g
BUL
2497
19
1979
18
Cmilyte, Viktorija
g
LTU
2497
12
1983
19
Zhu, Chen
g
QAT
2494
0
1976
20
Harika, Dronavalli
g
IND
2489
11
1991
21
Kosteniuk, Alexandra
g
RUS
2489
0
1984
22
Huang, Qian
wg
CHN
2487
4
1986
23
Muzychuk, Mariya
m
UKR
2484
4
1992
24
Krush, Irina
m
USA
2480
9
1983
25
Tan, Zhongyi
wg
CHN
2478
15
1991
26
Pogonina, Natalija
wg
RUS
2478
9
1985
27
Zatonskih, Anna
m
USA
2473
0
1978
28
Zhukova, Natalia
g
UKR
2471
0
1979
29
Danielian, Elina
g
ARM
2470
11
1978
30
Hoang, Thanh Trang
g
HUN
2467
21
1980
31
Javakhishvili, Lela
m
GEO
2465
4
1984
32
Galliamova, Alisa
m
RUS
2458
0
1972
33
Mkrtchian, Lilit
m
ARM
2454
9
1982
34
Paehtz, Elisabeth
m
GER
2454
2
1985
35
Munguntuul, Batkhuyag
m
MGL
2452
4
1987
36
Alexandrova, Olga
m
ESP
2449
0
1978
37
Hunt, Harriet V
m
ENG
2449
0
1978
38
Dembo, Yelena
m
GRE
2448
0
1983
39
Guo, Qi
wg
CHN
2446
15
1995
40
Moser, Eva
m
AUT
2446
0
1982
41
Khurtsidze, Nino
m
GEO
2443
11
1975
42
Skripchenko, Almira
m
FRA
2441
11
1976
43
Bodnaruk, Anastasia
m
RUS
2440
0
1992
44
Cori T., Deysi
wg
PER
2439
7
1993
45
Peptan, Corina-Isabela
m
ROU
2439
0
1978
46
Girya, Olga
wg
RUS
2437
11
1991
47
Socko, Monika
g
POL
2436
9
1978
48
Ding, Yixin
wg
CHN
2432
15
1991
49
Tania, Sachdev
m
IND
2430
18
1986
50
Atalik, Ekaterina
m
TUR
2430
8
1982
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
51
Melia, Salome
m
GEO
2428
11
1987
52
Gomes, Mary Ann
wg
IND
2423
9
1989
53
Zaiatz, Elena
m
RUS
2423
0
1969
54
Guramishvili, Sopiko
m
GEO
2421
11
1991
55
Bojkovic, Natasa
m
SRB
2415
0
1971
56
Matnadze, Ana
m
ESP
2412
0
1983
57
Rajlich, Iweta
m
POL
2411
0
1981
58
Kovalevskaya, Ekaterina
m
RUS
2407
0
1974
59
Shen, Yang
m
CHN
2405
15
1989
60
Batsiashvili, Nino
wg
GEO
2405
11
1987
61
Bulmaga, Irina
wg
ROU
2403
0
1993
62
Vega Gutierrez, Sabrina
m
ESP
2402
2
1987
63
Goryachkina, Aleksandra
wg
RUS
2401
0
1998
64
Wang, Jue
wg
CHN
2399
15
1995
65
Karavade, Eesha
m
IND
2398
9
1987
66
Houska, Jovanka
m
ENG
2398
0
1980
67
Pham, Le Thao Nguyen
m
VIE
2397
0
1987
68
Milliet, Sophie
m
FRA
2396
12
1983
69
Li, Ruofan
m
SIN
2396
0
1978
70
Wang, Pin
wg
CHN
2394
2
1974
71
Vijayalakshmi, Subbaraman
m
IND
2393
14
1979
72
Zawadzka, Jolanta
wg
POL
2393
9
1987
73
Gaponenko, Inna
m
UKR
2393
0
1976
74
Peng, Zhaoqin
g
NED
2389
0
1968
75
Foisor, Cristina-Adela
m
ROU
2387
0
1967
76
Ovod, Evgenija
m
RUS
2386
9
1982
77
Michna, Marta
wg
GER
2385
1
1978
78
Arakhamia-Grant, Ketevan
g
SCO
2385
0
1968
79
Melamed, Tatjana
wg
GER
2384
1
1974
80
Lujan, Carolina
m
ARG
2383
9
1985
81
Nemcova, Katerina
wg
USA
2382
0
1990
82
Szczepkowska-Horowska, Karina wg
POL
2380
9
1987
83
Matveeva, Svetlana
m
RUS
2380
0
1969
84
Shadrina, Tatiana
wg
RUS
2377
0
1974
85
Vojinovic, Jovana
wg
SRB
2376
0
1992
86
Zhang, Xiaowen
wg
CHN
2375
15
1989
87
Majdan-Gajewska, Joanna
wg
POL
2375
0
1988
88
Khukhashvili, Sopiko
m
GEO
2374
11
1985
89
Repkova, Eva
m
SVK
2374
9
1975
90
Kovanova, Baira
wg
RUS
2371
0
1987
91
Vasilevich, Irina
m
RUS
2370
0
1985
92
Kononenko, Tatiana
m
UKR
2369
0
1978
93
Savina, Anastasia
m
RUS
2368
7
1992
94
Paikidze, Nazi
m
GEO
2368
0
1993
95
Romanko, Marina
m
RUS
2368
0
1986
96
Schleining, Zoya
wg
GER
2368
0
1961
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
97
Sukandar, Irine Kharisma
wg
INA
2365
18
1992
98
Daulyte, Deimante
wg
LTU
2363
5
1989
99
Fierro Baquero, Martha L.
m
ECU
2362
9
1977
100
Kachiani-Gersinska, Ketino
m
GER
2362
0
1971
101
Sudakova, Irina
wg
RUS
2362
0
1982
102
Stockova, Zuzana
m
SVK
2359
0
1977
103
Wang, Yu A.
m
CHN
2359
0
1982
104
Linares Napoles, Oleiny
wg
CUB
2358
0
1983
105
L'Ami, Alina
wg
ROU
2356
13
1985
106
Ciuksyte, Dagne
m
ENG
2355
0
1977
107
Nakhbayeva, Guliskhan
wg
KAZ
2354
9
1991
108
Charkhalashvili, Inga
wg
GEO
2353
0
1983
109
Batchimeg, Tuvshintugs
wg
MGL
2351
11
1986
110
Lomineishvili, Maia
m
GEO
2351
11
1977
111
Kursova, Maria
wg
ARM
2351
0
1986
112
Manakova, Maria
wg
SRB
2351
0
1974
113
Purtseladze, Maka
m
GEO
2349
11
1988
114
Gara, Ticia
wg
HUN
2349
0
1984
115
Vajda, Szidonia
m
HUN
2349
0
1979
116
Medvegy, Nora Dr.
m
HUN
2346
0
1977
117
Ubiennykh, Ekaterina
wm RUS
2344
0
1983
118
Pokorna, Regina
wg
SVK
2343
0
1982
119
Guichard, Pauline
wg
FRA
2342
8
1988
120
Gvetadze, Sofio
m
GEO
2341
11
1983
Quais as causas que estarão na génese destes fenómenos
permita melhores performances? E quanto à capacidade
concretos e reais no que concerne ao topo da tabela dos
visou-espacial tão necessária à prática deste desporto
melhores “ratings”? Será que o jogo de xadrez a exemplo
que muitos pretendem mais desenvolvida no homem do
de outros desportos, neste caso mais físicos, apela a
que na mulher? Estas serão algumas das hipóteses entre
fatores biológicos cognitivos influenciados pela diferença
tantas outras que se podem pôr para explicar estas
de género? (e.g. o xadrez também apela a uma excelente
diferenças estatísticas encontradas na performance do
condição física para que se obtenham bons resultados;
desporto de xadrez entre homens e mulheres.
nos antigos matchs de candidatos para o Titulo Mundial, Karpov – Korchnoi chegaram a fazer-se estudos que indicavam que os jogadores perdiam em media alguns kilos durante o jogo que chegava a demorar mais de 5 horas). Essa diferença de género contribuirá para a obtenção de diferentes resultados na competição do jogo de xadrez? Será necessário aos melhores jogadores
De referir apenas que esta modalidade tem como critérios de rating um sistema que se chama de “rating Elo”,
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Rating_ELO)
em
homenagem ao matemático que inventou este sistema de classificação hierárquico que permite haver uma hierarquização no universo dos jogadores de xadrez discriminado as performances obtidas em torneios.
do mundo possuírem níveis elevados de testosterona para obterem uma maior agressividade no jogo que lhes
Quanto ao à variável “idade” é sabido que o mais jovem Grande Mestre de sempre obteve a sua norma definitiva
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
com 12 anos, não se conhecendo nenhum jogador abaixo
idade que se produzem certos rearranjos neuronais na
desta idade que o tenha conseguido até hoje. Aqui
criança adolescente que permitirão estes desempenhos
queremos introduzir a hipótese dos estadios de
proibitivos
desenvolvimento cognitivos de Piaget poderem explicar
desempenho na idade mínima em que ambos os géneros
satisfatoriamente o fenómeno de nunca um jovem com
obtêm a norma definitiva de Grande Mestre é mais ou
menos de 12 anos, por exemplo, (até aos dias de hoje)
menos idêntico, mas à medida que se sobe na Pirâmide
ter alcançado o maior título da escala hierárquica da
Hierárquica dos melhores ratings do mundo da
competição de xadrez, o título de grande Mestre.
modalidade de xadrez acentua-se a diferença entre
É só no Estadio de Inteligência Operatória Formal (± a partir de 11/12 anos Piaget, 1947) que parece que o Ser Humano está apto a reflexões abstratas e onde o
numa
fase
e
idade
anteriores.
Este
géneros na capacidade de performance exprimida em termos de pontuação de rating FIDE (Federação Mundial de Xadrez).
pensamento se caracteriza por ser um pensamento que reflete sobre si próprio, ou seja, sobre o próprio
Nota editorial: quem quer contribuir neuro - cientificamente para esta
pensamento, coisa que no estadio anterior não parece
discussão?
13
possível. Aliando esta constatação ao facto de ser nesta
Referências
Piaget, J. (1958). Psicologia da inteligência (2ª Edição).
Gazzaniga, M., Ivry, R. & Mangun, R. (2002). The Biology of the Mind: Cognitive Neuroscience (3rd Edition). New York: WW Norton, pp. 1-3. Gutman, R.D. (2005). Metáforas de ajedrez: La Mente Humana Y la Inteligencia Artificial. Madrid: Editorial La casa del Ajedrez, pp. 62. Piaget, J. (1975). O nascimento da inteligência na criança (2ª Edição). Rio de Janeiro: Zahar.
Rio de Janeiro: Fundo de Cultura (1958, 1947). Varela, F. (1994) (2006). Conhecer as ciências cognitivas tendências e perspectivas. Lisboa: Instituto Piaget. Edições Piaget, pp. 20. World Chess Federation (2013). Retrieved from website: http://ratings.fide.com/ in 21-07-2013. Wikipedia
(2013).
Retrieved
from
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rating_ELO
website: in
22-07-
2013.
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Original Article Enviesamento Atencional no Abuso de Substâncias: O Papel da Carga Cognitiva. Humberto Rodrigues (1), Sandra C. Soares (2), Paulo Rodrigues (3), Aldina Martins (4), Luis Maia (5)
(1) Clinical Neuropsychologist; MSc in Psychology. All correspondence about this article should be sent to email: humbertoaguia@hotmail.com. Universidade de Aveiro UA-Aveiro; (2) Universidade de Aveiro UA-Aveiro, IBILI, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra; (3) Universidade da Beira Interior UBI-Covilhã; (4) Projecto Homem-Braga; (5) Universidade da Beira Interior UBI-Covilhã.
_________________________________________________________________________________ Abstract Substance dependence involves an attention bias (AB) in the face of drug-related stimuli (e.g., heroin), being this, one of the main factors associated with relapse. However, it is yet unknown what the role of cognitive load in this context. We intended to evaluate in this study if AB in individuals with a history of addiction to heroin is already verifiable in low cognitive load condition (i.e., when there are cognitive resources that enable processing of attention bias stimuli). Subjects performed a task to use attention to discrimination of letters that could arise either individually or in a set of other letters (lower and high cognitive load, respectively), with and without presentation of attention bias stimuli. The results just revealed a main effect of cognitive load. The exposure time used in this study (500ms) may have contributed to the avoidance of distractors and justify the absence of significant effects involving the distractor and group type. Keywords: Heroin, attentional bias, craving, selective attention, perceptual load.
Resumo A dependência de substâncias envolve um enviesamento atencional (EA) face a estímulos relacionados com as drogas (e.g., heroína), sendo este um dos principais fatores associado às recaídas. Contudo, desconhece-se qual o papel da carga cognitiva neste contexto. Pretendemos avaliar no presente estudo se o EA em indivíduos com historial de dependência de heroína apenas se verifica na condição de baixa carga cognitiva (i.e., quando existem recursos cognitivos que possibilitam o processamento de estímulos distratores). Apresentou-se uma tarefa atencional de discriminação de letras que podiam surgir isoladamente ou num conjunto de outras letras (baixa e alta carga cognitiva, respetivamente), com e sem apresentação de estímulos distratores. Os resultados apenas revelaram um efeito principal da carga cognitiva. O tempo de exposição usado no presente estudo (500ms) poderá ter contribuído para o evitamento dos distratores e justificar a ausência de efeitos significativos envolvendo o tipo de distrator e o grupo. Palavras-chave: Heroína, enviesamento atencional, craving, atenção seletiva e carga cognitiva.
Resumen La dependencia de sustancias implica un sesgo para utilizar atención (SA) ante estímulos relacionados con las drogas (e.g., heroína), siendo este uno de los principales factores asociados con la recaída. Sin embargo, aún sea desconocido cual el papel de la carga cognitiva en este contexto. Tenemos la intención de evaluar en este estudio si el SA en individuos con antecedentes de adicción a la heroína ya son verificables en condiciones de baja carga cognitiva (es decir, cuando hay recursos cognitivos que permiten el procesamiento de estímulos que críen sesgo). Los sujetos realizaron una tarea para utilizar la atención a la discriminación de las letras que pudieran surgir, individualmente o en un conjunto de otras letras (baja y alta carga cognitiva, respectivamente), con y sin la presentación de estímulos creadores de sesgo. Los resultados revelaron sólo un efecto principal de carga cognitiva. El tiempo de exposición utilizado en este estudio (500ms) puede haber contribuido a la evitación de elementos interactivos y justificar la ausencia de efectos significativos que involucran el tipo de distractor y tipo de grupo. Palabras clave: Heroína, sesgo atencional, deseo de consumir, atención selectiva, carga perceptiva.
_________________________________________________________________________________
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
14
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
“São todos maus descobridores, os que pensam que não há terra quando conseguem ver apenas o mar”. Francis Bacon
Introdução anos, indicam que o álcool e o tabaco são as substâncias A dependência de substâncias acarreta diversos sintomas cognitivos,
comportamentais
e
fisiológicos.
Estes
manifestam-se através do uso contínuo de uma determinada substância (e.g., heroína). O desejo incontrolável de repetir a administração de uma substância psicoativa enquadra um padrão que implica tolerância (i.e., diminuição do efeito da mesma dose da substância que leva ao aumento das doses para obter o mesmo efeito), abstinência (i.e., sintomas físicos e psicológicos provocados pela ausência da substância no organismo), e comportamentos compulsivos de procura da substância (DSM-IV-TR, 2002).
lícitas mais usadas, sendo o cannabis, a cocaína e o ecstasy as substâncias ilícitas com maior prevalência ao longo da vida (11,7%, 1,9% e 1,3%, respetivamente), (European Monitoring Center for Drugs and Drug Addiction - EMCDDA, 2010). Contudo, verificou-se uma estabilização do uso de substâncias psicoativas ilícitas no ano de 2009, com a exceção da cocaína, da heroína e do LSD, cujas prevalências aumentaram (EMCDDA, 2010). Em 2010, verificou-se que a heroína continua a ser a droga principal a nível de procura de tratamentos e mortalidade, tendo sido apontada por 77% dos utentes em ambulatório na rede pública de tratamento e por
De acordo com os dados da Observatório Europeu da
55% dos novos utentes. Paralelamente, foi assinalada
Droga e da Toxicodependência - OEDT (2011) referentes
como a droga de eleição de 49% dos utentes das
à população adulta europeia com idades entre os 15 e os
comunidades terapeutas públicas e licenciadas em
64 anos (inquéritos realizados entre 2001 e 2010),
Portugal (46% exclusivamente com heroína e 3% de
relativamente à cannabis, à cocaína, ao ecstasy e às
casos de heroína e cocaína concomitantemente).
anfetaminas, regista-se uma prevalência de consumo ao
Relativamente ao sexo, as maiores prevalências face ao
longo da vida de cerca de 78 milhões (23,2%), 14,5
consumo desta substância verificam-se nos homens
milhões (4,3%), 11 milhões (3,2%) e de 12,5 (3,8%),
(Instituto da Droga e Toxicodependência - IDT, 2010).
respetivamente. Relativamente à heroína, estima-se que
Segundo o último relatório anual sobre a evolução do
o seu consumo envolva 1,3 a 1,4 milhões de
fenómeno da droga na Europa verificou-se um recente
consumidores europeus. Os dados da OEDT (2011)
declínio do consumo de heroína no contexto de um
revelam ainda que cerca de 700 000 consumidores de
aumento da oferta de tratamento (OEDT, 2012). Mais de
opiáceos receberam tratamento de substituição em
metade dos 1,4 milhões de consumidores regulares de
2009, tendo a heroína sido referida como a droga
opiáceos que se estima haver na Europa, tem atualmente
principal em mais de 50% do total de pedidos de
acesso a tratamentos de substituição (OEDT, 2012).
tratamentos de toxicodependências. Para além disso,
Contudo, apesar do relatório salientar um menor número
foram relatadas cerca de 7 600 mortes induzidas por
de novos consumidores europeus de heroína e menor
drogas, tendo sido detetados opiáceos em cerca de três
oferta da substância devido a um maior número de
quartos dos casos europeus (OEDT, 2011). Os resultados
apreensões desta substância, existem países como a
do segundo inquérito nacional de substâncias psicoativas
Finlândia onde o abuso de Buprenorfina (um opiáceo
na população portuguesa, com idades entre os 15 e os 64
sintético muito utilizado no tratamento de substituição)
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
15
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
é o mais mencionado pelas pessoas que iniciam o
como uma perturbação da motivação que se caracteriza
tratamento (OEDT, 2012).
por um controlo excessivo sobre o comportamento,
A autoadministração das drogas fora do âmbito terapêutico e prescrição profissional é provavelmente tão antiga quanto a cultura e civilização humana e atesta 1
os seus efeitos “reforçadores ” positivos (Johanson, 1978). Por outro lado, a propriedade de elicitar sentimentos agradáveis também é indicativo de que as drogas são de facto recompensadoras (Di Chiara, 1999). As propriedades recompensadoras das drogas não consistem necessariamente em sensações puras de simples prazer (euforia) ou ao efeito imediato e intenso que se segue à administração por via intravenosa ou fumada (e.g., heroína ou cocaína), mas podem assumir formas intermédias de hedonismo, tais como: o alívio da tensão, a redução da fadiga, o aumento do “arousal”, melhores desempenhos, entre outras. Estas ações positivas podem explicar, “per se”, o porquê das drogas serem usadas, mas não o porquê do seu abuso e dependência (Di Chiara, 1999), condição caracterizada por um comportamento compulsivo, de recaída e foco em comportamentos motivados para a droga, com os consequentes problemas sociais, familiares e problemas de saúde que acarretam (Marissen, 2005). Podemos argumentar que é a especificidade de como a recompensa da droga é produzida que constitui a
exercido pelas drogas e pela aquisição de estímulos secundários, estímulos condicionados que atuam como incentivos ao comportamento do consumo da droga (Di Chiara, 1998). Cada vez mais, a adição é vista como uma condição crónica, sendo a abstinência de substâncias um objetivo difícil e de longo prazo (McLellan, Lewis, O'Brien, & Kleber, 2000). Os problemas causados pelo abuso e dependência de substâncias assumem-se como um dos mais difíceis de resolver nas sociedades atuais (e.g., OEDT, 2011). Os problemas associados ao consumo prolongado da heroína, em particular, são severos e envolvem, entre outros, altos índices de problemas de saúde, envolvimento criminal e maior dependência de serviços de saúde pública (Smyth, Hoffman, Fan, & Hser, 2007). As taxas de recaída entre dependentes de heroína depois de tratamentos residenciais rondam os 60%, sendo que a maioria das recaídas iniciais ocorrem no primeiro mês após o tratamento (Gossop, Stewart, Browne, & Marsden, 2002). A alta taxa de recaída entre os consumidores de substâncias tem motivado de forma contínua muitos investigadores desta área a procurar desenvolver e testar novos modelos explicativos com a finalidade de desenvolver tratamentos mais eficazes (Marissen, 2005).
diferença face às recompensas convencionais. De facto, enquanto
as
recompensas
convencionais
atuam
Conceções teóricas da dependência
primariamente como estímulos sensoriais, as drogas atuam diretamente no encéfalo e distribuem-se pelo
A teoria do processamento automático
plasma com capacidade de penetração na barreira
Em 1990, Tiffany propôs uma visão alternativa sobre o
hematoencefálica por difusão passiva. Assim, as drogas
comportamento
não dependem da estimulação dos recetores sensoriais
cognitivos. Até essa data, a maioria dos modelos de
periféricos, tal como os reforçadores convencionais para
adição era caracterizada tendo em conta os sintomas de
a indução dos seus efeitos motivacionais (Di Chiara,
abstinência (e.g., tremores, agitação e ansiedade) como
1999). Deste modo, a adição pode ser conceptualizada
sendo a genesis dos impulsos e do craving para o
aditivo
enfatizando
os
aspetos
consumo (Tiffany, 1990). Por exemplo, o modelo de 1
Iremos utilizar o termo “reforçadores” ao invés de reforços, tal como propõe (Silva, 2006, p. 78)
ISSN: in attribution process
abstinência condicionada de Wilker (1973) refere que
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
16
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
quando um adito está sob sintomas de abstinência, estes
comportamento automático de procura da substância
ficam associados aos estímulos presentes no decorrer
(Tiffany, 1990). Portanto, ocorre quando esses esquemas
desses
contextos
são interrompidos, seja de forma voluntária (quando
terapêuticos) (Wikler, 1973). Por sua vez, a teoria do
uma pessoa decide parar os consumos de drogas) ou
processo de oposição de Siegel (1983) foca-se nas
involuntária (quando a droga não está disponível para o
respostas compensatórias das drogas para manter a
fazer). Deste modo, o comportamento aditivo pode
homeostasia. Desta forma, na presença de estímulos
começar e terminar sem intenção, sendo que, na
associados à droga, o organismo preparar-se-ia para o
presença de estímulos relacionados com a droga (e.g.,
consumo da droga e produziria sintomas desconfortáveis
imagens, sons, odores) que passam a integrar uma rede
de oposição à droga, o que poderia ser experienciado
associativa armazenada na memória, os esquemas são
como um episódio de abstinência ou de craving (Siegel,
ativados, determinando uma forte necessidade e desejo
1983).
de consumir drogas, dificultando assim o evitamento do
episódios
de
abstinência
(e.g.,
Ao longo deste trabalho, referimo-nos a craving como
consumo nesta condições (Tiffany, 1990).
um estado motivacional experienciado de forma subjetiva que flutua ao longo do tempo e não ao
A teoria incentivo-sensibilização
evitamento de um estado motivacional, tal como
A teoria da Incentivo-Sensibilização propõe que o
sugerem Field, Munafò e Franken (2009). Esta definição
comportamento aditivo é devido em grande parte a
de craving esta direcionada para as drogas psicoativas,
neuro-adaptações progressivas e persistentes causadas
no entanto, esta não implica necessariamente que o
pelo uso repetido da droga (Robinson & Berridge, 1993).
craving relacionado com o consumo de substâncias seja
É proposto que as drogas induzem alterações no sistema
qualitativamente ou quantitativamente diferente de
nervoso, manifestando-se ao nível neuro-químico e
outros tipos de craving (e.g., associado à alimentação)
comportamental através do fenómeno da sensibilização
(Nijs, Franken, & Muris, 2007).
(Robinson & Berridge, 2008). O princípio central desta
Neste modelo do comportamento aditivo (Tiffany, 1990), o autor propõe que o consumo de droga de uma pessoa adita é controlado por processos automáticos, i.e., que envolvem esquemas de ação automáticos que contêm informação adequada para a iniciação e coordenação de sequências complexas que levam ao comportamento do consumo. O comportamento de procura da droga é controlado por processos automáticos aprendidos, ao invés de pensamentos conscientes. Assim, o uso de drogas torna-se um hábito, um processo que ocorre de forma progressivamente automática e que não é necessariamente intencional (Tiffany, 1990). De acordo com este modelo, o craving é um processo cognitivo não automático que só é ativado pela interrupção do
teoria é que a administração repetida da substância de abuso produz uma resposta dopaminérgica que se torna sensibilizada (i.e., progressivamente maior) em cada nova
administração
(Field
&
Cox,
2008).
Como
consequência, estes circuitos neuronais podem tornar-se permanentemente hipersensíveis (sensibilizados) para os efeitos específicos da droga e respetivos estímulos associados ao seu consumo. O sistema neuronal que cede hipersensibilidade para ativar estímulos admite a hipótese de mediar uma função psicológica específica envolvida no processo incentivo motivacional, designado de “atribuição de saliência do incentivo” (Robinson & Berridge, 2004). A sensibilização deste sistema neuronal pelas drogas resulta num desenvolvimento patológico do sistema de saliência de incentivo (Robinson & Berridge,
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
17
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
2001). Deste modo, através dos consumos repetidos,
sensibilização, os estímulos condicionados à droga
estes tornam-se cada vez mais atrativos (Robinson &
potenciam a estimulação da dopamina no NAC (Robinson
Berridge, 1993). Em suma, os sistemas associados ao
& Berridge, 1993). De facto, parece que o aumento da
núcleo accumbens (NAC) vão mediar as funções básicas
dopamina não está relacionado com a recompensa per
motivacionais do incentivo e, em particular, são
se, como se pensava, mas sim com a previsão da
responsáveis
A
recompensa (Schultz, Tremblay & Hollerman, 2000),
sensibilização neuronal produz mudanças psicológicas
assim como com a saliência dos estímulos no ambiente,
que fazem com que as representações associadas à
o que facilita a aprendizagem condicionada (Lu, Grimm,
droga adquiram uma excessiva saliência, desenvolvendo-
Shaham, & Hope, 2003).
pela
saliência
dos
estímulos.
se um “querer” patológico pela substância. A ativação destes sistemas hiper-sensibilizados pode expressar-se em comportamentos de procura da droga, mesmo sem que o individuo tenha emoções ou objetivos conscientes dessa procura (Robinson & Berridge, 2004). Nesta teoria, o “querer” (wanting) é diferente de “gostar” (liking) e a sensibilização aumenta apenas o “querer”, ou seja, a incentivo-sensibilização
produz
um
enviesamento
atencional para os estímulos associados à droga e uma motivação
patológica
para
as
drogas
(“querer”
compulsivo) (Robinson & Berridge, 2008). Os indivíduos são assim controlados por estímulos que representam incentivos associados à droga. Assim, através da saliência do incentivo, um estímulo neutro torna-se um estímulo saliente que capta a atenção em detrimentos de outros estímulos, dificultando a capacidade de dirigir ou focar a atenção para outras atividades o que, por sua vez, elícita uma aproximação comportamental para o consumo. Deste modo, se o consumo de drogas é causado apenas pelo “querer”, e o “querer” é apenas causado pela exposição
às
substâncias
ou
aos
controlado
pelo
estímulo
incondicionado - EI (o consumo) e pelo estímulo condicionado - EC (estímulos relacionados com o consumo), e não pelo estímulo reforçador, ou seja, pelas consequências. Portanto, é a saliência do incentivo que determina o valor do estímulo (Berridge & Robinson, 2003).
De
acordo
com
a
teoria
da
(Robinson & Berridge, 1993) sugere que o EA surge como uma
consequência
do
condicionamento
clássico
(Franken, 2003). Segundo este autor, o EA é um importante intermediário cognitivo entre os estímulos condicionados ao consumo, ao craving e, eventualmente à recaída. Através do EA, os estímulos relacionados com as drogas são assinalados mais facilmente, sendo mais difícil desviar a atenção destes (e.g., Franken, 2003). Ou seja, o EA ocorre devido à saliência automática dos estímulos relacionados com a droga, deixando poucos recursos aos consumidores para aplicarem estratégias apropriadas de coping (Franken, 2003). Paralelamente, Franken (2003) sugere igualmente que o craving subjetivo e o EA têm relações mútuas excitatórias. Isto é, quando os estímulos relacionados com as drogas se tornam o foco da atenção, o craving subjetivo aumenta e isto, por sua vez, aumenta a captura de atenção, e assim por diante, até que finalmente a substância é procurada e autoadministrada (Franken, 2003).
estímulos
condicionados, então o consumo de drogas é um comportamento
Uma extensão da teoria da incentivo-sensitização
incentivo-
ISSN: in attribution process
De forma a integrar a teoria da incentivo-sensibilização de Robinson e Berridge (1993) e o modelo do processamento cognitivo automático de Tiffany (1990), que enfatizam a capacidade dos estímulos relacionados com a droga capturarem a atenção do consumidor em detrimento de outros estímulos, Di Chiara (2000) sugeriu que o incentivo e o hábito podem desempenhar diferentes papéis no início e na manutenção da adição,
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
18
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
variando conforme o nível de dependência. Nos estágios
Tiffany, 1990). Os estudos têm revelado que indivíduos
iniciais da dependência (e.g., de heroína), a adição seria
aditos
controlada por um processo de aprendizagem do
anfetaminas, cannabis, nicotina) demonstraram prejuízo
incentivo associado à ativação dopaminérgica (i.e., teoria
no funcionamento da atenção sustentada (Bolla et al.,
da incentivo-sensibilização) e, em estágios superiores
2002; Durazzo, Meyerhoff, & Nixon, 2012; Jovanovski,
(i.e., níveis de dependência maiores) o comportamento
Erb,
aditivo seria determinado por respostas baseadas no
Monterosso, & London, 2010). Por sua vez, a atenção
hábito
sustentada tem uma interação bidirecional com o
aprendido,
como
propõe
o
modelo
do
processamento automático (Di Chiara, 2000).
em
&
diversas
Zakzanis,
substâncias
2005;
Simon,
(e.g.,
Dean,
cocaína,
Cordova,
craving. Por exemplo, o craving para as substâncias exige recursos atencionais e retira a atenção dos estímulos não
Atenção seletiva nas dependências
relacionados com as substâncias, resultando num
A atenção seletiva é a capacidade mental de selecionar apenas uma pequena parte de informação contida no ambiente em detrimento de uma quantidade de estímulos disponíveis ao nosso redor, ou pelo menos suprimi-los ou atenuá-los (Driver, 2001). De acordo com as teorias atuais do comportamento aditivo, os consumidores de heroína e de outras substâncias tendem a direcionar a sua atenção para estímulos do ambiente,
associados
ao
consumo
comprometimento do desempenho nas tarefas de atenção sustentada (Sayette, Schooler, & Reichle, 2010). Lapsos de atenção durante a abstinência inicial estão relacionados com as recaídas, possivelmente por reduzirem a inibição comportamental (de Wit, 2009), conduzindo a um aparente “sequestro” do cérebro pelos estímulos relacionados com as substâncias (Sofuoglu, DeVito, Waters, & Carroll, 2013).
(substância),
vulgarmente chamado de EA (Field & Cox, 2008). Os estímulos ambientais associados aos reforçadores que as
Paradigmas utilizados para investigar o EA na adição (e.g., heroína)
substâncias propiciam adquirem saliência e capturam a
Entre os principais paradigmas usados para investigar o
atenção do consumidor, em detrimento de outros
EA relacionado com substâncias estão a tarefa de Stroop,
estímulos (e.g., Field & Cox, 2008; Field, Mogg, &
a tarefa Dot-Probe, os procedimentos Dual-task e os
Bradley, 2004; Field, Mogg, Zetteler, & Bradley, 2004;
potenciais evocados (ERPs) (Field, et al., 2009). De entre
Lubmand, Peters, Moog, Bradley, & Deakin, 2000). A
os paradigmas mais usados para testar o EA encontra-se
saliência conferida a estes estímulos condicionados pode
a versão modificada do teste stroop clássico. O teste
enviesar a atenção dos consumidores em tarefas
stroop no contexto aditivo pode ser entendido como
quotidianas não relacionadas com os consumos,
uma variante do teste stroop emocional (Cox, Fadardi, &
podendo este enviesamento, como consequência,
Pothos, 2006). Durante a tarefa são apresentadas
resultar no aumento de preocupações e pensamentos
palavras
intrusivos relacionados com a droga ou mesmo aumento
apresentadas duas categorias de palavras (relacionadas
de
concentração
com a substância de consumo e neutras) e essas duas
(Lubmand, et al., 2000). Assim, o EA para estímulos
categorias são emparelhadas ao nível de variáveis como
associados à heroína, parece desempenhar um papel
o comprimento da palavra e o número de sílabas (Cox, et
importante na transição do uso ocasional à dependência,
al., 2006). Através deste paradigma demonstrou-se que
assim como na recaída (Robinson & Berridge, 1993;
os
irritabilidade
e
dificuldade
de
ISSN: in attribution process
em
indivíduos
diferentes
cores.
dependentes
ou
Tipicamente
abstinentes
são
(em
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
19
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
tratamento) apresentam tempos de reação maiores
atenção nessa altura (Sayette & Hufford, 1994).
quando expostos a este tipo de estímulos emocionais
Adicionalmente, vários estudos com ERPs têm revelado
(Franken, Kroon, Wiers, & Jansen, 2000; Marissen et al.,
ondas lentas (tardias) e positivas (e.g., o P300) em
2006; Waters, Sayette, Franken, & Schwartz, 2005). No
resposta a estímulos relacionados com substâncias,
entanto, existe um consenso sobre a necessidade de
comparativamente com estímulos neutros, tendo em
avaliar o EA através de estímulos mais naturais (i.e., com
consideração
maior validade ecológica), como por exemplo através de
comparados com sujeitos de controlo, o que sugere um
fotografias da parafernália ligada às substâncias do
enviesamento atencional para estímulos emocionais nos
consumo, ao invés do uso de estímulos como simples
consumidores (e.g., Field, et al., 2009; Franken, Stam,
palavras (Lubmand, et al., 2000). Deste modo, outro
Hendriks, & Brink, 2003; Lubman, Allen, Peters, & Deakin,
método que tem sido utilizado neste domínio é a tarefa
2008). A latência do P300 tem sido relacionada com a
Dot-Probe, introduzida por MacLeod e colaboradores
duração do processamento percetivo e a magnitude com
(1986). Nesta tarefa, um par de estímulos (e.g.,
a intensidade do esforço de atenção envolvido em
fotografias, um estímulo relacionado com a substância
tarefas visuais (Ila & Polich, 1999).
grupos
de
consumidores,
quando
de consumo e um estímulo neutro) é apresentado num monitor em simultâneo (lado a lado). Quando os estímulos desaparecem, o local de um deles é imediatamente substituído por uma seta, por exemplo. Os participantes devem indicar o mais rapidamente possível o lado em que a seta aparece. Os tempos de reação são comparados e o EA para o estímulo emocional verifica-se quando este apresenta uma latência menor (Field, et al., 2009). A presença deste EA para indivíduos consumidores e abstinentes de heroína foi observada em vários estudos (e.g., Bearre, Sturt, Bruce, & Jones, 2007; Lubmand, et al., 2000). Nos procedimentos Dual-task, os participantes são expostos a estímulos relacionados com um determinada substância enquanto desempenham uma tarefa cognitiva (Field, et al., 2009). Por exemplo, Sayette e Hufford (1994) expuseram
indivíduos
fumadores
a
estímulos
relacionados com a substância ou face a estímulos neutros e deram-lhes instruções para responder rapidamente a estímulos auditivos apresentados em simultâneo. Os participantes foram mais lentos a responder quando eram apresentados os estímulos emocionais relativamente aos neutros, o que pode indicar que os estímulos emocionais foram o foco da
ISSN: in attribution process
20
Objetivo O EA envolve um sistema automático de alerta para os indivíduos dependentes de substâncias relativamente a estímulos relacionados com a(s) sua(s) droga(s) de eleição (Tiffany, 1990). Este enviesamento atencional pode prejudicar o desempenho em tarefas quotidianas e ter uma variedade de consequências negativas (e.g., na transição do uso ocasional de substâncias, à dependência ou mesmo à recaída). Estudos recentes têm revelado que o processamento de estímulos aversivos (e.g., cobras e aranhas) está dependente da carga cognitiva envolvida na tarefa (e.g., Öhman, Soares, Juth, Lindström, & Esteves, 2012; Soares, 2010). De acordo com a teoria “Perceptual Load Theory” (Lavie, 1995; Lavie, 2005), os estímulos distratores presentes no ambiente podem ser excluídos da perceção quando o nível da carga cognitiva no processamento de estímulos relevantes para a tarefa em que estão envolvidos os indivíduos é suficientemente alto ao ponto de esgotar a capacidade percetiva, deixando de haver capacidade disponível para processar os estímulos distratores. No entanto, e de acordo com esta teoria, nas situações de baixa carga cognitiva (BCC) uma capacidade de reserva de recursos cognitivos vai
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
possibilitar o processamento de distratores (Forster &
com a Comunidade Terapêutica Projecto Homem (CTPH)
Lavie, 2008; Lavie, Hirst, de Fockert, & Viding, 2004).
(todos da zona Norte de Portugal). Desta forma, trata-se
Uma questão em aberto é se o EA para os estímulos
de uma amostra de conveniência, tendo os grupos sido
emocionalmente apetitivos (e.g., heroína) podem ser
emparelhados em função da idade, nível de escolaridade
ignorados em alta carga cognitiva (ACC) ou se, conforme
e sexo. Os critérios de inclusão para o GT foram: ter
postula a Teoria de Lavie (e.g., 1995) estes estímulos são
idade igual ou superior a 18 anos; estar em tratamento
processados apenas em BCC, o que será alvo de análise
pelo menos há uma semana; entendimento suficiente da
no presente estudo. Desta forma, pretendemos avaliar o
língua
papel da carga cognitiva no processamento atencional de
preferencialmente de forma intravenosa (IV) e ou
estímulos motivacionalmente apetitivos, como é o caso
fumada; fornecimento de consentimento informado.
das drogas (e.g., heroína) em indivíduos com registo de
Para além disso, todos os indivíduos preencheram os
dependência (grupo em tratamento e grupo de altas
critérios de dependência de heroína (DSM-IV-TR, 2002),
terapêuticas). Com base no modelo Lavie (1995),
conforme avaliação pela equipa da CTPH. Os critérios de
esperamos
exclusão para o GT incluíam o facto de os participantes
que
nos
grupos
de
consumidores,
Portuguesa;
algum
consumo
problema
de
heroína
comparativamente com indivíduos sem registo de
apresentarem
oftalmológico
não
consumo de drogas, ocorra EA apenas na condição de
corrigido (por óculos ou lentes), apresentarem história,
BCC, i.e., maior interferência com a tarefa de atenção
sinais ou sintomas que fossem suspeita de existência de
(tempos de resposta mais longos e maior taxa de erros)
Perturbação Esquizofrénica, ideação suicida ou doença
quando surgem estímulos irrelevantes para a tarefa de
mental severa. Para os indivíduos do GAT os critérios de
atenção (discriminação de letras) mas relacionados com
inclusão foram: historial de dependência e de consumo
o consumo, comparativamente com estímulos neutros.
preferencialmente de forma IV e ou fumada de heroína; abstinência há pelo menos cinco anos; ter idade igual ou
Método
superior a 18 anos; entendimento suficiente da língua Portuguesa; fornecimento de consentimento informado.
Participantes
Os critérios de exclusão foram os mesmos do GT. Para o
Este estudo foi realizado com uma amostra de 60 participantes (54 homens, 90%; e 6 mulheres, 10%), com idades compreendidas entre os 18 e os 61 anos (M = 36.73 anos; SD = 8.94). Sendo assim, constituíram-se três grupos: o grupo tratamento (GT) com 20 indivíduos em tratamento (18 homens e 2 mulheres, M = 32,35 anos, SD = 7,75), o grupo de altas terapêuticas (GAT), constituído por 20 indivíduos abstinentes há pelo menos cinco anos (18 homens e 2 mulheres, M = 41,55; SD = 5,08) e o grupo controlo (GC), constituído por 20 indivíduos que nunca foram consumidores/dependentes de substâncias (18 homens e 2 mulheres, M = 36,30; SD = 10,83). O GT e o GAT foram recrutados em colaboração
ISSN: in attribution process
GC os critérios de inclusão foram: ter idade igual ou superior a 18 anos; entendimento suficiente da língua Portuguesa
e
o
fornecimento
do
consentimento
informado. Os critérios de exclusão foram os mesmos que os aplicados aos grupos anteriores, adicionando presença de historial de dependências de drogas. Foram excluídos três participantes (um de cada grupo). No GT um participante não completou a tarefa por questões de saúde (tremores intensos), no GAT uma pessoa queixouse de cansaço visual e não possuía os seus óculos no momento da realização da tarefa, e no GC o participante foi excluído por ter sido interrompido enquanto se encontrava a realizar a tarefa experimental.
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
21
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Desenho experimental
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
possível, pressionado essas mesmas teclas dependendo
Este estudo é de natureza quantitativa e transversal (Almeida & Freire, 2007), tendo sido aprovado pela Comissão de Ética da Universidade de Aveiro. Este estudo foi concebido como um desenho factorial misto 2x3x3, onde os fatores intra-sujeitos são a carga cognitiva (alta ou baixa), e o tipo de imagem (emocional, neutra ou sem imagem), e o fator inter-sujeitos é o tipo de grupo em estudo (GT, GAT e GC). Como variáveis dependentes foram definidas as taxas de acertos (TA) e
da letra alvo presente no monitor (X ou N). Na condição BCC, apresentada em 50% dos ensaios, aparecia no monitor apenas uma letra (X ou o N), enquanto que na condição ACC, apresentada nos restantes 50% dos ensaios, surgiam seis estímulos no monitor, i.e., seis letras dispostas em circulo à volta do ponto de fixação. A posição da letra alvo foi aleatória entre as seis posições possíveis em cada ensaio. Cada ensaio foi iniciado com a apresentação de um ponto de fixação central (uma cruz) sobre um fundo branco com a duração de 750 ms,
os tempos de resposta (TRs).
seguido de imediato pela exposição do(s) estímulo(s) (letra ou conjunto de letras) que permanecia no monitor Materiais e apresentação de estímulos Foram
usadas
diversas
fotografias
por 500ms. De seguida era apresentado um fundo (14
imagens
emocionais) relacionadas com o consumo de heroína (e.g., um homem não identificado a preparar e a injetar heroína, colheres, sacos de heroína, seringas), assim como um conjunto de fotografias de controlo (14 imagens neutras; e.g., peças de legos, cenas de uma pessoa não identificada a construir um modelo de comboio em lego, carris, etc.). Para os ensaios de treino, foram apresentadas apenas imagens neutras alternativas (e.g., uma bola, diversas frutas, uma caneca, um vaso com uma flor). Todas as imagens foram as mesmas usadas por Lubmand, et al., (2000). A programação da tarefa foi desenvolvida através do software E-Prime 2.0 Professional (Schneider, Eschman, & Zuccolotto, 2002). Todos os estímulos foram apresentados através de um computador portátil ASUS-K42J, com um monitor de 14,0 polegadas. Os participantes foram sentados a uma distância de 50 cm do monitor, o que implicou um ângulo 6º até ao centro de cada imagem. Os sujeitos foram instruídos a desempenhar uma tarefa na qual foram avaliadas as variáveis TRs e TA, respetivamente. Foi realizada uma tarefa de escolha forçada em que foi solicitado aos participantes que identificassem uma letra alvo (X ou N) o mais rapidamente e preciso quanto
ISSN: in attribution process
branco por 700 ms (independentemente da resposta do participante), surgindo novamente o ponto de fixação e assim sucessivamente. Em cerca de 14% dos ensaios surgia um estímulo distrator (i.e., irrelevante para a tarefa e, como tal, que os participantes deveriam ignorar). Os estímulos distratores constituíam as imagens já enunciadas (emocionais e neutras) que foram apresentadas no campo visual parafoveal, dispostas em quatro
possíveis
esquerda).
Estes
posições
(cima,
estímulos
baixo,
direita,
distratores
foram
apresentados em simultâneo com os estímulos alvo, i.e., a letra ou o conjunto de letras. A ordem de apresentação das diferentes condições (carga cognitiva, presença ou ausência de imagem distratora) e os estímulos (ausência ou presença do tipo de imagem distratora, letra alvo e letras não alvo) foram apresentadas aleatoriamente para cada participante. No início da tarefa, os participantes completaram 60 ensaios de prática (em 12 ensaios foram apresentadas imagens neutras e nos restantes ensaios não foram apresentadas imagens distratoras), com imagens neutras alternativas à tarefa experimental (e.g., vaso com flor, caneca, maquina fotográfica, bola) (Lubmand, et al., 2000) e foi disponibilizado um feedback ao participante consoante o seu desempenho: “Bom
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
22
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
trabalho, não respondeu ou precisa ser mais rápido”. De
de zero a três pontos (0, nunca/quase nunca; 1, às vezes;
seguida, foram apresentados 840 ensaios experimentais
2, muitas vezes; 3, sempre/quase sempre) e (0, fácil; 1,
(420 em AAC e 420 em BCC), 118 dos ensaios eram
difícil; 2, muito difícil; 3, impossível) para a questão cinco.
acompanhados de imagens distratoras (14 emocionais e
A pontuação da SDS varia entre o mínimo (0) e o máximo
14 neutras) e 722 ensaios não tinham qualquer distrator.
(15) pontos. A escala apresenta boas características
A tarefa experimental foi constituída por um total de 6
psicométricas (Gossop & Darke, 1995) e tem sido objeto
blocos de ensaios experimentais (140 ensaios/bloco),
de vários estudos psicométricos levados a cabo em
intercalados com 5 pausas para descanso.
diversas amostras de consumidores (Kay & Darke, 2002; Lawrinson, Copeland, Gerber, & Gilmour, 2007; Martin,
Instrumentos de Avaliação
Copeland, Gates, & Gilmour, 2006; Topp & Mattick, 1997). Incluímos este instrumento com o objetivo de
Questionário Sociodemográfico Este questionário integrou questões com vista à recolha
comparar o grau de severidade de dependência entre o GT e o GAT.
de dados sociodemográficos do participante, tais como o sexo, a idade, a residência, o estado civil, a escolaridade
The Desires for Drug Questionnaire (DDQ)
e a situação profissional para todos os grupos em estudo.
O DDQ é um questionário de autorresposta com 13
Numa segunda parte, a qual foi preenchida apenas pelos
itens, útil para medir os aspetos dimensionais do craving
grupos GT e GAT, foram recolhidos dados referentes aos
instantâneo (momento presente). Trata-se de uma escala
consumos, nomeadamente a idade de início dos
multi-item do tipo Likert que avalia diferentes dimensões
consumos, o tempo de consumo, os meses ou anos em
do craving presente (Franken, Hendriks, & van den Brink,
abstinência, a(s) substância(s) de dependência e/ou de
2002). O questionário é constituído por 13 itens, com
eleição, o número de tratamentos efetuados em
resposta em escala de Likert, em que o indivíduo assinala
comunidades, assim como outros tratamentos efetuados
uma
(e.g., casa).
6=concordo fortemente). As dimensões da DDQ são: (1)
das
7
possíveis
(0=discordo
fortemente
a
Desejo e Intenção, (2) Reforço Negativo, e (3) Controlo. The Severity of Dependence Scale (SDS) Uma das escalas mais utilizadas para a medição do construto (dependência) é a Severity of Dependence 2
Scale (SDS) (Gossop & Darke, 1995), e o seu objetivo é medir os componentes psicológicos e comportamentais da dependência. Consta de 5 itens que avaliam de forma dimensional e situam os indivíduos num continuum segundo o seu grau de severidade (Gossop & Darke, 1995). A escala é de autoresposta e é dada numa escala ordinal de 4 posições. Cada item é pontuado numa escala
Esta escala apresenta boas características psicométricas. O primeiro factor inclui sete itens que refletem o desejo e a intenção de consumir heroína (e.g., Neste momento consideraria consumir heroína) (α=.81), o segundo (α=.84) consiste em quatro itens que se referem ao alívio de estados negativos (e.g., se consumisse heroína agora sentir-me-ia menos tenso), o terceiro factor (α=.79) refere-se a itens que retratam o controlo percebido sobre o consumo de heroína (e.g., facilmente conseguiria limitar a quantidade de heroína se consumisse agora) (Franken, et al., 2002). Opámos pela inclusão deste
2
As seguintes escalas - SDS e DDQ foram submetidas a um processo de tradução e retroversão por indivíduos bilingues não familiarizados com os instrumentos, estando neste momento em processo de validação para a população Portuguesa (Soares, Martins & Rodrigues).
ISSN: in attribution process
questionário porque demonstra boa uma fiabilidade e validade dimensional. Paralelamente, também é indicado
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
23
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
em estudos de reatividade a estímulos relacionados com
mais explicações sobre os objetivos do estudo,
substâncias, onde o craving é avaliado antes a após a
remetendo-se a explicação detalhada para o final da
exposição aos estímulos (e.g., neutros e emocionais).
tarefa experimental. Pediu-se a todos os participantes
Deste modo, o objetivo foi usar a média de cada
que guardassem sigilo sobre o conteúdo do estudo (para
dimensão como índice da intensidade do craving antes e
evitar o efeito de contágio) aos outros participantes.
após a tarefa atencional.
Todos os indivíduos participaram voluntariamente no estudo. Os indivíduos que constituíram o GC não tinham
Procedimento
qualquer ligação à instituição CTPH e foram abordados
Os procedimentos neste estudo foram constituídos por
pessoalmente para participar neste trabalho.
quatro fases: Fase de Avaliação Subjetiva Fase de Seleção Primeiro
Posteriormente ao contacto inicial, solicitou-se o
contacto.
Nesta
fase,
contactou-se
pessoalmente a direção da Comunidade Terapêutica Projecto Homem (CTPH) para averiguar a possibilidade de efetuar o estudo com a sua colaboração. Após consentimento da CTPH, efetuaram-se duas reuniões: uma com a equipa da fase de comunidade terapêutica e outra com a equipa da fase de reinserção, tendo-se elaborado os respetivos grupos (GT e GAT) para o estudo. Caso os participantes cumprissem os critérios de inclusão/exclusão e facultassem o seu consentimento oral (presencial no GT e por contacto telefónico no GAT) recebiam instruções sobre o objetivo geral do estudo. Após a apresentação do objetivo geral aos participantes (de que se tratava de um estudo que tinha por finalidade
preenchimento participantes. instruções
das A
medidas
bateria
básicas
de
iniciais,
e
de
autorrelato
instrumentos um
aos
incluía
formulário
de
consentimento informado. A bateria de testes foi apresentada pela seguinte ordem: O questionário sociodemográfico e o SDS. Sempre que necessário, o investigador clarificava dúvidas sobre o preenchimento dos questionários. Uma vez finalizada esta tarefa, era agendada uma data para a fase experimental. Os participantes que tinham disponibilidade imediata, realizavam de seguida a tarefa de atenção, situação que evitámos
ao
máximo
pelo
cansaço
associado,
acontecendo apenas pontualmente com participantes dos grupos GAT e GC.
estudar populações com historial de consumo de drogas, heroína em especial), revelou-se que o estudo consistia
Fase experimental: Tarefa de atenção
em duas fases: primariamente o preenchimento de um
Nesta fase, os participantes do GT deslocaram-se para
conjunto de questionários que teria a duração de cerca
uma
de 20 minutos (para os gupos GT e GAT) e de 10 minutos
procedimento foi similar com os restantes grupos (salas
(para o GC) e uma segunda fase que envolvia uma tarefa
que tivessem o mínimo de interferência acústica, uma
de atenção, cujo objetivo era a discriminação de letras
temperatura amena e poucos estímulos sensoriais
apresentadas num monitor (destinada a todos os
envolventes). Pediu-se a todos os participantes que
grupos). Esta última tarefa, com a duração de 20
desligassem o telemóvel antes de iniciar a tarefa.
minutos, seria agendada num horário que fosse favorável
Posteriormente, os participantes sentavam-se em frente
ao experimentador e ao participante. Não foram dadas
de uma secretária onde preenchiam o DDQ (momento-
ISSN: in attribution process
sala
apropriada
facultada
pela
CTPH.
O
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
24
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
1). De seguida, explicou-se a tarefa em detalhe (“a sua
mantivessem muito ativados, eram encaminhados à
tarefa é pressionar a tecla X ou N mediante a letra alvo X
equipa terapêutica que prestaria apoio com o intuito de
ou N, as letras alvo podem aparecer sozinhas ou
diminuir esta ativação, o que aconteceu com quatro
acompanhadas de outras letras, podem aparecer
participantes.
imagens ou não, deve ignorar as imagens e concentrar-se apenas nas letras N ou X ”). Os participantes não foram informados acerca do conteúdo das imagens distratoras. Nessa altura, esclareceram-se quaisquer dúvidas que poderiam surgir e permitiu-se aos participantes um intervalo de tempo para descanso antes de iniciarem a tarefa experimental. Dava-se início à tarefa experimental
Análise de Dados As análises estatísticas foram realizadas de acordo com as características das distribuições, as dimensões das amostras e o tipo de variáveis. Para o efeito, usou-se o software informático de análise estatística, o IBM SPSS Statistics 19.
com uma fase de treino. Nesta fase o investigador sentava-se ao lado do participante, onde pontualmente o reforçava (e.g., “isso”!) quando acertava nas letras alvo
Resultados Amostra
ou pressionava a tempo as teclas X ou N (algo que também acontecia através de informação no monitor, nos ensaios de treino, conforme previamente referido). Quando terminava a tarefa de treino, os participantes eram informados que o feedback informativo (“Bom trabalho, não respondeu ou precisa ser mais rápido”) não iria surgir durante a tarefa experimental propriamente dita. Os participantes foram ainda informados de que iriam dispor de cinco períodos de intervalo ao longo da tarefa para descanso. Neste período, o investigador ausentava-se da sala por forma a reduzir o efeito de interferência do experimentador. Finalizada a tarefa atencional, os participantes preenchiam a escala de craving (DDQ momento-2) já referida previamente.
Participaram neste estudo 60 indivíduos (54 homens, 90% e 6 mulheres, 10%), com idades compreendidas entre os 18 e os 61 anos (M = 36, 73 anos; SD = 8,94). No que se refere ao distrito de residência, 80% dos participantes residem na região norte e 20% da região centro de Portugal. Mais especificamente, 34 (56%) dos participantes são de Braga, 12 (20%) de Coimbra, 10 (16,7%) do Porto, 2 (3,3%) de Famalicão, 1 (1,7%) de Bragança e 1 (1,7%) de Viana do Castelo. Quanto ao estado civil, a maioria dos participantes era solteiro 28 (46,7%), 22 (36%) era casado ou vivia em união de fato, 9 (15%) era separado ou divorciado e um (1,7%) era viúvo. No que diz respeito ao nível de escolaridade, a maioria dos participantes possuía o ensino preparatório 27
Entrevista pós-experimental (Debriefing)
(45%), 24 (40%) tinha o ensino secundário completo ou técnico, 4 (6,7%) frequentava o ensino universitário, 3
Neste momento explicou-se aos participantes o porquê de não terem sido revelados previamente os detalhes acerca dos objetivos da investigação. Os participantes permaneceram com o investigador durante algum tempo de modo a esclarecer quais os objetivos do estudo, esclarecer dúvidas e para que a sua atividade fisiológica e eventual craving diminuísse, de modo a salvaguardar o
(5,0%) possuía o ensino universitário completo, 1 (1,7%) tinha habilitações ao nível do ensino primário e um participante (1,7%) o ensino primário incompleto. No que concerne à situação profissional, 30 (50%) dos participantes
encontrava-se
empregado,
25
(41%)
desempregado, 3 (5%) estavam reformados e 2 (3,3%) eram estudantes. A média de idade de início dos
bem-estar dos participantes. Contudo, se estes se
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
25
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
consumos dos participantes dos grupos GT e GAT era de
médias de vários parâmetros, aplicamos o teste
16,33 anos (SD = 4.68), com um tempo médio de
estatístico t-student para amostras independentes. Os
consumos de 14,39 anos (SD = 6.68). A média do tempo
grupos GT e GAT não diferem significativamente quanto
de tratamento em meses foi de 15,41 (SD = 10.83) e a
à idade de início dos consumos nem relativamente ao
média do tempo de abstinência em meses foi de 69,03
tempo de consumo de substâncias (Tabela 1). No que diz
(SD = 77.73). Relativamente ao número de tratamentos
respeito ao tempo sem consumir (em meses) os grupos
realizados em comunidades a média foi de 1,58 (SD =
diferem de forma significativa, sendo que o GAT, como
0.90), sendo que 39 participantes assinalaram outros
esperado, não consome há mais tempo que o GT. Em
tratamentos/desintoxicações (e.g., em casa), verificando-
relação ao tempo de tratamento em meses na CTPH
se uma média de 4,82 (SD = 4.91). Quanto à substância
existe evidência estatística para afirmar que o GAT
de dependência dos participantes, 40 (100%) eram
esteve mais tempo em tratamento relativamente ao GT.
dependentes
aos
De facto, conforme referido pela equipa terapêutica, os
policonsumos, 10 (25%) afirmaram consumir canábis, 18
tempos de tratamento eram mais elevados no passado,
(45%) cocaína, 17 (42%) Speedball, 5 (13%) ecstasy e 7
independentemente do GT ainda se encontrar em
(18%) álcool. No que diz respeito ao modo do consumo
tratamento. Quanto ao número de tratamentos (em
de heroína referido antes de iniciarem o tratamento, 8
comunidades e outros), os grupos em causa não
(20%) injetavam e fumavam, 12 (30%) injetavam e 20
apresentaram diferenças estatisticamente significativas,
(50%) fumavam.
apesar do GT apresentar números mais elevados. No que
de
heroína.
Relativamente
Cada grupo foi constituído por 18 homens e 2 mulheres. Relativamente à idade, o grupo controlo (GC) apresenta uma média de 32.32 (SD = 7.75) anos, o grupo de altas terapêuticas (GAT) de 41.55 (SD =5.08) anos e o grupo controlo (GC) de 36.30 (SD = 10.83). Desta forma, o GAT
concerne à média da pontuação da SDS existe evidência estatística para afirmar que o GAT apresenta maiores valores no índice de gravidade de dependência. Apesar dos grupos GT e GAT terem historial de policonsumos, eram apenas dependentes de heroína.
apresentou uma média significativamente mais elevada de idades. Quanto ao número de anos de escolaridade, o GT apresenta uma média de 10,15 anos (SD = 2.54), o GAT de 11.40 (SD = 2.09) e o GC de 10.70 anos (SD =
Tabela 1.
2.52). De seguida, por forma a compararmos algumas
Características dos Grupos GT e GAT.
GT
GAT
(N = 20)
(N = 20)
Média (SD)
Média (SD)
T
P
15.60 (2.80)
17.05 (6.00)
-.980
ns
Tempo de consumo (anos)
14.88 (7.98)
13.90 (5.24)
.457
Ns
Tempo sem consumir (meses)
7.40 (5.09)
130.70 (66.20)
-8.302
<.001
Tempo de tratamento (meses)
7.18 (4.68)
23.65 (8.72)
-7.446
<.001
em
1.70 (1.03)
1.45 (0.76)
.873
ns
Outros tratamentos (e.g., em
5.79 (4.87)
3.90 (4.89)
1.209
ns
10.15 (2.08)
11.70 (2.23)
-2.273
<.05
Idade de início de consumo (anos)
CTPH NúmeroTratamentos comunidades
casa) SDS
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
26
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Resultados referentes ao índice de craving (DDQ)
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
esta diferença estatisticamente significativa [(t(58)= 3.1658, p< .01)]. No mesmo sentido, e em relação à
Para averiguarmos se existiam diferenças significativas entre os grupos em relação ao craving presente, avaliado pelas dimensões Desejo e Intenção, Reforço Negativo e Controlo, a partir da Escala DDQ (momento-1), utilizámos o teste t-student para amostras independentes, para os dados avaliados antes da tarefa atencional.
dimensão “Reforço Negativo”, a média do GT foi igualmente superior (M = 1.93; SD = 1.51) à do GAT (M =.53; SD = 1.40), sendo a diferença estatisticamente significativa, [(t (38)=3.039, p<.01)]. Contudo, na dimensão “Controlo” a média do GT foi inferior (M = 1.18; SD = 1.41) à do GAT (M =1.58;SD = 2.03) apesar das
A média de craving subjetivo para a dimensão “Desejo e
diferenças não serem estatisticamente significativas, [(t
Intenção” foi superior no GT (M =.81; SD =.91),
(38) = -.72, p= .47)] (ver Figura 1).
comparativamente com o GAT (M=.04; SD =.91), sendo
27
Figura 1. Média do Craving (DDQ) nas três dimensões antes da Tarefa de Atenção para os grupos GT e GAT.
Para verificarmos eventuais diferenças significativas após
.00), sendo as diferenças estatisticamente significativas,
a tarefa atencional entre os grupos relativamente ao
[(t (38)= 3.24, p <.01)]. Os resultados foram congruentes
craving presente, avaliado pelas dimensões anteriormente
para a dimensão Reforço Negativo, relevando níveis
referidas da mesma escala (DDQ momento-2), efetuámos
superiores para o grupo GT (M=1.56, SD= 1.56), [t(38)=
o mesmo teste estatístico.
2.34, p<.05)]. Contudo, relativamente à dimensão Controlo, o grupo GAT (M= 1.43; SD=2.34) revelou
Os resultados após a tarefa atencional revelaram maiores níveis de “Desejo e Intenção” no grupo GT (M= .69; SD = .95), comparativamente com o grupo GAT (M=.00; SD =
resultados superiores face ao grupo GT (M=1.35; SD=1.69), apesar da ausência de significância estatística, [(t(38)= -.13, p=.90)] (ver Figura 2).
6 4
GT
2
GAT
0 Desejo e Intenção
Reforço Negativo
Controlo
Figura 2. Média do Craving (DDQ) nas três dimensões após a Tarefa de Atenção para os grupos GT e GAT
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Tempos de Resposta
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
fator (carga cognitiva) com os restantes fatores, i.e., o tipo de grupo e o tipo de estímulo, (p >.05). No entanto,
Com o intuito de avaliar o papel da carga cognitiva no processamento
atencional
de
estímulos
motivacionalmente apetitivos (e.g., heroína) nos grupos em estudos (GT, GAT e GC) foram calculados para cada participante os tempos médios de resposta (TRs) e de taxas de acerto (TA) em função da carga cognitiva (alta ou baixa) e do tipo de distrator (emocional, neutro ou sem imagem) posicionados no campo visual parafoveal, tendo-se efetuado análises da variância mista (ANOVAS) (ver Figura 3).
os resultados revelaram que os TRs eram diferenciados em função do estímulo distrator apresentado, F(2,114) = 4.39, p<.05, verificando-se TRs menores relativamente às condições
sem
imagem
distratora
(M=531),
comparativamente com as condições que em era apresentado um estímulo neutro (M=546) ou um estímulo emocional (M = 542), tendo os testes post-hoc Tukey revelado diferenças estatisticamente significativas entre a condição sem estímulo distrator e a condição estímulo distrator neutro (ver Figura 3.2). Contudo, e ao
Os resultados revelaram um efeito principal da carga
contrário do esperado, não se verificou qualquer
cognitiva, verificando-se que os TRs diferiram consoante
interação significativa entre os fatores tipo de estímulo e
a condição da carga cognitiva (ACC ou BCC), F(2,57) =
os grupos. Por último, os resultados demonstraram que o
40.36, p<.001, com TRs mais elevados (i.e., maior
GAT (M = 567) apresentava uma média de TRs
interferência na tarefa atencional) em ACC (M=577) e
significativamente mais elevada do que o GT (M = 535) e
menores em BCC (M=502), tal como esperado em função
o GC (M = 517), conforme relevado pelo efeito principal
da teoria de Lavie (e.g., 1995) (ver Figura 3.1). Contudo,
significativo, F(1,57) = 3.44, p<.05 (ver Figura 3.3).
630 610 590 570 550 530 510 490 470 450
GT GAT GC
TRs (ms)
ACC
630 610 590 570 550 530 510 490 470 450
BCC GT GAT GC Sem Imagem Imagem Imagem TR Neutra TR Emocional TR
Sem Imagem Imagem Imagem TR Neutra TR Emocional TR
Figura 3. Médias de TRs em função da Alta Carga Cognitiva e Baixa Carga Cognitiva e do tipo de estímulo distrator nos diferentes grupos (GT, GAT e GC)
TRs (ms)
TRs (ms)
os resultados não revelaram qualquer interação deste
600 580 560 540 520 500 480 ACC
BCC
Figura 3.1 Médias dos TRs em função da Carga Cognitiva (ACC e BCC)
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
28
TRS (ms)
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
600 580 560 540 520 500 480 Sem Imagem
Imagem Neutra
Imagem Emocional
Figura 3.2 Média dos TRs em função do tipo de estímulo distrator (sem distrator, com distrator neutro e com distrator
TRs (ms)
emocional).
600 580 560 540 520 500 480
29 GT
GAT
GC
Figura 3.3 Média dos TRs em função do tipo de grupo (GT, GAT e GC) Taxas de Acertos Os resultados referentes às taxas de acerto na tarefa
F(1,57) = 80,72, p<.001 (ver Figura 4.1). Contudo, e
atencional, i.e., discriminar corretamente as letras
tal como nos resultados relativos aos TRs, não se
alvo (X ou N) foram, de um modo geral, consistentes
verificou qualquer interação desta variável com os
com os resultados dos TRs (ver Figura 4). Verificou-
fatores tipo de estímulo e tipo de grupo, ao contrário
se um efeito principal da carga cognitiva, que
do esperado. Adicionalmente, também não foi
demonstrou
TA
verificado qualquer efeito principal com o tipo de
92%),
estímulo e com o tipo de grupo, contrariamente ao
na
os
participantes
condição
BCC
tinham (M=
% Acertos
comparativamente com a condição ACC (M = 78%),
82% 81% 80% 79% 78% 77% 76% 75% 74% 73% 72%
que se verificou nos TRs.
ACC GT GAT GC Sem Imagem Imagem Imagem Neutra AC Emocional AC AC
% Acertos
superiores
que
BCC
95% 94% 93% 92% 91% 90% 89% 88% 87% 86% 85% 84%
GT GAT GC Sem Imagem Imagem AC Neutra AC
Imagem Emocional AC
Figura 4. Média de TA em função da Alta Carga Cognitiva e Baixa Carga Cognitiva tendo em conta os diferentes tipo de estímulos nos diferentes grupos (GT, GAT e GC)
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
% TA
100% 80% 60% ACC
BCC
Figura 4.1 Percentagem da Taxa de Acertos em função da carga cognitiva (ACC e BCC)
Discussão e Conclusão
grupos GT e GC não diferiram entre si. Relativamente ao
Os resultados do presente estudo não foram de forma
craving subjetivo avaliado pelas subescalas do DDQ,
geral consistentes com a nossa hipótese. O objetivo
verificaram-se índices menores após a tarefa de atenção.
principal deste estudo foi averiguar pela primeira vez qual
Nesta perspetiva, o modelo de Franken (2003) é
o papel do EA no abuso de drogas em populações com
congruente com os nossos resultados globais, pois sugere
historial de dependência, tendo por base a teoria da carga
que o craving subjetivo e o EA têm relações de ativação
cognitiva proposta por Lavie (1995). Contudo, os
mútuas, i.e., quando os estímulos relacionados com as
resultados não revelaram diferenças significativas no EA
substâncias se tornam o foco da atenção, o craving
em função do tipo de estímulo e do tipo de grupo, i.e., não
subjetivo
revelaram que os grupos GT e GAT apresentavam
Entretanto,
maiores TRs e menores TA (maior interferência com a
consumidores de heroína que investigou os efeitos dos
tarefa de atenção) nas condições em que eram
estímulos relacionados com a heroína, comparativamente
apresentadas imagens distratoras relacionadas com o
com estímulos neutros em tempos diferentes de
consumo, comparativamente com as condições em que
abstinência (1, 3, 12 e 24 meses), no qual o craving
eram apresentadas imagens neutras ou em que não eram
avaliado foi significativamente maior nos dois primeiros
apresentadas
Mais
tempos de abstinência, comparativamente aos últimos
relevante para a nossa hipótese era o facto de este EA
dois (12 e 24 meses) (Wang et al., 2012), tal como
ocorrer especificamente nas condições de BCC, conforme
apontam os nossos resultados, pois o craving também é
prevê a teoria de Lavie (1995). Contudo, e ao contrário do
menor no GAT.
quaisquer
imagens
distratoras.
aumenta a
e
vice-versa
literatura
reporta
(Franken, um
estudo
2003). entre
esperado, apenas obtivémos um efeito principal da carga cognitiva, revelando maior interferência na tarefa de atenção nas condições de AAC, um resultado que é consistente com os estudos em que a carga cognitiva é manipulada (e.g., Soares, 2012). Quanto aos TRs perante o fator tipo de imagem (sem imagem, neutro e emocional),
apenas
se
verificaram
diferenças
significativas relativamente às condições sem imagem distratora, comparativamente com as condições em que era apresentado um distrator neutro. Contudo, e de modo surpreendente,
verificaram-se
TRs
estatisticamente
significativos e mais elevados no GAT, sendo que os
ISSN: in attribution process
A inclusão do grupo de altas terapêuticas com um mínimo de cinco anos de abstinência teve como substrato de sustentação um estudo longitudinal conduzido ao longo de 33 anos com populações dependentes de heroína (242 sujeitos), o qual demostrou que pelo menos cinco anos de abstinência reduzia substancialmente a probabilidade de futuras recaídas. Contudo, um quarto dos participantes recaiu após 15 anos de abstinência (Smyth, et al., 2007). No entanto, estes resultados não foram ao encontro dos registados por Vaillant (1996), que demostrou que a recaída
após
cinco
anos
de
abstinência
entre
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
30
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
consumidores de álcool era muito rara (Vaillant, 1996), o
em conta a carga cognitiva (ACC ou BCC) quando
que sugere que a adição de heroína pode ser uma
comparados os grupos em estudo, a não ser quanto aos
condição para toda a vida, o que nos conduziu à
TRs, que foram maiores e estatisticamente significativos
expetativa de que este grupo poderia, conjuntamente com
para
o grupo em tratamento, apresentar EA para os estímulos
comparativamente com as condições em que o estimulo
relacionados com o consumo (Smyth, et al., 2007). De
distrator era neutro ou emocional. Adicionalmente, não se
facto, no nosso estudo não se verificou o EA para os
verificaram diferenças significativas entre os sujeitos do
estímulos emocionais (heroína), e os resultados do
grupo tratamento (i.e., o grupo como um todo), nem nos
craving ao invés de aumentarem após a exposição, como
restantes grupos, relativamente ao EA para estímulos
demonstram diversos estudos com diversos paradigmas
distratores em qualquer das condições. Torna-se, contudo,
atencionais (e.g., Field & Cox, 2008; Field, Mogg, &
pertinente assinalar que o GAT apresentou TRs mais
Bradley, 2004; Franken, et al., 2000; Lubmand, et al.,
elevados e estatisticamente significativos. De facto, a
2000), diminuíram. Esta diminuição, pode eventualmente
idade pode ter sido uma variável diferenciadora neste
explicar parte dos resultados nulos obtidos no nosso
domínio, pois a média de idades do GAT foi
estudo.
significativamente mais elevada, e uma vez que os TRs
a
condição
sem
imagem
distratora,
aumentam à medida que a idade vai avançando, conforme A teoria da carga cognitiva propõe dois mecanismos de atenção seletiva: o primeiro refere que os estímulos distratores na condição de ACC são excluídos dos mecanismos atencionais pela insuficiente capacidade de processamento em tais condições, e o segundo diz respeito um processo atencional de controlo mais ativo que é necessário para rejeitar os estímulos distratores mesmo quando estes são percecionados (na condição BCC) (Lavie & Tsal, 1994). Desta forma, a atenção seletiva pode ser dissociada através dos efeitos opostos dos diferentes tipos de carga cognitiva que deverão interferir com os estímulos distratores (Lavie, et al., 2004). Assim, na condição de ACC era esperada uma
tem sido demonstrado por muitos investigadores como um fenómeno comum a todas as tarefas que envolvam velocidade de movimentos, independentemente dos estímulos sensoriais ou respostas motoras envolvidas, nomeadamente face a estímulos visuais (Nebes, 1978). Como este paradigma atencional nunca foi usado em populações desta natureza, e correndo o risco de alguma incongruência ao compararmos estes resultados a outros realizados através de diferentes paradigmas atencionais, teremos contudo de o fazer, pois que sendo um paradigma objetivo deverá ser replicado em estudos futuros, e portanto exposto a uma crítica racional, tal como os demais.
redução da interferência dos estímulos distratores, e na condição de BCC era esperado um aumento da
A literatura demostra que os estímulos distratores
interferência desses mesmos estímulos, o que não se
apresentados no ponto de fixação (fóvea) são mais difíceis
constatou.
estudos
de ignorar do que os distratores na área parafoveal e
efetuados com este paradigma atencional, no nosso
periférica da visão (Beck & Lavie, 2005). Os estímulos
estudo, e com este tipo de população em concreto, não
apresentados na fóvea recebem uma representação visual
foram
mais apurada (e.g., ativam mais células no córtex visual e
Contrariamente
observadas
à
maioria
diferenças
dos
estatisticamente
significativas no EA para estímulos relacionados com
são
substâncias (e.g., heroína) quando comparados os grupos
comparativamente com os estímulos localizados na
do estudo (GT, GAT e GC). Aliás, não se encontrou
parafovea e no campo visual periférico (Beck & Lavie,
qualquer
estímulos
2005). Ao analisarmos a literatura sobre o EA nas
distratores (sem imagem, neutro ou emocionais), tendo
adições, encontramos resultados semelhantes aos do
interferência
significativa
dos
ISSN: in attribution process
percebidos
com
maior
acuidade
visual)
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
31
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
nosso resultados ainda que através do recurso a outros
(2012). De facto, o tempo médio de abstinência dos
paradigmas
foram
grupos do nosso estudo é muito superior a duas semanas.
encontrados em estudos com populações abstinentes de
Estudos longitudinais são necessários para clarificar esta
álcool, onde não se encontraram diferenças significativas
questão, que entretanto não se coloca pelo menos de
entre o grupo de controlo e o grupo de abstinentes,
forma direta aos resultados do nosso estudo, pois não
quando expostos a estímulos emocionais (i.e. relacionados
foram verificadas diferenças no EA entre o GT (média de
com o álcool) com a duração de 500 ms (e.g., Field,
abstinência de 7.40 meses) e o GAT (média de
Moog, Mann, Bennett, & Bradley, 2012; Noël et al.,
abstinência de 130.70 meses). Contudo, é pertinente
2006; Townshend & Duka, 2007), mas não com outros
referir que na CTPH o tratamento administrado privilegia
tempos de exposição, o que sugere que o EA pode estar
o evitamento dos estímulos (internos e externos)
associado a tempos específicos de exposição. Assim, os
relacionados com substâncias durante toda a fase de
resultados sugerem que os indivíduos abstinentes (em fase
tratamento. Desta forma, estes resultados podem indicar
de tratamento) têm a capacidade para evitar os estímulos
que o treino do evitamento atencional desses estímulos
emocionais (e.g., heroína), quando estes têm uma duração
pode
de apresentação de 500 ms. Adicionalmente, um estudo
manutenção da abstinência, tal como sugerem (Field, et
que investigou o EA numa população com distúrbios
al., 2012). Entretanto, por forma a avaliar a relevância
alimentares demonstrou que os estímulos emocionais
clínica do EA para estímulos relacionados com heroína,
(comida) eram evitados aos 500 ms. No entanto, aos 1500
um estudo teve como objetivo principal verificar se este
ms não ficou demonstrado um processo atencional
EA poderia ser reduzido ou eliminado através da terapia
diferenciado, comparativamente com os estímulos neutros
de exposição aos estímulos emocionalmente apetitivos
(Veenstra, de Jong, Koster, & Roefs, 2010). A literatura
(Marissen, 2005). Os resultados deste estudo longitudinal
tem demostrado que perante a exposição de estímulos
de três meses com 109 participantes mostraram que a
emocionais (e.g., álcool, alimentação) com a duração de
exposição aos estímulos (com vista ao processo de
500 ms, é possível desviar a atenção (e.g., Field, et al.,
extinção da resposta) relacionados com a heroína (durante
2012; Veenstra, et al., 2010). Assim, se for observado um
9 sessões) não reduziu o EA, comparativamente a um
EA, este pode refletir uma atenção sustentada ao invés de
grupo controlo (Marissen, 2005). O efeito nulo da terapia
uma vigilância inicial (Field & Cox, 2008). Uma
de exposição sugere que o EA atencional para estímulos
característica dos participantes que pode ter contribuído
motivacionalmente apetitivos (e.g., heroína) associados ao
para os resultados do nosso estudo foi a duração do tempo
“wanting”, é mais difícil de extinguir através de
em
estudos
tratamentos comportamentais do que o EA associados ao
demonstraram o evitamento aos estímulos relacionados
“avoiding”. Por exemplo, o EA relacionado com
com o álcool com tempos de apresentação de 500 ms em
estímulos ansiogénicos pode ser reduzido ou eliminado
tempos de abstinência de cerca de duas semanas ou mais,
através da terapia cognitivo-comportamental pelo uso de
mas não em participantes abstinentes há menos de duas
técnicas de exposição (e.g., Lavy, van den Hout, & Arntz,
semanas (Noël, et al., 2006; Vollstädt-Klein, Loeber, von
1993; Mathews, Mogg, Kentish, & Eysenck, 1995; Watts,
der Goltz, Mann, & Kiefer, 2009). Deste modo, torna-se
McKenna, Sharrock, & Trezise, 1986). Paralelamente,
plausível a possibilidade de que o evitamento cognitivo
podemos sugerir que as cognições associadas ao avoiding
dos
desenvolver
são facilmente auto-desmistificadas após as técnicas de
progressivamente consoante o aumento dos períodos de
exposição, “ não evitei a aranha, deixei-a caminhar na
abstinência e de tratamento, tal como sugerem Field, et al.
minha mão e continuo vivo”, enquanto que as cognições
atencionais.
abstinência.
estímulos
Por
Estes
exemplo,
emocionais
se
resultados
alguns
possa
ISSN: in attribution process
eventualmente
ter
resultados
benéficos
na
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
32
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
que acompanham os estímulos emocionalmente apetitivos
resultados nulos do nosso estudo podem eventualmente
(e.g., heroína) continuam racionais após a técnica de
ser
exposição, “ posso não consumir heroína, mas se
automático de Tiffany (1990), ou seja, pela interrupção
consumisse sentir-me-ia muito bem” (Marissen, 2005).
dos esquemas habituais de ação aprendidos, que poderão
Adicionalmente,
ter
a
teoria
da
incentivo-sensitização
consistentes
sido
com a
contrariados
teoria
pelo
do
processamento
evitamento
cognitivo
(Robinson & Berridge, 1993) pode fornecer algumas
(demostrando ausência do EA), derivados da terapia
explicações para o porquê das terapias baseadas na
ministrada na CTPH que privilegia de certa forma o
extinção não serem eficazes ou até provocarem prejuízos
evitamento perante os estímulos associados ao consumo
(isto porque houve uma taxa mais elevada de desistência
durante o tratamento, como referido anteriormente.
dos participantes que fizeram parte deste processo no estudo referido) (Marissen, 2005). Os autores da teoria da incentivo-sensibilização
afirmam
que
através
dos
consumos repetidos, ocorrem neuroadaptações cerebrais, o que pode tornar os adictos hipersensíveis às drogas ou aos estímulos associados. Deste modo, pode ser que através do processo de extinção as neuroadaptações em camadas superficiais do cérebro responsáveis pela sensibilização sejam extintas. Por sua vez, supõe-se que as
neuroadaptações
atuais
mais
profundas
sejam
resistentes à extinção e por isso persistam (Robinson &
Podemos ainda argumentar que a disparidade relativa ao tamanho e características físicas dos estímulos usados, tal como as cores policromáticas dos estímulos distratores vs cores monocromáticas para os estímulos alvo, a distância entre
os estímulos,
os
tempos de
exposição
e,
essencialmente, a perceção resultante da pressão que a tarefa impunha aos participantes (pois tinham a perceção de um tempo limite de resposta, 500ms), possam ter interagido para os resultados nulos do nosso estudo. Tendo em conta uma limitação deste estudo (ausência do grupo de consumidores), uma questão interessante para
Berridge, 1993).
futuras investigações seria analisar se a inclusão de um No presente estudo, os estímulos foram apresentados com
grupo de consumidores para comparação conduziria a
uma duração de 500 ms e, por isso, disponíveis
resultados diferentes, assim como averiguar se a
conscientemente
supraliminares),
manipulação dos estímulos distratores e dos estímulos
permitindo uma potencial oportunidade para a aplicação
alvo, isto é, se se apresentassem os estímulos distratores
de
evitação,
no ponto de fixação (fóvea) e se colocássemos os
influenciando assim a atenção visual. Em conformidade,
estímulos alvo na parafovea (e.g., 50% dos ensaios em
podemos sugerir que o evitamento perante os estímulos
cada condição, sem a pressão do tempo de resposta antes
emocionais pode ter surgido como uma forma de
de se passar para o ensaio seguinte), os resultados seriam
prevenção do craving para estímulos “proibidos”, tal
os mesmos ou se seriam diferentes.
processos
(i.e.,
mentais
estímulos
estratégicos
de
como sugerem Veenstra, et al., (2010). Deste modo, os
harm reduction service. Addictive Behaviors, 32 (4),
Referências Almeida, L.S. & Freire, T. (Eds.). (2007). Metodologia da investigação em psicologia e educação (4ª ed.). Braga: Psiquilíbrios.
784-792. doi: 10.1016/j.addbeh.2006.06.019 Beck, D.M. & Lavie, N. (2005). Look Here but Ignore What You See: Effects of Distractors at Fixation.
Bearre, L.; Sturt, P.; Bruce, G. & Jones, B.T. (2007). Heroin-related attentional bias and monthly frequency of heroin use are positively associated in attenders of a
ISSN: in attribution process
[Article].
Journal
of
Experimental
Psychology.
Human Perception & Performance, 31 (3), 592-607. doi: 10.1037/0096-1523.31.3.592
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
33
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Bolla, K.I.; Brown, K.; Eldreth, D.; Tate, K.; Cadel, J.L.;
Field, M. & Cox, W.M. (2008). Attentional bias in
Pope Jr, H.G. & Taper, S.F. (2002). Dose-related
addictive behaviors: A review of its development,
neurocognitive effects of marijuana use. Neurology,
causes,
59, 1337-1343.
Dependence,
Cox, W.M.; Fadardi, J.S. & Pothos, M. (2006). The
and
consequences. 97
Drug
(1–2),
and
Alcohol
1-20.
doi:
10.1016/j.drugalcdep.2008.03.030
Addiction-Stroop test: Theoretical considerations and
Field, M.; Mogg, K. & Bradley, B.P. (2004). Cognitive
procedural recommendations. Psychological Bulletin,
bias and drug craving in recreational cannabis users.
132 (3), 443-476. doi: 10.1037/0033-2909.132.3.443
Drug and Alcohol Dependence, 74 (1), 105-111. doi:
de Wit, H. (2009). Impulsivity as a determinant and consequence of drug use: a review of underlying processes. Addiction Biology, 14 (1), 22-31.
10.1016/j.drugalcdep.2003.12.005 Field, M.; Mogg, K., Zetteler, J. & Bradley, B.P. (2004). Attentional biases for alcohol cues in heavy and light
Di Chiara, G. (1998). A motivational learning hypothesis of the role of mesolimbic dopamine in compulsive drug use. Journal of Psychopharmacology, 12 (1), 5467. doi: 10.1177/026988119801200108
social drinkers: the roles of initial orienting and maintained attention. Psychopharmacology, 17(1), 8893. doi: 10.1007/s00213-004-1855-1 Field, M.; Moog, K., Mann, B.; Bennett, G.A. & Bradley,
Di Chiara, G. (1999). Drug addiction as dopaminedependent associative learning disorder. European Journal of Pharmacology, 375 (1–3), 13-30. doi:
B.P.
(2012).
Attencional
Biases
in
Abstinent
Alcoholics and Their Association With Craving. Psychology
of
Addictive
Behaviors.
doi:
10.1037/a0029626
10.1016/s0014-2999(99)00372-6 Di Chiara, G. (2000). Role of dopamine in the behavioural actions of nicotine related to addiction. European Journal of Pharmacology, 393 (1–3), 295-
Field, M.; Munafò, M.R. & Franken, I.H.A. (2009). A Meta-analytic
Investigation
of
the
Relationship
Between Attentional Bias and Subjective Craving in Substance Abuse. Psychological bulletin, 135 (4),
314. doi: 10.1016/s0014-2999(00)00122-9
589-607. DSM-IV-TR,
A.P.A.
(Ed.).
(2002).
Manual
de
Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (4 th., text rev. ed.). Lisboa: Climepsi Editores.
Forster, S. & Lavie, N. (2008). Attentional capture by entirely irrelevant distractors. Visual Cognition, 16 (23), 200-214. doi: 10.1080/13506280701465049
Durazzo, T.C.; Meyerhoff, D.J. & Nixon, S.J. (2012). A comprehensive assessment of neurocognition in middle-aged chronic cigarette smokers. Drug and Alcohol Dependence, 122 (1–2), 105-111. doi: 10.1016/j.drugalcdep.2011.09.019
Franken, I.H.A. (2003). Drug craving and addiction: integrating
psychological
and
neuropsychopharmacological approaches. Progress in Neuro-Psychopharmacology
and
Biological
Psychiatry, 27 (4), 563-579. doi: 10.1016/s0278EMCDDA. (2010). New development, trends and in-
5846(03)00081-2
depth information on selected issus. 2010 Nacional Report (2009 data) to the EMCDDA. Retrieved from
Franken, I.H.A.; Hendriks, V.M., & van den Brink, W. (2002). Initial validation of two opiate craving
website: http://www.emcdda.europa.eu/publications/searchresu lts?action=list&type=PUBLICATIONS&SERIES_PU
questionnaires: The Obsessive Compulsive Drug Use Scale and the Desires for Drug Questionnaire.
B=w203&YEAR_PUB=2010
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
34
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Addictive
Behaviors,
27
(5),
675-685.
doi:
10.1016/s0306-4603(01)00201-5
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Kay, S. & Darke, S. (2002). Determining a diagnostic cutoff on the Severity of Dependence Scale (SDS) for
Franken, I.H.A; Kroon, L.Y.; Wiers, RW. & Jansen, A.
cocaine dependence. Addiction, 97 (6), 727.
(2000). Selective cognitive processing of drug cues in
Lavie, N. (1995). Perceptual load as a necessary condition
heroin dependence. Journal of Psychopharmacology,
for selective attention. Journal of Experimental
14 (4), 395-400. doi: 10.1177/026988110001400408
Psychology: Human Perception and Performance, 21
Franken, I.H.A.; Hendriks, V.M. & Brink, W. (2003).
(3), 451-468. doi: 10.1037/0096-1523.21.3.451
Neurophysiological evidence for abnormal cognitive
Lavie, N. (2005). Distracted and confused?: Selective
processing of drug cues in heroin dependence.
attention under load. Trends in Cognitive Sciences, 9
Psychopharmacology,
(2), 75-82. doi: 10.1016/j.tics.2004.12.004
170
(2),
205-212.
doi:
10.1007/s00213-003-1542-7
Lavie, N.; Hirst, A.; de Fockert, J. & Viding, E. (2004).
Gossop, M. & Darke, S. (1995). The Severity of
Load Theory of Selective Attention and Cognitive
Dependence Scale (SDS): psychometric properties of
Control.
the SDS in English and Australian samples of heroin,
General,
cocaine and amphetamine users. Addiction, 90 (5),
3445.133.3.339
607-614.
Journal 133
of
Experimental
(3339-354).
doi:
Psychology: 10.1037/0096-
Lavie, N. & Tsal, Y. (1994). Perceptual load as a major
Gossop, M.; Stewart, D.; Browne, N. & Marsden, J.
determinant of the locus of selection in visual
(2002). Factors associated with abstinence, lapse or
attention. Attention, Perception, & Psychophysics, 56
relapse to heroin use after residual treatment:
(2), 183-197. doi: 10.3758/bf03213897
protective effect of coping responses. Addiction, 97 (10), 1259.
Lavy, E.; van den Hout, M. & Arntz, A. (1993). Attentional bias and spider phobia: Conceptual and
IDT. (2010). Tendências por Drogas - Heroína/Opiácios. Retrieved
from
http://www.idt.pt/PT/Estatistica/Documents/tendencia s_drogas/Heroina_opiaceos10.pdf
clinical issues. Behaviour Research and Therapy, 31 (1), 17-24. doi: 10.1016/0005-7967(93)90038-v Lawrinson, P.; Copeland, J.; Gerber, S. & Gilmour, S. (2007). Determining a cut-off on the Severity of
Ila, A.B. & Polich, J. (1999). P300 and response time
Dependence Scale (SDS) for alcohol dependence.
from a manual Stroop task. Clinical Neurophysiology,
Addictive
110 (2), 367-373. doi: 10.1016/s0168-5597(98)00053-
10.1016/j.addbeh.2006.09.005
7
Behaviors,
32
(7),
1474-1479.
doi:
Lu, L.; Grimm, J.W.; Shaham, Y. & Hope, B.T. (2003).
Johanson, C.E. (1978). Drug as reinforcers. In D. E.
Molecular neuroadaptations in the accumbens and
Blackman & D. J. Sanger (Eds.), Contemporary
ventral tegmental area during the first 90 days of
Research in Behavioral Pharmacology (pp. 325-390).
forced abstinence from cocaine self-administration in
New York: Plenum.
rats. Journal Of Neurochemistry, 85 (6), 1604-1613.
Jovanovski, D.; Erb, S. & Zakzanis, K.K. (2005). Neurocognitive
Deficits
in
Cocaine
Users:
Lubman, D.; Allen, N.; Peters, L. & Deakin, J. (2008).
A
Electrophysiological evidence that drug cues have
Quantitative Review of the Evidence. Journal of
greater salience than other affective stimuli in opiate
Clinical and Experimental Neuropsychology, 27 (2),
addiction. Journal of Psychopharmacology, 22 (8),
189-204. doi: 10.1080/13803390490515694
836-842. doi: 10.1177/0269881107083846
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
35
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Lubmand, D.I.; Peters, L.A.; Moog, K.; Bradley, B.P. &
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Nijs, I.M.T.; Franken, I.H.A. & Muris, P. (2007). The
Deakin, J.F.W. (2000). Attentional bias for drug cues
modified
in opiate dependence. Psychological Medicine, 30
Questionnaires: Development and validation of a
(01), 169-175. doi: doi:null
general index of food craving. Appetite, 49 (1), 38-46.
MacLeod, C., Mathews, A. & Tata, P. (1986). Attentional
Trait
and
State
Food-Cravings
doi: 10.1016/j.appet.2006.11.001
bias in emotional disorders. Journal of Abnormal
Noël, X.; Colmant, M.; Van Der Linden, M.; Bechara, A.;
Psychology, 95 (1), 15-20. doi: 10.1037/0021-
Bullens, Q.; Hanak, C. & Verbanck, P. (2006). Time
843X.95.1.15
Course of Attention for Alcohol Cues in Abstinent
Marissen, A.E. (2005). Cue exposure therapy for the treatment of heroin addiction. (Doctoral thesis, University of Amsterdam, Amsterdam, Netherlands).
Marissen, A.E.; Franken, I.H.A.; Waters, J.; Blanken, P., van den Brink, W. & Hendriks, V.M. (2006). Attentional bias predicts heroin relapse following treatment. Addiction, 101 (9), 1306-1312. doi:
Martin, G.; Copeland, J.; Gates, P. & Gilmour, S. (2006). The Severity of Dependence Scale (SDS) in an adolescent population of cannabis users: Reliability, validity and diagnostic cut-off. Drug and Alcohol (1),
(11),
1871-1877.
doi:
10.1111/j.1530-
OEDT. (2011). Relatório anual 2011: A evolução do fenómeno da droga na Europa. Lisboa: Retrieved from http://www.emcdda.europa.eu/publications/annualreport/2011.
10.1111/j.1360-0443.2006.01498.x
83
Alcoholism: Clinical and Experimental Research, 30
0277.2006.00224.x
Retrieved from http://dare.uva.nl/pt/record/159564
Dependence,
Alcoholic Patients: The Role of Initial Orienting.
90-93.
doi:
10.1016/j.drugalcdep.2005.10.014 Mathews, A.; Mogg, K.; Kentish, J. & Eysenck, M. (1995). Effect of psychological treatment on cognitive bias in generalized anxiety disorder. Behaviour Research and Therapy, 33 (3), 293-303. doi: 10.1016/0005-7967(94)e0022-b McLellan, A.; Lewis, D.C.; O'Brien, C.P. & Kleber, H.D. (2000). Drug dependence, a chronic medical illness: Implications for treatment, insurance, and outcomes
OEDT. (2012). Relatório anual 2012: A evolução do fenómeno da droga na Europa. Lisboa: EMCDDA Retrieved
from
http://www.emcdda.europa.eu/news/2012/11. Öhman, A.; Soares, S.C.; Juth, P.; Lindström, B. & Esteves, F. (2012). Evolutionary derived modulations of attention to two common fear stimuli: Serpents and hostile humans. Journal of Cognitive Psychology, 24 (1), 17-32. doi: 10.1080/20445911.2011.629603 Robinson, T.E. & Berridge. K.C. (1993). The neural basis of drug craving: An incentive-sensitization theory of addiction. Brain Research Reviews, 18 (3), 247-291. doi: 10.1016/0165-0173(93)90013-p Robinson, T.E. & Berridge. K.C. (2004). Incentive-
evaluation. JAMA: The Journal of the American
sensitization
and
drug
Medical Association, 284 (13), 1689-1695. doi:
Psychopharmacology,
10.1001/jama.284.13.1689
10.1007/s00213-003-1602-z
171
(3),
‘wanting’. 352-353.
doi:
Nebes, R.D. (1978). Vocal Versus Manual Response As a
Robinson, T.E. & Berridge, K.C. (2008). The incentive
Determinant of Age Difference in Simple Reaction
sensitization theory of addiction: some current issues.
Time. Journal of Gerontology, 33 (6), 884-889. doi:
Philosophical Transactions of the Royal Society B:
10.1093/geronj/33.6.884
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
36
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Biological Sciences, 363 (1507), 3137-3146. doi:
http://www.mindscience.pt/docs/00191242010201142
10.1098/rstb.2008.0093
52943000.pdf
Sayette, S.J.W. & Hufford, M.R. (1994). Effects of cue
Sofuoglu, M.; DeVito, E.E.; Waters, A.J. & Carroll, K.
exposure and deprivation on cognitive resources in
M. (2013). Cognitive enhancement as a treatment for
smokers. Journal of Abnormal Psychology, 103 (4),
drug addictions. Neuropharmacology, 64 (0), 452-463.
812-818. doi: 10.1037/0021-843X.103.4.812
doi: 10.1016/j.neuropharm.2012.06.021
Sayette, S.J.W. & Reichle, E.D. (2010). Out for a Smoke. Psychological
Science,
21
(1),
26-30.
doi:
10.1177/0956797609354059
Tiffany, S.T. (1990). A cognitive model of drug use urges and drug-use behavior: Role of automatic and nonautomatic processes. Psychological Review, 97
Schneider, W.; Eschman, A. & Zuccolotto, A. (2002). EPrime User's Guide. Pittsburg: Psychology software tools.
(2), 147-168. doi: 10.1037/0033-295X.97.2.147 Topp, L. & Mattick, R.P. (1997). Choosing a cut-off on the Severity of Dependence Scale (SDS) for
Schultz, W.; Tremblay, L. & Hollerman, J.R. (2000). Reward Processing in Primate Orbitofrontal Cortex
amphetamine users. Addiction, 92 (7), 839-845. Townshend, J.M. & Duka, T. (2007). Avoidance of
and Basal Ganglia. Cerebral Cortex, 10 (3), 272-283.
Alcohol-Related
doi: 10.1093/cercor/10.3.272
Inpatients. Alcoholism: Clinical and Experimental
Siegel, S. (1983). Classical conditioning, drug tolerance, and dependence. In Y. Israel, F.B. Glaser, H. Kalan,
Stimuli
in
Alcohol-Dependent
Research, 31 (8), 1349-1357. doi: 10.1111/j.15300277.2007.00429.x
R.E. Popham & W.S.R.G. Smart (Eds.), Research
Vaillant, G.E. (1996). A long-term follow-up of male
advances in alcohol and drugs problems (pp. 207-
alcohol abuse. Archives of General Psychiatry, 53 (3),
246). New York: Plenum Press.
243-249.
Silva, C.F. (Ed.). (2006). Teorias da Aprendizagem: Para uma
educação
baseada
na
evidência.
Lisboa:
Universidade Aberta.
London,
E.D.
(2010).
Methamphetamine
Dependence and Neuropsychological Functioning: Evaluating Change During Early Abstinence. J Stud Alcohol Drugs, 71 (3), 335-344.
Years of potential life lost among heroin addicts 33 years after treatment. Preventive Medicine, 44 (4),
Soares, S.C. (2010). Fear Commands Attention: Snakes Archetypal
dissertation,
Fear
Karolinska
unsuccessful dieters. Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry, 41 (3), 282-288. doi: 10.1016/j.jbtep.2010.02.006 Vollstädt-Klein, S.; Loeber, S.; von der Goltz, C.; Mann,
Stimulus? Institutet,
Related Stimuli Increases During the Early Stage of Abstinence in Alcohol-Dependent Patients. Alcohol and
Alcoholism,
44
(5),
458-463.
doi:
10.1093/alcalc/agp056
369-374. doi: 10.1016/j.ypmed.2006.10.003
the
Veenstra, E.M.; de Jong, P.J.; Koster, E.H.W. & Roefs,
K., & Kiefer, F. (2009). Avoidance of Alcohol-
Smyth, B.; Hoffman, V.; Fan, J. & Hser, Y.-I. (2007).
as
10.1001/archpsyc.1996.01830030065010
A. (2010). Attentional avoidance of high-fat food in
Simon, S.L.; Dean, A.C.; Cordova, X.; Monterosso, J.R. &
doi:
Doctoral Stockholm.
Retrieved
from
ISSN: in attribution process
Wang, G.-B.; Zhang, X.-L.; Zhao, L.-Y.; Sun, L.-L.; Wu, P.; Lu, L. & Shi, J. (2012). Drug-related cues exacerbate decision making and increase craving in heroin
addicts
at
different
abstinence
times.
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
37
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Psychopharmacology,
221
(4),
701-708.
doi:
10.1007/s00213-011-2617-5
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
British Journal of Psychology, 77 (1), 97-108. doi: 10.1111/j.2044-8295.1986.tb01985.x
Waters, A.J.; Sayette, M.A., Franken, I.H.A. & Schwartz,
Wikler, A. (1973). Dynamics of drug dependence:
J. E. (2005). Generalizability of carry-over effects in
Implications of a conditioning theory for research and
the emotional Stroop task. Behaviour Research and
treatment. Archives of General Psychiatry, 28 (5),
Therapy,
611-616.
43
(6),
715-732.
doi:
10.1016/j.brat.2004.06.003
doi:
10.1001/archpsyc.1973.01750350005001
Watts, F.N.; McKenna, F.P.; Sharrock, R. & Trezise, L. (1986). Colour naming of phobia-related words.
38
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Original Article Estudo de Caso Controlo: 68 sujeitos Emparelhados, Reclusos a cumprir Pena por ter cometido Crime Passional com Normativos Celina Ribeiro (1) & Luis Maia (2) (1) Clinical Psychologist; MSc in Psychology (Beira Interior University). All correspondence about this article should be sent to email: celine_19r@hotmail.com (2) Beira Interior University PhD in Neuropsychology by Salamanca University – Professor at Beira Interior University.
_________________________________________________________________________________ Abstract The present investigation focus is on the theme of crimes of passion, the act of committing a crime of passion, which finds its relevance in the fact that it’s a crime often practiced in Portuguese society and finds their characteristics and particularities unexplored. In this sense, the objective of this study is to assess the guilt, impulsivity and personality characteristics in inmates who are serving sentences for committing some kind of crime of passion, in five prisons in the country. In addition to having explored the variables of the sample of prisoners was still held a pairing of inmates, who committed this type of crime, with individuals within the normative population, by gender, age and education. We proceeded to further comparison of the sample of passion offenders with a broader sample of normative subjects. In carrying out the study, we managed to gather up a global sample of 124 subjects, all males, 34 individuals who had committed a crime of passion, with a mean age of 46.56 years (SD = 10.5) and 90 subjects of the normative population, with an average of 42.57 years (SD = 10.82). We administered a sociodemographic questionnaire, the Multidimensional Scale of Guilt, Barratt’s Impulsiveness Scale and the Mini-Mult (shortened version of the Minnesota Multiphasic Personality Inventory). In overall, it was found that subjects who were convicted for having committed a crime of passion have high levels of guilt, which was not observed in subjects of the normative sample. Inmates have low impulsivity, and no statistically significant differences in relation to the normative sample. Regarding personality, passion criminals have higher levels of depression, psychasthenia, paranoia, schizophrenia and high anxiety, and there are marked differences in relation to the normative sample, in respect to the deviation range of psychopathic, both samples have high score. This study draws attention to the need to intervene at a psychological level in prison context, specifically in the subjects who commit crimes of passion. Key-words: Crime of passion, inmates, guilt, impulsivity, personality.
Resumo A presente investigação incide na temática do crime passional, ato de cometer um crime por paixão, que encontra a sua relevância no facto de ser um crime frequentemente praticado na sociedade portuguesa e que encontra as suas características e particularidades pouco exploradas. Neste sentido, o objetivo deste estudo será o de avaliar a culpa, impulsividade e características de personalidade em reclusos que se encontram a cumprir pena por terem cometido algum tipo de crime passional em cinco estabelecimentos prisionais do pais, desta forma, para além de se terem explorado as variáveis da amostra de reclusos foi ainda realizado um emparelhamento dos reclusos que cometeram o tipo de crime em questão com indivíduos da população normativa, por género, idade e escolaridade. Procedeu-se ainda à comparação da amostra dos criminosos passionais com uma amostra mais alargada de sujeitos normativos. Para a concretização do estudo, conseguiu recolher-se uma amostra global de 124 sujeitos, todos do género masculino, 34 sujeitos que tinham cometido crime passional, com uma média de idades de 46,56 anos (DP =10,5) e 90 sujeitos da população normativa, com uma médi a de 42,57 anos (DP=10,82). Aos sujeitos foram aplicados um questionário sociodemográfico, a Escala Multidimensional da Culpa, Escala de Impulsividade de Barratt e o Mini-Mult (versão reduzida do Minnesota Multiphasic Personality Inventory). De forma muito genérica, verificou-se que os sujeitos que cumprem pena por terem cometido crime passional apresentam níveis elevados de culpa, que não se verifica nos sujeitos da amostra normativa. Os reclusos apresentam impulsividade baixa, não existindo diferenças estatisticamente significativas em relação à amostra normativa. Em relação à personalidade, os criminosos passionais apresentam maiores níveis de depressão, psicastenia, paranoia, esquizofrenia e ansiedade elevada, havendo diferenças marcadas em relação à amostra normativa, em relação à escala de desvio psicopático, ambas as amostras pontuam de forma elevada. Este estudo chama a atenção para a necessidade de intervir a nível psicológico no contexto prisional, especificamente nos sujeitos que cometem crime passional. Palavras-chave: Crime passional, reclusos, culpa, impulsividade, personalidade.
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
39
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Resumen: Esta investigación se centra en el tema del crimen pasional, el acto de cometer un crimen de pasión, que encuentra su relevancia en eso ser un crimen a practicada menudo en la sociedad portuguesa y encontrar sus características y circunstancias aún poco explorada. En este sentido, el objetivo de este estudio es evaluar la culpabilidad, impulsividad y características de la personalidad en los internos que están cumpliendo pena por haber cometido algún crimen pasional, encarcelados en cinco prisiones del país, de esta manera, además de haber explorado las variables de la muestra de prisioneros aún se realizó un emparejamiento (por género, edad y escolaridad) de criminosos con sujetos de la población normativa. Se realizó la comparación de la muestra de los criminosos pasionales con una amplia muestra de sujetos normativos. Para la realización del estudio, hemos logrado recolectar una muestra de 124 sujetos, todos varones, 34 sujetos que habían cometido el crimen de pasión, con una edad media de 46,56 años (SD = 10,5) y 90 sujetos de la población normativa, con un promedio de 42,57 años (SD = 10,82). A los sujetos se aplicaron un cuestionario sociodemográfico, la escala Multidimensional de la culpabilidad, la impulsividad de Barratt y Mini-Mult (personalidad). De forma genérica, se verificó que los sujetos que cumplían pena por haber cometido graves delitos pasionales, presentaron también niveles más elevados de culpa, que no es el caso en el tema de la muestra normativa. En lo que toca a la impulsividad no se verificaron diferencias estadísticamente significativas en relación con la muestra normativa. En relación con la personalidad, criminosos pasionales tienen niveles más altos de depresión, psicastenia, esquizofrenia y paranoia, alta ansiedad, con marcadas diferencias en relación con la muestra normativa; en relación con la escala de desviación psicopática, ambas muestras resultados superiores de la Moda estadística esperada. Este estudio llama la atención sobre la necesidad de intervenir a nivel psicológico en el contexto de las prisiones, específicamente en los sujetos que cometen un crimen pasional. Palabras clave: Crimen pasional, prisioneros, culpabilidad, impulsividad, personalidad.
_________________________________________________________________________________ 40
Introdução O crime passional apresenta-se como um assunto de considerável relevância, tendo em conta a sua frequência na nossa sociedade, trata-se de um fenômeno que sempre existiu e sempre existirá em qualquer cultura, em qualquer sociedade e em qualquer época da história da humanidade. A literatura evoca frequentemente a ideia de que qualquer pessoa poderá ser afetada por este crime, como vítima ou como sendo o próprio criminosos, uma vez que este se refere essencialmente a um ato que pode ser cometido no “calor” do momento, aquando de um momento de grande excitação emocional. Parece, neste sentido, pertinente avaliar a impulsividade dos
será bastante rudimentar (Mazzuchell & Ferreira, 2007). Quando se pensa na agressão passional normalmente pensa-se que esta será estritamente direcionada contra a pessoa que se ama, quando o relacionamento está em fase de rompimento ou quando este já chegou ao fim, todavia, este tipo de crime não se cinge apenas àquele que é objeto da paixão, pois pode dirige-se aos seus rivais, como companheiros ou companheiras da ou do ex-companheiro, mulheres com que o companheiro mantem um caso extraconjugal, ou pode mesmo estender-se aos próprios filhos, ou a outras pessoas mais próximas (Santiago & Coelho, 2010).
reclusos de diversos estabelecimentos prisionais do país,
A literatura aponta para o facto de que existem outos
a cumprir pena por ter cometido um crime passional, de
fatores, além da paixão, que estão implicados nos atos
modo a verificar se este tipo de crime será de facto
criminosos passionais, considerando esta ser uma
cometido dependendo das circunstâncias.
problemática complexa. O ciúme é das variáveis que
O termo “crime passional” dá entender que este tipo de crime tem na sua base a paixão, remetendo para esta como sendo o principal indicador, no entanto, conceber
mais interferem neste tipo de crime, bem como outras, nomeadamente o sentimento de posse, humilhação, desonra, ódio, inveja (Santiago & Coelho, 2010).
este tipo de crime reduzindo-o ao contexto da paixão,
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Fundamentação Teórica - O criminoso passional
Concetualização do crime passional A Expressão “crime passional” provém da palavra passio (paixão), e juridicamente remete para o ato que se comete por paixão, este acontece aquando de uma irreflexão por parte do indivíduo. Esta paixão advém dos ciúmes, da possessão e geralmente da incapacidade de aceitar o término de um relacionamento amoroso
positivo desta e defende que o adulto deve ser responsabilizado pelas suas paixões e pelos seus maus atos enquanto o estoicismo a considera como uma doença, algo patológico, devendo ser destruída, sendo que a culpabilidade do sujeito fica reduzida aquando de um crime passional. Atualmente a linha que separa o passional do patológico tem-se mostrado cada vez mais
(Ribeiro, 2008).
estreita, entendendo cada vez mais a paixão não como A paixão pode ser definida como uma emoção prolongada, crónica e enraizada ao psiquismo do ser humano, que poderá levá-lo a matar, ocorrendo o
algo que faz parte do indivíduo e que ele controla, mas como algo perturbador e que foge ao controlo do indivíduo (Ceccarelli, 2003).
homicídio passional. O termo “passional “ refere-se a qualquer facto que se produz no indivíduo a partir de uma emoção intensa e prolongada. Deste modo, pode derivar do amor, ódio, ira, ou até da própria mágoa e reflete toda a emoção capaz, pela sua intensidade e persistência, de desenvolver alterações na reflexão da pessoa, exaltando-o e podendo levá-lo à violência (Alves, 1999). A conceção do conceito de “paixão” pode ser
Atualmente entende-se por paixão um sentimento forte, absorvido de uma emoção violenta e até colérica, uma dependência do outro, necessidade de ter a pessoa pretendida sempre sob controlo e por perto, de modo a vigiar os seus passos. A possessividade e a dominação são
características
predominantes
nos
homicidas
passionais (Pena, 2007).
explorada de acordo com ideias histórico-filosóficas,
A violência passional pode ocorrer contra a mulher
Aristóteles concebe a paixão como sendo intrínseca ao
amada, quando o relacionamento está em fase de
ser humano, o homem não escolhe as suas paixões e por
rompimento ou quando já terminou, pode dirige-se aos
isso não é responsável por elas, no entanto é responsável
seus rivais, como companheiros da ex-companheira,
pela influência que estas têm nas suas ações, podendo se
pode estender-se aos filhos, ou mesmo a outras pessoas
julgar a ética do indivíduo por aí e neste sentido não
mais próximas (Santiago & Coelho, 2010). Segundo
concorda
é
Lagache (1986), tendencialmente, no crime passional em
involuntário. Para o autor o homem deve ser capaz de
casais heterossexuais a mulher é, na maioria das vezes, a
equilibrar a paixão com o logos, ou seja o conhecimento
vítima. Por outro lado, quando é a mulher que comete o
e a razão, pois acredita que é suscetível de ser educada.
crime, em geral o alvo prioritário do ataque é a rival, e
Por outro lado, o estoicismo é uma corrente filosófica
não o marido ou o companheiro que cometeu adultério.
que não concorda com a possibilidade de se poder usar a
Neste sentido, existe um emparelhamento entre a
paixão em benefício do logos, pelo contrário, defende
atuação criminal de homens e mulheres, pois ambos,
que esta é um obstáculo à razão e que o apaixonado é
preferencialmente, atacariam um terceiro do sexo
irresponsável pelo que faz. Em suma, para Aristóteles
feminino, seja esta a amada infiel ou a rival da mulher
pode tirar-se proveito da paixão, podendo retirar algo
traída. Esta ideia faz supor que a mulher representa com
que
um
comportamento
passional
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
41
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
mais intensidade o objeto a ser eliminado (Arreguy,
crimes
2012).
problemática complexa. A referência ao crime passional
A expressão de “crime passional” pressupõe que as circunstâncias que envolvem o crime em questão são a expressão de uma paixão ou de um amor, sendo que
passionais,
considerando
esta
ser
uma
faz-se essencialmente nos casos em que o ciúme é considerado como estando na base principal do crime (Borges, 2011).
esse ato criminoso é cometido pelos mais diversos
A violência doméstica também pode ser enquadrada no
motivos,
da
tipo de crime passional, caracterizando-o tipicamente,
realização e da continuidade desse amor, essencialmente
quando se verificar que a agressão cometida se enquadra
do ponto de vista da pessoa que comete o crime. O
num âmbito passional (Santiago & Coelho, 2010), pois o
termo “crime passional” dá entender que a paixão
crime passional engloba as agressões físicas e morais que
permanece como indicador principal, levando a que
são cometidas em nome do sentimento ‘paixão’, contra
outras variáveis passíveis de estar relacionadas com o
pessoas com quem se possui ou com quem já se tenha
gesto (violência conjugal, psicopatologia, etc.) percam o
possuído um vínculo afetivo ou sexual, e a que se dá
seu valor. Ao colocar de parte as outras explicações
também o nome de violência doméstica (Pena, 2007).
possíveis para o crime (psicológicas, criminais, etc.) e ao
Este tipo de violência ocorre no âmbito familiar ou
reduzir o crime ao contexto da paixão, este crime é
doméstico, entre quaisquer dos membros da família e
percecionado como um ato que é passível de ser
abrange diversas formas de violência que podem ocorrer
cometido por qualquer pessoa, desde que seja
nesse espaço (Silva, Coelho & Caponi, 2007). A violência
transcendido pela paixão, como se qualquer indivíduo,
doméstica pode ser definida como sendo qualquer ação
numa situação idêntica de exacerbação emocional pela
não acidental, por parte de um membro da família, que
força passional irresistível e comum a todos, pudesse
provoca prejuízo físico, psicológico ou outros, a outro
efetivamente cometer o mesmo tipo de comportamento.
membro da família, sendo que a violência pode
Todavia, as investigações realizadas na área são
estabelecer-se
concordantes ao afirmarem que existem outos fatores,
companheiro, entre pais e filhos, pais e avós, ou entre
além da paixão, que estão implicados e influenciam os
irmãos (Verde & Cortés, 2007).
nomeadamente
pela
impossibilidade
entre
o
homem
ou
mulher
e
Controvérsia na caracterização do criminoso passional No que se refere à caracterização do criminoso passional, a literatura não apresenta consensualidade, pelo contrário, se por um lado estes indivíduos são vistos como pessoas “normais”, que cometem o crime totalmente sob influência da situação, por outro, são várias vezes descritos com características específicas.
o indivíduo é provocado pelas palavras ou ações de outra pessoa, que acabam por fazer com que o infrator prejudique a vítima. Neste sentido, perceciona-se que aquele que comete um crime desta natureza não tem necessariamente um mau caráter, pois acredita-se que qualquer pessoa, na mesma situação, poderia acabar por ter atitudes semelhantes, o que pode, de certo modo,
Após uma vasta análise da literatura, verifica-se que o criminoso
passional
é
frequentemente
desresponsabilizado pelo próprio crime, acredita-se que
ISSN: in attribution process
tornar este crime num ato compreensível, de acordo com as circunstâncias (Calder, 2003). Neste sentido, a literatura aponta que não raras vezes, a nível jurídico,
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
42
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
este tipo de crime é percecionado como sendo menos
possessivos, o que os impede de conseguir viver sem
grave, e por existir a ideia de que um crime passional
aquilo que realmente querem. Neste sentido, acredita-se
qualquer um pode cometê-lo, acabando assim por não
que o crime é motivado essencialmente por posse e não
ser um crime condenado com rigor. Neste sentido,
tanto por ciúme ou amor e que por vezes pode ser
advém a ideia de que a paixão pode privar o indivíduo
premeditado, deixando de certa forma de lado a
dos seus sentido ou consciência a um ponto que pode
impulsividade
levar qualquer pessoa a cometer um crime passional
(Santiago & Coelho, 2010).
(Blay,
2003),
sendo
que
este
ato
deveria
ser
percecionado como um deslise transitório (Cançado, 2002). Há poucas dezenas de anos atrás, a sociedade admitia que o homem castigasse fisicamente a mulher, o que tinha também repercussões a nível da justiça, revelando uma certa tolerância relativamente a este tipo de crime, sendo que estes factos e costumes passados podem ter influência no criminoso passional dos tempos atuais, que perceciona uma atitude de aceitação social aquando de perder o controlo e violentar a mulher, isto quando se fala no criminoso passional do sexo masculino (Silva, 1991). Ainda na sociedade atual, os homens traídos são qualificados de forma pejorativa, que é produto de uma sociedade patriarcal e machista. Tudo isto contribui para o descontrolo emocional, perda da autoestima e imaturidade dos indivíduos face a uma
do
momento
como
impulsionadora
Outros autores definem o criminoso passional como alguém que se toma a si mesmo como objeto de amor, amando-se por meio do outro (Kaufmann, 1996, cit. in Santiago & Coelho, 2010). Ou seja, é um narcisista que elege a si próprio, em preferência a outros (Eluf, 2003, cit. in Santiago & Coelho, 2010), este não possui autocrítica e quer ser admirado, mesmo que seja por qualidades que não possui (Santiago & Coelho, 2010). Quando é rejeitado, sente-se desprezado, frustrado, num quadro de profundo sofrimento, acabando por cometer atos criminosos que envolvem violência psicológica, lesão corporal, homicídio efetivo ou homicídio na forma tentada. Estes criminosos têm uma grande necessidade de autoafirmação, querem mostrar o poder do relacionamento muitas vezes através do sofrimento que provocam ao outro (Ribeiro, 2008).
sensação de derrota, quando se sentem abandonados ou rejeitados (Pena, 2007). A cultura machista, ainda vigente em muitos estratos sociais, contribui, ainda que menos que nos anos passados, para justificar o ato de matar em nome do amor (Santiago & Coelho, 2010).
Tendencialmente,
são
atribuídos
aos
criminosos
passionais, como causa do crime: o amor, o estado de grande excitação emoção e a defesa da honra, esquecendo que muitas vezes existem distúrbios psicológicos, como perturbações da personalidade, que
Por outro lado, o criminoso passional é caracterizado como sendo possuidor de sentimentos exagerados, anormais, capazes de se prejudicarem a si próprios e aos
podem estar na base do crime. Os indivíduos que cometem um crime passional podem ser bastante diferentes, a nível psicopatológico (Sousa, 2004).
outros, reagem de maneira brusca às emoções, são ansiosos, sensíveis e emotivos. Segundo Júnior (2004), depois do crime ser cometido o indivíduo não apresenta preocupação
com
a
opinião
alheia,
preocupa-se
principalmente com a sua honra e sentimento pessoal (Ribeiro, 2008). Possuem uma personalidade vaidosa, ciumenta,
possessiva
e
insegura,
são
sobretudo
ISSN: in attribution process
Segundo Ferri (1996), o criminoso passional é aquele que comete o crime motivado por uma paixão social, movido também pela impulsividade e afetividade. A literatura refere que se verifica que a nível do crime passional, os indivíduos após cometerem o crime geralmente sentem remorso/culpa, ficam bastante perturbados perante os
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
43
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
atos que cometeram, acabando, muitas vezes, por
Em suma, pode dizer-se que não existe um conjunto de
cometerem suicídio. Devido à grande carga emocional,
características físicas ou psicológicas que definam um
tendencialmente não se lembram dos detalhes do crime
criminoso passional, cada um possui características
(Habermann, 2010).
idiossincráticas e impercetíveis que, normalmente, só
Este tipo de crime parece estar mais relacionado com alguma “normalidade” e não com a marginalidade ou traços de psicopatia, esta ideia é reforçada pelo fato de que
os
indicadores
tradicionais
de
homicídio
(desorganização social, pobreza, etc.) serem geralmente irrelevantes para este tipo particular de homicídio, bem
depois de ocorrerem determinados acontecimentos ou situações é que acabam por ser exteriorizadas (Ribeiro, 2008). Tendo em conta que o conceito “passional” está associado
à
expressão
de
um
transbordamento
“amoroso”, parece que as diferentes conceções do crime “dito passional” dão a entender que a expressão não faz jus à complexidade da problemática estudada (Borges,
como para a violência doméstica (Mercader, 2004).
2011).
Estudo Empírico
44
Apresentação do estudo A presente investigação tem como principal objetivo avaliar
a
impulsividade,
a
culpa
a
um
nível
multidimensional e características de personalidade em indivíduos do sexo masculino, que estejam a cumprir pena, por terem cometido crime passional, em alguns estabelecimentos prisionais do país, emparelhando-os com
sujeitos
normativos
com
características
semelhantes, especificamente em relação à idade,
como
um
estudo
exploratório,
todavia
foram
desenvolvidas, com base nos objetivos do estudo, algumas questões principais de investigação, são elas: a) Terão os sujeitos que cometeram crime passional maiores níveis de culpa, relativamente à amostra normativa?; b) Que tipo de culpa será mais exacerbada nos participantes que cometeram crime passional?; c) Terão os sujeitos que cometeram crime passional maiores níveis de impulsividade, relativamente à
escolaridade e género.
amostra O presente estudo classifica-se como sendo um estudo comparativo, descritivo, correlacional, exploratório e transversal. A presente investigação dispensa do levantamento de hipóteses, uma vez que se caracteriza
normativa?;
d)
Quais
as
características
personalísticas mais marcadas nos participantes que cometeram crime passional?; e) Terão os sujeitos que cometeram crime passional maiores níveis de psicopatia, em relação à amostra normativa?.
Metodologia Caracterização da amostra A amostra de reclusos contempla 34 sujeitos e foi recolhida em cinco estabelecimentos prisionais, da Covilhã, Lisboa, Carregueira, Guarda e Castelo Branco. A amostra referente à população normativa, também
ISSN: in attribution process
contempla 34 sujeitos, foi recolhida presencialmente e em alguns casos via internet, para maior comodidade, Ambas as amostras foram recolhidas tendo em conta uma amostragem por conveniência.
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Os 34 homens que constituem a amostra criminosa
contra a sua parceira de relacionamento extramarital e
apresentam uma média de idades de 46,56 anos, que se
dois contra o companheiro ou marido da mulher com
encontra entre os 28 e os 68 anos. Relativamente ao
quem
estado civil, uma grande percentagem da amostra é
respetivamente) e um indivíduo diz que foi a família,
divorciada, o que corresponde a uma totalidade de 16
englobando os filhos (2,9%).
indivíduos (47,1%). Quanto à escolaridade da amostra, os reclusos apresentam instrução escolar da primeira classe até à licenciatura, sendo que a nível geral apresentam uma escolaridade relativamente baixa, a moda é a quarta classe. No que concerne à profissão da amostra de reclusos, constata-se que apesar da grande variabilidade de atividades profissionais referidas, houve uma especial prevalência de duas profissões, nomeadamente a construção civil e a operação de máquinas (que conjuntamente representam 35,2% da amostra).
mantinham
um
caso
extraconjugal
(5,9%
Quanto aos motivos referidos pelos reclusos, verificou-se que as razões apresentadas foram sobretudo o ciúme, o medo ou o facto de não quererem a separação e o facto de suspeitarem de adultério por parte da companheira. Os filhos parecem estar frequentemente na base deste tipo de crime. Outros motivos foram apresentados, normalmente em conjunto com os suprarreferidos, especificamente,
a
desconfiança
em
relação
às
companheiras, o dinheiro, a discórdia em diversos assuntos e o abuso de álcool. Outras razões foram
Relativamente à natureza do crime, a presente amostra é
apontadas com menos frequência, como o facto da mãe
constituída por 15 indivíduos que cometeram homicídio
da companheira interferir na relação, agir por legítima
relacionado com crime passional, 15 que estão a
defesa, querem a separação mas a companheira não
condenados por violência doméstica /agressão e cinco
aceita, o roubo de droga e o controlo exercido pela
que cometeram homicídio na forma tentada. Em relação
companheira.
à vítima, 20 reclusos referem ter sido a esposa (58,8%), em nove dos casos a vítima foi a companheira/namorada (26,5%), apenas dois indivíduos cometeram o crime
Em relação ao local do crime, na grande maioria este foi praticado em casa, em 25 casos (73,5%), e os restantes nove foram na rua (26,5%).
Instrumentos Para a concretização dos objetivos da presente investigação,
recorreu-se
a
um
questionário
reclusos e à normativa, tendo um alpha de 0,835 e 0,844, respetivamente.
sociodemográfico, que permitiu recolher variáveis
Aplicou-se
sociodemográficas e dados acerca dos crimes cometidos
construída e validada para a língua portuguesa por
pelos reclusos. Através do Mini-Mult, traduzido para a
Aquino e Medeiros (2009), tem como objetivo avaliar o
língua portuguesa por Lopes (1985), pretendeu-se avaliar
nível de sentimento de culpa que o indivíduo experiencia
as características do funcionamento mental, sendo que
em
permite uma avaliação objetiva da personalidade,
comportamentais (Aquino
determinando o grau de severidade das várias escalas
consistência interna da escala multidimensional da culpa,
clínicas (Corsello, 2008). O Mini-mult apresenta boa
aplicada à amostra de reclusos, a cumprir pena, por
consistência interna quando aplicado à amostra de
terem cometido crime passional, revela-se razoável, com
ISSN: in attribution process
relação
a
Escala
a
Multidimensional
dimensões
afetivas, &
de
Culpa,
cognitivas
Medeiros,
e
2009). A
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
45
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
um alpha de 0,704. Relativamente à amostra normativa a
Mattos, Leite, Abreu, Gabriel, Coutinho, et al., 2010). A
consistência interna mostra-se muito boa, com um alpha
consistência interna desta escala, aplicada à amostra de
de 0,907.
reclusos, a cumprir pena, por terem cometido crime
Aplicou-se a Escala de Impulsividade de Barratt, traduzida para a língua portuguesa por Leandro MalloyDiniz e colaboradores, que mede a impulsividade, a nível atencional, motor e de planeamento (Malloy-Diniz,
passional, revela-se boa, com um alpha de 0,813. Relativamente à amostra normativa a consistência interna mostra-se razoável, perto de boa, com um alpha de 0,78.
Procedimentos Após a escolha dos instrumentos e da amostra, foi redigida uma carta para a DGSP, de modo a pedir autorização para efetuar a recolha de dados em diversos estabelecimentos prisionais do país, nomeadamente estabelecimento prisional de Lisboa, estabelecimento prisional de Monsanto, estabelecimento prisional da Carregueira,
estabelecimento
prisional
de
Tires,
estabelecimento prisional da Guarda, estabelecimento prisional de Castelo Branco e estabelecimento prisional
listados e selecionados os sujeitos considerados pelo EP como tendo cometido crime passional, aquando da recolha de dados eram exploradas as motivações do crime, de forma a verificar se o crime era passional, para enquadrar o crime cometido no âmbito passional considerou-se que na sua base do crime deveria existir ciúme, a não-aceitação do término da relação ou a nãoaceitação da separação, adultério ou suspeita de adultério e necessidade de posse sobre a companheira, namorada, mulher ou sobre aquela com quem mantinha
da Covilhã.
um relação extraconjugal. Em
todos
os
estabelecimentos
prisionais
foram
previamente selecionados e listados os reclusos que se encontravam a cumprir pena por crime passional pela pessoa com que se estabeleceu contacto de modo a organizar a recolha de dados. Apesar de previamente
Relativamente à amostra constituída pelos reclusos, os questionários foram aplicados individualmente, tendo sido explicados previamente os objetivos da investigação e pedido o consentimento informado, que foi assinado pelos participantes.
Resultados relativos ao emparelhamento dos criminosos condenados por cometerem crime passional com a amostra normativa Os 34 reclusos foram emparelhados com 34 outros
passional e nos participantes da amostra normativa, com
indivíduos da amostra normativa global recolhida, por
os quais forma emparelhados, o que agregado à variável
idade, género e escolaridade, com variância de mais ou
fixa género, assegura-nos uma homogeneidade coerente
menos dois nos parâmetros da idade e escolaridade.
nas características dos participantes, que cometeram
Como se pode verificar na tabela 1, não existem diferenças estatisticamente significativas entre a idade e
crime passional e que não cometeram, tornando estes dois grupos de participantes altamente comparativos.
escolaridade nos participantes que cometeram crime
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
46
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Tabela 1 Resultados obtidos na verificação da variância na idade e escolaridade dos participantes condenados por cometerem crime passional e dos participantes que pertencem à amostra normativa com os quais foram emparelhados.
Idade
Escolaridade
Sujeitos
Média
Desvio-Padrão
t
P
Reclusos
46,559
10,497
-1,045
0,304
Normativa
46,353
10,292
Sujeitos
Média
Desvio-Padrão
Z
P
Reclusos
6,382
3,182
-0,867
0,386
Normativa
6,794
2,931
No que diz respeito à Escala Multidimensional da Culpa,
DP=4,336,
tendo-se
verificado
verificou-se que na culpa global os reclusos obtiveram
estatisticamente significativas (t=-4,25, p=0,000) e uma
uma média de 40,294 e DP=5,901 e a amostra normativa
média de diferença de pares de -3,676 e DP=5,044. Em
obteve média de 32,206 e DP=10,646, observando-se
relação à culpa temporal, os sujeitos reclusos obtiveram
uma grande diferença estatisticamente significativa (t=-
média de 18,0589 e DP=2,974, e os sujeitos normativos
3,896; p=0,000), sendo que a média da diferença de
tiveram média de 14,265, DP=4,608, com uma diferença
pares foi de -8,088 e DP=12,107. Quanto à dimensão
de média de -3,794 e DP=5,912, sendo que se verificaram
culpa subjetiva, os reclusos obtiveram média de 10,853,
diferenças
DP=2,754, e os sujeitos normativos tiveram média de
p=0,001), tal como se pode observar na tabela 2.
9,29, DP=3,713, com uma média de diferença de pares
Verificou-se que os reclusos pontuaram acima da
de -1,559, DP=4,882, não se tendo verificando diferenças
mediana teórica em todas as dimensões, exceto na culpa
estatisticamente significativas (t=-1,862; p=0,72). Na
subjetiva, enquanto os indivíduos da amostra normativa
culpa objetiva, os criminosos tiveram média de 15,147,
pontuaram abaixo da mediana teórica em todas as
s=3,192 e os indivíduos da amostra normativa 11,471,
dimensões.
estatisticamente
grandes
significativas
diferenças
(t=-3,742;
Tabela 2 Resultados obtidos do emparelhamento, em relação à Escala Multidimensional da Culpa Dimensões
Sujeitos
Média
Desvio-Padrão
t
P
Culpa global
Reclusos
40,294
5,901
-3,896
0,000
Normativos
32,206
10,645
Reclusos
10,853
2,754
-1,862
0,072
Normativos
9,294
3,713 -4,250
0,000
-3,742
0,001
Culpa subjetiva
Culpa objetiva
Culpa temporal
Relativamente
aos
Reclusos
15,147
3,192
Normativos
11,471
4,336
Reclusos
18,059
2,974
Normativos
14,265
4,608
resultados
obtidos
do
Impulsividade de Barratt, verificou-se que na dimensão
emparelhamento, referentes às dimensões da Escala de
de impulsividade global os criminosos obtiveram 62,618,
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
47
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
DP=6,214 e os da amostra normativa obtiveram média
observar na tabela 4. Relativamente à impulsividade
de 60,853, DP=10,765, não se verificando diferenças
motora, observou-se uma média de 20,294, DP=3,958
estatisticamente significativas, a média da diferença de
para os reclusos e uma média de 20,147, DP=4,164 para
pares foi -1,765 e DP=13,237. Em relação à impulsividade
os indivíduos da amostra normativa, existindo uma
de planeamento, os reclusos obtiveram média de 26,353
média de diferença nos pares de -0,147 e DP=5,774, não
DP=3,283 e os normativos apresentaram média de
se
25,559 e DP=5,082 e também não se verificaram
significativas, tal como se pode verificar na tabela 3.
diferenças estatisticamente significativas, tendo a média
Constata-se que, em todas as dimensões do questionário
da diferença de pares sido -0,794; DP=6,452. Em relação
de impulsividade, tantos os reclusos como os sujeitos da
à impulsividade atencional, os reclusos obtiveram média
amostra normativa, pontuaram abaixo do ponto de
de 15,971, DP=2,611 e os normativos obtiveram média
corte, evidenciando baixa impulsividade nas diversas
de 15,147, DP=3,735, com uma média de diferença de
vertentes, ainda que se verifique, em todas as
pares de -0,824 e DP=4,681, não se verificando
dimensões, médias ligeiramente mais elevadas nos
diferenças estatisticamente significativas, como se pode
reclusos.
encontrando
diferenças
estatisticamente
48
Tabela 3 Resultados obtidos do emparelhamento, através do teste paramétrico dos sinais, em relação às dimensões impulsividade global, impulsividade de planeamento (ou não planeamento) e impulsividade motora Dimensões Impulsividade global
Não planeamento
Impulsividade motora
Sujeitos
Média
Desvio-Padrão
T
P
-0,777
0,442
-0,718
0,478
-0,149
0,883
Reclusos
62,618
6,214
Normativos
60,853
10,765
Reclusos
26,353
3,283
Normativos
25,449
5,082
Reclusos
20,294
3,958
Normativos
20,147
4,164
Tabela 4 Resultados obtidos do emparelhamento, através do teste não-paramétrico Wilcoxon, em relação à dimensão impulsividade atencional Dimensão
Sujeitos
Média
Desvio-Padrão
Z
P
Impulsividade
Reclusos
15,971
2,611
-0,841
0,401
Normativos
15,147
3,735
atencional
No que diz respeito às escalas clínicas do Mini-Mult,
depressão, os reclusos apresentam uma média de
quanto à hipocondria, os reclusos obtiverem média de
64,647, DP=9,918 e os sujeitos da amostra normativa
61,677 e DP=10,901 e os sujeitos normativos obtiveram
obtiverem média de 58,529, DP=12,911, verificando-se
média de 60,382 e DP=11,217, não se tendo verificado
diferenças
diferenças estatisticamente significativas. No caso da
p=0,026), com uma diferença de média entre pares de -
ISSN: in attribution process
estatisticamente
significativas
(t=-2,329;
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
6,118 e DP=15,314. Na escala clínica de histeria, verifica-
reclusos obtêm uma pontuação consideravelmente mais
se que a média dos reclusos é de 63,471, DP=7,952 e a
elevada que os sujeitos da amostra normativa, apesar de
dos indivíduos normativos é 62,265, DP=10,737, não se
esta não ser mais elevada que o esperado tipicamente.
obtendo diferenças estatisticamente significativas, tal
No caso da esquizofrenia, verificou-se uma média de
como no caso da psicopatia, onde os criminosos
73,677, DP=15,137 para os criminosos e uma média de
obtiverem média de 66,2941, DP=9,1966 e os sujeitos da
66,029, DP=14,923 para os indivíduos normativos, com
amostra normativa obtiveram média de 66,2353,
uma média de diferença de pares de -7,647 e DP=20,316,
DP=8,2574, ressaltando uma pontuação mais elevada do
tendo-se
que seria expectável, no caso dos reclusos e amostra
significativas (t=-2,195; p=0,035), verifica-se que, em
normativa. Relativamente à paranoia, observou-se uma
ambos os casos, as pontuações nesta escala apresentam
média de 66,618, DP=10,554 para os reclusos e de
valores mais elevados que o esperado normalmente,
62,382, DP=10,877, para os sujeitos normativos, não se
todavia,
verificando diferenças estatisticamente significativas. Em
consideravelmente
relação à psicastenia, pode-se verificar que a média dos
hipomania,
criminosos é de 59,177, DP=11,175 e a dos sujeitos
DP=9,475 nos reclusos e de 52,794, DP=10,132 nos
normativos
tendo-se
indivíduos da amostra normativa, não se verificando
estatisticamente
diferenças estatisticamente significativas, tal como se
encontrado
é
de
elevadas
50,824,
DP=11,668,
diferenças
significativas (t=-3,298; p=0,002), com uma média de
encontrado
os
diferenças
reclusos mais
encontrou-se
estatisticamente
apresentam elevada. uma
uma Na
média
média
escala de
de
54,500,
pode observar na tabela 5.
diferença de pares de -8,353, DP=14,769, onde os
Tabela 5 Resultados obtidos do emparelhamento, através do teste paramétrico dos sinais, em relação às Escalas Clínicas do Mini-Mult Dimensão
Sujeitos
Média
Desvio-Padrão
t
P
Hipocondria
Reclusos
61,677
10,901
-0,493
0,625
Normativos
60,382
11,217
Reclusos
64,647
9,918
-2,329
0,026
Normativos
58,529
12,911
Reclusos
63,471
7,952
-0,531
0,599
Normativos
62,265
10,737
Reclusos
66,294
9,197
-0,033
0,974
Normativos
66,235
8,257
Reclusos
66,618
10,554
-1,686
0,101
Normativos
62,382
10,877
Reclusos
59,177
11,175
-3,298
0,002
Normativos
50,824
11,668
Reclusos
73,677
15,137
-2,195
0,035
Normativos
66,029
14,923
Reclusos
54,500
9,475
-0,787
0,437
Normativos
52,794
10,132
Depressão
Histeria
Psicopatia
Paranoia
Psicastenia
Esquizofrenia
Hipomania
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
49
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Ainda no que diz respeito ao Mini-Mult, averiguou-se o
exacerbados, distanciando significativamente do que é
comportamento de outras escalas que não clínicas, no
tipicamente
emparelhamento dos reclusos com indivíduos da
internalização,
população normativa. Nomeadamente, quanto à escala
DP=0,099, para os reclusos e uma média de 0,934,
de mentira (L), verificou-se que os reclusos apresentam
DP=0,0998 para os outros sujeitos, com uma média de
uma média de 53,912, DP=13,187, e os indivíduos
diferença de pares de -0,076, DP=0,139, encontrando-se
normativos
diferenças estatisticamente significativas marcadas (t=-
apresentam
uma
média
de
51,000,
esperado.
Quanto
verificou-se
média
de
diferenças
apresentam um locus de controlo externo, tendendo a
estatisticamente significativas, tal como se pode
atribuir os acontecimentos sobretudo a causas externas.
observar na tabela 6, ainda que os criminosos
Relativamente ao índice de simulação, constata-se que
apresentem uma pontuação ligeiramente acima dos
os reclusos apresentam uma média de 0,971, DP=7,578,
sujeitos da amostra normativa, os pares mostram índices
enquanto os indivíduos normativos apresentam uma
de mentira típicos e normais. Em relação ao índice de
média de -3,147, DP=7,287, verificando-se uma média de
ansiedade,
61,503,
diferença entre pares de -4,118, DP=9,374, sendo
DP=17,041 para os reclusos e uma média de 47,146,
encontradas diferenças estatisticamente significativas
DP=22,042, para os sujeitos normativos encontrando-se
(t=-2,561; p=0,015), reveladoras de que, apesar do índice
grandes diferenças estatisticamente significativas (t=-
de simulação indicar valores esperados e normativos no
3,337; p=0,002) e uma média de diferença de pares de -
caso dos reclusos e da amostra normativa, verifica-se
14,357, DP=25,089, ao que parece, os indivíduos da
que os sujeitos da amostra normativa apresentam
amostra normativa apresentavam níveis de ansiedade
também uma relativa tendência para a simulação, no
relativamente baixos e normativos, enquanto os
sentido de criaram uma melhor imagem de si mesmo.
criminosos
observou-se
apresentaram
verificando
uma
média
níveis
de
de
os
1,01,
2,912,
se
que
de
3,207,
não
evidenciando
índice
DP=11,357, com uma média de diferença de pares de DP=12,939,
p=0,003),
uma
ao
reclusos
ansiedade
Tabela 6 Resultados obtidos do emparelhamento, através do teste paramétrico dos sinais, em relação à escala de mentira, índice de ansiedade, índice de internalização e índice de simulação do Mini-Mult. Dimensão Mentira
Ansiedade
Internalização
Simulação
Sujeitos
Média
Desvio-Padrão
Reclusos
53,912
13,187
Normativos
51,000
11,357
Reclusos
61,503
17,041
Normativos
47,146
22,042
Reclusos
1,01
0,099
Normativos
0,934
0,0998
Reclusos
0,971
7,578
Normativos
-3,147
7,287
ISSN: in attribution process
t
P
-1,312
0,199
-3,337
0,002
-3,207
0,003
-2,561
0,015
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
50
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Discussão dos Resultados De seguida serão debatidos os resultados encontrados aquando do emparelhamento entre os participantes que cometeram crime passional com indivíduo da amostra normativa que possuem características semelhantes, especificamente a nível do género, idade e escolaridade.
os sujeitos terão maior tendência para sentir com maior intensidade o julgamento dos outros, do que o julgamento da própria consciência, que objetiva a culpa e passa para segundo plano o remorso que sentem e a vergonha dos seus atos, dando maior importância ao que os outros pensam, por terem sido condenados e
Verificou-se, de uma forma bastante significativa, que os sujeitos que cometeram crime passional apresentam níveis de culpa bastante mais elevados, face a sujeitos da população normativa, com características semelhantes, sendo estes resultados corroborados pelo estudo de Alvim e Souza, (2005), ainda que o seu estudo incidisse de forma geral em agressores de violência doméstica. Também a literatura refere, de modo geral que, ao nível do crime passional, o ofensor geralmente sente culpa ou remorso, ficando bastante perturbado com o ato que cometera, o que por vezes leva ao suicídio (Habermann, 2010), salientando que diversos participantes do presente estudo, que cometeram crime passional, referiram ter cometido tentativa de suicídio ou ter pensado em cometer tal ato. Ora, os sujeitos presos apresentam culpa global, objetiva e temporal elevada, todavia apresentam baixa culpa subjetiva, estes dados não vão ao encontro da ideia defendida por Junior (2004), segundo o qual, depois do crime cometido, o indivíduo preocupar-se essencialmente com a sua honra e sentimento pessoal, pois neste sentido, seria de esperar que os sujeitos que cometeram o crime apresentassem maiores níveis de culpa subjetiva, que se relaciona com sentimento de remorso, vergonha e
considerados culpados. Para Eluf (2003) o criminoso passional, ao matar, mostra à sociedade que a sua reputação não foi atingida impunemente, restaurando o respeito perdido (Figueiredo & Neto, 2010), o que revela a sua preocupação com a sua honra e com aquilo que os outros pensam a seu respeito. Relativamente à culpa temporal, explica-se pelo facto de estes, pelo ato criminoso que cometeram, se verem privados de desfrutar de mais tempo junto das suas famílias e de quem mais gostam, bem como de realizarem atividades importante (Tavares & Menandro, 2008), e pelo facto de no passado talvez terem tido a oportunidade de passarem mais tempo junto dessas pessoas e de realizar essas
atividades
e
não
terem
usufruído
dela,
provavelmente julgando que teriam tempo num futuro que se revelou limitador a esse nível, por culpa de comportamento
do
próprio
sujeito
(Tavares
&
Menandro, 2008). Além disso mesmo, poderão ter a perceção de que quando cumprirem a pena será difícil retomar a vida normal e realizarem os seus projetos de vida também devido à estigmatização a que se encontram sujeitos e da qual aqueles que cometeram crime passional, tendem a ter perceção (Santiago & Coelho, 2010).
autocondenação. Todavia, estes sentem sobretudo vergonha a um nível mais objetivo, que surge quando uma regra é quebrada e o transgressor é culpado, estes resultados podem ver a sua explicação sustentada no facto de se tratar de sujeitos que se encontram condenados
e
presos,
tendo
sido
oficialmente
considerados culpados (Aquila et al., 2010). Desta forma
ISSN: in attribution process
Relativamente à impulsividade, verificou-se que esta é bastante homogénea nos dois grupos de participantes comparados, nomeadamente nos que se encontram a cumprir pena por crime passional e os que não cumprem, obtendo-se valores baixos, nas diversas dimensões da impulsividade. Estes resultados são de
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
51
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
certa forma contraditórios com aqueles encontrados na
possa cometer um crime passional em determinadas
literatura, pois esta revela que os “crimes de paixão”
circunstâncias, podendo o crime acontecer numa
estão
situação de impulsividade pontual.
sobretudo
associados
a
altos
níveis
de
impulsividade ou reatividade emocional (Woodworth & Porter, 2002), assim como mostram os resultados de um estudo brasileiro levado a cabo por Santiago e Coelho (2010), em que os participantes do estudo estavam detidos por terem cometido crime passional e todos afirmaram ter cometido o crime por impulso, sendo que desta forma, esperar-se-ia que os sujeitos com maiores níveis de impulsividade estivessem mais predispostos e com mais probabilidade de virem a cometer um crime passional, o que não foi verificado comparando os sujeitos que cometeram este tipo de crime com outros que apresentam características semelhantes, mas não cometeram crime passional. Uma explicação para estes dados será o facto destes indivíduos, apesar de não serem personalisticamente mais impulsivos que os outros,
terem
sim
outras
características
que
aumentaram a sua predisposição para cometer o crime naquele momento. Pode ainda acontecer que, uma determinada situação, com uma carga emocional, excecionalmente elevada, poderá ter potenciado a que agissem, naquele momento, por impulso, podendo dizerse que pode ter sido uma impulsividade pontual, o sujeito pode geralmente ter capacidade de controlar os seus impulsos, mas naquele momento específico não teve essa capacidade, devido à carga afetiva e à grande excitação emocional a que esteve submetido, sendo que qualquer pessoa poderia ter tido um ato semelhante perante uma situação idêntica, mais ainda se portador de outras características potenciadoras de um ato criminoso (Calder, 2003). O facto dos níveis de impulsividade serem relativamente semelhantes nos sujeitos que cometeram o crime passional, e nos que pertencem à amostra normativa, leva-nos a aproximar da ideia de Blay (2003), que defende que a paixão pode privar o sujeito dos seus sentidos ou consciência, de forma que, qualquer pessoa
ISSN: in attribution process
No que concerne às características clínicas, verificou-se que os reclusos apresentam, de forma mais expressiva, valores mais elevados de depressão, psicastenia, esquizofrenia
e ansiedade.
Salientando-se que a
literatura vai ao encontro dos resultados, na medida em que diversos estudos demonstram que a sintomatologia depressiva e de ansiedade é a mais predominante na população reclusa, sendo que um estudo levado a cabo em Portugal, por Ventura e David (2001) demonstrou que 88% dos reclusos apresentavam níveis de ansiedade elevados e associado a esta sintomatologia tendem a ocorrer quadros do tipo psicótico, como a esquizofrenia, com alterações de imagem de si e delírios (Marques, 2010). Os participantes delituosos, deste estudo, encontram-se mais deprimidos, o que pode facilmente indicar falta de esperança e insatisfação com o momento atual, uma vez que estes se encontram numa situação de reclusão, privados a todos os níveis, especialmente de contacto com as pessoas mais importantes e de realização
de
atividades
ou
projetos,
o
que
invariavelmente aumenta a tristeza e sofrimento do indivíduo (Tavares & Menandro, 2008). Os valores mais elevados na escala de psicastenia, face aos sujeitos da amostra normativa com características semelhantes, ainda que se encontre dentro de um valor típico e normativo, podem estar relacionados com a depressão e consequentemente com uma apreensão ou preocupação dos reclusos, tendo em conta a situação em que se encontram, grandemente desprovida de suporte familiar e social, o que potencia a presença da ocorrência de medos variados, que se relacionam com ansiedade elevada e dúvidas ruminantes, uma vez que estes se encontram
num
contexto
repleto
de
desafios,
obstáculos, dificuldades e de difícil adaptação (Snow, 2002), referindo-se que diversos reclusos afirmaram que
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
52
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
tinham constantemente a impressão de que tentavam
amostra normativa com os reclusos, foi a escolaridade,
prejudica-lo dentro da prisão. A ansiedade, nos reclusos,
então estará explicado, neste sentido, a tendência maior
para além destes aspetos, pode ainda ter sido
destes para a psicopatia. E desta forma, reforça-se a ideia
potenciada,
se
já bastante presente na literatura, que refere que os
encontravam num contexto de alguma forma avaliativo.
crimes passionais geralmente não são cometidos por
Salientam-se ainda os valores marcadamente mais
indivíduos que tenham maiores traços de psicopatia, tal
elevados na escala de esquizofrenia, revelando a
como o demonstra os estudos de Williamson, Hare e
presença de pensamentos e comportamentos bizarros e
Wong (1987), pois os valores de psicopatia não de
confusos que podem ser consequência do contexto
destacam nos sujeitos que cometeram o crime em
emocionalmente instável onde estes sujeitos se inserem.
questão, pois este, tal como defende Mercader (2004),
A literatura aponta que indivíduos com esquizofrenia
parece
tenham maior probabilidade de serem violentos,
normatividade, e não com marginalidade ou traços
relativamente à população geral (Binder, 1999; Walsh,
psicopáticos. Estes resultados apontam, mais uma vez,
Buchanan & Fahy, 2001, cit. in Teixeira & Dalgalarrondo,
para a ideia de que o crime passional tende a ser
2008), sendo ainda importante referenciar que os
cometido de forma pontual e que pode ser cometido por
sujeitos normativos apresentam também eles resultados
qualquer indivíduo, neste caso, independentemente dos
nesta escala ligeiramente mais elevados que o esperado.
traços psicopáticos como defende Cançado (2002).
devido
a
poderem
pensar
que
Em última análise, estas características parecem ser comuns à população de reclusos, podendo não estar ligadas, de forma exclusiva com o tipo de crime em questão.
Os
estar
mais
resultados
relacionado
obtidos
do
com
alguma
emparelhamento
evidenciaram ainda que, os sujeitos que cometeram crime passional apresentam um locus de controlo externo, enquanto que os indivíduos que fazem parte da
Considera-se importante referir o facto de não terem
população normativa apresentam um locus de controlo
ocorrido diferenças proeminentes entre os pares de
mais interno. Ou seja, os participantes que cometeram
reclusos e sujeitos normativos, a nível da escala de
crime passional tendem a perceber mais que os
psicopatia, sendo que em ambos os casos as médias
acontecimentos não são contingentes com o seu
obtidas foram mais elevadas que o tipicamente
comportamento, apresentam maior probabilidade de
esperado, revelando que, tanto os reclusos que
realizar atribuições como a sorte, destino ou imprevisto e
cometeram o crime passional como os que pertencem à
acreditam mais que os acontecimentos da sua vida estão
amostra normativa, revelam características de certa
fora do seu controlo. Estes dados vão ao encontro do
forma amorais e associais, com alguma desconsideração
estudo realizado por Verde e Cortés (2007), com
pelas normas sociais, bem como pelos direitos dos
agressores domésticos em que salienta que aqueles que
outros. Estes resultados podem ser fruto do facto dos
cometeram homicídio atribuem os seus atos a fatores
indivíduos apresentarem sobretudo uma escolaridade
externos como o álcool ou conflitos. O locus de controlo
mais baixa, não esquecendo que a literatura refere
externo, nestes indivíduos, pode estar relacionado com
amplamente que o comportamento criminoso está
um sentimento de frustração que deriva do facto do
positivamente relacionado com uma escolaridade baixa
indivíduo ter cometido o crime de uma forma
(Thornberry, Moore & Christenson, 2006), e como um
inesperada, sem que nada o fizesse prever, e mais uma
dos parâmetros utilizados para emparelhar os sujeitos da
vez aproximamo-nos da ideia de que o crime passional
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
53
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
pode acontecer de forma pontual, num ato de
os sujeitos que cometeram o crime, como os que
impulsividade que também ele pode ser pontual. Neste
pertence à amostra normativa, revelam valores típicos e
sentido, o sujeito cometeu um crime de forma tão
normais, ainda que os da amostra normativa revelam
inesperada, que tal ato, o poderá fazer sentir que afinal
maior tendência para simular uma imagem de si mais
não consegue ter controlo sobre os acontecimentos que
positiva. Quanto à escala de mentira os resultados
ocorrem, podendo estes facilmente ocorrerem de forma
revelam que os participantes que cometeram o crime
imprevista, como refere a literatura (Cançado, 2002). Em
não apresentam maior tendência para mentir, obtendo-
relação ao índice de simulação, constatou-se que tanto
se resultados relativamente semelhantes.
Conclusões Os sujeitos, condenados por terem cometido crime passional, apresentam maior culpa objetiva e de gestão de tempo. Estes não apresentam maior impulsividade em
na escala de psicopatia ligeiramente mais elevados em relação
aos
participantes
normativos
com
mais
escolaridade e que não cometeram o crime.
relação aos participantes normativos, nem níveis de
Parece que a presença de determinadas características
psicopatia significativamente mais elevados. Apresentam
personalísticas, em conjugação com um historial
maiores níveis de psicastenia, esquizofrenia, depressão e
criminal, um historial de psicopatologia e uma motivação
ansiedade, e ainda um locus de controlo mais externo.
passional, criando-se uma determinada situação de
Conclui-se que os sujeitos que cometem crime passional são sujeitos, com tendência para apresentar baixa escolaridade, que à partida estão mais predispostos a
grande carga emotiva, poderá aumentar fortemente a predisposição dos sujeitos a cometerem um crime passional.
comportamentos desviantes, e daí apresentarem valores
Referências Alvez, I.F. (1999). Crimes Contra a Vida. Belém –Pará: Unama – Universidade da Amazônia. Alvim, S.F. & Souza, L. (2005). Conjugal violence from a relational perspective: battered/agressors men and women. Psicologia: Teoria e Prática, 7 (2), 171-206. Aquino, T.A.A. & Medeiros, B. (2009). Escala de culpabilidade: construção e validação de construto. Avaliação Psicológica, 8(1), 77-86. Arreguy, M.E. (2012). O crime no divã: fundamentos
Borges, L.M. (2011). Crime passional ou homicídio conjugal? Psicologia em Revista, 17, 433-444. Calder, T. (2003). The Apparent Banality of Evil: The Relationship between Evil Acts and
Evil
Character.
Journal of Social Philosophy, 34, 364–376. Cançado, A.M. (2002). Um homem, uma mulher, um drama – crimes da paixão em Ponta Grossa (Dissertação de mestrado, Universidade Federal do
diagnósticos em passionais
Paraná).
violentos. Estudos de Psicanálise, 37, 93–102.
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/
Blay, E.A. (2003). Violência contra a mulher e políticas
Retirado
de
1884/10595/DISSERT%20UM%20HOMEM%20UMA%
públicas. Estudos Avançados, 17 (49), 87 – 98.
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
54
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
20MULHER%20UM%20DRAMA%20ADRIANA%20CAN
Santiago, R.A., & Coelho, M.T.A.D. (2010). O crime
%C7ADO%20pdf.pdf?sequence=1
passional na perspectiva de infratores presos: um
Ceccarelli, P.R. (2003). A contribuição da psicopatologia fundamental para a saúde
mental.
estudo qualitativo. Psicologia em Estudo, 15, 87 – 95.
Revista
Silva, L.F. (1991). O direito de bater na mulher – violência
Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 6,
interconjugal na sociedade portuguesa. Análise
13 – 25.
Social, 26 (111), 385 – 397.
Corsello, C. C. (2008). Quando o corpo grita o que a alma
Silva, L.L., Coelho, E. B. S., & Caponi, S. N. C. (2007).
açaima – Fibromialgia e Psicossomática. (Tese de
Violência silenciosa: violência psicológica como
Mestrado não publicada). Instituto Superior de
condição da violência física doméstica. Interface-
Psicologia, Lisboa.
Comunicação, Saúde e Educação, 11, 93-103.
Figueiredo, R.R.M. & Neto, C. (2010). O ciúme patológico e os crimes passionais. Revista Psicologia, 1, 1-3.
Snow, L. (2002). The role of formalised peer-group support in prisons. In G. Towl, L. Snow, & M. McHugh,
Habermann, J.C.A. (2010). A ciência criminologia. Revista de Direito, 13, 19-36.
Suicide in prisons (pp. 102-120). Oxford: Blackwell Publishers, Ltd.
Malloy-Diniz, L.F., Mattos, P.; Leite, W. B.; Abreu, N.;
Sousa, I. M. (2004). Homicídio Passional: Uma Teoria in
Coutinho, G.; Paula, J.J. et al. (2010). Translation and
Extremi (Dissertação de mestrado Universidade
cultural adaptation of Barratt Impulsiveness Scale (BIS
Católica
- 11) for administration in Brazilian adults. Jornal
http://tede.biblioteca.ucg.br/tde_busca/arquivo.php
Brasileiro de Psiquiatria, (2), 99-105.
?codArquivo=239
de
Góias).
Retirado
de
Marques, A.M.M.B. (2010). Esquemas mal-adaptativos
Tavares, G. & Menandro, P. R. M. (2008). Trajetórias de
precoces, ansiedade, depressão e psicopatologia em
vida de presidiários e possíveis sentidos para a prisão.
reclusas (Tese de mestrado em Psicologia não
Associação Brasileira de Psicologia Política, 8 (15),
publicada). Faculdade de Psicologia e Ciências da
121 – 138.
educação da Universidade do Porto, Porto.
Teixeira, E.H. & Dalgalarrondo, P. (2008). Bases
Mercader, P. (2004). L’asymetrie des comportements
psicopatológicas do crime violento – estudo caso-
amoureux : violences et passions dans le crime dit
controle
passionnel. Sociétés contemporaines, 55, 91-113.
criminosos e não-criminosos. Jornal Brasileiro de
Pena, E.H. (2007). Perfil do homicida passional. Revista Âmbito
jurídico,
37.
Retirado
de
retrospectivo
de
pacientes
delirantes
Psiquiatria, 57 (3), 171-177. Thornberry, T. P.; Moore, M. & Christenson, R.L. (2006).
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n
The effect of dropping out of
_link=revista_artigos_leitura& artigo_id=1664
subsequent criminal behavior. Criminology, 23, 3 –
Ribeiro, C.C.L.R. (2008). Crimes Passionais (Monografia para obtenção de
high
school
on
18. Verde, M.A.S. & Cortés, L.R. (2007). Perfil psicologico del
especialização em Direito Penal e Processual Penal,
homicida doméstico. Artigo apresentado no primeiro
Universidade Candido Mendes, Rio de Janeiro).
congresso
Retirado
psicologia,
de
latinoamericano
de
Barcelona.
estudantes Retirado
de de
http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publica
http://www.colaepsi.psicologico.cl/
das/K208203.pdf
tematicayponentes/MIGUELANGELSORIAVERDE.pdf
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
55
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Williamson, S.; Hare, R.D. & Wong, S. (1987). Violence: Criminal psychopaths and their victims. Canadian
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
psychopathy. Journal of Abnormal Psychology, 111 (3), 436-445.
Journal of Behavioural Science/Revue Canadienne des Sciences du Comportement, 9 (4), 454-462. Woodworth, M. & Porter, S. (2002). In cold blood: Characteristics of criminal homicides as a function of
56
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Caso Clínico O Síndrome Wernicke-Korsakoff sobre o prisma da neuropsicologia Mónica Sousa Clinical Psychologist; MSc in Psychology. Neuropsychologist at Peroneo - Vida e Saúde. All correspondence about this article should be sent to email: monic4sous4@gmail.com.
___________________________________________________________________________ Resumo O presente artigo tem como objetivo abordar e descrever as diversas etapas do processo de avaliação neuropsicológica de um paciente com o síndrome Wernicke-Korsakoff. São ainda tecidas algumas considerações em torno do mesmo. Palavras-Chave: Neuropsicologia, Estudo de caso; Wernicke-Korsakoff.
Abstract
57 This article aims to address and describe the various stages of the neuropsychological evaluation of a patient with Wernicke-Korsakoff syndrome. Finally, some considerations are further weaved around it. Keywords: Neuropsychology, Case Study, Wernicke-Korsakoff syndrome.
Resumen Este artículo tiene como objetivo abordar y describir las diferentes etapas de la evaluación neuropsicológica de un paciente con el síndrome de WernickeKorsakoff. Por último, algunas consideraciones más se tejen a su alrededor. Palabras clave: Neuropsicología, estudio de caso, síndrome de Wernicke-Korsakoff.
___________________________________________________________________________
Introdução
caracterizam os diferentes tipos de perturbações que
A neuropsicologia, como área de estudo e de intervenção, é recente, todavia, o desenvolvimento da sua fundamentação científica é fruto de várias décadas de investigação (Maia, Leite & Correia, 2009). De acordo com Lezak, Howieson e Loring (2004), a neuropsicologia pode ser definida como o estudo da relação entre a função do cérebro humano e o comportamento.
Céspedes
e
Tirapu-Ustarroz
(2008)
concursam com as alterações neuropsicológicas; (c) contribuir para a clarificação diagnóstica, sobretudo nos casos em que não se detetam alterações em provas de neuroimagem; (d) construir programas de reabilitação individualizados, a partir do conhecimento das limitações do sujeito, mas também das capacidades conservadas; (e) realizar avaliações médico-legais.
acrescentam que o neuropsicólogo deverá ser capaz de: (a)
Para Andrade, Santos e Bueno (2004) na neuropsicologia
descrever
inclui-se o estudo das alterações associadas ao uso de
as
perturbações
mentais
em
termos
funcionamento cognitivo; (b) definir os perfis clínicos que
do
substâncias, tais como o álcool e outras; contribuindo, assim, para o esclarecimento de questões diagnósticas bem
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
como para a definição de um processo reabilitativo que têm
Face ao que foi referido, o exame clínico auxiliado pela
por objetivo a recuperação ou minimização dos défices
tomografia computadorizada e ressonância magnética
neurocognitivos identificados.
permitirão a efetuação de um diagnóstico com maior
A encefalopatia de Wernicke (EW) é uma desordem neuropsiquiátrica aguda causada pela deficiência da vitamina B1 (Tiamina), fortemente associada aos hábitos etílicos. Esta é classicamente descrita pela tríade de alterações do estado mental, oftalmológicas e atáxicas. A EW pode evoluir para a síndrome de Korsakoff (SK),
exatidão, uma vez que se encontra descrito na literatura que a WE implica lesões na porção medial do tálamo e mesencéfalo, dilatação do terceiro ventrículo e atrofia dos corpos mamilares (Charness & De la Paz, 1987; Lishman, 1990; Yokote, Miyagu, Kuzuhara,Yamanouchi & Yamada, 1991).
desordem também associada ao alcoolismo e à deficiência
No presente artigo debruçamo-nos sob um caso clíncio de
nutricional, que se manifesta específicamente pelos défices
um
mnésicos.
instituicionalizado num lar de idosos da região de Coimbra.
A síndrome Wernicke Korsakoff (WKS) é hoje considerada como o resultado da união do complexo de sintomas presentes na EW e na SK.
paciente
com
síndrome
de
Wernicke-Korsakoff,
Descreve-se o protocolo de avaliação neurospicológica e os dados dai extraídos, fundamentando o caso clínico apresentado de acordo com os postulados teóricos da 58 neuropsicologia.
Mais de um século após as descrições iniciais, o WKS permanece interlaçado a um diagnóstico difícil. Num estudo conduzido por Harper (1983), através de autópsias, verificaram que mais de 80% dos casos não foram diagnosticados em vida. Esta dificuldade reside no facto da sensibilidade da sintomatologia anteriormente referida ser
Apresentação do caso clínico Dados sociodemográficos: Sujeito do sexo masculino de nacionalidade portuguesa com 54 anos, solteiro, reformado por incapacidade.
reduzida. Caine, Halliday, Kril e Harper (1997) identificaram 97 alcoólatras em que a WKS foi diagnosticada pela primeira vez na autópsia. Noutro estudo com a mesma população
Dados Clínicos Relevantes: Alcoolismo crónico. Anemia Macro lítica.
alvo, apenas 15% apresentaram os três sinais clássicos, 29%
Medicação: Tiaprida 100mg, Folicil 5 mg, Oxazepam 15 mg,
dois sinais, 37% um sinal e 19% nenhum sinal (Harper, Giles
Fenabarbital 100mg e Pantaprazol 40mg.
& Finaly-Jones, 1986). Nos mesmos estudos, as alterações mentais foram relatadas em 82% dos casos, os sinais oculares em 29% dos pacientes e a ataxia foi identificada em 23% dos pacientes. Outros dados que complexificam o diagnóstico relacionamse com o facto dos exames laboratoriais disponíveis para a medição da tiamina não serem rápidos nem utlizados como exames de rotina para a WE (Isenberg-Grzeda, Kutner & Nicolson, 2012).
Antecedentes Pessoais e História de Desenvolvimento A. apresenta muita dificuldade na explanação da sua linha biográfica, particularmente em precisar as atividades laborais que desempenhou, a duração dessas ou a idade que tinha durante o início ou término dessas atividades. Parece preencher as lacunas mnemónicas com confabulações, o que implica a criação de uma outra história de vida, não coincidente com a que é fornecida pela Assistente Social que
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
acompanha o caso. Embora refira “Não me lembro” (sic),
um líquido amarelado. Quando voltava a beber sentia-se
acaba por contar a sua história da sua vida.
melhor, mas sabia que assim as coisas não estavam bem.
Desconhece se andou na escola até à 3 classe e se reprovou ou não. Todavia, no segundo momento de avaliação afirma convicto que andou na escola até ao terceiro ano, virando a cabeça para o lado em sinal de reprovação quando foi confrontado com essa informação. Aponta que aos 10 anos foi trabalhar para a serração (Indústria madeireira).
“Não tenho ninguém, mãe ou mulher para fazer-me as coisas, vim para o lar.” No entanto, de acordo com a técnica de assistência social, a principal razão deve-se aos hábitos etílicos e à falta de condições habitacionais, factos desvalorizados e negados por A. Não sabe precisar quando é que veio para o lar, tendo a suspeita que já fez dois anos em regime de internamento. A razão de ainda estar vivo, diz,
Diz ter sido escriturário numa fábrica, “Escriturário. (minha questão) Apontava o que levam, o material. O que faltava.
dever-se ao lar, pois se não tivesse entrado estava “com os pés juntos” (sic).
Escrevia. Apontava. O material” (sic). Não sabe precisar com que idade, mas pensa que depois dessa atividade foi para uma fábrica de vidro na Marinha Grande, durante pouco tempo, tendo a função de colocar vedante. Refere, sem precisar a sua função, ter trabalhado perto de Lisboa
Afirma apenas ter tido conhecimento que tomava uma medicação para o alcoolismo em Dezembro de 2012, pois perguntou à enfermeira qual era a medicação que estava a
59
fazer (não ficando esclarecido).
durante alguns anos numa fábrica de Margarina. Acrescenta
Atualmente nega o consumo de álcool, todavia contradiz-se
que foi despedido dessa fábrica e regressou ao trabalho da
ao dizer que “Basta um copo ou dois para tombar uma
resina, mas como o patrão não lhe pagava, abandou o
pessoa. Não estou já habituado” (sic).
emprego. Note-se que um outro colega do lar refere que nunca o viu na empresa, embora A. afirme ter trabalhado Processo / Resultados de Avaliação
com ele. Aprendeu a ler e a escrever por iniciativa própria em adulto, concluindo a 4ºclasse nessa altura. Raramente aborda a questão da sua dependência alcoólica. Todavia, afirma a existência de um ambiente negativo em casa devido ao consumo de bebidas alcoólicas por parte dos seus pais. Note-se que refere com alguma imparcialidade “Eles bebiam. É normal beber. Bebiam, mas trabalhavam.”
Observação do Comportamento Anteriormente ao início do primeiro momento da avaliação efetuou-se uma breve explicação dos objetivos da avaliação neuropsicológica, referindo também as questões éticas e deontológicas inerentes a qualquer avaliação psicológica. Posteriormente
esclareceu-se
algumas
questões
que
surgiram a A.
(sic). Diz ser o primogénito da família de 5 irmãos, referindo
Em ambos os momentos de avaliação, A. apresentou-se
com alguma tristeza a morte de dois irmãos, um devido a
vestido
hábitos etílicos, outro devido ao consumo exagerado de
socioeconómico. A. apresentou-se desperto, relativamente
álcool e tabaco. Afirma que consumia bebidas alcoólicas à
atento, como capaz de obedecer a ordens verbais ou escritas
refeição e que “sozinho não bebia” (sic), indo sempre para
simples. Transversalmente a ambas as sessões foi incapaz de
um café (estabelecimento) beber com os amigos. Não sabe
seguir instruções complexas, de recordar-se das perguntas
precisar a quantidade de bebida que ingeria por dia, mas
ou dos testes que foram sendo administrados
de
acordo
com
a
sua
idade
mais revela que quando não bebia termia muito e vomitava
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
e
estatuto
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Processo / Procedimento de avaliação
Quadro 1 – Síntese do protocolo de avaliação neuropsicológica. Avaliação 1º Sessão
Duração (min) 70
Instrumentos Utilizados
Objetivo de avaliação/ Domínio avaliado Análise geral/específica da situação do sujeito
Anamnese neuropsicológica Exame do Estado Mental Escala da Depressão Geriátrica
2º Sessão
60
Avaliação socio-afetiva
Inventário de Ansiedade Geriátrica Series gráficas de Luria – Forma A MoCA WAIS-III Figura Complexa de Rey Rey 15 Item Test
Processo / Resultados de Avaliação
Avaliação neuropsicológica
Emoções (Trepacz & Baker, 2001): Adequa as respostas emocionais às situações que descreve, manifestando uma
Exame do estado mental
intensidade, mobilidade e uma reatividade normal. Descrição geral (Trepacz & Baker, 2001): Consciente, orientado alopsiquicamente, no espaço, embora estivesse ligeiramente desorientado no tempo e auto-psiquicamente.
Linguagem (Trepacz & Baker, 2001): Normal para indivíduos de baixa escolaridade e baixo nível socioeconómico.
Idade aparente correspondente à idade cronológica.
Percepção (Trepacz & Baker, 2001): Nega alucinações e
Posição, postura e vestuário normal. Higiene algo cuidada e
ilusões
sem dificuldade em manter contacto visual. Possui estrabismo convergente. Sem anomalias físicas bizarras, todavia com anomalia física evidente (coluna vertebral escoliose). A expressão facial é normal, contudo quando não percebe o que é pedido; parece parar no tempo, ficando
Pensamentos (Trepacz & Baker, 2001): Quanto ao processo avaliado, este apresenta-se maioritariamente lógico e coerente, embora por vezes desagregado, sendo que o conteúdo
centra-se
nas
doenças
(autorreferência
hipocondríaca).
com os olhos muito arregalados, sugerindo a presença de bradifrenia. Apresenta um nível de atividade reduzida com alguma lentificação psicomotora, deslocando-se lentamente numa marcha ebriosa, o que revela ataxia. Não apresenta movimentos anormais. Mantém uma postura amigável,
Avaliação Breve do estado Mental A. alcançou dezanove (19) pontos no MMSE, um resultado que sugere deficit cognitivo (Guerreiro, 1998).
atenta, interessada e divertida. Reduzido insight para as situações do quotidiano. Humor
e
afecto
(Trepacz
&
Baker,
2001):
Fala
MoCA
voluntariamente dos seus sentimentos, apresentando um
A. obteve um resultado total de treze (13) pontos.
afeto congruente ao humor.
Recorrendo aos valores normativos portugueses (Freitas, Simões, Alves & Santana, 2011) e tendo por base a variável idade e anos de escolaridade (Me= 21.78; =2.86), pode-se
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
60
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
considerar que o examinado obteve resultados inferiores à
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
média por aproximadamente três desvios padrão ( 3 ).
Figura 1 - Resultado obtido por A. Em apenas uma parte do MoCA
61
WAIS-III No que concerne ao subteste de Composição de Objetos, Informação, Matrizes, Cubos e Memória de Dígitos, A. alcançou o resultado bruto de 0, 6, 7, 15 e 3, correspondendo ao valor padronizado de 1, 6, 9, 6 e 3, respetivamente. Todos estes resultados sugerem um desempenho inferior à média (Wechsler, 2008).
Inventário Ansiedade Geriátrica A. obteve uma pontuação de catorze (14) o que o situa acima do ponto de corte para a população portuguesa, sugerindo a presença de sintomas de ansiedade grave (potencialmente patológicos) (Ribeiro, Paúl, Simões & Firmino, 2011).
Series gráficas de Luria – Forma A Apresenta um padrão desatento e impulsivo, denotando dificuldade mnésicas (Maia, Loureiro & Silva, 2002).
Figura Complexa de Rey Na Figura Complexa de Rey - Cópia, A. efetuou uma Reprodução Tipo VII, obtendo um resultado de 0.5 pontos. Com base nas normas estrangeiras (Spreen & Strauss, 1991) pode-se concluir que para a sua idade (M = 31.19; =3.68) A. obteve um desempenho muito inferior à média por aproximadamente oito desvios padrão (
8).
Na Figura Complexa de Rey - Evocação Diferida, o examinando obteve o resultado de 0 pontos, referindo não
Escala de Depressão Geriátrica A. situa-se no extremo direito do intervalo normativo correspondente à presença de depressão ligeira, uma vez que obteve o resultado de quinze (15) (Simões, Sousa, Firmino, Andrade, Ramalho, Martins et al., 2010).
se recordar da imagem que lhe tinha sido anteriormente apresentada, “Qual figura? Não desenhei nenhuma figura.” (sic). Atendo às mesmas normas estrangeiras (Spreen & Strauss, 1991) para a idade (M = 14.88; =6.95), conclui-se que A. obteve um resultado muito inferior à média por aproximadamente três desvios padrão (
ISSN: in attribution process
3).
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Figura 2 – Prestação de A. na Figura Complexa de Rey. Figura Complexa de Rey – Forma A (Adultos) - Modelo
Resultado da Figura Complexa de Rey Cópia
Resultado da Figura Complexa de Rey - Evocação Diferida
Não se recorda da figura.
62
Rey 15 Item Test A. obteve um resultado total de cinco (5), não sendo capaz de evocar os dez (10) elementos (omissões), embora não haja preservações nem erros reversíveis (Simões, Sousa, Duarte, Firmino, Pinho, Gaspar et al. (2010b). Figura 3 - Resultados alcançados por A. Na Rey 15 Item Test Rey 15 Item Test – Cartão Rey 15 Item Test Rey 15 Item Test – de estímulo Reconhecimento
Discussão e integração do processo avaliativo Nas duas sessões de avaliação realizadas, procedeu-se à
Para a formulação do caso foram considerados os resultados
avaliação psicológica de vários domínios, nomeadamente, o
quantitativos obtidos nos testes, a respetiva análise
sócio-afectivo/sintomatologia e o neuropsicológico.
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
qualitativa dos mesmos, bem como as informações obtidas
somente tarefas simples e habituais (Maia, Correia & Leite,
na anamnese neuropsicológica efetuada.
2009). Um exemplo destes dados está patente no forte
Verificou-se que A. apresenta relativa dificuldade em compreender
instruções
mais
complexas,
todavia
a
evocação simplificada, por parte da psicóloga, facilitou a
défice de reprodução por memória que apresenta na Figura Complexa de Rey - Evocação Diferida (Spreen & Strauss, 1991). Embora não haja o comprometimento das funções motoras, estes resultados sugerem défices na aptidão viso-
compreensão.
construtiva, na análise espacial e na capacidade de Considera-se, ainda, que o processamento linguístico, tanto a nível recetivo como expressivo, encontra-se algo deficitário em A., sendo por vezes difícil perceber a relação entre as ideias que apresenta (confabulação). Esta dificuldade torna-se ainda mais evidente a nível escrito, possuindo disortografia e uma estrutura lógico-gramatical incorreta. Por outras palavras, a linguagem, oral e escrita, utilizada por A. apresenta um padrão de resposta típico de
planeamento do desenho, na memória visual, na memória seletiva, na consolidação de memória a longo prazo. Por outras palavras, ao nível da memória de curto e de longo prazo, A. possuiu um desempenho deficitário em todo o processo de avaliação. Destaca-se que na Figura Complexa de Rey, a cópia defeituosa e a pobreza da reprodução é tão evidente que se pode colocar a suspeita de défice de memória de etiopatogenia neurológica.
sujeitos com baixa escolaridade e funcionamento intelectual Os resultados reforçam, também, o distúrbio de consciência
concreto.
e do estado mental, bem como o estado confusional, uma Tendo como referência Simões et al., (2010b), considera-se ausente a hipótese de fadiga, reduzida cooperação ou malingering (simulação).
vez que não são coincidentes os dados do diagnóstico clínico, obtido por meio da anamnese neuropsicológica com dados fornecidos pela técnica assistente social.
Reportando para a avaliação neuropsicológica, dentro do MoCA, e numa análise qualitativa, A. obteve um desempenho máximo apenas num teste de um subteste (linguagem, especificamente na repetição de frases). Tendo
Apresenta, também, défices na meta memória e uma ligeira compreensão do funcionamento da sociedade, juízo crítico e social, possivelmente relacionado com o seu nível fraco de aquisição da informação geral.
com valores de referência a sua idade e escolaridade, estes resultados sugerem o declínio das funções cognitivas de A (Freitas, Simões, Alves & Santana, 2011).
Sublinha-se o pobre insight e fraca capacidade de encontrar o seu equilíbrio emocional e social, de acordo com o seu nível etário e sócio laboral. Tais aspetos produzem prejuízo
A. apresenta capacidade de aprendizagem, sendo esta
significativo no desempenho quotidiano de A.
dificultada por mecanismos de interferência. O processo de retenção e recuperação, mediado por um processo de interferência encontra-se totalmente prejudicado. Possui também uma afeção das dimensões mnésicas, no que concerne à amnésia anterógrada e amnésia retrógrada e defeito do aprendizado. A memória imediata está intacta, estando a memória de curto prazo comprometida. O defeito
Crê-se que os dados acima referidos, os hábitos etílicos, associados à presença de sintomatologia depressiva e ansiosa em A., sugerida pela Escala de Depressão Geriátrica GDS (Simões et al., 2010a), e pelo Inventário de Ansiedade Geriátrica - GAI (Ribeiro, Paúl, Simões & Firmino, 2011), estarão a comprometer o seu funcionamento cognitivo.
de aprendizagem é o aspeto que leva à incapacitação do
Face ao que foi anteriormente mencionado, assim como ao
paciente na sociedade, o qual fica apto para executar
nível de funcionamento cognitivo pré-mórbido, nível
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
63
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal socioeconómico,
história
profissional
e
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
dependência
Guerreiro, M. (1998). Contributo da neuropsicologia para o
alcoólica estipula-se que A. Vê-se acometido por Síndrome
estudo das demências. Dissertação de doutoramento não
de Wernicke-Korsakoff.
publicada, Faculdade de Medicina de Lisboa, Lisboa. Harper,
C.
(1983).
The
incidence
of
Wernicke's
encephalopathy in Australia — a neuropathological study
Considerações finais
of 131 cases. Journal of Neurology & Neurosurgery Os
baixos
resultados
apresentados
nos
testes
Psychiatry, 46 (7), 593–598.
neuropsicológicos e as elevadas pontuações obtidas na avaliação do domínio sócio-afectivo (GDS e GAI), podem ser explicados pela presença de um quadro fenomológico típico do que é classicamente denominado por Síndrome Wernicke-Korsakoff, o que se traduz na dificuldade em efetuar uma auto-bibliografia (fortemente marcada pela
Harper, C.G.; Giles, M. & Finlay-Jones R. (1986). Clinical signs in the Wernicke-Korsakoff complex: a retrospective analysis of 131 cases diagnosed at necropsy. Journal of Neurology & Neurosurgery Psychiatry, 49 (4), 341-345. Isenberg-Grzeda, E.; Kutner, H. & Nicolson, S. (2012).
confabulação), afeção das dimensões mnésicas e de
Wernicke-Korsakoff-Syndrome:
manutenção
de
Under-Treated. Psychosomatic, 53 (6), 507-516.
concentração
deficitários
níveis
acentuados
de
atenção
e
Kutner
&
(Isenberg-Grzeda,
Nicolson, 2012).
Under-Recognized
and
Lishman, W.A. (1990). Alcohol and the brain. The British Journal of Psychiatry, 156, 635-44. Maia, L.; Leite, R. & Correia C. (2009). Avaliação e
Referências Andrade,
Intervenção V.M.,
Santos,
F.H.
&
Bueno,
O.F.A.
(2004). Neuropsicologia hoje. São Paulo: Artes Médicas. Caine, D.; Halliday, G.M.; Kril, J.J. & Harper C.G. (1997). Operational criteria for the classification of chronic alcoholics: identification of Wernicke's encephalopathy. Journal of Neurology & Neurosurgery Psychiatry, 62 (1), 5160.
Neuropsicológica:
Estudos
de
casos
e
instrumentos. Lisboa: Lidel. Maia, L.; Loureiro, M.J. & Silva, C.F. (2002).Versão Portuguesa Experimental da Bateria Neuropsicológica de Luria-Nebraska Hammeke
&
(Adaptada Purisch,
e
1982,
traduzida sob
de
Golden,
autorização),
Universidade da Beira Interior. Ribeiro, O.; Paúl, C.; Simões, M.R. & Firmino, H. (2011).
Céspedes, J. & Tirapu-Ustárroz, J. (2008). Rehabilitación neuropsicológica. Madrid: Editorial Sintesis.
Portuguese version of the Geriatric Anxiety Inventory: Transcultural adaptation and psychometric validation. Aging & Mental Health, 15 (6), 742-748.
Charness, M.E. & de la Paz, R.L. (1987). Mamillary body atrophy in Wernicke’s encephalopathy: antemortem identification using magnetic resonance imagering. Annals of Neurology, 22, 595-600.
Simões, M.R.; Sousa, L.B.; Firmino, H.; Andrade, S.; Ramalho, E.; Martins, J.; Martins, M.; Araújo, J.; Noronha, J.; Pinho, M.S. & Vilar, M. (2010). Geriatric Depression Scale (GDS30): Estudos de validação em grupos de adultos idosos com
Freitas, S.; Simões, M.R.; Alves, L. & Santana, I. (2011). Montreal Cognitive As-sessment (MoCA): Normative study for the Portuguese population. Journal of Clinical and
Declínio Cognitivo Ligeiro e Demência. VII Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia. Associação Portuguesa de Psicologia e Universidade do Minho. Braga.
Experimental Neuropsychology, 33 (9), 989-986.
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
64
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Simões, M.; Sousa, L.; Duarte, P.; Firmino, H.; Pinho, M. S.;
Yokote, K.; Miyagi, K.; Kuzuhara, S.; Yamanouchi, H. &
Gaspar, N.P.L & França, S. (2010). Avaliação da simulação
Yamada, H. (1991). Wernicke encephalopathy: follow-up
ou esforço insuficiente com o Rey 15-Item Memory Test
study by CT and MR. Journal of Computer Assisted
(15- IMT): Estudos de validação em grupos de adultos
Tomography, 15, 835-8.
idosos. Análise Psicológica, 1, 209-226. Spreen, O. & Stauss, E. (1991) A Compendium of
Agradecimentos
Neuropsychological Tests : Administration , Norms and Commentary Ed. New York: Oxford University Press. Trzepacz, P.T. & Baker, R.W. (2001). Exame Psiquiátrico do Estado Mental. Lisboa: Climepsi. Wechsler, D. (2008). Manual de administração e cotação -
Ao Peroneo - Vida e Saúde. Conflito de interesses A autora declara não ter nenhum conflito de interesses relativamente ao presente artigo.
WAIS-III. Escala de Inteligência de Wechsler. (3rd Edition). Lisboa: CEGOC.
65
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
A “Aceitação da Diferença” pós-AVC, pela Psicologia Cognitiva Narrativa Hélder Lopes (1) & Luis Maia (2) (1) Clinical Psychologist; MSc in Psychology (Coimbra University). All correspondence about this article should be sent to email: helder.lopes@chmt.min-saude.pt. (2) Beira Interior University PhD in Neuropsychology by Salamanca University – Professor at Beira Interior University.
_________________________________________________________________________________ Abstract The combination of a functional severity with the triggering emotional distress and installed, which are interwoven with human weakness evidenced on dependence "versus" independence, produces an emotional distress almost inaccessible and often overlooked in the field of emotional understanding. The new functional, sensory and cognitive reality mirrors an unchangeable Difference that requires an Acceptance. The Acceptance is directly linked to the process of personalization. All the personalization process is intertwined with the Narrative relational competence by writing a story to which the caller calls "I". The Narrative system allows you to access the underlying processes of self-representation; that is essential to understand the Organization of personality, or in the case of a patient that have suffered a Stroke (CVA), after the accident, understand the reconstruction of personal identity and inevitably in the acceptance of Difference. The world is not what exists, but what happens. Happens is the main element of the narrative. Based on this statement we presented this clinical case which demonstrates the efficacy and efficiency of application of cognitive psychology in accepting the Narrative difference in a patient victim of stroke without cognitive sequelae, but with standard dysfunctional emotional antecedent to CVA and post stroke, increased functional dependency, with significant evolutionary positive prognosis. We applied the narrative descriptive model Prototype of basic events in personal life, whose construction requires a collection of elements from various other consequential or previous narratives of the main narrative. The therapy took place in 17 weekly sessions that resulted in the acquisition of functional and balanced emotional behaviors, either in the family context, whether socially, sleep longer, suitable acceptance of difference, acquisition of decision-making capacity, intervention and participation in individual or oriented group tasks. The narrative produced along the therapy resulted in a representative story of an era in the history of Portugal of very difficult times and full of emotions that will be published soon. Keywords: acceptance of Difference, CVA, cognitive psychology.
Resumo A conjugação de uma severidade funcional com o sofrimento emocional desencadeante e instalado, que se entrelaçam com a fragilidade humana evidenciada na dependência “versus” independência, produz um sofrimento emocional quase inacessível e muitas vezes negligenciado no campo do entendimento emocional. A nova realidade funcional, sensitiva e cognitiva espelha uma Diferença inalterável que necessita de uma Aceitação. A Aceitação está diretamente ligada ao processo de personalização. Todo o processo de personalização confunde-se com a atualização da competência Narrativa pela redação relacional de uma história a que o interlocutor chama de “eu”. A Narratividade permite aceder a processos latentes de autorrepresentação essenciais para compreender a organização da personalidade, ou no caso do doente pós-Acidente Vascular Cerebral (AVC), na reconstrução da identidade pessoal e inevitavelmente na Aceitação da Diferença. O Mundo não é o que Existe, mas o que Acontece. Acontece é o elemento principal da Narrativa. Sustentados nesta afirmação desenvolveu-se o presente Caso Clínico onde se demonstra a eficácia e eficiência da aplicabilidade da Psicologia Cognitiva Narrativa na Aceitação da Diferença no doente vítima de AVC sem sequelas cognitivas, mas com padrão emocional disfuncional antecedente ao AVC e potencializado pós-AVC e de significativa dependência funcional com prognóstico evolutivo positivo. Aplicamos a Narrativa Protótipo, modelo descritivo de acontecimentos basilares da vida pessoal, cuja construção exige uma recolha de elementos de vários outras narrativas consequentes ou precedente da narrativa principal. A terapia decorreu em 17 sessões semanais de que resultou a aquisição de comportamentos emocionais funcionais e equilibrados, quer em contexto familiar, quer socialmente, o sono mais longo e recuperador, observa-se adequada aceitação da diferença, aquisição da capacidade de tomada de decisão, intervenção e participação nas tarefas de cariz individual ou em grupo. Da narrativa produzida ao longo da terapia resultou uma história representativa de uma época da Historia de Portugal de tempos muito difíceis e cheios de emoções que irá ser publicada brevemente. Palavras-chave: Aceitação da Diferença, AVC, Psicologia Cognitiva Narrativa.
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
66
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Resumen La combinación de una severidad funcional con la activación emocional e instalada, que se entrelazan con la debilidad humana, evidenciada en dependencia "versus" independencia, produce una angustia emocional casi inaccesible y a menudo pasado por alto en el campo de la comprensión emocional. La nueva realidad funcional, sensorial y cognitiva refleja una diferencia inmutable que requiere una Aceptación. La Aceptación está directamente relacionada con el proceso de personalización. Todo el proceso de personalización se entrelaza con la escrita de una narrativa y competencia relacional en una historia a que el narrador llama "Yo". El sistema de narración permite acceder a los procesos subyacentes de auto-representación, esencial para entender la organización de la personalidad, o en el caso de enfermos con accidente cerebrovascular (ACV), después del accidente, entender la reconstrucción de la identidad personal e inevitablemente la aceptación de la Diferencia. El mundo no es lo que ya existe, pero lo que pasa. Sucede que esto es el elemento principal de la narrativa. Basado en esta declaración hemos presentado este caso clínico que demuestra la eficacia y la eficiencia de aplicación de la psicología cognitiva en aceptar la diferencia narrativa en un paciente víctima de CVA sin secuelas cognoscitivas, pero con el antecedente emocional disfuncional estándar y dependencia funcional con pronóstico evolutivo significativo positivo. Aplicamos el modelo descriptivo narrativo prototipo de eventos básicos de vida personal, cuya construcción requiere una colección de elementos de varias otras narrativas consecuentes o anteriores de la narración principal. La terapia tuvo lugar en 17 sesiones semanales que resultó en la adquisición de comportamientos emocionales funcionales y equilibrados, sea en el contexto de la familia, socialmente, dormir más, aceptación conveniente de la diferencia, adquisición de la capacidad de toma de decisiones, intervención y participación en relaciones individuales o grupales. La narración se produce a lo largo de la terapia y resultó en una historia representativa de una época en la historia de Portugal de tiempos muy difíciles y llena de emociones que se publicará pronto. Palabras clave: aceptación de la psicología cognitiva de la Diferencia, VCA.
_________________________________________________________________________________
67
Introdução Percorrendo
pela
compreensão
entre
as
emoções
A nova realidade funcional, sensitiva e cognitiva espelha
desencadeantes após o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e
uma Diferença inalterável que necessita de uma Aceitação. A
as emoções instaladas pela história de vida do indivíduo são
Aceitação
determinantes na planificação técnica para a reabilitação,
personalização.
reorganização cognitiva e funcional do doente. A conjugação
confunde-se com a atualização da competência Narrativa
de uma severidade funcional com o sofrimento emocional
pela redação relacional de uma historia a que o interlocutor
desencadeante e instalado que se entrelaçam com a
chama de “eu”. A Narratividade permite aceder a processos
fragilidade humana evidenciada na dependência versus
latentes
independência produz um sofrimento emocional quase
compreender a organização da personalidade ou no caso do
inacessível e muitas vezes negligenciado no campo do
pós-AVC na reconstrução da identidade pessoal e inevitável
entendimento emocional.
“Aceitação da Diferença”
A conceção da diferença faz desencadear novas dinâmicas
A Psicoterapia Cognitiva Narrativa é um processo que
emocionais mas também deixam mais expostas as
concede aos pacientes o poder de potencializar as histórias
anteriores porque as resistências estão com défice; este
vividas através da complexidade dos seus próprios Mundos.
fenómeno faz desencadear ansiedades persecutórias,
A utilização deste modelo de abordagem psicológica
manifestadas por comportamentos de culpa, repugnância,
contribui efetivamente e eficazmente no acesso aos
negação e a incapacidade de verbalizar o sofrimento
processos de autorrepresentação do doente, resultantes
intrínseco aumentado ao existente e de forma significativa.
pela
está
Todo
de
o
processo
autorrepresentação
conjugação
consequentes
ISSN: in attribution process
diretamente ligada
ao
das
emoções
Acidente
ao de
processo
personalização
essenciais
antecedentes
Vascular
de
para
e
as
Cerebral
e
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
consequentemente na reestruturação da Personalidade
principal. Suportado em 3 fases terapêuticas: a Recordação
Consequente.
onde o objetivo principal é o de intencionalizar o trabalho terapêutico ao nível da estrutura da narrativa tendo em vista
O presente Caso Clínico demonstra a eficácia e eficiência da
a diferença do seu grau de coerência.
aplicabilidade da Psicologia Cognitiva Narrativa na Aceitação da Diferença no doente vítima de Acidente Vascular Cerebral
A coerência narrativa por sua vez é correlativa da presença e
(AVC)
diferenciação de quatro elementos fulcrais nesta fase
de
consequência
cognitivas
ligeiras
mas
de
significativa dependência funcional.
terapêutica são eles: a orientação, sequência estrutural, comprometimento avaliativo e a integração. De seguida a
O Mundo não é o que Existe, mas o que Acontece. Acontece é o elemento principal da Narrativa, (Gonçalo, 2002). Sustentado nesta afirmação desenvolveu-se o presente Caso Clínico onde se demonstra a eficácia e eficiência da aplicabilidade da Psicologia Cognitiva Narrativa na Aceitação da Diferença no doente vítima de AVC de sequelas cognitivas ligeiras, de padrão emocional disfuncional mantido pós-AVC e de significativa dependência funcional com prognóstico evolutivo positivo. Aplicamos a Narrativa Protótipo, modelo descritivo de acontecimentos basilares da vida pessoal, cuja construção exige uma recolha de elementos de vários outras
Adjetivação
que
está
focalizada
nos elementos de
objetivação, subjectivização emocional e cognitiva e metaforização para que no processo narrativo o grau de complexidade seja crescente e finalmente a Projeção nesta última
fase
procura-se
a
organização
o
trabalho
desenvolvido nos contexto dos conteúdos das narrativas realizadas motivando o paciente a introduzir elementos de 68 ampla diversidade que sejam indicadores de retractivos e proactivos de uma existência diversa e flexível, para isso sustenta-se o objetivo em quatro elementos a diversidade temática, a de personagens, de ações e de contextos.
narrativas consequentes ou precedente da narrativa
Caso Clínico O Sr. JVL um individuo do sexo masculino com 67 anos
estrutura da linha média sem deformação ou qualquer
atualmente, vive com a esposa em casa própria, individuo
desvio posicional.
sem hábitos tabágicos ou alcoólicos, reformada de industria
Sr. JVL está colaborante, orientado e afável, apresenta
vidreira e a frequentar a Licenciatura em Restauro no
labilidade persistente, as palavras saem com dificuldade, a
Instituto Politécnico de Tomar. Em 27 de junho de 2011 o Sr.
ansiedade está presente, assim como o desânimo, a
JVL foi vítima de AVC isquémico associado a Hipertensão
desesperança e o sentir-se só. A revolta e a auto depreciação
Tensão Arterial. Vem referenciado da Consulta de Medicina
são rígidas, o discurso é coerente, responde com prontidão a
Física e Reabilitação com sequelas de AVC isquémico,
todas as perguntas.
acontecido em 27/06/2011; apresentava uma hemiparesia
Foi realizada a avaliação psicológica, emocional e cognitiva
direita com associação de afasia, evidenciado por TAC CE de
através dos testes IACLADE, SCL-90R e AVALIAÇÃO
entrada realizada em 27/06/2011, registando-se em
COGNITIVA de ADDENBROOKE.
relatório
intra-
Pela avaliação inicial realizada o Sr. JVL apresentava um
parenquimatosas focais sugestivas de lesão vascular
adequado nível cognitivo 79 pontos (pontuação máxima 100
isquémica ou hemorrágica. O sistema ventricular, sulcos
pontos)
corticais e cisternas basais apresentam-se permeáveis, a
caracterizado por boa capacidade funcional de Atenção e
de
alta
ausência
de
anomalias
ISSN: in attribution process
na
Avaliação
Cognitiva
de
Addenbrooke,
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Orientação espaço temporal 13 pontos (pontuação máxima
alerta e de reação impulsiva sobre a maioria dos
18 pontos). Para a Memoria imediata, anterógrada e
acontecimentos. Na correlação dos resultados obtidos na
retrógrada obteve 20 pontos (pontuação máxima 26
avaliação Psicoemocional, podemos afirmar que o Sr. JVL
pontos), na Fluência Verbal pontuou 8 (pontuação máxima
apresenta uma perturbação do Estado de Humor Grave de
14 pontos), mostrou défice na produção de palavras com
etiologia Depressiva Grave cuja epidemiologia é Stress pós-
ordem. A Linguagem é de discurso coerente e fluente
traumático mantido desde a experiencia militar vivida para
responde de forma correta a todas as tarefas, obteve 23
mais de 20 anos.
pontos (pontuação máxima 26 pontos) observa-se défice
O Sr. JVL foi um combatente da Guerra do Ultramar e esteve
ligeiro particularmente na retenção e repetição para as
na Guiné. Num cenário de Guerra que descreve como muito
palavras fora do uso comum e superiores a cinco silabas.
difícil e perturbante, que ainda hoje passados mais de 20
Responde com boa qualidade a ordens e utiliza com destreza
anos, recorda como se tudo estivesse a acontecer agora.
e facilidade a caneta para os movimentos finos nas provas
Percebe-se que o padrão emocional instalado tem forte
viso - espacias, respondendo com boa qualidade nas provas
influência no padrão emocional consequente ao AVC e que o
do desenho. Emocionalmente pelas provas realizadas
primeiro está incluso nas emoções resultantes de um
apresenta Perturbação do Estado de Humor de quadro
conjunto vasto de episódios marcantes decorridos neste
semiológico caracterizado por tristeza, com labilidade
período
persistente,
funcionalidade o que permite o recurso a uma modelo de
pessimismo,
fracasso,
culpa
acentuada,
de
vida.
Cognitivamente
intervenção
recurso ao próximo para todas as tarefas e decisões. A
comportamentos de resposta. A periodicidade foi semanal e
hostilidade que é confirmada pela esposa, é caracterizada
a abordagem psicoterapêutica utilizada foi a narrativa-
por irritabilidade, isolamento, indecisão, dificuldade para
protótipo
tomar a iniciativa para vários contextos e o sono é
emocionalmente e cognitivamente para os comportamentos
superficial, agitado, curto no tempo e com forte dificuldade
resposta. Com o objetivo principal de reabilitar o Sr. JVL nos
para o iniciar. Verifica-se ainda a existência de pensamentos
comportamentos de resposta sobre as relações internas e
perturbantes sobre si próprio.
externas, promover a Aceitação para o novo Eu e
No Sr. JVL está presente a vulnerabilidade nos estados de
redirecionar os desejos e as expectativas; Restaurar a
ânimo, contestatário na maior parte do tempo, recurso ao
motivação a integração no meio familiar e social, reabilitar a
isolamento, significativa irritabilidade sempre que as coisas
capacidade para a tomada de decisão e promover o
não lhe correm a “jeito”, focalização persistente na
aumento do grau de independência para as atividades da
experiencia militar passada há mais de 20 anos. Durante o
vida diária; Implementar a capacidade de adaptabilidade
sono que é muito perturbante também fala sobre o mesmo
para que a nova condição do Self não possa ser impeditiva
assunto. É mantido desde há muito um mal-estar psicológico
na concretização das conquistas desejadas.
persistente que é antecedente ao AVC, relato corroborado
O Sr. JVL teve um programa de estimulação/reabilitação
pela esposa. O pensamento negativo generalizado e de
através da realização em consulta e em atividades em casa
julgamento
os
através de jogos direcionados para as atividades de função
acontecimentos sociais são persistentes e recorrentes.
executiva, gnosias, atenção e concentração, linguagem,
Observa-se um estado de luta/fuga ao longo de toda a
memoria e praxia. Para além de realizar em casa uma
entrevista clínica de avaliação; bem como um estado de
abordagem escrita sobre a experiencia militar, através de
particularmente
sobre
ISSN: in attribution process
funcionando
focado
também
na
reabilitação
boa 69
comportamentos hesitantes, desvalorização, com forte
negativo
terapêutica
apresenta
como
dos
reabilitadora
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
um relato por onde passou, as várias ações em que
Toda a riqueza de pormenor explicita em cada descrição
participou, quer em contexto de formação militar, quer em
verbal muito entusiasmada e entusiasmante, (confesso),
contexto de guerra, assim como as datas correspondentes.
fosse colocada na narrativa.
Tudo
si-próprio;
O Sr. JVL recebe e cumpre com entusiasmo a nova tarefa, a
participação, intervenção e as emoções desencadeantes em
esposa referencia que os comportamentos do Sr. JVL são
cada momento e foi alvo de discussão em cada consulta.
mais equilibrados, mostrando uma nova vontade sobre a
No decurso da proposta, o Sr. JVL mostra forte emoção ao
vida, a importância sobre si-próprio está a recuperar e é
falar no tema ao mesmo tempo que faz resistência através
efetiva.
da referência a vários elementos incapacitantes para a
Mostra maior organização, melhora o planeamento e
concretização
seguintes
acontece o “descarregar” das emoções instaladas. Através
continuamos a abordagem ao tema também como forma de
da Adjetivação é possível observar a intensidade de como as
solidificar a relação terapêutica e consequentemente a
emoções instaladas e antecedentes ao acontecimento de
confiança.
AVC tem um papel influenciador dos comportamentos atuais
O tema começou a ganhar corpo e é observável o
de resposta. Para isso subdividimos o processo Adjetivação
entusiasmo para a tarefa, nas consultas consequentes, o Sr.
em três subgrupos; a Objetivação com o papel de
JVL apresenta-se com uma narrativa resumida em forma de
desenvolver uma complexificação sensorial de toda a 70
hierarquia de acontecimentos, representativa da recordação
experiencia adquirindo uma forma de detalhe, não só para o
sobre os acontecimentos importantes no percurso militar,
próprio como também um processo de co construção para o
discutimos várias partes da narrativa escolhidas pelo Sr. JVL.
exterior, é como que uma porta de entrada para a
Constata-se o padrão de escolha sempre focado naquelas
sensorialidade da narrativa, construindo os alicerces para
que envolveram maior perigo, maior exposição e um maior
querer a Subjetivação, a conquista do ambiente interno do
grau de destruição e perda, mas também um maior grau de
paciente que através do detalhe é possível exteriorizar e
intervenção sua, face ao grupo. Cognitivamente está a
clarificar os processos emocionais e cognitivos intrínsecos à
aumentar a qualidade da palavra dita, a sua articulação
experiencia traumática, esta também constitui um processo
fonética e também a qualidade da escolha da palavra.
de discriminação progressiva da significação da experiencia
Apresenta melhor apreciação sobre si-próprio, a motivação
vivida que nos leva aos processos emocionais mais internos,
está presente, as tarefas sobre as atividades de estimulação
finalmente pelo terceiro grupo a Metaforização que são
e reabilitação cognitivas são realizadas com boa qualidade,
formas de condensação do significado sobre cada elemento.
Conclui-se a I fase da terapia,
O Sr. JVL é convidado a introduzir na construção narrativa
Na Fase II reduzimos a realização dos jogos de reabilitação
elementos de forte multiplicidade de significados, cores,
das funções cognitivas e aumentamos a produção da
cheiros e sons para que seja clarificado o sentido da
narrativa, o Sr. JVL tem agora que dar à narrativa os aspetos
experiencia e desta forma conseguir sair significativamente
ou elementos sensoriais, como as emoções e as cognições
do estado de embotamento pelos processos de significação.
colocando a caracterização das pessoas locais, as cores do
Durante a discussão da narrativa produzida é possível
meio ambiente onde estavam inseridos, os cheiros, os
observar uma diminuição do grau de hostilidade embora
sentimentos
esta já pontual e na maioria das vezes focada na Historia a
deve
estar
da
e
contextualizado
tarefa.
as
Nas
emoções
sobre
consultas
despertos
em
acontecimento e os significados assimilados.
cada
produzir. As relações conjugais tomam um novo rumo, a frustração é melhor gerida durante uma boa parte do
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
tempo. Na discussão mantem o mesmo foco escolhe, textos
A relação com o exterior é mais capaz, a tolerância nos
ricos de significado, onde descreve os acontecimentos de
comportamentos e atitudes na relação conjugal é agora
forte agressividade e onde o JVL tem um papel importante
sólida, existe bom reconhecimento da família. Sr. JVL deseja
no desenrolar da ação. A discussão faz-se de forma muito
publicar a sua historia, e está determinado a faze-lo, mostra
viva e intensa e chama novos detalhes que são
forte disponibilidade para relançar a sua vida, constrói
transportados
desejos, reflete sobre eles e apresenta-os de forma
para
a
nova
realidade
instalando
comportamentos adaptativos e motivadores para o novo
estruturada e adequadamente planeada.
futuro.
Foi realizada nova avaliação psicologia e emocional
A III fase da terapia é centralizada apenas na narrativa do
utilizando os mesmos instrumentos pelo que o estado de
acontecimento vivido; é introduzido o elemento fulcral da
tristeza, pessimismo, fracasso, culpa, foi substituído por
terapia: a Projeção, que se trata de um processo que visa
dinamismo, auto reconhecimento, aumento da auto estima
lidar com os conteúdos da narrativa, personagens, ações e
e vontade em realizar pequenos trabalhos domésticos como
situações vividas. Trata-se da exploração do vivido é como
o aproveitamento de um espaço na sua casa para a criação
que um refazer a história com a nova experiencia adquirida.
de um ginásio como forma de dar continuidade aos
Em todos os processos da construção narrativa fizeram
exercícios físicos realizados no âmbito da fisioterapia. A
desencadear novos sentimentos e com eles é avaliado e
hostilidade e a irritabilidade estão significativamente 71
refeita a historia vivida. Esta fase terapêutica tem subjacente
diminuídas, a tolerância está presente e sólida, não existe
o objetivo fulcral de proporcionar ao Sr. JVL a não
recurso ao isolamento, a tomada de iniciativa está presente
manutenção na contemplação narcísica da experiencia
e o sono passou a ser restaurador e repousante.
vivida, de tomar consciência de que o único elemento que se
O pensamento negativo generalizado e de julgamento
manterá é o da Mudança, ao mesmo tempo interromper de
negativo particularmente sobre os acontecimentos sociais
forma eficaz e eficiente o recurso persistente à redundância
que eram persistentes e recorrentes, observados no início
de elementos, tema e sentimentos incutindo-o a utilizar na
da terapia deram lugar a uma nova forma de se relacionar
narrativa produzida novas formas para descrever os
com o Mundo exterior, melhor observador, mais cuidado na
contextos e as dinâmicas emocionais vividas. O Sr. JVL sente
análise através de uma melhor escuta e consequentemente
a mudança e esta é explícita e consistente. Os temas agora
melhoria na qualidade da mensagem produzida. Observa-se
escolhidos para debate na terapia são já tratados de forma
uma postura geral mais equilibrada e cuidada na forma de
pedagógica, ao invés de meras descrições empolgadas,
relação com o Exterior.
mostra cuidados em passar a mensagem e aceita o debate.
Discussão/Conclusão. O presente caso clinico torna-se importante porque no
mais de 20 anos cuja etiologia é Perturbação Traumática de
processo de avaliação dos danos cognitivos e emocionais
Guerra.
subjacentes ao pós-AVC foi percetível a presença de uma etiologia ligeira dos danos cerebrais de bom prognóstico e uma
sintomatologia
neuropsicológica
associada
mas
também revelou uma outra sintomatologia instalada para
ISSN: in attribution process
A avaliação psicoemocional realizada ao doente corrobora com os resultados obtidos pelos estudos desenvolvidos com ex-combatentes
dos
Estados
Unidas
da
América
participantes na Guerra do Vietname que confirmam a
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
presença de défices neuropsicológicos ao nível da memória,
ecologicamente e temporalmente situado é essencial. Pio de
atenção, aprendizagem e défices executivos (Vasterling,
Abreu (2000) conceptualiza, que, pela linguagem se constrói
Duque, Brailey, Constans, Allain &Sutker, 2002), assim como
intencionalmente a experiencia de cada indivíduo e esta
também os défices emocionais estão presentes e suportados
através
igualmente pelos resultados dos estudos realizados em PTSD
simultaneamente o meio e o fim de um processo
onde se confirma a atrofia do hipocampo, o mau
terapêutico. Ao mesmo tempo que conceptualizado por
funcionamento
que
Gonçalves (2000), o conhecimento coabita num processo
desencadeiam processos comportamentais de irritabilidade,
ativo desencadeado pela transformação ininterrupta do
suspeição, hostilização para com o exterior, impaciência e
meio ambiente pertença de cada indivíduo, todos os seres
auto isolamento social como forma mais confortável de
vivos são organizações de conhecimento, mas só o Homem e
bem-estar, para além de anedonia persistente, baixa auto
através das funções cerebrais capazes de organizar as nossas
estima
geralmente
próprias experiencias no que concerne à linguagem, sendo
intermitente fragmentado, agitado e pouco eficaz o mesmo
através destas que é possível construir significações de
observado no doente. Apesar de o quadro semiológico do
duplo sentido in e out (Fischer, 1987). Também será por este
doente ter forte sustentabilidade na conceptualização
recurso que é possível sociabilizarmos o conhecimento
teórica observa-se que o padrão emocional instalado tem
adquirido, isto é, a linguagem toma um papel mediador intra 72
forte influência no padrão emocional consequente ao AVC e
e interpessoal permitindo a construção cooperada de
que o primeiro está incluso nas emoções resultantes de um
significados.
conjunto vasto de episódios traumaticamente marcantes
Ao fazermos a proposta ao doente para narrar os
decorridos
acontecimentos vividos inclusos no período de vida
e
da
amígdala,
auto-depreciação.
no
período
de
entre
O
sono
vida
outros,
é
correspondente
à
da
sua
configuração
narrativa
constitui
participação do doente na Guerra do Ultramar.
correspondente à sua participação na Guerra do Ultramar
A opção pelo modelo de intervenção terapêutica Narrativa-
particularmente
Protótipo tem o objetivo principal de reabilitar o doente nos
exteriorização
comportamentos sobre as relações interoceptivas e
resistências tornaram-se mais frágeis. A exteriorização desta
exteroceptivas, promover a Aceitação para o novo Eu ao
atividade
mesmo tempo que redireciona os desejos e as expectativas.
resultou
A sustentabilidade teórica deste modelo de abordagem
acontecimentos vividos. O reencontro com a história vivida
psicológica em associação com a reabilitação cognitiva
veio igualmente promover a exteriorização e abordagem de
sustentada em jogos para as atividades funcionais, alicerça-
alguns acontecimentos vividos que devido ao sofrimento
se no que Couto (2000) sustenta:
significativamente severo associado eram frequentemente
- O Mundo não é o que existe, mas o que acontece, o que faz
negados e repudiados. O encontro narrativo feito com o
com que todo o indivíduo em cada momento possa ser o
mundo interno, promoveu um equilíbrio nunca atingido com
responsável do resultado da interpretação que faz sobre o
o mundo externo ao mesmo tempo que os défices
acontecimento.
psicoemocionais associados aos pós AVC tornaram-se
A Narrativa é o constructo do acontecimento, onde o foco
residuais e de fácil controlo.
na de
Guiné uma
sustentada numa
no
alteração
foi possível promover
atividade
Modelo
introversiva
a
cujas
Narrativa-Protótipo
interpretativa
dos
vários
está no acontecimento, logo impõe-se que no exercício da intervenção psicológica o recurso ao conceito da ação sustentada
no
conhecimento
como
execução
ISSN: in attribution process
A Narratividade permitiu aceder aos processos latentes de autorrepresentação
essenciais
para
compreender
a
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
organização da personalidade do Sr. JVL, e desta forma
conhecimentos adquiridos na construção de pequenos
contribuir eficazmente na reconstrução da identidade
aparelhos de exercícios físicos para a manutenção física em
pessoal e inevitavelmente na Aceitação da Diferença. A nova
casa.
realidade funcional, sensitiva e cognitiva espelha uma Diferença inalterável que necessita de uma Aceitação foi atingida e é mantida por um conjunto de atividades diárias ligadas a esta mesma historia como também na aplicação de
Referencias Bibliográficas Couto, M. (2000). O último voo do flamingo. Lisboa: Caminho.
Comorbidity in a 60-year-old Portuguese war veteran: War Post Traumatic Stress Disorder, Early Fronto-
Fischer, R. (1987). On fact and fiction: the structure of stories that the brain tells to itself about itself. Journal of Social and Biological Structures, 10 (4),
Temporal
Cerebral
Neuropsychological
Atrophy,
and
Symptomatology.
Strong A
Neuropsychological Review. Revista Ecuatoriana de
73
Neurologia, 16 (3), 200-212.
343-351. Gonçalves, O.F. (1998). Psicoterapia cognitiva narrativa:
Pio-Abreu, J.L. (2000). O tempo aprisionado; ensaios não espiritualistas sobre o espirito humano. Coimbra:
manual de terapia breve. Campinas: Editorial Psy.
Quarteto. Gonçalves,
O.F.
Psicoterapia
(2002). como
Viver
Narrativamente.
Adjetivação
da
A
Experiencia.
Coimbra: Quarteto Editora.
Vasterling, J.J.; Duke, L.M.; Brailey, K.; Constans, J.I.; Allain, A.N. & Sutker, P.B. (2002). Attention, learning, and memory performances and intellectual resources
Maia, L.A.C.R., da Silva, C. F., Bartolomé, M.V.P., Correia, C. M.R. & Parrilla, J.L. (2007). A strange case of
ISSN: in attribution process
in Vietnam veterans: PTSD and no disorder comparisons. Neuropsychology, 16 (1), 5.
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Estudos de Casos Clínicos Alterações neuropatológicas entre indivíduos com Doença de Alzheimer e Portadores de Trissomia 21 Maria João (1) & Luis Maia (2) (1) Child Education Degree (Coimbra University). All correspondence about this article should be sent to email: mariajoao2003@hotmail.com. (2) Beira Interior University PhD in Neuropsychology by Salamanca University – Professor at Beira Interior University.
_________________________________________________________________________________ Abstract In the last years have been published several works of avant-garde and international recognition, which try to identify genetic factors of neuropathologic connection between dementia Alzheimer type and trisomy 21. This study follows a design of exploratory analysis variance blending qualitative and quantitative data. The sample was composed through a casual methodology for accessibility or convenience sampling (patient with Alzheimer's Type dementia and people with Trisomy 21). It is expected to have given a contribution to the understanding of the features common to the subjects referred to populations using robust recognized instruments and a mixed analysis methodology. It would be interesting to continue this study with a wider sample and subject of both genders, because the data that met with empirical research refer to the practice of Neuropsychological rehabilitation for the need to slow the memory deficits in Patients with Trisomy 21 in Alzheimer's Patients.
Resumo Nos últimos anos tem sido vários os trabalhos de ponta, de reconhecimento internacional, que identificam fatores de ligação genética e neuropatológica entre a demência tipo Alzheimer e Trissomia 21. O presente estudo segue um desenho correlacional exploratório com recurso a uma metodologia de análise de dados mista qualitativa e quantitativa. A amostra foi composta através de uma metodologia não aleatória mas por amostragem por acessibilidade ou conveniência (paciente com Demência de Tipo Alzheimer e portadores de Trissomia 21). Espera-se ter dado um contributo para a compreensão das características comuns aos sujeitos das populações referidas com utilização de instrumentos de reconhecida robustez e uma metodologia de análise mista. Seria interessante dar continuidade a este estudo com uma amostra mais alargada e sujeitos do género masculino, pois os dados que se encontraram com investigação empírica remetem a nível da prática da reabilitação neuropsicológica para a necessidade de retardar os défices na memória tanto nos Portadores com Trissomia 21 como nos Doentes de Alzheimer.
Resumen En los últimos años han sido publicados varios trabajos de vanguardia y reconocimiento internacional, que buscan identificar factores genéticos de la conexión neuropatológica entre demencia tipo Alzheimer y trisomía 21. El presente estudio sigue un diseño de varianza con una metodología de análisis exploratorio mezclando datos cualitativos y cuantitativos. La muestra fue compuesta tomando una metodología que permitiese la accesibilidad por conveniencia a los enfermos (Demêcia de tipo Alzheirmer y enfermos con trisomía 21). Se espera que el contenido que se refiere a las poblaciones utilizando instrumentos de robustez reconocida y una metodología de análisis mixta haya dado una contribución a la comprensión de las características comunes de las dos enfermedades. Sería interesante continuar este estudio con una muestra más amplia y con sujetos masculinos, porque los datos que se reunieron con esta investigación empírica se refieren a la práctica de la rehabilitación neuropsicológica y llaman la atención para la necesidad de reducir los déficits de memoria en enfermos con trisomía 21 y en enfermos con Alzheimer.
_________________________________________________________________________________
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
74
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Introdução
“As alterações neuropatológicas de pessoas com Trissomia 21 são idênticas às observadas nos indivíduos com Doença de Alzheimer, surgindo em idades relativamente precoces (...).” (Paula Breio, 2012).
Nos últimos anos têm sido vários os trabalhos de ponta, de reconhecimento internacional,
que identificam
fatores de ligação genética e neuropatológica entre a demência de tipo Alzheimer e Trissomia 21.
portadores de Trissomia 21, principalmente em idades superiores a 35 anos (Rehens, 2011). O avançar da idade para estas pessoas é um fator de risco importante. Notavelmente, pacientes com Trissomia 21 desenvolvem
A Doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa do Sistema Nervoso Central, sendo a forma mais comum de demência, cujos primeiros sintomas são a perda de memória “demência amnésica” e da capacidade de atenção que culminam em défice
alterações neuropatológicas semelhantes às de pacientes com a DA, diferindo apenas na idade precoce de início (Zanaigh, 2006). A partir dos 40 anos, parte dos portadores de Trissomia 21 apresentam, nos exames de ressonância magnética, alterações compatíveis com a DA, sugerindo declínio cognitivo. O quadro clínico,
cognitivo.
porém, só é percetível mais tarde (Robbins & Cotran, A característica fisiopatológica mais importante da DA é a
formação
de
placas
neuríticas,
cujo
componente é o peptídeo β-amilóide (Aβ). O Aβ é um peptídeo formado a partir da proteína percursora do amilóide
(APP),
responsável
pela
2005).
principal
regulação
do
desenvolvimento celular. Esta proteína está localizada no cromossoma humano 21 (de Mendonça & Maia, 2002; Maia, 2001; Maia e de Mendonça 2002 a, b).
Segundo o estudo de Goldgaber et al. (1987) a característica genética do Alzheimer ou FAD (Familial Alzheimer Disease) pode apresentar no mínimo cinco mutações de genes que causam a doença de Alzheimer. A posição de um destes genes (FAD1) encontra-se no cromossoma 21, o que justifica o fato dos portadores de Trissomia 21 possuírem uma maior predisposição para
Os portadores de Trissomia 21 possuem uma cópia extra
manifestar Alzheimer.
do cromossoma 21, apresentando uma expressão elevada de APP, e por isso irão apresentar as lesões anatomopatológicas características da DA (Goldgaber, Lerman, McBride, Saffiotti & Gajdusek, 1987).
Um estudo do Instituto de Neurociências de Castilla e León (2010), recorda a ligação genética entre a DA e a Trissomia 21 em modelos experimentais que usam animais, (e.g., os camundongos). Segundo este estudo,
Neste sentido algumas pesquisas têm demonstrado a relação da Trissomia 21 com a predisposição de acúmulo precoce de APP e o aparecimento da DA, e, paralelamente, estudos recentes têm demonstrado uma maior incidência de indivíduos com demência entre os
ISSN: in attribution process
existem distintos modelos de camundongos transgênicos que detêm um gene ou vários com variadas cópias análogas às da síndrome de Down. No caso do camundongo Ts16, estes têm uma parte do cromossomo 16
“triplicada”.
Uma
linhagem
de
camundongos
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
75
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
apresenta trissomia no cromossoma 16 (equivalente ao
em geral, pois o cromossoma extra 21 abriga genes
cromossoma 21 em seres humanos) e diversas
associados à doença neuro-degenerativa. O Este estudo
características dos portadores de Trissomia 21. A
teve como objetivo analisar a expressão de microRNAs
principal vertente destes trabalhos é o tema do
associados à doença de Alzheimer no hipocampo de
envelhecimento e o surgimento da patologia de
camundongos, modelos da trissomia do cromossoma 21
Alzheimer.
humano, a fim de entender a relação dos miRNAs com a
Outro estudo do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo chegou à conclusão que portadores de
agregação proteica característica da neurodegeneração (Ferrarri, 2013; Robbins & Cotran, 2005).
Trissomia 21 apresentam um risco mais elevado para desenvolver a doença de Alzheimer do que a população
Neuropsicologia na Doença de Tipo Alzheimer A DA é uma patologia neuro-degenerativa que tem como causa principal uma diminuição gradual de tecido nervoso central, acompanhado de perda de funções cerebrais. É a mais frequente das demências que afetam o sistema nervoso com uma progressiva desorganização das funções psíquicas (de Mendonça & Maia, 2002; Maia,
comportamento; estados de ansiedade ou depressão, deterioração
progressiva
superiores,
perturbações
das
funções
da
psíquicas
memória,
do
reconhecimento (gnosia), da orientação no espaço e no tempo, de todas as formas de pensamento e da linguagem (afasia), e dificuldades da motricidade (praxia) que podem ser profundas (Maia, 2001).
2001; Maia e de Mendonça 2002 a, b). Inicialmente os doentes apresentam perdas de memória pontuais que se confundem com as alterações normais do processo de envelhecimento. À medida que a patologia evolui acentuam-se os problemas relacionados com a memória, bem como o declínio de outras funções cognitivas (e.g., atenção, concentração, linguagem, pensamento). Este quadro é resultado da perda de comunicação entre neurónios (células nervosas) de diferentes áreas cerebrais e, eventualmente, a morte de muitas destas células. À medida que estas lesões se propagam para várias regiões cerebrais, existe um agravamento do quadro clínico (Robbins & Cotran, 2005;
A DA está dividida em 3 estadios evolutivos (dependendo das várias classificações internacionais, sendo todavia esta a que nos faz mais sentido aqui fazer referência): a) DA Ligeira, em que o doente de Alzheimer apresenta pequenos problemas de memória, como lembrar eventos recentes, nomes de familiares ou localização de objetos; b) DA moderada que consiste na perda de memória e desorientação que se tornam cada vez mais evidentes. Os doentes apresentam dificuldades em reconhecer amigos e familiares, desorientação no tempo e no espaço, e a capacidade de raciocínio e julgamento também está comprometida; c) DA severa, é o último estadio da doença, no qual o paciente deixa de reagir a
Maia, 2001).
estímulos. Nesta fase o doente necessita de apoio em Sendo
uma
degeneração
progressiva,
a
DA
é
caracterizada por alterações da personalidade e ou do
ISSN: in attribution process
todas as suas atividades diárias, sendo incapaz de reconhecer familiares e amigos; a sua capacidade de
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
76
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
comunicação é muito limitada podendo a linguagem
para atrasar o desenvolvimento da doença e tratar as
expressiva estar completamente comprometida (Maia,
perturbações e alterações comportamentais associadas a
2001).
esta (Robbins & Cotran, 2005).
No sentido de aliviar alguns dos sintomas e melhorar a sua qualidade de vida, estes pacientes tomam medicação
Reabilitação Na DA os sintomas e a progressão do declínio das funções variam de paciente para paciente, não só devido às características da personalidade do doente, mas também aos níveis de estruturação cerebral anterior à
impacto no planeamento do pensamento, ação, inibição e sequenciação. Este défice resulta numa incapacidade dos doentes com Alzheimer em desenvolver atividades dirigidas, em inibir comportamentos repetitivos e emoções, assim como, em evocar e registar memórias
doença.
(Maia, 2001). Assim, numa primeira fase é feito um estudo com o suporte de baterias de investigação neuropsicológica, que determina as funções nervosas superiores afetadas e a extensão da degeneração. Com base nesta primeira avaliação, é definido um plano de reabilitação composto por exercícios específicos para cada sistema funcional
Deste modo, a reabilitação neuropsicológica nos doentes com Alzheimer possibilita o retardamento dos processos degenerativos ao nível funcional, com implicações profundas na vida ativa dos pacientes e na sua relação com o mundo e com os outros.
que é trabalhado com o paciente de Alzheimer
Considera-se, face ao exposto, que a neuropsicologia
individualmente. É comum, entre outros défices, uma
tem competências próprias no tratamento de doentes de
degeneração inicial nos sistemas pré-frontais com
Alzheimer.
Neuropsicologia na Trissomia 21
A partir de 1959, com a evolução da Ciência e da
A Trissomia 21 é uma das patologias classificadas de Deficiência Mental, não sendo possível predeterminar o desenvolvimento de cada portador (Leitão, 2000; Palha,
Medicina, o Dr. Lejeune descobriu que se tratava de uma doença genética causada pela existência de três cromossomas do par 21 (Palha, 2001). No cariótipo de um portador de Trissomia 21 em vez dos habituais 46
2002).
cromossomas, as células apresentam 47, existindo no par O médico inglês John Langdon Down descreveu um conjunto de características fenotípicas observadas nas crianças internadas num asilo, e desde então a patologia
21 um cromossoma supra-numerário; daí a designação mais correta e atual para esta patologia ser Trissomia 21 (Palha, 2001).
passou a designar-se de Síndrome de Down (Palha, A importância de se estudar a Trissomia 21 reside na
2001).
elevada incidência de portadores com esta patologia que
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
77
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
beneficiaria ao nível do aumento da sobrevivência e
prega epicântica a nível dos olhos, ou seja, apresentam
melhor qualidade de vida.
fendas palpebrais oblíquas e a íris pode apresentar
A Trissomia 21 é resultado de uma alteração na distribuição cromossómica entre as células, podendo ocorrer em diferentes fases do processo de divisão celular; o que acontece logo após a conceção (Palha, 2001). Através de estudos científicos é possível observar que as células do corpo de um feto com Trissomia 21 não se dividem tão rápido como nos bebés ditos “normais”, e como tal tendem a ser menores do que a média (Leitão, 2000). A migração das células que formam diferentes partes do corpo é afetada, especialmente na área cerebral, o que resulta num atraso de desenvolvimento
pequenas manchas brancas, mãos curtas e grosseiras, grande espaço entre o 1º e 2º dedo, orelhas displásticas (sendo os canais auditivos mais estreitos, o que pode levar a dificuldades auditivas), nariz hipoplástico, face achatada, língua proeminente, aumento do tecido subcutâneo do pescoço, anomalia da forma do palato (palato estreito), entre outras (APPACDM, 2002; Bautista, 1997; Pueschel, 1993). Podem surgir, ainda, outras patologias
e/ou
dificuldades,
designadamente:
cardiopatias congénitas, infeções do trato respiratório superior,
perda
de
audição,
deficiência
visual
(estrabismo, cataratas congénitas, nistagmo, miopia e
(Palha, 2001).
hipermetropia), hipotiroidismo, hipotonia muscular e No que diz respeito à manifestação cromossómica na Trissomia 21, é possível distinguir três tipologias: a) Trissomia 21 livre (sendo a mais frequente, cerca de 95% dos casos), em que as crianças possuem um cromossoma 21 suplementar o que perfaz um total de 47 cromossomas no seu cariótipo, ou seja 47 cromossomas em todas as células do seu corpo; b) Mosaico (cerca de 1% dos casos), em que algumas células possuem 46 cromossomas e outras 47 e c) Translocação (cerca de 3% dos casos), em que o braço do cromossoma 21 extra está partido e agarrado a um outro cromossoma (Leitão, 2000; Palha, 2001).
dificuldades no controlo tónico-postural, entre outras (APPACDM, 2002; Bautista, 1997; Pueschel, 1993). Por conseguinte, a criança com Trissomia 21 tem um desenvolvimento similar mais lento, comparativamente com a criança sem esta problemática. Com efeito, a velocidade de desenvolvimento e as características morfológicas da criança com Trissomia 21 fazem com que apresente dificuldades generalizadas nas várias áreas de desenvolvimento, incluindo perturbações psicomotoras e fracas competências motoras, ao nível da tonicidade muscular, da postura, do equilíbrio e das coordenações práxicas (global e fina) (Morato, 2002;
Existem várias características e sinais associados à
Pueschel, 1993).
Trissomia 21, tais como: cabeça menor que a média,
Reabilitação Para uma intervenção eficaz deverá ter-se em conta as particularidades neuropsicológicas das crianças com Trissomia 21, como por exemplo: dificuldades de discriminação auditiva, deficit na discriminação visual,
ISSN: in attribution process
dificuldades na interação social, memória auditiva de curto prazo prejudicada, dificuldade na memória de trabalho, atraso no desempenho linguístico verbal (no que concerne à intencionalidade comunicativa precoce,
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
78
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
poderá concluir-se que embora os portadores de
possibilitou uma nova visão de cada uma das crianças,
Trissomia 21 adquiram a linguagem do mesmo modo que
como um ser ativo com inúmeras capacidades (Palha,
as crianças ditas “normais”, parecem experimentar
2001; Peixoto, 1999). Quanto mais cedo se intervém (se
atrasos, sobretudo no que se refere ao desenvolvimento,
possível desde o nascimento) maiores são os progressos.
e mais especificamente no que se refere à linguagem expressiva (Morato, 2002; Pueschel, 1993).
limitações físicas e intelectuais, e através da intervenção
É ainda importante não descurar a aquisição dos comportamentos autonomia,
o
sociais
convencionais,
desenvolvimento
de
uma
boa
formas
de
comunicação eficazes, uma motricidade funcional e uma cognição que lhe permita a melhor operacionalidade possível; sem esquecer a promoção da orientação vocacional e comunitária e o exercício do lazer (Palha, 2001).
precoce essas limitações poderão ser ultrapassadas. Ludlow e Allen referem “que crianças com Trissomia 21, que beneficiaram de um programa de intervenção precoce entre os dois e os cinco anos de idade, obtiveram níveis de desenvolvimento superiores a outras crianças com a mesma deficiência que só aos cinco anos começaram a ser ajudadas.” (cit in Courtiade, 1993, p.29).
Para alcançar os objetivos mencionados defende-se a intervenção precoce, com apoios educativos diretos e indiretos adequados a cada criança. Esta abordagem tem por finalidade melhorar os atrasos evolutivos da Trissomia
As pessoas com Trissomia 21 apresentam certas
21
desenvolvimento
nas
crianças,
biológico
e
favorecendo
o
seu
cognitivo,
e
visa
De forma geral, o principal objetivo consiste em proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento das suas potencialidades e desenvolver habilidades e conhecimentos práticos que o levem a descobrir valores que favoreçam o seu comportamento em casa, na escola / jardim-de-infância e na sociedade.
acompanhar e orientar desde o mais cedo possível e consecutivamente dar apoio às famílias e integrar cada criança no jardim-de-infância. A intervenção precoce
Metodologia Amostra A amostra do estudo apresentado é composta por quatro sujeitos do género feminino (100%). As participantes mais novas possuem 18 (sujeito 2) e 24 anos (sujeito 1) respetivamente, e são portadoras de Trissomia 21. As
de escolaridade baixo, na medida em que, à exceção do sujeito 2 que completou o 10º ano de escolaridade, todas as participantes completaram apenas o primeiro ciclo de escolaridade.
participantes mais velhas têm 75 anos (sujeito 3) e 78
De notar que as duas participantes com Trissomia 21
anos (sujeito 4), e foram diagnosticadas com Doença de
habitam com a sua família e que dentro do grupo de
Alzheimer. No que diz respeito às habilitações literárias,
pacientes com diagnóstico de Alzheimer, o sujeito 3
pode-se considerar que esta amostra apresenta um nível
habita sozinho e o sujeito 4 está institucionalizado.
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
79
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Procedimento O estudo segue um desenho correlacional exploratório com recurso a uma metodologia de análise de dados mista, qualitativa e quantitativa. A amostra foi composta
dados que percorreu os meses de Março e Abril de 2013. A recolha decorreu em espaço reservado na ausência dos cuidadores e durou cerca de 1 hora por sujeito.
através de uma metodologia não aleatória mas por
Após um diálogo e entrevista a cada sujeito, a primeira
amostragem
conveniência.
prova aplicada foi o MMSE (Mini Mental States
Efetivamente, foi através da rede de contactos informal
Examination) (Folstein,1973; adaptado por Guerreiro,
da investigadora principal que se procedeu ao contacto
1993), seguida da prova de Memória de Dígitos da Wais
com as pacientes. Num primeiro passo foi apresentado o
(Wechsler, CEGOC, 1996), a Figura Complexa de Rey (Rey
pedido de colaboração no estudo que contemplava uma
1941; Osterrieth, 1944; adaptada por CEGOC, 1988;
breve explicação dos seus objetivos e processos, a
Simões, Xavier & Fonseca, 1997), e por fim a Escala de
salvaguarda de que esta participação era completamente
Memória da Bateria de Luria Nebraska (Golden, Purish &
voluntária podendo desistir a qualquer momento e,
Hammeke,1995 adaptado por Maia, Loureiro & Silva,
sendo ainda, clarificado que este estudo respeitava as
2002).
por
acessibilidade
ou
normas éticas que regulam a investigação em psicologia, nomeadamente
aquelas
que
se
referem
à
confidencialidade e anonimato dos dados.
80 Tendo-se analisado previamente qual o constructo a avaliar, optou-se pela memória, por ser fundamental na sequência deste estudo.
Após a recolha do consentimento informado cedido pelos cuidadores iniciou-se o processo de recolha de
Instrumentos Mini Mental State Examination (Folstein,1973; adaptado
pode contemplar cada domínio de modo isolado ou o seu
por Guerreiro, 1993) – MMSE – é um dos instrumentos
conjunto.
mais utilizados para o rastreio do Défice Cognitivo (Morgado, Rocha, Maruta, Guerreiro & Martins, 2009). Esta prova aborda muitos constructos, apresentando uma
capacidade
fenomenológica
de
avaliar
cognitivamente o sujeito. Ao longo de 30 questões este teste avalia seis domínios: orientação (temporal e espacial), atenção e cálculo, evocação, linguagem e habilidade construtiva. Cada item pode ser pontuado de 0 a 1 valor e a pontuação total varia entre 0 e 30 valores, correspondendo 0 ao desempenho mais baixo e 30 ao desempenho mais elevado. A cotação do instrumento
ISSN: in attribution process
Memória de Dígitos da Wais-III (Wechsler, CEGOC, 1996) - A WAIS – III permite avaliar o QI por meio de 14 escalas. O sub-teste da WAIS – III referente à Memória de Dígitos é composto por oito séries de dígitos para a ordem direta e sete séries para a ordem inversa, havendo um aumento gradual da quantidade de dígitos em cada série que contém respetivamente dois ensaios cada uma. Aplica-se primeiramente a ordem direta, e de seguida a ordem inversa
(independentemente
do
desempenho
na
anterior). No que diz respeito à estrutura e cotação do teste, este é composto por dois conjuntos de dígitos que
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
representam duas tentativas: a pontuação máxima é de
elemento correto e mal colocado vale 1 ponto, cada
30 pontos; 16 para a ordem direta e 14 para a inversa.
elemento deformado ou incompleto mas reconhecível e
Figura
Complexa
de
Rey-Osterrieth
(Rey
1941;
Osterrieth, 1944; adaptada por CEGOC, 1988; Simões,
bem colocado vale 1 ponto, se não estiver bem colocado vale meio ponto.
Xavier & Fonseca, 1997) – FCRO - é um teste que permite
Subscala de Memória da Bateria Neuropsicológica de
avaliar a perceção visual, a elaboração da perceção e a
Luria Nebraska (Golden, Purish & Hammeke, 1995
atividade
avalia
adaptado por Maia, Loureiro & Silva, 2002) - BNLN –
paralelamente, o nível de desenvolvimento das seguintes
avalia onze funções neuropsicológicas tais como:
áreas: organização visuo-espacial, organização percetiva,
habilidade motora, ritmo, habilidade tátil, habilidade
aptidão visuo-espacial construtiva, memória visual,
visual, linguagem expressiva, linguagem recetiva, leitura,
atenção, planificação, resolução de problemas e função
escrita, raciocínio matemático, memória e funções
motora. Trata-se de um teste que comporta uma figura,
intelectuais (no sentido da resolução de problemas). Ao
a
reproduzida
todo o instrumento contém 11 subscalas com mais de
graficamente pelos sujeitos em duas etapas. A etapa
700 itens. No presente estudo apenas foi utilizada a
“cópia” e etapa “memória” são separadas por um
escala de memória que contempla 13 itens e pode ser
intervalo de três minutos. A figura para cotação é depois
cotada de 0 até 2, correspondendo 0 a uma resposta
decomposta em 18 elementos, cada uma. Cada elemento
correta e 2 a uma resposta incorreta.
ser
da
memória
observada,
visual.
Este
memorizada
teste
e
correto e bem colocado do teste vale 2 pontos, cada
Resultados
Tabela 1. Resultados obtidos nas provas utilizadas
MMSE
Memória Dígitos
Figura Complexa de Rey
Escala de Luria
Total
Diretos
Inversos
Cópia
Memória
Memória (Total)
Sujeito 1
18
3
2
2
0
12
Sujeito 2
18
3
0
23,5
12,5
13
Sujeito 3
23
6
1
2
0
18
Sujeito 4
16
5
2
10
0
19
Sabe-se que na prova MMSE é considerado indicador de défice cognitivo, a pontuação menor ou igual a 21 pontos, até 11 anos de escolaridade, o que realmente
acontece com os sujeitos analisados (Folstein, Folstein & McHugh, 1975; Guerreiro, 1993) A influência das variáveis idade e literacia na pontuação total
ISSN: in attribution process
do
MMSE
encontra-se
bem
documentada.
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
81
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Indivíduos com maior escolaridade ou menor idade
significa que 90 % da população portuguesa está acima
apresentam pontuações mais elevadas, existindo maior
destes pacientes. Na etapa “memória” somente o sujeito
variabilidade na pontuação dos grupos etários mais
2 se enquadra no percentil 10. Todos os restantes
idosos e nos grupos menos escolarizados.
sujeitos se encontram abaixo do percentil 5.
Como podemos observar na tabela 1, dos 4 sujeitos
Uma vez que os percentis apresentados são baixos, não
avaliados somente o sujeito 3 apresenta uma pontuação
se torna necessário reportar o tempo na realização da
maior ou igual ao valor de 21 pontos (Sujeito 3 = 23). No
prova (etapa “cópia” e etapa “memória”).
âmbito da prova MMSE, pode considerar-se que este sujeito não apresenta défice cognitivo e que os restantes sujeitos
(Sujeito1=18;
apresentam,
pois
Sujeito2=18;
encontram-se
Sujeito4=16)
abaixo
do
nível
normativo.
Como o percentil dos sujeitos avaliados é baixo, é importante obtermos uma classificação qualitativa do seu desempenho. Desta forma, vale a pena referir que o sujeito 1 na cópia encontra-se na tipologia V, ou seja, o grafismo é pouco estruturado. Na memória este mesmo
No que diz respeito ao subteste Memória de Dígitos da
sujeito situa-se na tipologia VI, reduzindo a figura a
Wais III, a pontuação de referência para a avaliação do
esquemas familiares. No sujeito 2, a cópia encontra-se na
funcionamento patológico calcula-se através da “Magic
tipologia II, em que os detalhes da figura são englobados
Number Seven” – fórmula de George Miller (1965). Sabe-
na estrutura. Na memória este mesmo sujeito situa-se na
se que um valor superior a 5 já é considerado patológico.
tipologia III, sendo que o contorno é geral, isto é, o
Tal como se analisa na tabela 1, nos valores referentes à série direta dos 4 sujeitos observados, somente o sujeito 3 apresenta uma pontuação superior a 5, sendo considerado que se situa num nível normativo. Os restantes sujeitos (Sujeito1=3; Sujeito2=3; Sujeito4=5) figuram abaixo do limite normativo, sendo considerado que o funcionamento da sua memória se parece patológico. Nos valores referentes à série inversa todos os
sujeitos
analisados
(Sujeito1=2;
grande retângulo é colocado depois de alguns detalhes, o que dificulta o ajuste das linhas. No sujeito 3, a cópia enquadra-se na tipologia V e a memória é inexistente. No sujeito 4, a cópia encontra-se na tipologia IV, apresentando memória
uma
justaposição
este sujeito
de detalhes. Na
situa-se na
tipologia
VIII,
apresentando garatujas, sem forma nem detalhes reconhecíveis.
Sujeito2=0;
No que se refere à BNLN, segundo o estudo de Maia
Sujeito3=1; Sujeito=2) encontram-se abaixo do nível
(2012) para a população portuguesa, valores no subteste
normativo, isto é, num nível patológico.
memória que se encontrem acima da pontuação bruta
Relativamente à FCRO os resultados são enquadrados em percentis. Segundo o manual da Figura Complexa de ReyOsterrieth (CEGOC, 1988; Simões, Xavier & Fonseca, 1997), nos resultados obtidos na etapa “cópia” todos os
de 11 denotam um nível patológico. Tal como se observa na tabela 1, todos os sujeitos apresentam um funcionamento patológico (Sujeito1=12; Sujeito2=13; Sujeito3=18; Sujeito4=19).
sujeitos avaliados encontram-se no percentil 10, o que
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
82
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Discussão e Conclusões Após análise dos resultados e respetivas aplicações, e tendo em conta a população estudada (Portadores de
neuropatológicas semelhantes a pacientes com a doença de Alzheimer, diferindo na idade precoce de início.
Trissomia 21 e Doentes de Alzheimer), conclui-se que na
Segundo a literatura sobre a patologia de Alzheimer, esta
prova MMSE o sujeito 3 apresenta um valor ligeiramente
é
acima do valor normativo, e que o sujeito 4 se encontra
relacionados com a memória, bem como pelo declínio de
próximo do nível de iliteracia. O que significa que é
outras funções cognitivas (e.g., atenção, concentração,
necessário a aplicação de mais provas para uma
linguagem, pensamento) (Maia, 2001). Neste estudo
avaliação mais fidedigna de cada sujeito.
verificou-se
Na prova memória de Dígitos, os Portadores de Trissomia 21 apresentam valores ligeiramente mais baixos na série direta,
relativamente
ao
Doentes
de
Alzheimer,
caracterizada
que
pela
os
evolução
sujeitos
dos
problemas
diagnosticados
por
profissionais de saúde com esta doença apresentam problemas de memória devidamente evidenciados pela análise das provas de avaliação aplicadas.
enquanto que na série inversa as diferenças existentes
Segundo
são insignificantes.
desenvolvimento e as características morfológicas dos
Na Figura Complexa de Rey conclui-se que apesar dos percentis serem os mesmos em todos os sujeitos avaliados, a pontuação bruta do sujeito com maior escolaridade é significativamente mais elevada tanto na cópia como na memória.
Pueschel
(1993),
a
velocidade
de
portadores de Trissomia 21, fazem com que estes pacientes apresentem dificuldades generalizadas nas várias áreas de desenvolvimento, entre as quais a área psicomotora, cognitiva e das coordenações práxicas. Neste estudo os sujeitos com Trissomia 21 apresentam baixos resultados na prova Figura Complexa de Rey, que
Na BNLN, verifica-se que os portadores de Trissomia 21 apresentam resultados significativamente melhores que os sujeitos com Alzheimer.
avalia a coordenação práxica. Com os restantes instrumentos observou-se o que diz o estudo supracitado acerca do desempenho cognitivo nesta população.
Assim, os resultados encontrados vão de encontro ao
Através da análise das provas aplicadas a cada sujeito,
que sugere a literatura sobre os fatores de ligação
pode-se concluir que as alterações neuropatológicas
genética e neuropatológica entre a Demência tipo
entre portadores de Trissomia 21 são semelhantes às
Alzheimer e portadores de Trissomia 21.
observadas nos doentes tipo Alzheimer, e que surgem
A par disto conclui-se que sujeitos de idades díspares
em idades relativamente precoces.
partilham algumas características semiológicas, no que
No que diz respeito às limitações deste estudo, começa-
diz respeito, maioritariamente, ao défice cognitivo. É de
se por apontar a escassa existência de estudos acerca da
salientar que os sujeitos referidos, dificilmente se irão
temática para suportar a parte de revisão teórica. Assim
encontrar na vida, por terem idades tão díspares. Este
é fundamental sugerir o investimento nesta área
aspeto já foi sublinhado por Zanaigh (2006), ao indicar
inovadora em que a Neuropsicologia pode desempenhar
que portadores de Trissomia 21 desenvolvem alterações
um papel fundamental tanto no aumento da qualidade
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
83
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
de vida de portadores de Trissomia 21 como de doentes
amostra mais alargada e sujeitos do género masculino,
de Alzheimer.
pois os dados que se encontraram com investigação
Espera-se ter dado um contributo para a compreensão das características comuns aos sujeitos das populações referidas com utilização de instrumentos de reconhecida robustez e uma metodologia de análise mista. Seria
empírica remetem ao nível da prática da reabilitação neuropsicológica para a necessidade de retardar os défices na memória tanto nos Portadores com Trissomia 21 como nos Doentes de Alzheimer.
interessante dar continuidade a este estudo com uma
Referências Andrés J.P. (2010). Pesquisa busca determinar o efeito do
Clarfiel, A.M. (2000). Concepts of Alzheimer Disease:
ácido óleico na Síndrome de Down. Instituto de
Biological, Clinical and Cultural Perspectives. New
Neurociências de Castilla y Léon, Salamanca. Retirado
England Journal of Medicine. Book reception of
de
Concepts of Alzheimer Disease: Biological, Clinical,
http://www.dicyt.com/noticia/pesquisa-busca-
determinar-o-efeito-do-acido-oleico-na-sindrome-de-
and
down.
Whitehouse, Konrad Maurer, Jesse F. Ballenger, The
A.P.A – American Psychiatric Association (1996). DSM-IV: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (4ª ed.). Lisboa: CLIMEPSI. Bautista R. (coord.) (1997). Necessidades Educativas Especiais. Dinalivro. Colecção Saber Mais. Bird, T.D. (2005). Genetic factors in Alzheimer’s disease. New England Journal of Medicine, 352 (9), 862-864.
Cultural
Perspectives.
Editors:
Peter
J.
Johns Hopkins University Press, 2003. Cunningham, C. (2006). Síndrome de Down – uma introdução para pais e cuidadores (3ª Edição). Edições Artmed, R.J., Brasil. de Mendonça, A. & Maia, L. (2002). Caffeine as protective
factor
for
Alzheimer´s
Disease.
Neurobiology of Aging, 23 (Suppl. 1), S433-S433 1584. Ferrari, M.F.R. (2013). MicroRNAs expression in the
Blennow, K.; de Lenon, M.J. & Zetterberg, H. (2006). Alzheimer’s disease. The Lancet, 368, 387-403.
hippocampus of a mouse model for human chromosome 21 trisomy. focus on Alzheimer's Disease.
Boletim T21, Associação Portuguesa de Portadores de Trissomia 21 / Associação de Viseu de Portadores de Trissomia 21, n.º7,2001. Retirado de http://www.dsint.org/organizations/associacao-portuguesa-de-
Retrieved
from
http://www.bv.fapesp.br/en/bolsas/139441/microrn as-expression-in-the-hippocampus-of-a-mousemodel-for-human-chromosome-21-trisomy-focus-onal/
portadores-de-trissomia-21-appt-21 Figueiredo V. & Nascimento E. (2007). Desempenho nas Brandt R. & Hanser H. (2004). O enigma de Alzheimer. Revista Viver Mente e Cérebro, 142 (Novembro), 68-
duas tarefas do sub-teste Dígitos do Wisc III e do Wais III. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23, 3, 313-318.
73.
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
84
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Folstein, M.F.; Folstein, S.E. & McHugh, P.R. (1975). Mini
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Maia, L. & de Mendonça A. (2002 b). Does caffeine intake
Mental States: Practical method for granding the
protect
cognitive State of patients for the clinical. Journal of
D'Actualités D'Alzheimer (reprinted form European
Psychiatry Research, 12.
Journal of Neurology), 9 (October, 4), 1377-1382.
Goldgaber, D.M.I.T.R.Y.; Lerman, M.I.; McBride, O.W.;
from
Alzheimer´s
Disease?
Journal
Maia L.; Loureiro M.; Silva C.; Pato A.; Loureiro M. &
Saffiotti, U. & Gajdusek, D.C. (1987). Characterization
Bartolomeu,
and chromosomal localization of a cDNA encoding
Assessment using Luria Nebraska Neuropsychological
brain amyloid of Alzheimer's disease. Science, 235
battery – its introduction in Portugal – results from
(4791), 877-880.
introductory first empirical Portuguese study – 3 short
Gonçalves, M. (2003). Influência da Escolaridade no Desempenho de BORB. Faculdade Medicina de Lisboa, Universidade de Lisboa, II Mestrado Neurociências. Guerreiro, M. (1993). Contributo da Neuropsicologia para o estudo das demências. Unpublished Tese de Doutoramento, Universidade de Lisboa, Lisboa. Haass, C. & Selkoe, D.J. ( 2007). Soluble protein oligomers in neurodegeration: lessons from the Alzheimer’s amyloid β-peptide. Nature Reviews/Molecular Cell Biology, 8 (February), 101-112. Jeret, J. (2006). Alzheimer’s Disease in Patients with Down’s Syndrome can death be predicted. 58th Congres of American Academy of Neurology. New York University, N.Y., USA. Leitão, Francisco Ramos (org.) (2000). A Intervenção Precoce e a Criança com Síndroma de Down. Colecção Educação Especial. Porto: Porto Editora. Maia, L.A.C.R. (2001). As doenças demenciais e o consumo de café. Revista da Faculdade de Medicina de Lisboa, 6 (2), 93-103.
M.
(2005),
Neuropsychological
case studies. Revista Portuguesa de Psicossomática, 7, 1-2. Maia L. (2012). Bateria Neuropsicológica de Luria Nebraska parámetros portugueses de 984 sujeitos portugueses
mormales.
Revista
Eletrónica
de
Psicologia Iztacala, 15 (1), 172-185. Mcgee J.O’D.; Isaacson, P.G. & Wrigtht, N.A.
(1992).
Oxford Textbook of Patology, Patology of Systems. Ed. New York: Oxford University Press. USA. Mendes,
R.
(2011).
Traumatizados
Avaliação
Coginitva
Crânio-Encefálicos
em
Ligieros.
Universidade de Aveiro, Secção Autónoma das Ciências da Saúde. Morgado J.; Rocha C.; Maruta C.; Guerreiro, M. & Martins I. (2009). Novos Valores Normativos do Mini-Mental State Examination. Sinapse, 9 (2), 3. Palha, M. (2002). Evolução das pessoas com trissomia 21, apresentação de um modelo original de predição. Boletim
T21,
2-7,
Viseu.
Retirado
de
http://www.inr.pt/content/1/1276/publicacao-deoutubro
Maia, L. & de Mendonça, A. (2002 a). Does caffeine intake protect from Alzheimer Disease? European Journal of Neurology, 9 (4, July), 377-382.
Peixoto, L.M. & Reis, J.A. (1999). A Deficiência Mental: Causas. Características. Intervenção. Braga. Edições APPACDM: Distrital de Braga.
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
85
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Pueschel, S.M. (1993). Síndrome de Down: Hacia un
Robbins, S. & Cotran, R.S. (2005). Patologia: bases
futuro mejor. Barcelona: Ediciones Científicas y
patológicas das doenças. 7ª Edição, Rio de Janeiro:
Técnicas. Spain.
Elsevier.
Rehens, S. (2011). Normal é ser diferente. Instituto Ciências
Biomédicas,
Universidade
Federal
Rio
Janeiro.
86
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
A Saúde mental nos cuidadores dos doentes de Alzheimer Daniel Martins (1) & Luis Maia (2) (1) Clinical Psychologist; Neuropsychologist (Coimbra University). All correspondence about this article should be sent to email: danielmartins12@gmail.com (2) Beira Interior University PhD in Neuropsychology by Salamanca University – Professor at Beira Interior University.
_________________________________________________________________________________ Abstract The aging of population has taken place in recent decades and is accompanied by the increased prevalence of Alzheimer's disease (AD). AD is a type of dementia that causes a global, progressive and irreversible deterioration of cognitive functions (memory, attention, concentration, language, thought, among others). The aim of this work was to evaluate a number of factors related to the problem of mental health of family caregivers of patients with DA, knowing that the well-being of caregivers will be reflected, necessarily, in the welfare of who receive care from caregivers. A total of 10 family caregivers participated in the study who responded to some questionnaires. Were administered the "List of Symptoms of Hopkins" (Derogatis, 1977), the "Inventory of clinical Evaluation of Depression" (Vaz Serra, 1994) and the "Inventory of State-trait Anxiety", which allowed us to sketch a psychopathologic profile of caregivers. This study, although not fully convergent in its conclusions, the need to intervene psychologically with the Alzheimer's patient caregivers, in order to alleviate as much as possible the negative impact the disease has on the caregivers. Keywords: Mental Health; Caregivers; Alzheimer's disease; Aging
Resumo O envelhecimento populacional que vem ocorrendo nas últimas décadas é acompanhado do aumento da prevalência da Doe nça de Alzheimer (DA). A DA é um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras). O objetivo do presente trabalho é avaliar alguns fatores relacionados com a problemática da saúde mental, dos cuidadores familiares de pacientes com DA, sabendo que o bem-estar dos cuidadores se irá refletir, necessariamente, no bem-estar dos que deles recebem cuidados. Participaram no estudo 10 cuidadores familiares que responderam a alguns questionários. Foram administrados a “Lista de Sintomas de Hopkins” (Derogatis, 1977), o “Inventário de Avaliação Clínica da Depressão” (Vaz Serra, 1994) e o “Inventário de Estado-Traço de Ansiedade”, que nos permitiu esboçar um perfil psicopatológico dos cuidadores. Este estudo, apesar de não totalmente convergente nas suas conclusões, torna notória a necessidade de intervir psicologicamente junto dos cuidadores de doentes de Alzheimer, de forma a minorar o mais possível o impacto negativo que a Doença tem, também, nos cuidadores. Palavras-chave: Saúde mental; Cuidadores; Doença de Alzheimer; Envelhecimento
Resumen El envejecimiento de la población ha tomado lugar en las últimas décadas e es acompañado por la creciente prevalencia de la enfermedad de Alzheimer (EA). La EA es un tipo de demencia que provoca un deterioro global, progresivo e irreversible de las funciones cognitivas (memoria, atención, concentración, lenguaje, pensamiento, entre otros). El objetivo de este trabajo es evaluar una serie de factores relacionados con el problema de salud mental de los cuidadores familiares de pacientes con EA, sabiendo que el bienestar de los cuidadores se reflejará, necesariamente, en el bienestar de los que reciben sus cuidados. Participaron en lo estudio 10 cuidadores familiares que respondieron a algunos cuestionarios. Se administraron la "Lista de síntomas de Hopkins" (Derogatis, 1977), el "inventario de evaluación clínica de la depresión" (Vaz Serra, 1994) y el "Inventario de ansiedad estado-rasgo", que permitió esbozar un perfil psicopatológico de los cuidadores. Este estudio, aunque no totalmente convergente en sus conclusiones, plantea la necesidad de intervenir psicológicamente con cuidadores de pacientes de la enfermedad de Alzheimer, para aliviar lo más posible el impacto negativo que la enfermedad tiene sobre los cuidadores. Palabras clave: salud mental; Cuidadores; Enfermedad de Alzheimer; Envejecimiento
_________________________________________________________________________________
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
87
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Introdução As demências constituem um problema de saúde pública
exercício físico; obesidade e diabetes; graves ou repetidas
e social da maior importância, afetando ambos os sexos e
lesões cerebrais. A idade continua a constituir o maior
todos os grupos sociais. A demência geralmente leva a
fator de risco, muito embora não seja causadora da
uma diminuição acentuada nas habilidades cognitivas,
doença. Este facto coloca importantes desafios, em
mentais e físicas da pessoa afetada, que, ao longo do
virtude do aumento da esperança de vida. Num muito
tempo requer uma aumento de cuidados, auxílio e apoio.
reduzido número de famílias, a doença é causada por um
Cerca de 1 em cada 20 pessoas acima dos 65 anos e 1 em
problema
cada 5 pessoas dos 80 anos sofrem de demência, sendo a
desenvolve-se entre os 35 e os 60 anos) (Leitão, et al.,
doença de Alzheimer responsável por cerca de metade
2006). Não existe um único teste que determine se
desses casos (Jacobson & Jacobson, 1997). Estima-se que
alguém está afetado pela doença de Alzheimer. É
em Portugal, existam 153 mil pessoas com demência, 90
diagnosticado,
mil das quais com doença de Alzheimer. Face ao
processo de exclusão de critérios clínicos, assim como
envelhecimento da população na União Europeia, os
através de um exame minucioso do estado físico e mental
especialistas preveem uma duplicação destes valores
da pessoa, em vez da deteção de uma prova biomédica da
(Leitão, Manuela & Paula, 2006).
doença (Alzheimer Portugal, 2013).
A Doença de Alzheimer é uma doença degenerativa
Diante de tantas manifestações clínicas e complicações da
progressiva, que envolve o sistema nervoso central (SNC),
doença torna-se evidente o impacto desta, na vida não só
caracterizada pelo declínio cognitivo e funcional. Os
do paciente como também na do cuidador. Brown e Setz
primeiros sinais clínicos são diminuição da memória,
(cit. por Brito, 2002) consideram que a prestação de
desorientação, confusão, alterações da personalidade,
cuidados requer um esforço contínuo a nível cognitivo,
diminuição de capacidades cognitivas como julgamento,
emocional e físico.
genético
e
hereditário
preferencialmente,
(normalmente
através
de
um
88
raciocínio abstrato, cálculos e habilidades visuais, afasia e anomia. Em estágios mais avançados verifica-se grande alteração do ciclo sono/vigília, agitação, irritabilidade, ansiedade, depressão, alucinações, perda da capacidade de atender suas necessidades pessoais, como vestir-se e alimentar-se, dificuldade de andar, falar e deglutir (Alzheimer Portugal, 2013). A etiopatogénese, ainda não está esclarecida. No entanto, foram já identificados alguns fatores de risco que elevam a possibilidade de vir a sofrer-se da doença, tais como: a tensão arterial alta, colesterol elevado e homocisteína;
De acordo com Brito (2002) vários estudos têm vindo a sugerir que as pessoas que prestam cuidados a familiares durante longos períodos, como acontece na maior parte dos casos de familiares com doentes de Alzheimer, frequentemente sofrem alterações adversas em várias áreas importantes da sua vida: alterações na vida familiar e social, problemas económicos e laborais, cansaço e desgaste prolongados, a nível físico e psíquico. Este conjunto de condições, frequentemente vivenciadas num complexo contexto de preocupação constante, de conflito, perda, luto, raiva, culpa e ressentimento,
baixos níveis de estímulo intelectual, atividade social e
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
rapidamente conduzem a situações de morbilidade
por parte dos profissionais de saúde uma atenção
aumentada nessas pessoas. Com efeito, a situação de
particular, uma vez que deles dependem os doentes de
prestação de cuidados parece poder afetar a saúde física
que cuidam e a
dos cuidadores, mas é sobretudo na área da saúde mental
comunidade.
que os efeitos da prestação de cuidados a familiares com doença de Alzheimer mais se fazem notar, com níveis de depressão e ansiedade superiores aos da população em geral (Brito, 2002).
Torna-se,
portanto,
sua permanência
interessante
e,
saudável
na
principalmente
necessário o estudo acerca dos problemas de saúde, nomeadamente, queixas somáticas presentes nestes cuidadores, uma vez que sofrem um imenso desgaste
A saúde mental é sistematicamente mencionada como a
físico e emocional em consequência da doença dos
dimensão mais afetada pelo papel de cuidador de
doentes dependentes.
doentes com demência (Gallant & Connell, 1998; Roig Abengózar & Serra, 1998) associada a elevação de sintomatologia depressiva e ansiosa. A prestação de cuidados a pessoas demenciadas tende a despoletar níveis elevados de angústia emocional, associado a sintomas
comportamentais
e
ao
enfraquecimento
Após o exposto anteriormente, o principal objetivo é verificar o estado de saúde mental, no que concerne ao perfil psicopatológico dos cuidadores de doentes com demência de Alzheimer, tendo em conta o nível de informação existente sobre a Doença de Alzheimer e as instituições existentes que junto a estes prestam apoio.
cognitivo do doente (Crespo, Crespo, López & Zarit, 2005). O bem-estar dos cuidadores informais e a sua promoção, assim como a prevenção de situações extremas, requer
Metodologia A finalidade do estudo foi o de verificar a saúde mental, relativamente ao perfil psicopatológico dos cuidadores, tendo em conta a existência de instituições que apoiam os familiares dos doentes com DA. A sua aplicação foi aleatória, isto é, selecionaram-se pessoas que se mostraram
disponíveis
confidencialidade
e
para
participar,
anonimato
dos
garantindo
resultados
e
estudo era meramente académico, inserindo-se na conclusão
da
Pós-Graduação.
Após
consentimento
informado, preencheram-se os questionários: SCL-90-R, STAI-Forma Y1 e Y2 e IACLIDE. Na folha de rosto do questionário
foram
recolhidos
alguns
dados
sociodemográficos: sexo, idade, habilitações literárias, naturalidade, estado civil e situação profissional.
participantes. Antes de iniciar o preenchimento dos questionários, foi explicado aos sujeitos que o objetivo do
Amostra Este estudo contou com a participação voluntária de 10 sujeitos residentes no concelho de Pombal, com idades
compreendidas entre os 48 e os 80 anos, com uma média de 63,4 anos de idade. Relativamente à distribuição por género, responderam 8 sujeitos do sexo feminino e 2 do
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
89
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
sexo masculino. Desta amostra, 20% está empregado e os
ensino superior (20%) e por fim o ensino secundário
restantes
que
completo com 10%. Considerando o relacionamento
concerne ao estado civil dos sujeitos inquiridos, a amostra
familiar, 70% dos sujeitos são cônjuges e 30% são filhos.
apresenta na sua maioria dos sujeitos casados (90%) e 10
Todos os sujeitos têm apoio de instituições, no que
% de sujeitos solteiros. Quanto às habilitações literárias, o
concerne a apoio psicológico, serviços
maior número de sujeitos refere ter completado o 9º ano
domiciliário e alguns dos doentes frequentam Centros de
de escolaridade (50%), seguido o grupo com a 4ª classe e
Dia.
estão
aposentados-reformados.
No
de apoio
Instrumentos Os instrumentos utilizados para a traçar o perfil psicopatológico foram os seguintes:
Lista de Sintomas de Hopkins (SCL-90-R),
Perturbações
(Derogatis, 1977)
Interpessoais e de Desempenho de tarefa. Segundo Vaz
É constituído por noventa itens de autoavaliação de sintomas de desajustamento psicoemocional e avalia a psicopatologia em função de nove dimensões primárias de
sintomas:
Sensibilidade
Somatização, Interpessoal,
Obsessões-Compulsões, Depressão,
Ansiedade,
Hostilidade, Ansiedade Fóbica, Ideação Paranóide e Psicoticismo. Os noventa itens que a compõem são
Depressivas:
Biológicas,
Cognitivas,
Serra (1994), “significam a relação que o sujeito deprimido estabelece com o corpo, consigo próprio como pessoa, com os outros e com o trabalho” (p.11). O ponto de corte entre indivíduos normais e deprimidos corresponde à nota global de 20. Esta mesma pontuação ascende, nos casos de Depressão leve, moderada e grave, para os valores médios, respetivamente, de 28, 45 e 58.
respondidos numa escala tipo Likert de cinco pontos, que varia entre 0 (nunca) e 4 (extremamente). A informação do número de sintomas com a sua intensidade, o número
Inventário de Estado-Traço de Ansiedade (STAI) – Adaptado por Danilo Silvo
de sintomas positivos (numero de sintomas presentes) e índice de sintomas positivos (medida de intensidade ajustada para o número de sintomas presentes) são combinados no Índice Geral de Sintomas.
Para analisar os níveis de ansiedade-estado utilizou-se o inventário de Spielberger e colaboradores – STAI. A escala de medida STAI, está dividida em STAI-Y, STAI-X e STAI para crianças. A STAI-Y diferencia a ansiedade-estado (STAI-Y1) da ansiedade-traço (STAI-Y2) (Tilton, 2008). Esta
Inventário de Avaliação Clínica da Depressão -
escala é constituída por 20 itens numerados que são
IACLIDE
classificados por intensidade, por outras palavras, o
Foi criado e desenvolvido por Vaz Serra (1994). Trata-se de uma escala de autoavaliação, de tipo Lickert, para medir a intensidade dos quadros depressivos, sendo, constituída por 23 questões, que se referem a quatro tipos distintos de sintomas presentes nos quadros das
sujeito indica como se sente naquele momento através de uma escala tipo Lickert, de 4 pontos, ou seja, numerada desde 1 (sem ansiedade) até 4 (muita ansiedade). Desta forma, os resultados variam entre 20 no mínimo e 80 no máximo, sendo que, a valores mais altos correspondem níveis de ansiedade mais elevados. No entanto, a fim de
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
90
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
evitar a tendência não pretendida dos sujeitos darem
determinado posteriormente à soma dos resultados das
respostas num dos extremos da escala (responder sempre
20 afirmações. Relativamente à STAI-y1, os itens
1e/ou 4), alguns dos itens estão pontuados de forma
invertidos são os correspondentes às afirmações 1, 2, 5, 8,
inversa, ou seja, respostas marcadas com 1, 2, 3 ou 4 são
10, 11, 15, 16, 19 e 20 (Rocha & Correia, 2005).
cotadas de forma inversa passando respetivamente a valer 4, 3, 2 ou 1 ponto. O nível de ansiedade é
Procedimento
apropriabilidade do estudo os cuidadores preencheram uma folha de dados demográficos (idade, sexo, estado
Foi solicitada a colaboração da Associação Portuguesa de
civil,
Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer – Delegação
participarem
no
estudo.
Mediante
o
profissional,
habilitações
literárias,
naturalidade) e dados relativos ao estado de saúde, pelo
de Pombal na identificação de cuidadores disponíveis para
situação
SCL-90-R para avaliar o ajustamento emocional, pelo
seu
IACLIDE para avaliar os quadros depressivos e pelo STAI
consentimento informado e a garantia da
forma Y-1 e Y-2 para avaliara o nível de ansiedade.
91 Resultados queixas biológicas e cognitivas que correspondem à
Os resultados, relativamente ao Inventário de Avaliação
clássica depressão endógena (1,1). Verificam-se ainda
Clínica da Depressão, demonstram que, embora a maioria
sintomas que evidenciam elementos da constelação
dos 10 cuidadores de DA inquiridos não apresentarem níveis de depressão significativos,
suicida (0.93 pontos). Com 0,79 pontos encontramos
existem alguns
sintomas que evidenciam que o sujeito apresenta uma
cuidadores em que se verifica um grau de depressão
personalidade obsessiva subjacente, pronta a censurar-se,
moderado (40% da amostra) enquanto que a maioria não
hesitante
manifestam sintomas depressivos (60%). Dos sintomas
e
pessimista,
desenvolvendo
sintomas
cognitivos em que está patente uma relação perturbada
depressivos que os cuidadores mais evidenciaram (numa
do indivíduo consigo próprio. E por último, com 0,6
escala de 0 a 4) a perturbação do sono é a mais evidente,
pontos, sintomas que evidenciam instabilidade emocional
isto é, a dificuldade em iniciar o sono e/ou de o manter
e dependência em relação aos outros.
(1,6 pontos). De seguida temos os sintomas que traduzem a dificuldade do desempenho da tarefa, associados a
Quadro 1 – Quadros clínicos depressivos Dimensões IACLIDE
N
Valor Mínimo
Valor Máximo
Valor Medio
Depressão Endógena
10
0
3
1,08
Relação Perturbada do indivíduo consigo próprio
10
0
4
0,79
Elementos da constelação suicida
10
0
4
0,93
Instabilidade emocional e dependência
10
0
3
0,6
Transtorno do sono
10
0
4
1,6
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Relativamente ao perfil sintomatológico dos cuidadores,
0,97. Os níveis de obsessões-compulsões são iguais à
estes possuem níveis depressivos, de sensibilidade
média (0,98). Por outro lado, os níveis de ansiedade,
interpessoal, somatização e de ideação paranoide
hostilidade, ansiedade fóbica e psicoticismo apresentam
ligeiramente superior aos valores de referência para a
valores abaixo da média, respetivamente, 0,54, 0,52, 0,06.
população portuguesa, respetivamente, 1,08, 1,03, 0,60 e
Gráfico 1 – Perfil sintomatológico Legenda:
4,000 3,750 3,500 3,250 3,000 2,750 2,500 2,250 2,000 1,750 1,500 1,250 1,000 ,750 ,500 ,250 ,000
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 1
2
3
4
5
6
7
8
SOMATIZAÇÃO OB. COMPULSÕES S. INTERPESSOAL DEPRESSÃO ANSIEDADE HOSTILIDADE ANS. FÓBICA ID. PARANÓIDE PSICOTICISMO
9 Acima Abaixo
Tendo por base o índice da população geral (IPG) do
Estado-Traço de Ansiedade, averiguamos que os sujeitos
instrumento, constata-se o maior número de indivíduos
têm pontuações de ansiedade-estado e ansiedade-traço
com valores superiores à média na dimensão Depressão
idêntica, respetivamente, 44,5 e 44,8. O que significa que
(6). As dimensões com menor número de indivíduos com
os indivíduos não revelam Estado de Ansiedade e “Não
valores acima da média são a Hostilidade (2) e o
revela Traço”.
Psicoticismo (2).Observando os dados do Inventário de
Quadro 2 – Estado-Traço de ansiedade Dimensões STAI
N
Valor mínimo
Valor Máximo
Valor Medio
Desviopadrão
Ansiedade - Estado (Y1)
10
27
76
44,5
17,2
Ansiedade -Traço (Y2)
10
34
54
44,8
8,3
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
92
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Discussão Prestar cuidados a um doente de Alzheimer está
que se verificava um grau de depressão moderado (17%
associado a uma grande prevalência de manifestações
da amostra). Já segundo Cavaleiro e Ribeiro (2002),
depressivas nos cuidadores. Contudo, o grau de
apenas 3% dos 258 cuidadores estudados apresentavam
prevalência de sintomas depressivos nos cuidadores de
níveis significativos de depressão, enquanto que 6%
doentes de Alzheimer, varia consoante os estudos, a
apresentavam um grau de depressão moderada e 24%
prevalência de depressão varia entre os 18% e os 83% em
dos cuidadores apresentassem níveis de depressão leve.
alguns estudos, enquanto que noutros trabalhos varia
O nosso estudo vem comprovar os mesmos factos, já que
entre os 41% e 55% (Redinbaugh, MacCallim & Kiecolt-
60 % da amostra não manifestaram sintomas depressivos.
Glaser,
1995).
Neste
caso,
demonstra-se
que
a estudos
sugerem
Certos
depressivos se encontra dentro dos valores dos outros
apresentem
estudos.
ansiedade, hostilidade, sintomas obsessivo-compulsivos e
níveis
que
elevados
de
alguns
cuidadores 93
percentagem de sujeitos (40%) que evidenciam sintomas
stress,
incluindo
histeria (Haley, West, Wadley, Ford, White, Barret, Harrel Por outro lado, Cavaleiro e Teixeira (1999) verificaram que
& Roth, 1995). Os dados do nosso estudo não comprovam
embora a maioria dos 30 cuidadores de Doentes de
esta afirmação, já que os valores apresentados se
Alzheimer inquiridos, não apresentassem níveis de
encontram dentro da média dos valores apresentados
depressão significativos, existiam alguns cuidadores em
pela população normal.
Conclusão O envelhecimento da população e o aumento da
Ter a noção de que as situações vivenciadas por alguém
esperança de vida, aumenta o risco dos idosos virem a
que cuida de um doente de Alzheimer, são suscetíveis de
padecer de uma síndrome de demência de Alzheimer.
desencadear níveis de depressão / stress que aconselham
Atualmente, a DA é incurável e irreversível e, apesar de
um acompanhamento psicológico adequado; é também,
poder afetar, muito esporadicamente, indivíduos de faixas
um
etárias variadas, afeta principalmente os idosos.
acompanhamento pode proporcionar ao cuidador um
ato
de
ajuda
ao
doente
porque
esse
melhor equilíbrio emocional que se refletirá na qualidade Estes estudos, apesar de não totalmente convergentes
dos cuidados prestados. Por outro lado, é importante
nas suas conclusões, tornam notória a necessidade de
referir que este equilíbrio emocional terá resultados
intervir psicologicamente junto dos cuidadores de
positivos não só em relação aos cuidados prestados ao
doentes de Alzheimer, de forma a minorar o mais possível
doente, mas também em relação à forma como o
o impacto negativo que a Doença tem, também, nos
cuidador se relaciona com a sua família e os seus amigos,
cuidadores.
e principalmente na forma como se relaciona consigo próprio.
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Tendo em conta que os indivíduos da nossa amostra têm
próprios doentes estarem a frequentar Centros de Dia,
apoio, prestado pelos diversos técnicos de diversas áreas,
propicia-se assim uma saúde mental mais positiva no seio
da Associação Portuguesa de Familiares e amigos de
familiar.
Doentes de Alzheimer – Delegação de Pombal e dos
Referências Alzheimer Portugal. (2013). Obtido em 12 de Fevereiro de 2013,
retirado
de
http://www.alzheimerportugal.org/scid/webAZprt/def ault.asp
other instruments of the psychopathology rating scale series. Baltimore: John Hopkins University. Gallant, M.P., & Connell, C.M. (1998). The Stress Process among Dementia Spouse Caregivers Are Caregivers at
A.P.A. (2000). Manual de Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais (4ª ed). Lisboa: Climepsi Editores.
Risk for Negative Health Behavior Change? Research
94
on Aging, 20 (3), 267-297. Haley, W.E.; West, C.A.C.; Wadley, V.G.; Ford, G.R.; White,
Andrade, L. &. Gorenstein, C. (1998). Aspectos Gerais das Escalas de Avaliação de Ansiedade. Revista de Psiquiatria Clínica, 25 (6), 285-290.
F.A.; Barret, J.J.; Harrel, L.E. & Roth, D.L. (1995). Psychological, Social, and Health impact of caregiveng: A comparison of Black and White dementia family caregivers and noncaregivers. Psychology and Aging,
Brito, L. (2002). A Saúde mental dos Prestadores de Cuidados a Familiares Idosos. Coimbra: Quarteto. Cavaleiro, A.M. & Ribeiro, J.A.C. (2002). Caregiver’s
10 (4), 540-552. Jacobson, J.L. & Jacobson, A.M. (1997). Segredos em Psiquiatria. Porto Alegre: Artes Medicas.
Satisfaction with the Alzheimer’s Patients Hospital
Leitão, O.R., Manuela, M. & Paula, G. (2006). Manual do
Care. Actas da 16th Conference of the European Health
Cuidador (2ª Edição). Lisboa: APFADA - Associação
Psychology Society – Health Through the Life Cyrcle: A
Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes de
Life Span Perspectiva. ISPA. Lisbon.
Alzheimer.
Cavaleiro, A.M. & Teixeira, J.A.C. (1999). Satisfação dos cuidadores de doentes de Alzheimer em relação à qualidade dos cuidados de saúde hospitalares. Análise Psicológica, 17 (2), 369-373.
Redinbaugh, E.M., MacCallum, R.C. & Kiecolt-Glaser, J.K. (1995). Recurrent syndromal depression in caregivers. Psychology and Aging, 10 (3), 358-368. Roig, M. V.; Abengózar, M.D.C. & Serra, E. (1998). La sobrecarga en los cuidadores principales de enfermos
Crespo, M., López, J. & Zarit, S. H. (2005). Depression and anxiety in primary caregivers: a comparative study of caregivers of demented and nondemented older persons. International journal of geriatric psychiatry, 20(6), 591-592.
de Alzheimer. Anales de Psicologia, 14 (7), 215-227. Tilton, S.R. (2008). Review of the state-trait anxiety inventory (STAI). News Notes, 48 (2), June, 2, 2010. Vaz Serra, A. (1994). Inventário de Avaliação Clínica da Depressão. Coimbra: Edição Psiquiatria Clínica (1ª
Derogatis, L.R. (1977). SCL-90. Administration, scoring &
Edição).
procedures manual-I for the (revised) version and
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Clinical Case – Neuropsychology applied to psychiatry Obsessive Compulsive Disorder, Schizoaffective Disorder, or nothing at all? A 19 year old patient with an awkward diagnosis Luis Maia Auxiliar Professor - Beira Interior University; Clinical Neuropsychologist, PhD (USAL - Spain); Neuroscientist, MsC (Medicine School of Lisbon - Portugal) Medico Legal Perit (Medicine Institute Abel Salazar - Oporto, Portugal); Graduation in Clinical Neuropsychology (USAL - Spain); Graduation in Investigative Proficiency on Psychobiology (USAL - Spain); Clinical Psychologist (Minho University - Portugal); Professional Card from Psychologyst Portuguese norm, number 102. All correspondence about this article should be sent to luismaia.gabinete@gmail.com.
_________________________________________________________________________________ This is a Challenge for Our readers - We hope you enjoy it! Este é um desafio para os nossos leitores - esperamos que vocês gostem! Esto es un reto para nuestros lectores - esperamos que os guste!
_________________________________________________________________________________ Introduction
The major current symptoms identified in his clinical file
The importance of neuroscientific knowledge and the
were:
Neuropsychology in particular, to be applied in
-
Rituals concerning with OCD: excessive cleaning,
psychotherapeutic processes (diagnosis, intervention,
organization of personal belongings, make sure
relapse prevention, etc.) is being enforced as time make
that all windows in the house were well closed
all of us to understand that patient multidisciplinary
before go to bed, etc.;
approach is not a choice anymore: it’s a moral obligation!
-
Decreased interest in social activities (passing
(see Hoffman & DyerTrash, Baylis, 2006; 2010; Lusebrink,
from a normal described young guy to an actual
2004).
isolated one – in the frame time of 12 months); -
With this central idea in mind we present this challenge
Decreased
mood
(depressive
symptomatology?);
to the readers: I have attended recently a male patient,
-
Strong muscular spasms;
19 years old, diagnosed with Obsessive Compulsive
-
Strong anxiety (the usual symptoms of a panic
Disorder (OCD) by clinical staff from National Health Services. The symptoms strengthened in the last 12
attack); -
Progressive change by open rituals to extreme
months (and in those 12 months the patient received
delusional experiences (“People are trying to do
health care by local health services – psychiatrist,
wrong things to me”; “I’m been followed when I
psychologist, etc.).
walk on the street alone”; “All my neighbors talk about me and are planning to surprise me
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
95
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
-
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
with something bad”; “People could harm me,
Results
so I prefer to stay alone in my room”, etc.);
Diagnosis
In the course of the last 12 months the patient started to presented a lack of care about your
of important
Complementary Means of
EEG: normal; ECG: normal; CAT: normal; RM: normal; analytic blood, urine, etc.: normal.
on personal image: he only take a bath, once a week, if his mother insists whit him (and before that he was described by his parents has being a
Mother’s report about major characteristics of the
very handsome person, always concerned with
patient since he was a child
his appearance); his hygienic habits are reduced to unbearable level (“he doesn’t shave, doesn’t change under ware, doesn’t take care of his hair” – making that the mother herself stated that sometimes, most of the times “he seems like a bad smelling homeless…”); -
According to family, the patient, already as a child, was not kin of affections, avoided close relationships, was only involved with one girl and never liked to go on a date (note: he is clearly heterosexual). His life seems to be empty and meaningless. He also seemed like a frightened and sad person and never had a great success
In the course of the last 12 months the patient started to present a decrease in his intellectual
in school. Nevertheless, in the last 12 months, according to the patient and his mother, all of this got very worst!
skills, being described, at this moment, as, no more than a big child; -
The patient does not smoke and do not used alcoholic drinks or drugs at all in a regular basis (ever did!);
-
Major medications prescribed in the last 12 months Victan
(benzodiazepine);
Remeron
Patient is very polite, very obedient, very nice, I
(Mirtazapine);
Anafranil
(Clomipramine);
Fluvoxamine
(SSRI)
and
Risperidone (anti-psychotic).
should say; -
Although she was also diagnosed with another
Some results of neuropsychological tests
never
Since the very first moment, and as the initial session (3
wanted to explain what could be the most
hours), a different paint was being built in front of me:
adequate diagnosis (the mother interest is only
OCD? No, thank you!
“Psychiatric
Condition”,
psychiatrists
understand what is going wrong whit her sun, so that the best clinical help, could be provided). -
Panic attack when he understands that the bus
Let’s analyze some of the examples of several tests
he will take is green or the bus driver is a
-
particular one.
At a glance, the patient has a normal writing skill. It is not
Present fear in using computer (avoid Internet,
true! I asked about what football club he is fan: Benfica
Facebook, etc.).
(was his answer. Then I ask him to write down a phrase with the word Benfica. The only word that he was able to write was “Benfica”. After I gently insist, I said: “Ok… what if a say something about Benfica and then you just have to write it down?” I said to him “Benfica is one of
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
96
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
the best football clubs in Portugal”. The patient stared at
“Benfica is one of the greatest of Portugal” (Question for
me, and with a huge effort, started to write the phrase
the readers: what do you think about that?).
I asked to perform the Luria series (Form B). The four first
rest were made by the patient (Question for the readers:
items were drawn by me, in front of the patient, and the
what do you think about that?).
97 In Rey figure (Form B), the patient had this performance
left corner and you will understand how patient copied
(please, follow the indications of colors in the superior
the model (Question for the readers: what do you think about that?).
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
In the next image we have the reproduction by memory, only 3 minutes after the copy process. The patient stated “I do not remember anything else!” (Question for the readers: what do you think about that?).
When patient was invited to draw a clock and put the pointers, with a huge effort,, this is the result of the 1
st
trial. When I asked if it was well drawn, the answer was a laconic “Yeah, it is ok. It is like a Wall clock!” (Question for the readers: what do you think about that?).
When patient was invited to draw a second clock and put the pointers, again with a huge effort, this is the result of the 1
st
trial. When I asked if it was well drawn, the answer was not secure: “I do not know if it is good” (it is important to note that
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
98
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
patient took about 10 minutes to draw each clock, always showing a strong indecision attitude) (Question for the readers: what do you think about that?).
99
When I draw a clock, with all numbers, and asked to patient to draw the pointers in order to be a given hour (18:30 in red, and 12:50 in blue this was the result. When I asked if it was well drawn, the answer was a laconic “That like the clock is fine!” (Question for the readers: what do you think about that?).
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
The same happened in the following example (Question for the readers: what do you think about that?).
100
In terms of go-no-go tasks (see next authentic pictures), the patient is unable to realize simple tasks as alternate patterns (e.g. close a hand while other is opened), or change hands in a so called “hands in palm down – palm up” task (Question for the readers: what do you think about that?).
Go-no-go hand task (requested position)
ISSN: in attribution process
Go-no-Go hand task patient’s performance
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
Patient’s hands in the so called “hands in palm down – palm up” task
101
By the way, just a little dare: whose are the doctor’s hands (and of course, why)?
Challenge four our readers
With all the information provided here, I strongly believe
(Please, take into consideration that only part of
that we are in the presence of the development of a
information was presented here. The idea is to promote discussion parting from pathognomonic symptoms and clinical signals – as we use to do since a long time ago –
Schizoaffective Disorder. If the patient continues to be
see Maia, 2011a,b; 2006; Maia, Correia & Leite, 2009;
treated as an OCD, strong difficulties could be yield in his
Maia & Leite, 2009).
future. See you next challenge! We will be very happy if we receive your opinion and question for the readers: what do you think about that?
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
References Baylis, P.J. (2006). The Neurobiology of Affective
Maia, L. (2011b). El testimonio infantil y la sugerencia en
Interventions: A Cross-Theoretical Model. Clinical Social
contexto forense. Neuropsicología Forense. Editorial
Work Journal, 34 (1), 61-81.
Académica Española. ISBN- 978-3-8454-9073-1, 68
Hoffman,
L.
&
DyerThrash,
Neuropsychology
to
C.
(2010).
Enhance
Using
Existential
Psychotherapy. Paper presented at the 118
th
páginas. Maia, L.; Correia, C. & Leite, R.S. (2009). Avaliação &
Annual
Intervenção Neuropsicológica – Estudos de casos e
Convention of the American Psychological Association
instrumentos. Lidel Editora. ISBN 978 972 757 522 0,
held in San Diego, California, August, 2010. The paper
384 páginas.
was part of the symposium “Neuropsychology, Health Psychology,
and
Existential
Psychology:
Creating
Dialog” (L. Hoffman, Chair). Existential Psychology & Neuropsychology, 1 (1), 1-8. Lusebrink, V. (2004). Art therapy and the brain: An attempt to understand the underlying processes of art expression in therapy. Art Therapy: Journal of the American Art Therapy Association, 21(3), 125-135. Maia, L. (2011a). Modelo de Rasch VS Teoría Clásica de los Tests. Resultados de 92 ancianos, en el MMSE Test
Maia, L. (2006). Avaliação Neuropsicológica na Esclerose Múltipla. Editora Psico & Soma - Livraria, Editora, Formação e Empresas, Lda. Viseu, Portugal. ISBN: 978972-8994-02-0, 350 páginas. Maia¸ L. & Leite, R. (2009). Neuropsychological evaluation of 246 Portuguese normal subjects with Luria Nebraska Neuropsychological battery, MMSE, Clock Drawing Test, Luria’s Graphic Series & Depression symptomatology questionnaire. Revista Ecuatoriana de Neurologia. 18 (1-2), 37-52. ISSN: 1019-8113.
según el Modelo de Rasch. Editorial Académica Española. ISBN-13: 978 384 548 354 2, 72 páginas.
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013
102
Editor: Éditos Prometaicos – Portugal
Iberian Journal of Clinical and Forensic Neuroscience – IJCFN
103 See you all next number at https://www.facebook.com/iberianjournalofclinicalandforensicneuroscience?fref=ts
ISSN: in attribution process
Year 0, Vol. I, nº 1, 2013