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Ouro, incenso e mirra
from Presépio em Família
by Luís Arezes
Quanto ao número, resultará mais de considerações religiosas e simbólicas, por causa dos três presentes oferecidos. O papa S. Leão, nos meados do século V, foi o primeiro a propor, formalmente, o número três. Também os nomes são discutíveis, tanto mais que Melchior (rei da luz), Gaspar (aquele que vem ver) e Baltasar (Baal protege o rei), designações com que a Igreja latina os venera, apenas aparecem no princípio do século VIII. É desta altura um curioso texto de Beda, o Venerável, considerando-os representantes, respetivamente, da Europa, da Ásia e da África. Garante ainda o autor que Melchior, um velho de cabelos brancos e de barba comprida, ofereceu o ouro. Que Gaspar, um jovem imberbe e ruivo, entregou o incenso. E que a mirra foi o presente de Baltasar, um mago de pele negra.
Ouro, incenso e mirra
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Sábios da Astrologia, os Magos terão vindo da Pérsia, da Arábia ou, mais provavelmente, da Babilónia, na Mesopotâmia. Eram conhecedores do messianismo hebraico, porventura na sequência da queda e da destruição de Jerusalém, em 587 a. C., às mãos do rei Nabucodonosor, e da partida do povo de Israel para o exílio na Babilónia.
Segundo a tradição judaica, o Messias tinha como signo a constelação dos Peixes e, na Caldeia, a opinião corrente defendia que a constelação era também o signo da Terra do Ocidente. Trata-se de uma ideia corroborada por Tácito e Suetónio. Os dois historiadores romanos deixaram-nos o testemunho de que, no Oriente, havia, por esta altura, a expectativa de que a Judeia havia de ser palco de acontecimentos extraordinários. Interessante é também o facto de Júpiter ser considerado por todos os povos como a estrela da fortuna e da realeza. Saturno, por sua vez, era visto, entre os Judeus, como o protetor de Israel e a Astrologia babilónica reconhecia isso mesmo, que o planeta do anel era a estrela especial das vizinhas Síria e Palestina. Não admira, por isso, que os astrólogos tenham reparado na conjunção tão notável de Júpiter e de Saturno (o protetor do povo de Israel) na constelação dos Peixes, signo da Terra do Ocidente e do Messias. Segundo a interpretação astrológica, era óbvio que estava iminente o aparecimento de um rei poderoso na Terra do Ocidente… Impensável naquelas paragens era alguém apresentar-se de mãos vazias na presença de um rei. Por isso, os Magos ofereceram-lhe ouro, incenso e mirra (planta usada para embalsamar os cadáveres), presentes que representam o reconhecimento, respetivamente, da realeza, da divindade e da humanidade de Jesus.