UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
RELAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS
SISTEMAS ECONÔMICOS COMPARADOS
LUÍS OTÁVIO DE SOUZA
SUZIGAN, Wilson et al Clusters ou Sistemas Locais de Produção: Mapeamento, Tipologia e Sugestões de Políticas Brazilian Journal of Political Economy [online] 2004, v 24, n 4, pp 548-570 Disponível em: <https://doi org/10 1590/0101-35172004-1606>
Acessado em: 10 jul 2022
No artigo “Clusters ou Sistemas Locais de Produção: Mapeamento, Tipologia e Sugestões de Políticas” , os autores Wilson Suzigan, João Furtado, Renato Garcia e Sérgio Sampaio tratam assertivamente acerca de sua metodologia para mapeamento, classificação e caracterização de Sistemas Locais de Produção (SPL) no Brasil, fornecendo uma aprazível lista de evidências que permitam racionalizar critérios de gestão de políticas e ações privadas. O trabalho pode ser interessante para estudantes e pesquisadores atuantes nas áreas de economia, ciência política, geografia, meio ambiente, entre outros, uma vez que trata de assuntos que se relacionam direta ou indiretamente com as áreas
Suzigan et al dá início ao artigo reforçando que o escrito versa especificamente sobre o Estado de São Paulo, sobre o qual os autores apresentam mapeamento geográfico e caracterizam estruturalmente os Sistemas Locais de Produção (SLPs). Segundo os autores, o artigo tem como propósito trazer evidências que permitam racionalizar critérios de administração de políticas públicas e ações privadas direcionadas aos SLPs, de forma que oferece sugestões de políticas e ações diferenciadas segundo categorias ou tipo de sistemas com características distintas (SUZIGAN et al , 2004, p 549)
Após traçar uma definição para Sistemas Locais de Produção, que corresponde a aglomerações territoriais de atividades econômicos, políticos e sociais que apresentam vínculos mesmo que incipientes (CASSIOLATO & LASTRES, 2003 apud SUZIGAN et al , 2004), os autores contam que as aglomerações de empresas e instituições têm como
característica essencial a capacidade de gerar economias externas, incidentais ou deliberadamente criadas, o que contribui para a competitividade das empresas, levando junto todo um sistema local de produção (SUZIGAN et al , 2004, p 551) Para eles, um passo fundamental para nortear as medidas de políticas e ações privadas é estabelecer critérios metodológicos que permitam identificar, delimitar geograficamente e caracterizar sistemas ou arranjos produtivos locais segundo alguns tipos básicos, considerando sua relevância para o desenvolvimento regional/local (SUZIGAN et al , 2004, p 552)
Para o estudo, os autores utilizaram dados do ano 2000, utilizando-se dos cálculos dos indicadores de concentração (Gini locacional) e especialização (QL) regional de atividades econômicas. Isso porque, para eles, nas classes em que o Gini é mais elevado podem existir sistemas locais de produção Assim, eles contam que o coeficiente de Gini locacional indica
a concentração espacial da atividade econômica e foi calculado para 267 classes da indústria de transformação do estado de São Paulo Varia entre zero e um, e quanto mais próximo da unidade, mais espacialmente concentrada é a classe de indústria (SUZIGAN et al., 2004, p. 553).
Na contrapartida, os autores indicam que o coeficiente de Gini locacional é limitado: ele indica apenas que determinada classe de indústria é geograficamente concentrada e não permite verificar a existência de sistemas locais de produção. Diante disso, eles precisaram se valer, ainda, do quociente locacional (QL), que corresponde à razão entre a participação de uma determinada classe de indústria na estrutura produtiva de uma certa região e a participação dessa mesma classe na estrutura produtiva do estado Nesse sentido, quanto maior o QL, maior é a especialização da região na classe de indústria respectiva Esse indicador foi calculado para as 63 microrregiões geográficas do estado de São Paulo e as mesmas 267 classes de indústrias CNAE 4 dígitos (SUZIGAN et al , 2004, p 554)
No que tange aos resultados, os autores começam mostrando a estatística descritiva das informações que foram utilizadas para a elaboração dos coeficientes de Gini locacional:
Segundo eles, os resultados apontam um largo espectro de variação dos coeficientes de Gini locacional, indo de 0,20 a 0,98 (SUZIGAN et al , 2004, p 555) Na sequência, eles apresentam a frequência de casos (classes de indústrias) por faixas de coeficientes de Gini locacional:
A partir disso, verifica-se que 205 classes de indústrias 4 dígitos apresentam coeficiente de Gini locacional superior a 0,5, indicando algum grau de concentração geográfica da produção e do emprego
Apesar do detalhismo extremo contido na metodologia descrita, os autores enfatizam a ideia que esses são os passos iniciais somente para que daí se possa fazer uma análise mais detalhada sobre o tema E, então, partir para um aprofundamento no estudo “primeiro, no nível agregado, do sistema como um todo, e segundo, no nível das empresas que o compõem” (SUZIGAN et al , 2004, p 561) Os autores prosseguem então para uma listagem de pontos para serem abordados objetivando ações que possam ser tomadas para estimular as empresas que compõem o sistema.
Outro fator importante destacado pelos autores é a política, que anda de mãos dadas com o desenvolvimento econômico Assim, eles propõem algumas medidas que esta poderia dar para o crescimento da atividade industrial no Brasil Um exemplo disso é o que os autores chamam de “pacotes de incentivos” com o objetivo de “ superar uma inserção subordinada e uma função de produção voltada para o binômio volume elevado e preço baixo requer um conjunto de desenvolvimentos integrados e consistentes nestas duas dimensões” (Suzigan et al 2004, p 565)
Ainda sobre políticas, Suzigan et al (2004, p 562) elucida que, para ter acentuado o seu caráter democrático, a política deve oferecer oportunidades a diferentes setores e, sobretudo, deve contribuir para o desenvolvimento de regiões menos favorecidas Eles ainda contam que, para poder sustentar-se num quadro de restrições, ela deverá ser econômica e eficiente: gastando poucos recursos e alcançando resultados efetivos com eles Desta forma, na perspectiva dos autores, a política industrial deveria, desde sua partida,
estimular os embriões de SLPs a realizar estudos de mercados capazes de ajudá-los a identificar segmentos de mercado ou mesmo nichos que pudessem ser atingidos a partir de ações coordenadas de promoção, evitando a simples expansão da capacidade produtiva e a competição para baixo, em direção aos preços e à degradação da qualidade Para que possam atingir estes segmentos, a política deveria, de forma coordenada, propiciar as condições para a capacitação técnica e produtiva necessária (SUZIGAN et al , 2004, p 566)
A nível de avaliação, pode-se dizer que o texto de Suzigan et al (2004) é de grande relevância para o meio acadêmico, pois traz informações pertinentes e elucidativas ao
longo de suas linhas A título de recomendação, sugere-se a leitura a estudantes, pesquisadores e também ao público em geral, já que traz assuntos interessantes para o estudo da sociologia, política, economia e meio ambiente, sendo estes temas muito interessantes e necessários para desenvolvimento de pesquisa e conhecimento.