Resenha: "A insustentável utopia do desenvolvimento"

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADEDE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

RELAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS

SISTEMASECONÔMICOS COMPARADOS

VEIGA, JOSÉ ELI A INSUSTENTÁVEL UTOPIA DO DESENVOLVIMENTO. IN: LAVINAS, L.; CARLEAL, L. & NABUCO, M. R. (ORGS.) REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E REGIONAL NO BRASIL SÃO PAULO: ANPUR/HUCITEC, 1993: 149-169

No artigo “A insustentável utopia do desenvolvimento” (1993), o economista, agrônomo e professor José Eli Veiga discorre transparentemente sobre questões que envolvem desenvolvimento ambiental e apresenta seus argumentos para defender a tese de que esta ideia se consiste numa utopia. O trabalho pode ser interessante para estudantes e pesquisadores que estão ingressando nas áreas ambientais e correlatas, já que trata diretamente de assuntos deste campo.

O autor dá início à argumentação comentando sobre a expressão “desenvolvimento sustentável”. Para ele, seu emprego generalizado é um sinal bastante auspicioso. O autor comenta, ainda, que o emprego da palavra tem sido absorvido com a mesma facilidade de uma gíria. Na sequência, Veiga apresenta uma questão que, para ele, não pode ser evitada: “quais são as razões que nos levam a julgar necessária a qualificação do desenvolvimento?” (VEIGA, 1993, p. 1).

No artigo, Veiga se posiciona a favor da perspectiva de que se estaria reconhecendo a necessidade da negação ou superação da necessidade da qualificação de desenvolvimento. Assim, no texto, o autor promete responder a três questões: (a) por que o desenvolvimento deve ser considerado uma utopia; (b) por que a utopia do desenvolvimento vem se tornando cada vez mais sustentável e (c) até que ponto a noção “desenvolvimento sustentável” aponta para o surgimento de uma nova utopia (VEIGA, 1993, p. 1).

Dando sequência a seu raciocínio, Veiga comenta que o conceito de utopia seria algo “fantasioso” ou “quixotesco” (VEIGA, 1993, p. 2) em seu entendimento mais comum, além de apresentar seu significado segundo os dicionários: antônimo de realidade; sinônimo de ilusão ou sonho. Para complementar seus argumentos, o professor traz citações dos autores

Marx e Hayek para ilustrar sua ideia de que a noção de desenvolvimento esteja ligada ao

fenômeno industrial. Para o professor, não há, até hoje, diferença entre industrialismo e desenvolvimento (VEIGA, 1993, p. 2).

Para Veiga, é importante o entendimento de que a transformação tecnológica possibilitou uma diminuição da dominação da racionalidade econômica sobre as outras racionalidades. O professor, também, enxerga com nitidez que o planeta está sob ameaça e que salvá-lo é preciso. No entanto, para ele, essa operação entra em choque com o que chama de “utopia desenvolvimentista” (VEIGA, 1993, p. 4). Veiga traz, então, a ideia de que não seria sustentável a utopia industrialista.

No escrito, o professor lembra que muitos progressos foram feitos pelos economistas especializados em economia de recursos ambientais e que, atualmente, eles seriam os mais aptos a desenvolverem a chamada “economia ambiental” (VEIGA, 1993, p. 8). Além disso, o professor escreve sobre um novo paradigma, cuja necessidade deveria ser reconhecida. Assim, para ele, as lacunas e inconsistências das diversas teorias sobre a renda, que continuam a merecer a atenção de uma ínfima minoria de estudiosos, parecem indicar que existe um penoso caminho a ser percorrido para que a ciência econômica supere o seu manifesto desprezo pelas especificidades das coisas vivas. E o primeiro passo poderá ser o reconhecimento de que o conjunto das atividades econômicas constitui apenas uma das inúmeras dimensões de um complexo composto de seres humanos, que estão em contínua interação com recursos naturais, a maioria dos quais, por seu turno, constituída de organismos vivos (VEIGA, 1993, p. 10).

Quanto a exemplificações, Veiga cita um caso da Índia como país de “terceiro mundo” (VEIGA, 1993, p. 12) que chegou à autossuficiência alimentar. Para o autor, a disponibilidade de alimentos no país continuou “medíocre” (VEIGA, 1993, p. 12). Apesar da ótica pessimista, o autor nota que o país foi protagonista da própria “revolução verde” e, por meio dela, tornouse autossuficiente (VEIGA, 1993, p. 12). Vale ressaltar que a atividade pecuária é umas das maiores causadoras da degradação ambiental. Então, indo em contramão à perspectiva do autor, pode-se dizer que a Índia foi exitosa em sua revolução, devendo servir de exemplo para muitas nações desenvolvidas.

O autor arremata o escrito dizendo que, para ele, atualmente vive-se uma situação muito semelhante ao início das sociedades industriais. Veiga conta que, nas três últimas décadas, houve uma intensa ressurreição do pensamento utópico. Entretanto, Veiga escreve que, ao

mesmo tempo, tem a impressão de que “as diversas versões sobre o ‘desenvolvimento sustentável’ estão muito longe de significar o aparecimento da nova utopia (VEIGA, 1993, p. 14).

A nível de avaliação, inevitável ressaltar que Veiga abusa de citações e paráfrases para construir seu artigo, deixando muitas vezes que sua própria voz soe timidamente ao longo do texto. Outro aspecto que não se passa despercebido é o fato de que a edição do texto não se preocupa em trazer qualquer tradução das citações usadas na construção do artigo, nem mesmo em uma simples e explicativa nota de rodapé; colaborando, assim, para o aumento da elitização do conhecimento, já que nem todo leitor pode dispor dos conhecimentos linguísticos necessários para ler proficientemente em língua(s) estrangeira(s).

Ainda sobre a alta quantidade de referências, nota-se que tal recurso pode levar o leitor ao cansaço, embora caiba destacar que são amplas e apropriadas para o tema trabalhado pelo autor. Por fim, a título de recomendação, sugerir-se-á a leitura de “A insustentável utopia do desenvolvimento” (1993) àqueles cujos estudos relacionam-se com as áreas ambientais/naturais, já que apresenta quantidade considerável de referências textuais que devem ser interessantes a este público, colaborando para pesquisas, por exemplo

LUÍS OTÁVIODE SOUZA

UNIVERSIDADE FEDERALDE MINAS GERAIS -UFMG

BELO HORIZONTE –MINAS GERAIS/BRASIL

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

VEIGA, JOSÉ ELI A INSUSTENTÁVEL UTOPIA DO DESENVOLVIMENTO. IN: LAVINAS, L.; CARLEAL, L. & NABUCO, M. R. (ORGS.) REESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO URBANO E

REGIONALNO BRASIL SÃO PAULO: ANPUR/HUCITEC,1993: 149-169.

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