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Referências Arquitetônicas capítulo 4.
from Arquitetura Vernacular Caiçara: conjunto habitacional para a população da Praia do Bonete em Ilhabel
Cada projeto acima serviu, de alguma forma, como referência para a concepção do projeto do Conjunto Habitacional da Praia do Bonete, tanto em suas formas construtivas e estéticas quanto em sua concepção.
O Quinta Monroy serviu como referência pelo seu partido arquitetônico. Sua concepção traz a possibilidade de cada família adequar seu espaço de acordo com as suas necessidades. Partindo do pressuposto de que não conhecemos para quem vamos construir, surgiu a ideia de fazer as casas modulares que se desenvolveriam de acordo com a necessidade de cada um, como no projeto chileno.
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O projeto da Comunidade Residencial de Benga foi referência como partido estético e construtivo. A utilização de materiais locais e sofisticação das técnicas arquitetônicas já utilizadas são muito importantes para qualquer construção na Praia do Bonete, já que o acesso a ela é muito complicado. Assim como Kéré fez, para o projeto do Conjunto Habitacional será utilizado barro, madeira e um ponto muito importante é a garantia de que os ambientes internos sejam confortáveis, pois o local carece de energia elétrica.
A referência encontrada no KalíPavilion se parece muito com a de Benga. Esse é outro projeto que se apoia nas técnicas construtivas locais para sua concepção. Mas, além disso, foi utilizada mão de obra local. A população foi capacitada para construir os próprios edifícios, o que seria muito interessante na Praia do Bonete, pois a população já constrói as próprias casas, mas seria qualificada para fazê-las com maior qualidade arquitetônica.
A Casa Montemor é um projeto nacional que também utiliza da técnica da taipa para sua construção. Com estrutura de madeira, fechamentos de vidro e cobertura de telha de barro. Serviu como referência pela sua estrutura e materialidade e, principalmente, para a compreensão da construção da cobertura do mercado do conjunto habitacional e das aberturas das casas.
Por último, o Centro Comunitário Camburi traz a ideia de permitir que a população consiga produzir para se sustentar, com os espaços de artesanato, padaria e armazenamento, que servem como fonte de renda da comunidade. No Conjunto Habitacional da Praia do Bonete foram criadas, além das residências, áreas para confecção e venda de artesanato e um mercado.
Ilhabela: Praia do Bonete
4.1 Histórico
A ocupação da Ilha de São Sebastião só aparece em documentos históricos em 1806, quando ela passa para a categoria de distrito de Vila Bela da Princesa. No entanto, sabe-se que ela foi densamente povoada pelos tupinambás até o século XVII.
Com o sistema de conceção de sesmarias, em 1603, Diogo de Unhate recebeu a sesmaria da Ilha de São Sebastião por ter combatido os tupinambás durante a confederação dos Tamoios e os franceses do Rio de Janeiro. Em 1608 chegou Francisco Ortiz para povoar a ilha. A partir de então foram concedidas várias sesmarias e estabelecidos engenhos de açúcar por toda a ilha.
No século XIX, a economia era essencialmente agrária, mas a cultura cafeeira tomou o lugar da cana-de-açúcar e tornou-se extremamente importante no litoral norte de São Paulo.
Em 1805, a ilha foi elevada à condição de município pelo capitão-general Antônio José da Franca e Horta, recebendo o nome de Vila Bela da Princesa, em homenagem à filha mais velha do rei de Portugal, D. João VI.
Após sua emancipação, Vila Bela da Princesa passou por 80 anos de grande poder econômico, graças à agricultura e, principalmente, ao café. A população rapidamente passou a casa de 10 mil habitantes, os fazendeiros enriqueceram, o comércio era próspero e a vida cultural intensa.
Porém, as oito décadas de plantio de café causaram grande degradação ao meio ambiente, provocando a devastação da Mata Atlântica e acarretou o desaparecimento de espécies animais e vegetais de um ambiente único do país.
A cafeicultura em Ilhabela foi inviabilizada, tendo como forte motivo para isso a Abolição da Escravidão, em maio de 1888, pois toda a mão de obra empregada à atividade era escrava. Entraram então em um longo período de estagnação econômica, que durou quase 70 anos, permitindo que a natureza repusesse grande parte da floresta que foi devastada pela agricultura.
Em 1934, com a crise econômica cada vez mais grave no país, o governo do Estado se São Paulo reestruturou a divisão territorial estadual, extinguindo 18 pequenos municípios cuja arrecadação não era suficiente para arcar com os gastos da própria administração, entre eles, a Vila bela da Princesa, que foi anexada ao município de São Sebastião.
Isso gerou uma grande revolta e o governo estadual, sete meses depois, deu à Vila Bela da Princesa a condição de município e, em primeiro de janeiro de 1939, passou a denominar-se Vilabela. Um ano depois, o presidente Getúlio Vargas determinou sem justificativas, que Vilabela passaria a se chamar Formosa, o que deixou os habitantes muito revoltados e os levou a iniciar um movimento popular para mudar o nome, fazendo com que em 1945 a ilha passasse a ser chamada de Ilhabela (evidenciando sua beleza natural).
Até a década de 1950, a população do município era genuinamente caiçara, vivendo da pesca e da roça em toda volta da ilha. A partir da década de 1970, com a melhoria das estradas entre São
José dos Campos e Caraguatatuba e entre Caraguatatuba e São Sebastião, o turismo cresceu e começou a ganhar importância econômica em Ilhabela.
Em 1977, o decreto estadual n° 9.414 de 20 de janeiro, criou o Parque Estadual da Ilhabela, que compreende a Ilha de São Sebastião acima da cota 100 e as demais ilhas do arquipélago, inclusive a Ilha de Búzios e Ilha da Vitória.
A Praia do Bonete, praia isolada na Ilhabela, também possui poucos relatos, muitos deles mantidos apenas nas histórias locais. As versões sobre a origem do nome “Bonete” confundem-se entre os próprios moradores do local: alguns dizem que o nome vem de um dos morros que circunda a praia cuja forma é de um boné, outros, que o local é bonito e, assim, acabou se tornando Bonete.
Contam que o povoamento começou com as famílias Souza e Rodrigues, que seriam descendentes de piratas e europeus.
Sabe-se que o cultivo da cana-de-açucar, no final do século XIX e a pesca artesanal da tainha, no inicio do século XX, foram as duas principais atividades e tiveram forte influência no inicio da ocupação humana na Praia do Bonete.
4.2 Ilhabela hoje
A Ilhabela é um município arquipélago marinho brasileiro localizado no litoral norte de São Paulo. Segundo o censo do IBGE de 2019, possui uma população de, aproximadamente, 35 mil habitantes, e uma densidade demográfica de, aproximadamente 100 hab/km².
Possui uma paisagem muito acidentada, com características de relevo jovem e um aspecto geral de conjunto montanhoso. A ilha é coberta predominantemente pela Mata Atlântica e foi o município que mais preservou a floresta entre os anos de 1995 e 2000, porém, a ocupação urbana é vista como potencial ameaça à preservação das espécies locais.
A economia do município baseia-se no turismo, no comércio e na construção civil, com a pesca e o artesanato ocupando posições secundárias em termos econômicos.
O turismo movimenta a economia durante as temporadas, quando a população chega a se multiplicar em até cinco vezes.
Várias áreas afastadas do centro não possuem atendimento pelo sistema público e não têm previsão de implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgoto, contudo algumas destas áreas, como Bonete, Castelhanos, Ilha de Búzios, Ilha Vitória, Praia Mansa, Praia das Enchovas e Jabaquara, possuem fossa séptica, o que caracteriza segundo o IBGE auto-atendimento.
A Praia do Bonete é uma praia completamente isolada do restante da ilha. Ela se difere por parecer ter parado no tempo, principalmente quando falamos de urbanização.
De acordo com o zoneamento da Ilhabela, a região da Praia do Bonete é caracterizada como ZR2 e ZIE (compreende áreas ocupadas pelas comunidades tradicionais, áreas de patrimônio histórico e cultura e sítios arqueológicos. As áreas das comunidades tradicionais seguem as seguintes delimitações: limites laterais pelo divisor de água por cada bacia hidrográfica contigua à praia ou costeira onde se encontram as moradias de cada uma das comunidades até atingir a cota que define o limite do Parque Estadual de Ilhabela).
O acesso à praia se dá apenas por uma trilha de 12km, ou viajando de barco e enfrentando os temporais e a correnteza marítima. Ela não possui ruas pavimentadas, nem estrada.
Sua população consiste em, aproximadamente, 350 habitantes caiçaras que vivem da pesca, do turismo e agricultura de subsistência, trazendo duas raízes para a cultura atual. São descendentes de índios (população original, que ficou lá por muito tempo), portugueses colonizadores (de quem pegaram o sotaque característico) e escravos. Eles possuem técnicas de produção de artesanato rudimentares, mas que são muito eficientes para atender às demandas cotidianas da comunidade. São muito fiéis à sua religião e às comemorações religiosas, nas quais festejam por dias cantando e dançando.
Até 2005, praticamente não existia energia na Praia do Bonete, mas nesse ano, como iniciativa da prefeitura de Ilhabela, os caiçaras ganhsaram painéis de energia solar, um luxo para quem tinha que salgar a carne para que ela não estragasse por conta da falta de refrigeração, já que a pequena hidrelétrica da praia não dava conta de fornecer energia o dia todo.
Ao lado da praia, fica o famoso Rio Nema, onde se encontram as canoas e barcos dos caiçaras, responsáveis pelo abastecimento e locomoção da população. Antes, eles faziam uso apenas das canoas, produzidas por eles mesmos a partir de um único tronco de árvore, já que a locomoção para os outros cantos da ilha não era tão frequente, mas quando se submeteram aos barcos de motor, os peixes deixaram de ser uma questão de subsistência, um alimento, e passaram a se tornar uma mercadoria.
Atualmente, entre todas as praias com comunidades caiçaras de São Sebastião, a Praia do Bonete é que apresenta maior especulação imobiliária. Com a grande demanda do ecoturismo, proprietários de grandes áreas estão dando inicio a projetos, como hotéis e restaurantes de luxo.