A formação do arquiteto no brasil a crise silenciosa

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160 CONGRESSO BRASILEIRO DE ARQUITETOS - “EDGAR A. GRAEFF” – 500 ANOS: CENÁRIO DE OCUPAÇÃO TERRITORIAL / COLÓQUIO ARQUITETURA BRASILEIRA – REDESCOBERTAS (IAB/MG)

A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa Luiz Alberto do Prado Passaglia 09/09/2000

A tese que apresentamos está fundamentada na busca de uma explicação e orientação para uma conduta diante de uma situação no âmbito da formação do arquiteto a qual se depara com a transição marcada pelo esquecimento das proposições e realizações de nossa primeira geração de arquitetos modernos.


LUIZ ALBERTO DO PRADO PASSAGLIA

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A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa 160 CONGRESSO BRASILEIRO DE ARQUITETOS - “EDGAR A. GRAEFF” – 500 ANOS: CENÁRIO DE OCUPAÇÃO TERRITORIAL / COLÓQUIO ARQUITETURA BRASILEIRA – REDESCOBERTAS (IAB/MG) / 06 a 09 de setembro de 2000.

Conferência: A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa. Cuiabá, 9 de setembro de 2000 Arq. Luiz Alberto do Prado Passaglia (n. São Paulo, SP, 1950) Professor da Escola de Arquitetura da UFMG responsável pelas disciplinas Teoria da Arquitetura II e Arquitetura Brasileira. Obs.: O presente texto não foi lido na seção do respectivo Congresso devido às condições operacionais enfrentadas naquele momento específico, mas, orientou o sentido e o conteúdo de nosso pronunciamento.

Sumário: Partimos de uma hipótese de que estaríamos a enfrentar uma crise silenciosa nas instituições de ensino da Arquitetura, refletindo e repercutindo sobre a prática profissional e nos respectivos direcionamentos didáticopedagógicos. A tese que apresentamos tem como objetivo buscar uma explicação e orientação para uma conduta no presente na medida em que estamos a passar por um momento de transição marcado pela interrupção das proposições e realizações de nossa geração de arquitetos modernos. Aqui abordamos as contribuições dos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e, em especial, de Edgar Albuquerque Graeff, devido ao fato de que vieram a desempenhar o papel de ideólogos na construção da então denominada política de desenvolvimento para a arquitetura brasileira, onde a questão da formação do arquiteto encontrava-se abordada em um todo orgânico vinculado ao encaminhamento das principais questões nacionais e com uma idealização de seu futuro. 3


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A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa

ÍNDICE

INTRODUÇÃO: OS PRINCÍPIOS NORTEADORES

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A CONTRIBUIÇÃO DE EDGARD A. GRAEFF: OS INSTRUMENTOS DA HISTÓRIA E DA TEORIA

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UMA REVISITAÇÃO Á EDGAR A. GRAEFF

14

CONCLUSÃO

23

BIBLIOGRAFIA

23

NOTA DO AUTOR

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A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa INTRODUÇÃO: OS PRINCÍPIOS NORTEADORES.

Tendo em vista a multiplicidade dos aspectos que poderiam ser mencionados para nortearem as nossas ponderações, iremos adotar como referência a hipótese de que estamos a viver uma crise silenciosa do ensino da Arquitetura, a qual teria se processado, segundo o nosso juízo, através dos mecanismos de esgotamento do ideário corajoso de nossos arquitetos-ideólogos, cujos trabalhos-discursos tiveram a sua principal articulação e explicitação durante a década de 1950. As razões deste silêncio que estamos a referir poderão estar associadas a dois aspectos particulares dentre um amplo elenco de fatores:

O primeiro diz respeito ao próprio crescimento do número de alunos e escolas de Arquitetura por todo este Brasil, ocorrido, principalmente, durante as últimas duas décadas, realidade que está a exigir, em termos culturais e didático-pedagógico, posições substantivas e qualitativas bastante claras ao lado das demandas de natureza quantitativas - denominamos este processo como sendo os dilemas do crescimento;

O segundo, de natureza psico-cultural, se assim podemos dizer, corresponde ao fato de que nos encontramos em um momento e respectivo contexto de passagem, na medida em que estaríamos a proceder ainda à transição de um ambiente intelectual que foi marcado por um forte élan definido pelos objetivos e pelo espírito combativo daquela geração de arquitetos brasileiros modernos, ou seja, estamos ainda a processar aquele sentimento de deixar de contar com as influências diretas dos anos 50 e, amargando um processo de esquecimento e de perda gradativa do conhecimento quanto as suas posições, orientações e teses, passando a enfrentar os desafios de articular toda uma produção contemporânea. Podemos tomar como início deste período a década de 1980, tendo como referência a aprovação pelo Congresso Nacional a Lei da Anistia em 28/8/79, marco 7


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cronológico que nos coloca no sentido de se proceder a um balanço e buscar outro horizonte para orientar as nossas ações no campo da formação das novas gerações; denominamos este fato histórico como portador de uma crise decorrente dos momentos em que se procedem aos rituais de passagem.

Sinto que, para abordar a formação do arquiteto neste momento marcado por uma profunda alteração nas relações estabelecidas entre o modelo econômico de desenvolvimento e o sistema universitário, faz com que deparemos com os possíveis desdobramentos dos encaminhamentos das propostas de reestruturação da vida profissional e das diretrizes para o Ensino Curricular de Arquitetura ora encaminhados pela direção nacional do IAB, tendo-se como pano de fundo a proposta de desligamento da categoria dos profissionais arquitetos do CREA. Esta opinião decorre, em certa medida, de outra possível evidência, de que estaríamos destituídos de um programa político compartilhado que auxilie e permita uma abordagem efetivamente articulada destas questões, deixando assim de contar com um conhecimento compatível em relação às denominadas realidades do atual quadro nacional.

As mudanças de comportamento e do discurso econômico atrelados à efetiva globalização do mercado financeiro afetaram, inclusive, os conceitos historicamente proveniente do núcleo de idéias que se encontrava comprometido com o desenvolvimento da arquitetura moderna brasileira. Esta convicção, é que nos leva a abusar da paciência dos senhores, no sentido de propor, para este momento, um sumário dos ideários de nossos arquitetos modernos, para que possamos não só relembrar, mas, também, articular os nossos próprios argumentos.

Procedendo a um resumo introdutório, poderíamos considerar como princípios norteadores propostos pela então geração combativa da arquitetura moderna, os seguintes pressupostos que a seguir sumariamos, os quais estavam estreitamente relacionados e comprometidos com o encaminhamento e discussão da dimensão social da produção da arquitetura em nosso meio: 8


A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa

A necessidade de participar de um projeto que pudesse

contribuir para a superação da dependência econômica; 

A convicção de que então se tinha atingido uma autonomia

cultural no campo da manifestação arquitetônica; 

O desejo efetivo de agir para promover a superação da

profunda desigualdade social; 

E, desenvolver e praticar um nacionalismo conseqüente e não

obtuso, onde os conceitos de nação teriam de ser submetidos ao ideário popular democrático.

As principais teses a respeito destes temas, foram manifestas no âmbito da cultura ideológica da arquitetura brasileira, principalmente durante a década de 1950, então sob forte impacto da Guerra Fria, cuja resposta em nosso meio se procedeu através do modelo político-econômico desenvolvimentista e, por um pensamento crítico com o predomínio da orientação marxista.

Portanto, a

decisão

da coordenação deste

Congresso em

homenagear e ter como o seu patrono o arquiteto e professor Eduardo Albuquerque Graeff, além de ser justa, é providencial em relação ao momento presente, o que nos encoraja arriscar a proceder a um resgate, pelo menos reducionista dos seus princípios e propostas, com o objetivo de informar às novas gerações e nos posicionar diante de uma possível continuidade dos projetos então delineados há meio século, encaminhando as atualizações que possam ser necessárias. Estamos a assumir este propósito porque os testemunhos vivos deste longo e penoso processo encontram-se presentes neste Congresso, plenos em seu vigor e posição de liderança, o que nos tranqüiliza no sentido de que serei cobrado pelos equívocos e omissões talvez inevitáveis.

Inicialmente, lembramos que as questões relacionadas à formação do arquiteto, faziam parte de um todo orgânico explícito compreendendo os aspectos que passaremos assinalar. Para fins de demonstração, transcrevo parcialmente as proposições então apresentadas por João Batista Vilanova 9


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Artigas na Introdução do livro Caminhos da Arquitetura, editado em 1981, que representa uma das vertentes dos profissionais que praticavam a militância ideológica empenhada em ampliar a participação do profissional arquiteto nos debates e projetos de interesse nacional; segue a síntese das teses ali apresentadas:

Proceder à investigação e direcionar o debate intelectual para

a questão da “legitimidade das raízes brasileiras da Arquitetura ‘Moderna’”, buscando assim, articular-se com os diversos segmentos comprometidos com o nosso desenvolvimento cultural (ARTIGAS, 1981:10); 

Voltar-se

para

o

conhecimento,

compreensão

e

aproveitamento “dos elementos de (do) saber arquitetônico nacional, histórico, erudito e popular.” (Idem); 

Manifestar “o ardente desejo de descobrir a autenticidade, a

originalidade das raízes culturais brasileiras”, atitude esta que Artigas também a justificava como um tipo de reação e defesa diante da constante ameaça da “subserviência cultural e política” daqueles anos marcados pela Guerra Fria; 

Realizar a “procura de formas” tendo como compromisso

principal, possibilitar uma aproximação “de uma posição cultural crítica e rebelde” em oposição à “cordata academia em que se transformou a Arquitetura Moderna Brasileira”, evidente crítica que então caracterizava a sua “indignação de militante da independência nacional.” (ARTIGAS, 1981: 10 e 11); 

Exalta a “necessidade de abandonar a adaptação de um

palavreado estrangeiro, quase sempre envelope de conceitos que não são os mais apropriados para o desenvolvimento do crisol de harmonia e beleza contido em nossas tradições culturais” (idem, p. 11); 

E, finalmente, promover a “discussão de aspectos da atuação

do arquiteto que precisam ser modificados e reconsiderados para o aperfeiçoamento da arquitetura, a educação de nossos quadros a 10


A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa fim de que desempenhem a sua missão criadora sem temerem confundir-se no marasmo ou na camisa-de-força em que se constitui a vida prática.” ( idem, p.11).

A lembrança destes pressupostos pode deixar bastante evidente o todo orgânico em que as questões relacionadas à formação e ao exercício da profissão encontravam-se articuladas. A

CONTRIBUIÇÃO

DE

EDGARD

A.

GRAEFF:

OS

INSTRUMENTOS DA HISTÓRIA E DA TEORIA.

Após esta introdução, iremos nos deter na contribuição específica do grande homenageado deste Congresso, o professor Edgar A. Graeff (1921-1990), procedendo a uma releitura de suas proposições que também se caracterizavam por uma articulação estreita entre os posicionamentos político, a prática profissional, e a resultante insistência quanto à necessidade de termos a coragem de evidenciar os princípios norteadores para o desenvolvimento contínuo da arquitetura brasileira. Sentimos que a revisitação à Graeff deve ser acompanhada de uma reflexão a respeito do quadro atual vívido pelos profissionais do ensino da arquitetura, tarefa esta mais ampla em relação às possibilidades deste palestrante, no entanto, os nossos colegas presentes e ora ausentes, poderão nos auxiliar numa possível compreensão e, coletivamente, esboçarmos uma pauta tendo como referência orientadora os propósitos e caminhos tão bem assinalados pelo nosso homenageado.

Justapondo em alguns momentos as suas abordagens com as de João Vilanova Artigas (1915 - 1985), a nossa ênfase está direcionada para discutir o papel permanente a ser desempenhado pelos instrumentos da História e da Teoria

no auxílio da construção de um processo didático-pedagógico de

caráter operacional transformador, tendo-se ao mesmo tempo, a consciência dos seus limites e importância na medida em que se constituem em instrumentos híbridos de caráter científico e ideológico, não podendo, no entanto, abandonar o seu papel histórico de contribuir para o desenvolvimento cultural e democrático da 11


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nação brasileira.

Com esta abordagem, pretendemos evidenciar as circunstâncias e o momento em que passaríamos a nos distanciar das orientações e contribuições representadas pelos trabalhos do arquiteto-professor humanista – Edgar A. Graeff -, e propor um paralelismo ou sincronia, com a hipótese de que estamos a passar por um momento transitório de ausência de rumos compartilhados e de lideranças específicas nesta área.

Gostaria de fazer um parênteses - não podemos confundir a dimensão de pesquisador com a de ideólogo, hoje contamos com inúmeros arquitetos-professores-pesquisadores

da

maior

importância

e

com

suas

respectivas posições políticas, mas de âmbito pessoal, o que seria ignorância e injustiça de nossa parte não proceder a presente diferenciação - mencionaria aqui, pelo menos os nomes de nossos queridos professores Augusto Carlos da Silva Telles, Paulo Ormindo de Azevedo, Geraldo Gomes, Ivo Porto de Menezes , Milton Monte, Nestor Goulart Reis Filho, Benedito Lima de Toledo,Carlos Alberto Cerqueira Lemos ... personas estas que ora mencionamos para exemplificar a riqueza existente nos diferentes quadrantes intelectuais deste país. O que estamos aqui a querer afirmar e ressaltar é quanto à importância do papel desempenhado por Graeff na construção do edifício ideológico teórico-histórico, especificamente direcionado para a superação da dependência cultural, e o seu uso como instrumento de conhecimento, formação e de prática profissional.

Ainda devemos mais um esclarecimento:

Apesar de termos contribuições e autores significativos neste campo de conhecimento - aqui menciono com especial carinho Miguel Alves Pereira -, há um fato inexorável que o contexto então vívido por Graeff, foi marcado pelo combate e a defesa do conceito clássico de nação, o nacionalismo profundamente marcado pelas noções de soberania e democracia; enquanto hoje, vivemos já há algum tempo, as conseqüências da longa 12


A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa campanha de despolitização e da correspondente morte das ideologias. Dentro da sua ampla obra intelectual, Arte e Técnica na Formação do Arquiteto, pode ser considerado o seu texto síntese de natureza ideológicobiográfico, o qual nos servirá de referência básica para esta evidenciação de um momento de perda da nossa conexão com a tradição construída pelas gerações de arquitetos modernos brasileiros, marcada então por um nacionalismo acentuado, que pode ser entendido como uma resposta diante do avanço de um estado tecnocrático e oposto à liberdade de expressão, sofrendo também as pressões de políticas desnacionalizantes, além dos efeitos resultantes de uma estrutura universitária debilitada.

O conjunto desses fatores gerou um efeito a favor do próprio processo de fechamento político que a nação viveria a partir de 1964 - esta geração, no caso específico que estamos a tratar, o professor Edgar A. Graeff, foi levado pelo próprio quadro político e econômico de uma condição de sintonia para o da gradativa restrição da sua amplitude intelectual, naquilo que dizia respeito às possibilidades de acompanhar, compreender e combater os caminhos propostos pela arquitetura internacional do após-guerra. O seu empenho, repleto de convicções e paixões, o fez se distanciar daquilo que é mais caro aos ideólogos a perda do acesso a informação atualizada, gerando a partir daí, também a perda de compreensão diante de uma investida do inimigo (segundo o olhar da época) em momento e situação imprevista - o que correspondeu, justamente, a um novo ciclo internacional de difusão da produção arquitetônica enquadrada sob o termo pós-moderno.

O final da década de 1970 e o início da de 1980, podemos considerar como o momento em que ocorrem manifestações dos dois principais ideólogos de nossa arquitetura moderna, Artigas e Graeff, demonstrando os indícios de um distanciamento da atualidade, acompanhamento e compreensão das

então

potenciais

linhas

de

influências

definidas

pela

arquitetura

contemporânea internacional. Este fato é relevante porque, a partir desse instante 13


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hipotético-histórico, deixaríamos de ter a defesa e a contra-argumentação atualizadas, para proceder à manutenção do desenvolvimento de todo um ideário voltado para a construção de uma arquitetura que tivesse fortes traços de identidade e autonomia; podemos dizer que se tem início um período que passa a não contar com novos discursos reorientadores que pudessem ter penetração e reconhecimento à semelhança aos dos anos 50 e 60, mas polvilham contribuições individualizadas da maior importância cuja multiplicidade hoje desafia uma visão efetiva de suas contribuições para um novo momento de síntese.

A ausência de um reconhecimento deste campo fértil pelos críticos pós-80, devido às ênfases em se debater com críticas negativas à modernidade, possivelmente devem estar ainda a influenciar e explicar um estado de espírito que se aproxima à descrença e ao silêncio alimentando um possível vazio quanto à questão da formação do arquiteto. UMA REVISITAÇÃO Á EDGAR A. GRAEFF.

O próprio título de seu texto Arte e Técnica na Formação do Arquiteto, expressa um par temático que contém as suas dualidades específicas. Inicialmente, os termos arte e técnica, representavam uma polarização histórica, conceitual e profissional tão cara para a historiografia e para as gerações de arquitetos conscientemente ligados e comprometidos com a gestação e difusão criativa do movimento moderno em todos os seus âmbitos. Quanto ao par formação e arquiteto, estabelecem um relacionamento em constante pressão e carregado de um atavismo que nos faz lembrar as nossas raízes não tão remotas, por exemplo, aquelas mencionadas na metáfora interpretativa de Vilanova Artigas, ao se referir sobre a prática da arquitetura no período colonial até o Império, na introdução de seu Relatório sobre o ensino de Arquitetura para a UIAUNESCO em 1974,

“O exercício de atividade do arquiteto estava aberto, independente de qualificação, normas e legislação específicas. Cada um construía a seu modo, com os recursos e limitações do momento. 14


A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa Por isso, poder-se-ia dizer, a Arquitetura não era profissão. ...” (ARTIGAS, 1977:31)

Guardado o devido distanciamento no tempo, inclusive no avanço de nossos conhecimentos a respeito da projetação no período colonial, e as características da diversidade do contexto contemporâneo, na medida em que contamos com uma profissão institucionalizada, no entanto, presenciamos um comportamento por parte dos alunos onde a expectativa, a ansiedade em realizar, de exercer a profissão imaginada de arquiteto o quanto antes, o mais cedo possível, expectativa esta, somada a uma possível perspectiva sombria em relação ao mercado de trabalho, fazem com que estes fatos participem na definição de comportamentos que estariam a formar um ambiente onde a escola seria vista em termos de uma passagem penosa, reduzindo-a, muitas vezes, a uma função do tipo cartorial na obtenção do diploma ou, mais precisamente, a carterinha do CREA.

Este possível clima poderá vir a ser compreendido na medida em que procedamos às seguintes correlações:

a) o diagnóstico então esboçado por Graeff em 1984 denuncia e esclarece as razões históricas da fragilidade do sistema universitário brasileiro, particularmente, em relação à nossa área de formação; b) considerando a nossa própria realidade do construir, podemos presenciar

extensas

áreas

urbanas

aonde

predominam

a

autoconstrução desassistida por profissionais qualificados e, por outro lado, não menos significativas, construções irregulares com orientação profissional habilitada; c) não podemos desconsiderar os efeitos sobre as novas gerações, de um quadro que nos é posto corriqueiramente através da mídia, que estaríamos à mercê de processos de produção e apropriação dos espaços aparentemente se procedendo de maneira caótica; e, d) um aspecto um pouco mais delicado, diz respeito ao nosso efetivo conhecimento do atual quadro de ocupação local, regional e do 15


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território brasileiro.

Este conjunto de aspectos julgamos que participam na conformação de um fenômeno básico contemporâneo, responsável por um tipo de fragilização ética, ou de não credibilidade de nossas instituições de ensino.

O quadro traçado por Graeff em relação à prática da arquitetura no Brasil, reportando-se ao período correspondente ao início do processo de abertura política, o ano de 1979 até 1984, data do texto em questão, se apresentava aos seus olhos, como uma situação de crise aguda, relacionada a um conjunto de fatos comandados, segunda as suas palavras, pelo atrelamento da economia brasileira aos interesses de capitais estrangeiros, e as respectivas amarras provenientes do subdesenvolvimento histórico do país, situações estas que o levaram a proceder a constantes denuncias, tais como:

O papel enganoso que as obras de exceção podiam estar exercendo na efetiva compreensão das condições concretas do exercício da profissão; e,

Os conflitos conjunturais e estruturais do ensino superior, fato este também testemunhado por Graeff, situação esta que seria também responsável por desencadear, no seio da comunidade universitária, uma “desestruturação orgânica e intelectual” (p.17), procedida esta sob a pressão e a tortura praticadas durante o período da ditadura militar; ações estas que atingiram o próprio autor - Graeff.

Com a sua ideologia fortemente marcada por uma linha marxistahumanista, se assim podemos a qualificar, imbuído de um nacionalismo como ideal e utilizando-o como instrumento de superação do estado de dependência, sistematicamente denunciado não só pelo autor, mas também pelo Instituto de Arquitetos Brasileiros, o comportamento extremado desencadeado, não era nada mais que uma decorrência lógica, na medida em que os próprios países centrais dividiram e qualificaram o planeta em 10, 20 e 30 mundo. 16


A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa

Justamente naquele momento (1979 - 1984), iniciava a difusão internacional da sistematização das idéias e da respectiva produção arquitetônica das então denominadas neo-vanguardas, sendo estas identificadas, por certa linha crítica-historiográfica, pelo termo conceito pós-modernismo. Graeff não dissimula o seu desconforto e manifesta a sua própria dificuldade de compreensão diante das profundas mudanças que estavam a ocorrer na cultura arquitetônica internacional, mudanças estas que foram aceleradas a partir do término da Segunda Guerra Mundial, interpretando a sua difusão em nosso meio estudantil e profissional como sendo mais um sintoma “do recrudescimento da dependência cultural” (p. 51).

Peço licença aos senhores, para me deter nesta particularidade e considerarem com benevolência este quadro sumário que acabo de apresentar.

Por um período me detive no sentido de compreender como Graeff, tendo produzido uma obra ensaística de reflexão histórica e teórica que propunha pistas interpretativas inovadoras , atualizadas e bem informado, estaria sendo pego de surpresa por uma mudança de paradigmas da cultura arquitetônica, cujas raízes podiam ser percebidas, por exemplo, já na abordagem crítica do movimento moderno feita por Bruno Zevi em sua História da Arquitetura Moderna (1950).

Procedamos então um rápido apanhado de algumas de suas principais teses, e veremos como elas possuem relação direta com as questões de ordem ideológica e didática-pedagógica. Ao mesmo tempo, aguardemos um pouco para utilizar o argumento que envolve as amplas conseqüências decorrentes de todo o ciclo relacionado à ditadura militar (1964-1988) como elemento de explicação ou justificador para um segundo momento:

(1) O tema histórico-teórico que mais identifica o seu trabalho intelectual diz respeito à sua proposta interpretativa a respeito das relações estabelecidas entre arte e técnica, invertendo de maneira 17


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magistral o título-conceito a arquitetura dos engenheiros, que foi utilizado pela historiografia européia, inclusive por Le Corbusier, em seu texto fundamental, Sobre a Arquitetura, tendo naquele momento o mencionado título-conceito utilizado, de uma maneira deliberada, para diminuir e omitir o papel antecipador dos arquitetos anteriores à denominada primeira geração dos modernos, principalmente aqueles arquitetos franceses de meados do século XIX, que utilizaram de maneira pioneira o ferro e o vidro nas construções, inclusive desenvolvendo ao nível da concepção dos edifícios, novas formas de organização às novas demandas da época, em contraposição ao empirismo construtivo das engenharias em resposta aos desafios então propostos e, só mais tarde, é que viria a se desenvolver os instrumentos científicos apropriados. Esta reinterpretação foi um dos resultados de suas linhas de questionamentos voltados para esclarecer as relações e os caminhos que teríamos de adotar em nosso próprio tempo, em relação às questões de ordem tecnológica, recorrendo à História como instrumento desvendador, de evidenciação de hipóteses por nós, contemporâneos, formuladas no sentido de consubstanciar teses as quais pudessem contribuir, segundo as suas próprias palavras, para a superação do estado de subjugação humana e ambiental comandadas pelos maus usos da técnica. Portanto, coerente à sua linha de pensamento, recorria às interpretações de orientação marxista, empenhando-se no esclarecimento de nossas relações, como categoria profissional, com os meios de produção, procurando superar as interpretações limitadas e difusas apresentadas pela historiografia então voltada quase exclusivamente para a defesa do movimento moderno europeu. (2) No campo da teoria da arquitetura, nos

apresenta o

encaminhamento de argumentos esclarecedores, então verdadeiras descobertas, como o da passagem do conceito de espaço para o de ambiência, reconceituando o próprio papel da forma na arquitetura e, em última análise, procedia a própria redefinição do papel da arquitetura na sociedade contemporânea. Cabe-nos lembrar, que este tema não era periférico

aos

debates

então

travados

em âmbito

internacional. 18


A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa Possivelmente, sem que o autor pudesse estar informado a respeito das especulações de Louis I. Khan, este, contemporaneamente, recorria a um neoplatonismo para estabelecer a relação do par conceitual forma e figura com os princípios de essência e design procurando superar os estreitos limites da concepção funcionalista da arquitetura, ou, o exemplo de Christian Norberg-Schulz, propondo também na mesma época, uma dualidade interpretativa recorrendo às categorias espaço arquitetônico e espaço existencial, transpondo para o pensamento da arquitetura as abordagens filosóficas da fenomenologia heidegeriana. Graeff, em seu ensaio “A forma na arquitetura”, datado de 1969, de maneira não ortodoxa, aplica os princípios de uma fenomenologia marxista, na definição da natureza específica do espaço arquitetônico, articulando a dimensão objetiva e subjetiva de maneira explicita e passível de evidenciação objetiva: “... e, quem sabe, sua natureza essencial (do espaço) - reside na AMBIÊNCIA que ele enforma para envolver e condicionar atividades humanas determinadas. A percepção de tal ambiência se processa ao longo do tempo consumido no exercício das atividades previstas e por meio de diferentes aparelhos sensoriais. ...” (GRAEFF, 1979: 87)

(3) Finalizando essa revisão de suas contribuições transformadoras, temos o seu projeto das Oito Vertentes e Dois Momentos de Síntese da Arquitetura Brasileira, cujos colegas, em particular os da escola de arquitetura da PUC de Goiás, nos poderá prestar um testemunho mais rico e preciso. Ali, se propõe proceder toda uma rescrita da história da arquitetura a partir de nosso posicionamento no espaço e no tempo, proposta que guarda relações de semelhança, em termos de amplitude e esforço, como o mapeamento do genoma humano. Transcrevemos a sua apresentação para a publicação do levantamento arquitetônico da cidade de Natividade, editado em 1985, onde demonstra o ponto que podemos chegar se levarmos a fundo as teses de se enveredar em uma autodeterminação em relação ao conhecimento e uso da História para fins 19


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de instrumentalização de um combate ideológico:

“Oito Vertentes e Dois Momentos de Síntese da Arquitetura Brasileira, constitui uma hipótese de caráter didático-pedagógico, que parte da convicção de que a História, por mais isenta que possa parecer, é sempre e inevitavelmente comprometida. Tanto a sua elaboração enquanto disciplina científica como a sua leitura são, em qualquer hipótese, pautadas por compromissos políticos dos autores e dos leitores. Porque a história ou o conhecimento do passado - só adquire realmente vitalidade e sentido em face dos nossos problemas do presente e de nossos

projetos

para

o

desenvolvimento

futuro.

E

no

Brasil,

lamentavelmente continuamos a ler e estudar a História da Arquitetura mundial a partir de um ponto de vista comprometido com os problemas e as perspectivas de desenvolvimento da arquitetura européia, ou na menos piores das hipóteses, das arquiteturas das metrópoles ricas. Com as Oito Vertentes, procura-se abrir caminhos para a elaboração de uma historiografia brasileira da arquitetura, uma historiografia comprometida com a política de desenvolvimento da Arquitetura Brasileira.”

Procedi todo este percurso para tornar visível a nossa perplexidade quanto a sua reação intempestiva em relação às manifestações da pósmodernidade. Temos um comportamento semelhante, não podendo se esquecer, de Jürgen Habermas, que quatro anos antes, em 1980, externou então a sua perplexidade diante da exposição de arquitetura na Bienal de Veneza, evidenciando assim os limites das posturas de orientação neo-marxista, então profundamente identificadas com a modernidade, o que o levou a interpretar aquela exposição, como sendo “uma vanguarda, cuja frente de combate se invertera.”:

“Como lema ‘O presente do passado’ sacrificaram a tradição da modernidade, que cedeu lugar a um novo historicismo.”(p. 99)

Modernidade - Um Projeto Inacabado, título do artigo-discurso de 20


A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa Habermas antes mencionado, nos leva a uma questão central e que também pertencente à nossa história do pensamento arquitetônico contemporâneo, ou, mais apropriadamente dizendo, sobre a relação daqueles que hoje tem, pelo menos, mais de 50 anos de idade, que tiveram a formação marcada pelo projeto claramente manifesto pela arquitetura moderna brasileira, no qual Graeff, ao lado de João Vilanova Artigas, talvez sejam os seus ideólogos mais contundentes e conseqüentes.

Não posso esconder aos senhores a minha tentação e fragilidade em tomar por empréstimo extemporâneo o título do artigo de Habermas, e aplicálo em relação a nossa modernidade em termos de um projeto interrompido.

O nacionalismo radical, a convicção de que a arquitetura moderna no Brasil tinha atingido níveis de autonomia, de identidade e qualidade reconhecidas em termos nacionais e internacionais, acenava então como uma experiência concreta daquilo que poderia ser identificado como exemplo e de efetiva possibilidade de nossas potencialidades para superarmos também as amarras da dependência econômica. Esse clima foi exacerbado ainda mais pela ação paradoxal de Juscelino Kubitschek, com a política desenvolvimentista e a transferência da Capital com a construção de Brasília, reforçando ainda mais a associação da idéia de originalidade da arquitetura moderna brasileira em termos de autonomia.

Reproduzimos a seguir, um fragmento do seu ensaio Arquitetura e Dependência de Graeff, o que nos permite perceber a extensão do fato:

“(...) 22. Desde que as escolas de formação profissional incorporavam-se ao processo de renovação, abriam-se as mais amplas perspectivas para o pleno desenvolvimento da arquitetura brasileira, que já contava com uma base sólida, forjada na prática profissional. 23. A partir de 1964, entretanto, o processo se inverte em conseqüência de brutal repressão instalada no país. Na área da 21


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arquitetura, em que se podia considerar praticamente superada a dependência cultural, o retrocesso é evidente, gritante, atingindo tanto o campo do exercício profissional quanto o da formação de arquitetos.” (pág. 18, grifo nosso)”

Numa estrutura universitária frágil, a qual não demonstrava competência para dar sustentação aos aprofundamentos dos conhecimentos específicos necessários para a contínua aproximação do ideário da arquitetura moderna a todos os níveis da sociedade brasileira, deixava também de contribuir para a manutenção e ampliação do espaço internacional de reconhecimento de suas teses e realizações, o que seria da maior valia no processo de revisão do próprio movimento moderno então em curso. A ditadura militar e a convicção de uma autonomia cultural, referindo-se aqui à questão arquitetônica, contribuíram, como uma fatalidade, para um processo de ampla desconexão em termos internos e externos ao país:

internamente, a comunicação e a liberdade necessárias foram praticamente eliminadas, o que veio a dificultar ainda mais as nossas possibilidades de acompanhar de maneira crítica e informada as transformações então em curso no cenário nacional;

e, em termos externos, passou a se consolidar um isolamento, um processo de auto exílio em relação ao que ocorria na cultura arquitetônica contemporânea internacional.

Aquela sincronia, talvez a única e a última, vivida e desencadeada por aquela geração liderada por Lúcio Costa – histórica e simbolicamente representado pelo contato direto com Le Corbusier -, os seus efeitos se esgotavam na medida em que não se conseguiu contar com outras oportunidades de trocas transformadoras e densas de conhecimento acumulado somado a ausência de uma presença mais substancial das instituições de ensino, nos colocaram numa situação de despreparo diante de um momento delicado, quando passávamos por uma profunda transformação dos paradigmas e das lideranças 22


A Formação do Arquiteto no Brasil: A crise silenciosa do movimento moderno, então claramente identificáveis até meados da década de 1960, a partir desta mesma década, se delineiam mudanças de orientações, lideranças e multiplicam-se as tendências. CONCLUSÃO

Edgar Graeff, ao longo da década de 1980 irá procurar uma nova diretriz de unidade, recorrendo a um ambicioso propósito que implicaria numa efetiva congregação dos profissionais arquitetos, professores, alunos, instituições de ensino e agencias de fomento de pesquisa, para proceder ao encaminhamento de sua última proposição ideológica - o conhecimento e a reescrita da História -, com o objetivo de contribuir e restabelecer a união e a concentração de esforços, no sentido de construirmos a nossa reinserção nos processos de debates e definição de uma ação claramente voltada para o efetivo desenvolvimento social, dando curso aos posicionamentos democráticos marcados pela nossa geração idealista-combativa. Com isto, Edgar Graeff recriava as novas bases daquilo denominou como sendo a indispensável “política de desenvolvimento da Arquitetura Brasileira”.

Não se trata de uma nova utopia, mas de coragem e determinação, atributos que achamos que não faltam ao Instituto de Arquitetos do Brasil, podendo assim, efetivamente, vir novamente a contribuir na condução de um novo processo de formação da arquitetura brasileira, condição imprescindível para criar referências profundas, diversificadas e esperançosas que possam a vir a dar um novo alento à formação das novas gerações de arquitetos.

BIBLIOGRAFIA:

ARTIGAS, João Batista Vilanova. Caminhos da Arquitetura. São Paulo, Livraria Editora Ciências Humanas, 1981. _________. In: Sobre a História do Ensino de Arquitetura no Brasil. São Paulo, Associação Brasileira de Escolas de Arquitetura, 1977, p. 31 – 38. _________. A Função Social do Arquiteto. São Paulo, Nobel, 1989. 23


LUIZ ALBERTO DO PRADO PASSAGLIA

FERRO, Sérgio. O canteiro e o desenho. São Paulo, Projeto Editores Associados : Instituto de Arquitetos do Brasil / SP, 1979. GRAEFF, Edgar Albuquerque. Arquitetura e o Homem. Belo Horizonte, Edições Escola de Arquitetura, 1959. _________. Cidade Utopia. Belo Horizonte, Vega, 1979. _________. Arte e Técnica na Formação do Arquiteto. São Paulo, Studio Nobel : Fundação Vilanova Artigas, 1995. _________. In: VAZ, Maria Diva Araújo Coelho. Natividade. Brasília, MEC-Pró-Memória, 1985, p. 9 – 10. _________. In: Revista da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília. Brasília, n. 01, (jan.) 1998, (número dedicado à Edgar Albuquerque Graeff). HABERMAS, Jürgen. “Modernidade – Um Projeto Inacabado (1980)”. In: ARANTES, Otília B. Fiori & ARANTES, Paulo Eduardo. Um Ponto Cego no Projeto Moderno de Jürgen Habermas. Arquitetura e Dimensão Estética depois das Vanguardas. São Paulo, Editora Brasiliense, 1992, p. 99 a 123. KHAN, Louis I. “Estrutura e Forma”. In: Panorama da Arquitetura. Rio de Janeiro, Editora Fundo de Cultura, 1964, p. 64 - 75. (Obs.: o presente artigo data de 1961.) MINUTA DE LEI: Dispõe sobre o exercício das atividades da arquitetura e urbanismo, cria o Colégio de Arquitetos do Brasil e dá outras providências. (Cópia da versão 005a, 17/04/00, distribuída pelo IAB). NORBERG-SCHULZ, Christian. Existencia, Espacio y Arquitectura. Barcelona, Editorial Blume, 1975. (edição inglesa, 1971) PEREIRA, Miguel. Arquitetura e os caminhos de sua explicação. São Paulo, Projeto Editores Associados, 1984.

NOTA DO AUTOR: A revisão e a formatação do presente texto foram concluídas em 03/02/2015 sem proceder a alterações ao nível de seu conteúdo.

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