Correlação espaço ensino o espaço e a formação do arquiteto

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18ª EDIÇÃO: MOSTRA DE ARQUITETURA E URBANISMO / MAU EM RAÍZES - 2016

Correlação Espaço Ensino A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto. (Mesa de Debates) Luiz Alberto do Prado Passaglia 25/01/2016

Os textos que compõe esta publicação são o resultado da participação na Mesa da Mostra de Arquitetura e Urbanismo (MAU Em Raízes) realizada em 25/01/2016 cujo tema foi definido pela Comissão de Alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora. Na palestra proferida teve por objetivo apresentar um “mapa de referências” contemplando o conceito do termo “espaço" a partir da reconceituação da Arquitetura e de seu ensino sob a influência dos pensamentos decorrentes do Movimento Moderno na Arquitetura. Buscou-se, também, apresentar um esclarecimento sobre as possíveis razões dos sucessivos ciclos de manifestação de insatisfação no seu ambiente educacional


Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________

Passaglia, Luiz Alberto do Prado, 1950-. Correlação Espaço Ensino: A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto. / Luiz Alberto do Prado Passaglia. — Juiz de Fora (MG), 2016. 69 p. il.; 21 x 29,7 cm Palestra – Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2016.

1. Ensino - Arquitetura e Urbanismo. 2. Espaço arquitetônico. I. Passaglia, Luiz Alberto do Prado. II. Título.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________

ÍNDICE

INTRODUÇÃO:

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OS PENSAMENTOS E OS PROPÓSITOS DA PARTICIPAÇÃO

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A PALESTRA: A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

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Apresentação

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ESPAÇO e ENSINO: UM “MAPA” DE REFERENCIAS

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Le Corbusier

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Walter Gropius

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Lewis Munford

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Lúcio Costa

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Sigfried Giedion

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Kevin Lynch

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Paul Rudolph

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Charles Jencks

31

Bruno Zevi

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Frank Ching

34

Milton Santos

37

Carlos Nelson

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UMA SÍNTESE

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A ETIMOLOGIA DA PALAVRA ESPAÇO

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CONCLUSÃO: AS TRÊS EXISTÊNCIAS E A CONSTRUÇÃO DOS “PONTOS DE REFERÊNCIAS”

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RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS FEITAS PELOS ALUNOS

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA DO EVENTO

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PÓS-ESCRITO

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BIBLIOGRAFIA

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IMAGENS UTILIZADAS / REFERÊNCIAS

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INTRODUÇÃO Toda atividade possui o seu ciclo: a etapa da sua preparação, de realização e de avaliação com seus desdobramentos, esta última teve por objetivo refletir sobre o trabalho realizado. Outro aspecto que motivou a elaboração do presente documento foi o de deixar registrado o pensamento deste ex-docente da unidade de ensino que estimulou a iniciativa dos alunos para propor a “Mesa de Debates” com o tema “Correlação Espaço e Ensino” – a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora1. Este tipo de atividade, em nossa opinião, se diferencia daquela desenvolvida em sala de aula. Ela fica localizada em um “espaço intermediário” onde está presente tanto a experiência discente, como a própria trajetória discente do professor – a maneira de se relacionar com os alunos e com o conhecimento guardam estreitos vínculos ao seu próprio perfil de aluno que foi. O trabalho aqui apresentado está organizado da seguinte maneira: 1. A “Apresentação” contém os termos da solicitação e os pensamentos iniciais que balizaram a elaboração do que foi apresentado aos alunos no evento programado; 2. O texto da Palestra baseado na transcrição da sua gravação, tendo sido elaborado as complementações e adaptações para a escrita procurando não alterar o teor do conteúdo transmitido; 3. E, o “Pós-escrito” que são reflexões a partir das colocações feitas pelos alunos.2

1

O período que lecionei era um Departamento da Faculdade de Engenharia da UFJF. A Mesa de Debates teve a participação do professor convidado Maximiliano Valério López, cujas considerações e contribuições não foram objeto do presente trabalho tendo em vista que as explanações foram independentes. As manifestações em relação ás colocações feitas pelos alunos não chegaram assumir a feição de um debate – com exceção de um ponto de vista a respeito do “significado da vida”. 2

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OS

PENSAMENTOS

E

OS

PROPÓSITOS

DA

PARTICIPAÇÃO

Ponto inicial - 19 de janeiro recebo telefonema de aluna3 do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFJF encaminhando gentilmente o convite para participar de uma “Mesa de Debates” e da “Maratona de Projetos”, atividades programadas para a “Mostra de Arquitetura e Urbanismo – MAU” que seriam realizadas respectivamente nos dias 25/01 e 26/01. Diante das datas apresentadas percebo a minha limitação, mas, mesmo assim, pedi-lhe que me enviasse por e-mail a solicitação e a programação do evento para poder ter o tempo

necessário para melhor

inteirar-me

dos

objetivos

e viabilizar

parcialmente uma colaboração. No mesmo dia, recebo o e-mail informando sobre os objetivos que passo a transcrever apenas os termos relacionados à Mesa de Debates da qual participei: 19 de janeiro de 2016 23:02 (...) A temática abordada nessa edição envolverá questões sobre ensino e espaço. Consideramos essa MAU um momento importante de introspecção, um olhar para dentro do curso, com o objetivo de refletir, discutir e buscar proposições em torno da temática abordada no evento, levando em consideração o contexto de mudança na Universidade e seus reflexos no ensino. Nesse sentido gostaríamos que o senhor estivesse conosco em dois momentos especialmente: Mesa: Correlação espaço ensino (25 de janeiro às 18h)

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Neste trabalho deixamos de mencionar os nomes dos alunos porque interpretei as participações como sendo ao nível de uma representatividade institucional. O contato inicial foi em nome da Comissão do Evento e, na Mesa, na hora do debate, os três alunos que participaram se constituíram em uma amostragem do pensamento e do sentimento no âmbito discente. Outro aspecto é que a transcrição não pôde ser considerada tecnicamente perfeita seja em decorrência do próprio equipamento utilizado como, também, as condições do ambiente em que se realizou a atividade. O evento foi gravado na íntegra pelos representantes da Comissão com uso do microfone direto.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ A mesa tem como proposta a discussão da relação dialética entre ensino e espaço, tendo como motivação entender o seu reflexo no ensino da arquitetura e urbanismo através do processo de construção do sistema educacional.

Após trocas de e-mails para a definição dos horários encaminhei uma solicitação no sentido de fosse explicitado algo que gostariam que abordasse sendo encaminhada a sugestão assinalada em negrito no texto abaixo: 21 de janeiro de 2016 16:45 “Contaremos com mais dois professores para compor a mesa: o professor Maximiliano Valério López, professor da Faculdade de Educação, que irá tratar dessa temática dentro do campo das filiais da educação e o professor Emmanuel Pedroso, coordenador da FAU, que irá abordar os reflexos dentro da nossa faculdade. Nesse sentido gostaríamos que o senhor abordasse a importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto.”

Com estas informações demos início ao preparo da apresentação. O que me despertou a atenção desde o primeiro momento foi a preocupação manifesta através do temário para a “Mesa de Debates” ao utilizar o termo “espaço” como elemento chave para sintetizar a relação com a questão abrangente do “ensino” da Arquitetura e do Urbanismo Um esclarecimento. Na medida em que participei de um ambiente de formação e de prática educacional onde o termo “espaço” era decorrente, ou seja, os seus significados e efeitos estavam contidos explicita ou implicitamente em outros termos, este fato aqui observado em relação ao tema escolhido para a Mesa me chamou especial atenção. Quanto a este ambiente da minha formação que mencionei gostaria fazer duas observações. A primeira diz respeito a uma breve contextualização histórica.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ No âmbito dos arquitetos que então se debruçavam sobre os aspectos teóricos da Arquitetura em nosso contexto, uma reflexão crítica se destacava. O arquiteto, professor e pensador Edgar Albuquerque Graeff ao elaborar os seus questionamentos quanto ao enquadramento da Arquitetura no campo das Artes Plásticas e sobre o esforço teórico de Bruno Zevi em seu “Saber ver a Arquitetura”, coube-lhe dar um passo fundamental cujo raciocínio encontra-se registrado no seu ensaio “A Forma na Arquitetura” (1969)4 apresentando o conceito de “ambiência”. Apesar de utilizar o termo “espaço arquitetônico”, no entanto, a expressão elegida por ele foi “forma arquitetônica” justamente por se tratar de um “espaço”, de um “vazio” qualificado, o qual estaria sempre definido através de determinadas propriedades naturais e artificiais:

“Caracteriza-se assim a forma arquitetônica como ambiência construída: ambiência revelada mediante a ação conjunta de um feixe de estímulos emitidos por formas plásticas – as formas da matéria sob a luz; formas táteis – temperatura, ventilação, umidade do ar; formas acústicas – sons, ruídos, e formas olfativas – odores, perfume. A conjugação dessas formas parciais na definição da forma arquitetônica é regulada pelo tempo de utilização do espaço construído.” “Entendida nesses termos, a forma arquitetônica revela-se rigorosamente comprometida com o Programa de Necessidades – e o ofício do arquiteto pode ser definido como arte de formar (organizar e animar) espaços destinados a ambientar as atividades humanas.”5

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No final do ano de 1969 realizava o vestibular para o curso de Arquitetura e Urbanismo na USP. GRAEFF, Edgar de Albuquerque. A Forma na Arquitetura. In:______. Cidade Utopia. Belo Horizonte: Ed. Vegal, 1979. cap. VII, p. 83-88. Editado originalmente NE revista Galeria de Arte Moderna-GAM, Rio de Janeiro, 1969. O conhecimento do livro, portanto de seus conteúdo, só os tive quando me tornei professor de Teoria I na Escola de Arquitetura da UFMG a partir de 1982. O prof. Graeff fez parte do concurso público do qual participei para a Cadeira que então passei a lecionar. 5

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ A segunda observação é sobre a interpretação crítica efetuada por José Teixeira Coelho Netto6 em seu livro A Construção do Sentido na Arquitetura7 (1979), a respeito dos limites e da superação das bases do processo de conceituação ou de definição do que seja Arquitetura praticada pelos arquitetos. Após uma síntese onde o autor destaca o percurso das definições da Arquitetura desde Vitrúvio, identifica a presença das denominadas “trindades consagradas”8 então iniciadas no Renascimento, desembocando no binarismo “forma x função”, finalmente, identifica as iniciativas que, segundo a sua visão, o engano passou a ser corrigido, mencionando a definição da Arquitetura apresentada por Auguto Perret de que ela é “a arte de organizar o espaço que se exprime através da construção” e, a partir dessa referência histórica, articula a sua argumentação: “Organizar o espaço e, mesmo, mais que isso, criar o espaço: assim, efetivamente, se pode descrever a arquitetura. E se for necessário ser ainda mais preciso, pode-se ressaltar que arquitetura é simplesmente trabalho sobre o Espaço, produção do Espaço – este é o elemento específico da arquitetura, escamoteado em todos estes séculos e ainda hoje.” COELHO NETTO, p.20)

O tipo de alerta do autor nos chama a atenção para o uso dos “termos que não definem a si mesmos” como alguns que aqui utilizados em nosso próprio texto – por exemplo, a menção ao “sentimento” e, a importância que atribuímos aos pensamentos como entes indutores da ação humana. Mas, estas e outras observações do autor encontraram a sua pertinência no sentido de auxiliar de estarmos atentos diante deste universo que é a palavra. No 6

Jose Teixeira Coelho Netto: Graduado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e Universidade Guarulhos (1971), mestrado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (1976) e doutorado em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo (1981), pós-doutorado na University of Maryland, EUA (2002). In: https://uspdigital.usp.br/tycho/CurriculoLattesMostrar?codpub=C7A0AD329DDC 7 COELHO NETTO, J. T. . A Construção do Sentido Na Arquitetura. SÃO PAULO: PERSPECTIVA, 1979. 8 Citando Leon Battiste Alberti: Solidez (firmitas), comodidade (commoditas) e (et) prazer (voluptas). Para as outras exemplificações consultar COELHO NETTO, p.18.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ entanto, temos de considerar que no âmbito da compreensão da Arquitetura e do Urbanismo há tempo em que as definições deixaram de ser os mecanismos de propiciar a grande síntese sobre uma área de conhecimento e de orientação para a atuação. Não podemos esquecer que na Arquitetura e no Urbanismo a conformação de seus campos de conhecimento e respectivas atuações participam diferentes sistemas que, necessariamente, não se interagem linearmente. As partes que compõem este objeto híbrido é, ao mesmo tempo, um produto da indústria da construção, do mercado imobiliário e do sistema financeiro, mas, também, se constitui em um elemento complexo de conhecimento onde participam os sistemas de formação (o ensino) e de gestação político e sociocultural através dos sistemas normativos vinculados aos processos de parcelamento, uso e ocupação do solo. Cabe aqui destacar, inclusive, a presença de distanciamentos que tendem a esconder os conflitos que ocorrem justamente no caso do sistema educacional como resultado da maneira que ele se relaciona ou desconsidera a totalidade deste amplo processo. Estes aspectos não chegaram a ser assinalados de uma maneira direta na palestra realizada porque requerem outro tipo de percurso e de fundamentos para poderem ser apreciados na extensão de sua contribuição. Mas, fica este alerta de que a Arquitetura, pelo menos na nossa época atual, não se faz por se entender e, nos motivar, através de definições conceituais, elas podem nos ajudar a compreender aspectos específicos de sua constituição, operação, resultados e ausências, mas, a Arquitetura é definida por sistemas9 que se encontram em constantes conflitos10.

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Sistema: “Un sistema (del latín systēma, y este del griego σύστημα sýstēma 'reunión, conjunto, agregado') es un objeto complejo cuyos componentes se relacionan con al menos algún otro componente; puede ser material o conceptual.(1) Todos los sistemas tienen composición, estructura y entorno, pero sólo los sistemas materiales tienen mecanismo, y sólo algunos sistemas materiales tienen figura (forma)”. (1) Mario Bunge, Diccionario de filosofía, México, Siglo XXI, 1999, p. 196. In.: https://es.wikipedia.org/wiki/Sistema 10 Um dos conflitos que estamos a nos referir é, por exemplo, entre o Sistema Educacional vinculado à Arquitetura e Urbanismo e o Sistema de Produção e o Mercado. No meio docente uma parte de seus conteúdos estão permeados de condutas e conteúdos que não possuem um alinhamento direto aos procedimentos especulativos que tendem a predominar nos dois sistemas mencionados, quando o

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ Portanto, diante do convite procurei verificar nas minhas vivências aspectos ou imagens associadas a um entendimento do por que a “palavra espaço” estaria sendo eleita. Um tipo de resposta que me veio foi a possível vinculação dos alunos com um ambiente cotidiano que, na sua maioria, estaria formada por ambientes (espaços) em conflito devido à desorganização, adensamentos, degradação, inclusive empobrecimento e segregações, processos estes ocorrendo não só na cidade de Juiz de Fora onde a maior parte do parcelamento, uso e ocupação do solo têm, por exemplo, nos seus elementos de infraestrutura como a viária, subdimensionados, versus um adensamento na sua ocupação e uso do solo. Este fato acima mencionado pode ser especificado um pouco mais através das observações que se seguem. - Como dissemos, o “ambiente-espaço” de origem do aluno constituído pela sua moradia e respectiva cidade, em sua grande parte, evidenciam níveis de insuficiências nas suas condições de habitabilidade se for considerar, por exemplo, os parâmetros conceituais e normativos presentes na legislação de Juiz de Fora. Este fato foi observado através dos trabalhos realizados pelos alunos na disciplina Teoria da Arquitetura I quando respondi por esta cadeira no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFJF; Outro aspecto é o possível entendimento do próprio “ambiente do campus” da UFJF, que vêm se adensando e parte significativo do seu ambiente sendo absorvido pelas carências da estrutura urbana.

Estes fatos repercutem de alguma maneira na percepção do aluno e, no de Arquitetura e Urbanismo, os espaços onde ele convive e aprende participam de maneira ativa na formação do sistema de valores.

conhecimento técnico e de gestão passam a ser utilizados para a maximização do parcelamento, uso e ocupação do solo a despeito de suas implicações urbanísticas e arquitetônicas.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ Portanto, estes eram alguns dos pensamentos implícitos quando recebi a definição do tema por parte da Comissão. Para abordar um tema tão amplo, acabei optando por utilizar o enfoque da “linha do tempo” para possibilitar a apresentação de alguns dos aspectos relevantes vinculados aos que a Comissão estava a solicitar. Após algumas tentativas acabei ficando com um conjunto de autores com os quais tenho vinculação acadêmica ou de simpatia que me acompanham de desde a minha formação. Mas, os conceitos que foram assinalados, se constituem em uma parte essencial da trajetória das minhas reflexões que agora passo a relacioná-los:

- O “espaço” como conceito abordado através de outros termos que foram utilizados no esforço de definir a Arquitetura e o trabalho do arquiteto; - A filiação à tradição Corbusiana por mais de uma geração de arquitetos e professores brasileiros - as suas implicações no ensino; - A visão internacional a respeito da situação crítica do ensino da Arquitetura; - A vertente representada por Walter Gropius no Movimento Moderno e, especialmente, na remodelação do ensino da Arquitetura nos EUA versus a influência Corbusiana aqui no Brasil; - O espaço e tempo como categorias analíticas da Arquitetura; o significado do sentimento e do papel das Artes na formação do arquiteto; - A conceituação da Arquitetura como parte da articulação da concepção de um sistema de conhecimento e de formação profissional; _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ - O espaço como objeto de aprendizado. A interpretação comportamental contida e condicionada pelos espaços; - O conhecimento do espaço ao nível do pensamento e do sentir: o conceito de “imagem”; - O pensamento arquitetônico como uma experiência plural; - Uma metodologia de apreensão gráfica que fosse expressão e desenvolvimento da nova postura diante da mentalidade e necessidades de um designer; - As limitações impostas pela religião no sentir profundo da presença e significado do espaço; - As diferenças entre lugares como resultado dos modos de produção; -

O depoimento de um ex-estudante

de Arquitetura e

Urbanismo: - A elucidação recorrendo à etimologia da palavra espaço; - As nossas múltiplas existências e seus correspondentes espaços – locus: o porquê da pressão histórica sobre a instituição de ensino de Arquitetura e Urbanismo.

Enfim, a apresentação partiu de um pressuposto e chegou a uma idéia sobre uma possível razão do título dado para a Mesa – Espaço e Ensino. Para a presente atividade acabamos desenvolvendo uma hipótese fundamentada em dois componentes explicativos:

- O de caráter externo, onde o termo “espaço” estaria refletindo inconscientemente o próprio ambiente físico e mental vivido pelas sucessivas gerações de estudantes de arquitetura e urbanismo onde, na prática, estão a vivenciar no seu dia-a-dia mais os fatos _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ das ações impactantes no “espaço” físico e humano do que de sua efetiva compreensão, preservação ou produção com claros objetivos de se obter o equilíbrio que se constituem em fins últimos das disciplinas da Arquitetura e do Urbanismo; - E, o fator interno, ou, o “espaço interno do aluno”, na medida em que ele desconhece que a sua existência é múltipla e, que de uma maneira inadvertida, tende a exigir ou descarregar na meta profisssional todos os seus anseios com suas evidentes repercusões no ambiente institucional educacional, processos e realizações que seriam de incumbências de outros âmbitos vinculados aos campos existenciais não vinculados diretamente à profissão.

Quanto ao texto que segue, ele é resultado da transcrição da gravação de uma fala nem sempre linear e tecnicamente audível. As deficiências da linguagem e o uso da entonação na explicitação de coisas que devem ser efetivamente pronunciadas foram objeto dos ajustes através da escrita procurando possibilitar maior clareza aos conteúdos quando necessário, mas, tendo-se o cuidado de não alterar a essência do que foi transmitido no ambiente mental do evento propiciado pelos alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFJF.

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A PALESTRA: A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

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APRESENTAÇÃO Agradeço o professor Maximiliano Valério López pela reflexão e pelo conhecimento em relação aos simbolismos, ao papel da monumentalidade e da realidade desse monumento que é a instituição escolar. Posso iniciar? Vocês não vão se assustar porque vim com um roteiro, algo um pouco extenso, portanto, não vou ser tão fluido como a fala do caro colega que me antecedeu. Mas, a minha explanação vai ser a montagem de um “mapa de referências” sobre este tema que foi colocado para a Mesa, a “Correlação entre Espaço e Ensino” e, mais especificamente, “A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto” - este foi o pensamento da comissão organizadora com o objetivo que trouxesse alguns elementos a respeito deste tema específico.

XVIII MAU / 2016 EM RAÍZES

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto. 25/01/2016

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ Considerando a reflexão do prof. Maximiliano sobre a Instituição Escola, na nossa área da Arquitetura temos uma história muito peculiar, porque de certa maneira, o arquiteto, o estudante de Arquitetura, o profissional e professor arquiteto ao longo da História, vamos dizer, pelo menos nestes últimos 100 anos, sempre estiveram se digladiando com a organização institucional do que se chama Escola. Vocês vão ter a oportunidade de ver que este fato não é um fenômeno só brasileiro, ele tem âmbito internacional no campo da Arquitetura e, no final, vou querer fazer uma reflexão em relação a este mundo de inquietações no âmbito da própria Instituição, o que poderia explicar um pouco o porquê que a Escola não atende tanto as múltiplas expectativas historicamente falando. Então irei apresentar para vocês um “mapa de referência” que é um recorte que tem muito haver comigo; deixei muita gente (referências) de lado e tive de chamar alguns de seus protagonistas para me ajudar a elaborar este recorte. Então vamos para o primeiro.

ESPAÇO

E

ENSINO:

UM

“MAPA”

PARA

REFERENCIAS12 Nós, os arquitetos aqui no Brasil, principalmente os da minha geração, no meu caso me formei em 1975 - vejam como estou distante da geração de vocês e de várias turmas anteriores -, talvez possamos ser considerados a última geração que recebeu os reflexos da atuação de arquitetos e professores que se formaram, que respiraram e atuaram

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Utilizo o termo “mapa” como analogia de representação visual e mental formado por um conjunto de arquitetos e pensadores que foram selecionados pela vinculação do autor e pela circunstância de auxiliar na apresentação de um tema tão amplo e importante para alunos do Curso de Arquitetura da UFJF.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ profissionalmente sob a égide da implantação do “Movimento Moderno” aqui no Brasil e sob uma influência impar de Le Corbusier.13

Le Corbusier / 1923 Então queria chamá-lo à presença de vocês para iniciar a construir este “mapa” porque boa parte desta geração de arquitetos, que também foram professores, o termo espaço era recorrente ao processo projetual, porque utilizavam outras denominações que compreendiam este conceito como, por exemplo, a própria definição da “arquitetura como artes plásticas” a qual continha o sentimento deste conceito, ditando uma postura decorrente de toda uma doutrina, cujo conhecimento abordava o espaço através de sua expressão pictórica (bidimensional) e tridimensional (espacial). Então para não abusar da paciência de vocês pegarei apenas um parágrafo para sentirem um pouco o que é este pensamento, este sentimento que esta geração continha. Vou ler o seguinte trecho para perceberem o seu conteúdo cuja maneira de se expressar evidencia a distancia em relação ao nosso tempo:  “A arquitetura não tem nada a ver com os estilos".

Lembremos que aquela geração estava a combater a Arquitetura como “aparência” – os estilos -, não queria mais que a Arquitetura fosse uma questão de estilos, a Arquitetura tinha de ser algo ligado à razão e ao sentimento, que teria de responder as necessidades de cada cultura, de cada situação e não um clichê.

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Cito como exemplo o arquiteto e professor Eduardo Corona (Porto Alegre, 1921 - São Paulo, 2001), formado em 1946 na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil que estagiou e trabalhou no escritório de Oscar Niemeyer de 1945 a 1949. Em 1949 iniciou sua carreira de professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo onde permaneceu até seu falecimento, em 2001. (In.: https://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_Corona) Tive o prazer de tê-lo como professor orientador para a elaboração da minha Tese de Doutoramento.

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1923 O PONTO DE PARTIDA Charles Édouard JeanneretGris, Le Corbusier (06 / 10 / 1887 – 27 / 08 / 1965)

Vers une architecture, París 1923 • A materialidade e a transcendência na arquitetura; • Os elementos através dos quais a arquitetura se manifesta.

     

TRÊS LEMBRETES AOS SENHORES ARQUITETOS 1. Volume “A arquitetura não tem nada a ver com os "estilos". Os Luís XV, XVI, XIV ou o Gótico, são para a arquitetura o que é uma pena na cabeça de uma mulher; às vezes é bonito, mas nem sempre e nada mais.

  A arquitetura tem destinos mais graves; suscetível de sublime, ela toca os instintos mais rudes pela sua objetividade; solicita as faculdades mais elevadas, pela sua própria abstração. A abstração arquitetural tem de particular e de magnífico o fato de que se enraizando no dado bruto, ela o espiritualiza, porque o dado bruto não é mais que a materialização, o símbolo da ideia possível. O dado bruto só é passível de ideias pela ordem que projetamos nele. As emoções suscitadas pela arquitetura emanam de condições físicas inelutáveis, irrefutáveis, hoje esquecidas.   O volume e a superfície são os elementos através dos quais se manifesta a arquitetura. O volume e a superfície são determinados pela planta. É a planta que é a geradora. Pior para aqueles a quem falta imaginação.” (p.13)

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

 “A arquitetura tem destinos mais graves (tem uma questão de interpretação, quando diz “grave” podemos ter como sinônimo o termo “elevado”); suscetível de (do) sublime, ela toca os instintos mais rudes pela sua objetividade (quando está falando em “os instintos mais rude pela sua objetividade” está a dizer que Arquitetura é construção, é matéria, você precisa dominar a matéria, a ciência da matéria); solicita as faculdades mais elevadas, pela sua própria abstração. A abstração arquitetural tem de particular e de magnífico o fato de que se enraizando no dado bruto (o pensamento arquitetônico é o sentimento arquitetônico que está enraizado na sua concretude), ela o espiritualiza, porque o dado bruto não é mais que a materialização, o símbolo da idéia possível. O dado bruto só é passível de idéias pela ordem que projetamos nele. As emoções suscitadas pela arquitetura emanam de condições físicas inelutáveis, irrefutáveis, hoje esquecidas.”

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ Hoje se conhece um pouco da crítica que se foi feita a esta geração do Movimento Moderno como se fosse uma arquitetura de clichê; vejam a dimensão de sentimento, de reflexão que contêm neste parágrafo e a partir dai Le Corbusier dá a pista do processo projetual e neste processo apresenta a nova concepção de como tratar a concepção espacial. Então vou chamar outro convidado para que esteja presente conosco para construir este “mapa de referências”, talvez, vocês não tenham oportunidade e nem tempo para perpassar por eles.

Walter Gropius / 1937 Temos agora a presença do próprio Gropius. Enquanto aqui no Brasil, em 193614, Le Corbusier era convidado, contratado, para assessorar um grupo seleto de arquitetos brasileiros, coordenados pelo Lúcio Costa, aonde se encontrava Oscar Niemeyer, para a elaboração dos projetos do Ministério da Educação e Cultura e o da Universidade do Brasil, nos EUA, ao contrário, contratava, recebia o imigrante Walter Gropius, por causa do nazismo na Alemanha, para realizar a remodelação do ensino da Arquitetura em uma de suas grandes universidades. Entre esses dois processos, o brasileiro e o norte-americano, historicamente há uma pequena diferença.

Em nosso caso, Le Corbusier tinha o conhecimento para desenvolver os projetos, é tanto assim que os profissionais que estiveram juntos com Le Corbusier pegaram a “chave”, a essência do fazer arquitetônico, do pensar urbanístico. Le Corbusier sentou-se à mesa e passou o seu conhecimento, a sua “maneira” durante aquele período de intensa convivência

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“Durante sua estada de cinco semanas, Le Corbusier proferiu seis conferências, desenvolveu duas séries de planos para a sede do Ministério – a primeira em detalhe, a segunda em esboço, pouco antes da partida – e produziu um plano intrincado para a cidade universitária do Rio de Janeiro.” In. HARRIS, Elizabeth Davis. Riscos Brasileiros. São Paulo: Nobel, 1987. p. 80.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ e Oscar, com sua grande capacidade e herança, alavancou todo aquele saber e o mesmo ocorreu com aquela geração que estava junto a ele.

Quanto à Walter Gropius que foi acusado de implantar o “Estilo Bauhaus”, o “modernismo frio”, vou me deter na sua manifestação que é bastante esclarecedora de sua posição pessoal a este respeito:

1937 A REFORMULAÇÃO DO ENSINO EUA Walter Gropius (Berlim, 18 de maio de 1883 — Boston, 5 de julho de 1969) (*) Artigo que o autor escreveu no princípio de sua atividade didática como professor de Arquitetura na Universidade de Harvard, em maio de 1937, para “The Architectural Record”. In: The Scope of Total Architecture, Walter Gropius, 1956 (Bauhaus: Novarquitetura; 1972, 1974)

 Não é meu propósito introduzir aqui, vindo da

Europa, um “estilo moderno”, por assim dizer inteiramente pronto e acabado, mas, sim, um método de abordagem que nos permita tratar um problema de acordo com suas condições peculiares. Quero que o jovem arquiteto seja capaz de encontrar seu próprio caminho, quaisquer que sejam as circunstâncias, que êle crie independentemente formas autênticas, a partir de condições técnicas, economicas e sociais a êle dadas, em vez de impor uma fórmula aprendida a um ambiente que talvez exija uma solução completamente diversa.  Não pretendo ensinar um dogma acabado, mas, sim, uma atitude perante os problemas de nossa geração, uma atitude despreconcebida, original e maleável. A ideia de que minha nomeação para uma cadeira de ensino poderia resultar na imitação superficial de uma concepção fixa de "arquitetura Gropius" me é repelente. É antes meu desejo esclarecer aos moços quão inexauríveis meios estão a seu dispor sob a forma dos incontáveis produtos de nossa época e encorajá-los a achar suas próprias soluções.

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

 “Não pretendo ensinar um dogma acabado, mas, sim, uma atitude perante

os

problemas

de

nossa

geração,

uma

atitude

despreconcebida (sem preconceitos), original e maleável. A idéia de que minha nomeação para uma cadeira de ensino (no ano seguinte seria nomeado diretor dessa Faculdade de Arquitetura)15 poderia resultar na imitação superficial de uma concepção fixa de "arquitetura Gropius" me é repelente. É antes meu desejo esclarecer aos moços quão inexauríveis meios estão a seu dispor 15

No início de 1937, Gropius obteve uma disciplina de professor de arquitetura da Universidade de Harvard e em 1938 foi nomeado diretor do setor de Arquitetura. In.: GROPIUS. In: HATJE, Gerd (Organizador). Dicconario ilustrado de La arquitectura contemporánea. 3ª tirada. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1980. p. 165.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ sob a forma dos incontáveis produtos de nossa época e encorajálos a achar suas próprias soluções.”

Seguiu-se toda uma geração de arquitetos norte-americanos que reconheceram o esforço e a eficiência do processo ali instalado.

Vamos chamar mais um para participar?

Lewis Munford / 1938 É difícil alguém ler “A Cultura das Cidades”16, um livro imenso, se não for com a idade de vocês ou se fizer alguma pós-graduação específica na área; passou esta idade dificilmente lerá, perderá esta oportunidade.

1938

 (...)

A filosofia de vida predominante era resultado de dois tipos inteiramente diversos de experiência. Um era o rigoroso conceito da ordem matemática decorrente do estudo dos movimentos dos corpos Lewis Mumford (Flushing, Queens, celestes o padrão mais elevado de regularidade ciudad de Nueva York, 19 de octubre mecânica. Outro era o processo físico de de 1895 - 26 de enero de 1990, Amenia, desintegrar, pulverizar, calcinar, fundir, que os estado de Nueva York) alquimistas, trabalhando juntamente como os The Culture of Cities (1938) (A Cultura das mecanicamente adiantados mineiros do fim da Cidades; 1961) Idade Média, tinham transformado de mero Cap.III: A Insensível Cidade Industrial processo mecânico em rotina de investigação 2. Mecanização e Abbau (decomposição; científica. De acordo com o que formulavam os degradação). novos filósofos da natureza, nem essa ordem matemática nem a análise sistemática da matéria deixavam qualquer lugar para organismos ou sociedades; nem os padrões institucionais nem os padrões estéticos se derivavam da análise exterior do "mundo físico". Apenas a máquina podia incorporar essa ordem.  A arte, a religião, a cultura pessoal, a construção de cidades, tudo isso sentiu os resultados dessa indiferença sistemática aos acontecimentos e aos padrões orgânicos. (...) p.158-1 e 2 A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

Os fundamentos da degradação  da paisagem e do ambiente de convívio.

16

“Já no ano de 1915, ante o estímulo de Patrick Geddes, comecei a coligir o material que se incorporou neste livro. Tal como meus artigos e livros até agora publicados sobre arquitetura, planejamento de comunidades, habitação e desenvolvimento regional, o presente estudo funda-se principalmente em observações diretas, levadas a efeito em muitas regiões diferentes, tendo como ponto de partida um estudo detido de minha própria cidade e região – Nova York e seus arredores. (...)” In. MUMFORD, Ob. Cit., p.7.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________  “A filosofia de vida predominante era resultado de dois tipos inteiramente diversos de experiência.”

Está a mencionar o racionalismo representado pela área dos conhecimentos baseados na Matemática e no desenvolvimento da Química aplicada para explorar os recursos minerais. Via-se o efeito das mineradoras, primeiro os seus impactos na própria Inglaterra e depois através do mundo.

A partir destas referências fala a respeito de uma questão que ficou completamente de lado:  “(...) De acordo com o que formulavam os novos filósofos da natureza, nem essa ordem matemática nem a análise sistemática da matéria deixavam qualquer lugar para organismos ou sociedades; nem os padrões institucionais nem os padrões estéticos se derivavam da análise exterior do "mundo físico". Apenas a máquina podia incorporar essa ordem.”

Infelizmente uma parte da Arquitetura levou a denominação “mecanicista”, mas, não tinha nada desta origem.  “A arte, a religião, a cultura pessoal, a construção de cidades, tudo isso sentiu os resultados dessa indiferença sistemática aos acontecimentos e aos padrões orgânicos. (...)” p.158-1 e 2

O “organicismo”, vamos dizer, a visão humana, os processos históricos estavam sendo questionados profundamente não só pelos europeus, mas, também, aqui nas Américas. Lá no final do livro, nas Notas, tem um aspecto que pode ser bastante especial para quem se interessa pelo tema. É sobre a “Importância da Observação”, inclusive o sistema universitário com as questões das Bolsas tende a conduzir o “olhar” para um _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ determinado objeto, com uma pré-definição do que ver e o porquê ver. Neste texto o autor coloca a importância da “contemplação” como procedimento fundamental para você “estar aberto para” abrir novos campos de visão e de conhecimento.

11- IMPORTÂNCIA DA OBSERVAÇÃO  A primeira observação da cidade deve ser feita por alto e ao acaso, tomando-se o que se vê e o que acontece sem qualquer ordem particular, sem o desejo de antecipar ou de seguir rotas predeterminadas, de tomar " atalhos" que de fato apenas servem para atalhar as possibilidades de experiência nova. Em primeiro lugar, tem-se que flutuar passivamente no oceano das impressões. Quando esse primeiro processo de saturação tiver chegado ao fim, deve lançar-se mão de toda oportunidade de transformar-se em parte da cidade, mesmo de maneiras pouco importantes: fazendo compras em lojas e mercados, visitas a casas, quando apresentações ou conhecimentos fortuitos as possibilitam; e acima de tudo, um trabalho definido qualquer, desde que tal se apresente. Só após uma imersão geral no cenário urbano é que se teve tentar explorá-lo sitemàticamente, do centro para a

 periferia, e da periferia para o campo aberto, para então voltar ao centro. Neste passo, a máquina fotográfica, o bloco de rascunho, o caderno de notas, podem ser utilizados com proveito. E neste ponto, podem com vantagem utilizar-se guias e histórias locais, não para ser levados no bolso, como uma planta ou um mapa, mas para ser consultados antes e depois de uma caminhada ou um passeio. É preciso, porém, que se tenha em mente a advertência de Wordsworth, porque ela contraria a atividade intelectual voltada para um propósito e o nosso sentido pragmático habitual: “Pensai então, ...que nada disso mesmo chegará, mas que ainda devemos procurar?” Uma prudente passividade é uma contrapartida importante da atividade interna; e as pesquisas nunca podem prescindir da necessidade da contemplação. (p.520)

Vamos passar para a próxima referência para dar continuidade na construção deste “mapa”.

Lúcio Costa / 1940 Uma foto do Lúcio Costa sorrindo foi difícil de achar – ele sempre com aquele ar reflexivo que transmite aquele peso que é dado pelo que conhecia e pelo vivido. Ai está o Lúcio Costa. Foi um dos arquitetos que teve a coragem de definir de maneira extensiva a Arquitetura, em alguns parágrafos, em um de seus ensaios. Vários arquitetos definiram a Arquitetura, mas, ele tinha uma condição histórica muito _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ especial. Além de sua erudição, o momento em que ele viveu e estava vivendo, a sua herança, tinha em mente um grande projeto: era a de reformar, transformar o sistema educacional da Arquitetura. Então esta definição que ele coloca é uma síntese da Arquitetura de onde você tira a estrutura educacional, os conceitos essenciais para nortear os fundamentos do processo de como educar. Então, vou ler somente a primeira frase do parágrafo:

 "Arquitetura é antes de mais nada construção,

1940

mas, construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço Lúcio Marçal Ferreira Ribeiro para determinada finalidade e visando a Lima Costa (Toulon, França, 27 de determinada intenção. E nesse processo fevereiro de 1902 — Rio de Janeiro, fundamental de ordenar e expressar-se ela se 13 de junho de 1998) revela igualmente arte plástica, porquanto nos Considerações sobre arte inumeráveis problemas com que se defronta o contemporânea (1940). In: Lúcio Costa, Registro de uma vivência. São Paulo: arquiteto desde a germinação do projeto até a Empresa das Artes, 1995. conclusão efetiva da obra, há sempre, para cada caso específico, certa margem final de opção entre os limites - máximo e mínimo determinados pelo cálculo, preconizados pela técnica, condicionados pelo meio, reclamados pela função ou impostos pelo programa, cabendo então ao sentimento individual do arquiteto, no que ele tem de artista, portanto, escolher na escala dos valores contidos entre dois valores extremos, a forma plástica apropriada a cada pormenor em função da unidade última da obra idealizada.“  (...)

Definindo a Arquitetura.

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

"Arquitetura é antes de mais nada construção (que é a sua materialidade, o dado bruto), mas, construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço

para

determinada

finalidade

e

visando

a

determinada intenção.”

A partir daí irá colocando a questão da Arte Plástica, a relação com as outras áreas do conhecimento e do fazer, que aqui neste momento não vai ser o caso de apresentá-las, mas, ficamos no destaque do propósito primordial da Arquitetura que é “ordenar e organizar o espaço”; mas, com qual _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ pressuposto? Lúcio Costa não fala o termo função, mas, sim “finalidade” e destaca ainda a importância da presença da “intenção”.

Sigfried Giedion / 1941 e 1955 Na sequência, Sigfried Giedion, e a sua obra Espaço, Tempo e Arquitetura.

1941 A emoção e o sentimento, componente de todas as nossas ações. Sigfried Giedion (Praga, 14 de abril de 1888 - Zúrich, 10 de abril de 1968) Space, Time & Architecture: the growth of a new tradition, 1941. Tr: Espacio, tiempo y arquitectura: el futuro de una nueva tradición, Barcelona

 LA NUEVA CONCEPCIÓN DEL ESPACIO:  ESPACIO - TIEMPO 

 La influencia social, económica y funcional

desempeñan una parte vital en todas las actividades humanas, desde las ciencias a las artes. Pero hay otros factores que deben también ser tenidos en consideración: nuestros sentimientos y nuestras emociones. Estos factores son a menudo dejados al margen como triviales, pero en realidad su efecto sobre las acciones de los hombres es inmenso. Una buena parte de las desgracias del siglo pasado derivaron de la convicción de que la industria y la técnica solo poseían importancia funcional, careciendo de contenido emotivo. Las artes fueron relegadas a un reino aparte y autónomo, completamente aisladas de las realidades cotidianas. Como resultado, la vida perdió unidad y equilibrio; la ciencia y la industria hicieron progresos continuos, pero en el reino del sentimiento, ahora aislado, la única actividad era una oscilación producida de un extremo al otro.

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

Mais um europeu que influenciou a escola norte-americana; realizou uma interpretação da História Ocidental da Arquitetura e do Urbanismo17 onde destaca o papel predominante da emoção e do sentimento diante de uma das grandes crises que o mundo estava a passar - era porque o sistema já não permitia que um de seus veículos de manifestação e de formação fosse a válvula de realização, de contestação e de reflexão - a Arte no seu sentido mais abrangente -, onde a Arquitetura também estaria a sofrer porque a Arte 17

“Espaço, Tempo e Arquitetura foi escrito em estimulante colaboração com jovens americanos, já que se trata de uma compilação de conferências e conversas mantidas e exercitadas nas aulas, como titular da cátedra “Charles Eliot Norton”, na Universidade de Harvard. (...)”. In.: GIEDION, Ob. Cit. P.V.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ era um de seus pilares no processo de formação não só da habilidade do arquiteto, mas, da sua sensibilidade. O autor tem um ensaio sobre a formação do Arquiteto com o título “Sobre a formação dos Arquitetos” que gostaria de ler tendo em vista o próprio subtítulo desta Mesa – “A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto”, isto em 1955. Giedion foi o secretário do Primeiro Congresso Internacional de Arquitetura e um dos seus promotores:

1955 O descontentamento mundial sobre a maneira como o estudante é iniciado na Arquitetura. Sigfried Giedion (Praga, 14 de abril de 1888 - Zúrich, 10 de abril de 1968) Arquitectura e Comunidade (Livros do Brasil, Lisboa, 1955)

 Acerca da formação dos Arquitetos   “O descontentamento mundial sobre a maneira como o estudante é iniciado na Arquitetura compreende todos os aspectos da sua formação, desde a qualificação dos seus conhecimentos especializados até ao despertar dos deveres que ele tem para com a sociedade.  A causa principal deste mal-estar é a especialização unilateral, uma das piores doenças da nossa época. O curso de Arquitetura não pode ser considerado um caso isolado. Faz parte do conjunto das formas de educação de todos os domínios.  A missão mais importante de nossa época, de alcançar de novo a capacidade de coordenar as realidades humanas para que possa formar um todo harmônico, está em franco desacordo com a evolução atual.  Precisamos urgentemente de pessoas que tenham o sentido da coordenação. Por isso, a educação devia ter como fim principal desenvolver nos jovens essa capacidade. Para conseguir tal fim, temos que nos liberar do saber enciclopédico e das disciplinas isoladas, rigorosamente separadas umas das outras pelos métodos de ensino. Em vez disso, devemos empregar todas as nossas energias para uma compreensão mais profunda das interdependências.” (p. 55- 1 a 4)

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

 “O descontentamento mundial sobre a maneira como o estudante é iniciado na Arquitetura compreende todos os aspectos da sua formação,

desde

a

qualificação

dos

seus

conhecimentos

especializados até ao despertar dos deveres que ele tem para com a sociedade.”

E

assim

vai

nesta

direção

fazendo

um

“mapa”

deste

descontentamento, das suas razões e dos possíveis caminhos a serem trilhados para superá-los. _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________

Kevin Lynch / 1960 A sua referência aqui está relacionada ao momento quando o espaço passa a ser trabalhado de outra maneira muito especial. Geralmente

colocamos

a

questão

do

espaço

como

algo

predominantemente externo a nós e Lynch vai abordá-lo, também, como uma “imagem”, um pensamento18. Ele irá atrás desse pensamento – que imagem nós temos sobre a cidade? Então vai investigar o espaço vivo, a vivência, mas, através dos pensamentos. Obviamente utiliza as estruturas conceituais, teóricas e, explicitamente, recorre a uma das ferramentas do pensamento que é a criação de imagens, a imaginação, mas, calcada nas outras faculdades do sistema mental e do sistema sensível.

1960 A cidade abordada através do conceito de “imagem” Kevin Andrew Lynch (1918, Chicago, Illinois — 1984, Martha's Vineyard, Massachusetts, EUA) The Image of the City, 1960 (Cambridge MA: MIT Press).

 III. A IMAGEM DA CIDADE E OS SEUS ELEMENTOS   Parece haver uma imagem pública de qualquer cidade que é a sobreposição de imagens de muitos indivíduos. Ou talvez haja uma série de imagens públicas, criadas por um número significativo de cidadãos. Tais imagens de grupo são necessárias, quando se pretende que um indivíduo opere de um modo bem sucedido dentro do seu meio ambiente e coopere com os seus companheiros. Cada indivíduo tem uma imagem própria e única que, de certa forma, raramente ou mesmo nunca é divulgada, mas que, contudo, se aproxima da imagem pública e que, em meios ambientes diferentes, se torna mais ou menos determinante, mais ou menos aceite.  Esta análise limita-se aos efeitos dos elementos físicos perceptíveis. Há também outros factores influenciadores da imagem, tais como o significado social de uma área, a sua função, a sua história ou, até, o seu nome. Passaremos por cima disto, uma vez que o nosso objectivo é, agora, descobrir a importância da forma. É elementar considerar que o design actual se deveria usar com o fim de reforçar o significado e não de o negar.  Os elementos da imagem urbana até aqui estudados, que podem referir-se a formas físicas, são passíveis de uma classificação conveniente em cinco tipos de elementos: vias, limites, bairros, cruzamentos e elementos marcantes.

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

18

Imagem como resultado de uma representação mental de um sistema de ordenação e referências espaciais e não a sua visão figurativa tão bem caracterizada pelas abordagens do urbanista britânico Gordon Cullen (Bradford, 1914 – Londres, 1994).

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________  Os elementos da imagem urbana até aqui estudados, que podem referir-se a formas físicas, são passíveis de uma classificação (...)

O autor apresenta os elementos participantes de nosso sistema de referências espaciais, começa galgando passo a passo o elemento essencial – enquanto a sociedade primitiva sabe intuitivamente fundamentar esta necessidade de se referenciar, o ser urbano precisa ter estas referências, mas, através da construção consciente dessas referências. A imagem individual e a imagem coletiva. Será que só a imagem de um determinado produto é que interessa a opinião pública (a imagem pública de um produto)? Mas, por exemplo, qual é a imagem coletiva que se tem sobre determinados aspectos da cidade? A resposta a esta questão praticamente fica no vazio.

Paul Rudolph / c. 1960 Outro participante que se dedica também às questões do ensino, Paul Rudolph. c. 1960 Sobre a responsabilidade das grandes universidades O que precisamos aprender com urgência Paul Marvin Rudolph (Elkton (Kentucky), 23 de octubre de 1918 - Nueva York (Nueva York), 8 de agosto de 1997)

Panorama da Arquitetura (Ed. Fundo de Cultura, 1964)

 “Eu participo do ensino da Arquitetura porque acredito

que a ação (a prática) terminou realmente por desbancar a teoria e que a única tarefa e responsabilidade das grandes universidades como Yale é não apenas estudar e ministrar conhecimentos em torno daquilo que já foi conquistado, mas também – o que considero da maior importância – procurar caminho em direção ao desconhecido. Entusiasmo-me por participar desta busca. A teoria necessita novamente ultrapassar a ação (a prática).” (p.101-3)  (...)  “Necessitamos aprender com a maior urgência reaprender a arte de dispor nossas construções de forma a criar diferentes espécies de espaço: o espaço calmo, isolado e cheio de sombra; o tumultuado e alvoroçado, de pungente vitalidade; o espaço pavimentado, nobre, amplo, suntuoso e até mesmo inspirador de respeito; o espaço misterioso; o espaço de transição que define, separa e até une espaços justapostos de características constantes. Necessitamos sequências de espaços que provoquem curiosidade, sugiram um sentido de antecipação do tempo, que nos chamem e nos impulsionem a caminhar para frente em busca de um espaço liberto que domina, que age como um clímax e um imã e que nos guia na direção exata. Mais importante do que tudo, necessitamos desses espaços exteriores que implementam o convívio social.” (p.102-1)

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ A sua imagem tem como pano de fundo o concreto aparente picotado típico da linguagem “brutalista” na Arquitetura. Após algumas reflexões externa:  “Necessitamos aprender com a maior urgência reaprender a arte de dispor nossas construções de forma a criar diferentes espécies de espaço: (...)”

Segue a explicitar uma série de conceitos de espaço e não vou me estender com relação a este aspecto, isto em 1960. Então “a arte de dispor nossas construções de forma a criar diferentes espécies de espaço” é algo a ser aprendido, é um objeto de aprendizado.

Charles Jencks / 1973 Trouxe aqui Jencks justamente para servir como uma referência a respeito da pluralidade do pensamento arquitetônico, ou seja, não há uma interpretação única para trabalhar um fenômeno tão complexo.

1973 Descontinuidades e pluralidade

 INTRODUÇÃO: A PLURALIDADE DAS

Charles Jencks (Baltimore, 21 de junho de 1939)

 “Opondo-se tanto à teoria do Zeitgeist como à

Modern Movements in Architecture , Anchor Press, NY 1973 – Edição portuguesa: Movimentos Modernos em Arquitectura, Edições 70, 1987

ABORDAGENS

teoria de uma via única, este estudo da arquitetura recente postula a existência de uma série de movimentos descontínuos e aborda esta pluralidade com diferentes métodos e em diferentes capítulos. Isto não quer dizer, contudo, que vá evitar, ou mesmo que possa evitar, a omissão de certos arquitetos e o recurso a conceitos seletivos. Como o leitor verá, recorri a uma série de idéias como multivalência, Camp, e as 'seis' tradições, que são tão restritivas como quaisquer outros conceitos. O uso de conceitos é tão inevitável no texto histórico como na ciência, (...). O que está em causa é saber se os conceitos trazem luz sobre os seus objetos, se têm um grande poder explanatório e se são intrinsecamente relevantes e tão plurais como os fatos.”

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Dentre outros aspectos o autor produziu um diagrama a partir de um conjunto de conceitos que foram utilizados para identificar e interpretar as diferentes correntes e arquitetos, e um de seus resultados foi possibilitar a visão da continuidade ou descontinuidade de tendências e as suas mutabilidades ao longo do tempo – o espaço temporal das manifestações no âmbito da Arquitetura.

1. Árvore Evolucionista, 1920-70. O método para determinar as seis principais tradições (distribuídas na ponta esquerda do diagrama) baseia-se numa análise estruturalista posta em relevo por Claude Lévi-Strauss.

Bruno Zevi / 1974 Todos o conhecem pelo menos através de seu clássico Saber Ver a Arquitetura. De formação judaica, dele selecionei uma passagem em um de seus ensaios onde coloca uma questão que podemos considerar como sendo bem europeia, das sociedades onde a religião alimentou sucessivas guerras, conformou mentalidades, criou medo e pavor – por exemplo, a Inquisição.

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1974 O pavor em relação ao tempo e ao espaço. BRUNO ZEVI (Roma, 22 de janeiro de 1918 – Roma, 9 de janeiro de 2000) Congresso da União da Comunidade Israelita Italiana, Roma, Campidoglio, 9 de junho de 1974. In Arquitetura e Judaísmo: Mendelsohn (Editora Perspectiva, 2002 / edição original: 1988)

 “O problema espaço-tempo é mais

dificultoso em arquitetura visto que por milênios o homem sentiu pavor não somente do tempo, mas também do espaço, do vazio, da cavidade, ou seja, do elemento específico representativo da arquitetura. Por milênios, desde a préhistória até o Pantheon, o espaço foi sentido como negatividade, e o homem construiu monumentos e templos neles privilegiado o aspecto plástico, escultórico, de grandes dimensões, e descuidando ou reprimindo o conteúdo. A consciência espacial nasce com extremo atraso na história e na experiência humana: ainda hoje a maior parte das pessoas, mesmo as mais cultas, não tem nenhuma sensibilidade espacial, detendo-se no invólucro, na caixa construída, sem “ver” o espaço.” (p.19-1)

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

“O problema espaço-tempo é mais dificultoso em arquitetura visto que por milênios o homem sentiu pavor não somente do tempo, mas também do espaço, do vazio, da cavidade, ou seja, do elemento específico representativo da arquitetura. Por milênios, desde a pré-história até o Pantheon, o espaço foi sentido

como

negatividade19,

e

o

homem

construiu

monumentos e templos neles privilegiado o aspecto plástico, escultórico,

de

grandes

dimensões,

e

descuidando

ou

reprimindo o conteúdo. A consciência espacial nasce com extremo atraso na história e na experiência humana: ainda hoje a maior parte das pessoas, mesmo as mais cultas, não tem nenhuma sensibilidade espacial, detendo-se no invólucro, na caixa construída, sem “ver” o espaço.” (p.19-1)

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A interpretação dos “cheios” e dos “vazios”, onde o “cheio” representa a matéria, por exemplo, as alvenarias, e o “vazio” o espaço contido o exterior resultante, no presente caso, a referência é em relação ao interior. Outra analogia comum é feita com o conceito de “positivo” e o “negativo”, sendo o primeiro as alvenarias e o “negativo” o denominado espaço delimitado contido.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ O caos da cidade, não só as da daqui, mas, que está em todos os lugares, não é à toa, tem razões profundas para esta desorientação.

Frank Ching / 1975 Frank Ching, procura unir as orientações da Gestalt e das Artes Visuais para construir uma sintaxe que seja objeto de aprendizado aonde “forma” e “espaço” se tornem em uma ferramenta no processo de ensino. Então vou destacar como o autor qualifica o seu trabalho, neste livro:

1975 O estudo da “arte da arquitetura” como “análise morfológica” Ching, Frank (Francis D.K.), 1943 Architecture: Form, Space & Order, Van Nostrand Reinhold, New York 1975, 2nd ed. 1996, 3rd ed. John Wiley, Hoboken 2007

 “Este livro é um estudo sobre a arte da arquitetura. É uma análise morfológica dos elementos essenciais da forma e do espaço, e daqueles princípios que, em nosso meio ambiente edificado, controlam a sua organização. Tais elementos são os meios críticos da arquitetura. Enquanto que o utilitário atende em maior parte à função, o uso pode reduzir-se relativamente e as interpretações simbólicas podem variar de época em época, e os elementos primários da forma e do espaço encerram o vocabulário eterno e fundamental do designer de arquitetura.”  “Este livro sublinha que o elemento da forma é a ferramenta fundamental com que trabalha o designer. A forma serve para assinalar e classificar, com vistas a análise e comentário das formas básicas e das organizações espaciais, como também de sua genérica transformação à modelos tipológicos. Ao mesmo tempo esta parte é competência do designer individual selecionar, verificar e manipular estes elementos no contexto de organizações do espaço, da estrutura e do recinto que sejam, por sua vez, coerentes, significativos e úteis.” (p.6)

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

“Este livro é um estudo sobre a arte da arquitetura.”

Em plena década de 1970 ele recorre à palavra “arte”, mas, o termo que utiliza para o arquiteto é “designer”, que contempla um conceito mais amplo. E seguem aqui as referências sobre o seu conteúdo (índice) e uma sequência de três slides para ilustrar o seu método de abordagem e apresentação dos seus conteúdos. _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________

O conteúdo:  Elementos primários  Forma (Propriedades visuais da forma)  Forma e espaço (A unidade dos opostos e a forma    

como definidora do espaço) Organizações (Da forma e do espaço) Circulação (Elementos de) Proporção e escala Princípios (Ordenadores)

Os elementos horizontais como definidores do espaço ao nível do plano / solo; elevado; abaixo e definindo volume espacial criando uma área de proteção. Segue lado a lado o enunciado do conceito, a sua representação e as analogias, no presente caso são manifestações ou aproximações com os fenômenos da natureza.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________

A manifestação do “plano base” em ambientes abertos e fechados que não sejam apenas vinculados diretamente com a Arquitetura.

A apresentação de alguns exemplos nas diferentes escalas do urbanismo, do paisagismo e da arquitetura de interiores (design) como as relações ocorrem. No dia-a-dia ao nível da calçada como ela é trabalhada; nós manipulamos o plano base na diferenciação do que é pista de rolamento e o _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ que é passeio, este é um proceder essencial. Em uma cidade desorganizada onde as vias não tem dimensionamento compatível para os veículos passa a gerar o conflito com o passeio, por exemplo, ao não atender de maneira condizente as necessidades de estacionar. Observem então como o entendimento deste conceito é essencial, inclusive na calçada que é objeto da ilustração do autor tem os seus segmentos divididos para a faixa do caminhante, a parte destinada à arborização, ao paisagismo - hoje, com o conceito de acessibilidade, veio a ampliar a concepção dos planos que compõem as calçadas. No paisagismo o trabalho ao nível dos planos é essencial estabelecendo amplas relações entre a forma do plano e a espacialidade. Temos também a exemplificação do tratamento dos planos na “arquitetura de aproximação” ao edifício. O autor vai desenvolvendo este raciocínio no sentido de sensibilizar e, este processo, tem obviamente uma estrutura de trabalho que possui uma pedagogia ou pedagogias.

Milton Santos / 1977 e 1979 Quanto a nossa relação com as outras áreas de conhecimento optei em trazer-lhes o pensador, o geógrafo, Milton Santos. O seu trabalho é representativo porque contempla toda uma reflexão em relação ao espaço como resultado do sistema de produção, conceito este essencial. Uma das grandes dificuldades na Arquitetura como prática profissional, como concepção de sua estrutura pedagógica, é saber se posicionar dentro do sistema de produção e de torná-lo parte integrante do seu processo de conhecimento.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________

1977 A organização local da sociedade e do espaço e os modos de produção. Milton Almeida dos Santos (Brotas de Macaúbas, 3 de maio de 1926 – São Paulo, 24 de junho de 2001) . SANTOS, Milton. Espaço e sociedade (Ensaios). Petrópolis: Vozes, 1979 Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como método. Publicado inicialmente em Antipode, nº1, vol.9, jan./fev. de 1977.

 (...) As diferenças entre lugares são o resultado do arranjo espacial dos modos de produção particulares. O “valor” de cada local depende de níveis quantitativos e qualitativos dos modos de produção e da maneira como eles se combinam. Assim a organização local da sociedade e do espaço reproduz uma ordem internacional (Santos, 1974:8). (p.14)  (...)  O dado global, que é o conjunto de relações que caracterizam uma dada sociedade, tem um significado particular para cada lugar, mas este significado não pode ser apreendido senão ao nível da totalidade. De fato, a redistribuição dos papéis realizados a cada novo momento do modo de produção e da formação social depende da distribuição quantitativa e qualitativa das infra-estruturas e de outros atributos do espaço. O espaço construído e a distribuição da população, por exemplo, não têm um papel neutro na vida e na evolução das formações económicas e sociais.  O espaço reproduz a totalidade social na medida em que essas transformações são determinadas por necessidades sociais, económicas e políticas. Assim, o espaço reproduz-se, ele mesmo, no interior da totalidade, quando evolui em função do modo de produção e de seus momentos sucessivos. Mas o espaço influencia também a evolução de outras estruturas e, por isso, torna-se um componente fundamental da totalidade social e de seus movimentos.

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

No livro “O Espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos”, nos trás conceitos essenciais:

 3. ESPECIFICIDADE DO ESPAÇO NO

1979

TERCEIRO MUNDO

Milton Almeida dos Santos (Brotas de Macaúbas, 3 de maio de 1926 – São Paulo, 24 de junho de 2001) . O Espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos - 1979

  Os componentes do espaço são os mesmos

em todo o mundo e formam um continuum no tempo, mas variam quantitativa e qualitativamente segundo o lugar, do mesmo modo que variam as combinações entre eles e seu processo de fusão. Daí vêm as diferenças entre espaços.  Os espaços dos países subdesenvolvidos caracterizam-se primeiramente pelo fato de se organizarem e se reorganizarem em função de interesses distantes e mais frequentemente em escala mundial. Mas não são atingidos de um modo maciço pelas forças de transformação, cujo impacto, ao contrário, é muito loca­lizado e encontra uma inércia considerável à sua difusão (Santos e Kayser, 1971).

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________  Os componentes do espaço são os mesmos em todo o mundo e formam um continuum no tempo, mas variam quantitativa e qualitativamente segundo o lugar, do mesmo modo que variam as combinações entre eles e seu processo de fusão. Daí vêm as diferenças entre espaços.

Segue então uma série de conceituações.

Carlos Nelson / 1962 a 1966 Trouxe Carlos Nelson para concluir este “mapa de referências” e dele peguei justamente o seu testemunho como estudante de Arquitetura. Obviamente está temporalmente distante de nós. Carlos Nelson fez seu curso de Arquitetura na Federal do Rio de Janeiro entre os anos de 1962 a 1966. Em 1966 eu tinha os meus 16 anos e estava a dar os primeiros passos para saber o que era a Arquitetura, o que eu iria fazer. Hoje, possivelmente, uma pessoa com os seus 14-15 anos já é obrigada a começar a pensar nas áreas alternativas que poderá realizar a sua formação profissional. São estruturas de vida totalmente diferentes; foi como disse o meu neto por uma razão que não vem ao caso: estava a lhe dizer que no meu tempo de criança a televisão entrou em casa por vota dos meus 10 anos e o acesso a ela era limitado, não havia programação o dia inteiro e assistíamos com toda a família em um determinado horário. E ai o meu neto virou para mim e indagou: - “Como é que você vivia então vô?” São coisas assim, mudança de relações, que são essenciais de serem percebidas. O tempo e o espaço são essenciais, os seus significados e os respectivos sentimentos.

Segue-se a leitura do testemunho de Carlos Nelson na sua íntegra: _____________________________________________________________________________

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1962 - 66 Depoimento

 Eu estudei Arquitetura entre 1962 e 1966. Foi uma grande escola aquilo tudo. Entrei para a faculdade como imagino que deviam entrar todos os jovens que se Carlos Nelson Ferreira dos candidatavam a arquitetos naquela época: Santos (Rio de Janeiro RJ 1943 - idem 1989). Arquiteto, urbanista, antropólogo, com uma boa mistura mental de crenças professor. Ingressa na Faculdade Nacional na importância transcendental do espaço, de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ em 1962 e forma-se em no refinamento das formas de percebê-lo e 1966 representá-lo e na transformação da O Desafio da Cidade: Novas sociedade pelo uso de técnicas e Perspectivas da Antropologia Brasileira / [coordenação de] instrumentos "valorativos do homem". Gilberto Velho - 1980 Tendo estudado antes em colégios de padre severos e fechados, foi um grande choque a descoberta de gente com ideologias bastante diferentes da minha e de um ambiente que, de tão solto e liberado, me parecia caótico. O choque, porém, foi bastante positivo: estava desejoso de aprender, via exotismo por A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

1962-66  toda parte e me dava conta dos meus preconceitos e moralismos provincianos. Ansiava por descobertas e propunha para mim mesmo um modelo de profissional participante.  A faculdade me decepcionou muito depressa. Naquele tempo o que se ensinava era o racionalismo dado como forma inconteste de pensar corretamente na Arquitetura, já que representava o coroamento de um processo histórico evolutivo. O arquiteto-tipo deveria ser um profissional liberal, individualista e onipotente nas suas intuições. Éramos formados tendo como meta a genialidade, com toda a carga de expectativas e frustrações decorrentes. Também não era para menos. Desde a década de trinta, por força de algumas personalidades excepcionalmente brilhantes, o produto dos arquitetos tinha se erigido em um dos mais importantes símbolos identificadores do país. A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

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1962-66

1985

 Há pouco tempo havia sido inaugurada Brasília, síntese e clímax de uma prática reconhecida como exemplar. Fazíamos algo tão bom que éramos convocados, na pessoa dos mais destacados entre nós, a desenhar o espaço de uma cidade que resumia o que o Brasil queria e podia ser. O problema é que havia aí uma confusão entre grupo profissional, vocação, formação, indivíduos, pessoas, nacionalismo, internacionalismo, que acabava por nos deixar querendo o impossível frente aos instrumentos que nos apresentavam e ao caráter que tentavam nos imprimir. Éramos os consolidadores de utopias que não sabiam enfrentar as práticas mais elementares do campo de ação que pretendiam empolgar e orientar. (...)

A importância do espaço como agente formador do profissional arquiteto

Através deste conjunto de referências fica evidente que a gente chega a uma etapa da vida em que tudo que dizemos passa a ser memória e sendo memória tem aquela coisa que trabalha com o tempo; quando lidamos com a memória depende para quem a gente está comunicando, porque aí a questão do espaço e tempo é um elemento crucial, esta memória poderá estar a se relacionar com um espaço e tempo que não mais existem.

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UMA SÍNTESE Segue uma síntese da reflexão em termos de articular o que foi apresentado nas abordagens de tempo e espaço presentes nos múltiplos processos que participam da nossa formação:

 (Nós) COMO SER BIOPSICOESPIRITUAL; 

COMO INTEGRANTES E PARTICIPANTES DE UMA VIDA QUE TRANSCORRE EM LUGARES DEFINIDOS PELOS SEUS MÚLTIPLOS NÍVEIS DE ARTICULAÇÕES;

E NA EDUCAÇÃO E NA CONDUTA PROFISSIONAL.

UMA REFLEXÃO EM TERMOS DE ARTICULAR O QUE FOI APRESENTADO: AS ABORDAGENS DO TERMO “ESPAÇO” PRESENTES NOS MÚLTIPLOS PROCESSOS QUE PARTICIPAM DA NOSSA FORMAÇÃO: •COMO SER BIOPSICOESPIRITUAL; •COMO INTEGRANTE E PARTICIPANTE DE UMA VIDA QUE TRANSCORRE EM LUGARES DEFINIDOS PELOS SEUS MÚLTIPLOS NÍVEIS DE ARTICULAÇÕES; • E NA EDUCAÇÃO E CONDUTA PROFISSIONAL.

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A ETIMOLOGIA DA PALAVRA ESPAÇO E encerrando, a última imagem:

ESPACIO La palabra "espacio" viene del latín spatium que se refería a la materia, terreno o tiempo que separa dos puntos. La palabra spatium indoeuropea relacionada con el griego σπάω (spao = yo tiro). El espacio puede ser temporal o físico. Aquí les dejo un dibujito. La palabra spatium viene de spodium, del griego σπάδιον que significa campo de carreras o cualquier lugar extenso apto para carreras o cualquier lugar extenso apto para caminar.

http://etimologias.dechile.net/?espacio

Normalmente, inicia-se pela etimologia do termo. A que recorro neste momento é em relação à palavra ESPAÇO, tema desta “Mesa”” e irei apresentá-la:

“A palavra “espaço” vem do latim spatium que se referia à matéria, terreno ou tempo que separa dois pontos. A palavra spatium indo-europeia relacionada com o grego σπάω (spao = yo tiro). O espaço pode ser temporal ou físico. Aqui lhes deixo um esquema.”

O autor elabora um diagrama precioso: _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ O primeiro desenho representa o “espaço temporal” sinalizando o “hoje” que é o nosso “ponto de referência”, mas, o “ontem” e o “amanhã” também participam deste ponto de referência; segue-se o desenho representando

o

“espaço

físico”

que

assinala

uma

grande

elipse

representando o “Situ=Sitio” e o “ponto de referencia” que em termos físicos recebe o nome de “locus” e esse deslocar de um ponto ao outro é que nos possibilita imprimir significados e ter referências - você não anda ao léu, sem rumo, sem ter referências, objetivos; e a distância deste espaço que percorremos participa da construção deste significado. “A palavra spatium vem de spodium, do grego σπάδιον que significa pista de corrida o qualquer lugar extenso apto para corridas o qualquer lugar extenso apto para caminhar.”

Caminhar tem um significado profundo.

CONCLUSÃO:

AS TRÊS EXISTÊNCIAS E A CONSTRUÇÃO DOS “PONTOS DE REFERÊNCIAS” Este foi o conjunto das questões que queria colocar para vocês e, encerrando, gostaria de apresentar o seguinte conceito:

- Este momento que vocês vivem, onde sua maioria deve ter a idade entre 17 a 25 anos, condição esta que me faz recordar de um conceito que aprendi já tendo bastante idade. O fato de não tê-lo aprendido no tempo apropriado facilitou que cometesse inúmeros erros, isto não quer dizer que, o simples ato de ter o seu conhecimento deixaria de cometê-los. _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ O conceito que então tinha a respeito da existência, não o tinha, porque para mim tudo na vida fazia parte de uma única coisa; foi só então que aprendi, através de uma orientação, que nós temos três existências e não uma só, estando esta constituída da seguinte maneira: - a primeira é relacionada ao nosso mundo interno; quando ouvi pela primeira vez esta referência, “mundo interno”, me deparei com uma verdadeira incógnita, porque nunca tinha parado para me ver, conhecer a mim mesmo, até então estava voltado integralmente para o mundo externo e a Arquitetura possibilita este tipo de conduta – voltar-se completamente para o mundo exterior; - a segunda existência está associada àquela instituição que lhe transmite os conhecimentos para você avançar em relação a este mundo interno, e a ela também se integram a família e os amigos; - e, a terceira existência, é este mundo externo onde convivemos, onde temos a nossa profissão, as nossas atividades de lazer, etc. E, no caso da Universidade, onde ela se localiza? No mundo externo? A Universidade é um campo que flutua entre a segunda e a terceira existência. Não é a toa que se busca na Universidade a realização de coisas também transcendentes para que as atuações possam superar o proceder comum. A partir deste conceito das “Três Existências” é que vêm a seguinte reflexão - querer que esta Instituição, no caso uma escola de Arquitetura e Urbanismo, venha atender a demanda, o potencial de energia que vocês têm nesta faixa etária, as inquietudes provenientes do mundo interno, do mundo afetivo e a profissão, podemos ver que é muita coisa junta a ser trabalhada. Este é o espaço interno que o arquiteto, o estudante, também precisa ter domínio, em caso contrário vai se conduzir para descarregar na profissão coisas e expectativas que o levarão a perder o rumo, os seus pontos de referências no âmbito das demais existências.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ Essa construção dos “pontos de referências” que orientem o espaço e tempo nas respectivas existências é o que vocês estão a elaborar de uma maneira consciente ou não neste estágio da vida. Obrigado.

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RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS FEITAS PELOS ALUNOS

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Seguem as respostas aos questionamentos colocados pelos três alunos que se manifestaram e foram sintetizadas nos termos daquilo que assimilei de suas falas no momento em que foram pronunciadas, portanto, tem o sentido de deixar registrada a minha compreensão e não uma transcrição do que foi por eles pronunciado na sua íntegra. Para uma compreensão ampla deste momento que se constitui no centro da atividade, seria importante a transcrição na íntegra das falas dos alunos e do professor Maximiliano, o que não me é possível realizar, fica então a minha contribuição para uma visão parcial da mesma. Tomei a liberdade de identificar os três alunos com as três letras iniciais do alfabeto grego.

A mesa de debates: ALUNA α – Dentre os aspectos assinalados foi a respeito das demandas que tendem a não deixar espaço e tempo para o aluno a “ser alguma coisa”; menciona uma grande preocupação com o futuro, de que ela irá ser neste futuro e contrapõem que “não é uma coisa ainda”; beirando ao tom de crítica faz referência à “reprodução do conhecimento” no sentido de se deixar de “criar algo novo”. Enfatiza o fato de não saber “o que espera a gente lá fora” e conclui que “a gente não está sendo uma coisa aqui e quando a gente não é uma coisa aqui este espaço perde sentido (...).”.

PROF. PASSAGLIA - A minha fala para você está apoiada no primeiro desenho: aquela bolinha que é “o hoje”. Ele é essencial, como você colocou muito bem, você precisa sentir essa identidade do “hoje” porque está ai a relação com o “futuro” que não pode ser de medo, mas, sim de conhecimento. O conhecimento e o que se pode ser feito de forma consciente está nos atos que se realizam “hoje”, naquilo que se encontra a seu alcance, que tem condição de _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ você definir, de compartilhar e não ficar se tricheirando sobre um futuro profissional imaginado, em uma futura crise – se não me der certo a Arquitetura? Claro que estas conjecturas poderão ser feitas ao longo do tempo, estarem presentes no sentido de vislumbrar áreas alternativas de atuação, por exemplo, mas, isso não pode tomar o lugar do que você deve fazer “hoje”, porque se não você não estará construindo referências para o seu passado que irá servir como lastro, porque o “hoje” vai ser o “amanhã” e você não vai ter passado. Que futuro é este aonde o “hoje” não existe? Você não irá ter passado, um passado próprio. Então a sua colocação foi bastante clara e isso gera inquietude, gera realmente inquietude. ALUNO β. : Indaga aos palestrantes a respeito da nossa opinião sobre o “papel do erro na educação” e procede a uma colocação específica em relação às disciplinas de Projeto Arquitetônico, se não se seria plausível se “propor um erro (justificado) pela experimentação, pela contemplação?”

PASSAGLIA: O conceito de erro sempre deve ser colocado dentro do contexto como você o colocou. Como você contextualizou, na cadeira de Projeto a gente pode traduzir o seguinte: - Será que toda atividade de projeto o parâmetro de avaliação tem de ser, por exemplo, a concretude, a realidade daquilo que você está propondo? - Realidade como fato construtivo, como fato de programa funcional, será que esse projeto terá sempre de atender a este tipo de parâmetro? Uma funcionalidade padrão? É mais o menos o que você estava colocando, algo que saia disso pode começar a entrar no campo do não aceitável. Uma coisa é a experiência, quando uma experiência é conduzida de forma consciente, é uma coisa, quando se trata de uma tentativa de ensaio e erro é outra. Mas, a sua questão traz um aspecto essencial – o que seria importante são as condições de domínio da questão do pensamento arquitetônico - quais são as faculdades que estão _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ sendo utilizadas? Se está presente a faculdade da observação, do raciocínio, da imaginação, da intuição, às vezes é a intuição que você pretende desenvolver sob um determinado fato, às vezes você não tem o ferramental, ele não está disponível para você. Quais são as faculdades que estão entrando em jogo nesse processo e os sentimentos – que sentimentos são estes? Então esta questão da margem de avaliação e de auto-avaliação, de restrição, porque, quem impõem essa restrição somos nós mesmos antes de qualquer coisa, mais do que o professor, porque ele transpira, o aluno já sente qual o perímetro até onde ele pode ir, que está suscetível de ser aceito - é uma questão do domínio do pensamento. O que está em questão é que vocês teriam de estar sendo iniciados ao exercício do conhecimento do pensamento arquitetônico, ao desenvolvimento dessas faculdades, quando a imaginação é positiva para você mesmo e quando ela se torna um elemento negativo porque saiu de controle, mas, o elemento de avaliação é você mesmo, você ter condição de ver quando se perde controle daquilo que está a pensar. Então o conceito de erro é uma coisa que a gente carrega por causa das grandes imposturas, é da penitência, uma coisa que vêm das raízes do ensino religioso, do pecado, uma série de coisas. Até no mundo comum o erro em certos setores quando ele é resultado de um processo de experimentação controlada ele é visto com o maior cuidado porque ele é pista para as próximas ações e não para penalização. Então é uma questão de postura e, também, questão de conhecimento, de metodologia. Acho que falar em erro estamos dentro de um universo de penitência e nós precisamos ver o que está acontecendo. ALUNO γ: Procede a uma reflexão ampla sobre a criatividade e a genialidade apontando os impasses causados por este tipo de pensamento no ambiente formativo do aluno e, em seguida, me dirige uma indagação específica: _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ “(...). Eu gostaria de trazer outras questões aqui, mas acho que vou acabar me perdendo, em relação à própria questão do ensino, do espaço. A gente de certa maneira quer trazer aqui para o Galpão, acho que vou pegar o Kelvin Lynch e ai vou direcionar a pergunta para o Passaglia: - O que é o Galpão para você, o que ele representa.”

PASSAGLIA: O que você chama de Galpão aqui ele é uma peça única no conjunto do antigo Colégio Técnico Universitário, basta vocês entrarem nas unidades congêneres e verem como foram feitas as adaptações. Porque o projeto de implantação do Campus tinha o conceito20 que soube muito bem interpretar a parte sensível do Movimento Moderno quanto àqueles aspectos do conjunto ter um centro de convivência aonde os veículos não tivessem acesso, o automóvel ficasse no seu em torno e, no seu interior, você circula a pé e sempre através de espaços abrigados; é nesse núcleo que tem o auditório e simbolicamente a cantina e espaços externos gregários; e ter em separado espaços específicos para o ensino da teoria e da prática – aqui no Galpão seriam as oficinas. Então este galpão, com sua adaptação, foi o único que conseguiu que a sala de aula não devorasse o espaço da prática, o espaço do mundo operacional, é esta “caixa de pé-direito duplo” que vocês têm na parte fronteira do Galpão. Então este galpão faz parte da genética (genealogia) da concepção deste Campus, é o único que sobreviveu à racionalidade da Engenharia, então ele tem esta dimensão que possibilita

de 21

dificuldades,

uma

maneira

sensível,

vocês

mesmo,

com

(...) por exemplo – neste momento uma motocicleta

entra aqui ao lado desrespeitando o conceito deste espaço porque ele não é espaço para elemento mecânico entrar. Mas, a sensibilidade aqui é mais forte e a gente pode conviver com 20

O projeto está vinculado diretamente ao pensamento de dois profissionais, um deles foi o engenheiro Arthur Arcuri. 21 Neste momento ouve-se o rugido intermitente do motor de uma motocicleta entrando pela lateral dos galpões para acessar de uma maneira irregular a área pedrestrializada do projeto.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ ausência de barreira sonora porque aqui a intenção, os objetivos, o que temos de fazer é mais forte do que os fenômenos físicos que estão aqui. Logo ali após a porta de entrada estão a conversar efusivamente.22 Então para mim o Galpão diz muita coisa. Ele representa o que se chama “liberdade” de uma forma consciente sendo praticada. ALUNO β: A partir do conjunto das manifestações dos dois palestrantes o aluno coloca a sua percepção de uma possível divergência de opiniões em relação ao “espaço do ensino”, o de norteador versus a perda de seu papel direcional tendo em vista vivermos “numa época em que estas referências elas são mais diluídas”:

PASSAGLIA: Estou vendo aqui como dizer sem transparecer uma fala de “polos”, o fato de serem polos diferentes não quer dizer que sejam “polos opostos”, porque, para mim, a vida tem pleno sentido. Essa

questão

é

uma

questão

da

própria

crise

do

“existencialismo” e, a superação deste aparente vazio depende muito da sua visão de origem e destino, porque, se você não tiver uma visão de sua origem e de seu destino, aí a questão da transcendência, realmente a vida cai no vazio – é o Bruno Zevi -, o peso da religião que fechou as portas do ser humano de ter o conhecimento transcendente de uma forma objetiva e não de forma mítica e através de terceiros. Para mim a vida é o que se tem de maior significado, de maior valor, porque ela é fruto da Criação, sejam nas suas dimensões, seja no sentido transcendente como físico. Ela é resultado de um processo cósmico, físico e transcendente da maior relevância. Nós somos o resultado de um processo universal que não é brincadeira, 22

Referência ao alto nível de ruído e falas que provêm principalmente do próprio interior do Galpão.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ e que nós temos de ter consciência em relação a isto. A consciência individual dentro da sua escala possível, mas, que a vida tem sentido, tem. Você poderá não enxergar, não ter o conhecimento suficiente de não ter encontrado os pares que lhe permitem não ficar vagando; às vezes a gente é convidado a conviver num período onde estes pares não estão à disposição tão fácil ao seu lado e requer que vocês tenham um trabalho de busca, de uma busca consciente. E a Arquitetura, a sua História é marcada “de uma ponta a outra”, na construção do sentido, da expressão – vocês podem ver em qualquer manual, em qualquer pensador de qualquer corrente tem a expressão do sentido; desde a arquitetura popular até as interpretações antropológica, até a de um esteta mais sofisticado. Mas, batendo no campo do existencialismo, as coisas começam a ficar difíceis - se olhar como os homens se relacionam aí as coisas ficam difíceis. Tenho que concordar com o professor, mas, temos pelo menos dois olhos: os olhos transcendentes que às vezes estão cegos e os olhos físico que está a judiar. Então a minha posição, que corresponde não só de uma geração, mas, de uma linha de trabalho, é que a Arquitetura tem de ter sentido se não vocês não fazem Arquitetura, poderão fazer outra coisa, poderão fazer até bem feito, que acho muito difícil, porque sem sentido vocês não fazem nem um ovo frito.

Então, é mais ou menos a visão que eu tenho.

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Ao Lado: Os palestrantes no início do evento: Prof. Maximiliano Valério López (lado esquerdo) e Prof. Luiz Alberto do Prado Passaglia A seguir: A vinheta da Mostra de Arquitetura e Urbanismo elaborada pelos alunos representando a imagem do “espaço emblemático do Galpão”. O conjunto dos participantes que se prontificaram a participar do registro fotográfico após a finalização do evento. Fotos: Maria Inês G. Passaglia

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PÓS ESCRITO

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Após a explanação dos professores24, com as manifestações de três alunos, pude observar a presença de inquietações que foram assinaladas naquele ambiente em que nós nos encontrávamos. Um aspecto geral a se destacar foi a percepção de um possível estado de ansiedade geral. Seguem os principais aspectos que me levaram a este tipo de entendimento: - As manifestações de receio em relação ao futuro (profissional); - Não sentir ser alguma coisa na condição de estudante de Arquitetura e Urbanismo; - A utilização do termo “erro” como expressão de um tipo de questionamento aos parâmetros do que é considerado como “certo” pelo “status quo” acadêmico; - E, outro aspecto, a ênfase na questão ou dilema em relação aos termos “criar”, “inovar”.

Estes aspectos e mais aqueles aqui não mencionados, mas, que intuímos a sua existência, tais como os vinculados com as dificuldades que cada aluno possa ter ao nível da habilidade e do entendimento do papel do desenho e da mentalização da representação espacial25 aplicada ao estudo e desenvolvimento do processo do aprendizado da Arquitetura e do Urbanismo,

24

Não tenho noção de quantos alunos estiverem presentes na atividade, a foto anexada registra pelo menos 24 que permaneceram uns instantes no encerramento se e se prontificaram gentilmente participar do registro fotográfico. 25 Capacidade de criar mentalmente a imagem de uma situação espacial para poder representar ou desenvolvê-la em termos gráficos.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ formam um conjunto de fatores que podem contribuir para gerar um ambiente de tensão generalizada e, possivelmente, levar os alunos a se distanciarem da disciplina necessária para o estudo sistemático fazendo-os caminhar, por exemplo, para a direção do desejo pela “novidade” a cada passo e, com isto, causando uma deformação do entendimento do termo “criação”. Neste

momento

gostaria

de

colaborar

com

as

seguintes

observações: 1)

Não é recomendável que o aluno veja a si mesmo à semelhança de quando esteve nos ambientes de aprendizado anteriores ao ingresso à Universidade. O ingresso no ensino superior, e no caso, na área de Arquitetura e Urbanismo, pressupõe que tenha decorrido de um processo de escolha onde atuou algum nível os movimentos associados à vocação26, aptidão27 ou familiaridade pelo menos com algum aspecto relacionado com o Curso e com os potenciais campos de sua atuação, ou seja, que não tenha sido o resultado apenas da opção em função da pontuação e da escolha do Curso que lhe fosse mais favorável em termos dessa probabilidade. Por que desta observação? Porque, dificilmente o Curso em si poderá a vir a despertar uma vinculação simpática devida à lógica da sua estrutura curricular e pedagógica não possibilitar, em princípio, esta oportunidade de uma interação automática, por exemplo, diante da ausência vocacional. A Arquitetura e o Urbanismo se constituem em áreas de conhecimento de atuações que exigem muita dedicação e tempo por

26

VOCAÇÃO “é um termo derivado do verbo no latim “vocare” que significa “chamar”. É uma inclinação, uma tendência ou habilidade que leva o indivíduo a exercer uma determinada carreira ou profissão. Vocação é uma competência que estimula as pessoas para a prática de atividades que estão associadas aos seus desejos de seguir determinado caminho.” “Por extensão, vocação é um talento, uma aptidão natural, um pendor, uma capacidade específica para executar algo que vai lhe dar prazer.” In: http://www.significados.com.br/vocacao/ 27 APTIDÃO. 1. Disposição inata ou adquirida (para determinada coisa). 2. série de requisitos necessários ao exercício de determinada atividade, função etc.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ parte do aluno para poder obter resultados que são paulatinos e programados de uma maneira sequencial e gradativo. Portanto, o aluno com uma linha de habilidade que lhe vincule desde os primeiros momentos ao ambiente do Curso tem a grande oportunidade de contar com um elemento de equilíbrio interno e estímulo para poder dar o devido andamento aos estudos e aos inúmeros trabalhos didáticos que o espera, cujos resultados, inexoravelmente, têm as suas etapas a serem cumpridas, porque não há resultados mágicos, mas, sim ações sequenciadas. Mas, como faz um aluno que não tenha essa vinculação imediata, e enfrenta dificuldades nos pontos essenciais do Curso? A resposta é que terá de começar a criar esse algo que lhe é interno, não se trata somente o estudar sem se vincular ao efetivo aprendizado; um dos aspectos que a aptidão e a vocação auxiliam é justamente de posicionar o aluno mais facilmente à experimentação do aprendizado. Vinculando-se ao ambiente de aprendizado os “fantasmas” passam a deixar de existirem, cujos pensamentos que os alimentam têm o único objetivo de atemorizar ou alimentar uma visão nada otimista a respeito do que seja o importante papel de ser aluno de Arquitetura e Urbanismo. 2)

Quanto ao receio em relação ao futuro, como uma menção colocada em termos de algo que vai ocorrer após a finalização do Curso, é estratégico observar que os traços dessa realidade futura já existem no presente, o que requer é o aluno procurar se posicionar em relação a ela, ou, em relação à um segmento dela, procurando se vincular de uma maneira gradativa ao longo de seu processo de formação e não aguardar a sua “formatura”. Podemos perceber que vivemos num contexto social amplo e complexo onde o exercício profissional não é algo linear, pois este

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ contexto impõe limitações à presença do profissional Arquiteto e quando participa exige perfis diferenciados. Num contexto deste, tanto o programa didático-pedagógico como os alunos têm que terem alguma tranquilidade para se posicionarem diante de uma realidade que não é futura, mas, sim, presente. Voltamos a repetir, o posicionamento em relação a ela não se faz somente quando se está formado, mas, durante o curso despertando o interesse e buscando as vinculações complementares tão necessárias. 3.

Para finalizar venho com um aspecto mais de natureza psicocultural, vamos dizer assim. Na medida em que o ato de organizar e providenciar o espaço são capacidades presentes em todo ser humano, a utilidade do arquiteto sempre teve dificuldade de visibilidade social. Algumas vezes ouvi, quando estava a prestar os serviços, que uma das motivações de minha presença era porque o cliente não sabia “desenhar”, portanto, estaria a lhe auxiliar a visualizar o que pensava, o que estava a imaginar e assim colocar o seu querer no papel. Em outra ocasião fui indagado repentinamente se a profissão do arquiteto já não era algo superado. Para esta indagação provocativa e estimulante respondi: -

Sim,

desde

o

século

XVIII

quando

se

iniciou

as

transformações no sistema educacional e no exercício da profissão em função da denominada “Revolução Industrial.” Quem fez a indagação ficou em silêncio.

O fato que anteriormente mencionei que o impulso de organizar e providenciar o espaço são capacidades presentes em todo ser humano, de certa maneira também se manifesta em relação ao próprio “aluno de Arquitetura”. Pelo fato dele estar na escola de Arquitetura já se sente apto a “projetar”, de ver-se como arquiteto, não tendo tempo de perceber que esta e toda profissão envolve um “processo”, que não é algo automático, intuitivo e desassistido de _____________________________________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ conhecimentos específicos que demandam o seu tempo de assimilação, experimentação e de amadurecimento, portanto, etapas de realização. Surge aí um conceito importante que pode ser definido pela diferença entre o exercício consciente da profissão e o da prática inconsciente, onde a diferença básica se estabelece através da presença do conhecimento ao nível conceitual e operacional das regulamentações, das necessidades e dos procedimentos de produção versus o conhecimento limitado ao projeto-desenho, em outras palavras, ao atendimento restrito da demanda sem considerar as suas implicações.

Portanto, a partir dos três aspectos abordados – sobre a importância e o desafio do aluno identificar, construir e desenvolver a sua aptidão durante o processo de estudo; quanto ao receio em relação ao futuro à necessidade de se vincular gradativamente às diferentes realidades existentes durante o transcorrer do Curso e não no final com a sua formatura e, ganhar consciência do que seja o exercício consciente da profissão -, podemos constatar que este conjunto de ações imprime um alto significado à condição de “ser estudante”, porque correspondem a um estágio de descobertas, definições e de qualificação para o exercício de algo que exige conhecimento, interação com diferentes áreas profissionais, com as pessoas que geralmente são etiquetadas como usuários e clientes, além das questões tecnológicas e sensíveis.

Mas, gostaríamos de encerrar esta participação com uma “chave” recorrendo ao conhecimento da essência das palavras, procedimento que poderá a vir a nos auxiliar ou suavizar o caminho do entendimento; estou a me referir à palavra CRIAR.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________ A explicação, naquilo que ela contém de vinculo espiritual, a sua lógica poderá talvez contemplar ateus, religiosos ou indiferentes, pelo menos aparentemente. Há um entendimento geral quanto à origem desta palavra na qual existe uma diferenciação no seu conceito original que é expresso em suas duas grafias - CREAR e CRIAR28 -, que, em nosso caso acabamos perdendo a possibilidade do discernimento que se segue: CREAR - se refere ao ato de criar algo a partir do nada, que corresponde na sua essência, ao ato de Deus ao proceder a CRIAÇÃO. CRIAR - diz respeito ao procedimento de transformar algo que existe, condição que Deus conferiu em especial ao homem dentre os seres viventes devido ao seu maravilhoso sistemas mental, sensível e instintivo.

Ao se compreender este conceito, esta condição do ser humano de transformar algo existente, passaríamos, talvez, a ter outro posicionamento diante desta condição e do valor do aprendizado e por consequência uma outra colocação desse amplo “espaço do aprendizado”.

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No idioma espanhol se preserva as duas grafias e a diferença dos significados.

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________

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Luiz Alberto do Prado Passaglia / Correlação Espaço e Ensino __________________________________________________

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