O Amontoado que Soterra

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amontoado

que

soter r a

gabriel herkenhoff coelho moura


T e x t o s gabriel herkenhoff coelho moura F o t o g r a f i a s luiza nicodemos e raquel menezes D i a g r a m a ç ã o luiza nicodemos e raquel menezes


Aqui não há rompante de sangue nas ruas nem rupturas na superfície dura do concreto sem erupção a irromper como se lava o pó de minério e borracha e as marcas dos pés que marcham aqui só há o gosto do pus no cuspe na boca esta cidade inflamada está pulsando fraco como bate um coração de burocrata

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Era uma vez um intelectual chique que fumava cachimbo Quando lhe disseram que no cachimbo tamb茅m se fuma crack [e 贸xi ficou muito espantado e escreveu um artigo

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Um pombo imundo planando no centro da cidade sem um plano tem uma feiúra fácil que falta aos corpos depenados que fazem parte da mesma paisagem (e estão fora do plano)

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O sol cega cuspindo o fogo do presente no olho do horizonte do futuro e seca a garganta ensurdecida pela aridez da desrazão da experiência rasa do absurdo O calor experimentado indistintamente abafa a abertura do mundo a nada Esclarecida a cidade se apaga nas retinas de pedestres atravessados pelas luzes que obscurecem o amontoado que soterra o sentido do suor do que soa Avenidas coletivos pernas colos culos braços trabalhos tempo máquina vida sem instante de chiaroscuro E o sol cresce iluminando as costas e faz a gente se abster e fugir com as vistas do que alimenta a vida e a certeza da contingência do futuro

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Sujeira, fumaça, poeira, prostitutas e mendigos disputam os precários espaços com os lapsos de consciência dos loucos que enfeitam a parte viva da cidade do êxito. Longe dali, nas galerias, os ratos, indiferentes, desfilam fingindo-se retos, mas sujos da assepsia,

e ignoram o grito do louco que, sem as pernas, sobre o asfalto, anuncia: “Eis o caminho da verdade, nele nada nos faltará”. E no tilintar da lata uma moeda roída.

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O cheiro de peixaria me toma de assalto num sobressalto extático me instalo no estalo da exuberante deterioração: do concreto da memória do velho do mar E me prostro na esquina do estado - iluminado na casa cheia de quartos maresia ferrugem comensalidade marulho barulho e música agora provavelmente vazia talvez repleta de pedras e sombras Falo nas lembranças esquecimentos coisas que criam nódoas O frescor do fedor mesmo se foi logo que a construção começou arruinado Restou a penas este edifício de palavras que fugaz não tem o vigor de peixe morto

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u n i v e r s i d a d e f e d e r a l d o e s p í r i t o s a n t o 2 0 1 4

m a t é r i a multimídia I p r o f e s s o r a myriam salomão

l u i z a n i c o d e m o s e r a q u e l m e n e z e s


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