Revista s

Page 1

S Edição 5. Ano 3.

O pior design de embalagem do mundo | Fac-símile da primeira revista brasileira | J.A. Acabamentos Gráficos, história e dinâmica | 2º Prêmio Abigraf | Perfil: André Reis


2

revista S


CARTA C AO LEITOR

aro leitor, bem vindo a revista S. Aqui, você vai encontrar assuntos relacionados ao campo gráfico e, em especial, a acabamentos gráficos. Área em que, para muitos leigos, se passa despercebida, para os profis-

sionais que trabalham no ramo do design, publicidade e artes visuais, são de suma importância para uma comunicação bem feita. Essa revista, leitor, é composta por arti-

gos, entrevistas e perfil. No perfil, mostramos o trabalho de um profissional que esta inserido no ramo gráfico. Desta vez coube a nós falarmos de André Reis, dono de uma empresa de facas de corte, localizada no bairro Consolação, em Vitória. Ainda nesta edição, além de uma entrevista com um dos sócios-diretores da J.A. Acabamentos Gráficos, você confere também artigos de Clarissa Domingues, Andre Porto Alegre e Luis Guilherme Pontes Tavares. Aproveite a leitura! João Pedro Debbané Julio Cesar Reis Alves Luiza Nicodemos


Direção de arte: João Pedro Debbané, Julio César Reis Alves e Luiza Nicodemos Fotografia: João Pedro Debbané e Luiza Nicodemos Arte final: João Pedro Debbané, Julio César Reis Alves e Luiza Nicodemos Revisão: Sandra Medeiros Jornalista responsável: Sandra Medeiros Impressão e acabamento: Unicopy Colaboradores: Luiz Guiherme Pontes Tavares, Andre Porto Alegre, Clarissa Domingues, Sandra Medeiros, Unicopy, André Reis e Junior Fiere. A revista S circula 2 vezes ao ano Tiragem da revista S: 2000 exemplares Vitória, Espírito Santo, Brasil, 2014.


SUMÁRIO

7 8 11 18 22

O pior design de embalagem do mundo Fac-símile da primeira revista brasileira J.A. Acabamentos Gráficos, história e dinâmica 2º Prêmio Abigraf Perfil: André Reis


PROP. 1

6

revista S


O pior design de embalagem do mundo Andre Porto Alegre

D

e tudo que não temos de “padrão

ram numa garantia de banho, tamanha a

FIFA”, nada supera o design.

desproporcionalidade entre o tamanho da

Lamento pelos jogadores portu-

tampa e o material da embalagem.

gueses (caso o selecionado lusitano

O curioso é que quando se encontra

se classifique para a Copa do Mundo)

um designer brasileiro (além de poucos,

ao tentarem abrir uma embalagem de

eles se escondem, e com razão) o discurso

azeitonas; pelos franceses ao se depararem

é elaborado, quase pernóstico, absoluta-

com o desafio de abrir uma embalagem de

mente desassociado da realidade.

geléia ou pelos americanos que queiram

A mediocridade da atividade em terras

matar a sede com um singelo suco de laranja.

brasileiras não corresponde ao número de

Todas essas atividades corriqueiras e co-

cursos superiores dedicados ao tema. De

tidianas na vida de qualquer povo se tornam,

duas, uma: ou os cursos são muito ruins,

no Brasil, um exercício de paciência diante

com professores e recursos limitados, ou

do descaso da indústria de alimentação com

decidimos voluntariosamente apostar no

o design das embalagens tupiniquins.

péssimo design de embalagens alimentí-

O pior design de embalagens do mundo entra na lista do “contra tudo que está aí”,

cias como um traço cultural. Assim como o caótico trânsito em Nápoles.

que motiva multidões a invadirem as ruas.

Só me lembro do coco entre os pro-

As embalagens brasileiras nos fazem de

dutos nacionais com um bom design. Ele

trouxas e gravitam imunes às críticas e aos

mantém esse traço cultural e, convenha-

boicotes.

mos, é bem difícil de abrir, mas é mais

Quando havia ração na ponte aérea Rio-

fácil aceitar essa dificuldade como obra

São Paulo, éramos capazes de chegar ao des-

da natureza e não da genialidade (SIC) dos

tino sem conseguir abrir a embalagem da

designers nacionais.

manteiga. Até hoje é mais fácil pescar uma

Há segmentos do mercado e áreas do

sardinha do que se submeter à humilhação

conhecimento em que ainda estamos na

de abrir a lata em que elas foram aprisiona-

pré-história. Portanto, inclua no seu índice

das.

de críticas ao Brasil o péssimo design de

Em prol de uma suposta preocupação ambiental, garrafas de água se transforma-

embalagens, em particular na indústria da alimentação.

revista S

7


Bahia lança em 2012 fac-símile da primeira revista brasileira Está previsto para o início do próximo ano o lançamento de edição fac-similar de As Variedades ou Ensaios de Literatura, que circulou em 1812. Luis Guilherme Pontes Tavares*

8

revista S


A

Comemoração dos 200 anos do lan-

o redator Diogo Soares da Silva de Bivar. A

çamento da primeira revista brasi-

revista foi também estudada pelo bibliófilo

leira está marcada para 23 de janeiro

Renato Berbert de Catro, que, em 1982,

de 2012 no Auditório Katia Mattoso

publicou o primeiro fac-símile dela no

da Biblioteca Pública do Estado

número 1 da série “Documentos e estudos

da Bahia. Na ocasião, será lançado

de história e literatura da Bahia: inéditos e

o fac-símile da coleção de As Variedades

reimpressos”, do Arquivo Público do Estado

ou Ensaios de Literatura, cujos três únicos

da Bahia. O texto introdutório, de sua lavra,

números, que circularam entre janeiro e

dialoga com o ensaio de Helio Vianna.

março de 1812, foram impressos na tipo-

As Variedades ou Ensaios de Litera-

grafia de Manoel Antonio da Silva Serva, em

tura foi mais uma iniciativa audaciosa do

Salvador, a primeira unidade da indústria

empresário de origem portuguesa Manoel

gráfico-editorial privada brasileira. O fac-

Antonio da Silva Serva. Em 14 de maio de

símile será acomodado num estojo ao lado

1811, ele lançara o primeiro jornal baiano e

de volumes contendo o texto atualizado da

segundo impresso no País – Idade d’Ouro do

revista e de ensaios a respeito dela e de seu

Brazil –, patrocinado pelo conde dos Arcos,

impressor.

e enfrentava dificuldade para renovar assi-

O evento foi programado pela Fundação

naturas e vender exemplares avulsos. Silva

Pedro Calmon, órgão da Secretaria da Cul-

Serva as encarava com vigor e criativida-

tura do governo baiano, em parceria com a

de: substituía importação ao fabricar em

Associação Bahiana de Imprensa, Empresa

Salvador tipos móveis e prelos – pretendia

Gráfica da Bahia (que comemorará o pri-

fabricar papel a partir da polpa obtida com

meiro centenário em 2015) e o Núcleo de

a folha de bananeira e formava quadros na

Estudos da História dos Impressos da Bahia

sua tipografia, mas o reduzido mercado por

(Nehib). Estão sendo convidados três pa-

causa do predomínio de analfabetos e a au-

lestrantes para o lançamento: a professora

sência de redatores não autorizava o novo

Cybelle Moreira de Ipanema, secretária do

produto que Silva Serva lançou em janeiro

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro

de 1812.

(IHGB); o jornalista Leão Serva, diretor do

A missão, digamos assim, de As Varieda-

Diário de S.Paulo e descendente de Silva

des ou Ensaios de Literatura era civilizatória.

Serva; e o empresário Thomaz Souto Correa,

Tanto o prospecto que anunciava o seu lan-

vice-presidente do Conselho Editorial do

çamento como a carta de princípios estam-

Grupo Abril.

pada no número 1 dão conta de que suas páginas seriam preenchidas por “reflexões profundas sobre os costumes e as virtudes sociais e morais, algumas novelas de escolhido

APENAS TRÊS NÚMEROS

gosto e moral, resumo de viagens, extratos de história antiga, pedaços de autores clássicos portugueses, quer em prosa, quer em verso,

O historiador Helio Vianna dedicou o

anedotas curiosas, tudo, em uma palavra,

primeiro cpítulo do seu clássico Contribui-

que pode compreender-se na expressão geral

ção à Historia da Imprensa Brasileira (Rio

de literatura, são os materiais de que o Reda-

de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945) para

tor se há de servir para esta compilação, que

afirmar o pioneirismo de As Variedades

pelo correr do tempo se ampliará a alguns

entre as revistas dos primórdios da impren-

ramos dos conhecimentos científicos pro-

sa brasileira. O autor preenche algumas

priamente ditos”. Nos dias atuais seria uma

páginas do ensaio com informações sobre

revista de variedades e autoajuda.

revista S

9


O primeiro número, datado de janeiro de 1812, saiu com 30 páginas. Circulou no início de fevereiro, mês em que a revista não ofereceu um novo número aos assinantes. Isso

Diogo Soares da Silva de Bivar

porque o redator caíra doente. Em março saiu, então, o número duplo – 2 e 3 – com 67

Não há uma data precisa da

páginas e com esse a vida do periódico foi

chegada acidental a Salvador do

encerrada. Em 1814, Silva Serva comerciali-

redator da revista As Variedades.

zou num único volume os três números da revista, aproveitando os exemplares que sobraram de 1812. Imprimiu novo frontispício, exibindo assim, mais uma vez, seu tirocínio comercial e sua criatividade. É um dos volumes de 1814 que está sendo digitalizado e que será lançado em janeiro próximo.

Ele havia sido degredado de Portugal para Rios de Sena, em Moçambique, sob a acusação de ter apoiado os franceses quando da ocupação napoleônica de 1807, cuja consequência foi a transmigração da Corte portuguesa para o Brasil. Ficou preso no Forte se São Pedro até 1821, quando dom João VI restabeleceu-lhe a liberdade. Durante esse período colaborou

EXEMPLAR RARO

com o seu texto nos impressos da Tipografia Serva. Constituiu

É provável que só tenha restado um

família casando-se com Violante

único volume da coleção de As Variedades

Ceo e Lima e teve três filhos, uma

ou Ensaios de Literatura, daí a relevância

das quais, a caçula, foi a primeira

do fac-símile que será lançado em 2012.

jornalista

Tanto Helio Vianna como Renato Berbert de

Atabalipa Ximenes de Bivar e

Castro utilizaram-se deste que é, portanto,

Velasco. Assim como há questões não

pertence à Fundação Clemente Mariani,

respondidas sobre a história da

entidade cultural ligada ao Banco da Bahia

primeira revista brasileira, há

cionador fluminense Francisco Marques dos Santos. Em 1949, após o volume ser submetido, no Rio de Janeiro, a ações restaurativas sob a responsabilidade do bibliófilo Tancredo de Barros Paiva, Marques dos Santos doou-o ao Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. O volume está em bom estado e a mancha gráfica permite usufruir de leitura agradável. *Jornalista e produtor editorial. É diretor cultural da Associação Bahiana de Imprensa (ABI) para o biênio 2011-2012. É autor de Arthur Arezio da Fonseca (Salvador: Egba, 2005). Recebeu da Abigraf/ABTG, em 1991, o Prêmio Ignaz Johann Sessler.

revista S

Violante

uma raridade: o volume que há alguns anos

Investimentos, fora anteriormente do cole-

10

brasileira:

também questões não respondidas sobre Diogo de Bivar. Seu destino fora traçado em Portugal para acabar na África. No entanto, depois de cumprir “prisão” em Salvado, foi para o Rio de Janeiro como funcionário da Corte e experimentou o prestígio de ser o primeiro orador do Real Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e diretor do Real Conservatório Dramático. O que se lamenta é a ausência da biografia de Manoel Antonio da Silva Serva, o pioneiro da indústria gráfica privada brasileira.


ENTREVISTA

J. A Acabamentos Gráficos, história e dinâmica Este mês, a revista S foi ao encontro de Junior Fiere, sócio-diretor da J.A. Acabamentos Gráficos, empresa capixaba, situada no bairro Consolação, em Vitória. Em conversa descontraída, Junior conta um pouco de sua história, assim como a de sua empresa, e aponta problemáticas no ramo de acabamentos gráficos no Espírito Santo. Confir a seguir a netrevista na íntegra.

revista S

11


Revista S: Como foi o início da empresa do

deiras, entre outros. Porém, por exemplo, o

senhor?

acabamento em cola hot melt, só gráficas de

Junior Fiere: Nós começamos em 2001, com

porte maior possuem, como a GSA e a Grafi-

as máquinas de corte e vinco, e foi progre-

tusa. As outras gráficas precisam terceirizar

dindo com o passar dos anos.

esse serviço.

Revista S: O senhor comentou que começou

Revista S: E o senhor atende gráficas peque-

com corte e vinco, mas já pensava em ofere-

nas aqui também?

cer outros tipos de acabamentos?

Junior Fiere: Sim, gráficas do interior e de

Junior Fiere: Corte e vinco é um acabamen-

fora do estado.

to que estava escasso no estado e foi difícil, porque existe um processo que, além do

Revista S: Há alguma preocupação socioam-

corte e vinco, é necessário a colagem. A co-

biental no processo de produção da empresa

lagem ainda hoje é feita por coladeiras, mu-

do senhor?

lheres, manualmente. Com isso, tivemos que

Junior Fiere: O que é descartável, sim, como

acrescentar em nossa dinâmica interna de

o papel, que vai para a reciclagem. O resto é

produção a colagem nos envelopes, caixas,

lixo doméstico.

etc. Foi aí que crescemos na área deprodução de acabamentos.

Revista S: Então também deve haver algum aproveitamento de papel?

Revista S: Como surgiu o interesse do senhor

Junior Fiere: Sim, o máximo possível. Todos

por acabamentos gráficos?

os papéis são reciclados, nada vai para a na-

Junior Fiere: Então, foi através do contato

tureza.

com a área. Eu tinha um irmão que trabalhava com corte e vinco, além de outros tipos de

Revista S: Quais são os tipos de acabamentos

acabamentos.

que o senhor oferece? Junior Fiere: Hoje nós temos verniz loca-

Revista S: Então o senhor percebeu que

lizado e u.v, plastificação (fosco e brilho),

havia uma demanda nessa área?

colagem de livro (hot melt) e facas de corte

Junior Fiere: Sim, até hoje há. Acabamento

e vinco.

está escasso no estado. O serviço de acabamentos gráficos não é bem reconhecido,

Revista S: A procura pelo acabamento parte

porque todos os clientes finais acham que

mais do cliente final ou da gráfica?

todo o tipo de serviço é feito dentro das grá-

Junior Fiere: É a gráfica quem nos procura.

ficas. Eles não sabem que o acabamento é

Com o cliente não entramos em contato. Este

terceirizado, por isso nós somos tidos como

vai à gráfica e pede o serviço. Por isso o clien-

inexistentes.

te jamais imagina que o nosso ramo existe. Acham que tudo é produzido pela gráfica,

Revista S: As maiores gráficas do estado ter-

desde a impressão, até o acabamento. Esse é

ceirizam esse tipo de serviço?

o motivo pelo qual não fazemos propaganda

Junior Fiere: Sim, terceirizam.

e não temos fachada. Nossa empresa é como um galpão abandonado.

Revista S: Elas não fazem nada de acaba-

12

revista S

mento então?

Revista S: Qual tipo de impresso é o mais

Junior Fiere: Fazem sim. Algumas gráficas

finalizado pelo senhor?

trabalham com acabamento internamente,

Junior Fiere: São caixas, folders e revistas,

como corte e vinco, plastificação, dobra-

capas de revistas.


revista S

13


14

revista S


Revista S: E cartões de visita?

evitar ao máximo fazer hora extra, pois o pro-

Junior Fiere: Há muita pouca demande de

fissional já fica o dia todo em pé operando as

cartão de visita hoje. As próprias gráficas

máquinas, o que não é brincadeira. É muito

terceirizam até a impressão de cartões de

perigoso devido ao cansaço e, as vezes, o

visita. Eles já fazem em um lugar em Minas

dono da gráfica que nos contrata, acha que

Gerais, onde enviam o arquivo e o cartão é

nós não queremos trabalhar. Não é isso, é

produzido já com aplicação de verniz e com

que realmente nossos funcionários ficam em

preço muito baixo.

pé de oito da manhã até as seis da tarde.

Revista S: E as gráficas rápidas?

Revista S: O senhor tem idéia de qual é a

Junior Fiere: Quando há a necessidade do

quantidade de trabalho realizadado por mês?

acabamento, as gráficas rápidas fazem a

Junior Fiere: Varia muito. A quantidade de-

impressão e nos procuram para realizar o

pende muito do mês. Muita gente acha que

acabamento.

ano de eleição é bom para o ramo de acabamento gráfico. Não é. Ah! Vai vir a Copa do

Revista S: O senhor já pensou em abrir

Mundo. Também não é bom. O bom mesmo

alguma gráfica?

é quando tem um evento de grande porte,

Junior Fiere: Gráfica nunca. Nós não pode-

que pede a produção de folder, banners, pa-

mos. Se abrirmos uma gráfica, perderemos

pelarias, revistas, etc.

todos os nossos clientes. Viraríamos con-

Agora, quantidade por mês, mais ou menos,

correntes e a concorrência aqui no estado é

na casa de 100 mil folhas, 150 mil. Não tenho

terrível. Aqui nós temos uma preocupação.

uma média, nunca parei pra fazer uma média

Quando algum representante de uma grá-

disso.

fica entra em nossa empresa, pode olhar os serviços dos outros, mas não pode sair com

Revista S: E qual é o tipo de acabamento

sequer uma folha daqui. Nós não guardar-

mais utilizado pelo senhor?

mos modelo nenhum. Acabou o serviço, vai

Junior Fiere: Hoje o acabamento mais utili-

tudo para o lixo, porque a concorrência entre

zado é o verniz total u.v e corte e vinco.

eles é muito grande. Revista S: Os principais clientes do senhor Revista S: E tem muitas empresas de acaba-

são as gráficas maiores, ou as gráficas meno-

mentos gráficos aqui em Vitória?

res?

Junior Fiere: Vamos colocar que tenham

Junior Fiere: Olha, infelizmente, nós depen-

cinco empresas. Porém, para ganhar dinhei-

demos muito das gráficas grandes. Por que

ro no ramo aqui no estado, hoje, seria neces-

eu falo isso? Infelizmente, se você perde ela

sário sermos, no máximo, apenas três. Com

(a gráfica maior como cliente), você tem que

isso, podemos dizer que está muito difícil

reestruturar toda a sua empresa. Você pode

trabalhar no meio gráfico, em acabamento,

perder mão-de-obra, o que já não esta fácil

por aqui. Falta mão-de-obra qualificada e,

de encontrar. Se eu pudesse ter 30 gráficas

quando tem, é um profissional com vícios.

pequenas para suprir, prefereria, porque,

Esses vícios, nessas máquinas, são perigosos.

se você perder uma gráfica pequena em 30,

Se pegar uma máquina de corte e vinco e o

é fácil recolocar. Agora, se você perder uma

cara linchar a mão, perdeu a mão. Já houve-

gráfica grande, como Grafitusa, GSA, é mais

ram casos aqui no estado, comigo não, graças

complicado.

a Deus. Nós ficamos muito preocupados se o profissional está bem. Liberamos para ir

Revista S: Então o senhor dá prioridade para

embora caso esteja se sentindo mal. Tento

as gráficas maiores?

revista S

15


Junior Fiere: Não, nem sempre. Se chegar o

tem que dar sorte de achar uma pessoa que

pedido da gráfica pequena primeiro, eu faço

queira aprender. Aquela máquina lá é au-

o da gráfica pequena, porque o poder aqui-

tomática (nesse momento, Junior aponta o

sitivo é menor e, com isso, ela depende de

dedo para nos mostrar a máquina), só quem

você. Já a gráfica grande pode, de uma hora

tem uma dessas no estado sou eu. Antes de

para outra, comprar a máquina, pôr lá dentro

comprar, fui a São Paulo, junto de um funcio-

e não precisar mais dos meus serviços. Com

nário meu, para aprender a manuseá-la. O

gráficas do interior, por exemplo, você tem

Espírito Santo é um estado atrasado. Você vai

que se desdobrar para mandar o trabalho

a capitais de outros estados e percebe esse

feito no mesmo dia, pois elas já perdem um

grande atraso.

ou mais dias para enviar e receber o material.

Revista S: E o senhor faz entrega também?

Junior Fiere: Fazemos entrega, mas não

fazemos para o interior, só aqui na Grande Vitória.

Caso vocês queiram abrir uma empresa

de acabamentos gráficos, saiam enquanto é tempo (risos). Máquina é fácil de comprar,

eu quero ver é montar uma equipe. Mãode-obra, como eu já disse, não está fácil

de encontrar. Aqui no estado não tem, por exemplo, no Senac, cursos para esse tipo

de produção. Então, para trabalhar, você

16

revista S

Caso vocês queiram abrir uma empresa de acabamentos gráficos, saiam enquanto é tempo (risos)”.


PROP. 2

revista S

17


Conheça os projetos que concorreram ao 2° Prêmio Abigraf de Responsabilidade Socioambiental Clarissa Domingues

18

revista S


P

romovido a cada dois anos, com o

no processo de cura, com grande economia

objetivo de estimular iniciativas so-

de material, uma vez que o processo permite

cioambientais em organizações da

minimizar a quantidade de substratos utiliza-

indústria gráfica, o Prêmio Abigraf

dos nos impressos: a queda das perdas pode

de Responsabilidade Socioambiental

atingir níveis entre 30% a 40%, em comparação

pode ser considerado uma verda-

com o sistema de embalagem convencional.

deira vitrine de bons exemplos. Afinal, esta

Na categoria “Social”, o case inscrito foi

é a oportunidade que empresas de diversas

“Instituto Papel de Menino”, entidade funda-

partes do Brasil têm de mostrar de que modo

da em 2008 pela Antilhas para viabilizar ofici-

vêm agregando a sustentabilidade aos seus

nas de artesanato – a partir do fornecimento

processos produtivos.

de materiais doados pela própria gráfica – e

A segunda edição do prêmio, que teve

que tem objetivo pedagógico, com promoção

como vencedores a Gráfica Plural, na catego-

do ganho de consciência sobre os conceitos

ria Social, e a Posigraf, na Ambiental, registrou

de preservação do meio ambiente, educação

o total de 35 trabalhos inscritos por 26 empre-

para o trabalho e sensibilização para a arte.

sas gráficas, sendo 14 na categoria “Social”

O instituto é parceiro da Terracycle, que cria

e 21 na categoria “Ambiental”. A partir desta

produtos verdes a partir de vários tipos de

edição, a Revista Abigraf passa a apresentar

materiais de difícil reciclabilidade, que não

os cases dessas empresas, começando pelos

possuem destinação adequada, e trabalha

projetos da Antilhas, Ápice, Burti, Caeté e

com cooperativas de catadores. Em um dos

Congraf.

esforços recentes dessa união, foram produzidas 300 sacolas a partir de rótulos descartados de embalagens de chocolate, vendidas para a Nestlé, que as distribuiu como brindes.

ANTILHAS A Antilhas Soluções para Embalagens inscreveu cases nas duas categorias contem-

ÁPICE ARTES GRÁFICAS

pladas pelo prêmio. Adotando o conceito de sustentabilidade em todo seu processo pro-

Instalada em São Caetano do Sul (SP), a

dutivo, o que inclui desde os estudos de de-

Ápice apresentou o case “Responsabilidade

senvolvimento de novos produtos até as ações

ambiental como premissa de trabalho na

de relacionamento com os clientes, a gráfica

Ápice Artes Gráficas”. As ações contemplam

de Santana de Parnaíba (SP) apresentou na

iniciativas de gerenciamento de resíduos

categoria Ambiental o projeto “Impressão

líquidos e sólidos, educação ambiental, cons-

com cura por feixes de elétron”. A empresa,

cientização do uso de energia e água e reuso

que há três anos implementou a tecnologia

de papel.

EB (eléctron beam) – para a secagem por feixe

Nos últimos três anos, o conjunto de

de elétrons –, apoiou o desenvolvimento da

iniciativas culminou na redução de 55% dos

tinta criada especialmente para esta finali-

resíduos líquidos e de 7% dos resíduos sóli-

dade, a Easy Rad, com patente internacional

dos gerados pelos processos. Cem por cento

requerida pela TechnoSolutions, empresa do

desses resíduos recebem destinação correta

Grupo Antilhas.

e são totalmente co-processados por uma

Dentre os ganhos ambientais do projeto, sobressai a redução da emissão de carbono

tecnologia de destruição térmica em forno de cimento.

e de solventes (VOC – compostos orgânicos

Mesmo com a expansão de seus negócios,

voláteis), bem como a toxicidade do proces-

desde 2008, a Ápice vem reduzindo o con-

so, pois a limpeza dos equipamentos é feita

sumo de energia com a adoção de uma me-

somente com água e detergente. Reduziu-se

todologia que otimiza o gasto necessário aos

também, em até 50%, o consumo de energia

acionamentos de máquina e, também, por

revista S

19


meio da programação do PPCP, que permite

de ar, abastecimento de tintas e outros

que os equipamentos sejam eficientemente

equipamentos –, que proporciona a

ligados usados, sem a necessidade de perma-

não geração de ruído e risco químico na

necerem ligados quando fora de operação.

área produtiva e redução no número de

O consumo de água também tem diminuído

máquinas e equipamentos nos setores

em decorrência do uso de filtros e sistemas de

de produção, bem como facilidade de

reuso.

acesso e manutenção. Para controle de

No quesito da educação ambiental, a

sobras do processo, a Burti implantou

Ápice promove, internamente, ações que

duas centrais de coleta de aparas, dotadas

visam à minimização do desperdício, com

de filtros manga e triturador. Há, ainda,

a conscientização constante da equipe. Um

uma estação de tratamento de resíduos

exemplo está na substituição dos copos

orgânicos, onde separa-se a matéria

plásticos descartáveis por squeezes de aço

sólida da líquida, filtra-se e descarta-se

inoxidável, distribuídos aos colaboradores.

corretamente todo o material. Além de

Externamente,

ações

diversas medidas de redução de impactos,

educativas com crianças do Sesi-SP, em pro-

são

empreendidas

a Burti é responsável pela manutenção de

gramas que demonstram como minimizar os

uma área de preservação ambiental com

impactos gerados pelos processos gráficos e

150 mil metros quadrados de mata nativa,

atividades práticas, como oficinas de recicla-

com árvores e animais típicos na região de

gem caseira de papel e o plantio de árvores.

Itaquaquecetuba (SP), onde o parque está

A gráfica traduz seus resultados da política

instalado.

de respeito ao meio ambiente na conquista

Pela categoria Social, o case inscrito

das certificações ISSO 9001, 14000 e FSC, que

foi “A impressão que dá”, com estratégias

incentivaram a adoção de tais práticas e moti-

de responsabilidade social corporativa re-

vam sua continuidade.

lacionadas aos objetivos do negócio e experiências da empresa. O conjunto inclui o incentivo ao voluntariado a as ações de filantropia entre seus funcionários. Ex-

BURTI

ternamente, em parceria com entidades, sobressai no case o projeto realizado junto ao Centro Gaspar Garcia de Direitos Hu-

A Burti também inscreveu projetos nas

manos. A entidade promove a melhoria

duas categorias do prêmio. O case “Sustenta-

das condições de vida de pessoas carentes

bilidade como modelo de negócios” apresen-

a partir da coleta de materiais recicláveis,

tou o conjunto de iniciativas de preservação

incluindo atendimento em diversas fren-

ambiental implantado no parque gráfico da

tes sociais. A Burti também inclui em seu

Burti. A proposta começa pela própria edifica-

case o Projeto Reviravolta, que se baseia

ção, planejada para privilegiar o uso de ilumi-

em oficinas de produção artesanal para

nação natural e a captação de água da chuva,

acolher e criar oportunidades de inclusão

além de contar com um poço artesiano que

social para pessoas em situação de rua

fornece 50% do volume consumido. O prédio possui uma central de geração de energia capaz de suprir 100% das necessidades, proporcionando economia de 30% no consumo desse recurso.

CAETÉ EMBALAGENS

Além disso, a Burti possui sistema de

20

revista S

tratamento, que faz a limpeza e o controle do

Inscrita na categoria ambiental do

odor dos gases provenientes do processo de

prêmio, a Caeté Embalagens, situada em

secagem dos materiais submetidos aos fornos

Campo Bom (RS), mostrou, por meio de

das máquinas de impressão. Há também uma

seu case “Impressão offset Caeté: tecnolo-

central externa de utilidades – compressores

gia a favor da sustentabilidade”, uma série


de boas práticas ambientais que envolvem a

CONGRAF

substituição de matérias-primas e processos em seu sistema de trabalho.

A Gráfica Conselheiro – Congraf, da

A empresa adotou como regra básica

capital paulista, apresentou seu projeto

a filosofia dos 3 Rs (Reduzir, Reutilizar e

“Redesenho da linha Acqua Kids, colônia

Reciclar), com o objetivo de participar efeti-

menino e menina”, idealizado em parceria

vamente da construção de um futuro susten-

com o cliente Nazca e os fornecedores Sun

tável. A promoção do conhecimento entre os

Chemical e Papirus. O case, inscrito na cate-

colaboradores, aliada a uma contínua análise

goria de Responsabilidade Ambiental, teve

para prosseguir na otimização sustentável de produtos e processos, vem refletindo em uma sistemática que inclui o uso racional de recursos, a troca de materiais originários de fontes não renováveis no parque gráfico por produtos que geram menos descartes e, por consequência, menores danos ao meio ambiente. O offset é um processo que utiliza substâncias potencialmente contaminantes, como restaurador de blanquetas, solventes, tintas, filtros, trapos, estopas, panos, óleos lubrificantes e graxas, entre outros. Para citar um exemplo, a Caeté, seguindo uma tendência de mercado, formou parcerias com fornecedores e passou a utilizar tintas com óleos vegetais, á base de soja. Outra iniciativa foi a eliminação do restaurador de blanqueta do processo e a utilização de óleos e graxas sintéticas, produtos não oriundos do petróleo. A empresa também optou pela instalação direta de um filtro granulado na solução de molha, que é purificada de partículas com até 2 microns de tamanho. Um dos ganhos do novo processo é evitar o

como principal ação a substituição das matérias-primas por opções menos poluentes, com maior apelo sustentável, possibilitando ainda a otimização do processo produtivo em geral, bem como o favorecimento da reciclagem pós-consumo e a redução do impacto da embalagem no meio ambiente. Dentre as mudanças destacam-se as substituições do cartão tríplex Pharma 275 g/m² pelo Vitacarta da Papiros, um produto 100% reciclado, desenvolvido em conformidade com o novo conceito de embalagem, com apelo socioambiental. Certificado pelo FSC, o cartão tem em sua composição 40% de aparas pós-consumo, advindas de um programa desenvolvido com cooperativas de catadores. Foi feita também a troca da tinta Coatset, à base de óleo mineral, pela Exact da Sun Chemical, que tem como base de sua formulação óleo vegetal de soja. A tinta possui baixíssimo VOC, o que permite mitigações de emissões dos gases do efeito estufa no processo produtivo interno, bem como no cliente. Permite, ainda, melhor resultado

consumo de milhares de litros de água limpa.

na reciclagem do cartão com ela impresso,

Essa ação mantém seu impacto positivo por

devido à baixa absorção dos compostos da

toda a cadeia, posterior ao uso, diminuindo

tinta nas fibras do papel, o que viabiliza sua

o volume de efluentes, energia e materiais

reciclagem pós-consumo e gera economia

necessários para tratamento e disposição

no momento do descarte.

adequados.

O redesenho do layout da embalagem

Ainda com o intuito de diminuir resíduos

possibilitou vários benefícios para toda a

contaminados de estopas e trapos, a gráfica

cadeia produtiva, não apenas na Congraf

passou a utilizar toalhas industriais retorná-

e no cliente Nazca. Ao disponibilizar ao

veis, conseguindo um melhor controle numé-

consumidor final um produto com a mesma

rico das toalhas. Os resíduos líquidos e sólidos

qualidade, mas em uma roupagem “verde”,

também foram reduzidos e recebem correta

inserida no contexto de desenvolvimento

destinação. Entre os resultados alcançados

sustentável, o projeto também promoveu a

pelo conjunto de ações destaca-se a sensível

disseminação de conceitos de preservação

redução no consumo de água: anualmente

ambiental para os pequenos consumidores,

são economizados cerca de 7 mil litros de

crianças de 3 a 8 anos de idade, e suas mães

água potável.

compradoras.

revista S

21


PERFIL

ANDRÉ REIS A

ndré Reis, 47 anos, dono da empresa de facas de corte AC Reis, trabalha no ramo gráfico há 33 anos. Começou cedo, aos 14 anos de idade, de forma autonoma, com o pai, Oséias Reis, no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. Há 17 anos, já no Espírito Santo, André fundou a AC

Reis com o irmão. Porém, a sociedade durou apenas 9 anos e agora André administra a empresa sozinho. “Comecei em

um fundo de quintal, trabalhando com meu pai. Mais tarde, juntei com meu irmão, arrumamos uma máquina emprestada velha e fomos crescendo aos poucos. Fomos investindo, trabalhando e, hoje, só opero com maquinário novo”. Quando ainda trabalhava com o pai, a produção era restrita a fabricação de facas de corte. Hoje, com sete funcionários, além de facas de corte, André trabalha também com plastificação, corte e vinco. Sobre a dinâmica de produção de sua emrpesa, André cita “A gráfica nos manda o arquivo do cliente com o layout. Imprimimos e colocamos a impressão sobre a madeira. Furamos com a furadeira e, depois de toda serrada, enviamos para a montagem”. Hoje, André é referência no parque gráfico do Espírto Santo, trabalhando com empresas como Pimpolho, Gráfica Santo Antônio, Gráfica JEP e Grafitusa. A AC Reis também realiza trabalhos para fora do estado.

22

revista S


revista S

23


S


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.