Jornal da
UFOPA UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ Foto:Edvaldo Pereira
Ano I, Nº 4 - Santarém - Pará, agosto de 2011
Um campo para a Arqueologia Professores da UFOPA, com formação em Arqueologia, realizam salvamento arqueológico do Campus Tapajós. Diversos fragmentos líticos e cerâmicos foram encontrados no local, antes utilizado como campo de futebol. Página 5
Ensino
Parceria
Entrevista
Novas turmas do Parfor
Parceria com o governo do Pará
Interdisciplinaridade em foco
Com a entrada dos novos alunos, a universidade ultrapassa o número de dois mil professores do Ensino Básico em formação. Página 4
Dois convênios foram assinados visando ao desenvolvimento sustentável do Oeste do Pará: o de criação do Parque de Ciência e Tecnologia do Tapajós e o de cooperação técnica com o Ideflor. Página 7
Profa. Dóris Faria faz um balanço sobre a implantação do Centro de Formação Interdisciplinar da UFOPA. Página 8
Jornal da UFOPA
UFOPA amplia número de bolsas do PIBIC A UFOPA aumentou de 25 para 125 o número de bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). A notícia foi divulgada durante o encerramento do I Seminário de Iniciação Científica, realizado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação Tecnológica (PROPPIT) no período de 30 de maio a 3 de junho, em Santarém, com o objetivo de divulgar os trabalhos desenvolvidos pelos alunos vinculados aos programas PIBIC/FAPESPA, PIBIC/UFOPA e PIBIC/CNPq. Do total de 25 trabalhos de pesquisa apresentados, oito receberam certificado de menção honrosa pelo Comitê Externo de Avaliação. “Foi uma surpresa para todos nós, que ficamos muito felizes com o reconhecimento do Comitê quanto à relevância das pesquisas realizadas por nossos alunos de graduação”, afirmou o pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação Tecnológica, Prof. Marcos Ximenes Ponte. Em dezembro será realizada uma reunião científica para apresentar à comunidade o resultado dos trabalhos de pesquisa que vêm sendo realizados por estudantes de escolas públicas no âmbito do PBIC/Ensino Médio. A informação é da diretora de Pesquisa da PROPPIT, Profa. Ediene Pena.
TRABALHOS PREMIADOS NO I SEMINÁRIO INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFOPA ORIENTADOR
ÁREA
DIEGO DOS SANTOS VIEIRA
ANÁLISE COMPARATIVA DA COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA E ESTRUTURA HORIZONTAL DE UMA FLORESTA MANEJADA E NÃO MANEJADA NA COMUNIDADE SANTO ANTÔNIO, ESTADO DO PARÁ
JOÃO RICARDO VASCONCELLOS GAMA
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
LIDIANE CASTRO DA SILVA
DOCUMENTAÇÃO DE CORPUS DE TEXTOS ORAIS DO PORTUGUÊS SANTARENO - CTOPS
EDIENE PENA FERREIRA
LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES
TALITA FERNANDA AUGUSTO RIBAS
CITOGENÉTICA CLÁSSICA E MAPEAMENTO GENÔMICO COMPARATIVO EM MORCEGOS DO GÊNERO Micronycteris (Chiroptera – Phyllostomidae)
LUIS REGINALDO RIBEIRO RODRIGUES
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
JHÉSSICA KRHISTINNE CAETANO FROTA
AVALIAÇÃO DA CARGA DE FONTES POLUIDORAS PROVENIENTE DA REDE DE ESGOTOS DE SANTARÉM NO RIO TAPAJÓS, SANTARÉM, PARÁ
FÁBIO MARQUES APRILE
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
MÁIZA SATURNINO DE BRITO
O GÊNERO Memora (Bignonieae, Bignoniaceae) NA FLORESTA NACIONAL DO TAPAJÓS: FLORA E GUIA ILUSTRADO
RENATA GIASSI UDULUTSCH
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
MÁRCIO ANTÔNIO DE ALCÂNTARA ABREU
SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE ZEÓLITAS OBTIDAS A PARTIR DO CAULIM
MANOEL ROBERVAL PIMENTEL SANTOS
CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
MIYUKI MITSUYA
EFEITOS DA EXPANSÃO DO CULTIVO DE SOJA NA DINÂMICA DE NITROGÊNIO NA REGIÃO AMAZÔNICA, ASSOCIADA À PRODUTIVIDADE E A VIABILIDADE DESTES CULTIVOS NA REGIÃO
ADELAINE MICHELA E SILVA FIGUEIRA
CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA
JOSÉ RENATO DA COSTA OLIVEIRA JÚNIOR
MEMÓRIA, IDENTIDADE E PATRIMÔNIO CULTURAL EM COMUNIDADES RIBEIRINHAS DA REGIÃO DE VÁRZEA DE SANTARÉM
LUCIANA GONÇALVES DE CARVALHO
CIÊNCIAS HUMANAS
BOLSISTA
TRABALHO
SANTARÉM - PA 11 a 14 de setembro de 2011 www.bubalinocultores.com.br Contato: (93) 3522-1177 contato@bubalinocultores.com.br
Expediente
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Professores são contemplados com recursos do MEC Dez professores da UFOPA tiveram projetos aprovados no Programa de Extensão Universitária do Ministério da Educação (PROEXT 2011 – MEC), que visa a fortalecer a extensão no âmbito das instituições federais e estaduais de ensino superior do país. O Centro de Formação Interdisciplinar (CFI) teve três programas aprovados pelo MEC: “Apoio a oficinas sobre mídias e cultura digital e a incubadora de propostas para criação de empresas prestadoras de serviços em TIC destinadas a jovens em situação de risco social e subemprego no m u n i c í p i o d e S a n t a r é m - PA”, coordenado pelo Prof. Doriedson Alves de Almeida; “Quilombolas que contam: histórias da minha terra”, coordenado pela Profa. Maria Aldenira Reis Scalabrin; e “Cultura, Identidade e Memória na Amazônia”, do Prof. Itamar Rodrigues Paulino. Do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS) foram aprovados os seguintes programas: “Patrimônio Cultural na Amazônia: circuitos de troca e difusão”, da Profa. Luciana Gonçalves de Carvalho; e “Mapeamento das casas/terreiros de religiões de matriz Afro e/ou Ameríndia na cidade de Santarém/Pará”, da Profa. Carla Ramos. Dois programas do Instituto de Ciências da Educação (ICED) também foram selecionados: “Mídias Eletrônicas: Ensino e Inclusão”, do Prof. Hugo Alex Carneiro Diniz; e “Africanidades em sala de aula: formando professores para o ensino de Cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas”, do Prof. Luiz Fernando França.
Universidade Federal do Oeste do Pará Reitor: José Seixas Lourenço | Vice-Reitor: Clodoaldo Alcino Andrade dos Santos | Pró-Reitor de Ensino de Graduação: José Antônio de Oliveira Aquino |Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação Tecnológica: Marcos Ximenes Ponte | Pró-Reitor de Planejamento Institucional: Aldo Gomes Queiroz | Pró-Reitora de Administração: Arlete Moraes Coordenadora de Comunicação: Maria Lúcia Morais | Jornalistas Responsáveis: Lenne Santos (DRT-PR 3413) e Maria Lúcia Morais (DRT-MG 6261) | Revisão: Júlio César da Assunção Pedrosa | Fotos: Denise Gomes, Edvaldo Pereira, Lenne Santos, Luciana Leal e Ricardo Lima| Diagramação: Luciana Leal Universidade Federal do Oeste do Pará - Campus Tapajós - Coordenação de Comunicação - R. Vera Paz, s/n - Salé - CEP 68135-110 - Santarém – Pará | Comentários, críticas e sugestões: comunicaufopa@gmail.com - (93) 2101-4922 | www.ufopa.edu.br | Twitter: @ufopa
Foto: Ricardo Lima
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Reitor recebe medalha comemorativa aos 350 anos de Santarém O reitor da UFOPA, Prof. Dr. José Seixas Lourenço, recebeu medalha alusiva ao aniversário de 350 anos da cidade de Santarém, concedida pela prefeitura municipal. Ocorrida em junho, a solenidade reuniu personalidades, empresários, artistas e profissionais liberais. Criada especialmente para a data, a medalha é concedida aos que “expressam a história na sua vida, no seu trabalho e que são reconhecidamente construtores de uma Santarém melhor”.
Circular U FOPA
A UFOPA utilizará novamente o § Exame Nacional do Ensino Médio como único critério de acesso para os seus cursos de graduação. Para o processo seletivo de 2012, os candidatos poderão utilizar as notas obtidas no Exame dos anos de 2010 ou 2011. Além de realizar as provas do Enem, que serão realizadas pelo INEP nos dias 22 e 23 de outubro de 2011, os candidatos também terão de inscrever-se no processo seletivo da UFOPA. Por meio da ARNI, a UFOPA §
Capes cria plano para expandir formação de estudantes brasileiros no exterior Até 2014 a Capes irá registrar 338% de aumento na concessão de bolsas para o exterior Expandir e reforçar os programas que já estão consolidados e compartilhar com as universidades brasileiras a seleção e o acompanhamento de novos bolsistas no exterior são as duas principais estratégias da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para incrementar a formação de estudantes de pós-graduação e docentes no exterior por meio do plano de ação criado para operacionalizar essa expansão. O plano será implementado através de acordos institucionais bilaterais ou multilaterais estabelecidos com 40 países. Lançado em junho de 2011 e coordenado pela Diretoria de Relações Internacionais, o plano vai possibilitar que 75 mil estudantes de pós-graduação e docentes frequentem ambientes de pesquisa, ensino e pós-graduação de alto nível no exterior. Para que isso seja efetivado, será necessária uma ação coordenada dos ministérios e suas agências federais, bem como a participação de agências estaduais de fomento, das universidades brasileiras e das instituições de pesquisa públicas e privadas. “Desde a sua criação, a UFOPA vem buscando essas parcerias, e agora vamos ficar ainda mais atentos para tirar o máximo de proveito desse programa do Governo Federal, principalmente no que se refere ao incentivo da vinda de novos doutores para instituições de ensino brasileiras. Já estamos preparando o nosso programa para apresentar à Capes”, afirma o pró-reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação Tecnológica (PROPPIT), Prof. Marcos Ximenes Ponte. Cerca de 40 mil bolsas serão concedidas pela Capes nos próximos quatro anos, totalizando um investimento de US$ 936 milhões. O Plano destina-se a atender à política da presidente Dilma Rousseff de investir na formação de recursos humanos de alto nível no exterior ao longo de seu governo. Em termos de cooperação internacional, a Capes trabalha com duas linhas de concessão: candidaturas individuais (demanda-balcão) e concessão de bolsas inseridas em projetos de cooperação internacional, que incluem projetos conjuntos de pesquisas e de parcerias universitárias.
oficializou, em junho, parceria com a Universidade de Talca, no Chile, viabilizando, dessa forma, oportunidades de cooperação bilateral e nt re a s d u a s i n st i t u i çõ e s . A U n i v e rs i d a d e d e Ta l c a p o s s u i faculdades de Ciências Florestais, Agrárias, Empresariais, da Saúde, Jurídicas e Sociais, além de Engenharia e Psicologia. Mais informações em http://www.utalca.cl. O Centro §
de Formação Interdisciplinar prorrogou, até o dia 12 de agosto, as inscrições para o Curso de Especialização em Sociedade, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável na Amazônia. São 40 vagas para profissionais com nível superior completo, que busquem formação continuada e interdisciplinar para atuar em contextos amazônicos, nas áreas de gestão pública, docência, pesquisa, ONGs e outras áreas afins. O curso terá início no dia 12 de setembro. A UFOPA já conta com uma Câmara § de Ensino de Graduação, criada no dia 19 de julho com o objetivo de propor normas relacionadas aos processos seletivos, percurso e progresso acadêmico discente. “A Câmara é órgão de consultoria, supervisão e deliberação em assuntos referentes à graduação”, explica o pró-reitor de Ensino de Graduação, Prof. José de Oliveira Aquino, que preside o órgão. A validação e a revalidação de diplomas estrangeiros e a criação ou extinção de cursos também estão entre as atribuições da Câmara, composta por servidores que ocupam cargos de diretor de ensino, coordenador de ensino de graduação, diretor de regulação e supervisão acadêmica, diretores de unidades acadêmicas e coordenadores de programas.
4 Jornal da UFOPA
Novas turmas de formação de professores no Oeste do Pará Foto: Lenne Santos
A formação de professores é uma das prioridades da UFOPA que, desde o ano passado, participa do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor). Mais de dois mil professores de escolas públicas do Oeste do Pará já estão cursando licenciaturas integradas ofertadas pela UFOPA em Santarém e nos polos de Monte Alegre, Juruti, Óbidos, Itaituba, Oriximiná, Almeirim e Alenquer. Em 2010 foram 1402 alunos matriculados em 39 turmas e, em 2011, 736 alunos, em 21 turmas, totalizando 2.118 alunos em 60 turmas. Seguindo o novo modelo acadêmico, a UFOPA oferece, aos alunos do Parfor, cursos presenciais de licenciaturas integradas nas áreas de Letras (Português e Inglês); Geografia e História; Matemática e Física; Biologia e Química; além de Licenciatura em Pedagogia.
Segundo a coordenadora do Parfor na UFOPA, Profa. Terezinha Pacheco, a cada semestre os alunos cursam, em média, quatro disciplinas, totalizando 400 horas. “As aulas presenciais acontecem nos meses de julho e janeiro. Durante o semestre, os alunos realizam ainda algumas atividades complementares semipresenciais”, explica. Juscelma Pereira Vinhote, 22 anos, é aluna da turma de Pedagogia 2011. Ela atua na educação infantil há dois anos e essa é sua primeira graduação. Ela veio de Curuá, uma pequena cidade espremida entre Óbidos e Alenquer. Foram cinco horas de barco até Santarém. “Estou na cidade sem bolsa-auxílio, pagando as despesas do meu próprio bolso, porque acredito que vale muito a pena. Conheço pessoas, adquiri novos conhecimentos e sei que logo poderei contribuir com o desenvolvimento da educação na minha cidade, onde ainda há poucos profissionais que tiveram a oportunidade de cursar o ensino superior”. “Quem está na área da educação não pode parar nunca”. É com esse pensamento que Lúcia Maria Maia, 50 anos, volta para a sala de aula para estudar depois de sete anos. Aluna da turma de Pedagogia de 2011, há 13 anos atua na educação básica do município de
Alunos da turma de licenciatura em teatro (Parfor/UFPA), em aulas da disciplina Tópicos Especiais em Antropologia do Teatro
Santarém e diz estar gostando da experiência. “Aqui temos a oportunidade de trocar experiências, conhecer a realidade de colegas professores de outros municípios que tem dificuldades parecidas com as nossas, enfim, há também jovens professores que iniciam no magistério. A turma é muito diversificada e isso é muito bom”. Lígia Ramos, 38 anos, viajou 220 quilômetros de carro, de Rurópolis até Santarém, para frequentar as aulas do Parfor. Ela cursa Licenciatura em Teatro - ofertada pela Universidade Federal do Pará (UFPA), em Santarém, com apoio da UFOPA - sua primeira graduação depois de 11 anos atuando como professora do ensino infantil. “Posso afirmar com certeza que neste curso eu me encontrei. Estou muito satisfeita. Os professores são muito qualificados”.
Foto: Lenne Santos
O discente do Parfor inicia seu percusso a ca d ê m i co n o C e nt ro d e Fo r m a çã o Interdisciplinar (CFI), onde cursa, no primeirosemestre, a Formação Interdisciplinar 1, composta por seis módulos de ensino: Origem e Evolução do Conhecimento (OEC); Sociedade, Natureza e Desenvolvimento (SND); Lógica, Linguagens e Comunicação (LLC); Estudos Integrativos da Amazônia (EIA); Seminários Integradores (SINT); e Interação na Base Real (IBR). A partir do segundo semestre, o aluno passa a integrar o Instituto de Ciências da Educação (ICED), onde permanece até a conclusão de sua licenciatura.
Lúcia Maia (à esquerda) e Juscelma Vinhote: “No Parfor, além de aprender, trocamos experiências”
Os cursos de licenciatura ofertados no âmbito do Parfor são destinados a professores da rede pública da educação básica, em exercício há pelo menos três anos, sem formação adequada à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Os professores inscrevem-se nos cursos correspondentes às disciplinas que ministram na rede pública por meio da Plataforma Freire. A validação das inscrições não é de responsabilidade da UFOPA. Após o período de pré-inscrições, as secretarias municipais de educação verificam as listas dos inscritos, consultam os dados profissionais, e se pronunciam em relação à aceitação dos candidatos, validando-os na Plataforma Freire, o que significa atestar que o professor préinscrito pertence à sua rede e está em exercício na disciplina correspondente ao curso pleiteado, sem formação adequada. Caberá às secretarias municipais e estaduais dar suporte aos professores, conforme o caso, em a r t i c u l a ç ã o c o m o Fó r u m E s t a d u a l Permanente. Fórum - Foi realizada em Santarém, no dia 20 de junho de 2011, reunião do Fórum Estadual Permanente de Apoio à Formação Docente (PA), que é presidido pelo secretário de estado de Educação, Nilson Pinto. A reunião contou com a participação de representantes das secretarias municipais de educação, onde são realizadas as atividades do Parfor. O principal objetivo do Fórum é o cumprimento das metas da Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica do Estado do Pará, instituída pelo Ministério da Educação (MEC).
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Arqueologia no Campus Tapajós
Descobertas - O trabalho de prospecção e resgate se baseou em levantamento geofísico realizado pelo Prof. José Gouvêa Luiz, da Universidade Federal do Pará (UFPA), que apresentou cerca de 200 indicações de anomalias com potencial arqueológico. “O uso da Geofísica aplicada à Arqueologia é uma inovação metodológica introduzida na UFOPA por incentivo do reitor, Seixas Lourenço, ele mesmo responsável pelo emprego deste método, com sucesso, nas pesquisas arqueológicas no Marajó na década de 1980”, lembra a arqueóloga. Marcada pela presença de terra-preta arqueológica – solo fértil, de cor escura, formado como consequência da deposição de vestígios orgânicos (restos de alimentos, caça, carvões das fogueiras, fezes, urina, coberturas vegetais das casas) nas antigas áreas de moradia –, a área pesquisada pertence ao sítio do Porto, já registrado no IPHAN. Além de fragmentos cerâmicos, a equipe coletou quantidade significativa de fragmentos líticos e calibradores
– pedaços de pedras utilizadas para amolar instrumentos cortantes – indicando que o local pode ter abrigado, no passado, uma oficina de objetos líticos, onde eram produzidos artefatos como raspadores, pontas de flechas e dentes de raladores. Em uma das unidades de escavação, os arqueólogos também encontraram um vaso cerâmico lacrado, que foi retirado inteiro pela equipe. A partir de agosto, todo o material coletado, incluindo o vaso cerâmico, será analisado em laboratório. Para o arqueólogo Claide Moraes, além de atender às exigências da legislação ambiental no tocante às obras que causam impacto aos sítios arqueológicos, o salvamento no campus Tapajós visa a produzir conhecimento a respeito das ocupações do passado na área de Santarém, envolvendo a comunidade acadêmica, já com o objetivo de formar futuros profissionais nessa área. A equipe recebeu ainda a visita de três turmas de alunos vinculadas ao Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), além de discentes do curso de especialização em Jornalismo Científico da UFOPA.
Foto: Edvaldo Pereira
Durante o mês de julho, a UFOPA realizou a primeira etapa do salvamento arqueológico do Campus Tapajós, que ocupa parte da área do sítio do Porto, em Santarém (PA). A ação faz parte do projeto “Gerenciamento do Patrimônio Arqueológico: prospecção e resgate na área de influência direta da construção de diversas estruturas no Campus Tapajós da UFOPA”, que visa a atender à legislação ambiental que protege os sítios arqueológicos do país. Coordenado pela arqueóloga Denise Maria Cavalcante Gomes, professora do Programa de Arqueologia e Antropologia do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS), o projeto tem permissão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), por meio da Portaria nº 16, de 13 de maio de 2011, para realizar, pelos próximos dois anos, pesquisas arqueológicas na área pertencente ao Campus Tapajós. A ação contou com a participação dos arqueólogos Claide de Paula Moraes e Anne Rapp Py-Daniel, professores do ICS, além de alunos da UFOPA selecionados como voluntários. Nesta primeira etapa, a equipe trabalhou em dois locais que, brevemente, serão utilizados para a construção de novos prédios da Universidade: a Área 1, antes utilizada como campo de futebol; e a Área 1A, contígua, que corresponde ao viveiro. “Estamos completamente dentro da lei. Faremos vistoria em qualquer área destinada a construção e, se o local tiver potencial, vamos realizar o salvamento arqueológico antes do início das obras”, explica Denise Gomes. “Estamos contribuindo para salvaguardar a Universidade de problemas com a legislação ambiental e de proteção do patrimônio arqueológico. E, como somos arqueólogos e acadêmicos, vamos estudar os vestígios retirados desses locais. Esses são os propósitos do trabalho”.
Santarém, um grande sítio arqueológico Na área urbana de Santarém há dois sítios arqueológicos registrados pelo IPHAN: o da Aldeia e o do Porto. “Essa é uma situação única no Brasil. A cidade de Santarém foi construída em cima de um grande sítio arqueológico”, explica Denise Gomes. O sítio da Aldeia vai desde o centro da cidade, passando por vários bairros, como Centro, Aldeia, Santa Clara e Fátima, e se estende até o bairro do Laguinho, onde sofre uma interrupção. “O Laguinho é descrito pelos cronistas e naturalistas do século XIX como uma área pantanosa, cheia de charcos, pelo que faz um certo sentido não ter vestígios. Essa informação coincide com o relato das pessoas mais velhas da cidade”, explica. Os vestígios arqueológicos voltam a aparecer no sítio do Porto, que desde as imediações do Laguinho se estende pelo bairro da Liberdade, incluindo áreas portuárias das empresas Cargill e Companhia Docas do Pará (CDP), às margens do rio Tapajós. “Na UFOPA, estamos trabalhando com uma parcela do sítio do Porto”, explica Gomes. Segundo a arqueóloga, que realizou vários estudos na área central de Santarém, entre os anos de 2006 e 2010, o sítio da Aldeia - descrito como uma área densamente povoada pelos cronistas dos séculos XVI e XVII - apresenta ocupações com datação de até três mil anos antes do presente. Denominadas de nível cerâmico formativo, as ocupações mais antigas eram mais dispersas, esparsas, de pouca duração, formadas por populações com agricultura e cerâmica incipientes. “Em termos gerais, podemos afirmar que os dois sítios (Aldeia e Porto) tiveram ocupações formativas, que são mais antigas”, explica. Já a ocupação tapajônica é mais recente, datada entre os séculos XI e XVII depois de Cristo. Caracterizada por cerâmicas elaboradas, como vasos cerimoniais, ela está associada à existência de sociedades complexas, com grande número de pessoas, que começam a emergir na Amazônia. Segundo Gomes, a presença de terra-preta arqueológica é um marcador característico dessa ocupação e de um solo que foi intensamente utilizado por essas populações.
Para saber mais: ? GOMES, Denise Maria Cavalcante. Cerâmica Arqueológica da Amazônia: vasilhas da Coleção Ta p a j ô n i c a M A E - U S P. S ã o P a u l o : E d i t o r a d a Universidade de São Paulo; FAPESP, 2002. ? GOMES, Denise Maria Cavalcante. Cotidiano e Poder na Amazônia Pré-colonial. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; FAPESP, 2008.
Peça encontrada nas escavações da UFOPA
? NEVES, Eduardo Góes. Arqueologia Amazônica. Rio de Janeiro: Zahar, 2006
Jornal da UFOPA Capacitação
Encontro Acadêmico encerra semestre do Centro de Formação Interdisciplinar Os 1.200 alunos que ingressaram este ano na UFOPA participaram do I Encontro Acadêmico do Centro de Formação Interdisciplinar (CFI), realizado no dia 28 de junho, no Amazônia Boulevard, em Santarém (PA). Eles apresentaram os resultados de 168 estudos realizados, em diversas áreas do conhecimento, no âmbito do módulo Interação na Base Real (IBR). “O estudante da UFOPA é estimulado a participar de projetos de pesquisa e extensão desde o primeiro semestre de formação”, explica a Profa. Soraia Lameirão, uma das coordenadoras do módulo.
As metodologias adotadas foram comunicação oral e apresentação de painéis, a exemplo do que ocorre nos encontros científicos. Diversos temas foram abordados nas investigações, como pesca e aquicultura, populações indígenas e quilombolas, Internet, manejo do açaí, bullying, evasão acadêmica, desmatamento, saúde da mulher, entre outros. Os estudos foram orientados por 21 professores que participaram do módulo do IBR. “A filosofia do IBR é inserir o aluno na pesquisa e na extensão, desde o momento em que ele entra na UFOPA”, explica a Profa. Ednea do Nascimento Fotos: Lenne Santos
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Carvalho, que também coordena o módulo. “A ideia é não deixar que o aluno tenha contato com a pesquisa apenas no final da sua graduação, como geralmente acontece nos currículos tradicionais”. Uma equipe da turma M6 investigou a utilização de explosivos por pescadores artesanais no lago do Mapiri, situado na zona urbana de Santarém. Prática predatória bastante comum na década de 1950, o uso de explosivos no lago provocou a matança, em larga escala, dos peixes, resultando em sério problema socioambiental. “Qualquer impacto no meio ambiente provoca reflexos na sociedade”, explica a aluna Marla Elizabeth. Mais da metade dos
pescadores abandonaram a atividade, devido ao problema ambiental causado por esta prática predatória. “História e Memória: a mulher no contexto da borracha em Fordlândia entre os anos de 1927 e 1948”, que analisa o papel da mulher na implantação do projeto de Henry Ford, na localidade de Fordlândia, foi outra pesquisa apresentada. “Ficamos curiosos ao ler nos livros apenas o papel dos homens, nesse projeto. Então decidimos pesquisar sobre as mulheres. A maioria tinha papel secundário como babá, chefe da limpeza ou mesmo cozinheira. Algumas se destacaram e chegaram a chefiar equipes de homens, já naquela época”, afirmou Ingride Cruz, da M4.
Grupo discute implantação do estado do Tapajós O reitor da UFOPA, Prof. José Seixas Lourenço, oficializou em julho o Grupo de Trabalho (GT) Tapajós, constituído por docentes e profissionais. Destinado a desenvolver estudos, levantamentos de dados gerais e diagnósticos que possam contribuir para uma “melhor e mais ampla discussão como subsídio ao plebiscito a respeito da divisão territorial do Pará”, o GT tem um perfil interdisciplinar e, de acordo com Seixas Lourenço, poderá ter um caráter permanente. O coordenador é o Prof. Jackson Rêgo (Instituto de Biodiversidade e Florestas), e a relatora, a Profa. Socorro Pena (Instituto de Ciências da Sociedade). O GT tem autonomia para definir a metodologia do seu funcionamento e nos próximos noventa dias deverá produzir um relatório sobre o resultado do trabalho que irá desenvolver Os eixos temáticos que vão embasar os levantamentos a ser feitos pelo GT são: Institucionalidade e política administrativa; Processos sociais, culturais e históricos; Tecnologia e inovação; Políticas sociais; Geopolítica e integração; Gestão de recursos naturais e ordenamento territorial; Economia e desenvolvimento regional. Integram o GT interdisciplinar da UFOPA os professores Marcos Ximenes Ponte (IEG); Edivaldo da Silva Bernardo (ICED); Jackson Fernando Rêgo Matos (IBEF); Socorro Pena (ICS); Sandro Augusto Viegas Leão (ICS); Keid Nolam Silva Sousa (ICTA).
Laboratório de Cartografia treina profissionais para detectar corte seletivo por satélite Técnicas de detecção de corte seletivo por imagens de satélite e treinamento básico em geoprocessamento foram as duas ações de extensão promovidas pelo Laboratório de Base Cartográfica (LABCART/UFOPA) em parceria com o Serviço Florestal Brasileiro (SFB)/Unidade Regional do Distrito Florestal Sustentável da BR 163. Professores e técnicos da universidade e do SFB participaram do treinamento ocorrido durante dois dias nas dependências da UFOPA, no mês de maio. Montagem de banco de dados, realce de imagens e modelo linear de mistura espectral foram alguns dos temas abordados pela geógrafa Ekena Rangel Pinagé, que integra a equipe da Gerência de Monitoramento e Auditorias Florestais do SFB, com sede em Brasília. “Por meio dessa técnica poderemos identificar o que ocorre na floresta através de imagens de satélite”, informou o coordenador do treinamento, Cléo Gomes da Mota, engenheiro florestal do SFB. A técnica de detecção de corte seletivo foi desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), por solicitação do Serviço Florestal. “Essa técnica já está sendo aplicada, em fase de testes, na unidade de conservação do Jamari, no estado de Rondônia e, em breve, deverá monitorar também o que ocorre na Floresta Nacional do Tapajós”. O chefe regional do SFB em Santarém, Fernando Ludcke, destacou a importância da parceria entre SFB e a UFOPA. “Temos interesse em colaborar para a formação de profissionais capacitados para atender as necessidades regionais, principalmente da indústria florestal. Até 2014 o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal vai disponibilizar recursos na ordem de R$ 40 milhões para investimentos em pesquisas. Esses recursos virão da verba arrecadada com as concessões florestais”. Coordenado pela Profa. Arlete Morais, o Laboratório de Base Cartográfica (LABCART) é ligado ao Instituto de Biodiversidade e Florestas (IBEF), que tem como meta a pesquisa nas áreas de produção de alimentos, manutenção de serviços ambientais e conservação da Amazônia na região Oeste do Pará, bem como atender também aos povos e comunidades tradicionais que demandam por desenvolvimento de sistemas sustentáveis de manejo para produtos florestais.
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UFOPA e Governo do Estado celebram parcerias
Durante a visita, Simão Janete e Seixas Lourenço assinaram o termo de criação do Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) do Tapajós, que será implantado na Universidade e terá como carro-chefe o uso sustentável da biodiversidade amazônica. “A questão de transformar Santarém em um polo de conhecimento e inovação é um marco e um desafio. Precisamos romper com o processo inadequado de ocupação da Amazônia ocorrido até agora. Teremos, assim, chance de ser contemporâneos numa revolução planetária que deve ser pautada pela busca de uma nova matriz energética, com o desenvolvimento de novos padrões de consumo menos agressivos ao meio ambiente e a criação de novos nichos de prestação de serviços ambientais”, afirmou o governador. Orçado em 47 milhões de reais, o PCT Tapajós abrigará uma incubadora e um condomínio de empresas de base tecnológica. Os recursos serão oriundos tanto do poder público quanto da iniciativa privada. O uso sustentável da biodiversidade, através da agregação de valor aos produtos regionais, deverá ser o carro-chefe do Parque, que também poderá acolher incubação na área de pesca, aquicultura, minerais, entre outros. O Parque estará aberto às instituições públicas e privadas da região. Além de estimular a formação e a instalação de empresas no PCT, a UFOPA também terá uma função gerencial, engajada na transferência de tecnologia e na capacitação dessas empresas.
Foto: Luciana Leal
“Aqui está nascendo, de fato, um novo olhar sobre a Amazônia”, afirmou o governador do estado do Pará, Simão Jatene, durante sua primeira visita oficial à UFOPA, ocorrida no dia 20 de junho, em Santarém (PA). Recebido no Campus Tapajós pelo reitor da UFOPA, Prof. José Seixas Lourenço, Simão Jatene mostrouse entusiasmado com o inovador modelo acadêmico adotado pela instituição, que se baseia na interdisciplinaridade e nas demandas regionais. “O que vejo na UFOPA é o caminho interessante da interdisciplinaridade. Vocês estão, de forma muito precisa, enfrentando o desafio do desenvolvimento regional, de forma ética”.
Primeira visita oficial de Simão Jatene à UFOPA
Cooperação para o desenvolvimento florestal do Oeste do Pará A UFOPA também firmou acordo de cooperação técnica com o Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará (Ideflor) visando a estabelecer iniciativas de apoio ao desenvolvimento florestal na região do Oeste do Pará. Assinado no dia 21 de junho pelo governador Simão Jatene, o acordo prevê a realização de projetos focados, principalmente, em territórios sob gestão coletiva na região, como áreas quilombolas e de domínio das populações tradicionais. “Esse acordo abre uma ampla possibilidade de cooperação efetiva e tem repercussão tanto na pesquisa, com a inclusão desses temas na nossa agenda, como também no trabalho envolvendo a capacitação de pessoal”, afirma Seixas Lourenço. No convênio estão previstas diversas ações, como a implantação de planos de desenvolvimento local sustentável nas comunidades tradicionais dos rios Maró e Aruã (Santarém e Juruti) e demais territórios agroextrativistas de domínio estadual na região; o monitoramento dos planos de manejo florestais sustentáveis dos contratos sob a gestão do Ideflor; além de estudo para o plano de uso da área reservada às comunidades tradicio-
nais do entorno do rio Mamuru. “Precisamos de apoio local para essas ações, principalmente de instituições como a universidade. É muito importante que todas essas ações sejam discutidas e operadas em conjunto com o centro de formação do conhecimento em recursos florestais que é a UFOPA”, afirma o diretor do Ideflor, José Alberto da Silva Colares. O convênio visa ainda ao assessoramento para elaboração do plano estadual de manejo comunitário e familiar e do arcabouço normativo para a gestão estadual das florestas públicas, além da revisão dos instrumentos legais de regulamentação do cultivo florestal. As duas instituições trabalharão ainda em conjunto para a implantação e gestão do centro de treinamento para o manejo florestal madeireiro e não-madeireiro do Estado do Pará, a ser construído na Gleba Estadual Curumucuri, em Juruti. A implantação da rede de coleta de sementes, de polo de produção de mudas e a recuperação do laboratório de sementes e de ecofisiologia florestal da UFOPA, como âncoras ao suporte técnico para o desenvolvimento florestal, são outras ações previstas no acordo.
Jornal da UFOPA Entrevista
Os desafios da formação interdisciplinar Em entrevista ao Jornal da UFOPA, a diretora do Centro de Formação Interdisciplinar (CFI), Profa. Dóris Santos de Faria, faz um balanço da atuação do Centro no primeiro semestre de 2011 e destaca também o papel do CFI na construção do projeto da UFOPA.
Foto: Luciana Leal
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Por: Lenne Santos
Jornal da UFOPA - O que é o Centro de Formação Interdisciplinar? Quais são os seus objetivos? Dóris Faria - O CFI é uma unidade acadêmica, exatamente como um instituto. A diferença é que os institutos são paralelos. O aluno escolhe, eles desenvolvem programas complementares ou não, mas são diferentes. O Centro recebe todos os alunos, dá a formação mais fundamental, e a partir disso, os alunos são dispersados para os institutos. Nesse sentido, o principal objetivo do CFI é garantir na instituição, logo no início do processo de formação de seu alunado, uma competência para a análise interdisciplinar, especialmente envolvendo as grandes áreas do conhecimento. No CFI o aluno vai ter uma visão de todas as grandes áreas (Ciências Exatas, Ciências Naturais, Ciências Humanas, Ciências Sociais), além de uma iniciação mais cuidadosa de nível superior nas ferramentas como estatística, linguagem, cálculos e nas tecnologias. O Centro dá essa visão ampla de campo de conhecimento e o aluno, a partir disso, vai fazendo as opções gradativas na instituição. A escolha seguinte é a do instituto, onde o aluno fará a Formação Interdisciplinar II, no segundo semestre. Nesse instituto ele verá a interdisciplinaridade entre áreas do conhecimento associadas àquela grande temática, as quais são diferentes entre os institutos. JU – E sobre o papel do CFI no projeto maior da UFOPA? DF - O CFI tem um papel fundamental para a UFOPA, que tem, como modelo acadêmico, uma organização temática por institutos. O CFI é a unidade acadêmica que realiza o primeiro passo numa abordagem interdisciplinar, institucional. É a espinha dorsal, a vertente que dissemina pela instituição uma visão interdisciplinar no nível das grandes áreas do conhecimento. Ele conecta os institutos, membros que vão possibilitar essa formação interdisciplinar cada vez mais aprofundada. A universidade faz isso gradativamente, na entrada do aluno no CFI, depois em cada instituto, de uma forma sistemática, profissional, acadêmica. Isso jamais poderia ser feito se a entrada dos alunos na instituição fosse tendente a uma única área. Logo no início, o CFI qualifica os alunos para uma visão mais ampla da interdisciplinaridade, o que vai facilitar a escolha desses alunos para os institutos. JU - E por que a opção pela interdisciplinaridade? DF - A Ciência antiga simplificava as situações. Então uma disciplina resolvia cada situação; fazia a análise do todo e estudava apenas a sua especialidade. Hoje os problemas são tão complexos que eles praticamente inviabilizam uma especialidade de resolver qualquer problema. Um exemplo é o clima. Claro que as abordagens do meteorologista, do físico, do geofísico são importantes, mas nenhum deles vai ter uma abordagem abrangente sobre a problemática do clima. Se você quiser trabalhar o clima a partir de uma abordagem interdisciplinar, vai ter que incluir nessa análise os cientistas naturais, o pessoal das ciências sociais. O mundo contemporâneo exige que a abordagem dos problemas seja feita por diversas disciplinas. No caso da Amazônia, a complexidade dos problemas é ainda mais gritante, obviamente clama por mais interdisciplinaridade. A atuação de diversas áreas é essencial para uma melhor compreensão dos problemas graves que afligem a Amazônia, como o desmatamento, conflitos sociais, poluição. Dessa forma, não tem sentido a gente trazer para a Amazônia um modelo que é baseado na especialização, porque não será suficiente para resolver os problemas que existem aqui. JU - E quais são os desafios para a implantação de um centro de formação interdisciplinar na Amazônia? DF - Eu diria que a UFOPA tem muitos desafios, e o maior deles é o pensamento tradicional. Outro desafio são as estruturas privadas, que certamente sofrem alguma redução, se forem usar uma ótica simplista. Mas se a gente
porque agora teremos um tempo para nos reorganizar para março de 2012. JU - O que foi priorizado durante a construção de conteúdo para os módulos multidisciplinares? DF - O CFI e a UFOPA trabalham a construção da interdisciplinaridade a partir do diálogo multidisciplinar. O nosso corpo docente, contratado por meio de concurso, é multidisciplinar, assim como nossos módulos de ensino, focados em temáticas relevantes, como a Amazônia, a origem e a evolução do conhecimento científico, entre outros. JU – De que forma o CFI vai atuar com relação à pesquisa e à pós-graduação? DF - Hoje nossos professores têm projetos de pesquisa que envolvem os alunos no campo da interdisciplinaridade. São projetos nas áreas de Internet, redes sociais, nos municípios, nas comunidades. Todos envolvendo diversos docentes, de diferentes áreas. Com relação à pósgraduação, vamos ofertar dois cursos de especialização, um sobre desenvolvimento sustentável na Amazônia, que começará em setembro, e outro voltado para o ensino, que iniciará em janeiro de 2012. JU - O CFI têm sido alvo de muitas críticas por adotar o modelo interdisciplinar. O que a senhora tem a dizer àqueles que criticam esse modelo?
O CFI é a unidade acadêmica que realiza o primeiro passo numa abordagem interdisciplinar, institucional usar uma lógica de que cada vez mais a população jovem está entrando na universidade, nem mesmo a existência da UFOPA vai atrapalhar o ensino privado. A UFOPA representa um limite dentro desse universo imenso que precisa entrar na universidade. Então, não é a questão de combater a UFOPA porque ela é um competidor do ensino privado. Nesse momento identificamos um combate baseado em interesses outros. Não é só o ensino privado. Alguns movimentos de esquerda têm uma concepção bastante tradicional, de que haveria a necessidade de se manter uma estrutura mais tradicional. Mas, com o tempo, esses movimentos vão ver também que ser progressista no mundo acadêmico, hoje, é conseguir vencer as barreiras da especialização. As universidades já não têm mais departamentos, para evitar isso. É um movimento que é mundial. E já começamos assim. Em vez de estarmos passando pelo processo de reformulação das instituições antigas, a gente já nasce contemporâneo. JU - Na sua opinião, quais os principais avanços alcançados durante o primeiro semestre do CFI? DF - O primeiro e grande avanço é ter conseguido, em apenas quatro meses, fazer no CFI uma verdadeira universidade, porque todos os 1200 alunos que ingressaram este ano na UFOPA passaram por aqui. Eles cursaram seis módulos com professores o mais qualificados possível, pois todos os docentes do Centro têm mestrado ou doutorado. Mas o maior avanço é estarmos propiciando ao nosso alunado uma escolha mais consciente da carreira profissional. No CFI, os discentes tiveram uma visão ampla dos campos de conhecimento, claro que num nível mais introdutório. JU – Com o fim deste primeiro semestre será necessário fazer algum ajuste na estrutura e no funcionamento do CFI? DF - Nós funcionamos com muita bravura. Tivemos de cobrir três turnos com problemas de pessoal. Tivemos de fazer rodízios, mas os servidores do Centro, professores e técnicos, realmente se dedicaram muito além do previsto e com isso conseguimos atender aos 1.200 alunos nos três turnos. Certamente teremos que fazer algumas mudanças,
DF - Aqueles que criticam o nosso modelo não precisam necessariamente concordar conosco. Mas devem se abrir para ouvir outras vertentes de conhecimento, outras visões sobre o mundo contemporâneo, porque, se essas pessoas tiverem abertura para refletir sobre essas questões do mundo moderno, elas verão que não há como defender uma visão especializada. Isso pode custar caro para a história e para as nações. E na Amazônia, não podemos perder tempo. Nosso país infelizmente não tem um projeto para a Amazônia. Agora, se os amazônidas não se instrumentalizarem para eles próprios terem condições de construir esse projeto para si, na perspectiva da nação brasileira, as coisas vão se complicar. Nosso papel, na UFOPA, é esse: dar esse instrumental agora, para formar os melhores profissionais desta região, que terão condições de contribuir para o Brasil com um projeto para a Amazônia real, exequível. JU - Que outros aspectos a Sra. ressaltaria no cenário desta primeira oferta regular da UFOPA ? DF - Quando os novos alunos da UFOPA começaram o curso neste semestre, 55% não sabiam que curso pretendiam seguir. Conforme a realização dos Seminários Integradores, que foram muito esclarecedores, as definições iam ocorrendo, de modo que, ao fim do semestre, praticamente todos já tinham clareza pelo menos da área de conhecimento que lhes interessava. Certamente a evasão na UFOPA será significativamente menor do que nas universidades com vestibular e currículos tradicionais. Com a publicação dos resultados das avaliações, já podemos ver que a quase totalidade dos alunos pode ser atendida em primeira opção para o instituto desejado, e o restante em segunda opção. Os que porventura não foram aprovados em algum módulo estão podendo prosseguir para seu instituto de escolha, tendo até três semestres para pagar sua pendência. Há inclusive, embora sejam muito poucos, aqueles que só querem a primeira opção e que preferiram permanecer no CFI, e nós estamos prontos a poder atender também a essa condição! Com isso, já se pode detectar que muita coisa melhorou, não só na compreensão, que já se começa a ver na grande parte das pessoas sobre a eficácia do projeto, mas, especialmente, nos alunos, técnicos e professores da UFOPA. Neste primeiro semestre, 1.200 alunos foram atendidos em três turnos, seis módulos de ensino - que são as disciplinas tradicionais articuladas na temática interdisciplinar destes módulos - envolvendo mais de 80 docentes de diversos institutos. Tiramos da invisibilidade social os excluídos do vestibular - para os quais a não aprovação implicava cursar uma faculdade particular ou desistência de estudar - e os mantivemos dentro de nosso sistema, que, gradativamente, vai lhes dando chances de alocação acadêmica até o doutorado, em vez de fora da instituição, podendo nela permanecer enquanto vão construindo sua vocação, agora de um modo muito mais aberto a outras áreas de conhecimento e exercícios profissionais.