CPCBN

Page 1

1

CPCBN


2


3

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro DSG1032 Projeto de Conclusão em Comunicação Visual 2014.1 Ana Luiza Braga de Faria Mello orientação Zoy Anastassakis Roberta Portas João de Souza Leite


4


5

SUMÁRIO

7

AGRADECIMENTOS

9

INTRODUÇÃO

11

JUSTIFICATIVA

13

GUIA AFETIVO

15

PESQUISA HISTÓRICA

18

PESQUISA DE CAMPO

24

PONTOS NORTEADORES

28

REFERÊNCIAS CONCEITUAIS E VISUAIS

32

EXPERIMENTAÇÕES

47

PARTIDO ADOTADO

49

PRODUTO FINAL

53

ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS

55

ESPELHO DA PUBLICAÇÃO

58

SUBPRODUTOS

59

FOTOS

63

CONSIDERAÇÕES FINAIS

64

BIBLIOGRAFIA


6


AGRADECIMENTOS

7

Sob risco de deixar a esfera do kitsch e mergulhar no piegas, preciso expressar minha enorme gratidão por tudo que recebi das pessoas que participaram direta e indiretamente deste projeto de conclusão de curso. A palavra que me acompanhou neste último ano de faculdade foi generosidade; generosidade de todos que me cercaram de conhecimento, compreensão e afeto. Meus orientadores, Zoy Anastassakis, Roberta Portas e João Leite foram verdadeiros companheiros de marés e mentores deste trabalho. A cada encontro, ele se tornava mais rico, complexo e afiado graças à dedicação dos mestres em me provocar, motivar e nortear. O projeto transborda de suas preciosas contribuições, do entusiasmo com o qual sempre trocaram comigo e da confiança que injetaram no meu processo. João Bonelli, professor consultor do projeto, acolheu uma assustada não-programadora no laboratório LIFE ainda nas férias e depois como ouvinte em suas aulas de interfaces, ensinando-me com humor e leveza a criar por meio das ferramentas digitais que vieram a se tornar o ambiente de desenvolvimento do projeto. No LIFE também pude aprender com Antonio Thiele, Gerson Ribeiro e Beatrice Terço, feras das mídias digitais de quem abusei da inesgotável paciência e que me mostraram o caminho das pedras e os muitos fóruns da web onde anônimos compartilham códigos e respondem perguntas, numa verdadeira criação coletiva. Aos meus amigos queridos e parceiros de projeto final, Eduarda de Aquino, Vidi Descaves e Felipe Pierantoni, sou grata pela disposição constante de me ouvir, reafirmar minha motivação e somar ao trabalho com suas sensibilidades ímpares. .


8

Aos amigos educadores do Museu de Arte do Rio, em especial Natália Ferreira, agradeço por despertarem em mim o desejo de me apropriar da cidade e por serem o grupo de pessoas mais fantástico com que tive a oportunidade de trabalhar. Agradeço também aos professores Suzana Valladares, Vera Bernardes, Julieta Sobral, Fábio Lopez, Cadu Costa e Joy Till por contribuírem com seu tempo, olhar cuidadoso e valiosas sugestões para que o trabalho tomasse a forma que tem hoje. Impossível falar de generosidade sem citar Antônio Dantas, que me presenteou com as embalagens especialmente confeccionadas por ele e que são o primeiro encontro do leitor com a publicação. Seu gesto coroou este belo processo em que recebi tanto de muitos. Finalmente, àqueles que estão sempre comigo, só me resta expressar meu afeto. Agradeço à Carolina Olivia, que está presente em todas as imagens trabalho, pois foi quem me mostrou a beleza da Copacabana que hoje tanto me instiga e arrebata. À Mariana Barreto, irmã que ganhei da vida, por sua doçura e coragem. À Lidia Dantas, por construir comigo a confiança na vida e a abertura ao amor. À minha família, em especial Tatiana e Ana Cristina, por me acompanharem e motivarem ao longo do caminho. Às avós que hoje habitam meu coração: Megan, que me criou, e Norma, que era a minha paz. Aos meus pais, Marcelo e Ana Cecilia, por acreditaram na minha mudança de rumo e investirem, como sempre o fizeram, na melhor formação que poderiam me oferecer. Vocês são o motor para que eu vá para o mundo descobrir o que há lá para mim. Agradeço ao Pedro, meu hoje, por me ensinar o amor a cada dia.


INTRODUÇÃO

9

Copacabana, bairro emblemático do Rio de Janeiro, a um só tempo fascina e repele por sua atmosfera tão cosmopolita quanto caótica. Caminhar pelas principais avenidas da região, cujas portarias déco e banners tétricos ornam indistintamente péssujos e hotéis cinco estrelas, nos proporciona um vislumbre da complexa e heterogênea identidade carioca. Em seus múltiplos significados e territorialidades, ora objeto de desejo ou cartão postal, ora emblema de decadência e vulgaridade, Copacabana afirma que o espaço urbano é lugar de encontro e diferenças. As imagens desta publicação são frutos de minhas andanças no bairro onde vivo, numa busca por experimentar outro olhar diante daquilo que acreditava ser absolutamente assimilado e decodificado. Fotografias tiradas com o celular foram base para intervenções digitais que exercem vontades opostas, em consonância com minha contraditória relação com o lugar: em algumas imagens, registros de áudio gravados nas ruas foram incorporados nos próprios códigos, saturando-os de informação e promovendo uma fusão dos ruídos visuais e sonoros do lugar; em outras, os pixels das imagens foram reorganizados objetivamente, gerando áreas homogêneas que, embora atenuem, não deixam de revelar seus pulsantes contrastes. CPCBN é um convite ao leitor a vivenciar o cotidiano do bairro; sempre curioso, nunca igual. Desordenar e sobrepor suas imagens produz surpreendentes e imprevisíveis misturas, desvendando a cada novo roteiro diferentes dimensões do estranho e belo universo copacabanense.


10

Desenho gerado a partir da sobreposição de percursos diårios da minha rotina ao longo de 30 dias, mapeados com um aplicativo de GPS


JUSTIFICATIVA

11

Para se perceber algo presente no dia a dia, é necessário que se queira ver. CERTEAU, MICHEL DE

Cotidianamente, a movimentação pela malha urbana é automatizada e irrefletida. A recorrência e a pressa com que se realizam os percursos diários impedem que a experiência espacial seja vivida em suas nuances e em sua totalidade. A partir desta reflexão sobre a automatização produtivista que nos impede a fruição da cidade, decidi rastrear meus percursos ao longo de um mês, gerando um desenho do meu caminhar diário. Essas linhas sobrepostas, repetidas e limitadas atestaram minha ausência de autodeterminação no cotidiano e ensejaram o desejo de manipular meu lugar comum, reintroduzindo prazer e estranhamento naquilo que me parecia repetitivo e incontornável. Decidi então realizar uma investigação poética no bairro onde vivo, exercitando um outro olhar diante daquilo que acreditava ser absolutamente assimilado e decodificado. Interessa-me sobretudo a paisagem urbana, porque é a realidade que conheço melhor e, portanto, posso melhor repropor como “nova paisagem” para uma análise crítica contínua e sistemática. Por isso me agradam tanto as viagens pelo atlas, por isso me agradam ainda mais as mínimas viagens domingueiras, num raio de 3km da minha casa. GHIRRI, LUIGI

Copacabana me atrai por sua heterogeneidade, atmosfera caótica e aura de possibilidade; mas sobretudo por sua potência de


12

romper com minhas expectativas rotineiras. O ato de caminhar pelo bairro envolve necessariamente o encontro com o outro, ou melhor, com os muitos outros que coexistem na cidade: o trânsito, os pedestres, o comércio informal, o barulho, o excesso, a feiura. A experiência urbana se apoia fortemente na produção desse espaço de contágio, compartilhado coletivamente (CAIAFA). Segundo Francesco Carreri, caminhar é um instrumento estético para descrever e modificar espaços metropolitanos cuja natureza ainda deve ser compreendida e preenchida de significados; é também um instrumento de leitura e escrita para escutar e interagir na variabilidade desses espaços, intervindo no seu contínuo devir. Por meio do projeto, busquei vivenciar o incômodo e a surpresa das interações inesperadas, me abrindo para a desordem urbana e me apropriando dela de modo a transformar meu próprio olhar sobre a cidade.


GUIA AFETIVO

13

Como um exercício para melhor compreender minha relação afetiva com o objeto de trabalho escolhido, escrevi um breve histórico pessoal dos constantes cruzamentos entre eu e o bairro de Copacabana:

Nasci na altura
do Posto 6, num apartamento na Conselheiro Lafaiete, lugar onde fui feliz. Ainda menina, a contragosto, me mudei com minha mãe, meu pai lá permaneceu.
O apartamento da Lagoa, apesar de luxuoso, sempre foi triste e abandonado. Ou era eu.
Já o 202 do número 29 da Conselheiro, este permaneceu intocado no meu imaginário infantil. Anos depois, pude enfim retornar àquele lugar. Mas a carga de ruptura com o que
lá havia jamais deixou de o assombrar. Ainda assim, aquele foi o meu lar; de algum modo ainda o é. Mudei-me algum tempo depois para a Bulhões de Carvalho, rua odiosa por sua excelente acústica. Dias e noites eram preenchidos com esquentadas discussões entre porteiros, ganidos de cachorros histéricos e caminhonetes ganhando o asfalto à toda para avançar o sinal. Não entrava sol. Em um ano mudei-me novamente, para um apartamento bem alto, a menos de uma quadra
de distância do anterior. Amplo e agradável, ele passou a ser a morada da nova família de meu pai. Não sinto que este lugar pertença a mim, nem eu a ele. Tendo vivido longamente na divisa com Ipanema, Copacabana costumava ser apenas um lugar de passagem. Bairro para olhar do ônibus ou tomar o metrô. No máximo, frequentava o pequeno comércio até o limite da Rua Francisco Sá. Mais barateiros e simplórios que os do bairro vizinho, os sapateiros e costureiras


14

escondidos pelas galerias sempre me intrigaram, as figuras de Copacabana. Foi por causa de uma amiga, a Carol, que a
minha relação com o bairro mudou. Tínhamos quinze anos; ela morava na Tonelero, perto do colégio Sacré Coeur, e vagava dia e noite, a doida, pelos bares da Rodolfo Dantas e Paula Freitas. Durante algum tempo, eu a acompanhei nessas deambulações. Meu desprezo de classe média em relação à algazarra da Nossa Senhora, com seus camelôs e lojas chinesas, gradativamente deu lugar a um verdadeiro encanto. Aquilo certamente não era a Lagoa Rodrigo de Freitas. Morando na Rua Sá Ferreira, convivo há dois anos com o cotidiano da ladeira Saint-Roman, que me instiga e irrita em igual medida. Há o culto das 20h, os bailes de sexta e sábado e os encontros de vizinhos na escadaria. É uma relação auditiva, pois na área não edificante atrás de meu prédio existe um verdadeiro bosque que me bloqueia, feliz ou infelizmente, a visão. Voltando meu olhar para cima, entretanto, posso vislumbrar a vastidão da favela do Pavão-Pavãozinho e suas casas de cor terracota, além de compartilhar com meus vizinhos a alegria das vitórias em dias de jogo do Flamengo.


PESQUISA HISTÓRICA

15

Copacabana, nas suas virtudes e nos seus vícios, nas suas obviedades e nas suas contradições, ora é vista como metonímia do Rio de Janeiro, ora como lugar sui generis dentro da cidade. Aparece ainda, não
raro, como símbolo de uma melancólica decadência, enquanto, por vezes, persiste como objeto de desejo em determinados projetos de ascensão social. Nos seus múltiplos significados e nas suas não menos múltiplas territorialidades, Copacabana tem no imaginário urbano carioca pertencimentos variados tanto em relação à cidade como um todo quanto, sobretudo, com relação à chamada “Zona Sul”. O’DONNEL, JULIA


16

Copacabana já foi um idílico areal. O vazio ao qual o bairro era associado nas primeiras décadas do século XX possibilitou o surgimento de um modelo de modernidade vinculado a uma série de valores como salubridade e lazer, caros ao estilo de
vida das elites cariocas do período. A partir dos anos 1940,
no entanto, se deu a grande expansão vertical do bairro. A precariedade da regulamentação somada às deficiências de
um código de obras e à força do crescente setor de construção civil garantiram seu crescimento desordenado. Proliferaram os gigantescos edifícios de apartamentos conjugados, resultando num enorme crescimento demográfico e alterando o caráter predominantemente residencial do bairro. O quadro sociocultural de Copacabana é bastante complexo e diversificado, dotando-o de uma dimensão cosmopolita. O bairro absorveu não só pessoas de origem nacional e regional distintas mas, progressivamente, de diferentes origens, estratos e trajetórias sociais. Embora existam prédios de maior luxo ou exclusividade, onde se mantêm as fronteiras socioeconômicas tradicionais, houve em Copacabana oportunidade para uma mobilidade social que imprime ao bairro uma heterogeneidade particular em relação aos demais bairros da Zona Sul da cidade. Apesar de sua desvalorização nas últimas décadas, efeito da expansão da cidade para os bairros de São Conrado e Barra da Tijuca, Copacabana permanece no imaginário internacional como símbolo do Rio de Janeiro, atraindo visitantes de toda parte e figurando como tema em livros, músicas, filmes e fotografias. Copacabana continua sendo um bairro emblemático, carregado
de significados para toda a sociedade brasileira. As leituras são diferenciadas, mas a heterogeneidade e a intensidade da vida copacabanense permanecem despertando o interesse e a curiosidade de turistas, intelectuais, visitantes e de seus próprios moradores.


17

Rejeitada por alguns, extremamente valorizada por muitos, Copacabana expressa, dramaticamente, problemas de interação, convívio e tensão social. (...) cria-se uma organização social do espaço urbano em que há uma interação permanente de vizinhança entre categorias que ocupam posição bastante desigual na estrutura social, com relações ambíguas de reciprocidade e conflito. Com sua população diversificada sob todos os aspectos, com contrastes agudos e estilos de vida diferenciados, há características únicas no bairro, que fascinam e repelem. São vários os mundos copacabanense e essa coexistência mais ou menos precária, às vezes conflitiva, muitas vezes cordial, há muito acompanha sua identidade complexa. VELHO, GILBERTO


18

PESQUISA DE CAMPO

Acredito que um dos caminhos poderia ser o de trabalhar como se encontrássemos em um estado de “necessidade”, de modo que poderia definir como ética: ver como se fosse a primeira e a última vez. Esta postura determinaria um olhar aprofundado, menos superficial (...); alheio a tentar buscar um estado privilegiado ou uma imagem-momento absoluta, mas alongando e alargando o espaço e o tempo do olhar, oferecendo uma nova profundidade e também novos sentimentos às nossas percepções. GHIRRI, LUIGI

Em minhas primeiras idas a campo, munida de uma câmera de celular e um bloco de notas, caminhei a esmo nas principais avenidas e ruas transversais de Copacabana, adentrando galerias, prédios e estabelecimentos comerciais, registrando tudo aquilo que me chamava a atenção.


19

O que mais me inquietou nesses trajetos iniciais, causando a um
só tempo fascínio e aversão, foi a vulgaridade das identidades visuais, assim como a estética de gambiarra que predomina nos estabelecimentos do bairro. Letreiros, sinalização, mobiliário urbano – tudo expressa desordem, precariedade e excesso. Com poucas exceções, não há qualquer pensamento sistemático na comunicação, e o conjunto resulta numa confusão à qual nosso olhar rapidamente se torna insensível. Por outro lado, há também belíssimos prédios no estilo art déco, que preservam suas construções em mármore, portas de ferro estilizadas e ornamentos geométricos. Essa interessante combinação entre o vernacular comercial e a sofisticação arquitetônica exprime com propriedade o caráter plural e heterogêneo de Copacabana, afirmando sua condição de microcosmo do Rio de Janeiro. Apesar do ambiente desarmonioso, o bairro explicita de forma autêntica as múltiplas identidades cariocas, revelando a diversidade uma cidade que se quer partida, mas é de fato misturada. Vejo na poluição visual e na feiura de Copa um trunfo do real sobre as representações e uma metáfora para uma sociedade que repele suas desigualdades, mas não consegue escondê-las. A onipresença da comunicação visual vernacular e vulgar insiste em afirmar, em sua irônica banalidade, que o espaço urbano é lugar de diferenças. Neste primeiro momento de reencontro com o bairro, registrei numerosos exemplares de comunicação visual interessantes e desconcertantes que encontrei pelo caminho, criando um arquivo de tipografias, formas e técnicas utilizadas. Atentei sobretudo às vitrines e banners e suas aplicações muitas vezes equivocadas de identidades visuais igualmente assistemáticas e amadoras: questões como fechamento de arquivo, mistura de tipos, formatos e sobreposições. Também fotografei os típi-


20

cos e por vezes soberbos letreiros de latão volumétricos nas fachadas dos prédios modernos, assim como portarias suntuosamente ornamentadas no estilo déco.Para melhor organizar este arquivo, subdividi as imagens em sete categorias, conforme características visuais que identifiquei no bairro e que desejava incorporar no trabalho: ¶¶ aridez urbana -- verticalidade -- impessoalidade -- atmosfera opressora ¶¶ gambiarra -- reapropriação -- adaptação -- inventividade ¶¶ herança déco -- ornamento -- simetria -- geometria ¶¶ ecletismo -- mistura de estilos -- referências históricas e estilísticas -- kitsch ¶¶ vernacular comercial -- vulgaridade -- sobreposição / excesso -- mistura tipográfica ¶¶ exotismo -- souvenir -- caricatura -- kitsch




23

¶¶ singeleza -- ofício -- tradição -- resistência Num segundo momento percebi que, para me aprofundar na pesquisa e satisfizer a motivação por trás do projeto, eu precisaria permanecer por mais tempo nos lugares, passando a uma observação etnográfica e me permitindo também o encontro com as pessoas. Apesar de estar realizando uma extensa pesquisa de imagens, eu ainda não havia mergulhado no desafio ao qual me propusera inicialmente, que envolvia dispor do meu tempo e me abrir ao encontro com o inesperado. Sendo assim, deixei a velha eficiência de lado e passei tranquilas tardes sentada em bancos das praças do Lido, Serzedelo Correia e Bairro Peixoto, assim como num ou noutro boteco, observando os tipos humanos e a movimentação, e também puxando conversa com pessoas
que se sentavam ao meu lado. Pude atentar à polifonia de Copacabana, tanto literal - do guincho dos ônibus da Barata Ribeiro ao surpreendente silêncio da agradável praça do Lido - quanto metafórica, relacionada às diferentes vozes, percursos e realidades das pessoas com quem me encontrei. Nesta etapa, passei a fazer gravações de áudio, vídeo e registros escritos de tais experiências que, somados ao arquivo fotográfico, se tornaram a matéria prima do projeto.


24

PONTOS NORTEADORES

The photographer is an armed version of the solitary walker, reconnoitering, stalking, cruising the urban inferno, the voyeuristic stroller who discovers the city as a landscape of voluptuous extremes. Adept of the joys of watching, connoisseur of empathy, the flâneur finds the world “picturesque.” SONTAG, SUSAN.

A estética comercial vernacular kitsch característica das principais avenidas do bairro me impeliu a fazer um projeto eminentemente visual, no qual seria possível me apropriar dos atributos do bairro e transpô-los para a linguagem gráfica. O acúmulo de informações de distintas naturezas que caracterizam o bairro e a atual predominância da comunicação visual produzida por meios digitais foram um convite para desenvolver as imagens num âmbito digital, convergindo ruídos analógicos e digitais em busca de captar a atmosfera copacabanense. Como resultado de minha experiência de campo, identifiquei como principal conceito do trabalho o ruído. Segundo o dicionário Aurélio, ruído é qualquer som indistinto, sem harmonia. Já o Dicionário Informal o qualifica como o som ou conjunto de sons indesejáveis, desagradáveis, perturbadores. No estudo da


25

comunicação, é considerado ruído tudo aquilo que interfere na recepção correta da mensagem, uma confusão que pode decorrer do desconhecimento dos sinais ou meios adequados para a comunicação por parte do emissor. Ruído também traz em seu bojo significados de sobreposição, complexidade
e polifonia, que exprimem tanto os aspectos visuais do bairro quanto os socioculturais. Transcrevo as palavras da artista visual Rosa Menkman, cujo trabalho encontrei ao pesquisar sobre ruído visual: Noise can stand for often undesirable, unwanted, other and unordered disturbance, break or addition within the signal of useful data.
Here noise exists within the void opposite to what has a meaning. Whichever way noise is defined, the negative definition also has a positive consequence: it helps by (re)defining its opposite (the world of meaning, the norm, regulation, goodness, beauty and so on). Noise thus exists as a paradox; while it is often negatively defined, it is also a positive, generative quality (that is present in voids generated by a break but also powers that from the traditional and to open it up. MENKMAN, ROSA

Essas conotações negativas de ruído interessam à realização de minha motivação inicial, que é poder acolher a diferença e
me apropriar e transformar o que é entendido como erro. Ao construir imagens a partir do ruído, do vulgar e da confusão, estou também fazendo um questionamento mais amplo sobre o papel do design na sociedade e sua prerrogativa estética educadora e harmonizante. Acredito ser possível olhar para a confusão visual de Copacabana e identificar a riqueza e beleza que surgem da inventividade da comunicação intuitiva e até mesmo daquela vulgar e massificada. Percebo também que, uma vez que este


26

ruído se tornou disponível para apropriação estética, há uma indício de que a linguagem digital já é anacrônica. A vontade de estabelecer uma relação com as mídias que não a de consumo impele à ressignificação das mesmas. Para além disso, busquei um processo de criação que me permitisse o descontrole
e o erro. A intuição, acredito eu, é o principal meio pelo qual diversos comerciantes do bairro criam e aplicam suas estratégias de comunicação. Desprovidos de uma formação
ou consultoria em design, esses empreendedores geralmente produzem peças cuja função básica é chamar atenção, mas que também possuem atributos visuais marcados pela subjetividade, pelo afeto e pelas limitações técnicas e de produção que se impõem. Interessa-me o fato de que, apesar de inadvertidamente transmitirem uma enorme quantidade de significados aparentemente inadequados a um entendedor por meio de tipografia, imagens, cores e técnicas de impressão, essas peças logram ao se comunicarem com seu público alvo e muitas vezes geram surpreendentes contrastes, misturas e sobreposições. O filósofo Henri Bergson, ao afirmar que a intuição é a linguagem da metáfora e sua contrapartida, a razão, é a linguagem do conceito, fornece um embasamento intelectual para um método de design que é aparentemente anti-intelectual. Segundo Kerrie Jacobs, no campo intelectualizado da teoria do design gráfico, é praxe a criação de discursos para justificar e dar credibilidade a escolhas visuais. Usamos a teoria para amainar e gerenciar a realidade, pois quando conceituamos, excluímos todos os outros processos que ocorrem na criação e que são de natureza irracional e não linear. Apesar de a ética mercadológica pautar diversas escolhas, há sempre um ato intuitivo ignorado e desvalorizado nos empreendimentos. Em consonância com essa reflexão, procurei acolher o descontrole e a intuição como elementos dinâmicos essenciais ao meu


27

processo criativo e à própria geração das imagens. Sendo assim, busquei utilizar ferramentas e procedimentos generativos, nos quais eu não poderia controlar diretamente a aparência do resultado final. Quis experimentar também com linguagens e técnicas nas quais sou pouco versada, como a programação e a edição de som. De um modo análogo à geração de peças gráficas e às gambiarras encontradas nas ruas, por vezes criadas sem o domínio técnico adequado mas inventivamente, busquei trabalhar de modo intuitivo, inclusive utilizando softwares cujas finalidades não são o tratamento de imagens para este fim. Procurei aproveitar e me apropriar de todos os ruídos que surgiam deste “mal uso”, aplicando o raciocínio imediato e material, bastante característico da nossa cultura, numa postura de abertura de minha parte diante das surpresas do acaso e dos erros que ocorrem durante o ato de projetar.


28

REFERÊNCIAS CONCEITUAIS E VISUAIS

A obra de April Greiman foi uma importante fonte de pesquisa para o trabalho. A designer foi pioneira no uso da tecnologia
de equipamentos de vídeo e digitalização
e de softwares, abrindo novas frentes de comunicação visual. Seu trabalho é um marco na criação de enunciados autorreferenciados, usando o computador como ferramenta para gerar novas possibilidades de experimentação autoral. A aparente incoerência da composição é um retrato da esquizofrenia pós-moderna e o tom expressivo do cartaz coloca um claro desafio à ordem, à clareza e à impessoalidade do modernismo suíço. Outra referência de conceitual determinante foi o grupo inglês de vanguarda arquitetônica Archigram, formado nos anos 1960 na Inglaterra e marcado pela postura futurista, anti- heroica e pró-consumista. Peter Cook, Warren Chalk, Ron Herron, Dennis Crompton, Michael Webb e David Greene, arquitetos e designers, se inspiravam na tecnologia para criar realidades inusitadas, expressadas em projetos hipotéticos. Nos mais de 900 desenhos e colagens produzidos pelo coletivo marcados pela sobreposição e pelo excesso, foram projetadas megaestruturas arquitetônicas que postulavam um claro desafio ao pensamento modernista vigente, num “insulto à funcionalidade”. Os textos de Fausto Fawcett, o bardo de Copacabana, foram inspiração constante para um olhar simultaneamente cru e afetivo às particularidades do dia a dia do bairro. Santa Clara Poltergeist, em especial, dialoga bastante com minha pesquisa em sua associação do caos copacabanense à realidade digital. Uma importante referência de linguagem foram os cartazes dos alemães Uwe Loesch e
do estúdio de design CYAN Berlin, que possuem tratamentos gráficos que se relacionam diretamente com os conceitos de complexidade e polifonia. A estética do design gráfico oriental,
por sua vez, muitas vezes me remete a
atributos copacabanenses, sobretudo no uso de cores vibran-


De cima para baixo, da esquerda para a direita: peรงas produzidas por Uwe Loesch, Darius Ou Dahao, April Greima e CYAN Berlin. Ao lado, capa do livro Santa Clara Poltergeist, de Fausto Fawcett.


Desenho do grupo Archigram e pรกgina dupla do livro (based on a true story), de David Alan Harvey


31

tes, sobreposições e elementos kitsch, como no trabalho de Darius Ou Dahao. Finalmente, o livro (based on a true story) do fotografo Brian David Harvey, coincidentemente sobre o Rio de Janeiro, me revelou uma nova possibilidade de apresentação das imagens, sem encadernação, que foi determinante para o projeto gráfico da publicação.


32

EXPERIMENTAÇÕES

¶¶ interação virtual Nos primeiros estudos realizados, estava interessada em conceber uma experiência interativa virtual na qual eu poderia utilizar o material coletado na pesquisa de campo. Utilizando o ambiente de desenvolvimento do Processing, busquei tanto possibilitar a interação do usuário com a plataforma quanto elaborar um sistema generativo, calcado em dados concretos de minha experiência de campo. No primeiro estudo, animei frases que ouvi de pessoas que encontrei nas ruas de acordo com as frequências sonoras das gravações de áudio desses mesmos locais, gerando uma sobreposição tipográfica que também representa a estética
do bairro. Os intervalos entre as frequências alteram tanto o posicionamento quanto o tamanho das palavras até o ponto em que não é mais possível lê-las, apenas observar sua gradativa fusão e o preenchimento da tela. Apesar de explicitar a confusão tipográfica do bairro, este resultado não me transmitiu a faceta kitsch de Copacabana que desejava explorar. No segundo experimento, busquei trazer um elemento cartográfico interativo e assim comecei um mapa tipográfico, no qual as ruas são representadas por linhas de texto com seus nomes. Uma vez clicada a área correspondente àquela rua, o som gravado no local começa a tocar e as letras do nome tem suas coordenadas alteradas de acordo com a frequência sonora da gravação. O usuário poderia clicar em diversas ruas, sobrepondo tanto os sons como as letras, criando uma desordem visual e geográfica. Apesar de me agradar esteticamente, este resultado possuía mais relação com os aspectos conceituais e abstratos do projeto, e não tanto com a estética vulgar de Copacabana que desejava incorporar ao trabalho. Sendo assim, criei um terceiro experimento, no qual um mapa feito por linhas que repre-


33

sentam as ruas possui botões que, uma vez clicados, disparam imagens, sons e vídeos gravados nos locais. Apesar de possuírem desdobramentos ricos, sentir que a programação me permitia prever os resultados finais, apenas dando uma aparência de ruído. Percebi então a necessidade de ir além dos estudos de interação virtual e desenvolver uma linguagem visual que dotaria o projeto da estética buscada por mim, incorporando o erro e o ruído no próprio processo de feitura. Sendo assim, resolvi trabalhar com as imagens fotografadas com o celular, feitas inicialmente apenas com o intuito da pesquisa de campo. ¶¶ datahacking Pesquisando sobre imagens digitais, que hoje dominam grande parte da comunicação visual de Copacabana, aprendi sobre o datahacking ou databending, termo que designa a alteração de informações em formato RAW, ou seja, do formato que contém a informação completa do arquivo, de modo a alterar a interpretação das mesmas pelos softwares e assim gerar inesperados erros de visualização. Conheci também o procedimento chamado pixel sorting, ou ordenação de pixels, que reorganiza os elementos compositivos de uma imagem segundo um princípio ordenador como cor, brilho ou saturação, modificando completamente sua aparência. Pude perceber que, com esses métodos, eu poderia realizar processos quase opostos mas nos quais, em ambos, a desconstrução da imagem acontece por meio do acolhimento do ruído, do descontrole e do erro na composição. Com o databending, eu poderia acrescentar mais informações até o ponto de saturação da imagem, como acontece nas ruas de Copacabana, assim desconstruindo a paisagem; além de usar métodos quase instantâneos de geração de imagens por meio da conversão e compressão de arquivos em formatos equivo-


34

cados, numa analogia às peças de comunicação encontradas no bairro e feitas sem qualquer esmero visual. Além disso, o databending compreende o tratamento de imagens em softwares que não foram feitos para tanto, levantando uma interessante questão sobre as possibilidades que a linguagem de programação permite, assim como a limitação das já tradicionais ferramentas digitais do designer. Já com o pixel sorting, que reorganiza os pixels de uma imagem objetivamente segundo princípios visuais, eu poderia expressar minha vontade e pretensão ordenadora de designer ao ponto da descaracterização total das imagens. Esta contradição está presente na minha reflexão sobre a cidade: embora eu possa rejeitar a comunicação visual amadora feita no bairro, reconheço o mérito e a legitimidade do vernacular comercial e mesmo da comunicação digital vulgar, que enfeia a paisagem, mas que logra em comunicar com seu público alvo. Os dois procedimentos, portanto, geram ruídos que têm interseções não somente com a linguagem de Copacabana, mas também com meu desejo de assimilação do erro, de abertura para o desconhecido e do encontro com o inesperado, tanto o real quanto o virtual. Em ambos métodos, o resultado só é acessível depois de realizadas as modificações e exportada a imagem, de modo que esse descontrole compositivo se torna inerente ao processo. Esses scripts também trazem à tona uma importante reflexão sobre a representação no design. Segundo Manon e Temkin, percebemos a imagem digital como um simulacro do analógico, aparentemente fluida e contínua. Um erro ou glitch nos arquivos, no entanto, expõem as tramas que compõem esses formatos, nossa dependência deles e a suas limitações de interpretação. Numa definição do professor Jeffrey Thompson, pixel sorting é “o processo de tirar pixels de uma imagem digital e recolocá-los


Acima, frame de experimento no qual o posicionamento, cor e tamanho das letras de frases que ouvi em campo são alteradas de acordo com as frequências sonoras das gravações de áudio feitas nos locais. Ao lado, frames da interação que ocorre quando um botão é acionado num mapa do bairro, disparando a exibição de um vídeo gravado no lugar.


Ao lado, frames da interação que ocorre quando uma linha de texto que corresponde a uma rua é selecionada, fazendo tocar a gravação de áudio daquele lugar e ativando a alteração das coordenadas y das letras conforme as frequências sonoras. Abaixo, uma imagem em cujo código foram adicionados trechos de Santa Clara Poltergeist, e outra na qual foram inseridos dados de latitudes e longitudes da rua retratada num editor hexadecimal.


37

numa aparência de ordem.” Este significado me pareceu pertinente, pois a aparência de ordem não necessariamente instaura a ordem, o que também poderia ser dito para diversos processos de design. Sendo assim, criei subprocessos de pixel sorting e databending para torná-los ainda mais coerentes com minha pesquisa. Quis explorar a fundo as possibilidades de desconstrução da imagem digital, experimentando com os limites de diferentes softwares. Esses procedimentos que convidam a ordem e o caos geram resultados surpreendentes, estranhos e belos, adjetivos que eu certamente usaria numa descrição do bairro de Copacabana. • databending Para realizar o databend, parti do princípio do acréscimo e sobreposição de informação e o acolhimento do acaso na desconstrução da imagem. Para tanto, apliquei os seguintes métodos: 1. Modificação dos parâmetros de arquivos RAW Arquivos RAW, por não serem comprimidos, devem ser abertos por softwares com os parâmetros exatos de sua criação. O Photoshop permite, ao abrir um arquivo nesse formato, que se modifiquem os valores de canais de cor, largura e altura, assim como de interlacing, que é a codificação de entrelaçamento dos pixels da imagem. Associei este processo aos erros de formato e compressão que geram distorções bastante comuns no espaço urbano no tangente à comunicação visual, como tipografias deformadas, resoluções equivocadas e imagens distorcidas. Experimentei muitas leituras possíveis das fotografias que tirei de Copacabana, obtendo texturas vibrantes e berrantes que, apesar de interessantes, beiram a abstração e remetem mais a questão dos pixels do que à realidade do bairro.


38

2. Edição de dados num editor de texto Arquivos de imagem permitem a leitura e edição do código por softwares de edição de texto. Ao refletir sobre como eu poderia alterar a imagem por este método, me pareceu interessante preencher todos os espaços vazios e endentações
do código com textos relacionados à Copacabana, num processo análogo ao que ocorreu no bairro, hoje absolutamente saturado de construções e informações. Sendo assim, realizei experimentos no Mac TextEdit com textos de diversas naturezas: anotações que fiz em campo, transcrições de falas de pessoas com quem conversei e citações do livro do “Santa Clara Poltergeist”, de Fausto Fawcett, que narra o submundo copacabanense. Neste último experimento, contei as linhas vazias do código e busquei o número da página do livro que correspondia a ele, então transcrevendo-a no editor de texto. Esses estudos resultaram em imagens com cores e posicionamentos de trechos alterados, mas nas quais ainda se compreende o conteúdo. Fotos banais geraram cenários intrigantes e misteriosos, com aspecto de uma colagem geométrica. Apesar de me interessarem como textura, esses glitches resultam mais em fragmentação do que em sobreposição, além de remeterem a experimentações digitais um tanto datadas da década de 1990. 3. Edição de dados por um editor de hexadecimal O hexadecimal é um sistema de números e letras que representam os números binários e os bytes de um arquivo, no qual são utilizados apenas os caracteres A-F e 0-9. Cada quatro pares de bytes, num certo local do código da imagem, corresponde à cor de um pixel. Para modificá-los com esse método, utilizei o software 0xED para acrescentar dados de latitude e longitude dos locais onde as fotos foram tiradas, correspondendo a quatro bytes a cada. Esta inserção enseja mudanças nas cores e no aspecto das imagens que geram resultados similares aos


39

do método anterior, mas com mais recortes e alguns trechos onde há apenas informação de cor, manifestando fragmentação e confusão de modo mais contundente. 4. Sonificação Sonificar, em databend, significa acrescentar ruídos sonoros, também em formato RAW, ao código da imagem. Usando softwares de mixagem de som como o opensource Audacity, é possível ler arquivos de imagem como áudio, misturar arquivos sonoros e visuais e salvá-los em bitmap, possibilitando a visualização como imagem. Aqui, experimentei com diferentes processos, como sobrepor as ondas sonoras de duas imagens, acrescentar efeitos de som à onda sonora de imagens e acrescentar o som do arquivos de áudio gravados no lugar à onda de som de imagens. Este método produziu os resultados literalmente mais ruidosos, por conterem o desenho das ondas de som que se assemelham à imagens de estática. Essas imagens são as mais confusas e berrantes, tamanho o excesso de informações e a saturação de
cores. Como processo, este também é um dos mais pertinentes, uma vez que mistura os ruídos visuais e sonoros numa nova imagem, fundindo o analógico ao digital. Como resultado visual, esses experimentos certamente expressam a estética kitsch e o digital vulgar de Copacabana, além terem uma gama de possibilidades muito mais extensa e, portanto, mais surpreendente. • pixel sorting Como uma outra possibilidade oposta e análoga de tratamento de imagem, optei pelo pixel sorting, processo de organização de pixels usando algoritmos que remeti à pretensão ordenadora
do designer. Apesar de ainda não ser possível prever o resultado final, o método é pré-determinado e domestica o erro, gerando uma certa previsibilidade, tal qual ocorre no processo criativo de design.


40

A partir da adaptação de diferentes códigos disponibilizados por artistas e programadores na internet, pude experimentar com a separação de pixels por diversos valores, como cor, brilho, saturação.
Os resultados abrangem de suaves distorções na imagem à composições totalmente abstratas, que resumem as fotografias à pura cor. Usando um código adaptado do artista Kim Asendorf que cria uma estrutura de pixels a partir dos valores de brilho da imagem, produzi resultados que transmitem movimento e fusão, mas nos quais ainda é possível identificar figuras, letras e objetos. Modifiquei diversos valores para que a imagem fosse alterada a partir do valor mais claro, do mais escuro e de preto presentes na imagem. Algumas áreas fundem-se totalmente por possuírem valores análogos de brilho, gerando regiões totalmente pixeladas e homogêneas. A estranheza desse resultado é muito rica e complexa, por demandar do leitor um olhar mais atento para compreender sua estrutura. Um outro código disponibilizado por Jeffrey Thompson, professor da Visual Art & Technology do Stevens Institute of Technology,
tem como princípio é a iteração e substituição dos pixels de uma imagem a partir do valor mais alto de cor RGB. Aqui, o resultado é mais gráfico, reticulado, enfatizando as formas tipográficas e as cores predominantes da imagem. Ambos os procedimento desconstroem pela organização, mas não ocultam a essência de Copacabana.


As duas primeiras imagens foram geradas a partir da mixagem e renderização das ondas sonoras extraídas de duas fotos diferentes no software de edição de som Audacity. A terceira foto resultou da mixagem das ondas sonoras extraídas das fotos ao arquivo de áudio gravado no local.


Nesta página: imagens cujas ondas sonoras foram modificadas por efeitos de som como eco, mudança de tempo e reverberação no Audacity. Na página ao lado: distorções feitas ao abrir o arquivo RAWno Photoshop e inserir dados diferentes de leitura da imagem, como largura, canais de cor e interlacing.




Sequências de imagens que sofreram pixel sorting no Processing, com differentes adaptações de um código que aproxima áreas com valor de brilho semelhante. A última imagem à esquerda é o resultado da iteração de pixels de um outro código, que substitui e itera os pixels a partir do valor mais alto de cor RGB.



PARTIDO ADOTADO

47

Tendo realizado um grande volume de experimentações, adaptando os códigos de Processing e fundindo diferentes imagens a gravações de áudio, concluí que as imagens resultantes eram muito potentes em suas representações do bairro e deveriam ser as protagonistas do projeto. Sendo assim, optei pelo suporte impresso, e decidi elaborar uma publicação para receber esses resultados de natureza digital, trazendo-os à interação analógica que esta mídia proporciona. O momento de seleção das imagens foi bastante difícil, mas percebi a necessidade de delimitar as técnicas de edição a fim de torná-las coerentes entre si e também com o meu olhar sobre Copacabana. Sendo assim, decidi desenvolver a oposição organizar vs. desorganizar, em consonância com minha relação conflituosa com a desordem, gambiarra e ruídos copacabanenses. Deste modo, selecionei apenas as imagens que surgiram da mixagem dos arquivos de áudio aos das fotografias e também aquelas que resultaram dos algoritmos de reordenação de pixels feitos no Processing. A primeira categoria é fruto da saturação de informação do código das imagens e da fusão de ruídos sonoros e visuais, tal qual ocorre em Copacabana. Nestes resultados estão evidenciadas a sobreposição, as cores vibrantes e a confusão visual. Já do segundo procedimento decorre uma homogeneização virtual das imagens, cujos pixels são organizados segundo um princípio ordenador de valor de cor ou brilho. Nesta reconfiguração está embutida tanto o desejo quanto a crítica à pretensão embelezadora ou harmonizadora do designer, que apesar de descaracterizar algumas áreas da imagem, ainda permite transparecer a complexidade e a essência de Copacabana. Os dois tratamentos trabalham com sobreposição e fusão ao invés de fragmentação, assim atendendo à realidade heterogênea de Copacabana.


48

Em ambos os métodos, o resultado tem uma certa imprevisibilidade, pois só é possível visualizar a imagem final após a exportação dos respectivos softwares que realizam os processos de mixagem ou de reordenação dos pixels. A contingência é maior no tratamento que funde ruídos sonoros e visuais, pois as sobreposições e cores são totalmente inesperadas; enquanto na reordenação de pixels há um algoritmo que pré-determina as modificações, mas cujos resultados práticos são evidentes apenas com a experimentação de fato. Nos dois, entretanto, o ruído está presente, estetizando os erros que advêm de sua própria natureza digital. Cabe ressaltar que as fotografias que serviram de base para as experimentações não tinham este propósito inicialmente – eram registros da pesquisa de campo apenas, feitos com câmera de celular em baixa resolução e sem qualquer tratamento posterior. Dessas capturas do cotidiano banal sem finalidade estética, figurando a vulgaridade e a confusão características do bairro, brotaram imagens estranhamente belas, pondo em xeque a noção de feiura comumente atribuída ao lugar. Todos estes processos de criação e edição das imagens falam diretamente ao meu desejo inicial de acolher o acaso no processo de trabalho, como na assimilação da alteridade inerente aos próprios dados brutos e ao descontrole de processos autômatos, tal qual a mixagem feita pelo software de edição de som. Mais ainda, acredito que tenha conseguido convidar o descontrole projetual para minha própria vida, uma vez que os resultados estão inexoravelmente conectados à minha experiência de abertura à cidade e à fruição do espaço urbano.


PRODUTO FINAL

49

¶¶ projeto gráfico Fazer a composição do livro se mostrou um projeto bastante desafiador: como apresentar todas estas vivências de Copacabana, traduzidas em experimentações visuais? E como transformar esta experiência estática em algo interativo, dinâmico e imersivo? Uma grande referência para o projeto gráfico foi o livro (based on a true story), do fotógrafo David Alan Harvey. Nele, as páginas de fotos não são encadernadas, criando dípticos e permitindo ao leitor a elaboração de diferentes narrativas por meio da reordenação das páginas. A ideia de apresentar o livro em lâminas soltas me pareceu bastante adequada ao não preciosismo que eu buscava imprimir ao projeto. A complexidade das imagens e suas referências às largas avenidas do bairro também demandavam um formato grande, expressivo, como um cartaz que envolveria o leitor na atmosfera copacabanense. Sendo assim, selecionei 50 imagens que foram impressas sangradas em 25 lâminas de papel offset 90g/m3 medindo 57cm x 32cm, o maior formato possível para impressão digital, na proporção das fotografias. Estas lâminas, uma vez dobradas na metade, permitem o acontecimento de inesperados encontros entre diferentes imagens, sobrepondo contrastes e fazendo dialogar as alteridades de Copacabana. Nesses dípticos também estão em relação dialética as vontades de organizar e desorganizar, a saturação e a homogeneização. Há momentos de simetria, onde uma mesma imagem foi editada com tratamentos distintos, e o encontro revela o que cada um faz aparecer ou desaparecer das mesmas. Uma vez chegando à metade do livro, o leitor passa a se deparar com as mesmas imagens, mas ao que nelas não lhe havia antes sido revelado. Este ato de “rever” de uma forma totalmen-


50

te diferente traduz esta transformação do olhar que busco no cotidiano, convidando às mesmas paisagens de sempre novos encontros e descobertas. O percurso original, no entanto, é passível de apropriação e recomposição pelo leitor, que pode desconstruir e reconstruir a pilha de imagens, vê-las por inteiro ou em relação com outras, destacá-las ou agrupá-las como desejar. Tal qual uma caminhada em Copacabana, a cada leitura, um novo roteiro pode surgir e um outro encontro surpreendente pode acontecer. O livro não contém texto ou números de páginas; há apenas uma lâmina atravessada entre a primeira e última páginas, contendo o texto de apresentação do trabalho e os créditos, cólofon e agradecimentos, respectivamente. Ponderei longamente sobre a possibilidade de incluir os códigos das imagens ou explicações sobre como as mesmas foram feitas, mas decidi deixar que uma leitura mais aberta e vivencial ocorresse apenas por meio das imagens. ¶¶ nome e lettering Encontrar um nome para o projeto foi uma árdua tarefa que perdurou até os últimos momentos do curso. O título não deveria ser muito explicativo, nem muito óbvio; poderia conter um certo humor, mas sem reduzi-lo apenas a este aspecto do projeto; e precisaria explicitar tanto os elementos reais do bairro a que as imagens fazem referência quanto o ambiente digital em que elas foram produzidas. Depois de muitos jogos de palavras, inversões de letras e neologismos, cheguei à CPCBN, que seria uma abreviação do nome “Copacabana” contendo apenas as consoantes. O hábito contemporâneo de reduzir e simplificar palavras tem relação direta com o uso das tecnologias digitais, e o projeto de fato é uma releitura do bairro através dessas ferramentas. Ao mesmo tempo,


51

CPCBN é uma corruptela do nome Copacabana, em mais uma referência ao erro e ao ruído que são os pontos norteadores do trabalho. Para desenvolver um lettering, busquei uma tipografia que remetesse ao vasto acervo de letreiros déco que construí em minha pesquisa de campo. Optei pela tipografia Frontage, cujas formas geométricas e limitação à caixa alta dialogam com estas tipografias modernas espalhadas por Copacabana. O tipo também dispõe de um estilo 3d, volumétrico, que tem eco nas formas tridimensionais das inscrições em latão e nos nomes impressos nas vitrines do comércio tradicional do lugar. Como tipografia auxiliar, utilizada na lâmina de apresentação do projeto e nos créditos, optei pela Fugue e seu subtipo mono, reforçando o contraste entre analógico e digital e o moderno e o contemporâneo. lettering

CPCBN Frontage 3D

tipografia auxiliar

abcdefghijklm nopqrstwuvxyz 0123456789

abcdefghijklm nopqrstwuvxyz 0123456789

Fugue mono

Fugue regular


52

¶¶ embalagem Tendo optado por um livro sem encadernação, fez-se necessária a elaboração de uma proteção ou invólucro para contê-lo. Meu desejo era que também este elemento da publicação combinasse vulgaridade e sofisticação, ao modo de Copacabana, e concluí que um material plástico seria adequado para este fim. Sendo assim, desenvolvi uma pasta zip zap (com zíper plástico) de PVC transparente, medindo 37cm x 32cm. Confeccionei um clichê com o lettering do título do projeto e o imprimi em hot stamping em foil dourado numa face da pasta. A banalidade e vulgaridade do suporte de PVC, traduzidos por sua textura, transparência e qualidade industrial, contrastam fortemente com a aparência e técnica desta impressão mais sofisticada e artesanal, além do próprio lettering em tom metálico que faz referencia aos letreiros déco de Copacabana e que resultam nesta embalagem um tanto preciosa, um tanto kitsch.


53

ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS

¶¶ livro livro aberto (escala 1:10)

livro fechado

32cm

57cm

23,5cm

25,5cm

primeira página dupla com lâmina de apresentação

9,25cm

última página dupla com lâmina de créditos

formato aberto livro 57cm x 32cm formato aberto lâmina 25,5cm x 19,5cm

25,5cm 9,25cm

papel livro offset 90g/m papel lâmina colorplus fidgi 85g/m acabamento corte e dobra


54

œœ embalagem pasta zip zap (escala 1:10) frente

37cm

verso

32cm

CPCBN

material pasta zip zap PVC cristal 2.0 formato pasta 37cm x 32cm acabamento hot stamping metalizado (frente)


ESPELHO DA PUBLICAÇÃO

Raepelis sene pos velia solorit eos untia cus volectur res min nosserrum et volluptat eium invent moluptassi occuptium, nonsequi untecerovit, con prem sus dolescitae nobit, uta con eumquam sunt facculp aruptas aut quat minum hariaep tatiori aectur andit aped ea consedisti verro tenduntis non rese nonserferem harchita a nos alis non cuptur? Faccabo rest. Raepelis sene pos velia solorit eos untia cus volectur res min nosserrum et volluptat eium invent moluptassi occuptium, nonsequi untecerovit, con prem sus dolescitae nobit, uta con eumquam sunt facculp aruptas aut quat minum hariaep tatiori aectur andit aped ea consedisti verro tenduntis non rese nonserferem harchita a nos alis non cuptur? Faccabo resti. Raepelis sene pos velia solorit eos untia cus volectur res min nosserrum et volluptat eium invent moluptassi occuptium, nonsequi untecerovit, con prem sus dolescitae nobit, uta con eumquam sunt facculp aruptas aut quat minum hariaep tatiori aectur andit aped ea consedisti verro tenduntis non rese nonserferem harchita a nos alis non cuptur? Faccabo resti. Raepelis sene pos velia solorit eos untia cus volectur res min nosserrum et volluptat eium invent moluptassi occuptium, nonsequi untecerovit, con prem sus dolescitae nobit, uta con eumquam sunt facculp aruptas aut quat minum hariaep tatiori aectur andit aped ea consedisti verro tenduntis non rese nonserferem harchita a nos alis non cuptur? Faccabo resti



Raepelis sene pos velia solorit eos untia cus volectur res min nosserrum et volluptat eium invent moluptassi occuptium, nonsequi untecerovit, con prem sus dolescitae nobit, uta con eumquam sunt facculp aruptas aut quat minum hariaep tatiori aectur andit aped ea consedisti verro tenduntis non rese nonserferem harchita a nos alis non cuptur? Faccabo rest. Raepelis sene pos velia solorit eos untia cus volectur


58

SUBPRODUTOS

Como desdobramento do projeto, desenvolvi souvenires a partir das imagens da publicação, me apropriando de suportes um tanto kitsch e vulgares como ímãs, chaveiros, canecas e pratos. Essas lembranças, como já o explica o nome, têm o poder de cristalizar a memória de um lugar em objetos do dia a dia. Geralmente, são estampados neles ícones que têm pouca relação com o cotidiano de fato e que não necessariamente representam nosso afeto ou olhar sobre ele. Busquei inverter essa lógica ao eternizar em objetos banais a desordem urbana, o comércio e as pessoas que estão diariamente nas ruas de Copacabana e sem as quais não existiria a atmosfera particular do bairro. Encomendei, apenas enviando a foto aos fornecedores, chaveiros de acrílico, pratos de pão, canecas de cerâmica e ímãs de geladeira. Ademais, optei por objetos que são produzidos industrialmente e cujos formatos e qualidades de impressão eu não poderia controlar. Para além do já citado acolhimento da contingência, esses pratos, canecas, ímãs e chaveiros foram confeccionados a partir de suportes padrão, criados por um outro designer ou mesmo não designer, sobre os quais apenas estampei as imagens que produzi. Vejo neste ato uma analogia à comunicação visual assistemática onipresente e ao uso indiscriminado e impensado de formatos, materiais, tipografias, cores e até de formas arquitetônicas no bairro. Ao me apropriar desses artefatos genéricos e neles imprimir imagens prenhes de vivências reais, eles se tornam totalmente íntimos e metalinguísticos.


FOTOS







CONSIDERAÇÕES FINAIS

65

Este trabalho representa o fim e o início de uma feliz escolha de mudança de vida. Há quatro anos eu entrava no curso, saída de uma realidade bastante árida de escritórios de advocacia, para mergulhar na interminável indagação sobre o que é o design. Neste último ano, pude postular e desenvolver em um projeto uma vontade que desde então me acompanha: a de me abrir para aquilo que não posso controlar e abraçar as contingências. Todo o processo de pesquisa e criação experimental do projeto me aproximou da compreensão do tipo de design que desejo fazer. Vagar por Copacabana a esmo para descobrir o que dali surgiria foi um prazer e um tormento para alguém que gosta de pensar que tem tudo sob controle. Me permitir o inesperado, o não saber e o encontro foi um aprendizado que quer reiterar em muitas outras áreas da minha vida. Diante do resultado, sinto que minhas dimensões autoral e afetiva finalmente se aproximam da profissional e da acadêmica. Que CPCBN seja apenas o começo de muitas andanças, olhares e encantamentos.


66

BIBLIOGRAFIA

Archigram. Disponível em: http://www.archigram.net/. Acesso em novembro de 2013. The Archigram Archival Project. Westminster University. Disponível em: http:// archigram.westminster.ac.uk/index. php. Acesso em novembro de 2013. ASENDORF, Kim. Kim Asendorf. Disponível em: http://kimasendorf. tumblr.com/. Acesso em março de 2014. BENJAMIN, Walter. 1983. Charles Baudelaire: A Lyric Poet in the Era of High Capitalism, Harry Zohn, trans, Londres. BERGER, ENEIDA e Paulo. História dos subúrbios: Copacabana. 1959. Departamento de História e Documentação da Prefeitura do Distrito Federal, São Paulo. BOUFLEUR, Rodrigo Naumann. A questão da gambiarra: formas alternativas de desenvolver artefatos e suas relações com o design de produtos. Dissertação de mestrado. FAU-USP. São Paulo, 2006. CALVINO, Ítalo, 1972. Cidades Invisíveis. São Paulo, Companhia das Letras, 1999. CARERI, Francesco, 2013. Walkscapes. O caminhar como prática estética. São Paulo, Editora G. Gili. CERTEAU, Michel de. 1990. A invenção do cotidiano. Artes de fazer. 20a edição. Petrópolis, Editora Vozes. FAWCETT, Fausto, 2001. Copacabana Lua Cheia. Coleção Sebastião, no.1. Rio de Janeiro, Dantes Editora. FAWCETT, Fausto. Santa Clara Poltergeist. Rio de Janeiro, Editora Eco. GHIRRI, Luigi. 1989. Paisagem Italiana. GHIRRI, Luigi. 1973. Paisagens de Papelão. HARVEY, David Alan. (based on a true story). Burn Books, 2012. Disponível em: http://www.burnmagazine.org/boats/. Acesso em junho de 2014. JACOBS, Karrie. William James on the Philosophy of Henri Bergson, in


67

A Pluralistic Universe. KAZ, Roberto. Tipos Cariocas. Artigo publicado na Revista do jornal O Globo, edição de 5 de agosto de 2012. Rio de Janeiro. LEVIN, Thomaz. Seminário Reading Glitch. Escola Superior de Desenho Industrial. Rio de Janeiro, 23 de maio de 2014. LUPTON, Ellen. The academy of deconstructed design. LUPTON, Ellen. Deconstruction and graphic design. MANON, Hugh S., TEMKIN, Daniel. Notes on Glitch. Disponível em: http:// worldpicturejournal.com/WP_6/Manon.html. Acesso em março de 2014. MENKMAN, Rosa. A guide to databend compression design. Amsterdam, August, 2010. Disponível em: http://rosa-menkman.blogspot.com. br/search/label/ Vernacular%20of%20File%20Formats. Acesso em março de 2014. MENKMAN, Rosa. Glitch Studies Manifesto. 2011. Disponível em: https:// dl.dropboxusercontent.com/u/98233618/Texts%20Rosa%20 Menkman/ Menkman%2C%20Rosa%20%282011%29%20-%20Glitch%20Studies%20 Manifesto.pdf. Acesso em março de 2014 O’DONNEL, Julia. 2013. A invenção de Copacabana. Culturas e estilos de vida no Rio de Janeiro .Rio de Janeiro, Zahar Editor. PONTES, Natércia, 2012. Copacabana Dreams. São Paulo, Cosac Naify. Prefeitura do Rio de Janeiro. Bairros Cariocas. Armazém de dados. Disponível em: http://portalgeo.rio.rj.gov.br/ bairroscariocas/index_bairro. htm. Acesso em novembro de 2013. REAS, Casey. FRY, Ben. Processing. A Programing Handbook for Visual Designers and Artists. SIMMEL, Georg. A Metrópole e a vida mental. SONTAG, Susan. 1977. On Photography. Penguin, London. SPECK, Jeff. Walkable Cities. Disponível em: https:// www.youtube. com/ watch?v=Wai4ub90stQ. Acesso em novembro de 2013.


68

TEMKIN, Daniel. Glitchometry. Disponível em: http://worldpicturejournal.com/ WP_6/Manon.html. Acesso em março de 2014. THOMPSON, Jeffrey. Processing Teaching Sketches. Disponível em: https:// github.com/jeffThompson/ProcessingTeachingSketches. Acesso em março de 2014. VELHO, Gilberto. 1999. Os Mundos de Copacabana In Antropologia Urbana. Cultura e Sociedade no Brasil e em Portugal. Rio de Janeiro, Zahar Editor. VELHO, Gilberto, 1994. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro, Zahar Editor. VELHO, Gilberto, 1973. A utopia urbana: um estudo de antropologia social. Rio de Janeiro, Zahar Editor. VENTURI, Robert e SCOTT-BROWN, Denise. Aprendendo com Las Vegas. Tradução: Pedro Maia Soares. Cosac Naify. Rio de Janeiro


69

Este relat贸rio foi composto em Neutra Text e Akkurat Mono. Rio de Janeiro, junho de 2014.


70


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.