eu, favela
Ana Luiza Mello Viviane Giaquinta
EU, FAVELA
DSG1003 / 2011.2 PROJETO DESENVOLVIMENTO ORIENTAÇÃO: Joao Bonelli e Simone Formiga
sumário INTRODUÇÃO.................................................................. 5 DESENVOLVIMENTO........................................................... 6 IDEIA INICIAL E PESQUISA PRELIMINAR.................................. 6 PESQUISA DE CAMPO.................................................... 8 PESQUISA TEÓRICA..................................................... 12 IDENTIFICAÇÃO DAS POSSIBILIDADES DE PROJETO....................... 13 ESCOLHA DA OPORTUNIDADE DE PROJETO............................... 16 PESQUISA SOBRE SIMILARES........................................... 16 PRIMEIRA IMERSÃO E FILMAGEM....................................... 17 DECUPAGEM E TRAILER................................................ 18 GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS............................................... 19 BRAINSTORMING E DESIGN DA ESTRUTURA DO ROTEIRO.................. 19 PLANEJAMENTO DA SEGUNDA IMERSÃO.................................. 22 SEGUNDA IMERSÃO E DECUPAGEM....................................... 23 MONTAGEM DO ROTEIRO E TERCEIRA IMERSÃO........................... 27 PARTIDO ADOTADO........................................................... 28 PRIMEIRA ETAPA DE EDIÇÃO E QUARTA IMERSÃO........................ 28 ESTUDOS DE LETTERING................................................. 29 FINALIZAÇÃO.................................................................. 31 CONCLUSÃO................................................................... 32 AGRADECIMENTOS........................................................... 33 BIBLIOGRAFIA................................................................ 35
INTRODUÇÃO
Ao refletirmos sobre o tema a ser desenvolvido no projeto, “turismo receptivo no Rio de Janeiro”, chegamos às favelas; locais tão emblemáticos de nossa cidade que, no entanto, ainda não recebem um fluxo de visitantes semelhante ao de outros cartões postais. A cultura das favelas é onipresente no imaginário carioca, mas poucos a conhecem de perto. Dados oficiais estimam que 20% da população do Rio de Janeiro habitam as favelas; ainda assim, há pouco registro a respeito da história e da cultura desses locais. Isto nos motivou a conhecê-los mais a fundo e a explorar oportunidades de agregar um olhar positivo e verdadeiro sobre as favelas. A recente implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) em diversas comunidades do Rio possibilitou o acesso livre e seguro a esses locais, o que não era possível anteriormente, tendo em vista o controle paralelo por parte do movimento do tráfico de drogas. No entanto, já se pode observar o início do chamado processo de gentrificação, decorrente da vertiginosa valorização imobiliária e do aumento nos custos de infraestrutura nas favelas. As tradicionais casas de moradores estão sendo substituídas por sofisticados albergues administrados por estrangeiros, ocasionando a perda da cultura comunitária. Após consideramos algumas possibilidades de projeto, optamos por desenvolver um curta-metragem na comunidade do Chapéu Mangueira, localizada no bairro do Leme. Essa escolha ocorreu em função da calorosa recepção por parte dos moradores e pela força de seus depoimentos, que nos abriram os olhos às consequências da política do atual governo. Nossa intenção é criar um arquivo oral dessa comunidade e alertar a população para que a cultura das favelas não se perca.
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desenvolvimento IDEIA INICIAL E PESQUISA PRELIMINAR
Na página oposta, o mapa do Plano Municipal Morar Carioca, mostrando os novos conjuntos habitacionais e a rota da motovia. Logo abaixo, o panfleto da trilha ecológica da Babilônia.
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Ao refletirmos sobre o tema do projeto, “turismo receptivo no Rio de Janeiro”, nos perguntamos quais lugares emblemáticos da cidade careciam de informação e destaque. Concluímos que as favelas do Rio têm um potencial pouco explorado, apesar da recente iniciativa de pacificação, que possibilitou o acesso seguro a alguns desses locais. Realizamos uma pesquisa inicial na internet, buscando por palavras-chave em sites de busca, como “turismo+favela+Rio de Janeiro”. Encontramos o informativo “Blog da Pacificação”, microsite do jornalista Camilo Coelho que se propõe a contar a história dos moradores de favelas e contém vídeos de suas visitas a diversas comunidades pacificadas, destacando pontos de interesse e serviços. Nessa busca, também deparamo-nos com muitos resultados relativos às comunidades da Babilônia e do Chapéu Mangueira, como o Chapéu Tour, que organiza passeios ecológicos pela área de proteção ambiental localizada na comunidade; o Chill Hostel e o Favela Inn, albergues situados nessas favelas; o Bar do David, um dos melhores colocados nos concursos gastronômicos Comida di Buteco e Rio Show Gastronomia, dentre outros. Também colhemos muitas informações sobre projetos e melhorias em andamento nessas duas favelas, a exemplo do Morar Carioca. Trata-se do Plano Municipal de Integração de Assentamentos Precários Informais da Prefeitura do Rio, cujo objetivo é garantir o acesso à moradia digna e infraestrutura urbana para a população de baixa renda por meio da construção de novas unidades habitacionais e da urbanização do acesso às comunidades. Nos interamos a respeito da CoopBabilônia, cooperativa local que há 11 anos faz serviços de reflorestamento no alto do morro com recursos de parcerias público-privadas, além de gerir uma escola de reforço para crianças. A UPP Verde, por sua vez, é um plano de orientação socioambiental em parceria com a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH). Pela relevância
do pacote de ações verdes e os resultados esperados, o governo pretende apresentar a “UPP Verde Chapéu Mangueira-Babilônia” como best case em sustentabilidade de comunidades pacificadas na Rio +20, conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável a ser realizada em 2012. Além disso, há ações previstas para incentivar pequenos empreendedores (Programa Investe Rio) e para capacitar guias de turismo locais (Programa Guias da Integração). Também encontramos o site do Museu de Favela (MUF), organização não governamental privada de caráter comunitário, fundada em 2008 por lideranças culturais das favelas Pavão, Pavãozinho e Cantagalo. O interessante texto da homepage afirma que se trata do primeiro museu territorial de favela do mundo, cujo acervo a céu aberto são os cerca de 20 mil moradores e seus modos de vida: Encontramos alguns dados sobre passeios turísticos em outras comunidades, mas a maioria era oferecida por agências externas às comunidades e dirigida ao turista estrangeiro, enfatizando o aspecto exótico e aventureiro do programa. No lugar de um intercâmbio cultural e sustentável, esses tours, por vezes oferecidos em Jeeps, se assemelham a safáris e perpetuam a visão negativa a respeito das favelas que é frequentemente divulgada no exterior. Portanto, diante dos resultados interessantes a respeito das favelas Chapéu Mangueira, Babilônia e Cantagalo, resolvemos fazer uma pesquisa de campo para melhor conhecer essas comunidades.
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PESQUISA DE CAMPO BABILÔNIA E CHAPÉU MANGUEIRA
Na página oposta, o Bar do David e um ângulo da vista do topo da Pedra do Urubu.
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A partir dos telefones disponíveis no site da CoopBabilônia, contatamos César Zerbinato, coordenador de ecoturismo da comunidade e marcamos uma visita à trilha. Nosso guia Jair, agente de reflorestamento, nos contou a história do projeto que já replantou e mantém 250,000 mudas de mata nativa no morro em parceria com o Shopping Rio Sul. A trilha circular pela área reflorestada é fácil e tem como ponto alto a vista do topo da Pedra do Urubu, de onde se podem ver as praias de Botafogo, Flamengo e Urca. Há casamatas que datam da 2ª Guerra e placas indicando espécies de árvores ao longo do caminho. Após a caminhada, conhecemos a laje do César, local com vista privilegiada da praia onde ocorrem feijoadas, as quais recentemente têm sido freqüentadas pelo atual prefeito Eduardo Paes e pelo Secretário de Segurança José Mariano Beltrame. Também fomos apresentadas ao presidente da cooperativa Palô, que nos revelou que o projeto de turismo é oriundo do reflorestamento e que se opõe ao turismo predatório e desordenado que ocorre em outras comunidades, visitadas como zoológicos por parte de agências externas que não oferecem retorno significativo aos locais freqüentados. Conversamos com Arthur Vianna, coordenador de audiovisual do Ponto de Cultura, local onde ocorrem exposições e cineclubes. Ele também trabalha na “Agência de rede para a juventude”, que financia projetos culturais dos jovens da comunidade. Finalmente, conhecemos o albergue Favela Inn, localizado no Chapéu Mangueira, e conversamos com Cristiane da Silva Oliveira, que administra o local desde o início do ano e recebe muitos turistas estrangeiros. Sentimo-nos extremamente acolhidas por todos e desfrutamos de um agradável passeio pela bela comunidade, que preserva seu lado rural e bucólico. Passamos por casas de pau a pique que lá se encontram há 70 anos e conhecemos pessoas que têm conhecimento sobre plantas medicinais, além de uma forte ligação com a terra em que habitam. Ficamos extremamente interessadas em investigarmos mais sobre a história do local e aprofundarmos nossa pesquisa com os moradores.
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CANTAGALO
Em nossa visita ao morro do Cantagalo, conhecemos a sede do Museu de Favela e sua diretora Márcia de Sousa. O objetivo do museu é reafirmar a identidade coletiva e recuperar a autoestima da comunidade. Lá, são realizados eventos culturais, oficinas artísticas, dentre outras ações comunitárias. O “acervo” do museu compreende todas as moradias do local e reúne “casas-tela”, com obras e histórias da comunidade pintadas e grafitadas nas paredes das habitações. Na sede, há grandes cartazes
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com fotos e depoimentos dos moradores mais emblemáticos, numa iniciativa de eternizar a memória do morro. Ficamos encantadas com o ideal deste empreendimento e acreditamos que um trabalho similar deveria ser feito em muitas outras comunidades, com a intenção de salvaguardar suas histórias e particularidades. Interessamos-nos principalmente pela valorização dos residentes do morro e de seu conhecimento sobre o local onde vivem.
Acima, arte urbana no muro de uma asa do Cantagalo e a fachada do MUF. Na página oposta, a Casa Tela 01, do acervo a céu aberto do MUF.
PESQUISA TEÓRICA Nossa pesquisa de campo nos motivou a procurar um embasamento teórico sobre o tema turismo nas favelas e estudamos alguns textos da pesquisadora Bianca Freire-Medeiros. A antropóloga publicou diversos artigos e um livro a respeito do processo de elaboração e venda da favela carioca como destino turístico, enfatizando a dinâmica de recepção e consumo presentes na prática e investigando as opiniões dos moradores da Rocinha sobre a conversão de seu lugar de moradia em ponto turístico. Apesar de alguns textos da pesquisadora estarem desatualizados frente à recente pacificação de muitas comunidades do Rio de
Ao lado, uma representação dos principais destinos do “turismo da miséria”, segundo Bianca Freire Medeiros. Na página oposta, uma casamata que data Segunda Guerra Mundial em plena trilha ecológica da Babilônia e o flyer do Favela Inn Hostel, no Chapéu Mangueira.
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Janeiro, fato que modifica a percepção sobre as favelas e amplia as possibilidades de turismo sustentável, eles ainda são uma rica fonte para compreender o chamado turismo da miséria. Neste modelo, a pobreza é transformada em atração, numa representação redutiva da favela, pois o chamariz ao turista é a precariedade. Buscamos desenvolver exatamente o oposto disto, enfocando nos aspectos positivos e autênticos das comunidades estudadas.
IDENTIFICAÇÃO DAS POSSIBILIDADES DE PROJETO Após refletirmos sobre as pesquisas de campo e teóricas, chegamos à questão principal: a ausência sobre informação de turismo, história e cultura das favelas do Rio de Janeiro. A partir desta oportunidade, geramos três possibilidades de projeto a serem realizadas nas comunidades do morro do Leme:
1. GUIA COM OS PONTOS TURÍSTICOS DA COMUNIDADE Trata-se de um guia, possivelmente em formato de panfleto, contendo um mapa com os pontos turísticos da favela. Incluiríamos, por exemplo, a trilha ecológica da Babilônia, que tem ruínas históricas em determinados trechos. Também localizaríamos neste guia os demais atrativos, serviços e facilidades, como os albergues, bares e outros locais de interesse.
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2. DOCUMENTÁRIO SOBRE A VIDA NA COMUNIDADE
O formato de vídeo possibilitaria uma rica compilação de cultura e história das comunidades. A partir de nossa experiência no local, concluímos que o que há de mais especial lá só pode ser conhecido por meio da vivência, pois vai muito além de um olhar superficial. Visamos documentar um estilo de vida muito próprio por meio de entrevistas com os habitantes, que demonstraram forte vínculo com a comunidade, além de serem detentores de histórias e hábitos singularíssimos. Buscamos uma experiência autêntica e surpreendente, na qual alguém que desconhece uma favela pode adentrar o mundo de quem lá vive. Nossa intenção é fugir do estereótipo imposto ao favelado e trazer a realidade de depoimentos, além de registrar histórias que são pouco conhecidas.
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3. SINALIZAÇÃO EM HOMENAGEM AO ACERVO HUMANO DA COMUNIDADE
Esta idéia é um desdobramento da 2ª possibilidade, mas em termos de sinalização. Nos inspiramos nos cartazes que vimos no Museu de Favela em homenagem aos moradores do Cantagalo. Pensamos em criar totens, esculturas ou peças gráficas para eternizar e celebrar o acervo humano da favela. Tratar-se-ia de um registro das personalidades mais emblemáticas do local, que poderiam ficar em pontos estratégicos da comunidade e até tornarem-se atrativos turísticos.
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escolha da oportunidade de projeto Optamos por fazer o vídeo-documentário, pois acreditamos que esta opção é a que melhor transmitiria visualmente o conteúdo desejado. Escrevemos o storyline contendo nossa proposta, que é desconstruir a imagem tradicional e estigmatizada de favela e reconstruí-la através de depoimentos dos moradores da Babilônia e do Chapéu Mangueira que agreguem a cultura e a história do local. Para tanto, montamos um questionário abrangente a ser respondido oralmente pelos entrevistados, qu enos permitiria ganhar uma maior dimensão a respeito de suas vidas.
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Há quanto tempo você mora aqui? Se mora desde que nasceu, como foi a sua infância aqui? Você gosta de viver aqui? Por que? O que há de especial aqui? Qual é a diferença daqui para: a) outras favelas b) “o asfalto” c) a favela vizinha (Babilônia ou Chapéu)? Você conhece a história da morro? Você sabe por que aqui se chama Babilônia/ Chapéu Mangueira? 8. O que você entende sobre “comunidade”? Qual é a diferença entre “comunidade” e “favela”? 9. Muita coisa mudou aqui ao longo do tempo? 10. Quais são as diferenças mais significativas da vida como ela era antigamente para como ela é hoje?
pESQUISA SOBRE SIMILARES Ao estabelecermos nossa oportunidade de projeto, buscamos referências em documentários relacionados ao nosso tema, como “Babilônia 2000”, de Eduardo Coutinho; “Orfeu Negro”, de Marcel Camus; “Notícias de uma Guerra Particular”, de João Moreira Salles e “De Sainha Elas Vem”, de Julia Kurc. Atentamos à abordagem dos entrevistados, à estrutura do roteiro, à fotografia e às escolhas de direção e de edição para aplicarmos esses conceitos cinematográficos ao nosso projeto.
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primeira imersão e filmagem Nos hospedamos durante três dias no albergue Favela Inn, no Chapéu Mangueira, para melhor conhecermos as pessoas e os costumes locais. Ao longo de um final de semana, colhemos 16 depoimentos em mais de 7 horas de gravação. Conhecemos muitas pessoas interessantes que gentilmente nos abriram seus lares e compartilharam conosco um pouco de suas ricas histórias de vida. Entrevistamos proeminentes personalidades da comunidade, como Dona Percília, presidente da CoopBabilônia e Cláudio Baptista, sociólogo e estudioso da história da comunidade. Também conversamos com pessoas que conhecemos em nossa estadia, como os bombeiros hidráulicos
João Carlos e Paulo Pessoa do Nascimento. Tivemos a oportunidade de entrevistar alguns turistas estrangeiros e até um agente de turismo “do asfalto”, da empresa Jungle Me, que trabalha em parceria com a cooperativa da Babilônia. De nossas muitas vivências e impressões, surgiram novas perguntas a respeito do estigma do favelado, da desordem urbana, da valorização imobiliária e da consequente “invasão” da classe média, dentre outras. Abrimos muitas possibilidades de abordagem ao nosso tema e temos um valioso material a ser cuidadosamente organizado.
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decupagem E trailer Assistimos às sete horas de material filmadas nesses três dias de imersão e anotamos todos os trechos utilizáveis, os respectivos tempos e os temas. Neste processo, realizamos um trailer de 2’’45 para nossa apresentação de G1, agregando depoimentos emblemáticos e panorâmicas relevantes. Utilizamos o programa Adobe Premiere para editar o trailer e contamos com a preciosa colaboração de Rogério, monitor da ilha de edição da PUC, para finalizá-lo. Tendo visto todo o conteúdo filmado, começamos
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a questionar nossa escolha do nome do vídeo, “Arquivo Favela.” Nós o havíamos escolhido em função de um depoimento do morador José Carlos, que dizia que gostaria de ter um “arquivo” com toda a história da favela. No entanto, acreditamos que esta palavra tem uma conotação jornalística e até penal que não queremos associar de imediato ao nosso filme. Consultamos o Prof. Luiz Favilla, que nos sugeriu “Eu, favela”, pois estamos trazendo a voz dos moradores desse lugar. Simpatizamos com o título e o adotamos em nosso projeto.
geraÇÃO de alternativas brainstorming e design da estrutura do roteiro
Na página oposta, um still do depoimento do morador Cacau utilizado no trailer. Na página em seguida, o brainstorming do roteiro do curta.
A partir da decupagem, fizemos um brainstorming com todos os assuntos tocados por nossos entrevistados e chegamos a cinco enfoques principais: história e cultura; UPP; turismo; explosão imobiliária e educação. Analisando os temas selecionados e a quantidade de horas filmadas, avaliamos a possibilidade de fazer uma série com diversos capítulos ou montar um único filme que tangesse todos esses assuntos. Atraídas pela segunda alternativa, montamos uma estrutura abrangente do documentário, cujo roteiro poderia ter a seguinte ordem: Apresentação:
História e cultura (contextualização)
Desenvolvimento: UPP (antes e depois) Turismo
Explosão imobiliária
Desfecho: Educação e potencialização do capital cultural
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planejamento da segunda imersão De nossas muitas vivências e impressões oriundas da 1ª imersão, surgiram novas perguntas a respeito da valorização imobiliária e da consequente “invasão” da classe média, dentre outros assuntos comentados. Abrimos muitas possibilidades de abordagem ao nosso vídeo e formulamos perguntas mais específicas para nossa 2ª etapa de filmagem, de acordo com os temas escolhidos para o roteiro:
História, cultura e cotidiano: 1. Como começou a cultura coletiva e comunitária? 2. O que eram os mutirões? Como eles acontecem hoje? 3. Como era a questão da liberdade durante a ditadura? 4. O que representou para a história da comunidade o abandono por parte do governo? 5. Quais foram as conquistas políticas independentes mais relevantes na história da comunidade? 6. O que você considera uma cultura própria daqui? 7. Como você se relacionava com a realidade do tráfico? 8. No dia a dia daqui, como funciona esse “tudo junto e misturado”? 9. Você acha que ainda existe o estigma do favelado? 10. Existem atributos ou qualidades específicos de alguém que nasceu aqui? UPP: 11. Como foi a entrada da UPP? 12. O que mudou? Quais são os prós e contras? 13. Como as pessoas daqui vêem os policiais? Há diálogo? 14. Como você vê o Morar Carioca? 15. Você acha que as mudanças que ocorreram com a UPP serão permanentes? Turismo: 16. Qual é o tipo de turismo realizado aqui? 17. O que seria um turismo negativo para a favela? 18. O que procura o turista que vem aqui e o que ele encontra de fato?
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19. Como reverter os benefícios do turismo para toda a comunidade? Explosão imobiliária: 20. Como você vê essa nova rotatividade de pessoas? Quais são os aspectos positivos e negativos? comunidade? 21. O que está acontecendo com a cultura do coletivo diante da explosão imobiliária? 22. A classe média vai “invadir”? 23. Quais são as conseqüências do aumento nas cobranças com a chegada de mais infraestrutura? Educação: 24. Como você vê a questão da educação aqui hoje? Como se forma uma consciência de cidadania? 25. Você acha que há ajuda demais ou de menos? Como vocêvê as bolsas oferecidas pelo governo? 26. Como você vê o seu papel como referência/ liderança na comunidade? Quais iniciativas devem ser potencializadas? 27. Hoje, qual seria um motivo importante na comunidade pelo qual as pessoas se mobilizariam? Para turistas em geral: 28. Qual foi a sua intenção ao vir se hospedar aqui? 29. Você tinha alguma preconcepção de favela? 30. O que você esperava encontrar que não viu e o que reafirmou suas crenças? 31. Você sente diferença da favela para o asfalto? 32. O que você sabe sobre o processo de pacificação? 33. Como você vê a condição das favelas? O que há de positivo e o que há de negativo?
SEGUNDA IMERSÃO E DECUPAGEM Voltamos às comunidades para refazer algumas entrevistas com as novas perguntas e alugamos um microfone de lapela para melhorar a qualidade do áudio. Conversamos com Vera Rufino, moradora e líder do movimento Mulheres Guerreiras da Babilônia (MGB); sua filha, Juliana Rufino; Nathalie Seguin, sua hóspede mexicana e Ivan Jesus Costa, coordenador da CETEP. Também levamos nosso amigo e estudante de fotografia para cinema Lucas Stirling para nos ajudar a realizar planos de cobertura, imagens de apoio e panorâmicas. Assistimos a todo o material filmado e selecionamos os melhores trechos para acrescentá-los aos vídeos já decupados da primeira imersão.
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MONTAGEM DO ROTEIRO E TERCEIRA IMERSÃO Tendo decupado todos os vídeos, montamos um grande quadro para organizar o roteiro do filme. Separamos os temas em postits coloridos e neles escrevemos, um por um, todos os trechos que queríamos utilizar no filme. Nesse rico processo de análise do material, selecionamos sete personagens e, através de seus depoimentos, elaboramos um discurso claro. Identificados os buracos no roteiro, anotamos todos os planos de cobertura que faltavam para ilustrar as entrevistas e suavizar as transições para realizarmos uma 3ª etapa de filmagem. Voltamos às comunidades, munidas de microfone de lapela e acompanhadas pelo Lucas, nosso amigo fotógrafo. Aconselhadas pelo Prof. Bernardo Alevato, contatamos Dunga, um de nossos entrevistados, para fazer o papel de “liga” do roteiro e nos guiar pela comunidade, transitando pelos caminhos e vielas.
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PARTIDO ADOTADO PRIMEIRA ETAPA DE EDIÇÃO E QUARTA IMERSÃO
Na página oposta, estudos de tipografia sobre o frame de entrada do curta. Foram utilizadas, espectivamente, as fontes CabinSketch, Sketchetic e 5am Gender.
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Com nosso quadro de roteiro em mãos e todos os vídeos decupados, nos juntamos ao nosso amigo e editor João Pedro Gasparian para editar no Final Cut o copião do filme, que ficou com cerca de 40 minutos. Ao longo de vários dias de edição, enxugamos o discurso e reduzimos o número de personagens a cinco, chegando a 7 minutos enxutos de filme. Acrescentamos uma trilha sonora provisória e listamos as imagens de apoio que ainda nos faltavam, como fotos históricas dos mutirões, a trilha ecológica, dentre outras. Voltamos às comunidades para uma quarta e última etapa de filmagem e colhemos fotos históricas na Associação de Moradores para ilustrar os depoimentos. Optamos por transformar o filme num impactante alerta para que a cultura das favelas não se perca diante da explosão imobiliária ocasionada pela entrada do governo. Trata-se de um assunto atualíssimo e urgente, pois está ocorrendo a todo momento. Nosso público alvo são os residentes de todas as favelas e periferias das grandes cidades, especificamente as do Chapéu Mangueira e da Babilônia, para que se conscientizem do processo de gentrificação que pode ocorrer nesses locais, tendo em vista sua localização privilegiada. Queremos atingir também todos aqueles que se interessam pelo futuro da cidade do Rio de Janeiro, tendo em vista os grandes eventos internacionais que ocorrerão nos próximos anos e política do atual governo que inclui a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora.
ESTUDOS DE LETTERING Realizamos no Adobe Photoshop alguns estudos de lettering para acrescentarmos as informações necessárias ao vídeo, como título, nomes, profissão dos entrevistados, legenda e créditos. Orientadas pelos professores Guilherme Toledo, Bernardo Alevato e Fabio Lopez, analisamos diferentes alternativas de tipografia sobre frames do filme e optamos por utilizar a fonte “5am Gender”, disponível no site MyFonts, utilizada também nos nomes dos capítulos deste relatório.
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finalização Levando em conta sugestões dos professores, realizamos pequenas modificações no curta, além de acrescentar legendas e créditos. Nosso amigo músico Marcelo de Lamare se encarregou de equalizar o áudio e acrescentar a trilha sonora que, além das canções “Ingênuo”, interpretada por Jacob do Bandolim e “Manhã de Carnaval”, interpretada por Rafael Rabello, conta com trilha original do próprio Marcelo. O filme ficou com duração de 6 minutos e 11 segundos e seu peso aproximado é de 1300Mb. O roteiro final tomou a seguinte forma: Apresentação: Mutirões comunitários e conquistas dos moradores Cláudio, Gibeon e Ivan comentam sobre a gênese da cultura democrática no Chapéu Mangueira, iniciada com a enfermeira francesa Renée, da ordem dos dominicanos. As conquistas políticas independentes são enfatizadas, sobretudo as construções coletivas organizadas pelos mutirões comunitários. Relembra-se também a proibição da construção de casas de alvenaria à época da ditadura e a resistência dos moradores. Desenvolvimento: Tráfico e UPP Dunga, Gibeon e Cláudio criticam a UPP, afirmando que esta se limita à segurança da comunidade, não ao aspecto social, que cabe à Secretaria de Assistência Social e às lideranças comunitárias. Fala-se do receio de interferências por parte da polícia na vida local e das dúvidas acerca da permanência da UPP, pois trata-se de uma política de governo. Clímax: Explosão imobiliária Dunga, Ivan e Nathalie explicam o advento da especulação imobiliária como consequência da UPP, uma vez que a liberdade de acesso e os altos custos de infraestrutura colaboram para a saída dos antigos moradores. Desfecho: Conscientização do processo de especulação Dunga, Ivan e Nathalie alertam para a perda do espírito comunitário que ocorre com este processo de gentrificação. O curta se encerra com imagens diversas que ilustram a qualidade de vida e a união dos moradores.
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conclusão Este projeto foi uma fonte de grande aprendizado para nós. Imergimos em realidades totalmente novas: a do cinema e a das favelas. Nunca havíamos filmado ou editado e foi um grande prazer desvendar nossa própria linguagem dentro de um ambiente tão acolhedor. Desfrutamos cada momento do processo: desde nossa chegada como turistas, passando pela amizade com os moradores, até o fechamento do discurso na forma de curta-metragem. Vamos continuar a aprimorar o curta, buscando nos aprofundar nos temas, além de filmar situações reais de especulação imobiliária. Queremos fazer novas entrevistas e ouvir especialistas no assunto, para trazer um embasamento antropológico ao filme. Nosso desejo agora é dar continuidade ao projeto em parceria com a comunidade, trazendo com ainda mais vigor a voz e a visão dos moradores. O próximo passo será exibi-lo no Chapéu, como retribuição simbólica por toda a disponibilidade e generosidade de seus habitantes. Acreditamos ser indispensável a reflexão sobre a retomada das favelas pelo Estado e as consequentes cobranças às quais se submeterão seus moradores. Aos serviços essenciais, é necessária a elaboração de esquemas tarifários condizentes com a capacidade de pagamento dos residentes de baixa renda. Aos regimentos policiais, é preciso cuidado com as interferências na cultura local e delicadeza com os moradores que há muito desconfiam da instituição. À população carioca, é importante questionar as razões por trás da política de pacificação de comunidades na Zona Sul e preocupar-se com o destino de 20% dos moradores do Rio de Janeiro. Este é o momento de se repensar as favelas.
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AGRADECIMENTOS Nossa gratidão à Dunga, Cláudio, Gibeon, Nathalie e Ivan, protagonistas do curta e, sobretudo, de suas comunidades. Vocês abriram nossos olhos à nova realidade do Rio de Janeiro e queremos que façam o mesmo com muitas pessoas através desse filme. Um muito obrigado a todos os nossos entrevistados, que nos receberam de braços abertos em suas casas e compartilharam um pouco de suas histórias: Cacau, Tia Percília, Vera, D. Apolinária, Arthur, Thiago, James, Neil, Cris, Seu Paulo, Andreas e David. À equipe Lucas Stirling e João Pedro Gasparian, por acreditarem no potencial do filme e se dedicarem conosco nessa empreitada, nossa eterna amizade. Aos amigos, familiares, professores e colegas, obrigada por demonstrarem entusiasmo e nos motivarem a mergulhar de cabeça nesse projeto, que continuaremos a desenvolver junto à comunidade.
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