Grifo 10

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Nº 10

JUL

2021 J C OA R R N T A U L N I D S O T S A S

Tau Golin declama Marcha Fúnebre do Capitão Pág. 21 César Valente: o desalento da bandeira brasileira Pág. 22

D A G R A F A R

A imensidão obscura do bolsonarismo


editorial

Meio milhão !!!

N

ão há outro título possível para nosso editorial do número 10. Mais de meio milhão de mortos pela Covid-19 no Brasil. Depoimentos e documentos apresentados na CPI da Pandemia comprovam que poderiam ser muito menos, a média mundial, por exemplo, se o país tivesse seguido as normas de segurança e prevenção sanitárias indicadas, como distanciamento social, não fazer aglomerações e comprar vacina. Houve oferta de laboratórios sabedores da eficiência brasileira na vacinação em massa e provavelmente apostando num bom retorno de marketing que isso lhes daria, mas teria salvo muitas vidas. Agora se sabe que o governo tinha um assessoramente paralelo (suspeito de ações ilegais) para política de saúde. Tem alguma coerência para quem governa colocando um defensor do desmatamento para administrar o meio ambiente, um ex-banqueiro inimigo do Estado para gerir a economia, um homem armado para comandar a cultura, um beligerante ideológico nas relações com outros países, uma antifeminista no ministério da mulher. O pensamento paralelo tomou conta do poder, só poderia ter um gabinete paralelo mentalmente terraplanista.

Nada disso deveria causar tanta surpresa. Ainda quando era deputado, o atual presidente manifestava sua afinidade com o pensamento obscuro, misógino, negacionista. Repetiu seu pensamento ao votar no golpe contra Dilma Roussef, e mesmo assim recebeu apoio de algumas parlamentares na campanha eleitoral. Agora, um ex-aliado apresenta pistas de corrupção na negociação da vacina comprada mais de meio ano depois de Bolsonaro dizer que os laboratórios é que deveriam procurá-lo. A CPI descobriu que os laboratórios procuraram o governo, mas ele negou-se a responder e-mails. Bolsonaro deixa pistas, como fazem os personagens de filmes serial-killers. Alguns sabem encontrá-las. O problema de quem acredita que a Terra é plana é que nunca consegue chegar na borda. Quem vive no mundo paralelo nunca encontra o verdadeiro (ou encontra no infinito), mas causa estragos. Quase 600 mil mortos, 14,4 milhões de desempregados, inflação acima dos 4% em 2021, esfacelamento da educação e da cultura fazem um resumo visível de um governo trágico. Ainda falta enxergar o que sustenta isso tudo.

O Jornal Grifo é publicação de cartunistas da Grafar (Grafistas Associados do RS) Editor: Marco Antonio Schuster Editores adjuntos: Celso Augusto Schröder e Paulo de Tarso Riccordi. Editor gráfico: Bruno Cruz Diagramadores: Bruno Cruz, Caco Bisol. Participam desta edição: Adão Iturrusgarai, Aroeira, Bier, Bierhals, Bira Dantas, Caco Bisol, Carlito Maia, Carlos Roberto Winckler, Carol Cospe Fogo, Celso Vicenzi, Cesar Valente, Céllus, Cláudio Duarte, Demétrio Xavier, Dóro, Edgar Vasques, Edu, Eugênio Neves, Gabriel Augusto, Gilmar, Janete Chargista, João C. A. Camargo, João Carlos Gastal Jr, José Antônio Silva, Jota Camelo, Latuff, Lu Vieira, Marcelo Mário de Melo, Marina Prudêncio, Miguel Paiva, Moisés Mendes, Mouzar Benedito, Paulo Caruso, Paulo Coelho, Pedro Hallal, Rodrigo Schuster, Samuca, Santiago, Schröder, Tarso, Tau Golin, Tiago Riccordi, Uberti. E ainda: ARES Aristides Hernández Herrero (Cuba), Brady Izquierdo (Cuba), Donald Sofritti (Itália), Mahnaz Yazdani (Irã), Marghe Allegri (Itália), MATE Matías Tejeda (Argentina), Michel MORO Gomez (Cuba).

EX PE DI EN TE grafar.hq@gmail.com

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pandeconomia

Apareceram os arrependidos

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unho de 2021 foi um mês tão diferente dos outros junhos que os trocadilhos de festas juninas sobre quadrilhas foram esquecidos. A Copa América transferida para o Brasil na correria - com 17 jogadores entre os 166 contaminados em duas semanas - foi um motivo. Outro foi a CPI. Pelo menos dois destaques: a descoberta de um gabinete paralelo que orientava o governo na política de não comprar vacina, e a revelação de golpistas arrependidos. Alguns até denunciando corrupção no governo. Paralelo a isso, a inflação subiu 0,83% no mês e chegou a 8,13% em um ano. Muitos números e índices, são estatísticas do IPCA, cansam. Por isso, só acrescentamos mais um: o preço dos combustíveis aumentou 3,69%. Também caiu o ministro do meio-ambiente, que ao sair foi elogiado pelo presidente: “Ele é um dos responsáveis pelo sucesso da agricultura”, pensando na agricultura exportadora e desvastadora do meio ambiente. Mais paralelo ainda, e muito menos noticiada, a política econômica segue seu curso de fim de empresas públicas, reforma administrativa destruidora das estruturas estatais.

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CLAUDIO DUARTE

GABRIEL AUGUSTO / @GABRIELAUGUSTOART

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Ascende a luz !

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que o preço da luz vai subir, e talvez ela nem vá acender, como aconteceu com a energia elétrica privatizada do apagão Amapá em novembro de 2020. Tudo porque o bolsonarismo aprovou a medida provisória de privatização da Eletrobras, a maior produtora de eletricidade do país, e a projeção com a venda dessa empresa pública é de aumento de custos e tarifas.

BIER

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fez-se news

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O cavalo branco do Bolsonaro Moisés Mendes

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olsonaro está conversando com Augusto Heleno sobre a próxima motociata, quando Eduardo, o Dudu, entra na sala. – Papai, os gaúchos querem que o desfile seja a cavalo. – Só ando de moto. – Mas é um pedido dos CTGs. Bolsonaro balança a cabeça, contrariado, e Augusto Heleno diz que ele poderia desfilar num petiço, para não correr riscos. – Só monto em cavalo branco. Dudu mostra a foto de um cavalo tobiano, oferecido por um fazendeiro da Gangue do Relho, de Bagé. – Isso daí é cavalo de índio – reage Bolsonaro, apontando para a foto do cavalo com manchas brancas e marrons. Dudu diz que falará com Onyx, para que encontrem um cavalo branco. Heleno apaga e começa a roncar, com a boca aberta, deitado no sofá. – Manda o Braga Netto levar o Heleno daqui – diz Bolsonaro. Dudu pede que Bolsonaro se concentre no desfile a cavalo. Heleno ronca a todo volume. Um auxiliar do general, um homem grandão, entra na sala, bate continência e sai com Heleno no colo. – Pega os chinelos – grita Bolsonaro. O telefone toca. É Onyx dizendo que os gaúchos só topam desfile a cavalo. Bolsonaro põe o telefone no viva voz. – Cavalo branco – grita Bolsonaro. – O Mourão é gaúcho e quer participar – informa Onyx.

– Aí não. Tão de brincadeira – Bolsonaro diz e esmurra a mesa. – Papai, eles querem que você vá na garupa do Mourão. Bolsonaro diz que ele é o Napoleão brasileiro, e que Napoleão nunca andou na garupa de ninguém. Onyx intervém e diz que poderão rever o desfile a cavalo. E sugere que façam um patinetaço. Seria um desfile de patinete pela BR-290, a estrada que leva ao latifúndio. – Eu topo – responde Bolsonaro e desliga o telefone. O assessor que havia levado Heleno no colo retorna à sala, bate continência e recolhe os chinelos do general. Dudu diz então ao pai que precisam tratar do golpe.

Bolsonaro pega o celular, para tuitar alguma bobagem, e responde: – Só depois do desfile em Curitiba. – Será de patins – diz Dudu. Bolsonaro arregala os olhos, enquanto Augusto Heleno retorna ao gabinete com uma xícara de chá, aproxima-se de Bolsonaro e indaga: – Perdi alguma coisa? O general faz um movimento brusco e derrama a xícara de chá em cima de Bolsonaro, que grita: – Levem o Heleno daqui.


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São mortos demais, mesmo para Bolsonaro

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uando chegamos aos 50 mil mortos, horrorizado citei o trecho do livro Kaput, ou será A Peste?, do Curzo Malaparte, onde ele, escandalizado com o número de judeus mortos espremidos dentro dos vagões de trens que “pulavam sobre ele” diz, derrotado, “eram muitos mortos, eram mortos demais. Agora aos 500 mil não tenho mais palavras ou citações. São mortos demais mesmo para um visível sociopata miliciano que elogiava a tortura e pregava abertamente a destruição e a violência numa antecâmara indiscutível de um novo fascismo. São mortos demais para se esconder em meias palavras ou pautas diversionistas. Quem não se escandalizar precisa urgentemente de ajuda médica ou de cadeia em breve. A mídia do centro do país, Globo, Folha e Estadão se equilibram numa ambígua e tênue corda bamba que, numa espécie de surto mítico, combate o horror visível do capitão reformado, mas acolhe e estimula o horror invisível de uma economia assassina. Esta ambiguidade é diária num jornalismo que cada vez mais se autodestrói e, paradoxalmente, fortalece o monstro que escandaliza o mundo e massacra os brasileiros. A mídia regional, rádios e jornais do Brasil periférico, como Zero Hora, sequer tem a sutileza da imprensa do centro do país que tenta um bolsonarismo sem Bolsonaro. Estes jornais, rádios e TVs regionais simplesmente adotaram a tática de “noticiar” um ideal econômico e ignorar o real político e sanitário. O resultado é quantificável, aumento exponencial de contaminação e mortes e queda vertiginosa e óbvia nos indicadores econômicos. Equilibrando números, os jornais alternam “notícias” econômicas positivas e negativas numa espécie de pensamento mágico quando se imagina que o pensamento e desejos atuam sobre a vida.

Os números de mortos no Brasil, investigados na CPI, começam a deixar claro para parte da população, pelo menos, que não são aleatórios ou acidentais e muito menos fruto de incompetência ou inoperância. Estes números são o resultado desejado e pensado por um dirigente que por índole adotou a política da morte para seus conterrâneos. Se pegarmos os EUA, governado por Trump, fetiche político de Bolsonaro, veremos que até 21 de janeiro de 2021, na posse Joe Biden, tínhamos um total de 405 mil mortos e, naquele momento, uma média semanal de 3 mil e 56 mortos por dia. No dia 20 de junho, seis meses depois, o total é de 601 mil mortos, mas a média passou

para 301 por dia. A vacinação e políticas de distanciamento e uso da máscara e álcool gel produziram uma desaceleração vertiginosa. No Brasil, ao contrário, nas mesmas datas tínhamos um total de 212,8 mortos já numa média semanal de 981 mortos por dia e agora saltamos para o total de 501 mil mortos numa média assustadora, porque crescente, de 2045 mortos por dia. A CPI tem um papel importante de construir uma opinião pública que permita o julgamento necessário para o futuro moral e político do país, porque as provas já estão aí. O vírus que não matou mais ninguém na Austrália desde outubro, matou quase trezentos mil brasileiros neste mesmo período, logo quem matou na verdade não foi o vírus, foi o verme, como diz o Haddad.


terraplanismo mental

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diabo rosa

bier

PALAVRAS DA SALVAÇÃO Não se pode dizer que o governo não tá dando duro pra abater os gastos da Previdência . Se, com saúde, o Zé do Pandeiro já toca aquilo tudo, imagine se tivesse Parkinson... . Preciso confessar: três pratos de mocotó estragam o meu apetite. . O Congresso Nacional é a maior empresa privada com dinheiro público no Brasil. . Procuro carro parado para alugar. De preferência com baixo condomínio. . Boa parte dos gaúchos diz que não leva desaforo pra casa. Por absoluta falta de casa. . Bebe seis pingas e vai embora de bicicleta. Se fosse a pé, abriria a ponta dos sapatos tropeçando. .

JACÓ (Poesia com pulgas)

O que mais tem no governo federal é milico que marcha, marcha, marcha e não acerta o passo. . Se transplantassem o cérebro do Heinze pra uma galinha, a galinha ficava retardada. . O que seria da nossa cidadania sem a fé em Deus e sem o jogo do bicho? . Vocês tão vendo como aquela gente da CPI da Covid se xinga com educação? . Na eleição daqui do lado eu fui obrigado a gozar com o Peru do vizinho. . Agora imagina se Israel não fosse o Povo de Deus... .

Não se pode dizer Que seja possível conhecer Alguém da parte ao todo Numa vida apenas. Jacó é um gato preto Bastante usado, Aparecido nesta casa Por livre arbítrio. Fugiu da castração, Ostenta várias cicatrizes e - assim como eu Não anda muito inteiro. Estamos juntos há um bom tempo. Toda noite, antes de sair, Ele se aboleta na poltrona, Fecha os olhos E toca a ronronarrrrrrrrr. Ainda não descobri Se ele está mastigando reza Ou rogando uma praga medieval.


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Ó o novo normal aí, ó

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eguem a pandemia e a crise econômica e o que se anunciava como novo normal mostra caras de antigo. Hungria aprova legislação homofóbica, governo israelense troca de chefe mas mantém a política beligerante, governo norte-americano quase provoca guerra no leste europeu. Na América Latina, a direita quando vence eleições comemora, quando perde diz que houve fraude. Não é fraude, não. É a esperança de derrotar o novo normal.

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Rússia x EUA: o “boneco de pano” piscou Eugênio Neves

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o final de abril o mundo esteve à beira de uma grande conflagração que só não foi percebido pela “opinião” pública porque a operação de propaganda montada pela mídia ocidental para cobrir o evento pretendia apresentar a Rússia como a responsável por um ataque de “surpresa” à Ucrânia. Quem acompanha atentamente os desdobramentos na fronteira russo-ucraniana sabe que ali se criou um foco de tensão permanente desde de que os EUA patrocinaram o golpe de estado de 2014. Ele praticamente dividiu o país ao levar ao poder uma oligarquia visceralmente corrupta e nazistas banderistas. Os falantes de russo da Criméia optaram por separar-se da Ucrânia num plebiscito onde mais de 90% da população votou a favor da anexação com a Rússia. Já nas regiões de Luganks e Dombas, a resistência ao golpe originou um conflito armado que vem sendo escalado pelos EUA e sua comparsaria ucro-nazi. Com a eleição de Biden, as provocações foram alçadas a um novo patamar. Fiel a sua pretensão de enquadrar o “assassino” Putin e querendo mostrar serviço, o “boneco de pano” açulou os ucranianos a concentrarem tropas na linha de demarcação com as repúblicas separatistas. Na cabeça de Biden e de seus “estrategas”, essa isca forçaria Putin a dar uma resposta, propiciando uma nova rodada de propaganda sobre o fantasma do intervencionismo russo. Parecia o “plano perfeito” não fosse o dado não considerado - já que o plano era perfeito! – ou seja, que Putin poderia dobrar a aposta. Como dobrou, ordenando uma concentração de forças na fronteira ocidental da Rússia com-

posta por dois exércitos de armas combinadas e 3 divisões aerotransportadas com apoio de armas hipersônicas e de longo alcance, além da mais moderna e robusta tríade nuclear do planeta. E tudo num prazo que nem de longe os EUA e sua OTAN poderiam igualar. Ao mesmo tempo Putin lançou as seguintes advertências: “...Alguns países adotaram uma rotina inconveniente, em que importunam a Rússia por qualquer motivo, na maioria das vezes, sem motivo algum...”. “...Queremos manter boas relações com todos os que participam do diálogo internacional...” “...Mas se alguém confunde nossas boas intenções com indiferença ou fraqueza...eles devem saber que a resposta da Rússia será assimétrica, rápida e dura. Os que estão por trás das provocações que ameaçam os interesses centrais de nossa segurança vão se arrepender do que fizeram de uma forma que não se arrependiam há muito tempo.” O recado surtiu efeito. A Merkel, por exemplo, entrou em pânico ao perceber exatamente o que Putin quis dizer

com “os que estão por trás das provocações”. Isso significaria ataques a todos os centros de comando da OTAN espalhados pela Europa ocidental e oriental. E em Washington também foi entendido. Não pelo Biden, certamente, mas pelos que ainda mantêm um mínimo de sanidade por lá. O rescaldo disso tudo foi Antony Blinken, secretário de estado dos EUA, indo a Ucrânia determinar um “não se fala mais nisso” ao luciano hulk de lá, o tal Volodimir Zelensky, ele também um palhaço da televisão ora no cargo de “presidente”. E para compensar a frustração que tomou conta dos estadunidenses ao perceber que a Ucrânia perdeu seu valor ao não poder mais ser usada como vara curta para importunar os Russos, Blinken deixou claro que agora a tarefa dos lacaios ucranianos é transferir, no menor tempo possível para as mão do grande capital, tudo o que ainda tem algum valor naquele ex-país. Especialmente o patrimônio acumulado pelos oligarcas ucranianos após os anos de saques subsequentes ao golpe patrocinado pelos EUA.


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Peru: para além do medo Carlos R. Winckler, sociólogo se valeram da Constituição ultraliberal de 1993 para promover a expansão do capital financeiro e s recentes eleições gerais no de empresas extrativistas, além de Peru foram vencidas por criminalizar a resistência popular, Pedro Castillo, professor e que se expressa nos “paros cívicos”, sindicalista, com certa visibilidade convocados pelos movimentos sodesde a greve dos professores em ciais, sindicatos, organizações cam2017. A vitória surpreendeu a mui- ponesas e índigenas. A resistência tos. O candidato do partido Peru Li- contesta a lógica de “modernizabre derrotou por pequena margem ção regressiva” neoliberal, marcaKeiko Fujimori , filha do ditador Al- da pela extrema concentração de berto Fujimoro, preso por corrup- renda, precarização do trabalho ção e crimes de lesa humanidade, e , destruição do meio ambiente, defensora da continuidade do neo- violação reiterada dos direitos huliberalismo em curso desde o auto- manos, pela criação de uma zona golpe e do shock neoliberal de 1992 econômica cinzenta do narcotráfico e grave crise institucional com imposto por seu pai. O resultado das eleições é con- ferozes acertos de contas entre as testado por Keiko Fujimori sob facções políticas tradicionais com alegação de fraude e o Tribunal amplo uso de acusações mútuas Nacional de Eleições deverá resol- de corrupção e disputas judiciais , ver a impugnação ou anulação de como se viu com as denúncias intemilhares de votos do Peru Libre. A ressadas do Departamento de Jusdata de proclamação oficial da vi- tiça dos EUA, quanto à atuação da tória de Castillo permanece incer- Odebrecht no Peru. Não bastasse ta, mas tudo indica que será confir- o Acordo Transpacífico de Coopemada, abrindo-se a oportunidade ração Econômica, que reforça a de reformas populares avançadas. hegemonia dos EUA na região. A eleição de Pedro Castillo Retoma-se com Castillo o fio de remostra a indignação com as poformas transformadoras iniciadas no governo militar de Velasquez líticas neoliberais com resultados Alvarado (1968-1975); fraudadas dramáticos em regiões distantes da pela trajetória ambígua da Alianza cosmopolita Lima. O apoio a KePopular Revolucionária America- iko Fujimori é majoriatariamente na ( APRA) do governo de Alan da região de Lima e a ela não faltou Garcia (1985-1990); estigmatiza- o amparo do liberalismo criollo das devido a aventura ultraesquer- aristocratizante de Vargas Llosa. O apoio à Castillo vem das prodista do Sendero Luminoso, que abriu caminho à eleição do outsi- fundezas esquecidas, do interior der Alberto Fujimori visto como rural, das pequenas comunidades, pacificador da pátria, após a prisão da serra e do sul peruanos. Das rede Abimael Guzman, ideólogo e lí- giões de mineração, de destruição das formas de vida tradicionais e der do Sendero em 1992. Desde a queda de Fujimori em de risco de colapso hídrico. Um 2000, todos os governos peruanos outsider à esquerda, católico, can-

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didato de um partido de orientação marxista, que tem apenas dez anos, visto com reservas por setores mais urbanos da esquerda. O programa de governo do Pátria Libre propõe a convocação de uma Assembléia Constituinte, que garanta saúde, educação, moradia como direitos. Um Estado mais presente na economia. Pretende-se renegociar e, no limite, cancelar contratos com empresas transnacionais; reforçar uma economia popular de mercado, tornar o sistema tributário mais justo. A rigor um programa nacional popular, algo inspirado no modelo boliviano. Não será tarefa fácil, pois o Pátria Libre tem maioria relativa no Congresso, secundado pelo Fuerza Popular de Fujimori que promete oposição feroz, além de um grupo de pequenos partidos de diferentes ideologias. Os tempos do medo parecem por ora superados. Cambios de abajo hacia arriba?

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regional

Tudo pela imagem João Carlos Gastal Júnior

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nalisada apenas como uma jogada de “marketing” político, parece-me indiscutível a avaliação de que a saída do armário de Leite é um estrondoso sucesso. Repercussão gigantesca. E cá estou dando, também eu, modesta contribuição para que mais reverbere o espetacular “debut” do mais jovem governador do Brasil no “Grand Théâtre” da política nacional. Entre as incontáveis manifestações acerca da já histórica declaração de Leite a Bial, um texto de Moisés Mendes, sob o título “Boa luta, governador”, vem sendo bastante citado. O desejo manifestado por Mendes é que “Leite deixe de ser omisso e oriente sua atuação como homem público a partir de agora nessa direção do acolhimento, da afirmação e da militância pelo respeito às diferenças.” Que me perdoe o conterrâneo que desponta já como respeitável contendor na disputa pela Suprema Magistratura da Nação (como diziam os oradores da minha infância): sou forçado a fazer julgamento mais severo do que o de Mendes. Para mim, é de pasmar a desfaçatez de um sujeito que concede uma entrevista assumindo sua orientação

sexual e consegue não dizer uma palavra -- uma sílaba, uma vírgula -- sobre o fato de ser pré-candidato à Presidência do País que ostenta o mais alto índice de homicídios da população LGBTQIA+ do mundo. Por que Leite não pôde emitir um mísero som a respeito da tenebrosa realidade vivida pelos gays e lésbicas brasileiros que não desfrutam dos mesmos privilégios que ele? Tanto do ponto de vista político como do ponto de vista jornalístico, parece-me óbvio que a mínima abordagem que Leite fizesse sobre a LGBTfobia teria uma consequência catastrófica para suas pretensões políticas (as mesmas da Rede Globo, está bem claro agora). Necessariamente,

a pergunta seguinte seria: “Qual é a justificativa para você ter apoiado, na última eleição presidencial, o candidato que era abertamente homofóbico (e machista, e racista, e propagador do ódio e da violência, e inimigo do meio ambiente e dos povos indígenas, e...)?” Em uma postagem nas redes alguém escreveu: “já é espantoso para mim que alguém com alguma noção de civilidade e história tenha apoiado Bolsonaro. Descobrir que o sujeito é gay redobra o espanto.” Concordo integralmente. E vou mais longe: Escapa à minha compreensão que alguém com algum resquício de humanidade, de humanismo tenha apoiado Bolsonaro. Ou mesmo que se tenha omitido ante o risco de o psicopata ser eleito. E muito mais ainda quando a alternativa era um professor universitário moderado, bacharel em direito, mestre em economia, doutor em filosofia, com passagens muito exitosas pela Prefeitura da maior cidade da América Latina e pelo Ministério da Educação, íntegro, capaz, talentoso e, sobretudo, muito humano. Desde antes da concretização da tragédia, digo que só passei a acreditar nessa possibilidade (de concretização da tragédia) a partir da infame facada. O monstro desumano conseguiu humanizar-se aos olhos de 57 milhões de eleitores no papel de vítima de uma facada. Na eleição seguinte, o jovem, fulgurante governador gay (e não gay governador, lembrem-se) que apoiou o monstro homofóbico adquire irresistível verniz sobre-humano em sua espetacular saída do armário sob a bênção de Pedro Bial. Ah, a Vênus Platinada... A fábrica de sonhos...


bioma pampa

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Gênese de uma nova tira

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ioma Pampa é a tira que Schröder lançou no final de maio, espraiou-se como trevo-nativo tornando-se mais apreciada que nhandavaí. O bioma pampa real é uma região exclusivamente gaúcha: são 700 mil quilômetros quadrados ocupando o sul do Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. O bioma gerado por Schröder é parecido, mas trata do mundo todo. Ele mesmo explica, em letras e figuras, como é.

Um pampa mítico Fazia 40 anos que me preparava covardemente para voltar a desenhar quadrinhos. Minha tentativa de mais fôlego tinha sido nos anos 1980 com

um lobisomem com queda de cabelos que não consegui dar conta, em que pese o excelente roteiro do Ernani Ssó. Embora tenha me criado lendo e gostando de quadrinhos, desenhá-los sempre me assustou. A minha provável hiperatividade me impedia ter a disciplina necessária para repetir personagens, cenários e etc. Pois a pandemia e a ameaça do bolsonarismo me levou a uma espécie de frenesi criativo que está expresso no Grifo e nesta tirinha que nasceu aparentemente de maneira espontânea e gratuita. A queda da horrorosa estátua da Havan pelo heroico vento pampeano me fez quase de maneira mediúnica desenhar um quero-quero e colocar no seu bico o título da obra do Érico Verissimo. Daí foi uma enxurrada

de tiras, ideias e principalmente ambientação. Embora sem nome ainda, eu sabia que se passaria no pampa e que usaria todos os seus personagens, humanos ou não. O cenário não seria real, mas o da minha memória e falsificado, já que só fui para o pampa propriamente dito quase adulto, sempre de passagem. Cresci em Santo ngelo, nas Missões, espécie de ante-sala do pampa, tanto do ponto de vista da topografia quanto antropologicamente. Desenhar, desde sempre, não foi uma opção ou, mesmo, uma escolha. Desenhar se impôs como forma de tentar acertar o mundo imperfeito, com a ajuda da política, da literatura, do cinema e depois, bem depois, do jornalismo.


20 Bioma Pampa, nome que acabou ficando por falta de alternativa, ainda não é quadrinho, é apenas uma tirinha, com todos os seus desafios: tempo de execução, espaço para desenvolver a ideia e uma estrada congestionada de boas histórias gaudérias. Só o Taurino, do Santiago, já é de fazer desistir qualquer desenhista com alguma responsabilidade, embora a minha predileta continue sendo Inodoro Pereyra do saudoso Fontanarosa. Por isso apostei na bicharada que me encantou concreta e literariamente. Não esqueço das lontras

bioma pampa que vislumbramos na barranca do rio Ijuizinho, do ratão-do-banhado morto e inchado que passou por nós boiando no rio Ijuí onde nos deliciávamos bebendo água, ou dos quero-quero aguerridos que nos atacavam para nos afastar de seus ninhos. Como esquecer o cheiro, que nunca conseguirei desenhar, obviamente, de zorrilho na chuva quando íamos acampar? Ainda falta muito para este universo se consolidar e seus personagens começarem a fazer parte da vida de alguém como Tarzan ou Fantasma

fizeram da minha, mas espero contribuir para este mundo mítico/literário/gráfico. A tira me trouxe à memória a imagem da pequena coruja que nos encarava de sua toca no campo, do lagarto enorme que compartilhava valentemente do mesmo nosso espaço. Sem falar do gado, cavalos, ovelhas, porcos e galinhas que compartilhavam o espaço urbano de uma cidade quase rural. O prazer que me deu desenhar encontrou alguma reciprocidade em leitores gentis que me estimularam a continuar. (Schröder)


cultura

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A marcha fúnebre do capitão Tau Golin Mais de 500 mil mortos Na marcha fúnebre do capitão. Logo serão 600 mil vítimas No morticínio bolsonarista. Silêncio indignado e profundo O vírus rindo do negacionismo, Famílias pagando o milicianismo! A bomba atômica matou 40 mil, A cada lançamento ianque. Quinzenalmente, o genocídio De um torpedo nuclear Devasta vidas no Brasil.

EDU OLIVEIRA

Fogo “amigo”, no necrotério Etiquetas de votos dos mortos Atadas nos dedões das vítimas, Do algoz, 17 macabro, cadáveres Caídos das falanges neofascistas, Embandeiradas de verde e amarelo, Famílias destroçadas pela dor. Vítimas úteis, vítimas inocentes, Vítimas na baba da fala, vítimas

Que não cabem no cercadinho, No brete miliciano do orador. Brasil, país funeral. Brasil, nação luto. Brasil, desalmado. Brasil, trágico. Brasil, do samba sequestrado... País das flautas e tacapes desterrados... País do povo embuçalado como gado. Vírus, contágio, velório e enterro Vão na marcha de morte do capitão. Sincopados de soluços, choros, gritos, Gargantas convulsionadas, perdas, Silêncio e transtornos nos cemitérios, Na época do governo das covas, Das florestas convertidas em caixões. Dos mortos ouve-se uma marcha militar. Não há cerimônia, despedida de Chopin, Dignidade da música de Ernesto Nazareth. Tudo é chulo como a morte sem sentido, Vírus não atacado antes da multiplicação, A vida vulgarizada, a violência propagada, Na trilha da marcha fúnebre do capitão.


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cultura

O “erro de design” da bandeira Cesar Valente Jornalista vacinado e mascarado

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á alguns anos (mais precisamente em 2007), assisti a uma palestra do Hans Donner, aquele designer que ficou famoso fazendo a programação visual da rede Globo. Entre muitas ideias e pitacos, ele deu uma sugestão para melhorar o desenho da bandeira do Brasil que tem, segundo ele “um erro de design”: a expressão ordem e progresso faz uma curva descendente. Uma das leis do design diz que quando a gente inclina uma linha de texto, ela deve ser ascendente, para facilitar a leitura. No caso do lema da bandeira brasileira, “o progresso está pra baixo”. Ele achava que, se corrigissemos esse erro, o País melhoraria mais rápido. Ficaria “pra cima”. Não perguntei o que ele estava querendo dizer, em 2007, com isso de “o país melhoraria”. Mas, de fato, a faixa central, com o lema positivista, está descendo. Caindo à direita (essa frase, dita hoje, soa muito estranha) e dá um sentido de derrota, desânimo, desalento, fracasso. E talvez o ânimo geral do país e dos brasileiros melhorasse se a faixa fosse inclinada de outra forma, paraficar ascendente. Claro, novamente, dizer hoje que seria melhor elevar a extremidade direita, assusta. Mas vocês sabem do que estou falando. Se não sabem, por favor dêem uma olhada nos exemplos queilustram essa catilinária. Coloquei lado a lado (imagem 1) a bandeira como ela é e como ela ficaria se corrigissemos o que o Hans Donner chamou de “erro de design”. ***

Mas, olhando bem para a bandeira, não é só a inclinação da faixa que parece errada. Tem um problema sério também com as palavras escritas ali, herdadas do lema do positivismo, criadopelo Augusto Comte (no original L’amour pour principe et l’ordre pour base; le progrès pour but. O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim). O país em que nos transformamos desarrumou a ordem (o milico expulso do quartel por estar abaixo dos padrões da milicada da ditadura, agora manda em generais e os humilha como se recrutas pascácios fossem) e jogou

o progresso numa vala qualquer, junto com uns 500 mil cadáveres. Por isso, acho oportuno pensar seriamente na mudança daquela frase da faixa central da bandeira. Não consigo pensar em mais nada além do fato de que o ideal seria escrever, ali, Morte é Progresso (imagem 2). E, com essa mensagem sintética, clara e abrangente, a inclinação da faixa poderia ficar como está, porque é perfeitamente adequada a um país cuja bandeira, depois de tudo o que fizeram com seu povo e com seus símbolos, sinaliza derrota, desânimo, desalento, fracasso…


cultura

Corda e caixa Alaúde ela vai lá em casa. Ficamos de papo, naquela balalaica toda. Mas quando ela vira o bandolim para o meu lado, aí o banjo se manifesta. Confesso: eu cavaquinho. Ela canta, geme, fala – e até cítara indiana no original. Contra todas as expectativas, eu... craviola!! E ela de lira. Não desafinamos. Ukelelê! – eu me entusiasmo. Ela como um violão... Pela janela, enciumado, eu vi o Lino. Mas ela pensava num ex-namorado, e viu o Lon (sê-lo, porém, é o que importa). Contrabaixo... não há argumento. José Antônio Silva 05.02.2021

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veni, vidi, vicenzi

Na marca do pênalti Celso Vicenzi

R

oupeiro, massagista, olheiro e técnico de futebol, Antônio Franco de Oliveira, mais conhecido por Neném Prancha, foi definido pelo jornalista Armando Nogueira como “filósofo do futebol”, por suas frases de sabedoria e humor. Por exemplo: “O pênalti é tão importante que devia ser cobrado pelo presidente do clube”. Então, vamos imaginar como pessoas conhecidas e integrantes de várias profissões bateriam um pênalti. Marx: à esquerda. Trump: à direita. Milan Kundera: com insustentável leveza. Casanova: com muita malícia. Spielberg: com efeitos especiais. FHC: com firulas esnobes. Maluf: enganando o goleiro, o juiz, o bandeirinha... Bolsonaro: com total irresponsabilidade. Hitler: fuzilaria o goleiro. Boulos: com potência emergente. Haddad: com elegância e educação. Gilmar Mendes: com muitas manobras. Ciro: chutando pra fora e culpando o PT. Olavo de Carvalho: com maniqueísmo. Luciano Huck: com muita pretensão e nenhuma experiência. Moro: chutando conforme instruções dos EUA. Augusto Aras: mancomunado com o goleiro. Moreira da Silva: com paradinha (ou breque!).

PAULO CARUSO

Cristiano Ronaldo: olhando pra câmera. Michel Temer: com um golpe traiçoeiro. Lula: como nunca antes na história do futebol. Freud: sem ato falho nessa hora. O capoeirista: com uma rasteira. O magistrado: com efeito... suspensivo. O halterofilista: com muita força. O astronauta: com um foguete. O matemático: com cálculo preciso. O filósofo: depois de muito pensar.

O economista: com algum percentual de acerto. O pedreiro: com um tijolo! O funkeiro: com um pancadão. O pescador: direto na rede. O ecologista: onde a coruja dorme. O boxeador: cruzado. O carteiro: com endereço certo. O humorista: com graça. O paisagista: com um pouco de floreio. O alpinista: no alto. O estilista: com elegância. O padre: rezando pra bola entrar.


MAHNAZ YAZDANI (IRÃ)

ARES (CUBA)

só cartum

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só cartum


texto e traço

lu vieira & rodrigo schuster

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Caseína

U

m erro que eu sempre cometo é selecionar a opção “dobro de queijo”. Não tem nenhuma necessidade de pedir o dobro de queijo em um xis quatro queijos, mas eu vejo o botão e clico. É mais forte do que eu e é por isso que minhas costas doem. Dos cinco quilos que eu tenho que perder, seis são queijo. Uma nota de rodapé de um programa de TV me disse que o queijo tem uma substância chamada Caseína, que não é uma banda e sim uma proteína com 10% do efeito da morfina. Isso significa que minha ânsia não está apenas no paladar, mas também no leve efeito psicotrópico, o que explica por que a compulsão não é só minha e sim generalizada. Há muitas pessoas que não comem queijo, por razões ideológicas, morais, filosóficas ou religiosas. Mas mesmo essas pessoas gostam de queijo; geralmente largar essa delícia da galáxia é um dos grandes desafios de adotar uma dieta vegana. O ponto é que quase todo mundo gosta de queijo. E eu tô escrevendo quase aqui porque minha irmã lê essa coluna. Se eu escrever todo mundo, ela vai ficar chateada da pior forma possível, que é tendo razão. Minha irmã é a única pessoa que conheço que não gosta de queijo, nunca gostou e só não digo que nunca vai gostar pois é impossível prever desejos futuros, de qualquer natureza. Minha irmã detesta queijo, até o cheiro. Se ela comer algo que tem queijo, mas ela não sabia, ela pensa que a comida tá estragada. Esse é o tanto que minha irmã detesta queijo. Mas vejam bem, mes-

mo detestado, o queijo receberia o voto da minha irmã em um eventual segundo turno contra Bolsonaro. O queijo não é um genocida sádico, o queijo nunca defendeu espancamento de homossexuais, jamais considerou o estupro um elogio à vitima e não considera depravação uma pessoa branca namorar com uma pessoa preta. Tá certo que minha irmã é muito inteligente e um ótimo ser-

-humano, mas nem precisa muita capacidade cognitiva para entender que o bolsonarismo é intragável. Não é necessário sequer ser uma boa pessoa para saber que esses pensamentos de Bolsonaro não deixam espaço para a neutralidade. Entre oferecer aos moradores de rua um caldeirão de queijo ou um caldeirão de veneno, decidir não oferecer nada é tão maldoso quanto escolher a segunda opção.


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entrevero TIAGODETARSO

421

500

mi

mi

mil

2 Você acreditou mesmo que vale um dólar? Relaxa, esse governo não vale um tostão furado. Caco Bisol


entrevero

O lema do onanista: sexo é comigo mesmo. Demétrio Xavier

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entrevero


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artes drásticas

MORO (CUBA)

BRADY (CUBA)

LU VIEIRA

MORO (CUBA)

BRADY (CUBA)

MORO (CUBA)


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artes drásticas

MORO (CUBA)


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