MUNDO América Latina se move PÁGINA 8
Nº 19 O1-15 MAR 2022
JORNAL DOS CARTUNISTAS DA GRAFAR
PAPO RETO COM
JORGE FURTADO Tivemos esse azar duplo: vírus e vermes PÁGINA 16
O caldeirão PÁGINA 3
O que nós temos a ver com isso?
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briga é lá no leste da Ásia. E nós com isso? Por que um deputado estadual, chamado Mamãe falei, hoje morista, ontem bolsonarista, vai até lá e manda relato dizendo que as mulheres ucranianas “são fáceis”? Ele está interessado na maior usina nuclear da Europa? Tá preocupado com mísseis da Otan nos países próximos apontados para a Rússia? Tá interessado em aprender política com Volodymyr Zelensky, comediante que se elegeu presidente usando um discurso parecido com o de Bolsonaro? Enquanto muitos brasileiros tentavam sair da Ucrânia, ele foi pra lá. Talvez ele também tenha pensado que não é uma guerra regional, mas sim uma guerra que pode mudar o mundo. Pelo menos foi isso que a gente concluiu aqui no GRIFO. Rússia e China assinaram um acordo comercial semanas antes. E a China cada ano torna-se economicamente mais forte e compra muita coisa do nosso continente, principalmente do Brasil. Então, a briga lá longe tem muito mais importância que as bobagens de parlamentares caricatos. Tão importante que a gente decidiu não falar da política nacional e outras maze-
O GRIFO de Eugênio Neves
las. A guerra vai mudar a geopolítica também aqui na América Latina. E o GRIFO acha que vai mudar para melhor, ou para menos pior. Já é alguma coisa. Não é só o GRIFO que pensa assim. No “papo reto”, Jorge Furtado defende alianças amplas para derrotar essa ideologia que comanda o país e começa a minguar na América Latina, mas esperneia muito. O governo aproveitou a dificuldade de importar fertilizantes russos por causa da guerra para defender o garimpo em territórios indígenas. Tá, combinamos de não falar na pandeconomia nesta edição, mas tem coisa que não dá pra calar. Outra coisa que tratamos com Jorge Furtado foi o noticiário dessa guerra. Uma cobertura à distância, com várias pessoas dando a mesma opinião. Uma espécie fake news oficialista. Tem também a briga que vem de longe no tempo que anualmente é lembrada em 8 de março, o Dia Internacional da Mulher. Abrimos uma página. Mas na prática, essa é uma luta diária e solidária às lutas por melhores salários, contra discriminações e por melhor distribuição da riqueza.
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Grifo - jornal eletrônico quinzenal de humor. Publicado desde outubro de 2020. Realização de cartunistas da Grafar (Grafistas Associados do RS) Editor: Marco Antonio Schuster Editores adjuntos: Celso Augusto Schröder e Paulo de Tarso Riccordi. Edição gráfica: Caco Bisol Participam desta edição: Minas Gerais: Duke Pará: João Bosco Pernambuco: Thiago Lucas Rio de Janeiro: Adhemar Mineiro, Aroeira, Carol Cospe Fogo, Miguel Paiva Rio Grande do Sul: Alisson Affonso, Bier, Bierhals, Carlos Roberto Winckler, Edgar Vasques, Erico Verissimo, Eugênio Neves, Gilmar Eitelwein, Juska, Kayser, Lídia Fabrício, Lu Vieira, Marciano Schmitz, Marco Schuster, Maria Lídia Magliani, Moisés Mendes, Óscar Fuchs, Pena Cabreira, Rodrigo Schuster, Schröder, Simch, Tarso, Uberti Santa Catarina: Celso Vicenzi São Paulo: Bira Dantas, Caco Bisol, Carlos Castelo, Emir Sader, Ésquilo, Faria Lima Elevator, Gilmar Machado, Jota Camelo, Luis Nassif, Mouzar Benedito E MAIS: Colômbia: Elena Ospina, Jarape Jairo Pelàes Cuba: Ares - Aristides Hernández Herrero, Brady Izquierdo, Michel Moro Gomez Espanha: Flavita Banana Estados Unidos: Liza Donnelly, Woody Allen México: Antonio Rodrigues Garcia Reino Unido: William Shakespeare Turquia: Musa Gümüş
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editorial
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Eita mundo novo sem eira nem beira
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pelo balanço das ogivas que se acomodam as geopolíticas. Tem guerra na Ucrânia e novos impérios nascendo para incomodar o mandonismo do Tio Sam, que tá precisando fazer uns arreglos com a América Latina. Ela se mexe para ficar um pouquinho mais bem acomodada enquanto os outros brigam.
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A história, a repetição e a rima
Eugênio Neves
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omo acredito que a história não se repete, porque as condições de cada de um de seus momentos têm suas especificidades, acho oportuno citar Mark Twain: “A história não se repete, mas rima por vezes”. Na crise que envolve a Ucrânia nesse momento, o que rima com o passado é a tentativa dos EUA e seus “proxys” ocidentais de usar mais uma vez o fascismo como ponta de lança para impor seu projeto de dominação. Mas a semelhança com o passado acaba quando se considera que no período pré segunda guerra não havia ninguém capaz de prever as consequências catastróficas da aventura fascista que o capitalismo financiou e instrumentalizou. A bem da verdade há que se admitir que alguns intuíram que tudo acabaria muito mal mas não tiveram poder para se fazerem ouvir. Mas agora todo mundo conhece a história e se existe uma repetição ela está expressa somente no comportamento de quem quer negá-la. Então
cabe aqui uma retrospectiva que tem que iniciar obrigatoriamente a partir do colapso da URSS. Lá em 1990 a OTAN assumiu o compromisso de não se expandir até a fronteira russa. Essa foi uma promessa pró-forma feita a uma potência “derrotada” e que o ocidente jamais imaginou que precisaria cumprir. Aí já fica muito claro que a história não estava se repetindo. Superada a derrocada pós colapso da URSS, a Rússia passou a reivindicar o protagonismo que tinha direito dada a sua relevância geopolítica. A primeira data marcante dessa retomada foi 10 de fevereiro de 2007, quando Putin discursou na Conferência de Segurança de Munique e acusou sem rodeios os EUA de estar minando a estabilidade mundial com sua pretensão de dominação unipolar. O segundo grande evento do protagonismo russo deu-se em 2015 quando eles entraram na guerra da Síria e literalmente estilhaçaram os planos dos EUA, OTAN, Israel e petromonarquias wahabitas para “redesenhar” o mapa do Oriente Médio. O terceiro evento deu-se em março de 2018, quando Putin anunciou
uma série de armas com tecnologia de ponta, incluindo mísseis hipersônicos, que deram à Rússia uma vantagem estratégica que a tornou capaz de vencer uma guerra não nuclear com os EUA. Desde então a Rússia iniciou uma modernização acelerada das suas forças armadas de tal forma que o ocidente não pudesse mais confrontá-la no plano militar e que estabeleceu a base para a confrontação política que começou a se esboçar no final do ano passado - o quarto grande evento - e que colocou sobre a mesa aquilo que até então era impensável para os EUA e os europeus ou seja, o cumprimento dos compromissos que assumiram com os russos a mais de trinta anos atrás. Mas, por via das dúvidas, é prudente considerar que pelo menos num ponto a história pode estar se repetindo. Pois o que estão fazendo agora os russos na Ucrânia senão limpando a lambança e pondo ordem no caos deixado pelos EUA e a Europa Ocidental por conta do apoio que deram, PELA SEGUNDA VEZ, a ascensão do nazismo?
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A luta é contra a hegemonia Lidia Fabrício
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ão se trata de ser contra ou a favor da guerra. A coisa é complexa demais, por isso é melhor buscar informações para entender como se chegou a isso. Por aqui, a Globo conseguiu se tornar o mais novo país membro da OTAN, antes mesmo da cobiçada Ucrânia, e já transformou o comediante nazista no herói que não abandona seu povo. O documentário de Oliver Stone, “Ucrânia em chamas”, é um bom começo para iluminar o que está encoberto pela mídia global. Ali está quase tudo o que vem acontecendo por lá desde a revolução laranja, em 2004, a revolução colorida, em 2014, o papel de Soros, de Biden, da Victoria Nuland, do embaixador americano que recebia os ativistas na Embaixada, da União Europeia, das ONGs, de mídias e jornalistas vendidos, das brigadas nazistas, das milícias e, por fim, da OTAN, que descumpriu o acordo feito com Gorbachev de não avançar sobre os países que deixaram a URSS.
Essa guerra começou há oito anos, deixando pegadas de sangue e mortes que não provocaram qualquer comoção em corações e mentes. Está tudo lá, a violência e os assassinatos na praça Maidan, a ascensão e ação criminosa dos batalhões mascarados e armados de extrema-direita, o massacre horripilante em Odessa (no qual se repete a prática nazista de encerrar pessoas em edifícios e queimá-las vivas), o argumento da corrupção, o impeachment, o golpe, o candidato fantoche que virou vítima num atentado por envenenamento e por isso conseguiu se eleger. Assistindo a todos os fatos, não há como não ver um roteiro bem nosso conhecido: o da guerra híbrida. Os atos de 2013, o argumento da corrupção, o processo de impeachment, o golpe, a Lava Jato, a eleição das fake news e da fakeada, a escalada miliciana, a passagem da Sara Winter por treinadores ucranianos. O filme é de 2016, não aborda a eleição do fantoche comediante Zelensky em 2018, nem computa as 14 mil mortes na guerra do Donbass, pelas quais não se viu ninguém cho-
rar. Mas aborda a história da Rússia e da Ucrânia, incluindo o lado que cada uma assumiu frente ao nazismo e ao extermínio de judeus na segunda guerra. Também documenta os laços entre a inteligência americana e os nazistas ucranianos durante a guerra fria, os quais, após a segunda guerra, tiveram abrigo nos EUA e foram poupados em Nuremberg. Se a guerra é o horror extremo e atinge a todos nós, não basta o gesto vazio de se autodeclarar pacifista. É preciso pensar sobre as conspirações, estratégias e interesses geopolíticos que a colocam em marcha e procurar apreender e denunciar a complexidade das forças que nos governam, se estamos caminhando para a destruição ou para uma nova ordem mundial, com algum equilíbrio entre poderes antagônicos. Sem esquecer que, se a luta é contra a hegemonia do Império que nos açoita, e se Putin é o único que contra ele se levanta, não se pode aderir à campanha de demonização que as grandes redes de desinformação estão promovendo. Uma Rússia de joelhos é tudo o que não queremos.
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América Latina: percursos e oportunidade na crise Carlos Winckler
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conflito entre Rússia e Ucrânia tornou ainda menos visível a América Latina. A presença dos EUA na região vem sendo relativizada, dada a crescente e pragmática presença chinesa, importante parceira comercial como importadora de commodities e investidora na área de infraestrutura e mineração. Nos anos recentes, há uma retomada do progressismo com dinâmica complexa e diferenciada. Vitória eleitoral do MAS na Bolívia, após curto golpe; êxito do chavismo nas últimas eleições regionais e em importantes cidades na Venezuela, apesar do bloqueio dos EUA; vitória de Pedro Castillo do Patria Libre no Peru, com governo paralisado pela direita; a perspectiva de vitória da esquerda no Brasil com Lula, dado o desastre do neofascismo colonial; a Colômbia, país com bases militares estadunidenses, pode romper o ciclo direitista com Gustavo Petro do Pacto Histórico nas próximas eleições. O Chile aparece como instigante experiência no momento. O estallido de 2019 no Chile, produto da insatisfação acumulada nos governos pós ditadura, resultou no plebiscito em 2020, que aprovou constituinte exclusiva com o propósito de substituir a Constituição de 1980 da ditadura, que impôs um papel residual ao Estado e o primado da lógica mercantil em todos setores, com altos custos sociais, apesar de emendas posteriores. A eleição dos convencionais foi em maio de 2021, com escolha de ampla maioria de candidatos inde-
pendentes, que somados às listas da oposição de esquerda e centro esquerda superou dois terços dos 155 assentos da Convenção, impedindo vetos da direita, com paridade entre homens e mulheres, além da reserva de 17 assentos aos povos originários. A Convenção foi instalada em junho de 2021, em setembro o novo texto constitucional deverá ser submetido a referendo. Nas comissões o leque de discussões é amplo: vai de temas como estrutura do Estado aos direitos da natureza. Foi aprovado em comissão o informe de que o Estado nacionalizará empresas de materiais metálicos e não metálicos (por ex. cobre e água), entre outras normas. Em votação plenária se definiu que o Chile é um Estado regional, plurinacional e intercultural, foi aprovado o caráter paritário de convivência com sistemas jurídicos indígenas, povos e nações pré- existentes à colonização deverão ser consultados, respeitando-se seus direitos constitucionais.
A direita intensifica na mídia ataques à Constituinte, pesquisas indicam aprovação da nova Constituição. Em entrevista, o editor da revista liberal The Economist alerta que o crescimento econômico será afetado se a Constituição for “muito anticapitalista” e que será crucial ao novo governo a capacidade de fazer amplos acordos, pois as eleições parlamentares mostraram uma recuperação da direita no Senado e fragmentação da esquerda na Assembléia, em que pese a vitória de Boric à presidência. Há melhoria do cenário político na América Latina, mas a direita mostra fôlego inesperado. Paradoxalmente a emergência do bloco Rússia/China, em parto doloroso, abre espaço para negociações proveitosas, caso se jogue com os impasses entre os blocos. Historicamente, não é uma novidade. A presença de missão estadunidense em Caracas por iniciativa de Biden é indício de que algo se move nesse sentido.
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Uma nova América Latina por construir Adhemar S. Mineiro*
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omeçamos este século, num mundo em que os EUA davam as cartas, hegemonia neoliberal no campo da economia e a América Latina comandada por governos liberais resultantes dos ajustes comandados pelas instituições financeiras multilaterais desde a crise das dívidas externas e a inflação alta dos anos 1980. Entramos o novo século prontos a reforçar cada vez mais a exportação de primários da região e discutindo a chamada ALCA, projeto de aprofundamento da liberalização comandado pelos EUA. Mas o aprofundamento liberal resultou em acirramento de conflitos sociais e políticos e na busca de alternativas. Em poucos anos, a América Latina freou a marcha batida do projeto liberal, para a busca de alternativas, um giro para posições mais progressistas. Nessa busca, apareceu com força a ideia da integração regional, a construção de uma outra alternativa que possibilitasse a chamada “integração dos povos”, através da busca de outros projetos que não de um desenvolvimento isolado. Esse processo foi mais uma ideia, que avançou na construção de alguns instrumentos, como UNASUL (União das Nações Sul-Americanas) e CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), mas que, como projeto econômico, avançou pouco. Nesse mesmo período das primeiras décadas do novo século, apareceu um novo parceiro importante no cenário internacional, a China. Rapidamente, cresceu o comércio dos países latino-americanos com esse novo grande parceiro, que passou a ser para muitos dos países da
região, Brasil incluído, o principal parceiro comercial. Entretanto, as elites econômicas dos países da região voltaram a fazer o que sabem em relação ao sistema econômico mundial desde o século XVI: exportar commodities agrícolas e minerais. A entrada em cena da China reforça o extrativismo. A China é enorme demandante de alimentos, minerais variados e energia (petróleo). A disputa entre EUA e China no se reflete aqui na região por uma busca das elites regionais se subordinarem como fornecedores de produtos básicos. O aprofundamento do extrativismo, entretanto, além de excludente do ponto de vista social, é agressivo ao meio ambiente. Isso
faz com que cresça a oposição aos governos ultraliberais que foram se assenhorando do poder desde meados da segunda década deste século. No início dos anos 2020, começou a se criar uma nova onda em busca de alternativas, que possam ser ao mesmo tempo inclusivas do ponto de vista social e que se viabilizem como alternativas à desigualdade e à degradação ambiental. Essa onda, de forte componente democrático, só pode se estruturar tendo como eixo um modelo alternativo de desenvolvimento. É hora de rediscutir a integração regional em novos parâmetros? * Economista, Assessor da REBRIP (Rede Brasileira pela Integração dos Povos) e membro da Coordenação da ABED-RJ (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia).
marciano schmitz
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schröder
A verdade morreu?
“A
verdade não pode ser a primeira vítima de uma guerra” deveria ser a frase para substituir o clichê que, de alguma maneira, naturaliza a mentira e a manipulação em tempos de conflito. Citada à exaustão, a frase atribuída a Ésquilo “a verdade é a primeira vítima da guerra” sequer é verdade ela mesmo. Se nos lembrarmos da Guerra do Vietname encontraremos lá um vigoroso jornalismo, que ajudou a acabar com o injusto conflito. Hoje, cobrindo a guerra a quilômetros de distância, pautados por agência de notícias historicamente vinculadas a agências de inteligência e comandados por interesses empresariais nada inocentes, os jornalistas constituem aquilo que o Ignacio Ramonet chamou de “curto circuito informacional” onde uma fonte jornalística pauta a outra sem mediação da crítica ou da racionalidade. Munidos de seletiva indignação moral, municiados de um pacifismo momentâneo e localizado e come-
tendo o pecado capital de qualquer iniciante no ofício que é de se perguntar o porquê, jornalistas criaram um mantra mistificador que blinda um nazista e garante uma escalada que encaminha para a terceira guerra mundial que será certamente a última. Os mesmos jornalistas que suportaram líderes mundiais serem trucidados ao vivo pela TV, que ignoraram as balsas afundando com milhares de refugiados impedidos de entrarem na Europa. Jornalistas que testemunharam drones e helicópteros despedaçarem famílias inteiras em nome de “guerra sem corpos”, agora se armam de pieguice lacrimosa que está legitimando um nazista miliciano que já começa a impor condições à uma Europa cada vez mais racista e autocentrada. Um tanque ucraniano que perde a direção e atropela um automóvel virou, para a imprensa brasileira via JN, um tanque russo que “desvia a rota para atropelar cidadão que ten-
querqueescreva?
tava escapar do cerco a Kiev” que nem havia começado ainda. Uma explosão solitária numa TV ucraniana vira míssel infalível que acerta antena, explosões em série num edifício provavelmente abandonado vira ataque em massa de mísseis que sempre têm o azar de ter um celular voltado esperando o precioso momento. Finalmente, “o pior ataque da história” e “que botou em risco a Humanidade”, segundo a esganiçada imprensa nacional, o incêndio suspeito num escritório da maior usina atômica do mundo virou ataque suicida às turbinas, o que foi questionado inclusive, para incômodo do jornalista da Band News, pelo chefe da pesquisa nuclear brasileira que, logicamente, não viu sentido em tropas russas danificarem uma usina que já foi sua e significa garantia de energia para o país que os russos querem construir. Na verdade, não foi a guerra quem matou a verdade e sim aqueles que têm por ofício protegê-la.
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fez-senews
moisés mendes
Os difíceis homens ucranianos
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olsonaro iria reunir os ministros para avaliar a guerra, porque Putin prometia e não enviava o adubo para o nosso agro é pop. Foi quando Carluxo suspirou e disse: ah, se os brasileiros tivessem a coragem dos ucranianos. Mamãe Falei, que esteve na Ucrânia e estava ali no gabinete para narrar o que viu, concordou com o garoto: – O homem ucraniano não é fácil – disse o ex-deputado. – Como assim? – perguntou Flavio. Mamãe Falei se empolgou: – Eu passei por três barreiras alfandegárias e vi soldados que vou te contar. É inacreditável, eu fiquei louco. – Vai contando – disse Eduardo. – O homem ucraniano é qualquer coisa. Mas ele não é fácil. Você não vê um homem daqueles na noite de São Paulo. Talvez em Saint-Tropez. Bolsonaro acomodou-se na cadeira e Mamãe Falei continuou: – Vi homens estonteantes. Não, não peguei nenhum porque eles não são fáceis. Mamãe Falei explicou que os russos têm ciúme dos homens ucranianos. E que esse pode ter sido um dos motivos da guerra. – Juro que nunca na minha vida vi nada parecido em termos de homem. Vi fila de soldados ucranianos, coisa de 200 metros de fila, só com deuses. Vi anjos. Nada de botar fora. E tirou da carteira uma foto de um soldado que se chamava Aleksey. – Esse daqui era o mais médio de todos eles, e olhem só. Mas repito: não são fáceis. Bolsonaro e os filhos espicharam o pescoço para olhar. Carluxo suspi-
rou fundo e passou a se abanar com um risque-rabisque, porque Bolsonaro ainda usa risque-rasbique sobre a mesa. Mamãe Falei contou o que sentiu ao ver soldados com o perfil de Aleksey. – Não tenho palavras para explicar. Se um homem daqueles cagar, você limpa o c* dele com o nariz. Ninguém riu. A sala foi se enchendo aos poucos, porque haveria uma reunião de ministros logo a seguir, e Mamãe Falei empolgou-se com o público. – Não temos nada parecido com aqueles soldados. Eles são intensos. – Intensos? – perguntou Carluxo. – É modo de dizer, porque juro que eu não peguei ninguém, porque nem dava tempo, e eu estava há três dias sem tomar banho – disse Mamãe Falei. Havia no ar um apelo sufocado por conta mais, fala sem freios, abre teu coração e não contém teus instintos.
Mamãe Falei posicionou-se no centro do grupo, em pé, excitado, sempre girando e olhando em volta, como se quisesse contemplar a curiosidade e as atenções de todos. – Eu voltaria para aquela guerra. Eu arrecadaria mais R$ 200 mil desses otários que pensaram em ajuda humanitária e voltaria, só para... nem vou dizer. – Diz, diz, diz – ouviu-se um coro na sala, como se os ministros fossem garotos travessos. Mamãe Falei fez um suspense e revelou: – Eu queria uma volta num tanque T-84 OPLOT com um deles, com a escotilha fechada. Mas eles não são fáceis. Bolsonaro levantou-se de repente da poltrona e ordenou: – Agora chega. Vamos trabalhar. Foi quando se ouviu uma voz ao fundo, balbuciada, em tom de confidência que pedia para ser libertada: – Uma vez no Haiti, eu...
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ONOFRE, O GAUDÉRIO DE APÊ Óscar Fuchs
BIOMA PAMPA Celso Schröder
Lu Vieira
tiras
13 COLARINHO, PÃO E VINHO João Bosco
ROBALO Kayser
MORGANA, A BRUXINHA Celso Schröder
RANGO Edgar Vasques
tiras
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8 de março
”Eu pedi ao Harold que nos trouxesse o ponto de vista feminino”
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diaborosa
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PALAVRAS DA SALVAÇÃO POA 40° - Tem gente que dá um duro danado pra um dia ter um lugar ao sol. Não é o meu caso!
- Vamos jogar general a dinheiro? - A dinheiro eu só jogo até terceiro sargento.
Meu vizinho começou a ter aulas de violino. Ontem perguntei se ele não queria vender o estormento.
Depois da guerra nuclear, as baratas dominarão a Terra. Mas já infestam o Congresso Nacional.
Essa gente ainda vai desregulamentar a Lei Áurea.
A paz é um hiato entre duas guerras.
Tinha a autoestima tão baixa, que até bronha era sexo não consentido...
Curso com Alexandre Garcia é querer ler Shakespeare em bula de antimicótico.
A Quaresma já começou. Parem de comer carne!
Dança do ventre, de verdade mesmo, faz quem passa o dia inteiro com fome.
O atleta tem que ser muito macho pra jogar num time chamado União Frederiquense.
Assaltar banco de sangue até pode ser, mas banco de esperma? Onde vamos parar?
E o telefonema pro Putin? Bozo não tem vocabulário pra duas horas de conversa.
Comprei um colchão magnético e agora não consigo mais sair da cama...
OCEANO Por não conhecer O outro lado Tratei de inventá-lo Só então Consegui entender Os fabricantes de histórias Tropeiros Beduínos Mercadores Marinheiros Gente que indaga os grandes vazios Todos os dias E joga o olhar na vastidão O vento milenar devolve Ideias Que os transformam Em semeadores de metáforas
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Participaram desta entrevista Caco Bisol, Celso Schröder, Gilmar Eitelwein, Marco Antonio Schuster, Paulo de Tarso Riccordi e Rodrigo Schuster.
paporeto
jorge furtado
Esse buraco que se criou na democracia brasileira vai custar pra fechar O roteirista, escritor, diretor de cinema, humorista Jorge Furtado nunca trabalhou tanto quanto na pandemia. Também nunca esteve tão preocupado com a política brasileira quanto agora. Identificado historicamente com a esquerda, até torce para Eduardo Leite concorrer a reeleição e assim evitar que dois bolsonaristas-raiz cheguem ao segundo turno da eleição pra governador do Rio Grande do Sul. Nacionalmente, vai de Lula. Mas nem só de política vive nosso entrevistado
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paporeto
jorge furtado
Tivemos esse azar duplo. Vírus e vermes. Vírus na natureza e vermes na política, que vieram do pior lado da política SCHUSTER – Em qual projeto estás envolvido neste momento? JORGE - Estou gravando a segunda parte de um curso de roteiro on line. Gravei as primeiras 28 aulas sobre roteiros de cinema, no ano passado, e agora, a segunda parte, só sobre roteiro de séries. Tô finalizando um filme, até 15 de março tem que estar inteiramente finalizado. É uma comédia chamada “Vai dar nada”, longa-metragem escrito por mim e pelo Guel Arraes, produzido pela Casa de Cinema e filmado em Porto Alegre no final do ano passado. E estou aguardando o lançamento de um livro, que deve sair no primeiro semestre, ainda. E um outro filme, que é o “Grande sertão: veredas”, que eu escrevi junto com o Guel, que já filmou, tá montando, tá com o primeiro corte em 80%, vai tá pronto em setembro. Foram dois anos de trabalho só focado nele. SCHUSTER – Quer dizer que na pandemia tu trabalhaste normalmente. JORGE – Mais até, porque eu trabalho em casa. Roteirista já é um ser em isolamento social. Até aumentou o trabalho. CELSO – A gente tem conversado isso com nossos entrevistados. A pandemia é um pano de fundo pra todo ser humano do planeta. Mas no Brasil tivemos um cenário dobrado porque já desde o golpe de 2016, depois, ações limitadoras do ponto de vista financeiro que em-
bretaram a economia brasileira, e em seguida, o Bolsonaro. O teu trabalho como intelectual reflete isso? Esse momento se impôs? JORGE – Como tu disseste, tivemos esse azar duplo. Vírus e vermes. Vírus na natureza e vermes na política, que vieram do pior lado da política. Isso é muito marcante pra mim, pra vida de todos no planeta e nós, no Brasil, especialmente. Estamos nos encaminhando pra 700 mil mortos. Entre os grandes países, nós somos o que, de longe, pior lidou com a pandemia. O que teve mais mortes por milhão de habitantes. E é inevitável que isso marque a gente de várias maneiras. Como eu trabalho na ficção e faço muitas coisas, algumas delas estão diretamente ligadas a isso, como a peça “O debate”, que escrevi com o Guel. O assunto é o governo, a política e a pandemia. Tem um curta que eu fiz chamado “Cretinália” — pro Instituto Moreira Salles, pra produção de curtas de poucos minutos e baixo orçamento — quando o Brasil chegou, em agosto de 2020, a 120 mil mortos, o que então era um absurdo. E fiz outras. Uma série chamada “Amor e sorte”, com atores quarentenados, trancados em suas casas, Fernanda Montenegro e Fernanda Torres na sua casa, o Lázaro [Ramos] e a Taís [Araújo] na casa deles, a Fabiula [Nascimento] e o Emílio [Dantas], [mais Caio Blat e Luíza Arraes] cada um nas suas casas. São comédias, um pouco comédias românticas, algumas até falam diretamente dos panelaços,
mas o assunto é a pandemia. Então, de alguma maneira acaba se refletindo no trabalho. Como vai falar de outro assunto, se é um momento em que tantas pessoas estão morrendo todos os dias com a “peste”? Evitável, não é. Não existe vacina e a gente vai falar de outro assunto?! Como?! Temos que falar de outros assuntos também. GILMAR – Filmar “Grande sertão: veredas” deve ter sido uma produção de fôlego. Até pela linguagem em si do Guimarães Rosa, que é diferente, riquíssima. Vocês devem ter feito um grande esforço para adaptação. É um longa metragem, não é? JORGE – Sim. Por partes: primeiro, “Grande sertão: veredas” é, na minha opinião e na de muita gente, o maior romance em língua portuguesa. Há dúvidas de que ele seja o maior romancista, se o Machado ou ele, Machado tem uma obra incrível, mas o livro, ninguém tem muita dúvida, é o maior livro escrito em língua portuguesa. O Eça de Queirós, os portugueses que me desculpem, não tem nada parecido. É um livro absurdo, é uma loucura! Tu abre em qualquer página, lê qualquer pedaço, é um acontecimento. O livro já foi filmado outras vezes, o Guel e eu tínhamos a ideia de fazer o filme se passar num futuro próximo. O nosso objetivo era manter, o máximo possível, a linguagem, as falas, o texto. Mas ele se passa num futuro, na periferia de uma cidade imaginária do
18 Brasil, num lugar chamado Sertão, onde gangues violentas se matam e a polícia entra e ali tem uma grande paixão entre dois desses soldados. A história desse livro é sobre a violência. O Riobaldo é um jagunço metafísico, ele fala da vida e da morte. A cada 20 anos esse livro tem que ser filmado de novo, de novo e de novo. A gente não precisou adaptar praticamente nada, porque a periferia de uma grande cidade brasileira tem tudo a ver: gangues se matando, milícia, a polícia junto, várias leis sobrepostas e as pessoas lutando pela vida, pela sobrevivência, à bala. O filme é esse. O Guel filmou de um jeito quase operístico. Não tem nada de realista. Tem o Riobaldo contando a história, como é no livro, e a ação. Mas é fora do realismo. O realismo nunca me enganou (risos). Não levo muito a sério o realismo. Procuro não cometê-lo.
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tempo inteiro durante a filmagem. Mas o resultado, se fores comparar, Eisenstein e Glauber se tocam em alguns momentos, em algumas coisas, graficamente.
SCHRÖDER – Um é dispersivo e o outro é absolutamente rigoroso. JORGE – Muitíssimo rigoroso. Aqueles planos do Eisenstein foram desenhados. Acho que o Glauber nunca fez um story board na vida. E o Eisenstein fazia, desenhava o plano antes. Tem uma história curiosa do [Gabriel] Figueroa, fotógrafo do Eisenstein [em “Que viva México!”, de 1932], que depois foi trabalhar com o [cineasta espanhol Luis] Buñuel [em “Los Olvidados”, de 1950]. Ele tava compondo, enquadrando, botou a câmera, ficou dez minutos compondo, mais pra direita, mais pra esquerda, quando tava pronto chamou o Buñuel: “Pronto, Don Luís”. Buñuel chegou e chutou o tripé, deSCHRÖDER – De alguma senquadrou completamente e disse: maneira não é um retorno ao Glau- “Pode filmar agora” (risos). O Figueber, ao discurso alegórico? roa ficou apavorado, “como assim?” JORGE – Tem uma referência muito forte do Glauber, especialSCHUSTER – Em todos os mente por parte do Guel, que tem teus filmes tu tratas de política e em uma influência bem maior do que alguns, de jornalismo. Tem um, “O a minha, ele é um pouco mais ve- mercado de notícias”, em que tu lho que eu, conheceu o Glauber pegas casos de distorção de notícias. pessoalmente. Comentando esses Também tem manifestações tuas dias sobre o que tá acontecendo, que haveria um emburrecimento da tem a ver com o Glauber, sim, es- sociedade brasileira por responsabipecialmente no texto do diabo, o lidade da imprensa. que é inescapável, mas tem mais a JORGE – Eu disse muita coisa ver com o [o cineasta letão Serguei] parecida com isso, ou quase isso, talEisenstein. É uma coisa de rigor vez. Eu não acho que seja um emformal, de composição, de plano, burrecimento. “O mercado de notíde cenário, uma coisa mais com- cias” é um filme sobre fake news, um posta, mais gráfica que o Glauber, ano antes da expressão surgir. A ideia que era um gênio intuitivo. A ideia de que a fake news surgiu na internet de [“uma ideia na cabeça e] uma é boba. A fake news sempre existiu, câmera na mão” não é à toa, por- desde que surgiu o primeiro jornal. que o Glauber dirigindo é incrível. Estavam na capa da Veja, na capa da Ver ele dirigindo no meio do filme IstoÉ, na capa da Folha[de S.Paulo], é quase tão interessante quanto o na capa de todos os jornais. O Brasil próprio filme. Ele atuava com os foi pautado por ban-di-dos durante atores, manda a câmera “ali, lá” o alguns anos. O que aconteceu? A
gente vinha num processo democrático – Caetano tinha razão, hoje eu vejo, um dia vamos ter o Lula e o Fernando Henrique como uma coisa parecida – e foi um momento de democracia progressiva, liberdades progressivas, racionalidade, a democracia se institucionalizando cada vez mais, os governos do PT escolheram sempre o primeiro da lista [dos mais votados] dos Procuradores [para ser o Procurador Geral da República], isso ninguém lembra e só eles fizeram isso, muitas leis que acabaram derrubando a Dilma foram feitas pela Dilma e o PT, a lei que criminalizava o dono da empresa, a delação premiada, um monte de coisas, enfim… A democracia foi se institucionalizando. E uma elite brasileira, escravocrata, escravista, na verdade - e sempre que acontece uma maior distribuição de renda, aumento do salário mínimo, ela acaba dando um golpe, na nossa História sempre foi assim -, ela cansou de perder eleições. Perdeu oito eleições seguidas em dois turnos. Oito vezes o povo brasileiro foi pra rua votar, e na maioria, num cara, num partido, num candidato que não é da elite. Quando isso aconteceu pela oitava vez, os caras: “não, péra aí um pouquinho, agora tem o pré sal, tem o petróleo, tem um monte de interesse em campo” e aí o jogo virou. Qual foi o papel da imprensa? A imprensa, segundo a presidente da Associação Nacional dos Jornais, dona Judith Brito [superintendente do Grupo Folha] disse numa entrevista que a imprensa virou a verdadeira Oposição. A Oposição estava muito fragilizada e quem está fazendo esse papel foi a imprensa. Isso foi dito, foi aberto, foi publicado, foi escancarado. Então a imprensa passou a fazer Oposição. Deixou de fazer jornalismo e a Oposição se esfarelou, acabou em nada. É função da imprensa tomar o poder? Não é! Isso é função dos partidos! A função da imprensa é contar a
19 verdade. E a imprensa parou de fazer isso pra fazer política, diretamente, muito diretamente. Agora, hoje eu diria que o que está nos salvando a vida é a imprensa. Se não fossem os jornais, a gente não saberia nem o número de mortos, porque nem nisso dá pra confiar no governo. Quem dá o número de mortos é a Associação dos Jornais. Hoje eu leio jornal, eu leio todos os jornais grandes, pequenos, fico tentando me informar por várias fontes, e hoje a imprensa está fazendo o papel de imprensa, fundamental, importantíssimo. Se não fosse a imprensa agora, a gente estaria ferrado. Só que esse buraco que se criou na democracia brasileira vai custar pra fechar. SCHRÖDER – Tu disseste que de alguma maneira o resultado que nós temos no país é a partir de uma falência do papel da imprensa, que é o de revelar para a sociedade minimamente as coisas que aconteceram. Ela não cumpriu isso e o resultado nós temos aí. Eu concordo contigo que agora, a partir de um certo momento, ela teve importância positiva, e o exemplo do consórcio de jornais que dá o número de mortos pela Covid. Se nós não tivéssemos isso não saberíamos quantos mortos teve no Brasil. JORGE – A gente chegou num ponto de degradação... Orçamento secreto com dinheiro público! Como chegamos ao momento em que o país tem um Orçamento secreto? Nós todos pagamos impostos sobre tudo, que vai pra Brasília. “Está aqui o dinheiro. Em que vocês vão gastar?” “Ah, é segredo”. Como é que se aceita isso?! É incomparavelmente maior do que toda a corrupção que foi denunciada. SCHRÖDER – Essa é a ambiguidade da imprensa que quando ela falta produz esse desastre. E a
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A cada 20 anos esse ” livro (Grande sertão: veredas ) tem que ser filmado de novo, de novo e de novo.
base do desastre é o discurso ideológico que a imprensa permitiu que se constituísse no Brasil e separasse a sociedade brasileira. E teve um papel muito ruim. A Arte, o cinema, a literatura, a música brasileira, como se comportaram nesse período? JORGE – Eu acho que a produção artística e cultural se comportou nesse período melhor que a imprensa, pelo que continuou fazendo. Tem muita coisa sendo produzida que a gente nem conhece no mundo do rap, do funk, do slam [sem acompanhamento musical], milhares de produções culturais que continuam acontecendo em teatro, música, livro, quadrinho, de todo jeito nunca pararam de acontecer. Continuaram enfrentando, de muitas maneiras, o autoritarismo desse governo de extrema direita que não gosta de nada do que não entende e tenta destruir o que não entende. Na arte não surgiu nenhum chico buarque, nenhum caetano veloso, mas a gente não sabe… talvez o Emicida, talvez algumas pessoas que estão surgindo agora no futuro a gente diga como eles são grandes. E tem muita gente boa surgindo em todos os lugares. Eu acho que numa desgraça desse tamanho, uma tragédia como essa em que o Brasil se meteu, a gente tem que se dar conta que todos nós, de alguma maneira, somos responsáveis por ela. De várias maneiras. Eu acho que nós, do campo da esquerda, erramos muito e em muitas coisas. Especialmente em três, na minha opinião:
Primeiro, na questão da religião. A esquerda sempre foi preconceituosa, nunca entendeu a importância da religiosidade para o povo brasileiro: 92% das pessoas têm algum tipo de fé. E nós, os ateus, somos aqueles 8% que acha que os 92% são abobados, “que bobagem!” Como assim? Nunca entendemos a importância da igreja como espaço de encontro, espaço de apoio, de namoro, de amizade, relações de canto e música, poesia, um montão de coisas que são fundamentais pra raça humana. Então, esse espaço que as esquerdas, os partidos perderam, as igrejas ocuparam. Nós vamos ter que aprender a conviver de uma maneira saudável com isso. Tem o “Razões pra crer”, um livro de um americano, e tem “O povo de Deus”, que é um livro que eu tô recomendando muito, até sou citado. Dei esse livro de presente pra Dilma, pro Boulos e pro Caetano. O Caetano leu e fez o prefácio. Leiam esses livros pra entender qual é a importância da religião, o que é muito urgente. A segunda questão para a qual a esquerda nunca teve resposta é a violência. Nós sempre dissemos, com razão, que a violência seria resolvida com distribuição de renda, com educação, cultura, emprego… Só que isso não é a resposta pra quem tem a milícia passeando de fuzil na calçada. Se nós aqui, brancos, tivéssemos gente andando na nossa calçada de fuzil, não diríamos que tem que dar mais educação, distribuição de renda. Nós iríamos chamar a polícia. “Tirem esses caras daqui da minha calçada”. Temos que entender que a violência é muito mais forte pra quem não tem porteiro, câmera, grade no seu condomínio, lá onde tem uma guerra às drogas, que é uma guerra de extermínio de jovens pretos. Uma guerra que mata milhares de jovens pretos todo o ano. Uma guerra ab-
20 surda, que não tem efeito nenhum. O Brasil, mais uma vez, como em outros casos, tá alinhado com o que há de mais atrasado no mundo na política das drogas. E por isso temos uma chacina que mata 60 mil pessoas à bala por ano. E isso depois que a esquerda esteve 14 anos no governo. Depois desses 14 anos, eu fui fazer uma série de televisão chamada “Sob pressão”, para a qual eu visitei hospitais públicos na periferia do Rio e ficava horrorizado com o que eu via. Então, a crítica, a autocrítica àquele momento em 2013, quando aqueles jovens foram pra rua, protestar contra o governo democrático de esquerda. Eu vi e lembro: eram jovens inteligentes que eu conheço, pessoas interessantes, e estavam indo pra rua. E dizia: “gente, vocês sabem o que estão fazendo? Vocês estão protestando contra um governo democrático de esquerda! TARSO – E depois de derrubarem Dilma e impedirem a reeleição do Tarso Genro, nunca mais voltaram à rua contra os preços dos neoliberais, da direita, dos fascistas. Nem os black blocs, nem os “ultra”, nem os ditos espontâneos. Só contra o PT. Muito “suspeito”…. JORGE – Eles tinham razão, as pautas tinham sentido, mas... Claro, aquilo foi capitalizado imediatamente pela extrema direita e eles saíram correndo depois. Mas, enfim, eles queriam melhor educação, queriam transporte público, coisas que faziam sentido, eles tinham razão. Mas eles só conheceram o PT. SCHRÖDER – Mas estavam sintonizados com um movimento mundial de direita, né Jorge? JORGE – Isso é sempre, né Schröder, o movimento é em todo o mundo. As pessoas que não querem se vacinar, na França, na Alemanha, na Bélgica, nos Estados Unidos,
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não são bolsonaristas. Eles são antivacina. É outra coisa. A gente não pode embolar todos numa coisa só. Tinha de tudo ali. Tinha gente protestando de verdade, imediatamente aquilo foi usado pela direita pra atacar o governo, obviamente.
córdica pró Ocidente. E os Estados Unidos estão bloqueando a possibilidade de inserção de agências de notícias pró Rússia. Nessa narrativa, [o presidente russo Vladimir] Putin é bandido. JORGE – Começa uma guerra com versões de todos os lados. “Não dá pra acreditar no Putin, não dá pra acreditar no [Volodymyr] Zelensky”. O Zelensky é um comediante de direita que tomou o poder fazendo um programa de televisão, “O amigo do povo”, ou algo assim, em que fazia um personagem que iria combater a velha política. Em uma cena dele no programa, ele entra no Congresso de metralhadora e metralha todos os congressistas, todos. E assim ele foi eleito: iria matar todos os congressistas de metralhadora. Esse é o Zelensky. O Putin está no governo desde 1990 e poucos. Não é exatamente um exemplo de democrata. E os Estados Unidos já invadiram e bombardearam mais de 60 países. Então fica todo mundo chorando com a criança ucraniana que tá saindo pela fronteira – e é muito comovente, muito triste, mas as crianças da Síria, da Líbia, as que estão saindo do Afeganistão também são crianças que estão saindo de seus países atacadas por invasores. É assim o imperialismo. Russo ou o norte americano. “Vocês estão chegando perto demais de Moscou” ou “vocês estão chegando perto demais de Washington”. O máximo da loucura humana é a guerra. Matar gente que tu não conheces.
GILMAR - Falta citar o terceiro ponto. JORGE - São as pautas de gênero. Pra minha geração, acreditávamos que nunca mais iriam dar pra trás. Não teria como retroceder. A gente só teria a avançar. Obviamente o aborto é uma questão da mulher. Quem tem que decidir isso é a mulher. Qualquer legislação da Europa, americana, uruguaia, do Canadá, da Austrália nos serviria. E isso não é uma coisa de esquerda. É o direito que a mulher tem de decidir sobre seu próprio corpo. O que o Estado, o Congresso tem a ver com isso? Uma feminista americana disse que “se os homens engravidassem, o aborto seria um Sacramento”. As pautas de gênero, a questão da identidade sexual, a possibilidade de falar sobre isso nas escolas, essas questões a gente não compreendeu muito bem até hoje. Eu tenho todas as dúvidas do mundo, mas eu acho o seguinte: todos brasileiros têm na sua família alguém que é gay, gosta dele, não tem problema nenhum. Mas se isso chegar na novela dois homens se beijando, aí ele acha ruim. Uma coisa é admitir o aborto em família - “realmente, ela precisa abortar, foi um erro, um acidente, ela tem que continuar a estudar” mas se disser que tem que mudar a SCHRÖDER – ‘A verdade é lei do aborto, 82% é contra. a primeira vítima da guerra’. Essa frase começa a virar um clichê. GILMAR – O Brasil, a Améri- Como todos os clichês, começa a ca Latina, na geopolítica mundial, se apresentar como uma verdade são área de influência dos Estados em si mesma. Inclusive esse é um Unidos, assim como a Ucrânia é argumento político que o Nixon território de influência da Rússia. A vai usar, e a direita norte-americana cobertura de imprensa do conflito vai usar, pra impedir, nas próximas na Ucrânia é absolutamente mono- guerras, que os jornalistas cobris-
21 sem as guerras como cobriram a do Vietnã. JORGE – A televisão acabou com a guerra. SCHRÖDER – Claro. De alguma maneira… não sei se acabou com a guerra. Quem acabou com a guerra foram os vietnamitas, que derrotaram os caras. Mas, sem dúvida nenhuma, a opinião pública… JORGE - …a opinião pública americana virou. SCHRÖDER - … ficou escandalizada com o que foi revelado. JORGE – As mortes no horário do jantar. SCHRÖDER – E os papéis. Tem dois filmes maravilhosos: “Todos os homens do presidente” e, agora, o “The Post”, mostrando como eram manipuladas as informações sobre o Vietnã. Tá bem, há mentiras e há interesses. Mas de alguma maneira, a imprensa, seja por sua diversidade, seja pelas suas contradições, permitia que aflorassem, de alguma maneira, essas verdades. Se nós formos pegar a Globonews agora… a Globonews tem 30 jornalistas cobrindo e tem 50 fontes. São 30 jornalistas e 50 fontes com o mesmo olhar, a mesma visão. Hoje, o Guga Chacra chegou a dizer o seguinte: ‘Qualquer um que não condenar o Putin é fascista’. Cara! É a lacração absoluta. É a impossibilidade da racionalidade a partir de um local onde as contradições sempre permitiram que, de alguma maneira se desse. JORGE – Eu imagino que os comentaristas que estão nos Estados Unidos tenham uma visão americana dos acontecimentos. Qual a razão? Eu li o discurso, loooongo discurso do Putin. Ele tem uma série de pontos de vista em que ele pode ter razão. Mas no momento em que joga um foguete num prédio…
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Eu já fiz muitos ”e muito projetos, filmes e séries com protagonistas negros. Eu acho isso uma militância audiovisual importante. gente, não pode jogar foguete num prédio! Aí é o que o Lula disse: senta numa mesa e resolve, discute isso sem arma. Ninguém tem razão ali. Quando terminou a União Soviética, alguns países foram pro lado da Otan, outros ficaram próximos à Rússia. O Putin tem mantido o império dele bem rígido, sem concessões.
mente, o cara trabalha o dia inteiro, chega em casa, liga a TV, não quer ver “notícias ruins”. Quer um escape, ver uma diversão. A TV aberta está indo muito por esse caminho, o da diversão pura, programas de auditório, diversão. SCHUSTER – Tu não achas que a diversão acaba passando mais mensagens políticas e ideológicas, principalmente, do que o noticiário? JORGE – Eu acho. E tenho que concordar com esse ideólogo dos bolsonaristas, Olavo de Carvalho, de que há uma batalha pela Cultura. Como é que eu, um burguês portoalegrense, que estudou num colégio jesuíta, acabei virando… envelhecendo para a esquerda? Por causa da Cultura. Nunca li Marx, quer dizer, li o “O manifesto comunista”, só porque a gente tinha que ler. A gente viu os filmes, ouviu as músicas, leu os livros. Toda a formação humanista, de esquerda, humanitária que eu tenha, além do cristianismo da escola, foi por causa da Cultura, foi por causa dos filmes, dos quadrinhos dos jornais, O Pasquim, das coisas que a gente lê. Os bolsonaristas sabem disso. É por isso que é exatamente isso que eles estão combatendo, a Cultura, o teatro, o cinema, as artes plásticas.
TARSO - Lá pelos anos 80, teria havido uma pesquisa de recepção que concluiu (Ou teria concluído) que o povo brasileiro se reconhecia mais nas novelas do que no noticiário. Por paranoia - ou não - se disse que a novela “Que Rei sou Eu?” facilitou o discurso do Collor (o primeiro a candidatar-se se dizendo o azougue da velha política) JORGE – O que eu lembro do “Que rei sou eu” é que era uma novela que se passava num reino no SCHUSTER – Quando tu fapassado, mas que falava do Brasil zes uma minissérie, tu não passas do momento. tua visão? JORGE – Sempre, mesmo que SCHRÖDER – Era numa li- não queira. Eu já fiz muitos e muito nha pró-Collor. projetos, filmes e séries com protaJORGE – O Collor foi inven- gonistas negros. Eu acho isso uma tado pela Globo, pela Folha e pela militância audiovisual importante. Veja em uma semana. A gente precisa fazer isso. Eu fiz a série “Mister Brau”, que é uma coCACO – O “caçador de mara- média sobre protagonistas ricos, jás”…. inteligentes, engraçados, poderosos JORGE – Eu aprendi uma gíria e pretos. Isso tem uma importância baiana que eu acho muito engraça- pra muita gente. Na Globo, naquele da: “Deixa no 4, que no 5 é notí- horário. Se tu fazes uma série como cia’’. Vocês conheciam essa? Real- “Sob pressão” - bem, é uma série de
22 hospital, como existem muitas no mundo, mas é um hospital brasileiro, do SUS, onde falta luz, não tem dreno, onde o médico ganha mal, o cara chega baleado de tiro de fuzil, o hospital é o front dessa batalha que é a desigualdade social brasileira. É lá que chega tudo, tudo acaba num hospital. Fazendo a pesquisa nos hospitais, no hospital da Posse, em Nova Iguaçu, onde chegam 400 pessoas por dia, 80% não são problemas de saúde. 80%! Tiro não é problema de saúde. Dirigir alcoolizado não é problema de saúde, facada não é problema de saúde, subnutrição não é problema de saúde, droga não é problema de saúde. Não são problemas de saúde, são problemas sociais. Acabam na saúde. Tu fazes uma série sobre hospital, tu tá falando de abuso infantil, tu tá falando… Quando a gente fez o programa sobre abuso infantil, o número de denúncias explodiu na semana seguinte. Quando faz um programa sobre doação de órgãos, aumenta enormemente. Então, a ficção incide diretamente na realidade, porque ela fala com 30 milhões de pessoas. SCHRÖDER – Mas isso, Jorge, não traz uma contradição? A Rede Globo, a maior produtora de opinião pública do país, desde lá do Dias Gomes tinha um jornalismo alinhado à ditadura e uma produção cultural e de entretenimento altamente contrários. Tinha o Dias Gomes, o Chico & Caetano, novelas maravilhosas mas um jornalismo alinhado com o poder, não completamente. Na pandemia, pra sorte nossa, o jornalismo da Globo pulou fora. E foi, efetivamente, saudável para o país que acontecesse isso. Por isso que eu digo: essa ambiguidade da Globo é planejada? JORGE – Eu não acho. Ela é um pouco planejada, um pouco incontrolável, um pouco natural. Eu acho que é uma mistura dessas coisas. Tu
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tens jornais… o jornal que eu mais leio hoje é O Globo. Acho que é o melhor dos grandes jornais. Ali têm opiniões variadas. Claro que se tu vais pra linha editorial, eles estão torcendo pela Terceira Via até agora. Mas comparado com o Estadão [jornal O Estado de São Paulo], por exemplo, prefiro... ou mesmo a Folha [Folha de S.P aulo], que meio que perdeu o norte. A Folha virou biruta de aeroporto depois do UOL. Ela não tem… não tá claro pra onde eles vão atirar. Mas tem jornais em Minas, tem jornais no nordeste, tem bons jornais onde tu consegues ler opiniões variadas. Mas na ficção, na parte de dramaturgia, aí as nossas questões, que é onde eu trabalho, são outras. Por exemplo, o Vianinha trabalhava na Globo, onde fazia “A grande família”, no mesmo momento em que ele fazia “Rasga coração”. Juntos. Ele morreu fazendo os dois. Um é uma família, onde há um ativista de esquerda que quer convencer o filho dos seus ideais, e o outro é um entretenimento, uma família onde tem um riponga, um que é mais esquerda festiva. Então tu podes representar uma comédia pra 30 milhões de pessoas e fazer uma peça pra 100 mil pessoas ao mesmo tempo. Os dois espaços são importantes. Há uma ambiguidade? Sim, há uma ambiguidade, como há uma ambiguidade em tudo na vida. O Vianinha era uma figura totalmente extraordinária. Ele filiou-se ao Partido Comunista com 15 anos de idade, nunca andou de táxi, “o povo não anda de táxi, eu não ando de táxi”, andou só de ônibus a vida inteira. Um ativista. Ele foi o primeiro cara a fazer alguma coisa contra o governo da ditadura militar. E fez uma peça, uma das primeiras coisas que foram feitas, 1965. Era um cara de uma visão! O pai dele era também militante do Partidão. O “Rasga coração” é meio o testamento dele,
tentando fazer as pazes com o pai dele, mostrando que havia uma nova pauta chegando, um filho que queria usar cabelo comprido… Exatamente o que vivemos agora de novo, a pauta do identitarismo, as pautas de costumes, esse pessoal já não está interessado em luta de classes. A garotada não quer saber de um cara que morreu lá no século 19. Como é que vai esperar que o Marx do século 19 vá resolver todos os problemas do século 21? São outras questões, que a gente tem que correr atrás, sem perder a noção de que Marx ainda continua explicando muita coisa. Como disse o Jânio de Freitas, é a velha luta de classes. TARSO – Jorge, apesar de tua referência às “novas questões do século 21”, tua dedicação ao estudo do Shakespeare aponta para as questões eternas. JORGE – Eu sou fã. Eu li todas as peças, leio bastante, leio sempre. Shakespeare é muito impressionante como criador. A importância dele na criação do humano. Ele, pela primeira vez, colocou no palco personagens que decidiam seu próprio destino, fazendo coisas. São as decisões dos personagens que levam ao final. Ao contrário da tragédia grega, onde Édipo não tem escolha, o coitado vai acabar na cama com a mãe e cego. Hamlet tem opções, Rei Lear tem opções, Macbeth tem opções. São as decisões que eles tomam que levam aos destinos deles. E isso foi uma novidade. Outra novidade: a mistura de nobres e plebeus na mesma cena. Os franceses não aceitavam de jeito nenhum que um príncipe conversasse com um coveiro fazendo piadas. Mas ele faz isso em cena – por desconhecimento, ou por irreverência? Ninguém sabe. Ele ignora a noção de concentração de tempo e espaço que Aristóteles estabeleceu para o drama: o drama tem que se pas-
23 sar num dia, num lugar. Ele disse que não, “minha história se passa ao mesmo tempo na Roma e na Grécia, se passam nove meses porque ela engravida e tem um filho. Então praticamente ele inventou o cinema, porque ele começa a cortar de um lugar para outro, e passa o tempo. Ele inventou mais de mil palavras, ele botou pela primeira vez um Príncipe cansado, um príncipe suado, exausto, com fome; que tem meias, a meia do Príncipe tá furada. O que o Giotto fez pelas artes plásticas, colocando Nossa Senhora com pé, São Francisco com unhas, Shakespeare fez pela dramaturgia, pondo seres humanos como reis e rainhas. A intriga do poder misturada com a intriga do dia a dia. É o coveiro e o príncipe, é o pessoal da cozinha e a rainha. Shakespeare é realmente um sumidouro. SCHRÖDER – Eu dou no Jornalismo a cadeira Jornalismo Político, na PUC, onde a minha tarefa auto imposta é a de desencadear o interesse pela política. Um dos grandes assassinos da política foi o jornalismo, que satanizou a política como corrupta por princípio. JORGE – Isso realmente foi terrível. A gente teve um azar desgraçado de ter uma pandemia junto com um governo incompetentíssimo. Independente de qualquer coisa, é um desgoverno, de uma incompetência absoluta, que não sabe fazer nada! SCHRÖDER – Nem a favor deles… JORGE – Nem a favor; nada! Simplesmente, não trabalha. Tem três dias seguidos sem agenda. Ele jogou contra a vacina o tempo inteiro! E isso significa, no fim das contas, morte, morte de pessoas. É isto. Então, eu acho que isso vai ser corrigido agora. Eu espero. Vou votar no Lula pela nona vez. Nunca
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ponha com todo mundo para, se possível, ganharmos no primeiro Exatamente o turno. Mas pode ser também no seque vivemos agora gundo turno. Eu fico muito preocupado com de novo, as pautas esse segundo turno Onyx Lorenzodo identitarismo, de ni x Heinze, porque aí nós teremos costumes, esse pessoal dois negacionistas, dois bolsonaristas-raiz, e teremos, certamente, já não está interessado um negacionista como governador em luta de classes. do estado. Eu sinto muito que o [atual governador Eduardo] Leite não queira se candidatar ao governo me arrependi. Muito perdemos, do estado. Ele seria um candidato competitivo e seria uma maneira de mas não me arrependi. O Rio Grande do Sul é um caso ter um candidato que derrotasse esà parte. É o estado que elegeu o La- ses caras. zier Martins e não elegeu o Olívio SCHRÖDER – Nós tínhamos Dutra. Então, nós temos um problema pior que os outros estados. a absoluta convicção de que estáNão sei qual seria a explicação dis- vamos mudando o mundo pra meso. Eu acho que passa pela impren- lhor. Eu não tinha dúvidas. JORGE – Tava melhorando. O sa gaúcha e pelo racismo. São duas questões que diferenciam o Rio Joaquim Nabuco tem uma frase: “A Grande do Sul e Santa Catarina do escravidão permanecerá por muito tempo como característica nacioresto do país. nal do Brasil”. Nós somos o país GILMAR – A situação no Esta- do escravismo, fundado na tradição do é que pode haver um segundo da escravidão. A pior desigualdade turno entre o senador Luiz Carlos de renda do planeta, porque exisHeinze e Onyx Lorenzoni. Possi- te gente, 2%, 3% que precisa, pra velmente o PT vai ter que fazer um manter sua vida, de gente que tenha pouquíssimo. Essa desigualdade é acordo grande além da esquerda. JORGE – Eu não tenho escrito fruto do escravismo. Nós nunca nos muito nas redes sociais mas tenho libertamos dele, nunca, ao contrátwitter. Eu fui o primeiro apoiador rio. O país de vez em quando oscila, da chapa Lula com Chuchu [Geral- mas, como diz o… “enquanto não do Alkmin]. Eu acho que é o mo- houver uma segunda abolição...” mento de uma coisa diferente, de SCHRÖDER – A pandemia uma coisa que não se tentou. Nos anos 80 eu assinei um manifesto de aparentemente piorou isso. JORGE – Como eu sou humoapoio a uma junção do PSDB com o PT. Vamos juntar a esquerda com rista, vou terminar com uma piada: a centro esquerda contra a direita e tu entras numa pizzaria e o garçom a centro direita. Parece que agora as diz “tem dois sabores, calabresa e pessoas entenderam que é possível grama”. O cara diz “eu não gosto fazer coligações. Entenderam que muito de calabresa” Tinham o Hahá coisas piores que a direita, que ddad e o Bolsonaro. E a pessoa disse é a extrema direita. As pessoas têm “eu não gosto do PT”… (risos) Hoje [3/3/2022] faltam 304 que se unir na racionalidade. Isso no Brasil, né? Eu espero que Kassab dias para o Bolsonaro deixar a preapoie Lula, eu espero que se com- sidência.
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cultura
A trajetória de Magliani na Fundação Iberê 19 de março, às 14h, inaugura uma grande e inédita exposição em homenagem a Maria Lidia Magliani (1946-2012). Nela estão 50 anos de produção artística e mais de 200 obras da gaúcha, provenientes de mais de 60 coleções, incluindo os principais museus do Brasil. Nascida em Pelotas, Magliani formou-se em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da UFRGS e, ainda na década de 1960, trabalhou em teatro, ilustrando capas de programas, fazendo cenografia e atuando em peças. Outra área de atuação foram os jornais, onde trabalhou como diagramadora e ilustradora nos jornais Folha da Manhã, Diário de Notícias, Zero Hora e Folha de São Paulo. A exposição apresenta um panorama bastante consistente de seu trabalho, desde as primeiras mostras na capital gaúcha, nos anos 60 e 70. A partir de 1980, Magliani morou em São Paulo, depois Tiradentes (MG) e, a partir de 1997, no Rio de Janeiro. Apesar de pessoalmente engajada na luta pelos direitos humanos, Magliani não admitia que sua obra fosse interpretada como política ou identitária. “Meu interesse é pelo que as pessoas sentem, não pelo que elas pensam...Tenho preocupação com a vida, com a humanidade em geral. Nada a ver com raça específica, religião, nada”, dizia. A apresentação de seu trabalho na Fundação Iberê, torna inevitável o paralelo com o pintor. Em 1993, Iberê disse: ‘Eu não nasci para brincar com a figura, fazer berloques, enfeitar o mundo. Eu pinto porque a vida dói’. Uma frase que poderia ser de Magliani, que, em 1997 escreveu: ‘Eu gostaria de dizer às pessoas que veem os meus quadros: ‘Sinto muito senhores, não é agradável’. Responsável pelo acervo da Fundação, Gustavo Possamai conta que, durante o processo de pesquisa, foi encontrada uma carta de Iberê Camargo para Magliani, datada de 1992, na qual o pintor escreveu: “Nós dois temos a mesma meta, o mesmo ideal, a mesma devoção. Haveremos de deixar nossos rastros neste chão em que nascemos”.
foto f.zago-studioZ
arquivo galeria tina zappoli
Magliani e eu O jornalista e cineasta Omar de Barros Filho (o famoso Matico), que trabalhou com Magliani na Folha da Manhã – ele como repórter, ela como ilustradora e diagramadora - lembra de uma visita dela à sede do jornal Versus, comandado pelo gaúcho Marcos Faerman, em São Paulo, no ano de 1976. Magliani deixou com ele uma série de 29 desenhos, para que zelasse por eles e publicasse no Versus, quando necessário. Era sua contribuição para a batalha do jornal que dependia de colaborações para manter sua sobrevivência sob as perseguições e restrições impostas pela ditadura. “De lá para cá, mais 40 anos se passaram. Considero um privilégio que a vida me reservou manter íntegros estes trabalhos de Magliani, com exceção dos desenhos impressos em Versus que, muito provavelmente, desapareceram da redação para sempre quando nosso jornal foi invadido e interditado pela polícia em 1979”, conta. Daquela aventura restaram alguns desenhos, lembra. “São ilustrações feitas para jornais de Porto Alegre e alguns livros editados por amigos, cujos sentimentos Magliani sabia cultivar com carinho”.
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cultura
foto denise andrade
carta de abril, 2010-2011 / foto denise andrade
foto fabio delRe, vivaFoto
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cultura
Em exposição, um panorama visual Queer lu vieira
São obras de 37 artistas plásticos e sete filmes, selecionados por edital que formam uma visão bastante representativa da produção atual, no Rio Grande do Sul.
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Mostra FORA DA MARGEM: panorama visual das subjetividades Queer, promovida pela Associação Riograndense de Artes Gráficas Francisco Lisboa, pode ser vista até 30 de março na Galeria do DMAE (Rua 24 de Outubro, 200), de segunda a sexta, das 8h às 17h30. A Mostra foi pensada a partir dos eventos que provocaram o fechamento da exposição Queer Museum, em 2017, em Porto Alegre, e seus desdobramentos e ilustram a realidade aviltante que afrontou as artes visuais e a sociedade como um todo a partir daí. É objetivamente uma ação em defesa dos direitos de livre expressão artística, sexual e de gênero, interesse direto
da comunidade LGBTQIA+ e da sociedade em geral. ‘Essa é uma resposta ao fechamento da exposição Queermuseu pelo Santander Cultural, após uma campanha difamatória efetuada principalmente nas redes sociais”, explica Lisiane Rabello, Presidente da Chico Lisboa. “A Mostra foi criada como uma forma democrática de mostrar a produção de artistas já conhecidos por abordarem esse tema, mas também para revelar iniciantes ou que ainda não alcançaram projeção com seu trabalho. O projeto foi estruturado para que houvesse a maior visibilidade possível para a expressão artística da população queer, e suscitar o debate sobre as questões LGBTQIA+. Ela é necessária e urgente, visto que tem sido alvo de discriminação e ataques violentos, marcados pela tentativa de silenciamento”. Lu Vieira e Graça Craidy, do GRIFO, têm trabalhos lá.
Edgar Vasques prepara novo livro Está no prelo o álbum em HQ de Edgar Vasques, O Casaco de Vento e outros quadrinhos. Editado pela Ed. Marca de Fantasia, da Paraíba, a obra traz quadrinhos semi inéditos do autor, produzidos nos anos 90.
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sócartum
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veni vide vicenzi
celso vicenzi
O índex russo
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s Estados Unidos e países da Europa, escudados na Otan, comunicam uma nova lista de proibições para salvaguardar os bons costumes ocidentais da influência russa. Faz-se urgente proibir que milhares de pessoas frequentem as montanhas-russas em parques de diversões, para que as alegrias e emoções não fiquem associadas àquele império do mal. Embora a montanha-russa tenha sido uma invenção inspirada nas principais Bolsas de Valores, em que o sobe-desce das ações costuma provocar semelhante adrenalina, o modelo russo é nocivo porque pode angariar a simpatia de seus usuários, não obstante continuem pobres, ao contrário dos grandes players da Bolsa. A vodka, que em várias línguas eslavas significa “aguinha”, tentando disfarçar seus poderosos efeitos, precisa ser banida porque põe fora de combate milhões de consumidores, sobretudo jovens, necessários para forças-tarefas, caso a guerra recrudesça. Durante muitos anos o Kremlin de Moscou tentou cooptar nossas crianças com a pseudoinocente brincadeira das matrioscas, aquelas bonecas que podem provocar Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Mas é também na alta esfera de poder, entre os mais ricos, que se busca conquistar pela boca, adeptos ao regime comunista. Daí a necessidade de proibir o caviar, produto de alto consumo entre os milionários ocidentais. Na cozinha da classe média, devemos proibir o estrogonofe e a salada russa. Podemos fazer propaganda subliminar dizendo que não combinam. E para isso contaremos com aqueles programas matutinos de TV onde as receitas são amplamente difundidas para uma plateia que mal tem o que comer.
Algumas obras de autores russos, muito conhecidas no Ocidente, não precisam ser banidas, mas adaptadas, para que não pervertam a juventude. Assim, “Diário de um Louco”, de Gogol, será traduzido para Diário de um Louco chamado Putin. “Guerra e Paz”, de Tolstoi, que quase ninguém lê pelo tamanho e quantidade de personagens, que exige uma tabela Excel para saber quem é quem, poderia ser reduzido à metade. Elimina-se a parte da guerra e mantém-se tão somente os conteúdos de paz. Finalmente Soljenitsin, ganhador do Nobel de Literatura, terá o seu livro “O erro do Ocidente” modificado para “O erro do Ocidente foi pôr um humorista na Ucrânia”. Não se recomenda, igualmente, o uso nos colégios da tabela periódica,
pois a primeira versão reconhecida, coube ao químico russo Dmitri Mendeleiev. Outras invenções de cidadãos russos ou que tiveram grande participação no seu desenvolvimento como o trem elétrico (Fyodor Pirotsky), gravador de vídeo (Alexander Poniatoff), helicóptero (Igor Sikorsky), fotocélula e baterias solares (Alexander Stoletov), leite em pó (Osip Krichevsky), técnica de auscultar pressão sanguínea (Nicolai Korotkov) e borracha artificial (Sergei Lebedev), também não recomendamos mais o uso. Finalmente, para que não nos acusem de exageros na lista de proibições, queremos deixar claro que a roleta-russa está liberada e poderá ser livremente usada caso nossos planos não deem certo.
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texto&traço
rodrigo schuster e lu vieira
CSM Aprovado Pelo MBL Passarinho voa voa Bem alto lá no céu Passarinho é lindo e virgem Como o arcanjo Gabriel Passarinho não é preto Não é gay nem é mulher Passarinho voa livre Pra cantar onde quiser Passarinho é bem criado E não aceita essa baderna Quando vê uma borboleta Bate asa e panela Passarinho é de família E não cisca no chão Passarinho lê Mises E se acha gavião
M
inha opinião sobre a guerra da Ucrânia é a mesma de todas as outras guerras, e pode ser lida no Texto & Traço do Grifo 12. Defendo sim o cessar fogo imediato, da Rússia na Ucrânia, dos EUA na Somália, de Israel na Síria. Defendo um posicionamento coerente da sociedade e da mídia ocidental, condenando todos os líderes que comandam ações bélicas, não apenas as que afetam o capital. O escudo e a lança formavam o símbolo de Marte, deus romano da guerra, e do século dezoito até hoje esse símbolo é usado na biologia para definir o masculino. A guerra é masculina. Não nos hor-
mônios, mas na construção social de masculinidade. Nenhum gênero é naturalmente predisposto à violência, o que acontece é um treinamento contínuo que já começa nos desenhos animados, passa pelas ruas, vestiários, estádios, literatura, audiovisual, notícias, política e é resumido na escolha do deus da guerra como símbolo do que é ser homem. Nenhum tanque de guerra é tão resistente quanto os bolsos blindados da elite capitalista. Essa blindagem é feita por meninos criados para se tornarem homens dispostos a pegar fuzis, matar outras pessoas e manter mulheres (treinadas, na mesma intensidade, para serem
submissas) em posições de vulnerabilidade, onde é mais fácil assediá-las. Quando o Mamãe Falei Merda se desculpa dizendo que o áudio era só para um grupo de amigos, ele revela que sabe e sabia quando gravou que a fala era machista e ofensiva. Ele não falaria para uma mulher, mas contava com a irmandade masculina para aquilo não vazar. A noção de masculinidade é uma construção social que herdamos e passamos adiante; no colégio, no trabalho, nos mercados e nas redes sociais, para manter intactas as estruturas de uma sociedade opressora e excludente. A guerra é capitalista. O capitalismo é masculino.
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entrevero Para meus detratores, só tenho a altura em comum com Putin e Zelensky. Schröder
Essa guerra já foi lutada. Pelos meios de comunicação. Paulo de Tarso Riccordi
A realidade fala por si. A ficção depende de bons escritores. Celso Vicenzi
Se a crise europeia se aprofundar, no futuro vamos contar a história assim: Euro uma vez... Celso Vicenzi
Goldman e J. P. Morgan compraram títulos com desconto de empresas relacionadas à Rússia nos últimos dias.
Zelensky hoje ataca ”fraca OTAN” e exalta os ucranianos como ”soldados da luz”, messias é ele. Schröder Correu o boato que Marcela iria se divorciar do Temer. Enviei-lhe uma carta contra, argumentando que ela deveria ser mais republicana. Se, casado com aquela belezura, ele fez todas aquelas merdas, imagine com todo tempo livre! Paulo de Tarso Riccordi
Deu na rede
A maior vítima da guerra, então, é o jornalismo. Luis Nassif
Outro fim do mundo é possível. Emir sader
Falam maravilhas do 5G. Dá pra acreditar. Se um ponto G já é ótimo, imagine 5! Celso Vicenzi
Prometer a salvação, o paraíso e a eternidade é religião ou estelionato? Celso Vicenzi
Leandro Bierhals
Sensação de que a Globo News, tal qual a inesquecível Velhinha de Taubaté do Verissimo, será a última emissora do mundo a acreditar na OTAN. Schröder
A economia é um parque de diversões dos ricos: tem balanço de pagamentos, gangorra de preços, banda cambial e funciona igual a uma montanha-russa. Celso Vicenzi
- Digitei ”milho”, mas o corretor automático corrigiu pra ”pipoca”. - É o calor. Marisa Stock
Por que os maiores bancos de investimento dos EUA podem deter ”ativos tóxicos da Federação Russa”, enquanto todos os outros não podem?
Humorista não tem drama de consciência. Só comédia! Celso Vicenzi
Deus morreu. Marx morreu. E eu mesmo não me sinto nada bem. Woody Allen
Brasil precisa de DOIS embaixadores na Ucrânia para retirar, uma semana depois, duas centenas de brasileiros que sobraram no país. Estou imaginando que carregarão cada brasileiro no colo. Schröder
Eles baixaram as classificações dos títulos russos, forçaram seus cidadãos a vender ”ativos russos tóxicos”, enquanto eles mesmos os compravam por um centavo.
Quando a verdade é muda e a justiça cala, a desobediência é cega e o ódio é surdo. Celso Vicenzi As medalhas de um são os filhos dos outros. António Sampaio
O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. William Shakespeare
Proibidos salada russa e estrogonofe. Vodka nem pensar. Schröder Quero ver quem vai pegar o touro à unha quando a vaca for pro brejo. Celso Vicenzi Como fazer gasolina caseira: Primeiro, enterre um dinossauro. Faria Lima Elevator
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entrevero
Só mulheres como melhores quadrinistas do ano Pela primeira vez, desde sua criação, em 1974, não há nenhum homem finalista no prestigiadíssimo Festival de Quadrinhos de Angoulême, na França.
Putin está putinho, Biden parece bidezinho, E Bozo se faz de bonzinho.
A escolha da melhor quadrinista se dará entre as francesas Pénélope Bagieu e Catherine Meurisse e a canadense Julie Doucet.
Ninguém é o que parece, nem Deus. Érico Verissimo A médio e longo prazo estaremos todos mortos. Alguns líderes mundiais, parece, querem encurtar esse caminho. Celso Vicenzi
Ordem superior Costuma vir de gente Com caráter inferior
Em nome da liberdade Mente-se muito E esconde-se a verdade Quando eu erro Ameaço ouvintes E ganho no berro Agora a gente tem que ser contra o Putin, mas também contra o Zelensky, ou seja, temos que ser contra a invasão da Ucrânia e também ser contra ser contra a invasão, entenderam? Schröder
As milícias e as facções farão protesto diante da embaixada norte americana em Brasília, contra a proibição da importação de vodka, de Tchaikovski, Tolstoi, do balé Bolshoi e das AK 47. Paulo de Tarso Riccordi
Já passei por oito reformas ortográficas. Algumas, complicaram. Outras, facilitaram, como a queda do ph, substituído pelo f. Ficou mais fácil pedir cigarros no balcão. Mas aí eu já não fumava Philips Morris. Paulo de Tarso Riccordi
ONU aprova moção que condena guerra na Ucrânia. Em outros lugares pode. Schröder
Texto sem contexto, não raro, é pretexto para a desinformação. Celso Vicenzi
Eita Brasil varonil! Vá rimar assim... Epa! Finja que não ouviu. Enquanto mete a mão O corrupto fala mal Da corrupção. Deus me proteja E me dê distância De dupla sertaneja O Brasil está estável, Unindo o inútil Ao desagradável Pode botar fé: Filho de Bolsonaro Bolsonarinho é Assim é pessoa de bem: Sua grande qualidade é Aos poderosos dizer amém Gringos com seu “Biden Power”: Em vez desse poder besta, Viva a música de Baden Powell! Viva a Petrobras, agora empresa mista! Não é mais para os brasileiros, É para dar mais lucro aos acionistas! Mouzar Benedito
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