Nº 25 01-31 JUL 2022
JORNAL DOS CARTUNISTAS DA GRAFAR
ELEIÇÕES
O mundo de olho no Brasil
Direita leva virada na AL e país é a cereja do bolo
editorial
Os olhos do mundo
A
imagem do Brasil, aos olhos do mundo, muda de tempos em tempos. Num passado mais distante já fomos o refúgio seguro para bandidos, cinematográficos ou não. Depois viramos a shangri-lá mítica das mulheres bonitas e das praias paradisíacas. Em seguida nos transformamos no país do futebol e da ditadura. Quase no mesmo tempo o país da fome e da violência urbana assumiu o imaginário internacional. Daí, para surpresa de muitos, o Brasil mudou. Virou um país com potencialidades, com talentos na política e na ciência, o mundo conheceu o brasileiro. Só que daí, numa espécie de síndrome da careta compulsória, bolsonarismo mostrou o que de pior tínhamos. Liberou, incentivou, abriu passo para as milícias. Como a história não para, parece que estamos conseguindo retomar
O GRIFO do Eugênio Neves
nossa melhor cara. Numa espécie de plástica global, que se livra das rugas do neoliberalismo e da tutela unilateral, a América Latina se enfeita com governos populares que retomam a ideia de nação e apostam num desenvolvimento sustentável que não atende especificamente as grandes corporações que tiveram a pretensão de substituir os estados nacionais. Junto com este rearranjo global e continental o Brasil ensaia a sua mudança e o mundo, de novo, está de olho em nós. Os analistas do Grifo detectam esta mudança e, principalmente, a expectativa que ela causa. Nossos cartunistas cercam com seus traços a questão do estalar global e a possibilidade de renascimento com mais equilíbrio, com mais presença das economias periféricas e menos determinação a partir de um centro visivelmente decadente.
Grifo, jornal de humor Desde outubro de 2020. Eletrônico, mensal e gratuito. Editores: Celso Augusto Schröder e Paulo de Tarso Riccordi. Editor gráfico: Caco Bisol Mídias sociais: Lu Vieira Participam desta edição: Minas Gerais: Duke, Janete Chargista, Lor Paraná: Benett, Beto Rio de Janeiro: Aroeira, Carol Cospe Fogo, Latuff, Máximo, Miguel Paiva, Nando Motta, Roberto Neto Rio Grande do Sul: Alisson Affonso, Bier, Carlos Roberto Winckler, Edgar Vasques, Edu Oliveira, Ernani Ssó, Eugênio Neves, Fabiane Langona, José Weis, Kayser, Moa, Óscar Fuchs, Rafael Corrêa, Rodrigo Stumpf González, Santiago, Schröder, Sílvia do Canto, Simch, +Tacho, Tarso, TunikoK, Uberti, Will Cava Santa Catarina: Celso Vicenzi, Eloar Guazzelli São Paulo: Bira Dantas, Caco Bisol, Carlos Castelo, Céllus, Elias Aredes Jr, Gilmar Machado, Jota Camelo, Laerte, Luiz Hespanha, Mouzar Benedito, Synnöve Dahlström Hilkner E mais: Colômbia: Elena Ospina Cuba: Brady Izquierdo. Egito: Ahmed ManSour Espanha: Nani (Adriana Mosquera) Irã: Nahid Maghsudi Itália: Lu Vieira, Marghe Allegri México: Cintia Bolió Turquia: Engin Selçuk
Expediente
2
grafar.hq@gmail.com
GRIFO25 JUL2022
Receba o Grifo grátis e em primeira mão Basta entrar em um dos grupos de WhatsApp para receber sua edição em pdf!
CLIQUE AQUI E ENTRE NO GRUPO 1 CLIQUE AQUI E ENTRE NO GRUPO 2 CLIQUE AQUI E ENTRE NO GRUPO 3
GRIFO25 JUL2022
3
deolhonobrasil
América Latina: cautela na tempestade Carlos Roberto Winckler
P
esquisa recente com jovens em sete países europeus mostra que 60% percebem a guerra na Ucrânia como uma mudança de era, além de preocupação com a mudança climática e a necessidade de fortalecer a União Européia como garantia da paz. A questão climática parece se sobrepor à questão da autonomia energética. Um último verão a ser vivido antes do inverno do descontentamento, já antecipado por manifestações massivas na Bélgica. Inflação, desemprego, crise energética com repercussões na indústria e na vida cotidiana, obrigam governos a políticas onerosas para ter acesso ao petróleo e gás russos e de outras fontes. Cresce a percepção de que as sanções contra a Rússia são adversas, de que os EUA veem o bloco como subalterno, prisioneiro da lógica de expansão da Otan, fatal para a Europa, destinada a ser um cantinho do mundo com a aliança estratégica entre Rússia e China, potência hegemônica na Eurásia. Por sua vez, os EUA fazem da Ucrânia o palco de guerra com a Rússia e, por extensão, à China. Acossados pelo declínio econômico e dívida pública monstruosa, pela divisão politica interna, os EUA reagem de forma diferenciada no plano internacional. Acirram conflitos nas fronteiras com Rússia e China, após a devastação de parte do Oriente Médio, publicamente procuram recompor relações com a América Latina e parecem tolerar em certa medida governos moderadamente progressistas, após um interregno de governos conserva-
miguel paiva
dores de orientação neoliberal, que sucederam ao chamado progressismo na década inicial desse século. Argentina, Peru, Chile, Colombia são os exemplos mais recentes. Nem por isso o Comando Sul deixa de apontar os riscos geopoliticos e econômicos da presença econômica chinesa no continente e mesmo russa. Do progressismo dos anos iniciais desse século a Bolívia e a Venezuela são os exemplos mais avançados de nacionalismo e não alinhamento com os EUA com parâmetros constitucionais inovadores. A Bolívia, apesar do golpe em 2019 , retomou o fio de progressismo avançado nos parâmetros de um Estado plurinacional. A revolução bolivariana inaugurada em 1999 na Venezuela, apesar de sanções dos EUA, sobreviveu a várias tentativas de golpes. Ambos se aproximaram da Rússia e China. Com a crise energética os EUA buscam aproximação com a Venezuela. No Peru o governo de esquerda de Castillo sofre bloqueios no parlamento e tentativas de impeachment. No Chile a eleição de Boric e o processo constituinte abriram
perspectivas de refundar o estado chileno, rompendo com a estrutura institucional herdada da ditadura pinochetista. A nova constituição será submetida à aprovação popular sob riscos de não aprovação. Na Colômbia pela primeira vez se elegeu um governo de esquerda com um programa moderado de reformas. A Argentina literalmente patina com a herança neoliberal macrista colocando em risco o governo moderadamente progresssista. Com exceção da Bolívia e Venezuela, os governos tem maiorias relativas, senão de equilíbrio parlamentar, alguns enfrentam uma extrema direita renovada o que exige imensa capacidade de negociação, que se reflete nas posições diplomáticas. Postulam a integração e unidade latino americana sem tecer críticas mais contundentes à política externa estadunidense. A maioria entende as sanções à Rússia como improdutivas e condenam a chamada operação especial. Parecem ter escolhido um caminho cauteloso em meio à tempestade que se avizinha. E todos esperam apreensivos o resultado das eleições no Brasil.
GRIFO25 JUL2022
4
deolhonobrasil
A Ursal está acordando Se Lula vencer, Brasil, México, Argentina, Chile, Perú e Colômbia, as seis economias mais potentes do continente, estarão sob direção governos progressistas. Presidentes e partidos comprometidos com a democracia, a distribuição de renda, o desenvolvimento dos mercados internos e continental, a retomada do Brics, ambiente, igualdade de direitos entre gêneros. Enfim, a Ursal é do povo, como as praças Castro Alves e Baquedano.
N.R.: a Ursal (União das Repúblicas Socialistas da América Latina) foi mais uma das engraçadíssimas criações do Cabo Dalciolo, candidato à presidência da República em 2018.
miguel paiva
GRIFO25 JUL2022
5
deolhonobrasil
A eleição no Brasil e seus impactos para a América Latina e o mundo
will cava
Rodrigo Stumpf González
A
té algumas décadas atrás a eleição de cada país na América Latina era vista como um evento autônomo. Os partidos e os candidatos eram conhecidos e tinham alguma importância para seus eleitores e para algum correspondente internacional que cobria o evento. Isto mudou por vários fatores. Depois dos processos de redemocratização ocorreu uma aproximação tanto econômica como política. A mudança das tecnologias de comunicação faz com que os nomes e a imagem dos principais líderes políticos estejam presentes em nossos
computadores ou celulares quase instantaneamente, quando ocorre algum evento importante. As influências começaram a ser notadas a partir da crise do México no final dos anos 80, que popularizou a expressão “efeito tequila” (que, por sua vez, se originou de uma propaganda de uma marca de vodka no Brasil). A década de 1990 foi identificada pelo predomínio das políticas neoliberais nas principais economias do continente. A
ressaca das privatizações e da redução do gasto social veio sob a forma da eleição de governantes reformistas, com foco na redução das desigualdades e da pobreza (se isto é suficiente para conside-
rá-los de esquerda, é uma questão para debate). A imprensa internacional denominou esta confluência de fatores de “onda rosa”. Seja pela afinidade ideológica entre os presidentes, seja pelo período favorável na economia internacional, a primeira década e
meia do século 21 permitiu a aproximação entre os países do continente e a assinatu-
ra de acordos de cooperação, como a criação da Unasul. A maré mudou na segunda década e foram eleitos presidentes com viés conservador, como Piñera, no Chile, Macri, na Argentina, Lacalle, no Uruguai, e Lasso, no Equador. Em El Salvador, com Bukele, no Brasil, com Bolsonaro, foram elei-
GRIFO25 JUL2022
tos governantes com políticas autoritárias que ameaçam a democracia. Veio a pandemia e escancarou a insuficiência dos discursos baseados no identitarismo do “Deus, pátria e família”. Há indicações de que há um novo movimento de mudança, impulsionado por fatores como o aumento da pobreza e a ausência de políticas sociais. No Chile os protestos levaram à convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte e à eleição de um ex-líder estudantil. Os peronistas retornaram ao governo na Argentina, apesar dos milhões colocados pelo FMI no governo de Macri. Final-
6
deolhonobrasil
polo alternativo para o deba- fil ideológico de esquerda) te econômico, saindo do eixo Eu- pode permitir o resgate das ropa-Estados Unidos e escancarando relações bilaterais e multilaa falta de representatividade das ins- terais e a retomada de protituições criadas em Bretton Woods. tagonismo na esfera das reMas, mais recentemente, o Bra- lações internacionais. sil passou a ser um pária na política externa. Rompeu laços com aliados recentes, sem necessariamente reatá-los com os antigos. Hoje não temos nem uma política de enfoque Sul-Sul, nem a adesão ao bloco de poder americano, como em tempos passados. Deixamos de ser um
interlocutor confiável e respeitado para ser o exemplo do que não se deve fazer na proteção do meio ambiente, dos mente Lopez Obrador con- direitos humanos ou na políseguiu ser eleito presidente tica fiscal. Não há elogios ou avado México. Um líder sindical liação positiva nem da direita nem foi eleito no Peru, o candida- da esquerda. A unanimidade está na to do MAS foi eleito na Bolí- condenação. Quais as perspectivas via e, com Petro, a Colômbia para o país e qual seu impacto para o elegeu pela primeira vez um continente e o mundo, conforme o candidato de esquerda para a resultado das próximas eleições? presidência. De um lado, a continuidade Será neste cenário que vão ocor- do atual presidente deve sigrer eleições presidenciais em outubro nificar a continuidade da irreno Brasil. E não é mero ufanismo levância diplomática conquisafirmar que o resultado destas elei- tada nos últimos três anos. O ções terá um grande impacto não só para o país, mas para o continente e para o mundo. O país tem um dos 10 maiores PIBs do mundo. Tem a maior economia e a maior população da América Latina. É um dos maiores exportadores de alimentos do mundo. Estes fatores, em décadas passadas, permitiram que fosse uma liderança importante no cenário internacional. No início deste século teve papel de protagonista nos debates sobre o cambio climático e a defesa do meio ambiente. A as-
sociação com outras economias emergentes ou fora do circuito tradicional de poder, por meio dos BRICS criou um
Acordos de cooperação em nível continental podem facilitar o acesso a alimentos e outras commodities aos países próximos, contribuindo no desenvolvimento de políticas sociais que afastem o fantasma da fome. A capacidade de produtor de alimentos e outras commodities pode ser importante para o resto do mundo diante da perspectiva de uma guerra prolongada na Ucrânia que dificulte a obtenção de bens produzidos por este país e pela Rússia.
A liderança do Brasil, junto com a Índia, pode reconstruir os BRICS, afastando a polarização nos padrões da Guerra Fria que as potências ocidentais estão impondo à China e Rússia. Este papel pode contribuir na retomada da pauta do aquecimento global como prioritária, diante dos apelos pelo aumento dos gastos em armamentos feitos na Europa, voltando a colocar a ONU e não a OTAN como organização internacional que deve discutir os rumos do mundo. Assim, o que está em jogo em outubro não é apenas os próximos quatros anos da vida dos brasileiros, mas uma trajetória das relações políticas no mundo que pode definir os caminhos a serem tomados nas próximas décadas. Não somos
isolamento político e econômico com os países vizinhos não só prejudicará o crescimento nacional, mas também diminuirá as possiblidades de acordos de cooperação que favoreçam que outros governos possam pôr em prática suas propostas, colaborando na erosão da credibilidade de presidentes que foram eleitos com perspectivas de mudança que talvez não sejam capazes de fazer sozinhos. Sobre a paz mundial, o a única peça neste tabuleiro, mas um movimento equivocapaís não terá nada a dizer.
Ao contrário, a eleição de um candidato de oposição (e basta ser de oposição democrática, nem mesmo é preciso que tenha um per-
do pode gerar consequências muito além do nosso quintal.
Rodrigo Stumpf González é Cientista Político, Professor da UFRGS.
GRIFO25 JUL2022
7
deolhonobrasil
GRIFO25 JUL2022
8
deolhonobrasil
Outra agenda para América do Sul Marcio Pochmann Publicado originalmente no blog Terapia Política, em 10/07/22.
O
deslocamento do centro dinâmico do mundo do Ocidente para o Oriente recoloca ao Brasil a necessidade de redefinir a sua relação no interior do continente americano. As experiências anteriores de construção de horizontes comuns na região estiveram, em geral, condicionadas pela perspectiva de internalização do projeto de modernidade ocidental. Historiadores revelam que durante o período colonial, o continente americano chegou a ter conexões esporádicas com o Oriente. Quando ainda a China e Índia eram os impérios mais avançados do mundo, o ouro apropriado por Portugal do Brasil serviu, por exemplo, de pagamentos às importações europeias do Oriente. Nos últimos 200 anos, contudo, os processos de independência nacional, ao negarem a valorização e validação da cultura e modo de vida dos povos originários, consolidaram o horizonte de modernidade do capitalismo ocidental. Ao contrário do nascimento das demais nações americanas, o Brasil foi a única que postergou, por mais tempo, o fim da escravidão e a própria instalação da República. Com isso, a passagem para o modo de produção e distribuição capitalista se fez tardiamente, com especificidade importante, se comparada com a trajetória sul-americana e caribenha. Ademais, a integração do território terminou por conformar a população nacional, cujo passado colonizado foi sendo “acomodador” de sua reprodução no presente e no futuro do país, conforme revelou Darcy Ribeiro (O povo brasileiro). Mas isso não transcorreu espontaneamente, tampouco sem ser questionado e gerador de tensões. Após o nascimento da República, já na virada para o século 20, o pensamento crítico se fez presente. Pela perspectiva de Eduardo Prado (A ilusão ameri-
cana), Manoel Bonfim (América Latina) e Manuel de Oliveira Lima (Pan-americanismo), a insatisfação em relação à condição periférica e primário-exportadora do Brasil é inquestionável. Meio século depois, outro conjunto de contribuições do pensamento crítico se apresentou fundamental na redefinição sul-americana e caribenha. Induzido pelo “manifesto dos periféricos” de 1949, a CEPAL exerceu função importante na região em busca do seu reposicionamento na Divisão Internacional do Trabalho, o que foi revelado, entre outros, por Celso Furtado (A fantasia organizada). A internalização de políticas produtivas de substituição das importações por conteúdo nacional permitiu aos países da região se afastarem, em maior ou menor medida, do longevo passado do agrarismo primário-exportador. Embora os avanços na constituição da nova sociedade urbana e industrial tenham sido inquestionáveis, o pensamento crítico revelou o quanto o subdesenvolvimento não havia sido vencido. A sofisticação da dependência sul-americana e caribenha se apresentava encarnada no próprio sentido do aprofundamento da modernidade ocidental. Para autores como Ruy Mauro Marini (Teorías del
imperialismo y la dependencia desde el sur Global) e Theotonio dos Santos (Teoria da Dependência), entre outros, a debilidade burguesa terminaria por empurrá-la para a financeirização e a volta do modelo exportador centrado na reprimarização. Na atualidade deste primeiro quarto do século 21, nota-se o quanto a região se encontra crescentemente conectada comercial e produtivamente com a China. Tem pleno sentido o esforço do redespertar sul-americano para que a região não volte a repetir a realidade do século 19, quando os primeiros cem anos de independência significaram a consolidação de sua condição periférica da Inglaterra, como mera exportadora de produtos primários. Mas em qual direção deverá ir o Brasil? Avançar na grande reconciliação nacional, reafirmando o histórico projeto de modernidade ocidental? Ou disputar o sentido de futuro presente ao Brasil que se deriva do deslocamento do centro dinâmico mundial para o Oriente? Essas e outras questões aguardam respostas urgentes. No entanto, elas continuam ausentes das agendas de gestão diferenciada da crise atual, fundamentalmente condicionadas pelas emergências e o curtoprazismo.
GRIFO25 JUL2022
9
patriaarmada
GRIFO25 JUL2022
10
brasilauditável
GRIFO25 JUL2022
11
bra$il
GRIFO25 JUL2022
12
fimdefesta
GRIFO25 JUL2022
13
brasil
Assassinatos como prática política militar António Rocha
O
poder militar, usando a personagem que o legitimou nas urnas em 2018, faz mais um movimento tático na estratégia regressiva de destruir a institucionalidade, construída com sobressaltos desde 1988. Não surpreende uma matriz histórica calcada a um só tempo sobre a arbitrariedade, violência, privilégio e personalismo, desdobrando uma experiência ausente de ação disruptiva ou sem sequer generalização crítica. A produção repressiva alcançou um nível de sofisticação em 1964, quando o golpe de abril ensejou um sistema de poder militar à luz da Guerra Fria, com rodízio entre generais presidentes na execução de um projeto de modernização autoritária em aliança com o capital. No contexto em que vivemos – negacionista, obscurantista, de reencantamento de viés neopentecostal –, vale a consulta à historiografia. Nesta, o estado da arte está bem ponderado no artigo "Eliminar ‘sem deixar vestígios’: a distensão política e o desaparecimento forçado no Brasil", da historiadora da UEMG, Janaína Teles. Compulsando a bibliografia sobre o tema e acessando fontes primárias recentes disponíveis, Janaína nos esclarece que aquela característica marcante – a arbitrariedade – expressa o controle social que a ditadura militar manobrou e traduziu no “desaparecimento forçado enquanto estratégia repressiva da ditadura e sua centralidade no processo de distensão política”. Não havia nas FFAA a dicotomia entre “moderados” e “linha dura”,
conforme afirmam alguns historiadores. A divergência quanto a táticas não implicava em ausência de unidade estratégica, o que caracterizaria o sistema de poder militar implantado com o golpe. Janaína fala de estratégia de repressão seletiva sem ostensividade, a fim de preservar certa base social de apoio, sobretudo, entre a classe média, mas intensa e implacável contra os que a ditadura marcava e perseguia. Castelo Branco, por exemplo, ícone da pretensa “moderação”, foi quem preparou e estabeleceu a institucionalização da ditadura através de uma legislação excepcional ampla: AI- 2 (1965), AI-3 (1966), eleições indiretas para governadores, a Constituição de 1967 com a figura do “inimigo interno”, a Lei de Segurança Nacional, a lei 317 (Lei Orgânica da Polícia), a Lei de Imprensa e uma miríade de decretos e portarias restritivos. Era o anticomunismo dos mi-
litares brasileiros após encontrar-se com a orientação ideal na doutrina francesa da guerra revolucionária, concebida a partir da experiência da Argélia e destinada a “enfrentar o novo tipo de guerra não convencional, que combinava política, ideologia e operações militares”. A Castelo segue progressiva concentração no Executivo federal de poder e arbítrio, com a transformação dos órgãos de informação em “organismos mistos”, combinando informação e operação, para ações clandestinas no combate à “guerra revolucionária”. Surpreendente, porém, foi a informação de Janaína Teles de que o AI-5 não foi feito contra os adversários da ditadura, debilitados pela repressão, mas endereçado efetivamente ao inimigo interno: às distintas facções de militares em disputa pela Presidência do rodízio sistêmico. Retomando o argumento central de Janaína Teles, o desaparecimento forçado era condição necessária para a distensão política, eliminando assim eventuais inconvenientes que pudessem perturbar a transição controlada e ajudando a entender a deformação na memória, combinada ao nosso autoritarismo histórico, decorrente da falta de generalização da crítica a que fiz referência no início. O poder militar da nova geração de generais que continuam a reproduzir o passado agradece, com louvor e erros sintáticos, a popularidade de Bolsonaro, graças ao qual a ditadura foi redimida e pode voltar, de fato, a ser um objetivo.
GRIFO25 JUL2022
benett
Eloar Guazzelli
14
fomebrasil
GRIFO25 JUL2022
15
brasilforadacasinha
O tarado da Caixa e outros cenários
miguel paiva
Luiz Hespanha
A
pornochanchada fez muito sucesso na segunda metade do século 20. Filmes como “Nos tempos da vaselina”, “O homem de Itu” e “Elas são do baralho” lotavam cinemas. Diretores como José Miziara e Antonio Calmon; roteiristas como Silvio de Abreu e Marcos Rey; e atores como Antonio Fagundes, Vera Fischer, Rosana Ghessa e Nuno Leal Maia fizeram história nessas produções. Hoje duvido que algum deles aceitasse dirigir, roteirizar ou atuar em “O tarado da Caixa” em cartaz nos telejornais. Duas pesquisas publicadas em “O Globo” (03 e 04/07/2022) não tiveram eco merecido. De acordo com o primeiro levantamento 20% dos brasileiros acreditam que a Terra é plana. Outros 21% também não acreditam que Neil Armstrong e Buzz Aldrin pisaram na Lua. Gente generosa logo comparou esses números aos 8%, teto eterno de Ciro Gomes na disputa pela presidência. Outra diz respeito à desconfiança dos brasileiros nas Forças Armadas. Em quatro anos subiu 8 pontos. No início do atual governo, 21% diziam não confiar
nas Forças Armadas. Hoje são 29%. Em 2018, 34% diziam “confiar muito” nos militares. Agora são 25%. Outra pesquisa precisa esmiuçar a opinião da população evangélica, apenas ela, sobre o compromisso de homens de Deus como o ex-ministro Milton Soares, os pastores Gilmar Santos, Arílton Moura e bispos e apóstolos com a educação, saúde e combate à corrupção. A cultura da Era Bolsozóica vive um momento único. O deputado Daniel Silveira, laureado pela Biblioteca Nacional, terá uma cátedra no Departamento de Literatura Muscular de uma Academia fitness de Harvard, além da óbvia conquista do Nobel de Polichinelo. Outra certeza é a chefia do Departamento de Interpretação Hamletiana em Caixas Eletrônicos para o Mário Frias (mas só se tiver banheiro privativo); Frias é um defensor incansável da Lei Goianet, aquela que considera as duplas sertanojas de Goiás e “adj’astúcias” as únicas merecedoras de apoio curral’tural. Baita injustiça de linguistas e filólogos em tentar transformar o sobrenome Moro e o neologismo Conje em sinônimos de anonimato. Esses mesmos intelectuais cruéis também
insistem em acrescentar o sufixo “naro” e criar novas palavras, como bostanaro, merdanaro, nazinaro, neronaro e assemelhadas. Convenhamos, são fonemas de pronúncia, assimilação e entendimento difíceis, portanto impossíveis de serem incorporadas ao Léxico. Contam-se nos dedos os generais golpistas de Bolsonaro. Tem Heleno, o estratega de Cité Soleil; Braga Netto, o marechal do golpe; Luiz Eduardo Ramos, lembrado por colegas de quépi e coturno como o fofoqueiro-mór do Planalto; um tal de Girão, de sobrenome à altura do raciocínio; o ministro da Defesa, Paulo Sérgio e seu penteado Jovem Guarda Palaciana radical; e o sempre alerta Mourão, aquele que nunca sabe o que diz; além da familícia e do Comandante Queiroz. Trôpegos em credibilidade e tropa são conduzidos emocionalmente pelo general Villas Boas, o popular tuiteiro de pé-de-ouvido. Mas, todos liderados por um tresloucado de baixa patente e inteligência que já defendeu a necessidade matar pelo menos 30 mil “logo de cara”. Convém lembrar aos defensores de golpes e ditaduras das imagens de Mussolini e Clara Petacci. Elas podem fazer parte do cenário que projetam e deliram ter controle.
GRIFO25 JUL2022
16
brasilforadacasinha
GRIFO25 JUL2022
17
querquedesenhe?
schröder
Por um jornalismo real, lá e aqui
O
bviamente uma imprensa ruim ainda é melhor do que imprensa nenhuma. Isto porque, mesmo na má imprensa, existem os espaços e brechas por onde o jornalismo se infiltra. Não existe jornalismo completamente desnecessário ou ruim. Mesmo no Rio Grande do Sul. As contradições das empresas as comprometem abrigar o jornalismo aqui e acolá. Mesmo no Rio Grande do Sul. Por isso a leitura crítica e a pressão de leitores, ouvintes e telespectadores é importante para colocar o jornalismo nos trilhos. E o trilho do jornalismo, nem sempre é o meu trilho, o trilho dos nossos desejos. Também obviamente o jornalismo pertence ao grande campo da comunicação, embora não se confunda com este. Porém tanto a cominuição abrangente como especificamente o jornalismo precisam, para serem livres, estar regulados. A
liberdade, já sabiam os sábios gregos, é uma intrincada combinação de moral, lei e poder. Para que ela exista em suas possibilidades é necessário que a lei atenda a moral e não exorbite o poder. Democracias conseguem fazer isto relativamente. No país que queremos e precisamos a comunicação e o jornalismo terão um papel decisivo. Para que cumpram este papel os jornalistas, radialistas e comunicadores em geral, assim como as empresas de comunicação, precisam estarem dispostos a colocarem o interesse público acima de suas crenças e de suas empresas, aceitarem que a liberdade só existe regulada -ou então é conversa para boi dormir- e implementarem, finalmente, as decisões da Primeira Conferência de Comunicação para construirmos uma base democrática de compartilhamento de informação e cultura. Principalmente no Rio Grande do Sul.
querqueescreva?
Pixs Crime político, para a polícia paranaense, só acontecerá quando o zumbi bolsonarista atirar uma bobina de papel para voto impresso num petista e este revidar com uma urna eletrônica nos cornos. Crime do petista, obviamente. É muito triste ver professores darem lugar para filósofos da autoajuda, malabaristas do Tik Tok ou ainda para os arautos da autocomiseração. Saudades de professores e colegas que sabiam que ensinar era, além de compartilhar conhecimento, um pacto civilizatório intransferível. Descobri: influencers são pessoas famosas que só os outros conhecem. Polícia e médicos esconderam o assassino de Foz? E mentiram que ele estava morto? E a imprensa local acreditou! Assim como ferro velho é, na maioria, receptador de carros roubados, clube de tiro é, na sua totalidade, playground de nazista. A Lava Jato destruiu a moral nacional para Bolsonaro conseguir estabelecer o estado criminoso. A imprensa cimentou com a desinformação. A guerra civil seria a maneira trágica do miliciano compartilhar sua derrota. FAB prendendo cocaína ao invés de vender? Guerra de facção? A frase racista de Piquet é tão reprovável quanto a sua patética cumplicidade com a tentativa de golpe de 7 de setembro, quando serviu de motorista ao miliciano.
GRIFO25 JUL2022
18
sócartum
Esta tira de Alisson Affonso foi premiada com o terceiro lugar no 15º salão de humor de Mogi Guaçu-SP, categoria quadrinhos. Denuncia a política do governo federal de acabar com toda a forma de proteção ao meio ambiente.
19
GRIFO25 JUL2022
sócartum
Cintia Bolio, México
Vou
Dirijo
Embrabeço
Espero
Breco
Saúdo Nani, Espanha
Chego Marghe Allegri, Itália
Nahid Maghsoudi, Irã
GRIFO25 JUL2022
20
sócartum
Brady Izquierdo, Cuba
Rafael
Engin Selçuk, Turquia
Elena Ospina, Colômbia
GRIFO25 JUL2022
PALAVRAS DA SALVAÇÃO Esse negócio de combustíveis fósseis tá nos arrastando pra préhistória. Depois da pata e da pele, vem aí a refeição light: pena de frango. Não confunda MEC Milton’s com McDonald’s. - Meu vizinho toma soro todos os dias. - Bah, o câncer voltou? - Não. É soro de leite. O salário é um espírito que desencarna antes do fim do mês. Será que essa galera louca pelo 5G sabe encontrar o Ponto G? A terra é um planeta redondo infestado de gente quadrada. Se o Aécio for pro espaço, vai ser o fim do pó estrelar! 20 de julho é o Dia do Amigo. Os outros dias são do inimigo mesmo.
21
diaborosa
bier
SONETO SONETETINHA Quando fui, prezada minha, procurar Um local pro coração entrar em cena, A fortuna a mim se abriu qual fecho éclair Lá no café bem à frente de um cinema. Descornado andava eu a ruminar A triste sina dum andejo abandonado, Quando tuas íris desenharam meu olhar E o teu balanço me largou petrificado. Melancólico eu gemo com a lembrança E a calcinha que ora furo em homenagem A uma noite em que alumiado me perdi. Desci à alcova desprovido de esperança, Como se lesse uma receita de purgante E me flagrei recitando um Shakespeare.
Muito estranho esse pessoal que se suicida de má vontade... Agora o cara que projeta vibradores é chamado de Designer Vibracional.
BAR DO NEREU sujeito entrou, sentouse à mesa da porta e colocou uma sacola de pano em cima. Pediu um ferrinho com limão, levantou-se e foi conferir as marcas de cigarro no mostruário. Aí a sacola se mexeu! Pensei que tava tchuco e firmei os olhos em cima. A sacola se mexeu de novo! E a cabeça de um galo aflorou, gloriosa. Espanto e risos. O cara da sacola deu um salto e segurou o bicho, que já se desvencilhava. Alguém pediu pra ver o galo inteiro, e ele mostrou um animalão rajado de vermelho e preto. Disse que não ia comer. Era pra uma oferenda de religião. Depois de molhar o verbo, contou o causo de uma tia que morava na Restinga, do tempo em que ele era guri. A moça não era exatamente bonita e se imaginava encalhada, sempre resmungando que não lhe aparecia um grande amor. De forma que foi aconselhada a fazer uma oferenda. Na noite seguinte, foi até um cruzamento ali perto e montou o despacho: que os orixás lhe trouxessem o seu príncipe. Rezou e cantou o ponto na companhia de outras mulheres – e depois foi pra casa. Na madrugada, um cara todo na estica, trajando terno branco e chapeuzinho Panamá (Iembrava o Zé Pelintra!), deparou-se com o trabalho e... fumou os charutos e tomou toda a cachaça. Como já vinha com os pés molhados, deitou ali mesmo e desmaiou. Na manhã seguinte, a moça saiu pro o trabalho e viu aquele belo mancebo estirado junto ao despacho, usando a galinha morta de travesseiro. Voltou pra casa e gritou pra velha: - Manhê! Meu pedido foi atendido!
O
GRIFO25 JUL2022
Carlos Castelo e Bier
Laerte
VAREJEIRAS EM CRISE Celso Schröder
RANGO Edgar Vasques
22
tiras
GRIFO25 JUL2022
MERCADO FUTURO Óscar Fuchs
BIOMA PAMPA Celso Schröder
DR. ROBALO Kayser
Lu Vieira
23
tiras
GRIFO25 JUL2022
Alberto Benett
Fabiane Langona
BLAU Bier
Nando Motta
24
tiras
GRIFO25 JUL2022
25
tiras
GRIFO25 JUL2022
26
entrevero Do jeito que vai a coisa, até as rosas vão virar plantas carnívoras. Carlos Castelo
O problema da Amazônia não é de ausência de Estado, é de excesso de Estado mafioso. Carlos Castelo
En passant Na parada de ônibus, nine out of ten movie stars usam celular. Caco Bisol
Carlos Castelo
Não existe um crime, estupidez ou imbecilidade política praticada no Brasil desde 1º de janeiro de 2019 que não tenham as “digitais verbais e gestuais” de Jair Bolsonaro. Luiz Hespanha Na impossibilidade de culpar o Lula e afã de isentar Bolsonaro pelo estímulo contínuo ao ódio, a mídia eternamente golpista está na dúvida se o culpado é o bolo ou as velas do aniversário. Luiz Hespanha O Brasil já teve um presidente Prudente. O atual é totalmente imprudente. E incompetente, prepotente, ausente, inconveniente, decadente, inconsequente, subserviente. Em síntese, deprimente. Celso Vicenzi O “governo honesto” agora admite. Tem corrupção (e não é pouca), mas é abençoada pelos pastores. Celso Vicenzi Covid é igual ônibus: se você não pegou uma, logo atrás vem outra (d’après Patricio Bisso). Mouzar Benedito Depois dos tanques cóf-cóf do ano passado teremos tiroteio de 7 de setembro, igual ao 4 de julho dos states? Caco Bisol Onde se lê bolsonarista mata, leia-se o Inominável mata. Caco Bisol Inteligência artificial no Brasil ainda demora, nem saímos da burrice natural. Carlos Castelo
Rafael Corrêa
Não há mais governo na atual corrupção.
O Pequeno Príncipe completou 75 anos e não virou rei. É o príncipe Charles da literatura. Carlos Castelo
Tebet é a Barbie dos ricos e oligarcas que sempre dominaram o Brasil. Celso Vicenzi
O Brasil tá muito louco. Aumentam as chances do Ciro! Celso Vicenzi Diga-me com quem andas, em quem votas, e as redes dirão quem és? Luiz Hespanha Tente lembrar de algum petista que invadiu festa de adversário político e saiu matando? Quem conseguir ganhar uma foto autografada ao lado de Eduardo Bolsonaro ou de algum candidato da terceira, quarta, quinta ou sexta via. Luiz Hespanha Facebook de Bolsonaro tem 14 milhões de seguidores? Só acredito vendo o cadastro em papel de todos. Carlos Castelo
Patricia calada é mais poeta. Caco Bisol
Lula com chuchu? Nas circunstâncias, é um luchu! Celso Vicenzi A mídia distrai o povo com bodes expiatórios e ninguém vê a vaca indo pro brejo. Celso Vicenzi O homem é o único animal que ri. Mas a Ciência ainda não sabe dizer do quê. Carlos Castelo A polícia é o pilar da sociedade: amarra a sociedade no pilar e bate. Carlos Castelo A respiração era a fonte da vida, hoje é a nascente da covid. Carlos Castelo Com a pandemia, o mundo virou uma penitenciária onde as casas são as solitárias. Carlos Castelo Bolsonaro já tinha prevenido sobre a incitação à violência pelos opositores: “Se o nove dedos ganhar, vai transformar os stands de tiro em bibliotecas”. Mouzar Benedito
GRIFO25 JUL2022
27
entrevero
Sérgio Moro disse à Folha que pretende ser o líder de oposição a Lula no Senado. Nem Ghandi foi tão modesto.
DICIONARIO
CASTELO DA LÍNGUA PORTUGUESA Por Carlos Castelo
Luiz Hespanha
ATOÍSTA Ateu desocupado
Aguardadérrima a biografia de Nelson Piquet, com prefácio e pé de orelha de Jair Bolsonaro, obviamente. O livro já tem até título: “Chofer sem preconceito”. Luiz Hespanha Assassinato como método de governo passou a suicídio como método de governo? Caco Bisol
A culpa é sempre do morto. Ou da mulher estuprada. Quem mandou estar anestesiada... Caco Bisol
Não há desgraça no Brasil, por pior que seja, que a polícia não ajude a piorar. Carlos Castelo Sempre aumento minhas reservas políticas a qualquer parlamentar dito de esquerda que tem cadeira cativa de bonzinho nos telejornais globais. Luiz Hespanha Nunca em tempo algum na história do Brasil alguém fez tanto, faz tanto e pede tanto para ser preso como Jair Bolsonaro&Familícia. Luiz Hespanha
Os Estados Unidos alcançaram o auge da terceirização com a guerra na Ucrânia. Celso Vicenzi
Os preparativos para a terceira guerra mundial seguem sem atrasos no cronograma. Celso Vicenzi O inominável tem 30% de apoio? O Brasil tem 30% de nazifascistas. Caco Bisol
BOLSO-FAMÍLIA Programa de transferência de renda do governo federal para o bolso da família Bolsonaro CANALHA Pessoa que vive pisando em ovos – dos outros O inominável vai dar o golpe e desmentir pelas redes no dia seguinte? Caco Bisol Rodrigo Pacheco é um monge da política mineira: o Sumo Sacerdote do Zen Nadismo. Luiz Hespanha O terrorista do atentado bostial, digo bestial, na Cinelândia se disse “de centro”. O Brasil está cada vez mais civilizado politicamente. Agora temos até atentado inspirado pela Terceira Via. Luiz Hespanha
O caos acontece quando um reacionário encontra um idiota. Carlos Castelo
Brasileiro não devia usar T-shirt, só Y-shirt: já vem com mãos ao alto. Carlos Castelo Os generais vão auditar as urnas? Ou serão apenas um cabo e um soldado? Caco Bisol O inominável será preso antes ou depois de contestar as urnas? Caco Bisol Não é botox, os tempos estão bicudos mesmo. Carlos Castelo
CRUCIFALSIFICADO Falso Messias DERRADO Antônimo de decerto DOGMÁTICO Cachorro inflexível INFLUENÇER Influencer analfabeto LIVRE INICIATIVA Ficar completamente livre para exercer o desemprego NOVELA Episódios diários criados para fazer as pessoas esqueceram suas novelas diárias POWLÍCIA Corporação destinada a fazer cumprir o conjunto de leis de um país na base da pancadaria PROCRETINO Procrastinador estúpido TIM MAIA Artista que sempre dispensou apresentações TUBAÍNA Máquina de fazer arroto UKELELE O laptop dos violões VELHEIDADE Ideia excêntrica que aflora à mente de um idoso
GRIFO25 JUL2022
28
entrevero América Latina: Para que lado bom Agora se inclina. O pastor pastoreia Seu rebanho E a vida alheia.
Recuperar um político torto é como curar um homem morto. Carlos Castelo
Pesquisa feita pelo Ipesp em 07/06/22 mostrou Sérgio Moro liderando com 31% a rejeição entre os candidatos ao Senado no Paraná. Com a traição ao “amigo” e também candidato ao Senado, Álvaro Dias, Moro tem tudo para ultrapassar os 50%. Luiz Hespanha Sabe aquela cara de nada? Aquele verbo inodoro? Aquele gesto incolor que se movimenta e soa como uma letra O girando em torno de si mesma? Pois é, tem nome e preside o Congresso: seu nome é Rodrigo Pacheco. Luiz Hespanha
Nas lives Bolsonaro sempre oscila. Ora entra no modo Brilhante Ustra, ora no modo Freddie Perdigão Pereira. Mas tem uma diferença: ele é, ao mesmo tempo, um torturador verbal e um ser torturado pela própria estupidez, megalomania, incompetência, mediocridade e certeza de que será preso. Luiz Hespanha
A terceira guerra mundial pode não florescer, mas está por um botão! Celso Vicenzi
Lula foi denunciado, indiciado, incriminado, criminalizado, condenado, vilipendiado, desacreditado, desprezado, humilhado, atacado, desacatado, agredido, destratado, enxovalhado, injuriado, insultado, ofendido, ultrajado, criticado e hostilizado. E tem contra ele a maior Bolsonarista armado parte da mídia, dos empresários, das jamais será civilizado igrejas, do agronegócio, do Congresso, (d’après Jair, o próprio). do Judiciário, do Ministério Público, Mouzar Benedito das Forças Armadas e outras forças conhecidas ou que agem nas sombras. Lula tem o dever de aproveitar a Mas pode vencer no primeiro turno. É sugestão de Bolsonaro e transformar ou não é um fenômeno? os Clubes de Tiro em Bibliotecas Celso Vicenzi e salas de alfabetização. Poderia ir além e propor o fim da isenção de impostos sobre templos, devidamente acompanhada da varredura fiscal nas empresas da fé e seus proprietários. Luiz Hespanha Navegar não é preciso. Viver é preciso (depois de todo mundo). Caco Bisol Trabalhadores sem direitos entregam tudo aquilo que deliveramos. Caco Bisol
Bolsonaro não quer largar o osso. E por falar em osso... opa! Já está em falta para a sopa. Constituição... Gênero superado De ficção Não existe barlavento, Não existe sotavento Onde não há vento. Pai nós que está no Céu, Por que foi que resolveu Mandar o Brasil pro beleléu? Cega justiça! Este, acho que mandei antes... mas combina... Sua cegueira Parece postiça Chumbo e brega São as marcas Do governo chumbrega. Aberto de mente Não é nada aberto Mas é demente. Bolsonaro, rainha que se vira. Faz pose, finge que governa, Mas quem manda é o Lira. Orçamento secreto Era o que faltava Ao corrupto completo
Mouzar Benedito
GRIFO25 JUL2022
29
borracheiro&exorcista
ernani ssó
Por fora do Pasquim
A
melhor coisa de Rato de redação – Sig e a história do Pasquim, de Márcio Pinheiro, editora Matrix, é o título. Boa sacada o Sig, a mascote do jornal, como guia de nossa leitura. Mas o Sig some logo depois de apresentado. O que ele viu na redação ou nos botecos onde o pessoal ia encher a caveira? Quase nada. Até o perfil dos principais humoristas e jornalistas não passa de um currículo ligeiro, sem uma análise do trabalho de cada um. É como se tudo fosse igual: a boa vontade tipo Hebe Camargo do Ziraldo, o humor sardônico do Ivan Lessa e a grosseria do Fausto Wolff. Fiquei com a impressão de que Márcio Pinheiro não leu o Pasquim, apenas deu uma folheada. Veja, há uma afirmação de que os melhores anos do jornal foram com o Millôr na direção. Por quê? Exemplos dessa excelência? Nada.
Quando Millôr perde a paciência com Jorge Mautner, Márcio compra a versão do Luiz Carlos Maciel: uma disputa entre cultura tradicional e contracultura, onde a contracultura tinha razão. Por que não checou a acusação do Millôr de que havia uma turma de embusteiros, que elogiava todo mundo e nunca criticava um poderoso? Bastava dar uma olhada no Pasquim e nos cinco números do Flor do Mal, o jornal underground que o Maciel editou. Sem falar que Mautner ter dito, entre outras coisas, que Noel Rosa é kafkiano, não é contracultura, ou é apenas no sentido de que Mautner não sabe o significado da palavra kafkiano. Revolução dos Cravos. Márcio diz que o pessoal se esbaldou, já que da ditadura daqui não dava pra falar. O gozado é que um dos colaboradores mais assíduos do Pasquim, nessa época, era Santos Fernando, escritor português. Publicou até um
conto sobre o entrevero dos gajos. Márcio não o menciona. Também não menciona Campos de Carvalho, que colaborou por muito tempo. Mas menciona outros, como Rubem Braga, que escreveram meia dúzia de dicas. É de se perguntar se Márcio conhece a importância do escritor Campos de Carvalho. Dalton Trevisan é mencionado. Mas o que fazia lá? Como apareceu? O maior contista brasileiro do século 20 é despachado assim, numa lista de colaboradores acidentais. Pra finalizar, duas mancadas divertidas. Uma: Márcio não se dá conta de que a entrevista com Drummond foi montada por Sérgio Cabral com textos e declarações do poeta. Pelo visto ele também só folheou a obra do homem. Outra: a seção ABC do Sexo é atribuída ao Ivan Lessa. É dose, Fausto Wolff até fez uma seleção dos textos da seção pra um livro lançado pela L&PM.
GRIFO25 JUL2022
30
causídico
paulo de tarso riccordi
Equilibrando-se na linha de cerol a expressão "viúvas do quem sabe, órfãos do talvez". Geisel o cassou imediatamente.
Manifesto à Nação
D
iante da culpabilização dos militares pelo fracasso econômico e descontrôle da inflação, o quarto ditador, general Ernesto Geisel, assumiu em 1974 com o objetivo de preparar a "volta aos quartéis". Teve contra si a resistência da ultra direita militar-policial-empresarial, que queria manter a ditadura e estava pronta para provocações. Recusava-se a devolver o país. Liquidada a luta armada da esquerda, restava à ultra direita criar outros inimigos. Entre agosto de 1975 e janeiro de 1976, sequestrou e assassinou no DOI-Codi de São Paulo o tenente José Ferreira Almeida, diretor do Clube dos Oficiais da Reserva da PM, o jornalista Vladimir Herzog e o metalúrgico Manoel Fiel Filho. A resposta de Geisel foi rápida: demitiu o general Ednardo D'Ávila Mello do comando do II Exército, que deveria ter controlado o DOI-Codi. E atacou também a esquerda do MDB. Em janeiro e março de 1976, cassou os mandatos dos deputados Marcelo Gatto, Amaury Muller, Nadir Rossetti e Nelson Fabian, acusa-
dos de integrarem o Partido Comunista Brasileiro. No mês seguinte, Lysâneas Maciel também caiu. Em fevereiro de 1977, depois de o MDB ter conquistado dois terços das vagas na Câmara Municipal de Porto Alegre, o líder da bancada, Glênio Peres, foi cassado. Uma semana depois, Marcos Klassmann teve o mesmo fim. Em 1° de abril, Geisel fechou o Congresso por duas semanas para baixar uma Emenda Constitucional e seis Decretos (a "Lei Falcão" e o "pacote de abril"), que mudavam as regras eleitorais para tentar impedir novas vitórias da ascendente Oposição. Em 15 de junho, outra cassação: o deputado mineiro Marcos Tito, que leu da tribuna o editorial da "Voz Operária", jornal clandestino do PCB. No final daquele mês, o MDB requisitou o direito a um horário de TV para "divulgação partidária". Um dos quatro a falar foi o líder do partido na Câmara, Alencar Furtado. Corajosamente, em rede nacional, ele denunciou a tortura, assassinatos e desaparecimento de presos políticos, em relação ao que ele criou
Nesse ritmo, o MDB entendeu que seria destroçado. Ulysses Guimarães reuniu a direção nacional para redigir a mãe das notas de protesto. Movimento arriscado, que poderia provocar mais degolas e até mesmo novo fechamento do Congresso. O MDB era um ajuntamento que reunia desde liberais que haviam apoiado o próprio golpe de 1964, como Paulo Brossard, até partidos e correntes clandestinas, como PCB, PCdoB e trotskistas. "Moderados" e "autênticos". Passaram a manhã, tarde, noite discutindo os termos do documento, em difícil negociação, palavra por palavra. Uma nota de protesto formal, denotaria medo e desmoralizaria a Oposição. Já demasiadamente forte, poderia cutucar os ditadores além da medida e reabrir as portas do inferno. Nessa negociação Tancredo Neves se disse "rouco de tanto ouvir". Já entrados na madrugada, chegaram ao tênue ponto do acordo possível. Estava pronta a nota. Exaustos, os velhos caciques subiram para os quartos e os líderes dos "autênticos" ficaram no bar do hotel, ainda analisando o documento. Horas depois, enviaram Pedro Simon para acordar Tancredo, líder dos "moderados". - Nosso pessoal quer alterar o documento. - Ah, não! Custamos a chegar a isso. É o limite da prudência. Um perigo acrescentar qualquer palavra. - Não, Tancredo. Nós não queremos botar. Nós queremos é tirar. - Tirar? Ah, tirar pode!
GRIFO25 JUL2022
31
racismo
Fortuna crítica e afetiva sobre a obra de Oliveira Silveira confirma o seu legado
ilustração Silvia do Canto
José Weis
O
Instituto Estadual do Livro (IEL) presta uma justa homenagem à memória de Oliveira Silveira, poeta, professor, escritor, militante do Movimento Negro em Porto Alegre, lançando um volume, Breve Fortuna Crítico-Afetiva, que aborda a vida e obra do autor de Poema Sobre Palmares. Este é o um registro importante que assinala a criação do Núcleo de Estudos e Literatura Negra, vinculado ao IEL. Oliveira Silveira foi um dos fundadores do Grupo Palmares e um dos líderes da campanha pelo reconhecimento do Dia da Consciência Negra. O poeta é referência e tem uma longa trajetória de lutas contra o racismo. Sua poesia e atitudes deixam um legado antirracista. São textos de diversos autores, que conheciam ou conviveram com
Oliveira Silveira. A partir da leitura é possível reconstruir e entender a importância do poeta e da admiração e reconhecimento de todos e todas. Ronald Augusto, poeta, professor, filósofo e organizador da obra escreve que “a poesia e a produção de Oliveira Silveira se relacionam à experiência de intelectuais, poetas, escritores, artistas, que tiveram com ele ou uma relação fraterna, afetiva, ou teórica, analítica”.
Poeta e militante Oliveira Ferreira da Silveira nasceu em 1941, em Touro-Passo, região rural de Rosário do Sul. Ele mesmo se define como um “poeta negro brasileiro (negro misto com mista afro)”, para que todos saibam a que veio. Desde cedo, teve plena consciência do desejo da elite em manter em laço curto a sua etnia. Sua poesia denuncia esta condição. Oliveira teve participa-
ção na formação de grupos como Palmares de Porto Alegre, na criação da revista Tição (nos anos 70) e afirmação do Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, que celebra a memória de Zumbi dos Palmares. A luta de Oliveira e tantos outros têm cada vez mais visibilidade. Para Jeferson Tenório, autor do livro O Avesso da Pele (Prêmio Jabuti 2021), “o espaço só foi assegurado graças às lutas históricas de movimentos negros e de pensadores e intelectuais negros”. Aliás, em seu reconhecido romance, Tenório faz uma literal homenagem à memória de Oliveira, que vira personagem do livro.
Fundamental Ronald Augusto também foi o organizador da Obra Reunida – Oliveira Silveira (IEL, 2012) e ressalta que “mais importante do que o legado, a poesia de Oliveira Silveira tem que ser vista como um desafio às novas gerações, analisada como um conjunto de textos vivos, inventivos, através dos quais podemos interpelar outros escritores negros sobre questões estéticas e políticas, que podem ser tensionadas no poema sem que sua relativa autonomia seja lançada por terra”. E Ronald conclui: “o grande ativista negro que foi Oliveira jamais sufocou o baita poeta que ele é e seguirá sendo”. Oliveira Silveira faleceu em Porto Alegre, em 2010. Para obter o livro é preciso ir até o IEL (André Puente, 318 – (51) 3314-6450, levando um documento. A distribuição é gratuita.
GRIFO25 JUL2022
32
artesdrásticas
tacho
Tacho (Gilmar Luiz Tatsch/1959-2021), capilé , diagramador e cartunista premiado, trabalhou no Jornal NH, Jornal Vale do Sinos e no Correio do Povo.