Nº 5
MAR
2021 J C OA R R N T A U L N I D S O T S A S
Os Irmãos Sampaio
Edgar Vasques
Jornalismo é esperança
Nilson Lage
D A G R A F A R
Rachadinha boa é a das grandes fortunas!
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editorial
-SUMÁRIO2------EDITORIAL 3-----rachadinha do_bilhão 6-------golpismo 10---fez-se_news 11--antirracismo 12-----de_mestre 16---------mundo 17------lanterna mágica 20----diabo_rosa 21------regional 23-----veni,vide, vicenzi 24--pandeconomia 27-----entrevero 30---------artes drásticas
grafar.hq@gmail.com
EX PE DI EN TE
O Jornal Grifo é publicação de cartunistas da Grafar (Grafistas Associados do Rio Grande do Sul) Editor: Marco Antonio Schuster Editores adjuntos: Celso Augusto Schröder e Eugênio Neves Capa: Celso Schröder Diagramação: Hals e Bruno Cruz Colaboradores: Adão Iturrusgarai, Alysson, Bier, Bruno Ortiz, Carlos Roberto Winckler, Cláudio Levitan, Cláudio Mércio, Celso Vicenzi, Demétrio Xavier Doro, Edu, Edgar Vasques, Eugênio Neves, Felipe Coelho, Gabriel Renner, Graça Craidy, Hals, Janete Chargista, Kayser, Lu Vieira, Lídia Fabrício, Marco Vargas, Moisés Mendes, Nilson Lage, Paulo de Tarso Riccordi, Rekern, Rodrigo Schuster, Santiago, Schröder, Uberti, Zorávia Bettiol.
Por uma rachadinha no dinheiro dos ricos
E
ssa história de “rachadinha” com dinheiro de assessores com parlamentares é mais uma vergonha nacional. Deputado defender leis criminosas como o AI-5 é outra. Fechar um ano de pandemia com média diária de mortos aumentando sem controle, sem sequer planejamento de vacinação, mais uma. Governo correr apressadamente para privatizar bancos, petrolíficas, energéticas e tudo o mais que for público a preço baratinho, também é vergonhoso.Ou irresponsável, ou mal-intencionado, ou corrupto, ou qualquer outro adjetivo depreciativo. Todos são justos. Todas essas histórias são filhas da… concentração de renda e da ideologia. No Brasil, um grupo de 43 bilionários - revela a organização internacional Oxfan que estuda soluções para a pobreza no mundo - em 2018 concentravam 549 bilhões de dólares em suas mãos. Isto é, 43,52% da riqueza do país. A metade mais pobre do Brasil,
110 milhões, somavam 2% da riqueza nacional. Essa imensa maioria ficou mais pobre ainda. Em setembro de 2020, o Banco Mundial revelou que 85 milhões de brasileiros vêm perdendo renda desde 2014 e agora vivem com renda inferior a 500 reais por mês. O Banco concluiu, nesse estudo, que se a renda fosse distribuída igualmente, 13 milhões de brasileiros teriam saído da pobreza e nove milhões da pobreza extrema (renda mensal de R$ 89,00). É o pior resultado da América Latina. O enriquecimento dos ricos aliado ao empobrecimento dos pobres é como se houvesse uma rachadinha em toda a sociedade. A taxação de fortunas é lei no Brasil, está no artigo 153, inciso VII da Constituição de 1988, mas o Congresso ainda não encontrou tempo para regulamentar. Está na hora de encontrar tempo para votar projetos já existentes. A rachadinha do dinheiro dos muito ricos é justa, ética e necessária.
O Grifo de Tarso
rachadinha do bilhão
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Por uma invertida nas super fortunas
U
m grupo internacional de jornais, liderado pelo francês Le Monde, obteve dados financeiros do paraíso fiscal Condado de Luxemburgo e descobriu que 358 brasileiros são sócios de empresas sediadas lá. A soma dessa fortuna chega a 112,6 bilhões de reais. No Brasil, a revista piauí participou da pesquisa.
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rachadinha do bilhão
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golpe baixo
Marombando ameaças
O
deputado bolsonarista Daniel Silveira ficou mal na sua bravata feita de músculos e ideias banais. Mas a reação de terraplanistas como ele foi criar uma lei que permite bravatas iguais daqui pra frente. Foi mais um ensaio para dar um golpe dentro do golpe de 2016.
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golpe baixo
Os momentos de Bolsonaro
enfrentamento à pandemia, mas não
D
Carlos Roberto Winckler as políticas econômicas. O bolsonaé sociólogo rismo não conseguiu se organizar par-
e janeiro de 2019 a julho de 2020 ocorreu extrema ideologização do governo Bolsonaro, pautada pelo núcleo olavista e por neopentecostais, auge da defesa do ultraliberalismo, do discurso moralizante, negação de projeto nacional, desmoralização das instituições estatais e submissão aos interesses estadunidenses, manifestações neofascistas em frente aos quartéis, pedindo a volta da ditadura militar, provocações ao STF, quando reage aos desmandos bolsonaristas. Bolsonaro ameaçou impor a ditadura. Foi dissuadido pelos militares, que preferem uma democracia por eles tutelada. Do final de julho de 2020 ao início de 2021 há um refluxo do voluntarismo, apoio instável no Congresso em meio à crise e ao desemprego, apesar da melhoria do apoio popular graças ao auxílio emergencial. A mídia empresarial critica com vigor a posição negacionista do governo e a gestão do
tidariamente. Mas Bolsonaro ainda mantém reservas políticas que podem levá-lo ao segundo turno em 2022. Setores liberais conservadores não conseguiram se articular em torno de um nome e fracassaram em seus intentos de criar uma frente ampla. Talvez venham a apoiar novamente Bolsonaro, na expectativa de que o partido militar que o engendrou o controle. As eleições municipais confirmaram a fragmentação partidária da direita e extrema direita. O partido militar, STF, Centrão, setores liberais conservadores nesse cenário se reaproximaram. As eleições para a presidência da Câmara e Senado mostraram o reagrupamento político. Todavia, o apoio do Centrão à agenda ultraliberal no seu todo não é automático, como mostram os primeiros embates em torno das condições propostas pelo governo para renovar o auxílio emergencial. O isolamento internacional, a alta dos combustíveis, com preço subor-
dinado ao dólar e aos interesses de acionistas de fundos estrangeiros, o empobrecimento da população, a estagflação parecem ter despertado a possibilidade de um terceiro momento, que se esboça na substituição do presidente da Petrobrás. O suficiente para despertar a ira do ultraliberalismo. Afirmações erráticas de Bolsonaro podem ser apenas uma técnica de, no futuro, responsabilizar governadores ou o mercado. Algo, pelo menos, é claro: Bolsonaro não reeditará Geisel com o II PND. O risco de uma aventura bolsonarista por ora diminuiu. Os decretos flexibilizando a posse de armas podem ser declarados inconstitucionais. A eleição de Bolsonaro foi o resultado da combinação de pressões militares sobre o STF e a intensa guerra informacional, com participação ativa do Exército. O twitter de Villas Boas, pressionando o STF, apoiado pela alta hierarquia militar, é continuidade do golpe de 2016. Sobre os ombros combalidos de um ex-comandante do Exército se equilibra uma monstruosidade sociológica.
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fez-se news
O dia em que Silveira foi solto Moisés Mendes
O
deputado Daniel Silveira entrou sem bater no gabinete de Bolsonaro. Sempre entrou assim, sempre alegre. Mas desta vez estava abatido. Entrou, jogou-se na poltrona e começou a chorar. Havia saído da cadeia, depois de 23 dias preso. – Sou outra pessoa por dentro – disse Silveira. – Não é o que queremos – reagiu Bolsonaro. Silveira explicou que iria mudar. Que já havia chorado muito na cadeia, que prejudicou a família, que sua índole é outra e que agora seria uma pessoa doce. – Não vai dar certo – disse Bolsonaro, com a voz alterada. Silveira segurou o choro, cruzou a perna para mostrar a tornozeleira e fez uma lista de argumentos. Lembrou que Sara Winter também passava o dia chorando, porque foi abandonada, enquanto o Weintraub ganhou um alto cargo de R$ 120 mil por mês no Banco Mundial. – Vou voltar a ser o que eu era quando criança – resmungou, esfregando os olhos e mostrando a camiseta com a frase: Gentileza gera gentileza. – Então não vamos nos entender – disse Bolsonaro, erguendo-se da cadeira. E começou a dizer a Silveira que o bolsonarismo não iria sobreviver se todo mundo começasse a se arrepender, a usar camiseta com o mico-leão-dourado e a chorar pelos cantos. – Só falta aparecerem aqui com uma camiseta com o Che Guevara. – O Adriano da Nóbrega foi abandonado e executado – disse Silveira. – Essa daí é outra história – respondeu Bolsonaro. Silveira disse que temia ser abandonado e que gostaria de ir para a ala jovem e moderada do bolsonarismo. – Isso não existe – disse Bolsonaro.
ra.
– Mas eu posso criar – disse Silvei-
– Não conseguimos criar nem mesmo um partido – rebateu Bolsonaro. Quando Silveira se preparava para responder, Bolsonaro foi até a porta e gritou no corredor: – Aristides!!! Silveira levantou-se com os olhos arregalados: – O Aristides não. E entrou então um segurança fortão, com um terno bem justo e uma calcinha apertada. Bolsonaro apontou na direção de Silveira: – Leva. O fortão aplicou um mata-leão em Silveira, que caiu. Um outro fortão engravatado entrou no gabinete e os dois puxaram Silveira para fora. – Sem violência, ainda sou deputado – gritava Silveira, enquanto era arrastado pelo corredor.
– Levem e entreguem para o Carluxo – gritou Bolsonaro. – Não podemos aceitar frouxos. Silveira saiu aos berros, dizendo que era preciso respeitar a Constituição, os direitos humanos e o seu direito de ser uma pessoa doce. Meia hora depois, enquanto Bolsonaro publicava alguma bobagem no Twitter, Carluxo entrou na sala sem bater. Sentou-se, passou a falar do Silveira e começou a chorar. Bolsonaro foi à porta e gritou: – Aristides!!! Levaram Carluxo esperneando. Quando Bolsonaro pegou de novo o celular para completar o Twitter, entrou Augusto Heleno com cara triste. Bolsonaro não precisou ir à porta. Ao longe, no fundo do corredor, ouviu-se o grito do Aristides: – Já estou indo, chefia.
antirracismo
Quem mandou matar Marielle? 14 de março de 2021: 1096 dias
A
vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) foi assassinada numa emboscada com três tiros na cabeça e um no pescoço em 14 de março de 2018. Junto estava o motorista Anderson Pedro Mathias Gomes. Marielle era socióloga, nascida e criada na favela Complexo da Maré, líder comunitária, militante LGTBQIA+, feminista, antirracista, mãe de Luyara e companheira de Mônica Benício. Por tanta coragem, foi vítima de seculares ódios e preconceitos brasileiros hoje integrados no bolsonarismo. Não se sabe ainda quem encomendou o crime.
Zoravia Bettiol Título: Liberdade: homenagem à Marielle Técnica: Tinta sobre tela Formato: Ano: 2018 Lidia Fabrício Título: Por um fio Técnica: Acrílico e tecido sobre tela Formato: 55x110 cm Ano: 2012 Graça Craidy (1951, Ijuí/RS) Título: Marielle Técnica: pastel oleoso sobre papel Vivaldi Formato: 33X24 cm Ano: 2021
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de mestre
O jornalismo é u Papel histórico do jornalismo
O jornalismo cumpriu vários papéis históricos. No começo do Século XVI, na Europa, quando entraram em voga os impressos, deu nova mídia aos menestréis, difundindo, em troca de moedas, o relato de fatos contraditórios, inesperados ou absurdos, eventos de impacto, mensagens encomendadas e fofocas envolvendo gente conhecida. Depois, foi cooptado pela burguesia em sua luta contra os aristocratas e, mais adiante, na superação do poder absoluto dos reis. No Século XIX, com a industrialização e a submissão das empresas jornalistas às receitas publicitárias e ao financiamento dos bancos, a tarefa essencial passou a ser o controle dos conflitos sociais, pretendia-se incorporar, nos jornais e revistas, um grupo de ideias “aceitáveis” e excluir as outras. No começo do Século XX, chegaram-se a desenvolver técnicas, inspiradas no positivismo lógico, para tornar a imprensa bem público, com a missão de atualizar o conhecimento público sobre os fatos nos diferentes campos do conhecimento. Idealistas acreditavam que isso ajudaria a encontrar soluções melhores para os problemas que se acumulam nas sociedades modernas. É claro que tal modelo não perdurou, senão como esperança e intenção dos melhores jornalistas. Pode-se dizer que desmoronou rápido graças à ação paralela do marketing e relações públicas, nos Estados Unidos, e da centralização da informação, na Alemanha nazista. No Brasil, protegida, após décadas de agitação, pelo mecenato do Império, a imprensa brasileira se desestru-
Nilson Lage é mestre em comunicação, doutor em Linguística, jornalista por m dade Federal. Continua estudando as relações da política com a imprensa. turou nos anos da república oligárquica – 1889-1930: há bom relato do clima, então, nas redações, em Lima Barreto. Contraditoriamente, foi na década de 1930, a das grandes batalhas ideológicas, que as empresas jornalísticas se fortaleceram, em particular com os benefícios e favores fiscais da ditadura do Estado Novo (19371945).
O quadro atual O jornalismo que se pratica profissionalmente no Brasil é a sobra de um processo de expurgo e debilitação que remonta às décadas de 1960 e 1970. Promoveu-se, então, com requintes gráficos e TV colorida, o esquecimento dos únicos anos de democracia
liberal da História brasileira - quase duas décadas depois da Segunda Guerra Mundial - e sua substituição pelo liberalismo farsante que nos sufoca até hoje. Tínhamos, antes, dezenas de canais de informação nacional: uma emissora estatal de alta credibilidade e orientação política isenta (a Rádio Nacional); emissoras locais de televisão iniciando a troca de imagens por videoteipe; jornais conservadores de várias tendências; a portentosa rede trabalhista nacional de Última Hora, veículos socialistas, conservadores, revolucionários. A variedade de perspectivas da “imprensa burguesa” dos anos 1950 escapa à análise marxista simplória. Para se ter ideia, o Diário de Notícias
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uma esperança
mais de 50 anos, carioca que mora em Florianópolis e é professor da Universi(RJ), fundado por Orlando Dantas em 1930, promoveu, em l958, uma pesquisa na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, conduzida pelo sociólogo José Arthur Rios, de que resultou o documento-programa levado a Jânio Quadros, candidato à Presidência da República, que o subscreveu e tentou pôr em prática; nele, a política externa independente, a Eletrobras, a indústria pesada, a pesquisa científica e a aproximação com África e Ásia. Outro jornal carioca, este de 1901, fortemente controlado no meio bancário, o Correio da Manhã, com uma redação de intelectuais proeminentes (Antônio Calado, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, por exemplo), foi o primeiro a reagir ao golpe de 1964.
O que sobrou, nos anos 80, foi um conglomerado que expressa os interesses do Departamento de Estado norte-americano (as Organizações Globo), e dois jornais da oligarquia paulista, um deles (o Estadão) tradicionalmente empenhado em fazer o Brasil retornar ao civilismo parnasiano da República Velha. Por esses três canais flui quase toda informação jornalística primária de âmbito nacional. Um elaborado arranjo de dispositivos legais, redes estruturadas, concessões políticas, acertos publicitários e bancários impede que esse oligopólio encontre concorrência eficaz. Nos anos dos governos militares – um tanto por ação da repressão, mais pela atuação de bancos e agências de publicidade com critérios políticos – a
imprensa brasileira encolheu. Liquidou-se o setor estatal, sobretudo a Rádio Nacional. Empresas jornalísticas foram levadas à falência. A pluralidade de informação sofreu golpe mortal com a implantação da Rede Globo, articulando interesses imperiais americanos e as oligarquias regionais brasileiras. O ensino de jornalismo, que começara promissor com a reforma do texto editorial (na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Brasil, sendo catedrático Danton Jobim, nos anos 50) e a modernização do projeto gráfico (para o que convergiram diferentes movimentos artísticos, com ênfase do construtivismo), foi castrado por influência da CIA, que, temendo o quixotismo dos jornalistas, implementou na América Latina o ensino polivalente de comunicação – uma picaretagem acadêmica sem pé nem cabeça. No quadro dessa alienação, o jornalismo deixou de ser linguagem (objeto, pois, de semiologia, semântica, análise e filosofia do discurso, pragmática etc) para ser “ciência social aplicada”, o que se ajusta a qualquer prática humana. Juntaram-se alguns conceitos furtados da Teoria da Informação e da Eletrônica, rudimentos de Psicologia Comportamental, práticas funcionalistas e textos selecionados para desviar de seu núcleo revolucionário, o pensamento marxista. Para isso serviram artigos esparsos de autores da Escola de Frankfurt, grupo de brilhantes filósofos que, ante o avanço do nazismo, desenvolveram crítica radical da cultura ocidental – nomeando, destacadamente, como “civilização industrial” o que, na verdade, é o ambiente socioeconômico do capitalismo. Estatística, ciências exatas e da natureza foram postas de lado. As ciências sociais foram contaminadas pela onda encomendada dos identitarismos.
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Tal arsenal de conceitos vem sendo ruminado há décadas, sem que se tenha produzido um parágrafo sequer de ciência verdadeira. O jornalismo continua sendo estudado seriamente “de fora”, a partir de campos acadêmicos tradicionais.
As condições do livre pensamento Para que exista, de fato, uma sociedade liberal como a que tivemos nos anos 50 (incomparável com qualquer “democracia” baseada na hegemonia do discurso conveniente, como a dos Estados Unidos), não basta que se possa, formalmente, expressar opiniões diversas, mas que haja espaço equitativo aberto ao pensamento diferentemente expresso em forma racional e, preferentemente, educada. Não só. Falta-nos, a prioridade que, no debate político, se dava ao Brasil, ao seu povo e ao seu futuro. Esse era o tema recorrente e motivador de pessoas brilhantes, brasileiros e estrangeiros, como Jacques Lambert (Os dois Brasis), Josué de Castro (Geografia da Fome e Geopolítica da Fome), Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil, História Geral da Civilização Brasileira), Celso Furtado (Uma economia dependente, Formação Econômica do Brasil), Ignácio Rangel (A questão agrária brasileira, Elementos de Economia do Projetamento); entusiasmava cientistas como Álvaro Alberto, José Leite Lopes, César Lattes, Jayme Tiomno. A música valorizava a cultura de origem africana (as composições dos morros cariocas, Villa Lobos, Caymmi), que se enriquecia com os textos reveladores de Roger Bastide, a saga de desbravadores do bem como Rondon ou os irmãos Villas Boas). Falava-se de um Brasil dialogal, regional e racialmente disposto a integrar-se. Quando os governos militares terminaram – sem que se isolasse o núcleo de torturadores e assassinos dos anos de repressão desmesurada – o clima cultural era outro. O Brasil já
não aparecia como objeto de estudo, mas espaço para aplicação de ideologias importadas sem qualquer crítica, por uma academia convencida de sua incapacidade de pensar e, assim, digerir o cardápio imposto pelo discurso do Ocidente em sua pretensão, já avançada, de constituir o poder único global. Ideologia e ciência parecem cada vez mais amalgamados, o que nos leva a um passo da “verdade relativa”, que é a não-verdade. Medicina subordinada a interesses bancários e industriais globalizados. Direito obediente a interesses imperiais empacotados em receitas tóxicas. Militares treinados para assumir a perspectiva geopolítica do império (Geopolítica é a arte de se pôr no centro do mundo, não de se pendurar em alguma periferia). Foi por esse mecanismo que a medicina tornou-se preferentemente ocupação de ricos especialistas nas mínimas coisas, desprezando a natu-
reza integral do homem e a composição desigual da sociedade: o Direito se assumiu como escudo de proteção dos interesses dominantes e de “justiçamento” de tudo mais. A praga da formação alienada contaminou o que havia de bom senso nas forças armadas; elas criaram um simulacro de formação acadêmica que resulta na opacidade do pensamento dos generais que rendam o poder. Graças a isso, o país foi devolvido às oligarquias contra as quais conspiraram os tenentes na República Velha.
O jornalismo atual De certa forma, com a Internet, temos uma situação de entropia informativa, percebida com tal intensidade que as pessoas se organizam em rede, buscando solidariedade grupal. Há mais mensagens do que nunca, e, proporcionalmente, menos informação
de mestre relevante ou debate produtivo (sequer a discussão em si, menos ainda a busca da verdade) que em qualquer outra época. Os veículos de mídia profissionalizados atuam como caudatários de poucos canais submetidos diretamente a organizações do grande capital. Interpretam o mundo com o olhar dos banqueiros.
A crise atual O jornalismo é uma esperança; terá que ser reinventado. Como? Depende dos rumos que a História tomar, ao superar a crise econômica e o impasse geopolítico atuais. O que podemos avançar é precisamente na questão dos objetivos institucionais e dos meios técnicos que nos permitirão alcançar resultados melhores ou menos maus, conforme as circunstâncias. No plano filosófico, o que está em jogo são conceitos básicos, como o compromisso com a verdade: ou ela é a vontade dos deuses, imposição de tribunais ou é a conformidade de
15 enunciados com o que se constata empiricamente ou se deduz de constatações empíricas. Ou objetividade, o compromisso com a integridade do objeto ou imparcialidade abstrata, ideal, estranha à condição humana. A língua, a matéria-prima preferencial da cultura ou código em que se arruma um conhecimento imaterial, mágico, uma espécie de alma coletiva povoada de símbolos, arquétipos, medos e memórias esparsas. A liberdade, bem social de que os indivíduos usufruem ou direito individual independente da sociedade, algo o inerente à condição humana – e a sociedade que se dane. Toda narrativa funda-se nos conceitos de causa (sequência, consequência) e de finalidade (intenção, propósito), que são atribuídos mas não existem, em si, na natureza. Contar uma história é arrumar fatos conforme escolhas ideológicas e, raramente, conhecimentos comprováveis – daí a importância da honestidade (isto é, da ética), do distanciamento profissional e do domínio técnico do discurso, em particular das citações e discursos de validação. A questão política terá que ser pensada no nível das intenções, a prag-
mática. É por isso que as fontes informativas preferenciais são as oficiais, embora mentirosas: sabem-se, ou presumem-se, quais seus interesses, daí a lógica que orienta suas mentiras. Diferentes, imprevisíveis e menos confiáveis são os desconhecidos e os que se disfarçam. O acesso à informação primária é, hoje, muito raro: o processamento profissional, a gestão do segredo, a projeção dos interesses em tentáculos de polvo tornam cada dia de noticiário um quebra-cabeças que se remonta em muitos outros quebra-cabeças. A questão técnica, formal, envolve a simplicidade, o distanciamento ou ceticismo e o respeito a fatos, pessoas e instituições. Maior realismo. É inútil sustentar o discurso do testemunho individual quando ele, embora essencial, apenas ronda a realidade e, às vezes, a corrige. Ninguém testemunha uma guerra: no máximo, assiste a alguns lances de algumas batalhas e ouve algumas falas dos debates de estado-maior. Todo relato é uma construção de partes eventualmente incompletas ou defeituosas, diante das quais alguém teve que fazer escolhas.
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mundo
Como Obama entrou numa fria Por Eugênio Neves
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o dia 22 de fevereiro o recém empossado secretário de estado dos EUA, Antony Blinken, em seu primeiro discurso na Conferência de Genebra sobre Desarmamento, declarou que a China está desenvolvendo programas de armas “provocativos e perigosos”. Além de exigir mais transparência da parte do pais asiático, acusou tanto a China quanto a Rússia de não estarem participando satisfatoriamente no desenvolvimento de padrões de “comportamento no espaço sideral”. Até aí nada de novo em se tratando do comportamento arrogante do regime estadunidense que parece acreditar que o contexto geoestratégico ainda é aquele que foi criado após o colapso da União Soviética. Além de achar que o mundo não mudou, Blinken continua pensando que pode operar nessa nova realidade usando a manipulação grosseira dos fatos e as mentiras de sempre. Tanto é verdade que voltou acusar a Rússia de estar apoiando o governo sírio no desenvolvimento de armas químicas. Vale a pena lembrar o começo dessa história. Obama lançou as primeiras hordas de jihadistas contra a Síria em 2011, convicto de que aquele país entraria rapidamente em colapso, tal como se deu na Líbia. Mas sob o comando de Assad e o engajamento das forças armadas a Síria resistiu, frustrando a aposta de Obama num rápido desfecho. Diante disso, Obama elaborou um “genial” plano que consistia no estabelecimento de uma “linha vermelha” que se transposta por Assad daria o pretexto para os EUA atacarem a Síria. A tal linha não era uma demarcação geográfica e sim o uso de “armas químicas contra a população pelo ditador” Assad. Obviamente o presidente da síria jamais daria esse pretexto a Obama. Mas isso era só um detalhe menor para o “estratega” Obama que
já tinha tudo combinado. Como era de se esperar tal ataque aconteceu logo a seguir, no subúrbio de Goutha, ao norte de Damasco. E como era de se esperar, também, Obama foi o primeiro apontar o dedo em direção a Assad para responsabilizá-lo. E sem nenhuma prova. Para que, se estava tudo combinado? Detesto analogias de coisas sérias com o futebol mas nunca a expressão “combinar com os russos” fez tanto sentido como nessa situação. Pois é, Obama esqueceu de combinar com os russos!!! Assim, eles foram até a ONU e através de provas robustas, que incluíam fotos de satélites espiões que
monitoravam os céus da Síria, provaram que os vetores que transportavam as cargas químicas partiram das posições ocupadas pelos terroristas “moderados” apoiados pelos EUA. Assim como Blinken, toda a mídia quadrilheira dos EUA e suas sucursais espalhadas pelo mundo afora sustentam essa mentira até hoje. Obama, pego com as calças na mão, para se consolar fez um discurso sobre os EUA como nação indispensável e excepcional. Foi prontamente ironizado por Putin e recebeu de Pepe Escobar o apelido de presidente do “excepcionalistão”, que até hoje ocupa parte da Síria para roubar seu petróleo.
lanterna mágica
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Minha profissão? Sou chargista
O trabalho dos irmãos Sampaio demarca um momento fundamental do humor gráfico em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Ou um “ponto de inflexão”, como é bacaninha dizer agora.
S
Stockinger). Mesmo que às vezes a
tão” para o mano mais moço, Paulo
a sociedade em geral (e eles próprios) tendia a considerá-la um “bico”, ou, no máximo, uma atividade secundária. No caso dos Sampaio, o irmão mais velho, José (Zeca, para os amigos), fazia parte dessa geração híbrida. Depois de vários anos comentando graficamente a circunstância, criando secções e formatos extremamente originais e populares, como as cenas temáticas panorâmicas - onde inseria ícones recorrentes para o leitor, como o calunga fazendo xixi num poste ou num muro - Sampaio abraçou uma carreira de funcionário público e abandonou a charge. De certo modo, ainda que de forma precoce, foi como se “passasse o bas-
sição, tudo mudou. Porque Sampaulo, inaugurando outra levada, não se conformou com considerar a charge como bico: assumiu de forma integral a profissão, vivendo exclusivamente do desenho de humor em sua brilhante e popularíssima trajetória. Conformou o imaginário de várias gerações, glosando as broncas esportivas, políticas e sociais, gerando identificação imediata com figuras como o inesquecível Sofrenildo e apavorando políticos safados... E a partir dele, as gerações seguintes descobriram que, mesmo não sendo fácil, é possível encher o peito e responder com dignidade: minha profissão? Sou chargista.
Por Edgar Vasques sobrevivência dependesse da charge, Sampaio (o Sampaulo). E nessa tran-
ituam-se ambos num daqueles momentos históricos em que as coisas mudam para sempre. Porque nos anos quarenta do século passado, o trabalho dos humoristas gráficos, caricaturistas, cartunistas e chargistas, embora com forte tradição pregressa (no século dezenove), e de ganhar espaço e popularidade crescentes nos jornais, ainda carecia de status profissional. Na virada dos anos 1940 para os 1950, uma geração brilhante de chargistas ainda se dividia entre o desenho caricato na mídia e o trabalho “sério” como pintores (vide Nelson Jungbluth) e escultores (como Xico
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lanterna mágica
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m 1844, Manuel Araújo Porto-Alegre lançou, no Rio de Janeiro, a primeira publicação satírica brasileira, Lanterna Mágica. Esta é uma seção dedicada à história do nosso humor gráfico.
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diabo rosa PALAVRAS DA SALVAÇÃO
PICADA SCHNAPPS II - Buenos Dias, Seu Fritz! - Guntag, Seu Feliciano! Que surpresa! - O senhor me desculpe, mas esse fedor vem de onde? - Fetor??? - É, esse cheiro... Parece que vem daqui. Será que explodiu alguma patente? - Ach, esta cheirrinho? É Frida. - Como assim! Ela morreu? - Non! Ela apriu vrido de conserfa te rapanete.. - Vocês comem essa coisa? - Jawohl! Um telícia. É comida alemon. Nóis come muito conserfa. Na fim de ano, a chende volta to roça às cinco e apreparra uma Frühstück pequeno. Tem café, pon, rapanete, chukrutt, linquiça e ofo. Adespois nóis lafa os pé e Frida enton faiz o chanta. - Mas, Seu Fritz, essa dieta não afrouxa as tripas? - Óia, tem tia que é pem berrigoso: a chente non pode nem espirrá ou tossí... - E aquele cachorro ali? Por que ele tá comendo milho junto com as galinhas? - É Waldi. Ela ficou assim adespois que comeu rapanete do Frida. Torme na calinheirro e cisca e come minhoca e tuto. Acho que ela perdeu o carteirra te itentitade. - Então o teu cachorro ficou louco? E se vê que não é de raça pura. - Este linhagem perteu a petigri no época do Martin Luther. - O bicho pensa que é uma galinha! - Pois é. Se ela ponhá ofo, eu fai vender Waldi pra uma circo.
Veja bem: não é acendendo a luz que você vai se livrar da treva. Na hora da verdade, a maioria das louras tem cabelo preto... A virtude é essa merda que temos que representar quando tem alguém olhando. Pouco antes de Gramado, ao lado de um posto, há uma igreja tão feia que, quando tem missa, Deus senta do lado de fora. Não é verdade que o jogo de xadrez foi inventado na cadeia. O bispo Edir Macedo adora pegar um cineminha. Ontem mesmo pegou dois e transformou em igreja. J’accuse é a banheira de hidromassagem do Émile Zola. Acidente com carro fúnebre sempre tem morto no meio. Quem ri por último é retardado. O Alzheimer é a suprema glória dos distraídos. Nem sempre nós somos o que nós comemos. Eu nunca me transformei na Dercy Gonçalves.
Miriam Leitão é um Bolsonaro com periquita. - Eu visitei uma praia de pelados! - Praia de nudismo? - Não. Magistério.
POEMUNDINHOS O LOUCO Desabotoei A última lágrima A nudez que agora visto Mais que indecência É quase riso A JANELA Tem dias de chuva Em que a gente escorre Coração adentro Molhar as árvores Em que subíamos Nos tempos de criança
MAIS QUENTE QUE FIOFÓ DE GALINHA CHOCA... QUADRINHA TORTA Se atraquemo a percurá O nosso galo roubado. Quando encontremo o ladrão Ajudemo a comê o assado.
regional
Não posso mais
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negacionismo declarado do governo federal foi discretamente seguido pelo governo gaúcho e suas bandeiras. O novo prefeito de Porto Alegre bradou: “O setor produtivo não pode pagar o preço dos irresponsáveis”, defendendo sacrifícios para salvar
21 a economia. Graças a ideias assim, o Rio Grande do Sul tem um morto de Covid-19 a cada 953 gaúchos. A cotaminação acelerou-se depois do Natal, quando houve aglomerações nas praias e nas ruas, e assim continuou todo o verão. Só não se acelera a vacinação.
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Alma e desenho leves
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ilmar Tatsch era o nome do chargista Tacho. “Tinha alma e desenho leves. Das brincadeiras que fazíamos na redação do Correio do Povo, eu e o Tacho, a mais comum era desenhar caricaturas nossas e dos colegas”, diz Schröder, que desenhou “automaticamente”, uma caricatura ao lembrar do amigo. Tacho morreu em 9 de fevereiro, de câncer no fígado.
regional
veni, vide, vicenzi
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Os doze novos trabalhos de Hércules
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Por Celso Vicenzi
ersonagem da mitologia, Hércules foi o maior dos heróis gregos. Com aquele corpinho que Zeus lhe deu, passou para a história como o homem mais forte do mundo. E com um detalhe: sem ter tomado anabolizantes! Ele era tão forte, mas tão forte, que tinha mais peito que muitas mulheres. Ainda no berço, estrangulou duas serpentes que a víbora da sua tia, Hera, colocara ali para matá-lo. Depois de ter realizado 12 trabalhos, Hércules pegou o 13º e foi à forra, ou seja, caiu na farra. Mas como o dinheiro já terminou, está aceitando novos trabalhos, mesmo precarizados, sem carteira assinada. Disseram-lhe que o Brasil seria um bom lugar para novos desafios. Depois de matar o leão de Nemeia e a hidra de Lerna, de apanhar a corça Gerínia, de capturar um gigantesco javali, de limpar as estrebarias de Augias, de liquidar as ferozes aves do lago Estinfale, de capturar o touro selvagem que devastava as montanhas de Creta, de acabar com as éguas de Diomedes que só comiam carne humana, de pegar o cinto de ouro da rainha Hipólita no país das Amazonas, de capturar os bois selvagens de Gerião, de conseguir algumas maçãs douradas sob a guarda das filhas do gigante Atlas, e de descer ao reino sombrio de Hades e de lá trazer o famoso Cérbero, um medonho cão de três cabeças e cauda de dragão que guardava a entrada do Inferno, Hércules quer provar que o tempo não é problema para um semideus. Vamos à lista: 1) Absolver Lula, pôr Moro e Dallagnol na cadeia e restituir o mandato à presidente Dilma. 2) Fazer o Congresso – este do boi, da bíblia e da bala – votar o impeachment do Bolsonaro.
3) Convencer os militares a voltar aos quartéis e de lá só saírem em missões constitucionais, o que não inclui esses repetidos golpes de Estado. 4) Conseguir que os eleitores do Bolsonaro e todos que votaram em branco ou anularam o voto se arrependam da opção e da omissão, e aprendam de uma vez por todas a lição. 5) Convencer os pobres e a (pobre) classe média que votar nos candidatos dos donos do capital é coisa de otário. 6) Persuadir esse pessoal que veste camisa da seleção que, definitivamente, cloroquina e ivermectina não funcionam contra a covid-19. 7) Formar generais – e militares de todas as patentes – que defendam a soberania do País e não sejam marionetes de interesses estrangeiros, aliados aos coronéis que sempre mandaram por aqui. 8) Acabar com o racismo explícito e dissimulado, com a homofobia, com a misoginia, com o machismo e com
mais de 500 anos de hipocrisia enraizados na cultura brasileira. 9) Convencer a tradicional família cristã que Deus não apoia defensores da tortura, milicianos, pastores estelionatários e quem faz arminha com os dedos. 10) Explicar ao pessoal da terra plana que estudos de gênero não incentivam a troca de sexo, nem estimulam a sexualidade precoce, e que precisam parar de se masturbar (Freud explica) com a mamadeira de piroca! 11) Quebrar o oligopólio da mídia e educar o povo para enfrentar a manipulação diária e a alienação das massas. 12) Unir a esquerda contra os donos do poder, antes que o Brasil acabe. Hércules ficou de pensar. Acostumado a desafiar mitos gregos, se estarreceu com o sinistro “mito” brasileiro e nunca imaginou que o País do futuro (desperdiçado), pudesse ter problemas tão assustadores.
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O vírus da desigualdade
É
Por Paulo Muzell
a velha história, quando a crise vem, quem paga a conta? No Brasil, estamos cansados de saber que é a imensa maioria que vive na pobreza ou na extrema miséria. Depois do golpe que depôs Dilma, o neoliberalismo se radicalizou. Guedes e sua gangue bradaram despudoradamente: “Como este povinho mimado ousa prejudicar o deus Mercado?”. E rapidamente baixaram a lenha, editando as “medidas saneadoras”: congelamento do salário mínimo, férias sem o pagamento do terço legal, redução unilateral da jornada de trabalho e do salário, redução dos recursos do FGTS, dentre outras.
Como Thomas Piketty demonstrou cabalmente no seu “O capitalismo do século XXI” a renda se concentra cada vez mais em escala mundial. Aqui no Brasil é pior, somos campeões mundiais da desigualdade. Temos as mais elevadas taxas de juros do mundo e os salários mais baixos. Em 2020, com a Covid, a taxa de desemprego aumentou, ultrapassando neste início de ano os 14%; na região Nordeste superou os 17%. Além disso, temos 39 milhões de brasileiros trabalhando na informalidade, sem carteira assinada, recebendo na sua maioria menos de um salário mínimo. No ano passado, no auge da pandemia, o número de bilionários brasileiros aumentou: eram 42 potentados
que tinham patrimônio superior a 1 bilhão de dólares. Hoje são 58. Em 2019, o número de milionários brasileiros (pessoas com patrimônio acima de 1 milhão de dólares) cresceu 7%; são, hoje, 200 mil. A concentração é tão grande que apenas 1% da população mais rica tem renda 34 vezes maior do que a dos 50% mais pobres! Para piorar este cenário de horrores, o Brasil tem um sistema tributário regressivo: os ricos pagam menos imposto do que os pobres! Um salário acima de R$ 1.903,99 está sujeito a pagar o IR na fonte. Já os dividendos distribuídos pelas empresas aos acionistas, têm total isenção. São cerca de 300 bilhões livres do pagamento do tributo.
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SUPERLOTAÇÃO Uma coisa que fiquei sabendo graças a farra condensada é que as forças armadas brasileiras têm um contingente de 334 mil militares na ativa. Não é um número muito grande se comparado com a população do país, o problema é que começa a faltar lugar nos quartéis e eles vão parar no governo. Além dos problemas habituais de ter militares no governo, dessa vez também temos que lidar com o chocante despreparo do grupo que está assumindo cargos civis. O ministro da saúde que não consegue levar oxigênio para Manaus e vacina menos de 5% da nossa capacidade diária é o especialista militar em logística. Se algum país tinha medo de brigar com o Brasil, já não tem mais. Em uma hipotética guerra, temos munição para 30 minutos e ela vai chegar no local de batalha 2 meses depois. Eu, que sou pacifista que preferiria um mundo sem fronteiras, tô tranquilo. Mas deve estar sendo um suplício para os ultranacionalistas belicosos. Força, ami… compatriotas. (Rodrigo Schuster) Tudo bem que Exército e Aeronáutica tenham mais dificuldades, mas a Marinha deveria reconhecer quando embarca numa canoa furada. (Celso Vicenzi) O governo Bolsonaro é tão irresponsável nessa pandemia que nem dá pra dizer que “lavou as mãos”. (Celso Vicenzi) Não há mais dúvida. O marreco herói dos patos desMOROnou... (Celso Vicenzi)
Lombo de bacalhau, uísque 12 anos, picanha, leite condensado... nossas forças armadas estão fazendo treinamento pra algum master chef? (Celso Vicenzi)
Tem muito jornalista hoje em dia que adora comprar o discurso do atraso e vender como modernidade. (Celso Vicenzi)
Ditadura, totalitarismo, despotismo, fascismo, nazismo, autocracia, tirania. É muita opção para uma só e frágil democracia. (Celso Vicenzi)
O dia de Tiradentes é um dia em que tu não trabalhas, mas alferes. (Demétrio Xavier)
Classe média, sempre antenada, já descobriu que a última moda no país é o discurso cínico, hipócrita, fascista. Tá fazendo o maior sucesso! (Celso Vicenzi)
Aliás, dizem que esse moço, enquanto subia a escadinha aquela pra forca, lembrou do Joaquim Silvério dos Reis e pensou: “cada falso ...” (Demétrio Xavier)
Não sei por que certas pessoas estudam e se especializam tanto se só conseguem ver uma única solução: o retrocesso. (Celso Vicenzi)
O lema do onanista: sexo é comigo mesmo. (Demétrio Xavier)
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A pimenta é 3,1416 vezes mais forte que a menta. (Demétrio Xavier)
“Mas que milênio que passou voando, este, não é, hein?” (Demétrio Xavier)
A facilidade em sustentar as heresias aumenta à medida que diminui a facilidade em sustentar as ereções. (Demétrio Xavier)
Bem já dizia aquele encanador, seu Hércules: “a Hydra não é um bicho de sete cabeças...” (eu pra mim tenho impressão de que eram nove). (Demétrio Xavier)
Meu problema é que eu fui precoce antes da época. (Demétrio Xavier) A coisa mais difícil para qualquer ser humano é ser humilde; imagina então para mim!!!! (Demétrio Xavier) Milão é igual a uma milancia – só que é minor. (Demétrio Xavier)
Como dizia a Maria Antonieta: cada sentença, uma cabeça. (Demétrio Xavier) Leptospirose é uma doença transmitida pelo contato com a urina dos mouses de computadores portáteis. (Demétrio Xavier)
Assim é com aquelas rapadurinhas de amendoim que os caras vendem no caminho da praia: não tem meio-termo; ou é uma merda ou uma maravilha. Isso é o que se chama Maquineísmo. (Demétrio Xavier) Esses que aí estão, atrapalhando o meu trabalho, eles passarão; eu, passaralho. (Demétrio Xavier) Questão de alteridade, como diz o outro. (Demétrio Xavier) Como dizia, com muita propriedade, aquele latifundiário. (Demétrio Xavier)
entrevero Corno, entre aspas!(Demétrio Xavier) Meu interesse em ser sócio daquele clube chega às raias da piscina. (Demétrio Xavier) É que “hai homes de todos tipo”, como se diz... O home de ação; o home da natureza; o home de caráter... eu já descobri o meu. Sou o home office. (Demétrio Xavier) Como passam as efemérides... (Demétrio Xavier) Tem mulher assumindo a idade só pra não peder o lugar na fila da vacina. (Bruno Cruz) A pandemia veio pra mostrar que paternidade é uma ilusão, quem educa é a Netflix. (Bruno Cruz) Tá todo mundo preocupado com o fim do auxílio emergencial, mas o meu acabou tão rápido que parece que nunca existiu. (Bruno Cruz) Em 2018, foi lançado o livro “Ria por favor”, com as cenas de multidão que Sampaio publicava na Revista do Globo, do final dos anos 1940 até meados dos anos 50. São 72 páginas de muito bom humor! O livro está à venda insular.com.br (PT Riccordi) Vou comprar ações da Caloi. O general presidente da Petrobrás estudou na mesma escola que o general da Saúde. (PT Riccordi) Formação de quadrilha Melo e Leite, o bolsonarista de pantufas, adotaram a cogestão, que é uma espécie de associação no crime. Parece que aumenta a pena. (Schröder) Quem mandou matar? Procurei saber quem é o tal “Comitê Científico da Covid” do Rio Grande do Sul que está endossando este genocídio regional e, por incompetência talvez, não consegui acessar as informa-
29 ções. Afinal, temos que conhecer a cadeia de comando da matança em curso. (Schröder) Clube ou Quadrilha? Clube Militar é uma associação fora da lei que precisa ser enquadrada na Constituição ou extinta. (Schröder) SURRA BÍBLICA Um repórter conhecido nacionalmente participou de um episódio bíblico, que poderia ter mudado para sempre a história do Cristianismo. Ele acompanhava todo o sofrimento de Jesus na tradicional procissão do Morro da Cruz, em Porto Alegre, na Sexta-Feira Santa. Pelas imagens brutas da reportagem, a gente já notava que havia dois pais na mesma cena. Em cima Deus, o Pai a quem Jesus dirigia suas palavras, e embaixo o Pai do Trago, um centurião que tropeçava mais do que o próprio Cristo, que a gente não pode esquecer estava muito prejudicado, pois literalmente carregava uma cruz, subindo aquele lombão. O severo soldado exagerava no realismo. Chicoteava com tanta força que o ator que interpretava o Messias nem precisava representar nada, ele simplesmente berrava de dor a cada lambada. Acho que além da vez que expulsou os vendilhões do templo, este foi outro momento em que Cristo ficou realmente muito puto da cara. A doçura do Salvador se transformou em um olhar de raiva, mas ele, mesmo apanhando até o final da Paixão, conseguiu segurar a vontade de sair no soco com o romano, o que convenhamos, seria uma nova versão bem diferente e até estapafúrdia da Bíblia. Eis que volta à cena nosso repórter, e de certa forma correndo riscos. Não satisfeito em dar um pau no pobre homem que carregava a cruz, o tresloucado centurião, colocou o jornalista em sua alça de mira, no caso, o couro do relho. Com um olhar raivoso, babando e pior, cheirando a aguardente, veio com chicote em punho
para cima de meu colega, talvez imaginando que ele poderia fazer parte da cavalaria que chegaria para salvar Jesus. Enquanto a Paixão subia o morro, o repórter saiu correndo, sentindo o arzinho da chibata se aproximando, certamente rezando para não levar uma surra. Nunca uma cavalaria bateu em retirada tão rápida na história da humanidade. Não foi desta vez que salvaram o pobre do Jesus. (Marco Vargas)