JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - ANO XIII - ED. 202 - OUTUBRO / 2018
O RAP MOSTRA A SUA FORÇA POLÍTICA - p. 4 LEIA TAMBÉM NESTA EDIÇÃO:
DEPUTADO ESTADUAL: O CARGO FORA DOS HOLOFOTES - p. 4 COMO E POR QUE VOTAM OS MENORES DE 18 ANOS - p. 8
A INFÂNCIA RESGATADA POR MEIO DO ESPORTE
Por Mariana Carvalho - p. 8
CAPS: ACOLHIMENTO QUE PODE CURAR - p. 9 O PAPEL SOCIAL DOS CURSINHOS GRATUITOS - p. 12
Um cargo fora dos holofotes Será que a população realmente se preocupa com a eleição dos deputados estaduais? Giovanna Arantes Luiza Brilhante
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ocê sabe o que faz um deputado estadual? Segundo a Constituição Federal, a função desses políticos é de propor, emendar, alterar, revogar e derrogar leis estaduais, ou seja, eles são responsáveis por colocar em prática medidas que irão afetar diretamente o dia a dia da população de um determinado estado. Além disso, cabe a esses mesmos deputados checar anualmente as contas do governo e fiscalizar o orçamento e os contratos feitos pelos políticos. Contas que não fecham, roubos dos cofres públicos e tantos outros escândalos poderiam ter sido evitados por esses representantes. Os mesmos que na hora de serem eleitos, em geral, não recebem muita atenção. Cristina Garvil, candidata ao cargo de deputada estadual de Minas Gerais pelo Partido Novo, afirma: “o candidato precisa estar próximo do seu público, ele precisa ser um legítimo representante por aclamação”. Então é possível entender que os candidatos irão ser escolhidos pela proximidade, já que não são a prioridade de decisão da população. E a função deles transcende as promessas de campanha. Ela finaliza: “Muitas pessoas vão votar pela mídia, e elas irão se decepcionar”. Fizemos uma rápida pesquisa com 20 pessoas, na Av. Paulista, para mostrar que muitos eleitores ainda não sabem em quem vão votar para deputado estadual. Só 13% sabiam e o restante não fazia ideia do nome ou número do candidato a ser digitado na urna eletrônica. E há um agravante. “Para muitos, a participação política se resume ao período eleitoral, quando é obrigado a votar em algum candidato ou candidata, mesmo sem conhecer seu histórico ou suas propostas”, afirma o sociólogo Hilton Fernandes, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a FESP-SP. Ele prossegue: “Neste ano
“Santinho” de campanha eleitoral se transforma em lixo
foram registrados 2.147 candidatos a deputado estadual no estado de São Paulo, em 35 diferentes partidos políticos. É inviável para o eleitor comum comparar todos os candidatos e propostas para escolher apenas um deles”. Essa pode ser uma das perspectivas que justificam a falta de interesse em relação a esses candidatos, inclusive porque a mídia, de forma geral, costuma dar mais destaque aos postulantes a cargos majoritários, como presidente, governador e prefeito. “As eleições brasileiras funcionam em um sistema que privilegia o personalismo, levando o eleitor a votar mais em pessoas do que em partidos políticos, ideologias ou propostas”, afirma Hilton. Além do sociólogo, Joe Valle, presidente da Câmara Legislativa (junção da Assembleia Legislativa com a Câmara dos Vereadores, que ocorre somente em Brasília, onde fica o Distrito Federal), diz:“A questão partidária está degenerada e os eleitores votam nas pessoas, não nas siglas”. É possível perceber essa mudança no comportamento da população no momento da decisão do voto, pois já não se confia mais nas ideológicas partidárias, e sim no discurso das personalidades criadas para concorrer às eleições. Esses candidatos procuram nos seus discursos convencer os eleitores por meio da
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apelação, em grande parte dos casos, e não pela proposta política. Por isso, é fundamental alertar a população e mostrar que a diferença que o brasileiro tanto procura começa, de fato, antes do dia de ir às urnas. “Se o eleitor ou eleitora não está contente com a qualidade dos atuais políticos, não adianta desistir de votar ou anular o voto. O melhor a fazer é procurar mudar o perfil dos eleitos, votando, por exemplo, em jovens, mulheres ou representantes de causas relevantes para a sociedade”, finaliza Hilton.
Jornal-Laboratório dos alunos do 2o semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As reportagens não representam a opinião do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mas dos autores e entrevistados. Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Comunicação e Letras
Diretor do CCL: Marcos Nepomuceno Coordenador do Curso de Jornalismo: Rafael Fonseca Supervisor de Publicações: José Alves Trigo Editor: André Santoro
Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 100 exemplares.
Nenhuma a menos Ana Beatriz Dias Renata Silva Zeinab Karnib
Os relacionamentos abusivos são a porta de entrada para o feminicídio
“A questão da violência contra to quando a encontramos. “As coisas a mulher deve estar nas escolas para acontecem contra as mulheres e não que comece a haver uma mudança na têm visibilidade. Atos, de um jeito ou forma como a sociedade lida com o de outro, chamam a atenção”, afirma. tema. Um homem já nasce dono de Apesar dos inúmeros casos de seu corpo e de suas opiniões, mas para violência feminina, muito já tem sido uma mulher nem sempre é assim. Ain- feito para controlar o problema. A da existem meninas que sequer têm operação Cronos, realizada no dia 24 consciência de que têm direito ao pró- de agosto, envolveu 7,8 mil policiais em prio corpo, uma vez que são ensinadas 16 estados e no Distrito Federal e rena prática, desde cedo, que este pode sultou na prisão de 42 por feminicídio ser molestado por conhecidos ou fa- e 289 por crimes relacionados à Lei miliares sem maiores consequências”, Maria da Penha. No entanto, a justiça diz Natalia Mazzoni. A especialista brasileira ainda se mostra falha e decompleta: “É preciso tempo para que a morada no combate ao crime contra sociedade passe a tratar os direitos da a mulher. mulher efetivamente como iguais em De acordo com Caisa Corradi relação aos dos homens”. Moreira, 28 anos, delegada da 1ª DeMulher durante o ato “Nenhuma a menos” De acordo com a pesquisa legacia de Defesa da Mulher, “a medim 2015, a Lei do Feminicídio “Percepções e comportamentos so- da protetiva tem que ser estabelecida foi implantada no Brasil, e o bre violência sexual no Brasil”, reali- pelo juiz. Existia um projeto de lei para ato passou a ser considerado zada pelo instituto Patrícia Galvão em que os delegados pudessem conceber crime hediondo pelo códi- 2016, 2% dos homens afirmam espon- a medida protetiva para as vítimas, asgo penal. “Feminicídio não é qualquer taneamente que cometeram violência sim não dependeria apenas do juiz e homicídio praticado contra mulheres, sexual contra uma mulher e 18% admi- não demoraria tanto. O delegado tem e sim aqueles praticados contra as tiram ter atitudes violentas. O mesmo 48 horas para passar as informações mesmas em razão de sua condição do levantamento apontou que 96% da po- para o juiz, e o juiz tem 24h para desexo feminino, ou seja, com menospre- pulação julga ser necessário ensinar os cidir que providências tomar. Em três zo/ discriminação à condição da mu- homens a respeitar as mulheres e não dias pode acontecer muita coisa. Nem lher”, diz a advogada criminal Natalia as mulheres a terem medo. Ao ques- toda medida protetiva é concebida Mazzoni, 28 anos. tionar as mulheres, 54% indicam que por falta de elementos. A Lei Maria da De 2016 para 2017 houve um conhecem alguém que já foi agredida Penha não é criminal, mas tem disposiaumento de 6,5% nos casos de femini- pelo parceiro. tivos que podem incriminar o agressor. cídio no país, com cerca de 12 vítimas Luany Niguzaka, 19 anos, es- Hoje em dia a exceção é ficar preso”, por dia, de acordo com dados divul- tudante e organizadora da ONG Elas lamenta a delegada, que acrescenta: gados pelo Fórum Brasileiro de Segu- por Elas, participava de uma manifesta- “tem que mostrar a punição para que rança Pública. Os dados expõem um ção na Avenida Paulista no fim de agos- isso sirva de desestímulo.” aumento gritante na violência contra a mulher. Para a socióloga Renata Hummel, 44 anos, o machismo e a violência são estruturais na nossa sociedade. “A lei é essencial, mas não suficiente para resolver a questão”, afirma. São Paulo é o estado brasileiro com menor número de feminicídios, mesmo assim registra um a cada quatro dias. O assassinato de mulheres devido à sua condição de gênero é a mais grave violência. O excesso de poder sobre o outro e ciúme são alguns dos principais indícios de um relacionamento abusivo, que anda lado a lado com os casos de morte. Pintura a guache produzida por mulheres no ato contra o assédio sexual, em 30 de agosto
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Música engajada As batalhas de MCs caem no gosto popular e se espalham por SP Tiago Durães
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rap e a cultura hip-hop têm crescido muito nos últimos tempos. Segundo o Spotify, esse é o gênero mais escutado do mundo. As batalhas de rap (ou batalhas de rimas) surgiram praticamente ao mesmo tempo que o hip-hop, na costa leste dos Estados Unidos, na década de 1970. No Brasil, o surgimento delas foi também quase instantâneo, com sua popularização nos anos 1990, apesar de só terem tomado uma proporção maior em tempos mais recentes. Grandes nomes do rap nacional atual ganharam notoriedade a partir de batalhas, e o exemplo mais notório é o do rapper Emicida, agora nacionalmente famoso. O paulis- MCs Zap e Dolly se preparam para a batalha no Largo da Batata, em Pinheiros tano é considerado um dos principais çar a trabalhar sua rima, sua métrica, nomes a terem dado visibilidade ainda cigarro e biscoitos. Toda quarta-feira acontece seu jeito de cantar, de passar presença maior às batalhas, que antes eram mais restritas a públicos específicos. Outros também uma batalha que brinca com de palco, para a partir daí começar a nomes conhecidos também oriundos o nome do Largo da Batata, em Pi- ter contatos pra conseguir chegar em de batalha são Rashid, Flow MC e Bi- nheiros. É a “Largo da Batalha”, que um DJ aqui, alguém que grave um clipe ocorre há dois anos. Ela também tem ali, para começar a colocar um trabalho volt. A maioria das batalhas são “ba- um foco maior na “batalha de sangue”, na rua”, diz Sas. Ele completa: “a partir talhas de sangue”, em que o objetivo mas no dia em que a reportagem foi daí começa a se firmar mais como um é, na improvisação, atacar o adversário. ao local, a batalha era temática, e os músico na área do rap mesmo”. Quando perguntados se as Algumas são mais leves, não podendo MCs rimavam sobre um tema escolhihomofobia, xenofobia, ou atacar a mãe, do (refugiados, por exemplo). O foco batalhas de rap ainda são relevantes, por exemplo, mas outras não têm re- maior do evento são as batalhas, mas ambo os entrevistados afirmam que gras. É o caso da Batalha da Roosevelt, ele também abriga outros elementos sim. Carol menciona o exemplo de que acontece toda quarta-feira, às oito da cultura hip-hop (tanto que o evento Emicida. “A batalha desenvolve novos horas da noite, na praça com o mesmo é classificado como uma “roda cultu- MCs e a maioria se inspira em cantar nome, no centro de São Paulo. “Nosso ral”), como espaço para dança e reci- rap. Depois do Emicida vários jovens têm como exemplo que o rap reslema é ‘quem falar o que quer ouve o tar poesia. Sérgio Amarao Santos, mais gata e dá um bom futuro a quem se que não quer’”, diz Carol Zamproni, que faz parte dos organizadores da ba- conhecido como Sas, um dos organi- destaca”, diz ela. “Enquanto existirem talha. A frase “silêncio para o poeta” é zadores, diz que o MC ainda é visto sonhos a batalha sempre será relevansempre dita quando o MC está para com um olhar muito negativo. “Infeliz- te, porque é isso que nos inspira toda mente ainda é muito escasso que as semana a fazer essa intervenção culcomeçar seu ataque ao outro. Normalmente o vencedor de pessoas tenham ligação direta com a tural. Não temos apoio de ninguém, cada batalha é decidido pelo públi- música. Quando o MC fala que ele é muito menos financeiro, literalmente co, que leva em conta não apenas a MC de rap a pessoa já olha ele como fazemos isso por amor”, completa. Sas qualidade das rimas, mas empatia do um bandido, vagabundo, que não quer também aponta a importância social das batalhas. “Muitos MCs que são de concorrente. No caso da Batalha da fazer nada”, diz. Tanto Carol quanto Sas apon- lugares distantes, de favelas, poderiam Roosevelt, o prêmio também é decidido pelo público. Um boné é passado tam as batalhas como uma ótima porta estar em outra em vida e eles acabam e a plateia colabora com o que tiver, de entrada para o rap. “Os MCs aca- na música, no rap, no improviso, para valendo de tudo, desde dinheiro até bam encontrando um modo de come- não tomar outros caminhos piores”.
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Escola, cinema, urna e televisão
O que leva os menores de 18 anos a votar e como isso reflete no voto de todos os brasileiros Júlia Marto Sâmara Morales
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m tempo de eleições presidenciais, a escolha do candidato é uma preocupação importante para muitos brasileiros. Desiludidos com a corrupção e com os concorrentes ao cargo mais importante da nação, 59% dos eleitores não se decidiram sobre seu candidato ou pretendem não votar em nenhum, de acordo com estudo do CNI/Ibope divulgado em agosto. Embora o voto no Brasil seja obrigatório, por lei, os maiores de 16 e menores de 18 anos, analfabetos e maiores de 70 anos de idade não são obrigados a votar. Quanto tomam essa iniciativa, portanto, é porque são movidas por um desejo genuíno de participar do processo democrático. Segundo Joyce Luz, professora de Ciência Política da USP, o voto facultativo para os jovens existe com o objetivo de estimulá-los a se conscientizar sobre suas escolhas políticas, como uma iniciação. Com 16 anos, já deveriam ter passagem pelo ensino fundamental, e seriam conscientes o bastante para participar da escolha. Infelizmente, não é sempre o que acontece. “Dou aula para turmas de ensino médio na periferia e, quando chego na sala e pergunto quem tem título eleitoral, menos da metade ergue a mão. Desses, quando eu pergunto quantos vão votar, cai mais ainda o número. E isso está ligado ao desinteresse pela política”, relata ela. Ainda de acordo com a professora, a desconexão desses eleitores não se deve ao caótico cenário político dos últimos anos, mas a algo que falta na educação básica do currículo brasileiro há décadas: o ensino de política. “Há uma desconexão entre o universo da política e o universo no qual eles vivem. Eles têm uma imagem dos políticos vinculada a algo ruim. Não conseguem entender que quem faz a política para eles são os próprios políticos que eles escolhem”. Apesar das escassas pesquisas
Malu Ferreira, estudante: “Esperava desde os meus 12 anos para poder votar”
eleitorais com esse público específico, é possível perceber que, de fato, são poucos os menores de idade que têm intenção de votar. Informalmente, nota-se que há dois fatores principais para estimulá-los: engajamento partidário e classe social elevada. Aos 16 anos, Maria Lúcia Ferreira, ou Malu, estudante da rede pública, tem orgulho em dizer que milita pela União da Juventude Socialista (UJS) e que vai votar pela primeira vez nessas eleições. “É meu sonho falar isso,” conta ela. “Esperava desde os meus 12 anos para poder votar”. Dentro do universo político há dois anos, ela cita sua criação como influência. De pais comunistas, Malu nasceu no mesmo ano que o presidente Lula tomou posse. Hoje, apoia a chapa de Haddad e Manuela D’Ávila, que até o fim de agosto tinha o ex-presidente Lula como candidato principal. Para a estudante, ela traz propostas inovadoras e positivas. “A gente espera que sejam eleitos de novo porque são pessoas que falam com a juventude, falam com as mulheres, falam com os LGBTs, falam com os estudantes”, diz. A identificação com os candidatos é um fator essencial na hora de votar conscientemente. E é aí que
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a classe social influencia: “Quando o jovem tem uma educação melhor, ele sabe o que é uma democracia, pois esse conteúdo já foi abordado com ele. O jovem de periferia não tem nem a oportunidade de ver esse conteúdo, porque ele tem uma educação diferenciada, é a básica, básica mesmo”, explica Joyce Luz. Também estudante, mas da rede particular, Lucas Ciola de Sá, 17 anos, escolheu um candidato não tão popular: João Amoêdo, do Partido Novo. Embora não costume conversar sobre política em casa, ele reconhece que a formação lhe deu, se não as opiniões, os meios para formá-las. Entre tais, ele dá proeminência à internet e, curiosamente, aos vestibulares. Foi, na verdade, devido a um deles que conheceu o seu candidato. “Estava fazendo a prova da ESPM e uma questão citava um pré-candidato e pedia para apontar o nome. Nas opções estava o Amoêdo e eu pensei “quem é esse cara?”. Ao pesquisar mais, descobriu que o candidato de centro-direita defende o liberalismo econômico, o corte de impostos e a redução de benefícios para funcionários do governo, especialmente os de alto escalão.“Não são propostas para jovens, mas me interessam”.
Falar é a melhor solução Com alta incidência entre idosos, o suicídio já é uma questão de saúde pública Sabrina Damas
sos cursos e atividades que o próprio nhecido como o Dia Mundial governo oferece, que são muitas ve- de Prevenção ao Suicídio, por isso muita informação é divulgada pela zes gratuitos. Frequentemente as famílias mídia nesse período. O relatório da optam por casas de repouso para que OMS sobre suicídio ressalta a imporos idosos não se sintam sozinhos, ou tância da informação para modificar apenas para melhorar a qualidade de esses números, mas afirma que a vida daqueles que já não podem cui- abordagem é o que faz a informação dar de si mesmos, como Glória Leão, se tornar valiosa. Apesar de ser um 84 anos, que mora na mesma casa de tema pouco discutido, muitas séries, repouso há um ano. “Prefiro morar filmes e livros estão o abordando aqui a ficar em um apartamento sozi- recentemente, como a polêmica “13 nha”, diz ela. “Aqui é bom, tem baile, a reasons why” (“Os 13 porquês”, na gente se diverte e tem amigos”, com- versão em português), livro de Jay pleta. Sua sobrinha, Vanessa Martins, Asher que deu origem à série de TV. O suicídio foi decretado 42 anos, afirma que nem sempre foi como uma questão de saúde pública, assim. “Ela já passou por outras duas casas de repouso que não tinham ne- por isso o governo está tentando dinhuma atividade de lazer, o que agra- minuir sua taxa em 10% até 2020, a vou seu quadro clínico com depres- partir da implantação de uma ligação são, mas na atual ela é bem tratada e para uma central de apoio, discando se dá muito bem com os outros mo- gratuitamente 188. “Em 2017, o Centro de Valorização da Vida realizou 2 radores”. Unidade do CVV em São Judas De acordo com o Ministério milhões de atendimentos em todo cada 40 segundos ocor- Público, 90% dos suicídios poderiam o Brasil, somando telefone, chat e re um suicídio no mundo, ter sido evitados. Por isso, desde 2015, e-mail. Neste ano deve passar dos 2,5 segundo a Organização o Setembro Amarelo, campanha ini- milhões”, diz André Lorenzetti, gestor Mundial de Saúde (OMS). ciada pelo Centro de Valorização da de comunicação do CVV. Ele também De acordo com dados da organiza- Vida (CVV), juntamente com o Con- explicou sobre o programa de volunção Setembro Amarelo, no Brasil, 32 selho Federal de Medicina (CFM) e a tários, que salva milhares de vítimas brasileiros se matam por dia, núme- Associação Brasileira de Psiquiatria por ano: “Qualquer pessoa com pelo ro superior ao das vítimas de AIDS e (ABP), realiza atividades para quebrar menos 18 anos de idade, algumas hode alguns tipos de câncer. Apesar de tabus a partir da conscientização e do ras toda semana para o voluntariado a população mais jovem ser conside- esclarecimento para reverter esse ce- e vontade de conversar sob sigilo, rada como a de maior risco, o suicí- nário no Brasil. sem julgamentos, críticas ou aconsedio afeta principalmente homens com O décimo dia do mês de lhamentos, pode se candidatar pelo mais de 60 anos. setembro é mundialmente co- site do CVV”. Segundo dados da OMS, a taxa de suicídio entre idosos é de 8,9 a cada 100 000 habitantes, em quanto a dos jovens é de 6,8. Muitas pesquisas apontam que a principal causa seria a depressão, já que a maioria dos idosos são solitários e têm dificuldade para lidar com isso. De acordo com Sonia Fuentes, psicóloga e gerontóloga, a principal dificuldade que o idoso tem é de se encaixar nos modelos da contemporaneidade. “A família mudou, dificilmente um idoso é acolhido na casa de seus familiares, então fica à mercê da boa vontade alheia”. Para prevenir que doenças como depressão se instalem ela recomenda diver- Glória descansando ao lado de sua sobrinha após uma tarde dançante
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Acolhimento que cura Centros de Atendimento Psicossocial estimulam integração social e familiar Giovana Faillace
Criança brincando no acolhimento do CAPS da Aclimação
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luta antimanicomial é retratada como um movimento que traz à luz os direitos das pessoas com sofrimento mental e tem sua origem na metade do século XX, baseando-se em diversos relatos de abusos ocorridos dentro de instituições psiquiátricas. É nesse contexto, em 1987, que nascem os Centros de Atendimento Psicossocial, conhecidos como CAPS, organizações destinadas a acolher pacientes com transtornos mentais e apoiá-los oferecendo atendimento médico e psicossocial de forma ambulatorial. Os CAPS são unidades de saúde regionalizadas que oferecem atendimento diário para as comunidades com base no perfil da população. O primeiro passo para a implantação dessa instituição em algum lugar é a análise do perfil da região, avaliando qual tipo de CAPS - I, II, III, Álcool e Drogas (AD), e infanto-juvenil (CAPSi) – é mais adequado para a situação local. A partir daí eles funcionam como um sistema de porta aberta, ou seja, não é preciso ter algum encaminhamento para realizar o primeiro acolhimento, no qual o caso é avaliado pelos profissionais e constrói-se um
projeto terapêutico especifico para cada pessoa. Sendo assim, um dos principais desafios que essas unidades enfrentam no geral é o cumprimento de metas de acordo com a verba disponível. O objetivo pode ser, por exemplo, uma quantidade determinada de horas prestadas do serviço de psiquiatria por semana ou o número de atendimentos, é preciso atender de forma correta a população que necessita daquele serviço. wO processo terapêutico de cada indivíduo é único e no geral não existem atendimentos individualizados, mas sim através de oficinas e grupos com propostas específicas nas quais cada pessoa se encaixa conforme seu perfil. Existe, principalmente nos CAPS infantis, o contato quase diário com a família, oferecendo um cuidado maior para os pacientes. Uma das coisas mais interessantes a respeito do CAPS é a política da horizontalidade. Existe primeiro um colegiado gestor formado por profissionais eleitos, que faz a interlocução entre os profissionais e a gerencia. As decisões são todas tomadas em grupo dentro de reuniões mensais, semanais e diárias. Também existe um
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conselho gestor que é formado por profissionais, usuários e pais (no caso do CAPS infanto-juvenil) que ajuda a fomentar políticas de saúde; não há, portanto, a soberania de nenhum tipo de profissional sobre o outro. A equipe é formada por multiprofissionais, mas a especialidade de cada um é menos importante que a atuação como terapeuta. Segundo o psiquiatra Pedro Ferreira Neves, de 31 anos, que atende no CAPS da Aclimação, na zona sul de São Paulo, a questão psíquica nunca vem sozinha, mas acompanhada de algum tipo de falta, de vulnerabilidade, portanto, é importante ter uma visão multiprofissional para que o paciente acolhido consiga trabalhar nas relações interpessoais, com si mesmo e com a sociedade. “Uma visão ampliada da saúde permite um atendimento mais completo para o usuário”, diz. O que prevalece dentro dos CAPS são as relações que cada um estabelece com o mundo a partir de suas singularidades. Pensa-se, assim, na integração – ou reintegração – social e familiar do paciente de modo que as instituições de cuidado mental fechadas não conseguiam realizar. Dentro disso vem o que o Sistema Único de Saúde preconiza: a redução de danos. No caso de uso de substâncias, não se exige em um primeiro momento a descontinuação do uso, mas sim um controle para que o uso que não seja abusivo. Exemplo: o vício em crack sendo substituído pelo uso do tabaco e da maconha. De acordo com a assistente social Valéria Chrispin Tavares, 49 anos, que também atende no CAPS da Aclimação, há um estranhamento, a princípio, quando o tratamento de um morador de rua é simplesmente ser acolhido por um tempo, tomar um banho, dormir, mas o modo como essas organizações se desenvolveram e operam até hoje, focando no acolhimento, no sofrimento, no estímulo de integração e reestruturação familiar e social de cada paciente é revolucionário e causa impacto pessoal e coletivo.
No Cingapura o esporte tem vez O impacto de projetos sociais no cotidiano de jovens moradores de um conjunto habitacional de São Paulo Mariana Carvalho
Em ano de eleição muitos assuntos são levantados, mas o conjunto habitacional localizado na Vila Guilherme passa longe das falas dos candidatos. “O governo sabe o que acontece aqui, se tivéssemos o apoio deles seria mais fácil”, diz o líder comunitário. Os recursos para tocar os projetos são baixos e por isso eles sobrevivem com o apoio de parceiros como a Igreja Católica e outros colaboradores, que doam os materiais necessários para o treino. Muitos outros projetos sociais ocorrem lá, como o Zaki Dance, que oferece aulas de balé e jazz e Quadra com poucas condições de uso ao lado de onde as crianças treinam também o Dia Z, no qual atividades ocalizado na zona norte de Há um mundo lá dentro, um de lazer e cultura são proporcionadas São Paulo, o Conjunto Habita- mundo de pessoas que são deixadas principalmente para as crianças, com cional Cingapura Zaki Narchi de lado e por isso fazem do Conjunto o intuito de unir a comunidade. abriga por volta de 700 pes- Habitacional sua vida inteira. PequeOs jogadores da Zaki não fisoas. Vidas se dividem em dois mun- nas lojas, locais com máquinas para cam apenas lá dentro. Nos últimos dos por lá, e muito do que acontece jogos e televisões chamam a atenção meses vêm participando de um camé apagado pelo restante da sociedade, dentro desse ambiente. É lá que as peonato realizado pelo Lausanne Pauque fecha seus olhos para a realidade crianças e adolescentes se divertem lista Futebol Clube, a Copa Projeto, dos moradores. e encontram possibilidades de se co- no qual a equipe sub-12 chegou até a Em 1995, o então prefeito nectar com a tecnologia. final, que será disputada em breve. O de São Paulo, Paulo Maluf iniciou um A organização permeia o ce- time sub-8, ao jogar em outro camprojeto habitacional com o objetivo nário social da Zaki Narchi. Ed Carlos, peonato, proporcionado pela Sabesp, de abrigar quase100 mil famílias pau- líder comunitário, disse que “a res- levantou o troféu e representou a listas. A ideia era substituir moradias ponsabilidade (de estar nesse cargo) é alegria de estar em quadra e o difeprecárias por outras que ofereces- muito grande porque as pessoas têm rencial que o esporte pode causar: sem melhores condições de habita- que acreditar em você”. Há projetos como forma de disciplina dos hábitos, ção. Esse projeto foi denominado de sociais que visam o desenvolvimento prática saudável e distanciamento da “Cingapura”, com o nome advindo da infância. E um deles é a Escolinha atuação negativa advinda de outros das moradias de Singapura, alegan- Zaki Narchi, que se propõe a atingir moradores. do seguir o modelo das construções crianças dos cinco aos 14 anos por daquele país. Mas os edifícios de lá meio do futebol. são de alto padrão, enquanto os de cá “Os projetos tiram o foco têm cinco andares cada e as famílias para o que acontece no entorno. Escontinuam vivendo em situações que sas crianças vivem diariamente com as deixam à margem da vida na capital. vários tipos de violência e quando A moradora da comunidade elas têm a oportunidade de fazer alVanessa Teixeira, 22 anos, falou sobre guma atividade de lazer, o mundo pasa sua experiência: “Pude observar que sa a ser o que realmente tem que ser as pessoas vivem dentro de um círcu- para uma criança”. Ed Carlos toma a lo, como se fosse um ciclo, passando frente desse projeto que incentiva em de pais para filhos e assim por dian- torno de 180 crianças e adolescente. Percebo que as pessoas não têm tes a estarem por perto e viverem a perspectivas. E muitas dessas famílias realidade merecida durante a infância. vivem com o mínimo”. Viver com o Diferente do que é oferecido com famínimo é a solução restante para os cilidade a eles: um mundo de violência paulistanos que vivem no Cingapura. e criminalidade alta. Mesmo no frio as crianças amam jogar bola
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Agora tudo é piada Os memes modificam o antigo jeito de fazer propaganda política Maria Luisa Domingues
Professor Wagner Wilson en seu ambiente de trabalho, Universidade Anhembi Morumbi
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humor é uma forma adequada para retratar a atitude de um candidato a um posto político? Os internautas que produzem memes acreditam que sim, com isso essa nova expressão tem tomado forma nas redes sociais. Dentre diversas estratégias políticas, algumas mais famosas não saem das assessorias das campanhas, mas conquistam o imaginário popular mesmo assim. “O meme, hoje, é uma forma de ideia que passa a ser transmitida conforme a adesão das pessoas. Em um mundo globalizado e com um espaço cibernético cada vez mais amplo, age como uma forma de democratização da política pelos jovens”, diz Wagner Wilson, mestre em Direito Político e Econômico e professor da Universidade Anhembi Morumbi. Nessas eleições novas estratégicas foram elaboradas, como os anúncios patrocinados no Facebook, listas de transmissão no WhatsApp e robôs, que são contas falsas capazes de gerar números artificiais nas redes. Em contrapartida às ideias estrategicamente pensadas, vem o meme, nova linguagem de comunicação feita por internautas, que viraliza muito rapidamente com o objetivo de satirizar uma situação ou um candidato. Segundo Maria Isabella Rodri-
mento de oportunidade. E diversos candidatos já estão usando essa técnica, como Álvaro Dias, candidato a presidente pelo Podemos, comparando-se ao personagem Coringa, inimigo de Batman. Esse compartilhamento de memes feito por internautas modifica a imagem do candidato para algo mais leve e o aproxima da população. E alguns já estão começando a fazer os próprios memes, como é o caso da militância de Ciro Gomes, candidato do PDT. Ainda não é comprovada a eficácia real dessa nova forma de comunicação. O que se pode afirmar é que atinge uma grande parcela populacional, mas não que seja capaz de modificar um processo eleitoral democrático. Até porque a escolha dos candidatos geralmente é uma soma de diversos fatores. Os maiores personagens dos memes são os candidatos à Presidência da República, enquanto os deputados e governadores são menos citados. Samuel Oliveira, 21 anos, do PC do B de São Paulo, afirma que “candidatos estaduais, como eu, não são alvo por não serem figuras de expressão significativa, então, o debate eleitoral televisivo ainda é a melhor oportunidade de nós conquistarmos o povo”.
gues, 17 anos, estudante do colégio Beatíssima, localizado na zona Sul de São Paulo, “os memes têm uma linguagem mais simplificada que auxilia no entendimento”. Com isso, a nova forma de linguagem serve para os jovens terem um primeiro contato com a política. Quanto menos formal for a comunicação, mais bem compreendido o candidato será, principalmente por essa parcela populacional. O problema é quando a seriedade do cargo e da imagem é posta à prova pelas publicações. Não é a primeira vez que essas postagens ora humorísticas, ora incômodas são retratadas. Em 2009, o Supremo Tribunal Federal, STF, suspendeu a Reforma Eleitoral que impedia emissoras de rádio e TV de fazerem montagens humorísticas. Agora, no entanto, o fenômeno migrou quase que totalmente para internet, onde é muito difícil encontrar o autor das publicações. “O meme pode funcionar como uma forma de resgatar aquele candidato que os eleitores tinham esquecido, para retornar ao cenário com mais força. Além disso, é uma forma de impulsionar a campanha, trazendo as discussões que ele apresenta”, diz Wagner. Como não é algo estrategicamente planejado, o meme pode ser considerado apenas um aproveita- Maria Isabella é estudate na zona sul de SP
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Avenida política A Paulista foi e continua sendo um dos espaços mais relevantes da cidade Luan Ferreira
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Avenida Paulista sempre foi um símbolo de São Paulo, principalmente pela oferta de opções culturais e suas inúmeras atrações quando ela fica aberta ao público aos domingos e feriados. Mas ela também foi palco de grandes manifestações, como as de 2013, que começaram com o aumento do preço do ônibus e tomaram proporções enormes, e as que eram a favor ou contra o Impeachment da então presidente Dilma Rouseff. Esses eventos levantam a seguinte pergunta: qual a importância política da Paulista? Para o candidato ao senado pelo partido NOVO, Diogo da Luz, 61 anos, “Foi aqui que nasceu a maior manifestação de rua do mundo, é a população que está assumindo a Avenida Paulista como um lugar de tomar as decisões para os rumos do país e eu acho isso muito legal”. Por isso, em um domingo de agosto, estava na avenida fazendo um programa chamado “Dois Microfones”, no qual as pessoas que passavam podiam fazer perguntas ao candidato, que deveria respondê-las “na lata”, Já para o programador Eduardo Paduan, 34 anos, filiado ao PSOL, é uma questão de atrair novos públicos, respeitando ao mesmo tempo os antigos: “é uma dupla tarefa, conquistar os trabalhadores e a juventude da classe média”. Porém, o advogado João Portaluppi, 29 anos, que com o seu grupo, aos gritos de “Cirão da massa”, fazia propaganda voluntária para o candidato do PDT, acha que é uma boa oportunidade para “conversar com as pessoas através da palavra, saber o que elas estão pensando e colher um feedback e a partir disso fazer política”. Ivan Valente, candidato a deputado federal pelo PSOL, também estava na Paulista distribuindo panfletos e conversando com os eleitores. Segundo ele, “a Paulista se transformou num grande centro do entretenimen-
Manifestação da juventude do PT com presença do candidato Eduardo Suplicy
to cultural, político, então as pessoas que querem discutir política são mais abertas a receber o material político dos candidatos. Damos essa prioridade à Paulista porque o fluxo de pessoas e a abertura que existe para o debate, esse momento que as pessoas não tão correndo pro trabalho, nem pra faculdade, nem pra escola e tal, é o momento que a pessoa pode parar pra conversar e debater ideias, programas e projetos. Isso é a democracia”. A juventude do PT, que estava em frente ao MASP, manifestava com a presença do candidato ao senado Eduardo Suplicy, que disse que “a avenida se tornou um lugar de encontro das pessoas, para as pessoas poderem se encontrar e dialogar, e você pode notar que estão aqui, por exemplo, desde os avós, os pais, os netos, todos vêm se encontrar, seja pra fazer a sua caminhada, a sua volta de bicicleta ou skate, e é um ponto de encontro, e aqui também, os jovens, como por exemplo hoje, aqui, a juventude do PT veio aqui trocar ideias com pessoas como você pra expressar o que é que nós queremos para melhorar o Brasil.
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Aqui na Paulista, cada um fala as coisas mais sinceras, a favor, contra, e tudo. O importante é querer saber respeitar as pessoas e ouvi-las com atenção e, aqui, muitos de nós já estão expressando que não foi correta a decisão do Superior Tribunal Eleitoral para estar não aprovando o direito de o Lula ser o nosso candidato à presidência”. O MASP também foi palco de outra manifestação, no dia 24 de agosto, contra a reforma do ensino médio, encabeçada por uma união de escolas públicas e ETECs. Uma estudante de 18 anos que não quis ter o nome revelado afirma que “A Paulista é um lugar que todo mundo que conhece São Paulo conhece. Então a gente veio fazer um ato, colocar a nossa manifestação aqui mostra que a gente tá querendo visibilidade, e por aqui é um centro econômico, rola empresa o dia inteiro, rola muito fluxo de gente, se as pessoas vierem observar essa movimentação, isso vai gerar uma reflexão sobre o que tá rolando”. Ao que parece, a visibilidade funcionou, pois outras escolas que estavam visitando o museu no dia se juntaram à manifestação.
Responsabilidade nula Votos não-válidos não determinam a realização de outras eleições, mas atraem uma parcela dos eleitores Julia Silva
Paulo Silvino, professor de sociologia da FESPSP
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número de eleitores indecisos, que escolhem o voto nulo, branco ou a abstenção nas eleições para presidente, alcança 22% de acordo com pesquisa divulgada pelo Datafolha em 10 de setembro deste ano. Em 2014, quando a começou a operação Lava Jato, esse número era de 30% e quatro anos antes, em 2010, chegou a 13%. Para o sociólogo Paulo Silvino Ribeiro, 36 anos, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a descrença na política nacional e o descontentamento com as instituições democráticas são a razão do aumento desse tipo de voto. O professor também traz um destaque para o momento do capitalismo: “cada vez mais o individualismo se torna mais orientador do que a coletividade”. Quando questionado sobre a forma de protesto que esses votos carregam, ele afirma que não se trata da decisão mais inteligente. “Se estou protestando sobre como está agora, quando escolho essa opção, eu não mudo nada”. Paulo conta que a melhor forma seria tomar uma posição e buscar um dos candidatos que mais se
caso, seria alguma fraude ou processo judicial – e não os votos nulos. Eis um exemplo de situação em que a nulidade pode ocorrer: se um candidato com mais da metade dos votos estiver sendo cassado, novas eleições serão realizadas. Para Joanito Gomes, 49 anos, cobrador de ônibus, marceneiro e pedreiro, a diferença entre esses votos seria: “o voto branco vai para quem está ganhando e o nulo para ninguém. E também, se 51% da população anulasse seria obrigado a ter novas eleições, anulando as que ocorreram e impedindo os candidatos que participaram de se candidatar. Pelo menos é isso que fala no site”. O trabalhador ainda conta o porquê de anular seu voto: “só tem ladrão”. Ele tem o direito de ter a opinião expressa na última frase. Mas identifique com o eleitor. “O nulo e o a lei estabelece outras regras para os branco são uma forma de posição polí- votos nulos e brancos. Thalita Gonzalvez, 25 anos, tratica. É o mesmo que dizer:‘nenhum me balha como servidora pública do estaagrada’, mas isso não pode ser protesto. Seria o mesmo que protestar pelo do de São Paulo e também irá votar saneamento básico bebendo água suja nulo este ano. Ela justifica essa decisão pelo fato de não poder se decidir nem da rua”, diz o pesquisador. Ao contrário do que muitos se identificar com nenhum dos partipensam, os votos nulos e brancos não dos e candidatos.“Não consigo me ver têm diferenças significativas entre si. em nenhum deles”, diz. Quando quesDe acordo com o Tribunal Superior tionada sobre saber a diferença entre Eleitoral, esses votos não são conver- o voto nulo e branco, a jovem, pensatidos para o candidato mais votado e a tiva, diz: “mais ou menos... acho que o única diferença entre eles se dá pelos branco vai para alguém e o nulo não. botões pressionados na urna eletrôni- Ou ao contrário, uma coisa assim”. O ca. O TSE declara que esses tipos de TSE, cara Thalita, informa: não é bem votos são desconsiderados durante a assim que o sistema funciona. Em um possível segundo turapuração de escolha dos candidatos. De acordo com a Lei Eleitoral 9.504, no, ela ainda diz que manteria seu voto “nas eleições proporcionais, contam- independente do cenário político.Tha-se como válidos apenas os votos da- lita conta que anulou seu voto nas eleidos a candidatos regularmente inscri- ções passadas. “Nos dois últimos anos, eu não votei em ninguém, exatamente tos e às legendas partidárias”. Muitas pessoas se equivocam por não me identificar mesmo. Alguao dizer que uma nova eleição acon- mas propostas até me agradam, mas a tecerá caso os votos nulos superem gente sabe que na prática não é como mais de 50% dos apurados. Na verda- eles falam na teoria. Eu me considero de, a partir da afirmação do art. 224 apartidária mesmo”. A servidora púdo Código Eleitoral, se faz necessária blica também relata que considera o a marcação de uma nova eleição se a sistema político atual “100% responnulidade atingir mais da metade dos sável” por sua decisão e insegurança votos do país. Mas “nulidade”, nesse com cenário nacional.
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Educação e inclusão social Cursos voltados a estudantes da rede pública aproximam jovens do sonhado diploma universitário Jéssica Barreto
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studantes do 3º ano do ensino médio de escolas públicas, além daqueles que já terminaram o ciclo, recorrem cada vez mais a cursinhos populares ou preparatórios comunitários como uma forma menos custosa e cada vez mais eficiente de terem acesso ao ensino superior. Os cursinhos populares começaram a se espalhar pelo país na década de 1990, e desde então vêm ganhando visibilidade. Um deles é o “Alunos”, da PUC-SP, fundado em 1996 por estudantes de geografia e ciências sociais da universidade, que tiveram a ideia quando a partir de pesquisas concluíram que os negros e pessoas residentes de bairros da periferia de São Paulo não estavam inseridos na instituição. No início do projeto tiveram que lidar com a resistência por parte dos alunos e da própria universidade. Desde que foi fundado, o cursinho não recebe nem um tipo de ajuda de custo e os professores são alunos formados, em sua grande maioria pela PUC-SP, e professores universitários que fazem o trabalho de forma voluntária. Ronaldo Davi Lopes, 49 anos, agente de saúde formado em Geografia, está desde 2001 no projeto, que atualmente coordena. Ele decidiu tornar-se voluntário por ter enfrentado a mesma realidade anos atrás. “Assim que eu entrei, o principal meio de divulgação utilizado eram por cartazes em linhas de trem e metrô de São Paulo. Na época a reitoria da universidade acabou liberando as salas, porém não se comprometeu em assumir o cursinho como seu, e a partir desse momento o cursinho passou a fazer parte do CACS, Centro Acadêmico de Ciências Sociais, que no início sofreu com o preconceito, sendo chamado de formador de baderneiros. Hoje tem apoio de alunos e professores de outros cursos da universidade, como Direito e Relações Internacionais”, diz. No início do ano são selecionados cerca de 180 alunos, a partir dos
Estudantes do cursinho da PUC-SP na aula de português e linguagens
seguintes critérios: ser aluno de escola pública e possuir baixa renda familiar. Para Pedro Guilherme Kirst, 24 anos, mestrando em Ciências Sociais e professor voluntário de português no cursinho popular da PUC-SP, o interesse pelo projeto se deu pela percepção da falta de qualidade no ensino público, de um ensino não igualitário e pelo reduzido número de vagas nas universidades. “A gente tem um sistema educacional no Brasil, de maneira geral, que não é igualitário para todos. Se você observar não tem vaga para todo mundo nas universidades, e muitas escolas públicas não têm vagas e outras não têm tanto investimento, tanta qualidade como deveriam”, diz. Apesar de os cursinhos populares serem em sua grande maioria gratuitos, os alunos que os frequentam sofrem ainda com a dificuldade em manter os gastos com transporte e alimentação, como é o caso de Jussara Miranda, 28 anos, que é deficiente visual e moradora do bairro Guarapiranga, na zona sul de São Paulo. Ela leva cerca de duas horas, em média, para chegar ao cursinho, o qual faz com a ajuda da mãe. Seu sonho é cursar faculdade de música. Acrescenta que o cur-
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sinho a tem ajudado na busca pelo seu sonho. “Ele dá uma boa base, porque tem muita coisa aqui que eu não lembro de ter aprendido na escola”, diz. Outro projeto que tem ajudado alunos de escolas públicas a se prepararem para os vestibulares do final do ano é o cursinho da Fatec – Itaquaquecetuba, fundado em 2014 por iniciativa do coordenador e professores da unidade, visando atender escolas públicas próximas a instituição. O curso iniciou com as matérias de português, matemática e inglês e tinha cerca de 10 alunos. Apesar de ser realizado por professores da Fatec e utilizar as questões do seu próprio vestibular como material pedagógico, os alunos são livres para optar por outras universidades, como conta Francisco Cláudio Tavares, atual coordenador do curso de Gestão Comercial da Fatec: “Nós conseguimos o auge no primeiro semestre de 2017, em que tivemos 110 inscritos. O curso é livre nós não obrigamos ninguém a fazer o vestibular aqui, então muita gente estudou aqui, fez vestibular na USP, na FGV, e acabaram divulgando a outros alunos”, diz. Além disso, o cursinho mantém parceiria com a ETEC da cidade.
Doença crônica A vaga em um curso de qualidade em medicina continua difícil, assim como continuar em um Guilherme Schanner
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vestibular de medicina é um dos mais concorridos em todo o Brasil. Muitos dos candidatos tentam entrar nas faculdades públicas para terem os melhores cursos, especialmente em faculdades públicas. Mas o número de vagas em cada torna impossível a entrada de todos que queiram fazer a disciplina. Em 2017, a quantidade de candidatos por vaga em medicina chegou a centenas. Na Unesp, a quantidade chegou a 312 candidatos, enquanto na FMUSP e na Unicamp, 135,7 e 279, respectivamente. Maioria daqueles que querem ingressar em uma dessas universidades é pelo o motivo delas serem mais acessíveis economicamente falando, sendo assim uma opção melhor do que as privadas. O mais preocupante é que há uma escassez de médicos aqui no Brasil, mesmo com o fato de ser tão difícil em entrar em medicina. De acordo com o CFM (Conselho Federal de Medicina), 40% das vagas autorizadas dos programas de residência não estão ocupadas, sendo aproximadamente 22.899 vagas. Por sua vez, os problemas que levam à ociosidade das vagas se manifestam de diferentes maneiras. O diagnóstico inclui problemas como a desistência de candidatos selecionados; as falhas no registro de dados sobre a ocupação de vagas; a menor demanda em relação à oferta ampliada em determinadas especialidades, ou seja, mais vagas do que candidatos; o desinteresse dos egressos por programas de pouca tradição; e as dificuldades ou atrasos de financiamento de bolsas. Em 13 unidades da federação, mais de 40% das vagas não foram ocupadas. São Paulo tem 7.158 vagas não preenchidas, totalizando 37,1% das vagas que foram autorizadas pela CNRM para o estado. O Maranhão, que já tem a menor razão de vagas autorizadas por 100 mil habitantes, tem tam-
Alunos do primeiro ano estudando desde cedo para os vestibulares no futuro
bém a maior porcentagem de vagas não preenchidas: das 406 autorizadas, 57,9% estavam ociosas em 2017. No Ceará, 53,7% das vagas também não estão preenchidas. Luciano Yamamoto, professor de física no colégio Companhia de Maria, diz que o preparo dos alunos começa logo no primeiro ano do ensino médio. “Aplicamos simulados, o que é importante para que o estudante se acostume com o longo tempo de prova no vestibular, e treine a administração de tempo para cada questão”, diz ele. “Durante as aulas sempre passamos técnicas de resolução de exercícios, para que o estudante não apenas compreenda a questão, mas para que também consiga soluciona-la no menor tempo possível” O professor também disponibiliza listas de exercícios extras e reserva tempo depois das aulas para poder tirar dúvidas aos alunos. Apesar do preparo, nem todos conseguem passar na primeira vez que fazem o vestibular. Graciela Velarde, 20, está em seu terceiro ano de cursinho para entrar para passar no vestibular de medicina de sua escolha. Sobre a
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pergunta do porquê de medicina ser uma carreira tão difícil de ser passar, Graciela respondeu: “A demanda para um curso de qualidade está alta demais para oferta. Além disso, a média dos concorrentes é mais preparada para os vestibulares. Principalmente para as faculdades públicas, já que as privadas têm mensalidades inviáveis para a maioria. Por isso, não conseguem suprir a procura.” Apesar das dificuldades, Graciela escolheu medicina pelo seu fascínio com o corpo humano e querer ajudar a sociedade. “Quero levar auxilio médico a regiões mais carentes do país” Sophia Lucchi, 17, fará pela primeira vez os vestibulares como candidata, prestando tanto para faculdades públicas e privadas. Além de querer cursar medicina, quer ser veterinária pelo desejo de ajudar outros, tanto pessoas quanto animais. “Estou muito tranquila em tentar entrar em um curso de veterinária, mas acredito que não será tão fácil em medicina”. O vestibular da Unesp será dia 15 de novembro, o da Unicamp dia 18, e o da Fuvest, 25.
O novo – e polêmico – ensino básico O projeto que pretende mudar o currículo escolar tem dividido educadores, pais e alunos Fernando Polacchini
Cláudia coordena a Escola Estadual Plínio Barreto, na Móoca
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rofessores e coordenadores das redes pública e privada de todo o país receberam a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), apresentada por medida provisória pelo presidente Michel Temer, com uma certa dose de insegurança. O projeto é um instrumento de referência dos conhecimentos de todos os alunos na educação básica, independentemente de sua origem, classe social ou local em que estudam. A criação do documento, segundo o governo, foi colaborativa, tendo a presença de especialistas, gestores, docentes e até consultas públicas online. Segundo o projeto, o objetivo da BNCC é reduzir as desigualdades no aprendizado, ajudando o estudante a estabelecer o desenvolvimento de suas habilidades e competências ao longo de todo o processo da educação básica. No novo ensino médio, por exemplo – que ainda depende de aprovação pelo Congresso – apenas as disciplinas de língua portuguesa e matemática serão obrigatórias no currículo escolar, e as demais áreas de conhecimento serão facultativas. Muitos professores não concordam com a BNCC do Ensino Médio justamente por conta disso. Eles acreditam que esse projeto aumentará a desigualdade no aprendizado, pois dificulta ainda mais o ingresso da população de baixa renda na uni-
versidade, já que os vestibulares não irão se adequar a este novo sistema abordando todas as áreas de conhecimento. Eles ressaltam que esse ponto contraria as Diretrizes Curriculares Nacionais. Outra questão com a qual os professores não concordam no projeto é que os estudantes teriam aulas não presenciais, as quais serão transferidas para o setor privado. Ingrid Marhioni Avilez, 36 anos, professora da Escola Estadual Plínio Barreto, na Moóca, acredita que não os professores não serão ouvidos. “Primeiro eu sou contra pelo seguinte motivo: quando o MEC disponibilizou pela internet, você poderia ver a BNCC, porém não conseguia colocar comentários, não tinha onde enviar, tentamos fazer várias vezes. Então eles falam que os professores tiveram um envolvimento da produção da BNCC, mas na realidade foi uma imposição. Quem está lá no MEC não está em sala de aula, não sabe da realidade dos dias atuais”, diz a docente. Ela completa: “Os professores deveriam ter participado efetivamente da construção da BNCC. Agora que terminou de ser montada, foi mandada para olharmos”. Não só ela como a Daiane Santana Martins, 25 anos, professora da mesma escola, acredita que faltou uma conversa com o corpo discente e docente. “O projeto não foi debati-
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do, não foi discutido da forma correta, pois ficou apenas alguns dias para consulta online pelo MEC”, diz. Daiane completa: “a crítica principal por parte dos professores foi esta desinformação. Além disso, poucos foram escutados, sendo um projeto que afetará diretamente professores e alunos. Não podemos concordar com um projeto que não escutou os maiores envolvidos”. Os estados utilizarão a BNCC como uma referência nacional, mas os mesmos definem os seus próprios percursos para alcançar os objetivos propostos na Base, pois têm autonomia para elaborar ou adequar os seus currículos de acordo com suas demandas e interesses locais. Segundo uma pesquisadora da área da educação, que não quis ter o nome revelado nesta reportagem, afirma que a grande discussão sobre a BNCC é justamente a questão das competências e o não entendimento sobre elas. “É um modelo utlizado, sendo tendência no mundo todo. É utilizado até no mercado de trabalho, no qual os empregadores contratam através de uma atividade de competência, em que podem ser observadas as suas habilidades”, diz. Já Cláudia Nogueira, 52 anos, coordenadora pedagógica da Escola Estadual Plínio Barreto, na Móoca, acredita que a maneira que o projeto foi apresentado não é correta: “A gente tem que estudar muito isso, ver o que é, pois do jeito que foi colocado para nós eu não acho que irá dar certo”. O tumulto relativo à apresentação da BNCC, de acordo com ela, nada mais é do que desinformação. “O maior problema é o ‘disse me disse’, pois temos várias fontes e cada uma fala uma coisa diferente”, afirma. A pesquisadora que não quis se identificar acredita que a confusão deve-se à novidade: “Este projeto ainda é um muito novo, não está totalmente maduro”.
Polêmica engatilhada O porte de armas gera uma série de questionamentos antes das eleições presidenciais Maria Julia F. Camargos
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sociedade brasileira está dividida em relação ao porte de armas de fogo, medida defendida pelo candidato à Presidência Jair Bolsonaro, do PSL. De acordo com dados do Datafolha de novembro de 2017, menos da metade (42%) dos brasileiros defendem o porte para a autoproteção, enquanto 56% não defendem porque acreditam que isso trará mais violência para o país e que a segurança pública é atribuição do Governo. Os outros 2% não quiseram opinar sobre o assunto. A possível legalização e facilitação do porte de armas é um assunto muito retratado e discutido neste ano de 2018. O questionamento dos brasileiros em relação a este tema é grande, pois não se sabe ainda se o porte diminuirá a taxa de violência e homicídios no Brasil e qual será a consequência que esse ato trará para o país. Francisco Paulo Greter, de 62 anos, candidato a vereador de São Paulo pelo PSOL e atual presidente da APROFESP (Associação de Professores de Filosofia do Estado de São Paulo), comenta: “Não vai ser armando a população que os assassinatos irão diminuir, ao contrário, vão aumentar. Só com o investimento em segurança pública, em inteligência e na formação dos policiais é que poderemos combater e diminuir a violência e as mortes”. Já houve uma tentativa de diminuir a violência causada por armas há 13 anos, no Brasil, quando foi sancionado o Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03).A lei apenas permitia o porte para aqueles que exerciam profissões de risco ou com ameaças à sua integridade física, proibindo para os envolvidos em processos e inquéritos criminais, menores de 25 anos e sendo obrigatória a renovação do Certificado de Registro a cada três anos. O Estatuto de Controle de Arma de Fogo (Lei 3.722/12) foi implantado em 2012 e está em vigor até os dias de
Apoiadores do PSL na Avenida Paulista em um domingo de setembro
hoje, com a ideia de substituir o Estatuto do Desarmamento, facilitando o porte de arma para os cidadãos e respeitando os direitos e autonomia do indivíduo com a segurança da sociedade. Ou seja, é permitido o porte para aqueles que cumprirem os requisitos mínimos exigidos em lei, autorizando para os que responderem processo e inquérito criminal, maiores de 21 e não é mais necessária a renovação do Certificado de Registro. Ambas as medidas, tomadas em 2003 e 2012, não foram suficientes para reduzir a violência na época e nem nos dias atuais. Dessa maneira, persiste a incerteza do povo brasileiro sobre defender ou condenar o porte de arma. Portanto, arma é sinônimo de segurança? Gislene da Silva, de 37 anos, autônoma, defende que o porte de arma não é necessário para o civil brasileiro, pois acredita que o povo não tem a mentalidade e o preparo psicológico para ter o porte. Ela presume que o cidadão, em situações de estresse e frustração, atiraria no adversário causador do tal sentimento, assim como todos os outros. “Acredito que haveria um novo cangaço”, diz. Além da matança, ela pensa que o brasileiro aproveitaria o porte de arma para de-
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fender interesses próprios, visto que seria uma “solução” rápida. Gislene afirma, então, que “a resposta é melhorar a segurança pública” e, portanto, não defende o porte para a segurança do individuo e sim o investimento em projetos, políticas públicas e nos policiais (não apenas retirando ou inserindo a arma), viabilizando a segurança de todos. O candidato Francisco Greter complementa que o porte é para aqueles que trabalham ou enfrentam situações de risco de vida, e completa: “nunca para o cidadão comum”. Em contrapartida, Matheus Galdino e Lucas Grigoleto, 20 e 21 anos respectivamente, manifestantes e apoiadores de Bolsonaro, questionam: “que política é essa (Estatuto do Desarmamento) que falou que ia acabar com a violência e triplicou, multiplicou?”. Eles complementam com uma pergunta: “como as pessoas de salário mínimo e desempregados vão se defender do bandido armado?”. Ambos justificam que a arma é para suprir a falta de segurança pública e que é um direito do cidadão garantir sua própria proteção, pois não é papel do policial assegurar a segurança individual de cada pessoa e sim da ordem social. Eles acreditam que a população armada poderia reduzir os homicídios.