JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - ANO XIII - ED. 204 - OUTUBRO / 2018
A SABESP CORRE PARA QUE AS TORNEIRAS NÃO SEQUEM p. 4 LEIA TAMBÉM NESTA EDIÇÃO:
POLICIAL: PROFISSÃO PERIGO - p. 2 A BATALHA DE ARTISTAS E ARTESÃOS NA PAULISTA- p. 5 O PARQUE AUGUSTA, ENFIM, VAI SAIR DO PAPEL - p. 6
GRUPOS COMBATEM A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
Por Fernanda Cavalcanti e Tainah Pires - p. 3
O SUFOCO NOSSO DE CADA DIA NO “BUSÃO” - p. 7 A POLÍTICA DA TORCIDA ÚNICA É A SOLUÇÃO? - p. 8
O risco da farda Quais os maiores desafios de ser policial em São Paulo? Profissionais do ramo explicam
A cabo da Polícia Militar Joice Rangel dos Santos, 23 anos de profissão Vitor Diniz
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Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) é uma instituição criada em 1831, e nesses 287 anos de existência, a história da “PM”, como é popularmente conhecida, é recheada de honras, heróis, polêmicas e controvérsias. O site oficial da instituição diz que “o ato da criação pode ser reconhecido pela reunião do conselho da Província de São Paulo, presidida pelo brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, realizada em 15 de dezembro de 1831. O efeito inicial era composto por 100 homens a pé e 30 a cavalo”. E desse pontapé inicial, a instituição cresceu e se expandiu até chegar ao ponto em que conhecemos hoje. Ainda de acordo com o site oficial da PM, a principal missão é “proteger as pessoas; fazer cumprir a lei; combater o crime e preservar a ordem pública”. Quando caminhamos nas ruas e vemos essas pessoas armadas e trajando seus uniformes e fardas, talvez não imaginemos os riscos de ser policial militar em São Paulo. Com essa finalidade, o autor ouviu duas pessoas ligadas à profissão: o ex-soldado da polícia militar Rafael Santos, 26 anos, e a cabo da PM Joice Rangel dos Santos, 40 anos.
Ao ser questionado sobre qual era o maior risco de ser policial em São Paulo, Rafael foi enfático: “O maior risco de ser policial é ser policial”. Ele justifica sua resposta argumentando que “o policial é inimigo de bandido; é inimigo do Estado; e é inimigo da sociedade. Por quê? Porque o bandido quer te matar, o Estado não te ampara em nada e a sociedade não te apoia”. Joice tem uma opinião similar. Ela alega que “o risco está em todo lugar, está na atividade do policial militar ou mesmo no horário de folga dele. Porque o policial sempre vai ter aquela imagem de protetor, mas não tem ninguém para protegê-lo”. Os dois lados também comentaram episódios em que sofreram preconceitos devido à profissão escolhida. Rafael se recorda de um encontro de turma da escola, quando uma professora o questionou como estava e o que estava fazendo da vida. Ao ouvir que ele estava ingressando na carreira policial, ela respondeu: “eu não ensinei aluno para virar policial fascista” e saiu andando, deixando Rafael sem reação. Ele ainda comenta que já ouviu frases como “Ah, então você gosta de matar” ou ‘’Poxa, policial só mata preto e pobre, né?”. “Todo mundo chama bombeiro de herói, mas em São Paulo [e em
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vários estados] o corpo de bombeiros é da polícia militar, ou seja, todos os bombeiros em São Paulo são policiais, então não dá para afirmar que o cara gosta de matar por ser policial”, argumenta Rafael. Joice afirma que também já sofreu preconceito, e no caso dela ainda há um agravante nesse sentido. “A mulher é bem discriminada. Você é discriminada na rua quando tem uma ocorrência, eles não botam fé, a mulher tem a sensibilidade mais frágil, então tem vários preconceitos referentes à mulher”, diz. Quanto a usar suas armas, os dois lados alegam que já o fizeram, pois era extremamente necessário. Ao serem questionados como se sentiram, as duas respostas foram parecidas. Rafael se recorda: “Eu me senti mal no começo.Venho de família cristã, então, querendo ou não, a primeira coisa que eu pensei foi ‘meu Deus, matei alguém, vou para o inferno’. Mas é uma mistura de sentimentos confusos; primeiro você fica aliviado que não foi você, depois se desespera, demora para você entender que as coisas são assim, até que você deixa de se culpar e aceita que era você ou ele”, diz. Joice afirma: “No começo passa um nervoso, mas é tudo naquele momento. É você ou você”.
Jornal-Laboratório dos alunos do 2o semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As reportagens não representam a opinião do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mas dos autores e entrevistados. Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Comunicação e Letras
Diretor do CCL: Marcos Nepomuceno Coordenador do Curso de Jornalismo: Rafael Fonseca Supervisor de Publicações: José Alves Trigo Editor: André Santoro
Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 100 exemplares.
Que comece o matriarcado! Organizações feministas conquistam espaço em um cenário de crescimento dos casos de violência contra a mulher Tainah Pires Fernanda Cavalcanti
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om o crescimento constante de movimentos feministas, as mulheres se sentem cada vez mais unidas em suas lutas diárias com os objetivos políticos e sociais de conquistar iguais acessos e direitos na sociedade. Lutando principalmente contra a violência à mulher, as novas organizações fazem de tudo para combater qualquer tipo de discriminação, principalmente com os casos de estupro, assédio e feminicídio crescendo rapidamente – a cada 2 segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil, segundo os Relógios da violência, do Instituto Maria da Penha. A Sempreviva Organização Feminista (SOF) é uma organização não governamental, com sede em São Paulo, que tem como foco a transformação das relações desiguais de gênero pela ação individual e coletiva das mulheres. Tem forte parceria com a ONG Centro Feminista 8 de Março (CF8), que surgiu em março de 1993 a partir de ações voltadas à reivindicação da instalação da Delegacia Especializada em Defesa da Mulher (DEAM), em Mossoró/RN. Suas atividades têm como finalidade “proporcionar o fortalecimento das organizações de mulheres nos espaços sociais, em especial as trabalhadoras rurais, oferecendo apoio, assessoria e formação em gênero aos grupos de mulheres, comissões de mulheres dos sindicatos rurais, entidades de assessoria técnica, gerencial e organizativa que atuam no meio rural e urbano de Mossoró e região”, como relata o site da ONG. Ambas realizam projetos e reuniões por toda a América Latina. Outra organização de destaque é a AzMina, composta por jornalistas e comunicadoras, que visa o combate contra a violência exercida sobre o público feminino, lutando contra qualquer tipo de desigualdade. Elas realizam palestras, debates, oficinas, consultorias, e também possuem uma
Jovens em concentração feminista no vão livre do MASP em São Paulo no fim de agosto
revista de jornalismo investigativo, de publicação online e gratuita, de nome “Revista AzMina”. No dia 30 de agosto de 2018 aconteceu uma concentração feminista no vão do MASP, em São Paulo, como decorrência dos casos de estupro que chamaram a atenção da mídia nas semanas anteriores. O evento foi organizado pelo movimento ‘Elas por Elas SP’, uma rede de auxílio para todas as mulheres de São Paulo. A maior parte da movimentação foi organizada pelo Instagram (@elasporelassp). A assessora parlamentar e assistente social Maria do Rosário Ramalho, 55 anos, estava na manifestação junto com sua filha, e afirma que sua preocupação aumentou depois dos estupros recentes. Mesmo morando em um bairro seguro como Perdizes, ela teme pela segurança da filha. Maria ainda diz que seu maior medo como mulher é ser estuprada. “Eu acho que tem que ter algum efeito. A sociedade é muito conivente com esse tipo de situação, tem muitas coisas acontecendo”, diz, quando questionada sobre os efeitos de movimen-
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tos feministas. As estudantes Rafaela Garcia Rosa e Helena Jorge Santos, ambas com 18 anos, estavam na manifestação por acreditar que os acontecimentos recentes foram um estopim para esse encontro. “É de suma importância fazermos isso mais vezes, porque querendo ou não vivemos em uma sociedade muito machista e precisamos igualar nossos direitos”, diz Rafaela. “Eu acho que o mais acontece comigo nem é o assédio na rua, mas sim a violência intelectual. É sentir que minha voz tem menos potência do que a de homens com opiniões semelhantes às minhas, sendo que a minha é tão bem fundamentada como a deles”, afirma Helena quando questionada sobre assédios diários que sofre por ser mulher. As duas ainda concordam que os estupros recentes afetaram suas rotinas, e que mudaram caminhos, roupas e pensamentos. “Nós temos que mostrar que estamos presentes, e precisamos ser ouvidas”, diz Rafaela. “É uma luta de resistência, uma luta de fôlego político”, conclui Helena.
As torneiras não podem secar Sabesp toma medidas e precaução para evitar uma nova crise hídrica em São Paulo Mateus Ferreira Matheus Queiroz
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crise hídrica de 2014-2015 afetou grande parte da capital paulista. O nível do reservatório da Cantareira chegou a 5% da sua capacidade máxima de acordo com a Sabesp. Atualmente o nível do reservatório está em 35,8%. Ainda não estamos em um estado critico, pois não há racionamento, nem motivos para medidas mais emergenciais. Mas a falta de chuvas combinada com a perda de água e a má utilização dela podem nos levar a uma nova crise Durante a estiagem, o nível do sistema de abastecimento foi diminuindo com o passar dos meses, forçando o órgão responsável pelo armazenamento e distribuição de água a tomar medidas que amenizassem a perda do recurso. Os métodos utilizados para que o problema fosse menor foram descritos pela Sabesp no documento CHESS (crise hídrica, estratégia e soluções da Sabesp). Dentre os meios estratégicos estão os rodízios de abastecimento, que são, “interrupções planejadas no fornecimento de água à população, baseadas em regras que alternam períodos com e sem abastecimento, com o objetivo de reduzir a vazão disponibilizada para a população e, consequentemente, a retirada de água do manancial”, como indica o documento. Além desse recurso foram usados outros, como ações de contingência para redução de vazões, gestão de consumo dos clientes,intensificação de combate às perdas, utilização de reservas técnicas e ações institucionais. Outra maneira usada para diminuir o uso do reservatório da Cantareira é a troca de sistema abastecedor em certas regiões de São Paulo, como acontece na Penha, zona leste de São Paulo. Dalto Monteiro, 72 anos, aposentado, disse que desde a crise de 2014 o bairro não é mais abastecido pelo Cantareira para diminuir o
Funcionarios da Sabesp trabalhando no projeto de redução de perdas na Casa Verde
seu uso diário. Ele ainda falou sobre o uso do sistema durante a estiagem no período do racionamento. Ele informou que a Sabesp parou de fornecer água para o bairro dele e transferiu para bairros mais centrais. “Eu queria saber por que a Sabesp mandava água para o Ibirapuera e não mandava para o meu bairro”, questiona Dalto. Outra razão da perda constante de água são os valores das contas mensais dos cidadãos, pois uma pessoa que utiliza menos litros de água paga mais ou menos o mesmo valor de outra que usa mais litros. O aposentado João Marquezin, 83 anos, morador do bairro da Casa Verde, disse que utiliza de 2 mil a 3 mil litros de água por mês, sendo que a Sabesp fornece em média 10 mil litros mensal por moradia. João ainda confirmou: “eu reutilizo toda água da máquina para lavar o quintal e o banheiro, mas a minha vizinha lava o quintal com mangueira toda semana e as nossas contas têm praticamente os mesmos valores, a diferença é mínima”. Atualmente, a Sabesp está realizando um projeto de redução de perdas em diferentes zonas da capital de São Paulo. Um dos bairros em que está acontecendo essa ação é a Casa Verde, na zona norte. O projeto visa aumentar o custo x beneficio do consumo de água dos moradores. Segundo Iceovis Ricardo, 44 anos, técnico
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de segurança do projeto, “esse projeto é uma redução de perda da Sabesp, vamos trazendo mais qualidade de água e saúde”. Ele também afirma que, na época da crise, a Sabesp fazia mais campanha e orientação, mas hoje não tem a mesma conscientização. Ele disse que, além da melhora qualitativa da água, haverá diminuição da perda, pois eles já renovaram quase 30km de encanamento. Arisvaldo Melo Jr., 51 anos, professor de engenharia ambiental e sanitária, da USP, diz que podemos ter problemas futuros, pois antes da última crise, o nível do reservatório estava em 39% da sua capacidade máxima, mas hoje estamos com um volume menor do que anteriormente. Ele também enfatiza que a situação depende de forma majoritária de fatores hidrológicos e climáticos. Caso não tenhamos um período satisfatório de chuva na estação úmida, a estiagem seguinte pode causar mais transtornos. O Sistema Cantareira, que começou a ser construído em 1974, foi descrito pelo especialista como “um projeto praticamente perfeito”. E a gestão da água é relacionada a vários atores, não só a Sabesp. Estão envolvidos os clientes (população), a própria empresa responsável pela distribuição da água, o governo e também as empresas públicas e privadas.
Paulista sem controle Artistas e artesãos da avenida mais famosa da cidade seguem desamparados pela administração municipal nária de uma banca próxima ao Metrô Brigadeiro, que não quis ser identificada, confirmou a situação: “É um barulho insuportável, que chega a afastar os clientes. Além dos vendedores ambulantes”. Já Bruno Rocha, assessor da Subprefeitura da Sé, afirmou em entrevista por e-mail que medidas cabíveis são tomadas de acordo com o decreto citado. Em junho de 2018, o conselho gestor da Paulista, em reunião com a Prefeitura Regional da Sé, propôs nova regulamentação para um melhor convívio entre pedestres, músicos e artesãos: mapear locais da via a fim de não ter apresentações em frente aos prédios residenciais, portas de farmácia, hospitais, bancos e igrejas. Além de evitar a ocupação dos locais estabeleVendedores irregulares lado a lado sem fiscalização na Av.Paulista cidos por “ordem de chegada”, o que tidos para o comércio de rua. Após rí- força os artesãos a madrugarem para André Casé gida fiscalização, menos de 50 artesãos garantir espaço na avenida. O projeto Joyce Olveira expunham suas obras na via, por re- de alteração também prevê aumento Avenida Paulista é um dos ceio de terem seus trabalhos tomados, de locais determinados entre 20 a 30 espaços culturais mais vi- ou afirmavam que a fiscalização muni- pontos, exclusivamente, para músicos, sitados da cidade de São cipal já havia retirado todo o material desde que estes façam agendamento de horário e local. Paulo. Muitas mudanças do que haviam produzido. Embora as promessas e deespaço se tornaram visíveis a partir de O regulamento reconhece a janeiro de 2017, quando João Dória categoria como autenticada pela Sub- cretos públicos pareçam solucionar os (PSDB) assumiu, e estão diretamen- secretaria do Trabalho Artesanal nas problemas de sobreposição de sons, te relacionadas ao Programa Cidade Comunidades (SUTACO) e torna disputa por espaço e horário, os fisLinda, proposto no primeiro final de necessário o registro com a entidade cais do Apoio à Remoção, na tarde semana da nova gestão municipal. 50 estadual, por meio de carteirinha, para do domingo, 2 de setembro de 2018, artistas e artesãos têm permissão de expor e comercializar produtos em lo- demonstraram descaso em suas funuso diário do espaço, conforme tal cais públicos. Por mais que alguns ex- ções ao afirmaram estar no horário regulamento. Com isso, fiscalizações positores fiquem apenas alguns dias na de almoço e que não iriam fazer nada foram feitas e surgiram problemas re- cidade, o órgão exige comprovante de até a chegada de outra viatura. A prelatados por aqueles que ocupam a via, residência como um dos pré-requisi- feitura os empregou ignorando o fator entre eles o critério para impedir per- tos, e ainda demora um mês para emi- linguístico, pois todos os fiscais entremanência no local. tir o documento após solicitação em vistados eram imigrantes de países da O decreto que regulamen- sua sede. Foi também durante a gestão África e não sabiam falar bem o portuta a Lei dos Artistas de Rua, assinado Haddad que ficou estabelecido o limi- guês, dificultando a comunicação com por Fernando Haddad (PT) em 2013, te de pontos e a necessidade de tripé ambulantes e artistas em geral. A conclusão do estudo citado substituiu o anterior, que exigia dos ou barraca, proibindo a exposição dos estava prevista para ser apresentada artistas a realização de um cadastro na trabalhos no chão. Prefeitura Regional (ou subprefeitura), Na prática, de acordo com a pelo Tribunal Regional do Trabalho na competente ao local de atuação. Na le- artesã Vera Lucia,72 anos, a fiscalização Prefeitura Regional da Sé em 18 de gislação vigente, não há a necessidade foca apenas nos vendedores ambulan- julho de 2018. Contudo, os membros de cadastro nas regionais. O decreto tes. E o número, segundo ela, ultra- do TRT entraram em recesso e, após diz respeito à prática dos artesãos, que passa o limite, beirando uma situação a saída de João Dória do seu cargo, a devem atender às mesmas exigências caótica, principalmente aos domingos: nova gestão de Bruno Covas deixou a dos demais artistas de rua, cabendo à “Minha amiga chega de madrugada questão em aberto, priorizando outras Prefeitura estabelecer os locais permi- para garantir a vaga”, diz. Uma funcio- áreas da administração municipal.
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Enfim, Parque Augusta! Acordo para organização do espaço é fechado e prefeitura promete entregá-lo em dois anos Fernanda Gasel Cunha
um prazo de dois anos para a construção do parque. Porém, pretendem terminá-lo em 18 meses, e à medida que as áreas estiverem sendo concluídas, serão liberadas para a população. Além disso, fazem parte do projeto da prefeitura uma trilha de caminhada, gramado com espelho d´água, arquibancada, playground e principalmente a preservação das áreas verdes, a entrada e a casa tombada. Os integrantes do Movimento Parque Augusta que seguem acompanhando o projeto falam que sempre pensaram e desejaram que o parque nasça e se mantenha por meio de um processo de ação coletiva. Colégio Des Oiseaux abandonado no terreno do Parque Augusta Porém, “na prática é um desafio que pós anos de disputas, a pre- advogado Silvio Rodrigues. “Nessa al- isso aconteça porque a cidade não disfeitura de São Paulo assinou, tura, com a área sendo negociada pelo põe de uma legislação para essa aplicaem 10 de agosto, um acor- então proprietário com as construto- ção. Esse é o processo que temos pela do com as construtoras ras Cyrela e Setin, o decreto de uti- frente, que é um horizonte nebuloso e Setin e Cyrela, detentoras do terreno lidade pública iria caducar em pouco de disputa”, diz Augusto do futuro Parque Augusta. O acordo tempo. Paulo Andrade e eu decidimos, O Parque Augusta foi uma prevê que as companhias doem o lote, então, acionar o Judiciário por meio de grande vitória para os ativistas e moconstruam e cuidem da área. Em tro- uma Ação Popular. Eu como autor, ele radores do bairro. E se tornou um preca, as empresas devem receber títulos como advogado”, diz Silvio. Após o iní- cedente para outras áreas verdes pride potencial construtivo e assim o cio da ação popular, a luta continuou vatizadas de São Paulo, por usar pela direito de construir em outras áreas com o Movimento Parque Augusta e primeira vez a transferência de potenda cidade. O acordo contou com a com moradores da região. “A Ação cial construtivo. “Sinto que essa vitória anuência do MP, da prefeitura (e suas tomou fôlego quando um arquiteto já traz alegria, otimismo e força para secretarias), de autores de ações po- ativista, Augusto Aneas, foi falar pes- outras áreas verdes que estão em dispulares, das associações de bairro e de soalmente com o Silvio Marques, da puta na cidade. Mais uma possibilidade moradores mais representativos que Promotoria de Justiça do Patrimônio para torná-las públicas. E ao longo dos já vinham lutando há anos pela desa- Público e Social da Capital”, acrescen- próximos meses, vamos percebendo o propriação da área. tou o advogado. impacto do Parque Augusta sobre es“O acordo foi co-criado com Para Silvio Rodrigues,“as maio- sas outras lutas”, diz Augusto, que tamo Movimento Parque Augusta. A gente res dificuldades enfrentadas foram a bém participa de um projeto que ensempre foi contra o ato anterior, em discordância do Ministério Público globa outros parques da cidade. Silvio que ocorreria a permuta do terreno e com o pedido e a entrada no processo Rodrigues conclui: “Um bom acordo é a ideia de desapropriação, justamente das construtoras como terceiras in- sempre melhor que uma demanda inporque queríamos buscar alguma saí- teressadas”. Augusto Aneas completa: terminável”. da que fosse também um precedente “Por conta da ação de protocolo aberpara outras áreas verdes na mesma ta na Subsecretaria de Assuntos Admisituação. Com outros urbanistas, iden- nistrativos - SAAD e o aumento do tificamos que a saída mais justa seria a IPTU da área, o movimento achou uma transferência do potencial construtivo saída favorável para pressionar, nos úlpara a área”, disse o arquiteto e urba- timos meses, as empresas para que o nista Augusto Aneas, que faz parte do acordo de transferência do potencial movimento desde 2013. construtivo fosse aplicado”. A processo de expropriação Assim, após três propostas de do parque vem sendo negociado há negociações não aceitas por um dos quase 50 anos, porém ganhou maior lados, o acordo foi finalmente fechado. expressão quando o “pedido popular” Agora a Secretaria Municipal de Urbavirou uma Ação Popular, escrita pelo nismo e Licenciamento disse que há Foto aérea do terreno tirada do Hotel Cad’oro
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Transporte para todos A revisão das políticas de mobilidade urbana segue como um desafio para a cidade de São Paulo
Ônibus do Terminal Campo Limpo diariamente lotados, principalmente nos horários de pico Luisa Scavone
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m dos principais desafios dos gestores que comandam a cidade de São Paulo é a mobilidade urbana. Por isso, a prefeitura e o governo do estado continuam investindo na expansão do sistema de transporte, do qual faz parte a rede de metrô, com o intuito de minorar os efeitos do trânsito. A grande melhoria feita na cidade, no setor de transporte coletivo, foi na época da Copa do Mundo no país, em 2014. Houve melhorias, por exemplo, da frota de ônibus. Passaram a ser comprados vários veículos com ar condicionado, tomada USB para carregar celular, além do aumento no tamanho. Porém, as pessoas ainda sofrem com a superlotação dos mesmos e muitas não chegam ao destino apenas com transporte público, sendo necessária uma caminhada complementar. Gabriela Oncins, 18 anos, estudante de administração do IBMEC, se desloca pelo ônibus “669-10A”, que percorre a Av. Paulista, passando pela Av. Brigadeiro Luís Antônio e tem como destino final o bairro de Santo Amaro. Ela alega pegar o ônibus sempre lotado, beirando o insuportável. Em hora não movimentada, ele passa de 15 em 15 minutos e, em hora de pico, demora em média 7 minutos entre um e outro. “Por mais que os corredores tenham ajudado, o caminho
otimizar sua utilização, mas que não podemos esquecer outros modos de deslocamento, cuja infraestrutura precisa ser melhorada: calçadas para pedestres e ciclovias. “São muitas áreas e departamentos, seja de planejamento, educação e operacional auxiliando nas soluções para melhorar a mobilidade das pessoas na cidade”, conta. O arquiteto Marcio Cotrim afirma, também, que existem inúmeros problemas, mas que, além do limitado alcance do transporte público somado ao enorme número de automóveis, outro problema grave, ainda mais difícil, diz respeito ao tipo de cidade que criamos: “Áreas periféricas distantes são destinadas às pessoas de menor poder aquisitivo, que necessitam de transporte público para trabalhar nas zonas mais centrais da cidade, gerando um movimento pendular em determinadas horas do dia”. Para ele, uma solução do problema de lotação dos ônibus seria ampliar as frotas e as rotas: “Não há outra saída”, diz, além de apontar que torná-los mais suficientes e articulados, melhorando o serviço, traria resultados. Acrescenta que, em relação ao incentivo do uso de transporte, a solução seria apertar os espaços de automóvel, além de ampliar e articular o serviço de transporte público.
tem asfalto em péssimas condições”, diz a estudante. Ônibus que percorrem grandes distâncias com início e fim de trajeto muito povoados precisariam ser maiores e passar com maior frequência. Como, por exemplo, a linha que liga o centro da cidade com o Campo Limpo, local onde residem muitas pessoas que trabalham longe de suas moradias. Os ônibus que percorrem essa linha, no geral, estão bem conservados e são grandes. Por mais que passem, em média, de 10 em 10 minutos, não são suficientes, principalmente em hora movimentada. O trajeto sai do centro, passa pela Rua da Consolação, Av. Rebouças, Av. Prof. Francisco Morato, com ponto final no Terminal Campo Limpo. Segundo uma funcionária da CET que não quis ser identificada, o maior problema da mobilidade urbana encontra-se na quantidade de pessoas: “Soma-se a isso o uso do solo. As pessoas precisam se deslocar porque não têm emprego próximo a sua casa, ou hospitais, escolas. A infraestrutura da cidade é incompatível com a população e sua demanda”, diz. Ela acrescenta que, para solucionar o problema da lotação de ônibus, deve haver uma maior integração com os sistemas de média e alta capacidade, como metrô e trem. A funcionária da CET afirma que algumas das ações da companhia se voltam para o uso do sistema viário durante as 24 horas do dia, tentando Livros e celulares amenizam tempo nos ônibus
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Grito de uma nota só Organizadas e PM seguem discordando sobre a implantação da torcida única nos clássicos de SP Luiz Baptista
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m abril de 2016, após o confronto premeditado entre as torcidas organizadas Gaviões da Fiel e Mancha Alviverde, ocorreu a morte de José Sinval Batista, 53 anos. Ele não fazia parte da briga, apenas passava no local. Após o incidente, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em conjunto com Polícia Militar, Ministério Público e Federação Paulista de Futebol, determinou a implantação da torcida única nos jogos entre os grandes clubes do estado: Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos. Com essa medida já em vigor, no período entre abril de 2016 e abril de 2018, três mortes foram regis- Palmeirenses entram no Allianz Parque para o clássico contra o Corinthians em setembro deste ano tradas em dias de clássico na capital. A reportagem ouviu o Major medida tenha previsão para terminar. Entretanto, vários dos conflitos que ocorriam dentro dos estádios pas- Paulo Vilariço, do 2º Batalhão da Polícia Esse tipo de torcedor organizado, que saram a ocorrer nas imediações dos Militar de São Paulo. Para ele, a medida na verdade é um criminoso, é que esestádios e nas estações de Metrô. As foi acertada: “Com o fim da necessida- traga o futebol. Eles se odeiam. São iniprincipais torcidas uniformizadas do de de escoltas para a torcida visitante, migos e não conseguem conviver com estado – Gaviões da Fiel (Corinthians), a distribuição dos policiais foi benefi- o rival. Por isso, têm de ser separados Mancha Alviverde (Palmeiras), Tricolor ciada em torno do estádio e em outra para que não causem problemas a ouIndependente (São Paulo) e Torcida regiões que demandam mais cuidados. tras pessoas sem nenhum envolvimenJovem Santista (Santos) – se posicio- Além disso, após a medida, as famílias to”, diz o major. Já para Rodrigo Gonzales Tapia, naram contra tal medida desde que foi se sentiram mais seguras para frequentar os jogos”. Quando perguntado se presidente da organizada Gaviões da anunciada. “O que, em minha opinião, a medida surtiu o efeito esperado e Fiel, a maior entre as vinculadas ao Coajudaria o problema da violência nos se existe alguma previsão em relação rinthians, em entrevista dada ao jornal estádios seria um maior comprometi- à volta da torcida visitante nos clás- Lance! em 3 de abril de 2018, a medida mento por parte das autoridades com- sicos, ele não foi muito otimista: “Al- não foi contundente: “Os Gaviões da petentes. A Polícia Militar é muito mal guns torcedores continuam marcando Fiel são totalmente contra a medida de preparada para trabalhar nos estádios. brigas com torcidas rivais via internet. torcida única. Essa punição tira o cliA segurança dentro destes deveria ser E seguem levando consigo objetos ma de festa e a empolgação dos torrealizada apenas por profissionais de- proibidos aos estádios, o que também cedores que estão nas arquibancadas. vidamente preparados para isso”, diz mostra a falta de respeito deles com O principal papel que a torcida exerce dentro do estádio de futebol é levar o Fernando Silveira, 39 anos, empresário as normas”. A posição da PM-SP pare- seu time até a vitória, infelizmente as e ex-dirigente da torcida organizada Tricolor Independente, a maior entre ce clara. Na visão da corporação, os autoridades que entendem esse nosso as do São Paulo Futebol Clube”. Quan- torcedores uniformizados, enquanto mundo, nos tiraram o direito de ocudo indagado a sobre de que maneira existirem, serão sempre a causa da par o nosso lugar, a arquibancada”. A Secretaria de Segurança Púas organizadas poderiam tentar a volta violência no futebol. “Por experiência blica de SP também foi contatada pela de mais de 17 anos na corporação, da torcida visitante nos clássicos, ele prossegue: “Acredito que todas as tor- posso dizer que houve uma mudança reportagem para expor seu posicionacidas estão contrárias a essa proibição, no público dos jogos. Há um público mento sobre o tema, mas não houve mas daí até haver uma união entre os diferenciado, com mais família, mas, resposta até o fechamento desta remesmo assim, não acredito que essa portagem. elas, acho bem complicado”.
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