JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - ANO XXII - ED. 243 - JUNHO / 2022
LEIA TAMBÉM: CENTROS DE TREINAMENTO VOLTAM A TER PÚBLICO - p. 2
A MÁSCARA AINDA É NECESSÁRIA? - p. 3
VENDAS PELAS REDES CONQUISTAM ADEPTOS - p. 5
PINACOTECA RETOMA ATIVIDADES - p. 6
PORTUGUESA RECUPERA POSTO NA ELITE - p. 7 CIGARRO ELETRÔNICO É AMEAÇA À SAÚDE - p. 8
EM ANO DE ELEIÇÕES, OS JOVENS MOSTRAM SUA FORÇA
ESPORTES DE AREIA GANHAM PRATICANTES - p. 9 INFLAÇÃO ASSUSTA NOVAMENTE - p. 10 VALE DO ANHANGABAÚ TEM NOVO VISUAL - p. 11
Por Maynara Mendes e Renata Cipili - p. 12
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O público dos CTs está de volta Torcedores e profissionais de imprensa já podem acompanhar novamente os treinos dos times de futebol Gustavo Francisqueti
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epois de quase dois anos de pandemia sem nenhum tipo de contato, os jogadores e suas torcidas já podem se encontrar em estádios e Centros de Treinamento. As visitas aos CTs foram proibidas durante boa parte do período de maior intensidade da pandemia, mas desde janeiro de 2022 já é possível olhar de perto os treinos que são abertos ao público. As restrições também valiam para jornalistas, que precisavam desvendar escalações e tentar de alguma forma saber notícias sobre os times. Isso gerou uma série de dificuldades para esses profissionais. Vicente Manoel da Silva, 58 anos, é um dos porteiros do CT do Corinthians, que, assim como outros grandes times da capital paulista, fica na Barra Funda, zona oeste da cidade. “Durante a pandemia, muitos foram impossibilitados de trabalhar, sem poder fazer o que fazem todos os dias e que lhes dá o pão de cada dia”, diz o profissional. Mas ele ressalta que, mesmo com as restrições, o time continuou pagando integralmente o salário de todos os colaboradores do CT. Vicente é um dos três porteiros diurnos e trabalha no local há 16 anos. “Desde 2006 nunca tinha passado por nada disso, não podia sair da minha casa e muito menos trabalhar, mas, graças à vacina, depois de mais de 2 anos estou podendo fazer o que eu gosto e ver os jogadores todos os dias”, afirma. Com a volta do público em geral, também vieram à tona, mais uma vez, alguns problemas do time. Quatro meses depois da volta, o time recebeu um grupo da sua maior torcida organizada, a Gaviões da Fiel, em um protesto acompanhado de visita, cobrando todos os jogadores e comissão técnica. Isso gerou indignação em uma parte dos trabalhadores do CT. “Ficamos um bom tempo sem nenhum tipo de contato com os jogadores e com o CT. Eu ainda voltei um pouco antes, pois mesmo com a pandemia os jogado-
O retorno do público também garantiu o ermprego dos funcionários nos CTs (Unsplash)
res estavam treinando normalmente e fui escalado para fazer meu trabalho. Mesmo depois desse tempo todos torcedores comparecem para rebaixar seu time ao invés de prestigiá-lo dentro de campo”, diz o funcionário, para completar em seguida: “mas também entendo a cobrança da torcida, é normal”. Outro problema é o risco do contágio, mesmo sendo obrigatório ter no mínimo duas doses da vacina para poder ir ao CT. Por mais que a pandemia tenha dado algum sossego aos brasileiros, o vírus continua rondando todos que fazem parte dessa rotina de treinos e jogos. Em abril, por exemplo, o técnico do Corinthians, Vitor Pereira, teve contato com o vírus e teve que se isolar em quarentena, não podendo comandar seu time à beira do gramado. Vicente, que todos os dias vê os jogadores e a comissão técnica, diz: “é uma pena que, mesmo com tanto tempo e com a vacina, o vírus ainda continue se espalhando mais e mais por aí”. Em dias da semana, quando o Corinthians não joga como visitante, tendo que viajar, alguns treinos são liberados para o público pode ver de perto seus ídolos e seu time do coração, como nos contou Cristiano Sevieri, de 28 anos, ex-fotógrafo oficial do Corinthians e também torcedor roxo, que continua acompanhando o time, mas
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por conta própria: “É muito legal essa interação entre torcida e time também nos CTs. Tem gente que vem de muito longe, até de outro estado, para acompanhar o treino, vendo aquilo que ele ama de perto, pois muitas vezes não tem condições de ir ao estádio devido ao alto valor dos ingressos”, diz ele. “A equipe do Corinthians sabe trabalhar essa questão de torcida e time, e não só em momentos bons, mas também agora, na vinda da Gaviões para cobrar resultados. Tem clubes que não autorizam a ida de torcedores para acompanhar os treinos”, completa.
Jornal-Laboratório dos alunos do 2o semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As reportagens não representam a opinião do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mas dos autores e entrevistados. Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Comunicação e Letras Diretor do CCL: Rafael Fonseca Coordenador do Curso de Jornalismo: Hugo Harris Supervisor de Publicações: José Alves Trigo Editor: André Santoro Impressão: Gráfica Mackenzie
A nova era da máscara Com a ampliação da cobertura vacinal, o uso do acessório se torna uma decisão pessoal Gabriel Belitz e Julia Dias
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o dia 17 de março de 2022, o uso de máscaras passou a ser livre em todos os ambientes na cidade de São Paulo, exceto no transporte público e em unidades médico-hospitalares, após um decreto da Prefeitura. Muitos comemoraram essa decisão, como o cuidador de idosos Jefferson Ribeiro, 32 anos, que comentou: “uso no transporte público só porque é obrigatório ainda. Hoje em dia a situação está mais controlada, só acho que precisa mesmo em hospital”. Todavia, houve uma divergência de opiniões sobre essa decisão, pois parte da população pensa ser uma liberação precipitada, ainda mais os profissionais que
atuam em instituições de saúde. “No Hospital São Luís Gonzaga, na ala neonatal, é preciso o triplo de cuidado, jaleco em cima de jaleco, óculos em cima de óculos. Encostou em alguma coisa tem que passar álcool em gel, caiu alguma coisa no chão, deixa que alguém pega depois, não dá para brincar”, diz Thalita Ribeiro, 23 anos, estudante de fonoaudiologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Muitas pessoas têm usado a máscara de forma incorreta ou nem usado nos lugares ainda exigidos, e isso causa um grande desconforto em quem é obrigado a conviver no mesmo ambiente. A diarista Maria da Penha Guimarães, 72 anos, relatou que não se sente segura em estar no mesmo lugar com pessoas
O uso de máscaras no transporte público não é seguido por todos (Foto: Julia Dias)
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sem o acessório. “Estou usando e a pessoa do meu lado não, aí não ajuda. Já que é para usar, todos teriam que fazer o mesmo”. Há uma concordância por parte de diversos cidadãos, muitos citando que não convém apenas alguns respeitarem o decreto do uso da máscara e que a proteção de todos deve vir junto com a colaboração de pensar no próximo, mesmo que grande parte da população brasileira esteja vacinada. Sabemos que a pandemia de covid-19 chegou de surpresa e que muitos brasileiros tiveram sua rotina e realidade modificadas devido à presença do vírus em nosso dia a dia. O distanciamento social, o uso do álcool em gel e a máscara se tornaram parte do cotidiano de cada
O protocolo de limpeza das estações é seguido pelos funcionários, mas a proteção individual ainda é muito importante (Foto: Julia Dias)
indivíduo para o vírus não se espalhar cada vez mais. Dentre esses parâmetros, os brasileiros tiveram que se adequar cada vez mais às normas de higiene, considerando a proporção que o coronavírus estava tomando no nosso país. Em muitos casos, os cidadãos podem se sentir desconfortáveis com o uso prolongado da máscara, por conta do elástico atrás da orelha, ou, como no caso do modelo PFF2, atrás da cabeça, a maior sensação de sede e a perda de três a cinco decibéis na fala, entre outros fatores. Mas muitos, especialmente após a liberação por parte da Prefeitura, deixaram de usar com frequência. Cintia Aguiar, 39 anos, trabalha na bilheteria do Metrô e fala sobre o uso da máscara. “No início, por conta de falta de costume, incomodava, porém virou um equipamento do cotidiano, e sempre temos uma de reserva”. Além disso, ela comenta sobre as outras pessoas que não utilizam mais o acessório no transporte público e em locais fechados, ou que usam de modo inadequado. “O uso parcial da máscara, abaixo
do nariz, acho que é a mesma coisa que não fazer o uso dela, tanto na via pública ou no transporte, então assusta em ver e saber que aquela pessoa está prejudicada por si só”. Cintia Aguiar complementa que faz parte do movimento antivacina por razões e questões que fazem ela acreditar em tais conceitos, mas mesmo quando a pandemia
chegou no Brasil, diz que se sentiu assustada e surpresa. Para proteger seu filho e parentes que fazem parte do seu convívio, ela optou por se garantir e tomar a vacina contra a covid. Mas “com muita resistência”, como ela mesma diz. “Tomei as duas, a terceira dose ainda não tomei, mas devo tomar em breve por conta do meu ofício”, diz.
O Metrô de São Paulo ainda exige a utilização da máscara (Foto: Gabriel Belitz)
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Jovens apostam em vendas pelas redes A pandemia e a facilidade de uso da tecnologia aceleraram o processo nos últimos anos Eduardo Saliby Salomao
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om o avanço da tecnologia, a ideia de e-commerce se tornou algo muito mais presente na vida de todos. E os jovens enxergam nas vendas pelas redes sociais uma forma de conseguir renda e consolidar de suas próprias marcas. A facilidade de lidar diretamente com o cliente é responsável por quebrar a barreira do SAC de grandes lojas. Segundo dados da pesquisa feira pela All iN | Social Miner, 86% dos brasileiros já possuem como costume fazer compras online. Cerca de 37% das pessoas fazem pelo menos uma visita por mês em lojas online buscando ofertas que lhe agradem e 23% fazem isso semanalmente. A pesquisa ainda levanta o dado de que as classes A e B são as que mais possuem esse costume, com 75%, enquanto que as classes C, D e E vêm um pouco mais atrás, com 65%. O Instagram é a rede social preferida para quem busca comprar, com 62%, seguida pelo Facebook, com 61%, Google Shopping, com 61% ,e WhatsApp, com 37%. Thiago Semmler Semkovski, 20 anos, é um estudante de administração que mantém uma loja de roupas chamada Just a Pack. Ao ser questionado sobre os motivos que o levaram a criar o comércio digital – no caso dele, pelo Instagram –, ele comentou: “com o avanço do e-commerce, principalmente na indústria da moda, somado ao fato de eu ter inaugurado minha marca em meio à pandemia de covid-19, não vender online seria um erro”. Uma outra questão abordada na entrevista foi a respeito de um possível receio que as pessoas têm de comprar pelas redes sociais. “Acho que pessoas com idade mais avançada podem ter uma resistência maior para comprar à distância, mesmo isso sendo cada vez mais comum”, afirma. Outro assunto recorrente foi a presença de grandes marcas vendendo seus produtos pelas redes sociais. E a sua resposta foi clara a respeito disso: “o
e-commerce na indústria da moda já é uma realidade. Grandes marcas como Gucci, Prada e Balmain já realizam tanto desfiles quanto a comercialização de suas peças exclusivamente online.” Para finalizar a entrevista, uma pergunta de cunho pessoal: ele acredita que dá para tirar uma renda satisfatória com esse sistema de vendas? “Com certeza! Com a comercialização de produtos por redes sociais, muitos custos são cortados e a experiência do cliente se torna mais dinâmica”, diz o estudante. Outro jovem que cedeu seu tempo para responder nossas perguntas foi Thomas Arnold Engel, 21 anos, estudante de Design Gráfico Ao ser questionado sobre o motivo que o levou a criar seu negócio de estampas para roupas, ele comentou: “foi para começar a arrecadar dinheiro para uma
independência financeira e aprender a administrar meu próprio dinheiro, tempo e negócio”. Sobre a resistência que as pessoas ainda têm em comprar produtos online, sua resposta foi: “sim, principalmente roupas, pois a maioria prefere experimentar o produto antes de comprar”. Sobre as grandes marcas investirem nesse modelo de vendas, sua resposta foi a seguinte: “Com certeza, principalmente com a pandemia e a ascensão de compras online e pequenos negócios”. Já no final da entrevista, para finalizar o bate a papo, a pergunta foi sobre se ele enxergava a sua loja como uma forma de renda satisfatória. “No momento, não, serve mais para complementar uma renda já existente, mas está longe de render uma boa quantia mensal”.
Os jovens ainda são o principal público do e-commerce (Foto: FreePik)
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A Pinacoteca volta a respirar Tradicional ponto cultural de São Paulo recebe exposições de destaque, como a de Adriana Varejão
Obra em que Varejão se baseia num painel de azulejaria (Foto: Bethânia Machado) Bethânia Machado e Isadora Giroldi
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m dos setores mais afetados pelo isolamento social durante a pandemia do coronavírus foi o cultural. Exposições, shows, peças teatrais e eventos em geral tiveram de ocorrer de formas alternativas durante esse período. Atualmente, após o avanço da vacinação e sem as medidas restritivas, a cultura retoma os encontros presenciais e a programação da cidade começa a voltar ao estado pré-covid. A Pinacoteca de São Paulo, que é um dos espaços de exposições mais importantes da cidade, apresenta as obras de Ayrson Heráclito em uma mostra que representa a força de mitologias africanas que chegaram no Brasil a partir da escravidão de diversos povos, principalmente a partir do século 19. Na seleção de obras, o artista baiano destaca diversas culturas, abarcando os mitos yorubanos em uma combinação cultural de saberes ancestrais, ensinamentos e visões de mundo distintos que fazem parte das matrizes religiosas e culturais do candomblé. Disponível até agosto, a exposição reúne 63 obras, com instalações,
fotografias, performances e registros, abordando as feridas deixadas pela história colonial. A entrada é gratuita. O músico Gustavo Maciel, 36 anos, aproveitou o último feriado para visitar o local. “É muito legal ver um artista brasileiro falando sobre arte e religiões de matrizes africanas em espaços públicos, como aqui na Pinacoteca. A exposição muda a nossa energia, fazendo analisar bem a história do Brasil e entender quem realmente construiu com sangue a identidade cultural do nosso país”, diz. Felipe Foltran, 20 anos, estudante de História, se impressionou com o trabalho do artista. “A exposição Yorùbáiano remete ao trauma da escravidão e refaz a memória para secar feridas históricas ligadas à exploração dos corpos e ao silenciamento das culturas afro-diaspóricas”, diz o estudante. Ele acrescenta: “Realmente a cultura africana é linda, a utilização dos materiais orgânicos na religiosidade do candomblé faz os elementos serem potentes para transmutar toda dor do passado colonial, que impediu de trazer as raí-
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zes e reduziu todo o conhecimento como uma feitiçaria ou macumba”. Outro evento que chama a atenção do público e tem recebido diversas visitas é a exposição panorâmica de Adriana Varejão. É a mostra mais abrangente já realizada sobre o trabalho da artista, reunindo um conjunto de mais de 60 obras, produzidas de 1985 até 2022. Sua obra põe em pauta o exame reiterado e radical da história visual, das tradições iconográficas europeias e das convenções e códigos materiais do fazer artístico ocidental. As obras ocupam sete salas da Pinacoteca, também ficará disponível até agosto de 2022 e inclui desde as primeiras produções até as recentes pinturas tridimensionais de grande escala produzidas pela artista. “O trabalho de Adriana revisitando elementos de nossa história colonial e a transformando em um poço de significado, cheio de caminhos e reflexões, é fascinante”, diz a publicitária Fernanda Mesquita, 29 anos. A exposição, segundo ela, é ótima para passar um dia com a família e conhecer melhor os artistas nacionais. “Já acompanho a artista há algum tempo, mas ela sempre surpreende, vale cada minuto”, afirma. Apesar do fim das medidas restritivas de combate à pandemia, a Pinacoteca incentiva o uso contínuo de máscaras no local, bem como aconselha a manter o distanciamento. Além disso, é necessário apresentar o comprovante de vacinação na entrada. “Para mim ainda é cedo essa liberação, me sinto mais confortável mantendo a máscara e encontrando meus amigos em número reduzido e em lugares com boa ventilação”, afirma o estudante Felipe. Ele completa: “mas há momentos em que podemos ser mais flexíveis, como para prestigiar o setor de artes, que está sendo bem prejudicado com o distanciamento social e com decisões prévias do governo federal”.
A volta de um gigante Como a Portuguesa vem se reerguendo no futebol nacional após mais de oito anos longe da elite João Pedro Benedetti e Luca do Amaral
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á pouco mais de 100 anos surgia em São Paulo um dos cinco maiores clubes da capital, a Associação Portuguesa de Desportos. O clube fundado em 1920 construiu sua tradição através de títulos e revelações de grandes jogadores. Basílio, Dener, Djalma Santos e Zé Roberto são alguns dos craques revelados pela Lusa. Entretanto, a história e a tradição não foram suficientes para manter o time na elite do futebol. No ano de 2013, a Portuguesa foi rebaixada no campeonato brasileiro em decorrência de uma inscrição irregular de um atleta. Os quatro pontos perdidos ocasionaram o rebaixamento. De acordo com Everton Calicio, 36 anos, vice-presidente de comunicações da Lusa, o ocorrido, que ficou conhecido como “Caso Heverton”, foi apenas o estopim para a decadência do clube: “Não adianta a gente dizer que foi só culpa deste caso. A Portuguesa também fez por onde para chegar nesse lugar tenebroso”, afirma o cartola. Contrariando as expectativas, a Portuguesa não conseguiu se recuperar rapidamente da queda de divisão. Para o estudante de administração e torcedor lusitano Yuri Gomes, 22 anos, a recolocação na série A do campeonato brasileiro seria rápida, devido ao histórico do clube: “nos anos 2000 e 2010, a Portuguesa chegou a cair algumas vezes, mas voltou em seguida. Além disso, nunca tinha caído mais de uma divisão”. Mas a história foi reescrita de maneira diferente. Em 2014, o clube foi rebaixado para a série C do brasileiro e, em 2015, para a série A2 do estadual. Após alguns mandatos conturbados, Antônio Carlos Castanheira foi eleito o novo presidente da Portuguesa em 2019. “Quando ele chegou aqui, todas as contas estavam 100% bloqueadas. Chegamos a usar contas pessoais para pagar algumas dívidas do clube”, afirma Calicio. Desde então, vem sendo feita uma mudança estrutural no clube, viabilizando a ascensão no âmbito esportivo, mas sem descuidar do lado
Com 13 vitórias, seis empates e uma derrota, a Lusa tornou-se campeã da série A2
financeiro. Enfim, depois de oito anos de espera, luta e sofrimento, a rubro-verde conseguiu retornar à elite do futebol paulista com uma campanha excepcional. Foram treze vitórias, seis empates e apenas uma derrota, além de ter o melhor ataque e a melhor defesa do torneio. No dia 17 de abril deste ano, venceu o São Bento na final pelo placar agregado de 3x1, sagrando-se campeã da série A2 do estadual e garantindo o acesso ao Paulistão do ano de 2023. Tal título tem uma importância especial para os lusitanos. Segundo Gabriel Gonçalves, 21 anos, estudante de jornalismo e torcedor da Portuguesa, “o título da série A2 e o acesso ao Paulistão foram as conquistas mais importantes da Portuguesa nos últimos 10 anos. Nós, torcedores, precisávamos desse título, estávamos cansados. Ele nos colocou de volta na elite e mostrou que a Lusa não vai acabar”. A conquista trouxe novos ares
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ao clube, e a expectativa para os próximos anos é continuar a restruturação esportiva e financeira para que a Portuguesa se mantenha na elite estadual e busque vaga nos campeonatos nacionais. Como combustível para este processo, foi aprovado recentemente no COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) o projeto da criação da SAF (Sociedade Anônima do Futebol), que possibilita a transformação dos clubes em empresa. “A ideia é desmembrar o clube social da área do futebol para atrair investidores”, diz Everton Calicio. Na visão das pessoas sem vínculo com o clube, a Portuguesa realmente correu o risco de fechar as portas. Entretanto, para os torcedores, essa possibilidade nunca existiu. “A Portuguesa enverga, mas não quebra”, brinca o vice-presidente. Com expectativas otimistas para o futuro do time, a Portuguesa deve retornar ao lugar que sempre pertenceu: a elite do futebol nacional.
Um vício a ser combatido Cada vez mais utilizados por jovens, cigarros eletrônicos podem ser tão prejudiciais quanto os tradicionais Juan Montenegro
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s cigarros eletrônicos são a nova moda entre os jovens. De acordo com o Hospital Oswaldo Cruz, no Brasil 10% da população tem o vício de fumar cigarros – de qualquer tipo –, sendo 100 mil adolescentes. O custo dos produtos que são cada vez mais vistos nas mãos dos brasileiros. Os modelos mais simples custam cerca de 60 reais, mas os mais sofisticados podem pasar de 600. A grande questão é se quem os consome tem noção das consequências que isso pode causar. E, afinal, o que há de tão interessante nos vaporizadores? A psicóloga clínica Alessandra Cieri, 40 anos, explica a uma possível dependência ou mesmo a vontade dos jovens: “o cigarro eletrônico pode representar a válvula de escape para a ansiedade e outras emoções desagradáveis, já que causa relaxamento, tornando-as mais toleráveis”. Ela ressalta também o impacto da pandemia: “devemos considerar que, especialmente nos dois últimos anos, os índices de ansiedade, depressão e estresse aumentaram significativamente, o que pode motivar a busca desses subterfúgios”. E completa falando sobre a influência de outras pessoas nessa idade. “Durante a juventude, a influência dos amigos e pessoas de referência tem um grande poder. Essa é justamente a fase da vida em que o jovem está construindo sua identidade, buscando pertencimento e vivendo um processo de descobertas”, diz a especialista. A jovem Rafaela Tagashira, estudante universitária de 18 anos, conta que foi com os amigos que começou a fumar. Desde 2020, ela diz que acumula 13 vaporizadores comprados, todos de 60 a 150 reais. Gabriel Frota, 21 anos, estudante de administração, optou por menos dispositivos, porém de maior qualidade. Sua primeira vez fumando foi há quatro anos, quando ele adquiriu três unidades: a primeira por 150 e as outras duas por 250 cada. Ambos os jovens dizem não serem viciados.
Os jovens geralmente começam a utilizar por influência do grupo
Um estudo realizado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA) mostra que os cigarros eletrônicos podem ser tão prejudiciais como os normais, danificando as células com apenas 30 minutos de uso. Em relação a isso, os dados nos últimos anos preocupam. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva mostra que houve uma grande queda no número de tabagistas que aderiram ao tratamento gratuito disponibilizado pelo SUS em todas as regiões do Brasil, sendo o menor número de 59% do Norte, com uma média no total do Brasil de 66%. Outra dúvida frequente e polêmica sobre cigarros eletrônicos é se sua venda e uso são permitidos. Não há nenhuma lei que proíba o uso dos chamados “vapes”, mas, em 2009, a Anvisa proibiu a importação, a comercialização e a propaganda dos dispositivos. Apesar da norma emitida pelo órgão federal, a oferta ocorre
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normalmente, inclusive em lojas de shoppings. A gestora financeira e estudante de Direito Carolina Bento, 28 anos, explica como é realizada a venda dos produtos: “comecei só varejo e tive a oportunidade de conseguir fazer atacado. Meus fornecedores são de São Paulo, mas quase todas essas coisas vêm do Paraguai”. Ela também argumenta que não há algo que proíba a venda: “é um produto embargado pela ANVISA, não é nem proibido, nem legalizado. Houve uma época que era mais rigorosa a vistoria em cima das tabacarias, mas, hoje em dia, tudo é muito mais tecnológico e seguro”. O fato é que há, atualmente, muita desinformação sobre esse asunto. A Polícia Civil de São Paulo, a Receita Federal e a Prefeitura apreenderam, no final do ano pasado, 135 mil cigarros eletrônicos e 325 mil essências, mas a comercialização ainda segue liberada na cidade.
Bola na areia Novas modalidades vieram para ficar e já fazem parte da rotina dos paulistanos
Anderson Nascimento se encontra com os amigos todas as segundas-feiras para jogar Rafael Cunha
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urante a pandemia causada pela covid-19, muitos lugares onde esportes coletivos eram praticados foram fechados temporariamente. Por isso, muitas pessoas ficaram sem ter como praticar suas modalidades favoritas. A vacinação e o controle da pandemia mudaram esse cenário e alguns esportes ao ar livre, sem contato físico, voltaram a ser liberados pela Prefeitura. Foi a partir daí que as arenas de esportes de areia surgiram e muitos paulistanos conheceram e passaram a amar esportes que, anteriormente, eram chamados apenas de alternativos. O vendedor de software Gabriel Ferreira, 28 anos, já não aguentava mais ficar sem seu futebol semanal durante o período de quarentena, até que descobriu a abertura das arenas no meio da pandemia e se apaixonou pelo futevôlei. “Eu estava chateado, nem sabia mais como era tocar numa bola direito. Lembro quando me chamaram
para jogar futevôlei pela primeira vez. Eu estava parado e foi muito difícil no começo, mas logo me identifiquei e resolvi me desafiar, já que era o esporte mais próximo do futebol no momento”, diz. Ele completa: “hoje em dia sou apaixonado por esse esporte, jogo no mínimo 3 vezes por semana e até já participei de alguns campeonatos. Praticamente moro no Arena Estação do Tatuapé, faço até home office por lá. Ah, e o futebol agora quase não jogo mais. Acho que não gosto mais de jogos de contato”. Os mais praticados nas arenas são o futevôlei e o beach tênis, porém há também muitas pessoas que jogam o velho conhecido vôlei de praia. Todos os três esportes são praticados com quatro pessoas em quadra, sendo dois em cada lado da rede. O beach tênis é muito parecido com o tênis de duplas em quadra normal, mas tem bolas e raquetes adaptadas e a bola não quica, pois quando cai na areia a jogada se encerra. Já o futevôlei é muito parecido com o vôlei de praia, pois é jogado com
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até três toques intercalados pela dupla. A diferença principal é que os jogadores não utilizam as mãos e os braços. Além disso, no futevôlei o saque é feito com os pés e a rede é um pouco mais baixa do que a de vôlei de praia. Os esportes de areia mudaram a vida de muitas pessoas, tanto fisicamente quanto financeiramente. Herbert Branco, 33 anos, mais conhecido como Bob nas arenas, era professor de educação física e já praticava futevôlei antes da pandemia. A onda de abertura de novas arenas em São Paulo, somada à sua experiência, o levou a se tornar professor de futevôlei. Ele afirma que essa foi a sua melhor escolhas. “Sempre tive carinho pelo futevôlei, mas antes era um hobby, não enxergava como um trabalho. Quando fui convidado para ser professor, aceitei logo e mudei minha vida. Hoje o mercado está cada vez maior e isso só me passa mais segurança e me deixa mais otimista”, diz. Bob ainda exalta o esporte e seus benefícios: “o futevôlei é dinâmico, pois exige muito da técnica e capacidade física do atleta. Quem pratica tem um grande gasto calórico. Além disso, é muito divertido, democrático e com baixo risco de lesões, já que não tem contato”. A maioria dos espaços onde as quadras estão localizadas não se limitam apenas à prática dos esportes na areia, pois também têm áreas para prática de exercícios funcionais, bares, lanchonetes, lojas, food trucks e até espaços para pets. Para Marcelo Rei Pires, 29 anos, um dos donos da arena Éssipê, localizada na Barra Funda, a inauguração foi a realização de um sonho e o sucesso que ela tem é fruto de um empreendedorismo visionário e muito trabalho, principalmente por ter aberto as portas no meio da pandemia. “Com a vinda da pandemia foram surgindo cada vez mais arenas de esportes de areia. Eu e meus sócios já praticávamos futevôlei e, então, tivemos a ideia de abrir uma arena em uma região não explorada. Nós quisemos fazer tudo o mais rápido possível para não perder essa onda dos novos esportes”, diz.
Inflação dificulta a vida dos brasileiros O custo da alimentação está cada vez mais fora do orçamento de grande parte da população Giulia Guimarães e Rafaella Mondelli
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previsão da inflação no Brasil superou todas as expectativas durante a pandemia de covid-19. Economistas afirmam que incertezas políticas e o vírus circulando pelo país pioram as chances de uma melhora nesse cenário, que poderia desacelerar a alta contínua dos preços. O Brasil está sendo muito afetado por esse problema, se tornando o 5° país a ter a maior inflação na América Latina. Segundo o IBGE, o índice IPCA já acumula uma alta de mais de 11% nos últimos 12 meses, algo que não ocorria desde 2015. Além do Brasil, o mundo acabou virando refém desse aumento dos preços de bens e serviços. Com a inflação, vem a diminuição do poder de compra, que reduz a qualidade de vida da população – especialmente as camadas mais pobres. A inflação dos alimentos foi a que mais afetou a população de baixa renda no Brasil. Em março deste ano, a cesta básica, em São Paulo, apresentou aumento de 6,36% em relação a fevereiro, custou R$ 761,19 e foi a mais cara entre as capitais selecionadas. Tendo como base o mês de março de 2021, a cesta acumulou elevação de 21,60%. Se alimentar bem nunca custou tão caro quanto em 2022, e o público que frequenta os supermercados reclama dessa alta absurda nos preços. Marcia Machado, 56 anos, diarista, explica: “parei de consumir carne, porque o quilo já está a 54 reais, então não compro sempre. Passei a consumir mais frango e salsicha, que têm um preço mais acessível”. Os preços médios de 12 dos 13 produtos que compõem a cesta básica aumentaram muito no mês de março em relação a fevereiro. Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), foram registradas elevações de preços para os seguintes itens: tomate (35,36%), batata
(15,36%), feijão carioca (8,62%), café em pó (8,31%), óleo de soja (6,69%), leite integral (6,64%), farinha de trigo (4,70%), arroz branco (4,07%), carne bovina de primeira (3,32%), pão francês (2,78%), açúcar refinado (0,95%) e manteiga (0,77%). Apenas a banana teve diminuição de preço (-8,66%). A Cesta básica impacta fortemente na camada mais pobre da população, uma vez que sua renda é destinada principalmente para a compra de alimentos. “O brasileiro foi obrigado a reduzir o consumo de certos produtos e substituiu o que pode, trocando de marcas e até mesmo de marca. O auxílio emergencial ajudou a reduzir o impacto do desemprego e inflação, mas podemos concluir que os mais pobres foram muito afetados na qualidade do que consomem e na dificuldade em levar o alimento para casa”, diz o economista Reinaldo Cafeo, 61 anos. Uma das questões mais levantadas pela população foi o por-
quê dessa inflação, como isso foi ocasionado, já que em três anos de pandemia os produtos encareceram. Não existe apenas um fator determinante nisso tudo, mas o real desvalorizado e o aumento da demanda, especialmente neste momento em que a pandemia perdeu força, são causas disso tudo. Além disso, a desvalorização do real em relação ao dólar fez com que o preço das commodities (produtos mais básicos) disparasse. O futuro do Brasil não depende só dos brasileiros, mas sim de um conjunto global. Mas o avanço nas imunizações traz esperança. “Não vejo que a economia brasileira seja a única totalmente comprometida. O fim do conflito entre Rússia e Ucrânia será o início da normalização do mercado. Projeto um 2022 ainda difícil para controle inflacionário, mas, mantendo o atual modelo econômico brasileiro, no ano que vem a inflação cairá a níveis aceitáveis”, afirma Reinaldo Cafeo.
O tomate foi um dos produtors responsáveis pela alta dos preços
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O vale está de cara nova A reforma do Anhangabaú, que custou mais de 100 milhões de reais, divide opiniões Matheus Borges e Renan Parpinelli
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esde a finalização de sua construção, em meados do século 20, o Vale do Anhangabaú tem sido um marco no centro histórico da cidade de São Paulo, tendo várias funções e desenhos. Seu atual formato foi projetado em 2007, mas as obras foram iniciadas somente em 2019, sob a gestão do então prefeito Bruno Covas, com a finalização ocorrendo mais de dois anos depois, em agosto de 2021. O intuito da prefeitura com a renovação foi tentar atrair as pessoas para permanecer mais no espaço. Para isso, o projeto conta com diversas opções para os frequentadores, como espaços laterais destinados ao comércio, ambientes de rua arborizados, além da escolha de um piso adequado às exigências da mobilidade contemporânea, facilitando o uso de bicicletas e patinetes. Há até mesmo uma nova pista de skate. A decisão da pavimentação foi muito influenciada pelos protestos feitos pela comunidade skatista para a permanência das arquibancadas utilizadas para as manobras do esporte. O governo municipal ouviu as considerações e a estrutura foi reaproveitada e integrada ao novo projeto do local. O espaço também conta com 532 árvores, sendo que 305 já existiam antes, e 177 novas espécies vegetais – embora a aridez do espaço não condiga muito com os números do projeto. Além disso, são 800 m² de área para esportes de rua e de parque infantil e 850 jatos d’água. Para finalizar, o espaço pode abrigar 2670 pessoas sentadas simultaneamente e tem mais de 300 pontos de iluminação com sistema de LED automatizado, além de 55 mil m² do novo piso. Com a reforma também surgiram questionamentos vindos tanto da população quanto de estudiosos e pesquisadores, principalmente volta-
dos ao prazo da obra, que foi adiado duas vezes em mais de 6 meses, e aos gastos exorbitantes, que passaram dos 100 milhões de reais. Quando questionado sobre como a reforma afetou seus negócios, Gustavo Oliveira, de 40 anos, proprietário de uma banca ao lado do Vale do Anhangabaú, alegou: “Os clientes diminuíram muito, pois com a reforma não havia muitos turistas, muitas pessoas por aqui. Além disso, ela demorou muito tempo para ser finalizada. E ainda estamos esperando colher os frutos, pois devido a isso as pessoas ainda estão voltando aos poucos. A gente ficou uns dois anos com baixo orçamento. Uma das opções seria aumentarmos nosso leque de produtos, mas há uma lei que limita o que devemos vender, então fazer isso não é possível”, afirma o comerciante. Em contraponto, ele afirma ter gostado do resultado, dizendo que ficou lindo, mesmo que com poucas árvores. O dono da banca espera reaver o lucro perdido durante esses dois anos com o aumento da circulação das pessoas e os sho-
ws que serão realizados no espaço. Essa é a expectativa da prefeitura, já que prevê benefícios econômicos de aproximadamente R$ 250 milhões por ano para os estabelecimentos do centro da cidade. Por outro lado, há pessoas que preferem o lugar como era antes: “Sinceramente, eu preferia antigamente. Tinha muito mais cara de parque e as pessoas ficavam mais à vontade. Era um local bem mais aconchegante, acessível e com bem mais árvores. Não quero criticar, mas é a realidade”, afirma Bruno Roberto, 35 anos, contador que trabalha próximo ao local. No entanto, ele também vê vantagens no novo espaço, pois o utiliza para trabalhar em um ambiente a céu aberto: “Desde que reabriu eu venho aqui, e tem sido um bom lugar para conversar e estudar. Eu sou da área de contabilidade, então fico aqui estudando sobre isso. Eu e meus amigos acabamos até mesmo encontrando outras pessoas da nossa área, e conversamos com elas, então fica um ambiente bem bacana. Ficamos aqui uns 15 minutos e depois vamos embora para o serviço”, conclui.
Algumas pessoas se queixam da falta de árvores no espaço após a reforma
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Os novos jovens eleitores Após mobilizações, TSE registra recorde de adolescentes emitindo o título até a data-limite Maynara Mendes e Renata Cipili
E
m outubro deste ano, o Brasil passará por novas eleições gerais e uma parcela significativa da população irá exercer o seu direito ao voto pela primeira vez. Dados do TSE indicam que, até o dia 4 de maio, prazo final para solicitação e alteração do título de eleitor, 2.042.817 pessoas na faixa etária de 15 a 17 anos emitiram o documento. Nas eleições de 2018, esse índice ficou em 1.400.613 pessoas, o que representa um aumento de 47,2%. No mês de março, após a identificação da baixa participação dos jovens, o TSE criou o movimento da Semana do Eleitor e a hashtag #RoleDasEleições em parceria com diversas empresas e com participação espontânea de jogadores e clubes de futebol, empresas como o Spotify e artistas com grande visibilidade, como a cantora Anitta, a ex-BBB Juliette Freire, a também cantora Luisa Sonza e até os atores norte-americanos Mark Ruffalo e Leonardo DiCaprio. Os resultados da ação, que aconteceu de 14 a 18 de março, foram surpreendentes nas regiões sudeste e nordeste, com mais de 30.000 novos títulos emitidos em cada uma. O índice foi maior entre as mulheres, que representaram 54,5% dos novos eleitores. Mesmo com as iniciativas, muitos jovens não emitiram seu título de eleitor, pelo simples fato de não se sentirem preparados, como é o caso da estudante Giulia Gabrielly, de 16 anos. “Eu não tirei o meu título porque acho que é uma responsabilidade muito grande nas minhas mãos”, diz ela. Giulia também falou sobre o incentivo dos artistas. “Eu realmente não sei se acho positivo eles incentivarem os jovens a votarem, porque isso é algo que tem que vir dos próprios eleitores.
Concordo que deviam comentar mais sobre esse assunto, mas não emitir a opinião pessoal deles, já que acaba criando muito alvoroço falar sobre eleição”, completa a estudante. Também há casos como o de Valentina Romero, 16 anos, estudante do Colégio Objetivo, que, assim como Giulia, não tirou seu título por ainda não se sentir apta para votar, mas acredita que a participação dos artistas nas redes é muito importante. “Eles têm que usar a voz deles para assuntos como esses, em que o futuro do nosso país está em jogo. Acho que usar a influência ajuda”, comenta. Por conta da pandemia, o TSE teve que se reinventar e uma das alternativas encontradas foi a de adentrar as redes sociais mais utilizadas por adolescentes, como o TikTok, o Instagram e o Twitter, e buscar uma forma de se comunicar, conectar e levar informações para esse público. Outra estratégia foi a
criação de um robô virtual que está à disposição de todos no WhatsApp do TSE para tirar dúvidas e combater a desinformação e as fake news. Especialistas do TSE apontam que o período da pandemia, bem como as aulas em sistema online, prejudicaram o desenvolvimento de campanhas, debates e conscientizações políticas promovidos nas escolas e universidades para mostrar ao jovem como a política está presente no seu dia a dia e a importância do seu voto. Entretanto, com a volta as aulas presenciais, muitas escolas e faculdades estão buscando influenciar os jovens a entrarem mais em contato com a política. A aluna de Direito Joanna Totti, de 19 anos, relatou: “os professores da PUC incentivam bastante os jovens a ler sobre política, e dentro da faculdade há vários grupos que organizam debates eleitorais, palestras com políticos e incentivam os jovens a ir em manifestações”, diz.
Mais de 2 milhões de jovens de 15 a 17 anos tiraram o título de eleitor neste ano
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