Universidade Presbiteriana Mackenzie - Centro de Comunicação e Letras
Publicação feita pelos alunos do segundo semestre de Jornalismo - Ano XII - Ed. 184 - Outubro 2017
Tesouros escondidos na Praça Rotary
Biblioteca Monteiro Lobato guarda acervo de literatura infantojuvenil e oferece várias atividades ao público . Página 8 Acontece • 1
Cultura para todos Projeto que busca trazer opções gratuitas ao público acontece na região central de S. Paulo Lucas Vogan
P
arei no portão, mas não havia ninguém por perto. Após alguns minutos esperando, decidi adentrar o local. Logo apareceu Alex, uma figura de aparência amigável. Eu disse que gostaria de saber mais sobre a casa, como funcionava o projeto. Alex se ofereceu de imediato para me explicar e falou que seria melhor conversarmos no escritório de comunicação. A Casa Amarela, na rua da Consolação 1075, é um casarão ocupado no centro de São Paulo que tem como objetivo prestar serviços culturais para a população. Ele encontra-se aberto todos os dias entre 14h e 22h, contando com várias atividades como oficinas de arte, aulas de teatro, aulas de fotografia, exposições de arte, festas, palestras, peças de teatro, eventos musicais, curso de inglês, curso pré-vestibular e diversas outras. Por promover atividades culturais gratuitas, a casa tem parceria com a Secretaria de Educação. Alex, 26 anos, gestor do local, identifica a casa como um organismo vivo, sempre apresentando novas atividades que dependem de grupos externos que utilizam o local. O espaço sobrevive primariamente atra-
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Centro de Comunicação e Letras
Diretor do CCL: Marcos N. Duarte Coordenador do curso: Rafael F. Santos Supervisor de Publicações: José A. Trigo Professor responsável: André Santoro
Escritório de comunicação da Casa Amarela
vés de uma relação de troca. Os gestores pedem aos grupos que utilizam a casa que em troca doem equipamentos e serviços, porém, ninguém é impedido de utilizar o local, mesmo que não possa contribuir. Os integrantes do projeto não adotam nenhuma bandeira, não são filiados a partidos políticos nem a movimentos sociais. Existem em torno de 10 residentes fixos na Casa Amarela. Estes são os administradores, que tomam as decisões em consenso. A Casa Amarela, além de promover a cultura através de cursos artísticos gratuitos, sendo que alguns garantem até mesmo certificado, e de ceder um espaço para artistas exporem o seu trabalho, busca fazer um trabalho
social e ajudar os moradores de rua. Fabinho, 35 anos, morador de rua que frequenta o local, disse que sempre é ajudado pelos gestores, podendo tomar banho no local e recebendo doações de roupa e comida. Eu fui ao local com a expectativa de ser surpreendido, porém a realidade superou minhas expectativas. Um espaço no centro de São Paulo onde posso obter cultura gratuitamente nao é algo que se deixe passar. Para aqueles que, como eu, tinham dúvidas se uma iniciativa livre e independente assim poderia funcionar, tudo indica que sim. O objetivo de trazer mais cultura para a população, em um ambiente livre, que se encontra aberto para todos parece estar dando certo.
Equipe: Adilson Pacheco, Alexandre Carvalho, Amanda Smera, Antônia Martins, Beatriz Mazur, Caio Simões, Caio Leme, Gabriel Barbosa, Gabriela Abrahamian, Gabriella Ariel, Guilherme Pansonato, Gustavo Beckenkamp, Julia Flores, Larissa Freitas, Lucas Vogan, Marcella Oliveira, Marco Wolf, Natália Pádua, Rafaela Damasceno, Rafaela Rossi
Jornal-Laboratório dos alunos do segundo semestre do curso de Jornalismo. Centro de Comunicação e Letras - Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Acontece • 2
Foto de capa: Gabriella Ariel e Natália Pádua. Impressão: Gráfica Mackenzie
Academia para mulheres Os espaços de treinamento destinados ao público feminino fazem sucesso na região central Marcella Oliveira Rafaela Rossi
A
pesar das academias só para mulheres terem chegado há pouco tempo ao Brasil, já cativaram boa parte da mulherada. São uma ótima opção para aquelas que procuram um lugar mais tranquilo e divertido para se exercitar, que foque somente nas melhorias do corpo feminino. A cidade de São Paulo está recheada de academias nesse padrão, como, por exemplo, a Contours e a Rythmoon, que possuem várias franquias. Já a Musas, localizada na Vila Buarque, próxima à Consolação, foi ideia do personal trainer José Marques, 51 anos. Ele nos conta: “Há 15 anos eu abri uma academia na qual apenas 15% do público era feminino. Porém, essa porcentagem aumentou tanto que os homens começaram a sentir-se incomodados por terem que revezar aparelhos com pesos diferentes. Então abri perto dali uma academia para mulheres”. Uma decisão que ocasionou um ótimo resultado. Segundo ele, mais da metade das mulheres que faziam parte da sua primeira academia se transferiram para a Musas. José brinca: “Era como se eu estivesse fazendo concorrência comigo mesmo”. Elas escolhem participar das academias só para mulheres por diversos fatores, seja namorado ciumento, questão religiosa ou apenas por se sentirem mais confortáveis. “Já fiz outras academias e sempre achei desagradável o jeito que os homens ficam reparando no nosso corpo. Agora que faço parte da Musas
Alunas da academia Musas após aula de Zumba
sou muito mais focada e dedicada’’, diz a estudante de moda Amabilli Lozano, 20 anos. Além do público, o que diferencia esse estilo de academia são as propostas. ‘‘A Musas tem muito mais a ver comigo. Com bastante opções de aulas, é tudo bem dinâmico”, diz a advogada Ana Oliveira, 32 anos. Com muitos anos de experiencia no mercado fitness, José percebeu quais eram os tipos de atividades físicas mais procuradas pelas mulheres. Com isso, criou uma nova proposta em um novo ambiente. A Musas oferece um cronograma com diversidade de aulas das 7h às 20h30, entre elas alongamento, sppinning, boxe feminino, jump etc. De acordo com a professora Andrea Guimarães, 29 anos, a aula principal e que sempre atinge o número máximo de alunas é a de zumba. Trata-se de uma modalidade artística que pode ajudar em diversos aspectos, como ganhar fôlego, disposição, dançar diferentes ritmos e malhar o corpo todo ao mesmo
Acontece • 3
tempo. Além do resultado rápido quando o assunto é perda de peso. No início, José Marques até se preocupou em contratar apenas funcionárias para trabalhar na Musas, porém, com o passar dos anos, ele se deu conta que era uma bobagem. “Percebi que algumas aulas mais pesadas necessitavam de uma presença masculina e que isso não influenciaria em nada”, diz ele. Com três anos de funcionamento, a academia vem crescendo e fazendo cada vez mais sucesso. Segundo José Marques, “Tudo isso é consequência de muita persistência, dedicação e convicção”. Satisfeito com o trabalho, José convida todas que nunca experimentaram uma academia diferente para fazerem parte do grupo. E finaliza contando o segredo que faz o negócio dar certo: “Fazer as mulheres se sentirem em casa. Propor aulas divertidas e que façam elas sentirem vontade de continuar ali. Não pode ser apenas uma aula técnica”.
O espaço do jovem na política União de diversos centros acadêmicos permite que a UNE faça parte dos movimentos estudantis Alexandre Carvalho Adilson Pacheco
A
creditam que o lugar do jovem não é na política, mas ele quer participar dela, seja na escola, na faculdade ou até protestando nas ruas. A UNE foi criada em 1937, e nos dias de hoje a entidade representa cerca de 7 milhões de estudantes graças à organização de diversos Centros Acadêmicos, Diretórios Centrais e Diretórios acadêmicos. A PUC-SP foi fundada em 1946, com a união da Faculdade Paulista de Direito e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Bento. O Centro Acadêmico Leão XIII foi fundado antes da faculdade por estudantes, em 1941. Marianna Dias, a baiana de 25 anos recém-eleita presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), coincidentemente estava em São Paulo e pudemos entrevistá-la para poder mostrar o importante papel do estudante na política brasileira e a luta para reivindicar seus direitos e interesses. Gustavo Godino, de 25 anos de idade, cursa Administração na PUC-SP e foi eleito para ser presidente do Centro Acadêmico em 2017, após ter sido vice-presidente em 2016. Segundo ele, durante sua gestão o Centro Acadêmico teve uma recuperação boa, com uma grande reforma física. Marianna e Gustavo têm muito em comum, pois além de serem estudantes são pessoas que representam os estudantes. Gustavo é quem representada os estudantes de um curso, mantendo um canal de contato e fazendo com que todos tenham direito de participar e opinar em discussões, debates e palestras. É importante a participação do
Gustavo Godino no Centro Acadêmico da PUC-SP
jovem na política estudantil e cada vez mais ele deve conquistar seu espaço nesse meio, para que os estudantes sejam ouvidos e tenham seus direitos depois de tanta censura pela ditadura militar. A UNE foi de grande valor durante o Regime Militar, que representou um dos momentos mais importantes da história da entidade, pois “foi a mais atacada pela ditadura militar enquanto organização”, como conta Marianna. Em 1964 foi incendiada a sede Casa do Poder Jovem situada na praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. Como se sabe, o poder jovem daquela época representava uma ameaça muito grande de resistência à ditadura. Em 22 de setembro de 1977, o campus Monte Alegre, da PUC-SP, foi invadido pelas tropas da Polícia Militar, que deixaram um rastro de depredação e truculência pelo campus e nos corpos docentes e administrativos. Depois da celebração da realização do 3° encontro nacional dos estudantes, que fora proibido pelo regime militar, os alunos comemoraram a reorganização da UNE, que clan-
Acontece • 4
destinamente atuava desde o final dos anos 60. Devido ao fato de a UNE ser uma entidade que representa todas as questões estudantis, ao ver as mudanças sobre o passe livre, a entidade se viu no direito de fazer parte dos protestos nos dias 9 a 11 de agosto de 2017. “O Passe Livre foi conquistado pelos estudantes há 4 anos em uma ocupação da prefeitura. Esse benefício facilita a locomoção dos estudantes carentes e os mantém estudando por não interferir na situação financeira. Ao saber da redução do Passe Livre, queríamos ser ouvidos e alertar a população do que a prefeitura estava fazendo”. Nos últimos anos, conta Marianna, a UNE foi uma entidade que conquistou mais benefícios para os estudantes como as cotas nas universidades, o FIES e o PROUNI. “Infelizmente somos muito invisíveis, pois as grandes mídias não nos divulgam”. Gustavo e Marianna são a prova de que o jovem tem a capacidade de liderar em suas esferas de atuação, mostrando que podem representar os jovens estudantes.
Dando voz a quem precisa ONG de São Paulo oferece curso de comunicação para pessoas em situação de rua Amanda Smera Antônia Martins
S
ão Paulo, capital. 12 milhões de habitantes. 25 mil pessoas em situação de rua. Desde o ano 2000, esse número dobrou. Apesar de numerosa, a população de rua é praticamente invisível aos olhos da sociedade, é fortemente estereotipada e por isso alvo de muitos preconceitos. A fim de melhorar essa realidade, a ONG Rede Rua lançou um projeto inovador: o Comunicadores Populares. Trata-se de um curso sobre comunicação voltado para pessoas em situação de rua, com o objetivo de dar espaço de fala e fazer com que essa parte da população seja ouvida. “O intuito é dar ferramentas para os alunos aprenderem a se comunicar e perceberem a importância disso”, afirma Carolina Estela, 35 anos, coordenadora da parte de produção de texto do curso. A Associação Rede Rua surgiu nos anos 90 e o primeiro projeto desenvolvido foi o jornal O Trecheiro – Notícias do Povo da Rua, que tinha como principal objetivo denunciar situações de exclusão e violência sofridas por aqueles em situação de rua. Hoje, além das denúncias feitas por jornalistas comuns, também há espaço para matérias, textos e artes produzidas por alunos de comunicação. O jornal é impresso mensalmente com apoio da editora Paulus desde 1994, quando deixou seu caráter de boletim informativo produzido praticamente de forma artesanal e assumiu uma identidade mais profissional e moderna. As edições do jornal são distribuídas gratuitamente em órgãos públicos e praças e também online, via e-mail e no Facebook da ONG.
“O Trecheiro”, jornal produzido pelos alunos do curso
Apesar de focar na produção de notícias, os alunos aprendem outros gêneros textuais, conceitos básicos de fotografia e filmagem e até mesmo edição de vídeo. Contudo, o aluno Sérgio Cruz, 40 anos, conta que durante as aulas eles também aprendem a dar mais valor ao ser humano, respeitar o próximo e também sobre direitos humanos. O que mais gostou foi a diversidade que encontrou na sala de aula: “Me permitiu conhecer pessoas em diversas situações, desde ex-traficantes a moradores de albergues, psicólogos, pessoas formadas em ciências sociais e até pessoas de outros países”. Já para Rogério Santos, 50 anos, o mais importante foi a interação com pessoas que se sentem tão vulneráveis quanto ele. O curso é visto como incentivo para muitos dos alunos voltarem a procurar emprego. Há casos de pessoas que largaram o álcool e as drogas desde que voltaram a estudar, e muitos se interessaram pelo curso devido à grandeza do mercado da comunicação. A maioria se inscreveu visando aumentar as opções de trabalho. O aluno Van-
Acontece • 5
derlei Lima, 44 anos, diz que o mercado de fotografia é amplo e dá espaço para pessoas como ele. A representatividade também é muito discutida durantes as aulas. Carolina enfatiza a importância dessa discussão: “Grande parte dos participantes chega ao curso com uma espécie de bloqueio para escrever textos, achando que não são capazes de produzir um conteúdo de qualidade. Muito disso vem do que a sociedade fala e replica. Então, desmistificar a ideia da mídia como um lugar da elite é essencial”. Ela também salienta a necessidade de explicar que todos podem ser comunicadores, inclusive as pessoas em situação de rua, que têm pouco acesso à comunicação de forma geral. “Dificilmente são mostrados na grande mídia, e quando aparecem são retratados de uma forma muito estereotipada”, diz. O curso acontece na sede da Rede Rua, na R. Sampaio Moreira, no Brás. O jornal é produzido por 15 voluntários, entre eles jornalistas, diagramadores e fotógrafos e está aberto para interessados em participar do projeto.
Rock e história juntos Museu da Imagem e do Som traz exposição sobre Renato Russo. Ela promete ser a maior do MIS Gustavo Beckenkamp
O
Museu da Imagem e do Som tem como o prinipal objetivo de suas exposições a comunicação em massa, produzindo conteúdos como o seu nome já diz relacionados à imagem e ao som. Anteriormente a maior exposição que o MIS tinha feito foi a do “Castelo Rá-Tim-Bum”, que levou mais de 410 mil pessoas ao museu. Agora o MIS está exibindo a sua nova e maior exposição até janeiro de 2018, que irá explorar as origens do músico Renato Russo, que abalou gerações com as suas músicas revolucionárias, que nos encantam até hoje. A exposição “Renato Russo” presta uma homenagem ao famoso músico do rock brasileiro, e é considerada a maior que o MIS fez. O projeto tem parceria com a Samsung Conecta e o Ministério da Cultura. Os visitantes do museu poderão rever a história do músico da banda Legião Urbana pois, em alguns pontos, a exposição ficou idêntica ao apartamento no Leblon onde Renato Russo morou, permitindo uma experiência de vivência, redescobrimento e questionamentos sobre tudo o que sabemos sobre Renato Russo, tanto da sua vida pessoal como de sua carreira no mundo da música. A exposição conta com mais de 3.000 itens pessoais do próprio Renato Russo que foram entregues ao MIS por Giuliano Manfredini, filho do cantor que procurou o museu para a criação da exposição. Ela está em cartaz após Giuliano ter conferido o sucesso de uma outra exposição do museu, sobre o músico David Bowie. Ele ajudou a montar a exposição sobre o pai.
A exposição no MIS segue até janeiro de 2018
A mostra conta com anotações, fotografias, vestimentas, instrumentos musicais, documentos pessoais como diplomas, desenhos, prêmios que recebeu, cartas de fãs, pôsteres, uma atração temática com o uso de óculos de realidade virtual e objetos que foram usados durante a carreira do músico. “Eu acho a exposição bacana porque a gente vê as letras dele, os manuscritos, os desenhos dele, nós podemos ver como foi a sua infância e a sua criação”, disse Kleber Ricardo Rocha, visitante doMIS. Esses diversos itens estão dispostos pelo museu e contam histórias diferentes que permitem que você consiga ver a história do famoso cantor brasileiro com mais detalhes e informações, ensinando e encantando tanto quem já acompanhou a carreira do artista a longo prazo quanto que tem a curiosidade de conhecer a história dessa incrível pessoa que mudou o rock brasileiro. “Essa exposição pode ser a porta de entrada para muitas
Acontece • 6
pessoas, pois o tema das músicas do Renato Russo são muito atuais, por exemplo a letra de ‘Que país é esse’, os sentimentos que nós temos sempre terão uma letra que se encaixara perfeitamente”, disse Kleber. Os itens de Renato Russo foram catalogados e divididos em várias seções com diferentes temáticas relacionadas ao músico, onde é possível escolher que parte do tempo ou história do cantor você quer visitar primeiro, com exceção de algumas partes da exposição, como a origem do cantor, que está no começo, e o evento de realidade virtual, que se encontra no final da exposição. Essa distribuição diferenciada permite que o visitante consiga explorar os pensamentos, anotações e a história de Renato Russo da maneira que for mais conveniente. A exposição poderá ser conferida até o final de janeiro no MIS, localizado na avenida Europa, 158. O museu abre todos os dias, com exceção de segunda-feira.
O futuro dos ciclistas na Consolação Recentemente a gestão atual da Prefeitura de São Paulo manifestou interesse em rever o projeto das ciclovias Caio Villela Leme Gabriel Barbosa
A
ciclofaixa da Rua da Consolação é uma das principais vias de ligação em São Paulo. Dali os ciclistas podem seguir da Avenida Paulista até o Minhocão, a Praça Roosevelt e Avenida Ipiranga. Recentemente, a prefeitura de São Paulo, por meio do Secretário Municipal dos Transportes, Sérgio Avelleda, afirmou que estuda intervenções ou a retirada dessa ciclofaixa. O prefeito João Dória também anunciou mudanças jus- Ciclista utilizando a ciclofaixa da Consolação tificando a segurança dos ciclistas. Para a prefeitura, a segurança O gestor de trânsito trabalha há terei que voltar a utilizar o carro. da ciclofaixa deve ser estudada de- anos na área de Mobilidade Ativa, Gosto muito de andar de bicicleta, vido à velocidade que a faixa pro- mais especificamente com bicicle- e até com meu patinete de vez em porciona aos ciclistas, se tornando tas. Para ele a segurança dos ciclis- quando, porém sem a ciclovia ficauma área propícia a acidentes. tas é o principal. “Na tabela de se- ria muito mais perigoso”. Daniel Ingo, de 39 anos, é ges- gurança no trânsito, os pedestres e Rafael acredita que os usuários tor de trânsito no Departamento ciclistas deveriam ter prioridades, ficariam decepcionados com a rede Mobilidade Ativa da Gerência com ciclovias e calçadas devida- tirada, mas é a favor de estudos na de Planejamento da CET (Compa- mente preservadas. Infelizmente ciclofaixa. “É um direito nosso (cinhia de engenharia de tráfego), e no Brasil, na maioria dos casos, clistas) ter nosso espaço. Demorou trabalhou na execução da ciclofai- não é o que acontece”. muito tempo para termos, retirar xa em junho de 2015. “Desde a sua Daniel também é ciclista e con- não seria legal. Mas com certeza inauguração dificilmente recebe- segue viver na pele os lados bons um estudo na área, para ver o que mos críticas sobre a ciclofaixa, foi e ruins de andar de bicicleta em poderia melhorar, seria benéfico.” muito bem aceita pelos usuários”. São Paulo. “Falta muito a ser feiO dentista largou o carro há Para Daniel, o espaço para o ciclis- to. Alguns lugares são bem difíceis seis anos. “Quando eu só dirigia o ta é ideal, e sua exclusão é apenas de andar de bike, mas estamos carro, eu não via a cidade como eu um rumor, pois não há nenhum progredindo, antes não tínhamos vejo hoje que ando de bicicleta. Na projeto de retirada. nada, agora temos 400 quilôme- bike você tem uma visão diferente O engenheiro explicou que a tros de ciclovias e ciclofaixas. Na ao seu redor”. manutenção das ciclofaixas é fun- consolação antigamente não tinha Mairon De Martini, estudante ção da Subprefeitura, e que, para como, agora ando de bicicleta lá de 20 anos, se locomove pela ciCET, a obrigação é sinalizar as áre- tranquilamente”. clofaixa para ir e vir da faculdade. as. “Fizemos o projeto a partir de Rafael Venesi, dentista de 36 Para ele o espaço tem que existir, pólos geradores (parceria público anos, utiliza a ciclofaixa todos os pois utiliza até quando é pedestre. privada com empresas da região), dias para ir e voltar do trabalho. “Tem que existir, porque a bicide quem tivemos apoio para a pin- Para ele, a ciclofaixa é essencial cleta já um transporte que muita tura e sinalização da área. Tam- e sua retirada seria um erro, pois gente está usando para trabalhar, bém revitalizamos parte das guias pessoas dependem do espaço para como os carros”. Mairon concluiu e bueiros na época da inauguração o transporte diário. “Se por acaso dizendo que se ocorrer a retirada da ciclofaixa”. retirarem a ciclovia, infelizmente estaremos retrocedendo.
Acontece • 7
Biblioteca escondida na praça Rotary Espaço abriga um importante acervo infantojuvenil e oferece atividades culturais para todas as idades Gabriella Ariel Natália Pádua
A
Praça Rotary, localizada na Rua General Jardim, conta com a Biblioteca Monteiro Lobato em meio às árvores, crianças e animais que por ali passam. A Biblioteca é um ótimo lugar para estudar, relaxar e praticar as atividades que ali se encontram, as quais são as mais variadas possíveis. Luana Andrioli, que trabalha como balconista no Jardim Plantas e Flores, uma lanchonete próxima à Praça Rotary, diz: “O local não é muito reconhecido pelas várias pessoas que passam por aqui diariamente por conta de a biblioteca ser um tanto quanto um prédio abandonado, meio que escondido em meio à praça”. Paulo Dostoviek, que transitava pelos arredores da Praça, diz: “Eu sei da existência da Biblioteca só porque quando ainda era estudante escutei sobre a tal, mas também nunca frequentei”. A Biblioteca Monteiro Lobato conta com atividades voltadas para um público infantil e infantojuvenil. Tiago Carvalho, que é Jovem Monitor no local, diz que a Biblioteca oferece várias atividades para esse público. Uma delas é o PIA (Programa de Iniciação Artística), o qual é um workshop que ensina as crianças de 12 a 16 anos a tocar violão, a jogar xadrez e damas. Além do PIA, a biblioteca também recebe peças de teatro e sarau regularmente. Nas terças, o local conta com o Cine Garotada, com dois horários de filmes diferentes. O monitor também diz que a Biblioteca começará a ter oficina de xadrez, que será aberta tanto para o público adulto quanto o infan-
Interior da biblioteca com personagens da cultura brasileira
til. Tiago percebe maior interesse voltado para a área de educação, já que várias escolas fazem excursões para o local, sendo mais frequente as escolas trazerem as crianças e adolescentes do que os pais. Por fim, há oficinas de carnaval para crianças, onde as próprias saem com os bonecos de Olinda das personagens do Sítio do Picapau Amarelo. Sentada em uma mesa no parque Rotary enquanto seus filhos brincavam, Carla Blanco, que é mãe de duas crianças, um menino de oito e uma menina de quatro anos, ao ser abordada sobre a biblioteca, diz que aquela era a quarta vez em que passavam por lá e alega que seus filhos adoram o local. Carla também diz: “Na primeira vez que Thiago (seu filho mais novo) veio à praça, ele se encantou tanto com a biblioteca que se esqueceu do parque e se perdeu na magia dos livros infantis”. Perguntamos como ela ficou sabendo da existência da biblioteca, e a resposta foi que Carla soube de tal lugar por conta da “viradinha cultural”, realizada pela prefeitura
Acontece • 8
de São Paulo, e assim acabou encontrando o local. Ao perguntarmos se ela conhece outras mães, pais e responsáveis que sabem sobre o local, responde que a grande maioria não sabe da biblioteca pelo fato de ser escondida entre as árvores e acabarem achando que é algo administrativo. Assim, as pessoas acabam nem entrando ao local. Carla também conta para nós que, antes de o parque Rotary virar uma praça, a biblioteca já existia, porém, ao seu redor, como o parque ainda não havia sido fundado, existia uma pequena cracolândia. A mãe elogia a iniciativa do Rotary de limpar, organizar e colocar cercas no ambiente, transformando a praça em uma belo espaço com segurança -- reforçada pelo posto da PM na esquina. Enquanto conversávamos com Carla, Thiago, seu filho mais novo, apareceu perguntando se eles não visitariam a Biblioteca naquele dia. O garoto também disse que sua parte favorita daquele lugar eram os bonecos de que ficam em exposições no saguão.
Jogo da felicidade Projeto performático chama atenção pela sua cor e pela sua essência de espalhar o amor Julia Flores Rafaela C. Damasceno
O
jogo da alegria é um trabalho de dez anos de Iago Veiga de Arruda, 37 anos. Nascido em Cuiabá, criado em Florianópolis e atualmente morador de São Paulo, fez um curso de empreendedorismo com a ideia de criar algo um pouco diferente: ele queria criar seu próprio produto. Após uma depressão que durou quase dois anos, Iago começou a elaborar várias frases de incentivo e a pintá-las em quadros. Depois de colocá-los juntos, percebeu que a sincronia de cores formava uma tabela e, dessa forma, surgiu a ideia de que aquilo poderia virar um jogo. O jogo da felicidade, também conhecido como tabela da felicidade, tem como objetivo estimular o pensamento positivo e o amor entre as pessoas. A tabela é dividida em doze blocos. Para jogar, a pessoa deve escolher um número que marcou sua vida e ler as frases presentes na coluna correspondente. Uma das frases é escolhida para ser enviada para uma pessoa especial. O objetivo inicial de Iago era criar um produto que pudesse ser usado como presente e que substituísse flores e bombons. Por isso uma das mensagens é escolhida pelo jogador, para que ele possa presentear uma pessoa querida com ela. Iago divulga seu trabalho pelas redes sociais, principalmente Facebook e Instagram. Está presente todos os domingos na Paulista, onde monta uma estrutura pequena e convida as pessoas a jogar. Chama isso de “performance”. “Quero fazer isso de forma inusitada, apresentar o jogo para
Iago Veiga de Arruda e sua criação
as pessoas e convidá-las para jogar no lugar em que eu montar a minha estrutura. Eu ainda estou definindo qual o melhor nome para chamar, mas por enquanto acho melhor chamar de performance”, afirma ele. Claudinei Pereira dos Santos, 43, conta que o tabuleiro muito colorido e a quantidade de mensagens presentes foram os elementos que mais lhe chamaram a atenção. Foram essas características que fizeram com que ele interrompesse sua caminhada para ver do que se tratava. “Todas as mensagens transmitem algo positivo, e qualquer tipo de mensagem positiva é boa em todo tipo de situação e circunstância”, diz. As amigas Eunice Graciola de Melo Prado, 34 anos, Deise Cristine de Carvalho, 31, e Ivonne de Oliveira, 42, também tiveram sua atenção desviada pelas cores. Para elas, as frases encaixaram perfeitamente e o projeto de Iago é “superbacana, muito interessante, uma coisa bem diferente”. Iago pretende realizar as performances em outros lugares. O jogo já evoluiu muito e atualmente está na sua quarta versão, mais
Acontece • 9
aprimorada que a primeira. Costumava montar uma estrutura muito maior antigamente, quando tinha ajuda, mas atualmente está sozinho no projeto e percebeu recentemente que não é necessário. Para transmitir a mensagem que quer para as pessoas, precisa apenas de um metro quadrado. É possível encontrá-lo perto do MASP todo domingo, sempre sorridente. Planeja frequentar outros lugares, públicos e privados. O negócio só aumenta e a divulgação cresce proporcionalmente. “Quanto mais pessoas conhecerem, melhor”. Assim como Iago, seu ateliê é cheio de vida. É possível perceber o quanto ele é apaixonado por seu projeto, que está por toda parte – paredes, canecas, quadros etc. O jogo realmente é parte de quem ele é. Criou até com seu Playmobil um personagem que segura uma minitabela, que leva em suas performances como decoração. Iago não visa ao lucro com seu projeto. Possui jogos para vender, mas só compra quem realmente quer. Qualquer um pode jogar de graça apenas indo na Paulista aos domingos.
Cresce o número de vegetarianos Pesquisas indicam que cada vez menos pessoas comem carne. Nova opção de restaurante abre em Higienópolis Caio Dias Simões Guilherme Pansonato Neto
D
e acordo com os dados da pesquisa feita em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, IBOPE, 15,2 milhões de brasileiros afirmam que aderiram ao vegetarianismo. Essa informação foi revelada em outubro, o mês que se comemora o dia internacional do vegetarianismo. A apuração foi feita nas principais capitais do país. A que apresenta um maior número é Fortaleza, que conta com 14% de sua população nesse movimento. Ainda segundo o estudo, pessoas de 60 até 70 anos são as que mais adotaram esse estilo de alimentação. Essa foi a última pesquisa feita em nível nacional, mas o número de adeptos vem crescendo cada vez mais. Segundo o Instituto Ipsos, 28% da população do Brasil estão comendo cada vez menos carne. A Sociedade Vegetariana Brasileira é o órgão responsável por fazer do veganismo e vegetarianismo estilos de vida éticos, saudáveis e sustentáveis. O vegetarianismo é o regime alimentar que exclui todos os tipos de carne. Entretanto, em algumas de suas variações, aceita alimentos vindos dos animais, como ovos, leite e laticínios. Por outro lado, o veganismo parte de uma filosofia em relação ao tratamento com os animais, excluindo qualquer tipo de alimento que gere exploração ou sofrimento animal. O número de adeptos desses regimes alimentares vem crescendo, tanto que cada vez mais restaurantes estão sendo abertos especializados nessa forma de alimentação. Um exemplo disso é o Green Chef, restaurante vegetariano e vegano da região de Higienópolis. Com
Roberto abriu seu primeiro restaurante há cerca de dois meses
cerca de dois meses, o estabelecimento já conta com uma grande movimentação. “Desde a abertura, contamos, em média, com 120 clientes diários, durante o período de almoço, que vai das 11h às 15h”, disse Roberto César Ribeiro, 51 anos, dono do restaurante. O local conta com um cardápio personalizado para veganos e vegetarianos, apenas com pratos que não contêm carne. Legumes como cenoura, palmito e alface são as opções de salada mais requisitadas, além da maionese vegana, que é uma das especialidades da casa. Nos pratos quentes, a preferência dos clientes é sobre o hambúrguer de soja e a pizza vegana juntamente com pratos típicos brasileiros adaptados, como a moqueca e o quiabo refogado. A restrição à carne está presente na vida de Roberto há mais de 40 anos. Ele foi influenciado por sua família, em que seus tios adotaram esse estilo de vida, e tinham restaurantes de comida vegetariana. Roberto trabalhou bastante tempo com seu tio e, depois de um
Acontece • 10
tempo, abriu um próprio negócio nesse ramo na região de Higienópolis. “Surgiu a oportunidade para eu poder comprar um local para fazer o restaurante no Brooklin, na Avenida São Bento e no Bairro do Tatuapé e em nenhum consegui fechar negócio. Foi apenas aqui que consegui”, disse ele. Além do restaurante de Roberto, atualmente é possível encontrar outras opções para comer na cidade de São Paulo. “Nos últimos anos parece que a mídia acordou para o ramo do vegetarianismo. Com isso, sinto que cada vez mais pessoas estão aderindo a este tipo de alimentação, e o número de restaurantes também vai crescendo para atender a população”, conta Nélio Cecan, 36 anos, terapeuta holístico. Assim como Roberto, ele também veio de uma família vegetariana. “Meu pai, na adolescência, estava com um problema pulmonar e se recuperou após parar de comer carne. Portanto já nasci me alimentando dessa forma e nunca comi carne”, conta.
Onda neonazista assusta Charlottesville Especialistas dissertam sobre as recentes marchas supremacistas brancas nos Estados Unidos Beatriz Mazur Marco Wolf
C
om os recentes protestos (que resultaram na morte de Heather, que protestava contra os neonazistas) de grupos brancos supremacistas em Charlottesvile, nos Estados Unidos, não podemos deixar de temer o que vem pela frente. Os protestos foram, originalmente, contra a retirada da estátua de Robert E. Lee, general dos Confederados - que defenderam a escravidão na Guerra Civil Americana. Agora, grupos neo nazistas reaparecem e tentam espalhar a violência validados pelo presidente eleito Donald Trump. Segundo Ana Paula Severiano, professora de Atualidades formada em Jornalismo, o descrédito nas instituições políticas tradicionais causa esse fenômeno. Esse descrédito faz com que as pessoas percam a fé não apenas na política mas nas instituições em geral - o que as leva a pensar que podem agir em defesa de qualquer opinião. A respeito do argumento dos supremacistas de que eles estão apenas “exercendo sua liberdade de expressão”, a professora afirma: “Esse argumento é falho na medida em que quando você exerce sua liberdade de ex-pressão para tolher os direitos dos outros. Ou seja, isso não é liberdade de expressão”. Benedito Carlos dos Santos, professor de História e formado na disciplina, explica que nos Estados Unidos é bem mais comum que grupos se assumam nazistas do que na Europa, na qual não existem partidos que o admitam, apesar de terem ideais parecidos, como a Frente Nacional da França. Antigamente, o alvo do partido eram os negros; hoje em dia, são
Historiador Benedito Carlos dos Santos
principalmente os muçulmanos. Ou seja, os preconceitos vão se adaptando e escolhendo um novo inimigo, alimentando-se do ódio. A eleição de Donald Trump abriu portas para que discursos intolerantes se espalhassem, alimentando esse ódio. “O caso do Trump é muito claro. Esses grupos, que sempre existiram na sociedade americana, na verdade, sentem-se protegidos”, aponta Benedito. “Além disso, a eleição do Obama (em 2008) causou muito ressentimento nos Estados Unidos. Tem muita gente que não se conforma com um negro ter chegado à presidência.” Uma dessas pessoas era e é justamente Donald Trump, que se dedicou a perseguir Obama durante sua presidência. O próprio ex-líder da Ku Klux Klan, David Duke, agradeceu Trump por suas declarações: “Obrigado, presidente Trump, por sua honestidade e coragem para falar a verdade sobre #Charlottesville e condenar os terroristas de esquerda em BLM (Black Lives Matter) e Antifa (anti-facistas)”, declarou no Twitter. Após os ataques em Charlottesville, Trump deixou de condenar os neo-nazis-
Acontece • 11
tas, afirmando que havia culpa “em vários lados”. Dois dias depois, seguindo o retorno indignado da população, se referiu mais especificamente aos supremacistas brancos, mas pouco depois voltou a defender sua primeira afirmação. O movimento Black Lives Matter, citado por Duke, surgiu como forma de protesto contra a violência policial a negras nos Estados Unidos, simbolizada pelas inúmeras mortes desses indivíduos nas mãos da polícia, como a de Michel Brown e Eric Garner. Black Lives Matter se tornou um fenômeno global de luta pela igualdade racial e ganhou o Sydney Peace Prize, um prêmio da paz dado pela Sydney Peace Foundation. O professor Benedito também lembra que, felizmente, não temos um partido nazista em massa como na década de 1930, porém que esse pensamento pode ser grande o suficiente para influenciar mais pessoas. O perigo também está claro na medida em que muitos governos condenam, “da boca pra fora”, grupos neonazistas, mas acabam cedendo a pressões desses grupos e adotando medidas contra a imigração, por exemplo.
Assédio: o crime do falso elogio Desde locais públicos a locais privados, 99% das mulheres vêm sofrendo este abuso Larissa Iole de Freitas Gabriela G. Abrahamian
N
inguém deveria ter medo de caminhar pelas ruas, se preocupar com a sua roupa ser “longa o suficiente”, e muito menos deixar de sair de casa por ter de sair sozinha. Mas infelizmente isso é uma rotina para a maioria das mulheres que sofrem assédio sexual, um crime que, apesar de acontecer todos os dias, é pouco discutido e, menos ainda, levado a sério. Ele pode se manifestar desde “cantadas de rua”, até abordagens grosseiras e abusivas, que causam constrangimento, medo e humilhação. E essas abordagens vêm de palavras, olhares, gestos, toques não consentidos, entre outros. Com o objetivo de ter uma noção maior da gravidade do problema fizemos uma pesquisa com 200 mulheres que mostrou que 99% delas afirmam que já sofreram abuso sexual, onde 50% foi tanto verbal – as famosas “cantadas de rua” – quanto físico, os toques que invadiram o espaço pessoal dessas mulheres. A pesquisa também mostrou que o assédio pode acontecer em qualquer lugar, desde festas/baladas, colégios/faculdade, transporte público e trabalho, como nas próprias moradias, como foi o caso de diversas garotas em seus depoimentos sobre o episódio em que sofreram o assédio. Esses dados podem levar a refletir: “o que leva alguém a cometer assédio?”. A psicóloga Cássia Franco nos respondeu essa pergunta dizendo que “a convivência do indivíduo com seus familiares, principalmente de um figura feminina, desde a infância, em que a pessoa não aprende limites, cria o pensamento de que o agressor,
Campanha da ONG Think Olga que luta pelo fim do assédio sexual
como sujeito, tem direito de fazer o que bem entender, de acordo a sua vontade. Isto é, ele não vê motivos para conter seus impulsos”. Além do medo e da humilhação que o assédio causa, ele também leva a consequências graves nas vítimas, como o desenvolvimento do TEPT (Transtorno de estresse pós-traumático), em que a pessoa cria um trauma tão forte que pode ocasionar na total reclusão da vida social pelo medo de sair de casa e sofrer o assédio novamente. Para que a vítima não chegue a esse nível crítico, um conselho a respeito de como lidar com o assédio foi dado por Cássia: “Conversar sobre o acontecido é essencial, para que o trauma possa ser normatizado como algo a ser cuidado. Buscar apoio ajuda o trauma a não se fortalecer”. Bem como conversar sobre o assunto ajuda a combatê-lo, há outros meios para fazer o mesmo. Os chamados BOs (boletins de ocorrência) ajudam as vítimas a encontrar e punir seus agressores perante a lei, fazendo-os arcar com as consequências de seus atos. Dependendo da gravidade do que foi praticado, o agressor pode-
Acontece • 12
rá ter uma pena de até três meses a um ano de prisão, ou pagar uma multa à vítima. Entretanto, várias mulheres não chegam a prestar o BO, de acordo com os dados fornecidos pela Primeira Delegacia de Defesa da Mulher, no bairro da Sé. Apesar dos mais de 220 boletins registrados no mês de julho, muitos deles “acabam tendo desistência pela vítima se arrepender de prestá-lo”, como dito pela escrivã Angela Pacheco. Junto às desistências de prosseguir com os boletins de ocorrência, a pesquisa revela que o fator “medo” e a descrença de que “não ia adiantar nada” são as principais justificativas para a falta do registro dos demais assédios. O sentimento de arrependimento, compartilhado por diversas vítimas, é consequência de como o assédio é retratado, e a maneira como a culpabilização cai sobre a vítima ao invés de sobre o agressor, com os discursos de que a culpa está no comportamento, vestimenta, local, horário, ações (ou à falta delas) por parte da mulher que sofreu o assédio, e não daquele que enxerga a mulher como algo público.